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Nilza - FAC UNICA

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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Roberta Andrade e Barros 
 
Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2021). Mestre 
em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2013). Especialista em 
Psicoterapia de Família e de Casal pela PUC-MG (2010). Graduada em Psicologia pela 
PUC-MG (2008). Atua como professora universitária desde 2009 em instituições públicas e 
privas e leciona em diversos cursos de graduação e especialização. 
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E DA 
APRENDIZAGEM 
 
1ª edição 
Ipatinga – MG 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Bruna Luiza Mendes Leite 
 Carla Jordânia G. de Souza 
 Guilherme Prado Salles 
 Rubens Henrique L. de Oliveira 
Design: Brayan Lazarino Santos 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Luiza Filgueiras 
 Taisser Gustavo de Soares Duarte 
 
 
 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização 
escrita do Editor. 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
www.faculdadeunica.com.br
http://www.faculdadeunica.com.br/
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo 
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles 
são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um 
com uma função específica, mostradas a seguir: 
 
 
 
São sugestões de links para vídeos, documentos científicos 
(artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das 
Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) 
relacionados com o conteúdo abordado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações 
importantes nas quais você deve ter um maior grau de 
atenção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada 
unidade do livro. 
 
São para o esclarecimento do significado de determinados 
termos/palavras mostradas ao longo do livro. 
 
Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões 
citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja 
no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: INTERAÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA E A 
EDUCAÇÃO ............................................................................................... 7 
1.1 BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA .............................. 7 
1.2 O QUE É A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ........................................................... 10 
1.3 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ....................................................... 12 
FIXANDO O CONTEÚDO............................................................................................... 18 
INTRODUÇÃO ÀS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO 24 
2.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO: INTRODUÇÃO ................................................... 24 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 36 
CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS: INATISMO, AMBIENTALISMO E A 
PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL ........................................................ 41 
3.1 INATISMO .............................................................................................................. 41 
3.2 AMBIENTALISMO ................................................................................................... 42 
3.3 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O 
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO: DE WATSON A SKINNER ......................... 44 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 51 
CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS ............................................................. 55 
4.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 55 
4.2 JEAN PIAGET ......................................................................................................... 55 
4.3 LEV VIGOTSKI ........................................................................................................ 63 
4.4 HENRI WALLON ..................................................................................................... 68 
4.5 COMPARAÇÃO ENTRE OS AUTORES ................................................................... 74 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 77 
TEORIAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: APLICABILIDADE E 
RESULTADOS ............................................................................................ 82 
5.1 INTELIGÊNCIA: INTRODUÇÃO .............................................................................. 82 
5.2 INTELIGÊNCIA OU INTELIGÊNCIAS? ..................................................................... 83 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 88 
TEMAS CONTEMPORÂNEOS EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ............ 92 
6.1 A RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA .......................................................................... 92 
6.2 BULLYING ............................................................................................................... 97 
6.3 INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA NA ESCOLA ............................................................ 99 
6.4 ABSENTEÍSMO ESTUDANTIL ................................................................................. 101 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................. 104 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 109 
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 110 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
05 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
A primeira unidade contextualiza a Psicologia e, mais 
especificamente, a Psicologia da Educação, para tanto, apresenta 
duas grandes psicólogas da Educação brasileira: Helena Antipoff e 
Maria Helena Souza Patto. 
Esse segundo capítulo traz os pontos mais relevantes sobre o 
desenvolvimento humano e o seu estudo, quais as suas dimensões, 
os seus domínios, qual a sua relação com a educação. 
 
 
A Unidade III apresenta o inatismo, ambientalismo e a Psicologia 
Comportamental, quais as suas concepções sobre o 
desenvolvimento e suas ideias para a educação. 
No quarto capítulo serão expostas as teorias de Piaget, Vigotski e 
Wallon, três dos mais reconhecidos pensadores sobre o 
desenvolvimento e o aprendizado humano. 
 
 
Essa unidade abordará a teoria das inteligências múltiplas: o que é 
inteligência? É possível falar em uma inteligência? Além disso, trará 
contribuições dessa teoria para a educação. 
Nesse último capítulo serão propostas discussões relevantes para o 
cotidiano escolar: a relação família e escola, o bullying, a 
indisciplina e violência na escola e o absenteísmo estudantil.
7 
 
 
A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: 
INTERAÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA 
E A EDUCAÇÃO 
 
 
 
1.1 BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA 
Essa unidade tratará sobre a contextualização e breve histórico da Psicologia 
bem como sua relação com a Educação. Para compreender a interação entre 
essas duas ciências, faz se necessário, inicialmente, entender o que é a Psicologia. 
No dicionário online Aulete, “psique” é explicada como alma, mente, espírito. 
Já “logia” é o discurso, tratado. Assim sendo, a Psicologia pode ser compreendida 
como o estudo da mente. Atualmente, com a preocupação em manter o seu 
compromisso com a cientificidade, a Psicologia é entendida como o estudo da 
subjetividade. Mas, afinal, o que é a subjetividade? 
A definição do conceito da subjetividade é bastante complexa. Para Bock, 
Furtado e Teixeira (2008) podemos compreendê-la como o modo de ser, de sentir e 
de se comportar de cada um. É importante entender que cada pessoa tem uma 
subjetividade que é determinada pelo contexto social em que se está inserida, da 
mesma forma que o sujeito vai também determinar esse contexto: é uma via de mão 
dupla, o meio determina o sujeito e é por ele determinado. Ao longo da vida, de 
acordo com as experiências que tem, com as pessoas com as quais convive, o 
indivíduo pode mudar. 
De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008), antes de ser conhecida como 
uma ciência e uma profissão, os assuntos hoje discutidos na Psicologia faziam parte 
do cotidiano das pessoas, do senso comum, eram as ideias psicológicas. A partir do 
século XIX, surge a Psicologia científica. 
Nessa época, o padrão de cientificidade reconhecido era o das ciências 
exatas, por isso, em um primeiro momento, a Psicologia tentou se adequar a esse 
modelo: empenhou-se para mensurar os comportamentos e as características dos 
seres humanos, além disso, preocupou-se em se manter neutra e distante do seu 
objeto de estudo, a subjetividade humana. (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2008). 
Ainda segundo os referidos autores, com o passar do tempo, a Psicologia 
UNIDADE 
01 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
compreendeu que não poderia ser igualada às ciências exatas, pois seu objeto de 
estudo não é como uma máquina. Diante disso, aceitou as suas especificidades e 
buscou criar os seus padrões de cientificidade, juntamente às outras ciências 
humanas, como a Antropologia e a Sociologia, por exemplo. 
No Brasil, antes de ter um curso próprio, a Psicologia foi ensinada como 
disciplina em graduações de Direito, Medicina e Educação, no século XIX (CRPSP, 
2011). 
Como pode ser constatado, desde o início da sua história, a Psicologia traz 
importantes contribuições para diferentes áreas do conhecimento, conforme será 
discutido, especificamente sobre a Educação, ao longo deste livro. 
A Psicologia é uma ciência e uma profissão, nesse sentido, outras profissões, 
como os docentes, podem utilizar os conhecimentos psicológicos. Além disso, as 
profissionais de Psicologia podem atuar em variadas áreas, utilizando diferentes 
teorias. 
O campo ou área de atuação pode ser compreendido como o “lugar” em 
que a psicóloga pode atuar. Para as profissionais da educação, é comum que 
trabalhem com psicólogas escolares/educacionais, clínicas, especialistas em 
psicopedagogia, em psicomotricidade ou avaliação psicológica. Por exemplo, uma 
professora pode ser convidada pela psicóloga para conceder entrevista sobre um 
determinado estudante ou a psicóloga pode auxiliar no acompanhamento escolar 
quando um aluno estiver com alguma dificuldade de aprendizagem ou precisar 
passar por uma avaliação psicológica ou ainda necessitar realizar algum tipo de 
acompanhamento psicológico. 
Atualmente, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhece 13 campos 
de atuação para as profissionais dessa área: Psicologia Escolar/Educacional; 
Psicologia Organizacional e do Trabalho; Psicologia de Trânsito; Psicologia Jurídica; 
Psicologia do Esporte; Psicologia Clínica; Psicologia Hospitalar; Psicopedagogia; 
Psicomotricidade; Psicologia Social; Neuropsicologia; Psicologia em Saúde e 
Avaliação Psicológica. 
Para atuar em cada uma dessas áreas, a psicóloga deve escolher uma 
abordagem ou teoria, que é como a lente usada para compreender o mundo, os 
sujeitos e suas interações. Existem diversas abordagens, as mais conhecidas, que são 
denominadas de “as grandes forças da Psicologia”, são: a Psicanálise, a Psicologia 
Comportamental, o Humanismo e a Gestalt, que serão brevemente apresentadas a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
seguir. 
A Psicanálise, foi criada por Sigmund Freud (1856-1939). Essa abordagem 
trouxe relevantes contribuições sobre a estruturação do aparelho psíquico e tem 
como principal descoberta o sistema inconsciente. Além disso, colabora para a 
prática profissional de psicólogas e profissionais que atuam na saúde mental. De 
acordo com Ferreira (2001, p. 110), ao realizar uma pesquisa bibliográfica sobre a 
relação entre Educação e Psicanálise, foi possível constatar que “o ponto de maior 
controvérsia entre os autores que se ocupam do tema reside no debate sobre o 
possível e o impossível de ter na Psicanálise uma ciência aplicável à educação [...]”. 
A Psicologia Comportamental, que será mais bem discutida na unidade 3 
deste livro, foi criada por John Watson (1878-1958) e depois desenvolvida por Burrhus 
Frederic Skinner (1904-1990). Trouxe grandes contribuições para a Psicologia 
organizacional e clínica, além dos campos da Propaganda e Educação, 
especialmente no que se refere à aprendizagem (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2008). 
A Psicologia Humanista foi desenvolvida por Carl Rogers (1902-1987), dentre 
outros pensadores. Para Rogers, deve-se ter uma consideração positiva das pessoas, 
para que cada uma possa de fato ser quem se é, sem que os obstáculos sociais, por 
exemplo, o temor de mostrar-se, impeça a aceitação da sua própria experiência e 
a autorrealização. Algumas contribuições de Rogers para a educação são a 
necessidade de a professora estimular o estudante a sair da posição de heteronomia 
para alcançar a autonomia, bem como a importância da aceitação do outro- tanto 
o educador como o aluno- e do estímulo à criatividade no processo educativo 
(ALMEIDA, 2012). 
 
 
 
E, por fim, a Psicologia da Gestalt, que foi criada por três pensadores alemães: 
Max Whertheimer (1880-1943), Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Köhler (1887-1967). 
Essa abordagem é conhecida como Psicologia da Forma e tem como um dos 
principais focos o estudo da percepção, ou seja, um determinado estímulo, fará com 
que cada pessoa tenha uma percepção e, em seguida, ela dará uma resposta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
Nesse sentido, quanto mais claro for o estímulo, mais fácil ele será compreendido. 
No caso da educação escolar, por exemplo, isso significa que o professor deve expor 
o conteúdo de forma mais organizada e compreensível possível para que o 
estudante tenha uma boa percepção e dê a resposta adequada. 
Depois de realizada essa contextualização da Psicologia de uma forma geral, 
no item a seguir serão discutidas questões específicas da Psicologia da Educação, 
de que trata esse campo do conhecimento e sua construção no Brasil. 
 
1.2 O QUE É A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
Inicialmente, faz-se importante compreender a complexidade do termo 
educação. É muito comum que as pessoas pensem que a educação é 
especificamente o processo que ocorre em uma escola, mas a educação não está 
restrita ao ambiente escolar, ela pode ocorrer no contexto familiar, de uma igreja, de 
uma Organização Não Governamental, por exemplo. 
 
 
Pelo dicionário online Aulete, a educação é explicada como “Processo formal 
de transmissão de conhecimentos em escolas, cursos, universidades”, como 
“Formação e desenvolvimento da capacidade física, moral e intelectual do ser 
humano.”. 
O presente livro irá abordar especificamente sobre a educação escolar,
por 
se tratar de um material de formação para futuros professores. De acordo com 
Larocca (2007, p. 59) para além de uma preparação ou treinamento, a educação 
deve ser compreendida como uma “atividade intencional, histórica, social e 
culturalmente situada”. Ainda para essa autora, “a educação não se restringe a 
transmissão dos saberes formalizados, científicos ou técnicos, mas exige algo maior, 
pois requer a transformação substantiva” das pessoas que dela fazem parte 
(LAROCCA, 2007, p. 59). 
Em relação à Psicologia da Educação, de acordo com Coll (2004), essa deve 
ser compreendida como uma “disciplina ponte” que tem como objeto de estudo 
compreender os processos de mudanças oriundos do desenvolvimento, da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
aprendizagem e da socialização que são decorrentes da educação. Esse autor 
ressalta que as atividades educacionais não estão restritas ao ambiente escolar e 
ocorrem entre pessoas de diferentes características concretas, por exemplo, a idade, 
pode-se considerar também o pertencimento social, o gênero, a raça como 
aspectos relevantes de serem considerados nos processos educacionais. Ou seja, o 
aprender de um menino de dez anos, branco, pertencente à camada média, que 
estuda em uma escola particular será diferente de uma mulher adulta, negra, 
transexual, que foi expulsa da escola pública que frequentava quando era 
adolescente, por exemplo. 
 É imprescindível considerar que não se trata de pensar que a Psicologia 
esteja a serviço da Educação, ou o contrário. É importante compreender que 
Psicologia e Educação (Pedagogia, Licenciaturas, Didática) se complementam, 
trazem questionamentos, reflexões e contribuições para entender um fenômeno tão 
complexo como a educação. Assim sendo, a Psicologia da Educação é um campo 
de conhecimento multidisciplinar, que integra diferentes disciplinas, sem hierarquias 
entre esses campos de saber (COLL, 2004). 
Apesar de abranger diversas abordagens, ainda segundo Coll (2004) são 
orientações da Psicologia da Educação de uma forma geral: 
 Relações entre desenvolvimento, aprendizagem, cultura e educação: 
conceber que o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem inseridos em 
uma dada cultura, principalmente por meio da educação, seja no âmbito 
familiar ou escolar, dentre outros. 
 Enfoques e modelos contextuais e culturais dos processos psicológicos: 
considerar como o contexto e a cultura, por exemplo, frequentar uma escola 
pública de periferia de uma grande cidade do sudeste brasileiro, determina a 
forma como a aprendizagem vai ocorrer, além dos processos de atenção, 
comportamentos conscientes. 
 Unidade do ensino e aprendizagem: compreender a indissociabilidade dos 
processos de ensino e aprendizagem, a forma como o professor ensina, 
determina a maneira como o estudante vai aprender. 
 Interesse por diferentes tipos de práticas educacionais: abarcar a educação 
como um processo complexo, que ocorre em diferentes contextos, formais, 
por exemplo, a escola, e informais, como as relações familiares. E, mesmo no 
ambiente escolar, considerar as diferentes práticas possíveis de serem 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
utilizadas, como as metodologias ativas, a gamificação, dentre outras. 
 
Dentre as várias contribuições da Psicologia para a Educação, podem-se 
destacar os estudos e as reflexões acerca do: 
 Desenvolvimento humano: conhecer como as pessoas se desenvolvem, quais 
capacidades são adquiridas em quais etapas da vida. 
 Processo de ensino-aprendizagem: compreender como as pessoas 
aprendem, por exemplo, quais as diferenças na forma de aprendizagem de 
crianças de sete anos e de uma pessoa idosa? Como ensinar uma criança e 
um adulto a ler? 
 Diferentes contextos educacionais: as formas como os conteúdos são 
apresentados em uma escola formal é diferente das maneiras como as 
aprendizagens são abordadas no ambiente familiar. Quando, durante o 
lanche da família, uma mãe solicita ao filho que divida o bolo em partes iguais 
para os irmãos, é diferente de quando a professora, na prova, coloca uma 
questão de “quanto é 1 dividido por 4?”. 
 Importância da relação entre professor e estudante para o processo de ensino 
e aprendizagem: Pesquisas, como a de Veras e Ferreira (2010), apontam que 
a relação estabelecida entre educadoras e alunos, mesmo no ensino superior, 
é determinante para “uma experiência de aprendizagem favorável” (p. 219). 
 Especificidades da profissão docente: como a formação, o adoecimento, a 
superação de desafios e a criação de diferentes estratégias para a 
aprendizagem. Um exemplo disso são as pesquisas que buscam conhecer 
como os professores se adaptaram, adaptaram os conteúdos, os métodos e 
as aulas durante o ensino remoto decorrente da COVID-19. 
 
No próximo item, último dessa unidade, serão discutidas questões pertinentes 
à Psicologia da Educação que vem sendo desenvolvida no Brasil. 
 
1.3 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL 
A Psicologia da Educação que vem sendo construída no Brasil tem trazido 
contribuições importantes acerca do contexto escolar. Por exemplo, em 2015, o 
Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma pesquisa sobre preconceito e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
violência na escola, em que apresenta o resultado de um levantamento 
documental, pesquisa bibliográfica e de campo, sendo essa última realizada por 
meio de oficinas que ocorreram nas cinco regiões do país (CFP, 2015). Ao estudar 
sobre a escola, é imprescindível considerar o seu cotidiano, repleto de desafios -
como preconceito e violência- e de desigualdades- não apenas entre instituições 
públicas e privadas, mas, também, se forem comparadas as escolas particulares 
entre si e as públicas entre si. 
Essas desigualdades de acesso e de qualidade da educação vêm sendo 
constantemente denunciadas pela Psicologia, tanto pelo CFP como pela 
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPPE). É muito 
importante que o conhecimento das teorias da Psicologia da Educação seja aliado 
ao conhecimento do contexto em que essa educação ocorre, bem como dos 
estudantes que dela fazem parte. Não é possível promover o processo de ensino e 
aprendizagem descontextualizado, há de se considerar as condições da escola e 
das pessoas (equipe pedagógica, pessoal de apoio, estudantes), principalmente, as 
condições materiais. 
 
 
 
Foram escolhidas duas personalidades que trouxeram muitas contribuições 
para a Psicologia da Educação brasileira, duas mulheres, uma pioneira e outra 
contemporânea desse campo do saber: Helena Antipoff e Maria Helena Souza Patto. 
 
 
Helena Antipoff 
 
 
https://bit.ly/3zvzhzX
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
Figura 1: Fotografia de Antipoff 
 
Fonte: Fundação Helena Antipoff (2020) 
 
Nasceu em 1892, na Rússia e formou-se psicóloga, na Suíça. Em 1929, foi 
convidada pelo governo de Minas Gerais para participar da Reforma Educacional 
Francisco Campos Mário Casassanta. (CAMPOS, 2000). 
Suas pesquisas e práticas objetivaram conhecer e atuar sobre o 
desenvolvimento das crianças, especialmente aquelas com alguma deficiência, 
bem como contribuir para a formação de professores mais capacitados. 
Antipoff demostrava interesse e preocupação com a democratização da 
educação e com a exclusão social. Já na década de 1930, denunciou a situação 
das crianças que permaneciam nas ruas da capital mineira, comparando esse 
contexto à realidade vivenciada pelas crianças europeias, durante a Primeira 
Grande Guerra Mundial. (CAMPOS, 2003). 
Entre seus vários projetos, destacam-se dois: a Sociedade Pestalozzi e a 
Fazenda do Rosário. Antipoff foi uma das organizadoras da Sociedade Pestalozzi, 
instituída em 1932, que buscou promover a assistência às crianças excepcionais, além 
de formar professores que as educavam. (CAMPOS, 2003). 
Ainda de acordo com Campos (2003), a Fazenda do Rosário, instalada em 
1940, em Ibirité/Minas
Gerais, foi uma extensão da Sociedade Pestalozzi e teve como 
objetivo a (re) educação de crianças abandonadas ou “excepcionais”. Na década 
seguinte, participou do movimento de criação da Associação de Pais e Amigos dos 
Excepcionais (APAE). 
Antipoff faleceu, em 1974, no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
Como contribuições de Antipoff que influenciam a educação brasileira até os 
dias atuais, sobressaem-se: 
 A inteligência não é resultado apenas da predisposição genética e da idade 
da criança, mas também é influenciada por fatores do ambiente, ou seja, ela 
propôs uma “análise psicossocial da cognição.” (CAMPOS, 2010, p. 26). 
 Tanto a inteligência quanto a personalidade do aluno são produzidas em sua 
relação com o meio em que está inserido, social e cultural. (CAMPOS, 2010). 
 A necessidade de que os educadores conheçam os estudantes. (CAMPOS, 
2010). 
 A relevância concedida à formação continuada dos professores. 
 A importância de que as pesquisas sobre os processos psicológicos que 
ocorrem durante o ensino-aprendizagem sejam testadas no cotidiano escolar. 
(CAMPOS, 2010). 
 A defesa de que a educação pode auxiliar no processo de adaptação das 
crianças consideradas “excepcionais”, principalmente as escolas que tenham 
contato com a natureza. Outro ponto é a necessidade de respeito, carinho e 
garantia da dignidade desses estudantes. (ANTIPOFF, 1944) 
 
E, para finalizar esse tópico sobre Helena Antipoff, segue o trecho de um de 
seus textos: 
 
A arte de ensinar, ou melhor, a arte de educar é a mais delicada no 
mundo. Não basta, como em outras artes, vestir de forma a ideia, 
escolhendo à vontade a matéria-prima. Aqui o artista não tem 
escolha: recebe quantos meninos nasceram no município. A grande 
arte consistirá em adaptar a sua ideia ao feitio particular do 
educando, e no universo psicológico da criança fazer ressoar o seu 
próprio universo. Explícita ou implicitamente, deve haver entre os dois, 
entendimentos. Senão, na melhor das hipóteses, os feitos educativos 
serão transitórios, não passando de um verniz muito superficial; na pior, 
criará rebeldia e revoltas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
 
 
Maria Helena Souza Patto 
 
Figura 2: Fotografia Patto 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/39oJhjW. Acesso em: 20 jun. 2021. 
 
Autora de uma das principais obras brasileira de Psicologia Educacional “A 
produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia”, publicado pela 
primeira vez em 1990, Patto, ao realizar uma pesquisa em um escola municipal de 
São Paulo, mostra as dificuldades da escolarização das camadas populares: o 
preconceito social, racial e linguístico, as acusações sofridas pelas famílias que eram 
consideradas culpadas pelo insucesso dos filhos na escola e os obstáculos 
enfrentados pelas professoras. 
Ao longo do livro, Patto apresenta quatro histórias de (re) provação escolar, 
que foram acompanhadas durante a realização de sua pesquisa. A primeira delas, 
a de Ângela, filha mais velha de migrantes pernambucanos, desde nova vivenciou a 
sobrecarga do trabalho doméstico. Repetente no 1º ano do ensino fundamental, ela 
foi apresentada pela equipe pedagógica como imatura, com deficiência mental e 
paranoica, já seus pais, foram retratados como desinteressados no desenvolvimento 
https://bit.ly/39oJhjW
https://bit.ly/2XxttJ4
https://bit.ly/39p04n0
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
e na escolarização da filha. De acordo com a coordenação escolar, ela, assim como 
todos os outros “repetentes” não possuíam “condições pessoais de aprendizagem de 
um mínimo que justifique sua promoção.” (PATTO, 2008, p. 358). Para a mãe de 
Ângela, a filha “não tem amor na escola” (PATTO, 2008, p. 360), ela relatou que a 
professora disse que “não entra nada na cabeça dela” (PATTO, 2008, p.360). Ao 
analisar a relação da criança com a escola, Patto afirma: “Ângela defrontou-se com 
o preconceito, a discriminação, o estigma e um ensino de má qualidade, o que 
inegavelmente a leva a evitar a escola e a aprendizagem escolar e a dar a impressão 
de que ‘não tem amor na escola.” (PATTO, 2008, p. 362) 
Com seu livro, Patto demonstrou uma situação que ainda hoje é vivenciada: 
o fracasso escolar é explicado por problemas genéticos, algo que a criança já nasce 
ou por problemas econômicos e familiares, a família não tem boas condições sociais 
e/ou não valoriza a escola. Era a vivência prática daquilo que foi postulado pela 
teoria da carência cultural: as dificuldades escolares dos estudantes das camadas 
populares são reflexos da sua privação cultural, ou seja, o meio em que essas crianças 
vivem não é adequado nem estimulante o suficiente para que elas aprendam. 
Em todas essas justificativas descritas anteriormente, a escola se isenta da sua 
responsabilidade no processo de ensino-aprendizagem, o estudante não aprende 
por motivos externos à instituição escolar e, com isso, ela não pode melhorar a 
educação que oferece. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (ENADE/Adaptada) A Psicologia se reconhece e é socialmente identificada como 
um campo multifacetado e dividido em várias áreas de atuação. Tais áreas 
configuram temáticas, problemas, conhecimentos, tecnologias, modos de pensar 
e de atuar sobre as demandas oriundas de diferentes segmentos e contextos 
sociais. 
Bastos, A. V. B. et al. As mudanças no exercício profissional da psicologia no Brasil: o que se alterou nas últimas décadas e o que 
vislumbramos a partir de agora? In: Bastos, A. V. B., & Gondim, S. M. G. (Orgs.) (2010). O trabalho do psicólogo no Brasil: um 
exame à luz das categorias da psicologia organizacional e do trabalho. Porto Alegre: Artmed.) 
 
Considerando esse contexto, avalie as afirmações a seguir e a relação proposta 
entre elas. 
 
I. O estudo da Psicologia é exclusivo para as psicólogas. 
PORQUE 
II. Apenas as psicólogas conseguem compreender a complexidade dos fenômenos 
psicológicos. 
 
A respeito dessas afirmativas, assinale a opção correta. 
 
a) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. 
b) As proposições I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. 
c) A afirmação I é verdadeira, e a II é uma proposição falsa. 
d) A proposição I falsa, e a II é verdadeira. 
e) As afirmações I e II são falsas. 
 
2. (ENADE/Adaptada) As teorias em Psicologia constituíram-se de diversas raízes 
filosóficas e epistemológicas, que deram origem a sistemas complexos de 
conceitos, histórica e culturalmente determinados. Tais sistemas conceituais, por 
sua vez, possibilitaram a emergência de abordagens, escolas, teorias e práticas 
diferenciadas de Psicologia. Essa situação configura um campo de dispersão da 
Psicologia, que se formou com a utilização de diversas perspectivas 
epistemológicas, metodológicas e conceituais. A manifestação desse processo 
ocorreu por meio da produção de diferentes teorias e sistemas que marcaram a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
primeira metade do século XX. 
BARRETO, C. L. B. T.; MORATO, H. T. R A dispersão do pensamento psicológico. Boletim de Psicologia, São Paulo, v. 58, n. 129, dez. 
2008. 
 
Considerando os fundamentos epistemológicos da Psicologia, é correto apenas o 
que se afirma em 
 
a) Existem poucas abordagens na Psicologia. 
b) Existe uma abordagem psicológica: a Psicanálise. 
c) Existem três abordagens na Psicologia, reconhecidas como “As três grandes 
forças”. 
d) Apesar de serem reconhecidas três principais abordagens, existem diversas outras. 
e) A abordagem psicológica mais famosa é a sistêmica. 
 
3. Em 06 de agosto de 2020, foi publicado o seguinte comunicado: Celebramos hoje 
os 91 anos da chegada do/a educador/a e psicólogo/a russo/a 
_____________________ à Minas Gerais com o objetivo de ajudar na reforma do 
ensino e deixou um legado importantíssimo para educação brasileira. 
 
O relato acima
refere-se a: 
 
a) Helena Antipoff. 
b) Maria Helena Souza Patto. 
c) Francisco Campos Mário Casassanta. 
d) Lev Vigotski. 
e) Alexei Leontiev. 
 
4. (COMPERVE - 2018 – UFRN/ Adaptada) Desde o surgimento da psicologia escolar e 
educacional, o fenômeno denominado de fracasso escolar constituiu-se como 
objeto de estudo privilegiado dessa área. Nesse contexto, Maria Helena Souza 
Patto, pesquisadora com estudos consagrados na área, analisa que para 
compreender a gênese dessa problemática, é necessário considerar: 
 
a) A precariedade das condições sociais de crianças e adolescentes que, devido às 
privações sofridas, são incapazes de aprender. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
b) A influência da teoria da carência cultural, que marcou o início das práticas 
psicológicas na educação no Brasil. 
c) O contexto familiar que desvaloriza os saberes escolares e desacredita na 
educação formal como meio de ascensão social. 
d) O aspecto hereditário, uma vez que todos os transtornos de aprendizagem têm 
causas genéticas e congênitas. 
e) O rendimento escolar é resultado direto das capacidades psicológicas naturais de 
cada um. 
 
5. Analise a tirinha abaixo: 
 
 
O quadrinho acima trata sobre a discussão se já nascemos com o nosso destino 
traçado. Nesse sentido, é importante considerar a subjetividade, que é um 
conceito de estrema relevância para a Psicologia, e pode ser melhor 
compreendida como: 
 
a) A essência com a qual o sujeito nasce. 
b) Aquilo que a pessoa é. 
c) Algo totalmente individual. 
d) Algo exclusivamente interno, aquilo que ocorre dentro do sujeito. 
e) A forma como o sujeito é, de acordo com suas determinações sociais e materiais. 
 
6. Por suas contribuições para a educação e sua sensibilidade, Carlos Drummond de 
Andrade escreveu um poema para homenagear Helena Antipoff, intitulado “A 
casa de Helena”. Essa psicóloga foi uma das responsáveis pela criação: 
 
a) Fazenda do Rosário, Sociedade Pestallozi, Associação de Pais e Amigos dos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
Excepcionais (APAE). 
b) Fazenda do Rosário, apenas. 
c) Sociedade Pestallozi e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), 
apenas. 
d) Fazenda do Rosário e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), 
apenas. 
e) Sociedade Pestallozi, apenas. 
 
7. De acordo com Coll (2004, p. 19) “A existência da psicologia da educação como 
uma área de conhecimento e de saberes teóricos e práticos claramente 
identificável, relacionado com outros ramos e outras especialidades da psicologia 
e das ciências da educação, mas ao mesmo tempo distintos delas, tem sua origem 
na crença racional e na convicção profunda de que a educação e o ensino 
podem melhorar sensivelmente com a utilização adequada de conhecimentos 
psicológicos.” 
 
É possível afirmar que uma das principais tendências atuais na concepção da 
Psicologia da educação é: 
 
a) Compreender a Psicologia como a disciplina “mestra” nos estudos da educação. 
b) Conceber a Psicologia da educação como uma disciplina ponte. 
c) Considerar a pedagogia como a disciplina “rainha” nas pesquisas educacionais. 
d) Defender que a Psicologia deve compreender a supremacia da didática no 
campo educacional. 
e) Defender que os conhecimentos sobre os fenômenos psicológicos são restritos às 
psicólogas, mesmo quando ocorridos no contexto educacional. 
 
8. Leia o trecho abaixo, retirado da música “Estudo Errado”, escrita por Gabriel, O 
Pensador: 
“Encarem as crianças com mais seriedade 
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade 
Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração e a 
indiferença são sócios 
Quem devia lucrar só é prejudicado 
Assim cês vão criar uma geração de revoltados 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio 
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...” 
 
O autor relata uma situação ocorrida no ambiente escolar. Diante das reflexões 
realizadas até o momento, a educação pode ser compreendida como: 
 
a) Processo de aprendizagem que ocorre exclusivamente na escola. 
b) Formação intelectual das crianças. 
c) Preparação moral de crianças e adolescentes. 
d) Construção do conhecimento que pode ocorrer em diversos ambientes. 
e) Criação que os pais dão aos filhos, exclusivamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
INTRODUÇÃO ÀS DIFERENTES 
CONCEPÇÕES DE 
DESENVOLVIMENTO 
 
 
 
2.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO: INTRODUÇÃO 
Desenvolvimento humano pode ser progredir, regredir ou manter determinada 
característica/habilidade física, cognitiva ou psicossocial (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 
2009). Assim sendo, nesta unidade serão trabalhadas questões acerca das 
mudanças e permanências das pessoas ao longo dos anos. 
No dicionário Aurélio, desenvolvimento está descrito como: 1) Fazer crescer, 
prosperar. 2) Gerar, produzir. 3) Crescer, aumentar, progredir. É importante atentar-se 
ao fato de que, por esse significado, o desenvolvimento é entendido sempre como 
crescimento, todavia, como será discutido a seguir, essa concepção não pode ser 
utilizada nas pesquisas sobre o desenvolvimento humano. 
 
 
 
De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), o estudo do desenvolvimento 
humano é o conhecimento científico de como as pessoas se transformam, além 
daqueles atributos que continuam moderavelmente estáveis durante a vida do 
indivíduo. 
As pesquisas mais atuais em desenvolvimento humano concordam em três 
pontos que são (quase) consenso: o desenvolvimento ocorre ao longo de todo o 
ciclo vital, desenvolver significa mudar e também manter e, por último, o 
desenvolvimento é resultado da interação entre os fatores ambientais e genéticos. 
Como esses pontos são muito importantes, elas serão discutidas 
detalhadamente. 
UNIDADE 
02 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
1) Desenvolvimento ao longo do ciclo vital 
Isso significa afirmar que as pessoas se desenvolvem até o último dia de sua 
vida, mesmo se falecerem aos 100 anos ou mais. Durante o início dos estudos do 
desenvolvimento humano, acreditava-se que os sujeitos só se desenvolviam no 
começo da vida, principalmente durante a infância. Para se ter uma noção, 
segundo Papalia, Olds e Feldman (2009), a adolescência passou a ser estudada pela 
Psicologia no início do século XIX e a velhice apenas nas décadas de 1920/30. O 
estudo de cada uma das etapas do desenvolvimento trouxe efeitos para o cotidiano 
e a educação, em específico. Saber como ocorre o desenvolvimento cognitivo 
auxilia no planejamento das aulas, que deve ser diferente se os estudantes estão no 
ensino fundamental, médio ou na Educação de Jovens e Adultos (EJA). 
Conceber o desenvolvimento como um processo que ocorre durante toda a 
vida do sujeito é considerar que: 
 O passado influencia o presente e o futuro, ou seja, as experiências que a 
pessoa vivenciou vão intervir no seu futuro. Por exemplo, estudos de Alves et al 
(2005) apontam a relação entre a inatividade física na adolescência e o 
sedentarismo adulto. Isso não significa que necessariamente um adulto que 
não exerceu atividades físicas durante a adolescência será sedentário, mas 
há uma probabilidade de que ele o seja. 
 O futuro também pode influenciar o presente. Se um adulto objetiva ser 
aprovado em um concurso público, por exemplo, ele pode criar estratégias 
para alcançar o seu objetivo, como estudar por quatro horas diariamente, 
reduzir o tempo que gasta nas redes sociais para se dedicar à preparação 
para a prova. 
 É importante destacar que as teorias psicológicas têm ideias diferentes de 
quanto/como o passado, o presente e o futuro interferem um no outro, mas, 
de uma forma geral, acreditam nessa mútua influência. Por exemplo, a 
Psicanálise tem o foco nos eventos passados, especialmente a primeira 
infância. Já a abordagem de Vigotski, que será estudada na unidade 4 dessa 
obra, concede grande
relevância ao que estar por vir, à potencialidade do 
aprendizado. 
 
 
2) Desenvolver: transformar e manter 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
Esse é um ponto polêmico dentro das pesquisas sobre o desenvolvimento 
humano, algumas abordagens defendem que há certa estabilidade ao longo da 
vida, como algumas pesquisas que utilizam o Modelo dos traços, já outras partem do 
pressuposto de que desenvolver significa basicamente modificar (PAPALIA; OLDS; 
FELDMAN, 2009). 
Alguns aspectos que se mantém razoavelmente estáveis ao longo do 
desenvolvimento de uma pessoa: tipo sanguíneo, pigmentação dos olhos. De acordo 
com Papalia, Olds e Feldman (2009), existem estudos que demonstram que alguns 
traços da personalidade e do comportamento humano têm certa constância. 
Já outras características, como a estatura, o peso e a capacidade cognitiva 
alteram-se ao longo do ciclo vital. Pesquisas recentes apontam que até mesmo o 
Ácido Desoxirribonucleico (DNA) pode-se alterar durante a vida da pessoa, 
diferentemente do que se achava há até pouco tempo (MARASCIULO, 2020). 
Dessa forma, constata-se que ao longo da vida, algumas características serão 
mantidas, outras irão se transformar. Apesar de não haver um consenso de quais são 
os aspectos estáveis e quais são os mais modificáveis. 
 
3) Natureza e/ou contexto social 
Dentre os aspectos aqui abordados, provavelmente esse é o mais controverso: 
quanto do desenvolvimento humano é determinado pela natureza e quanto é 
resultado da influência do contexto social do qual o sujeito faz parte? 
As abordagens iniciais do estudo do desenvolvimento humano, como o 
inatismo, que será estudado na próxima unidade, defendiam que esse é resultado 
exclusivo da hereditariedade: as pessoas se desenvolveriam de acordo com os seus 
aspectos biológicos, independentemente do meio em que estão inseridas. Assim 
sendo, desde o nascimento, já existiria a essência, a semente de como esse sujeito 
iria se desenvolver (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). 
Um acontecimento importante para compreender a relação entre a discussão 
sobre a afirmação de que as pessoas são resultado unicamente dos aspectos 
biológicos foi o aparecimento do menino Victor, em 1800, no sul da França. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
Figura 3: Ilustração Victor de Aveyron 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/2XMJAmq. Acesso em: 15 jun. 2021. 
 
De acordo com Pereira e Galuch (2012) essa é uma história verídica, que serviu 
como inspiração para o filme “Garoto selvagem”, na qual um menino foi encontrado 
sozinho em um bosque: ele vivia como um animal, não sabia se comunicar, andar, 
nem se comportar como um ser humano. 
Victor foi levado a diversas instituições e, em determinado momento, ficou aos 
cuidados do famoso médico Philipe Pinel, que acreditava que o garoto tinha sido 
abandonado por sua família por ter demência, o que justificaria o fato de não andar, 
falar etc. Além disso, o especialista acreditava que ele não seria capaz de aprender 
essas habilidades. 
Outro médico responsável pelo tratamento de Victor foi Jean Marc Gaspard 
Itard que, diferentemente de seu professor Pinel, acreditava na possibilidade de 
educar o menino, pois defendia que o desenvolvimento poderia ser potencializado 
por meio do contato social (PEREIRA; GALUCH, 2012). 
Apesar de algumas limitações, com a educação dada por Itard, Victor teve 
progressos em seu desenvolvimento, aprendeu a ler, escrever e a obedecer a regras 
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). 
Se, por um lado, Pinel defendia o desenvolvimento como resultado exclusivo 
de fatores biológicos, por outro, Itard acreditava no poder do meio como importante 
aspecto no seu desenrolar. Nos dias de hoje, compreendemos que Pinel acreditava 
nas ideias inatistas, já Itard, inseria-se em uma concepção interacionista do 
https://bit.ly/2XMJAmq
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
desenvolvimento, conforme será estudado nas duas próximas unidades. 
Atualmente, a maior parte das pesquisas defende uma relação entre as 
dimensões biológicas e sociais como determinantes do desenvolvimento humano. 
Teóricos como Piaget, Vigotski e Wallon, que serão estudados na Unidade IV, 
defendem a importância de fatores biológicos e sociais para o desenvolvimento 
humano. 
Os estudos sobre o desenvolvimento humano são interdisciplinares, ou seja, 
diversos campos do saber trazem contribuições e se beneficiam das suas 
descobertas, como a educação, a medicina, a terapia ocupacional, o serviço social. 
Além disso, há uma interação entre as ciências que sobre ele se debruçam. Por 
exemplo, uma pesquisa que objetiva compreender o impacto da pandemia COVID-
19 no desenvolvimento adolescente pode contar com a presença de educadoras, 
psicólogas, médicos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, sociólogos, dentre 
outros especialistas. O objetivo dessa investigação científica seria conhecer o seu 
objeto – o impacto da pandemia COVID-19 no desenvolvimento adolescente- 
através de diferentes saberes, com a colaboração de várias ciências e, 
consequentemente, auxiliando-as em suas práticas profissionais. 
De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), os estudos sobre o 
desenvolvimento humano objetivam: 
 Descrever: quando ocorrem determinados comportamentos, por exemplo: 
qual a idade geralmente as crianças conseguem controlar os esfíncteres. 
 Explicar: como ocorrem determinados comportamentos, por exemplo: o que 
é necessário para que as crianças controlem seus esfíncteres. 
 Prever: comportamentos posteriores, por exemplo, se a criança já consegue 
identificar quando está com vontade de urinar, provavelmente ela irá 
conseguir controlar os esfíncteres. 
 Modificar: comportamentos considerados inadequados, por exemplo, se a 
criança tem nove anos e ainda não consegue controlar os esfíncteres, ela 
deve ser avaliada por uma especialista e passar por um tratamento para que 
consiga fazê-lo, pois os estudos sobre o desenvolvimento infantil mostraram 
que nessa idade a criança já deve ser capaz de controlar os esfíncteres. 
 
É possível relacionar os quatro grandes objetivos do estudo do 
desenvolvimento ao processo educativo. Em uma escola infantil, se todas as crianças 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
do Maternal 3 conseguem se comunicar, quando uma criança não o faz, a 
coordenação pode solicitar que a família a leve para uma avaliação. Considere que 
ela foi avaliada por um fonoaudiólogo e foi constatado algum problema de audição 
(explicação). O fato de a criança ter dificuldades para se comunicação pode 
prejudicar o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo (possibilidade de prever), o que 
sugere que ela seja avaliada e, se necessário faça acompanhamento com o 
profissional indicado (para modificar). 
 
Domínios do desenvolvimento 
O desenvolvimento humano pode ser dividido em três dimensões: física, 
cognitiva e psicossocial. É importante destacar que esses domínios estão interligados 
e um interfere no outro (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2009). 
Exemplos de desenvolvimento: 
 Físico: aumento da estatura, amadurecimento dos órgãos sexuais, o 
branqueamento dos cabelos. 
 Cognitivo: aumento e diminuição da concentração, compreensão de 
conceitos abstratos, capacidade de planejamento. 
 Psicossocial: desenvolvimento da capacidade de cooperar com outras 
pessoas, do sentimento de solidariedade, e da sabedoria. 
 
Para ilustrar a afirmação de que cada uma dessas dimensões interfere na 
outra, considere uma adolescente que teve a menarca (primeira menstruação), com 
isso, ela se interessou em estudar sobre a reprodução humana e, ao mesmo tempo, 
sua família a orientou sobre a possibilidade de gravidez na adolescência. 
Em se tratando do ambiente escolar, pode-se ilustrar com a situação de um 
estudante, de estatura baixa, que quer chamar a atenção das meninas de sua sala. 
Por ser baixo, ele percebeu que teria dificuldades em entrar para o time de basquete, 
assim
sendo, ele resolveu estudar bastante, para se sobressair durante as aulas e ser 
o foco da atenção das colegas. 
Por sua complexidade, a escola influencia e é influenciado pelas três 
dimensões do desenvolvimento humano. Por exemplo, as aulas de Educação Física, 
contribuem no aumento da força física. As aulas de História, possibilitam o 
conhecimento de outros momentos históricos e a convivência com colegas, pode 
auxiliar no desenvolvimento do sentimento de solidariedade. Uma criança obesa que 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
é sempre deixada no banco reserva na hora do jogo de vôlei, como consequência, 
poderá ficar isolada e não terá mais interesse em ir para a escola. Já a estudante 
que tem facilidade com cálculos, será solicitada a explicar a matéria para os 
colegas, isso fará com que ela se sinta motivada a estudar cada vez mais, além de 
valorizada por sua capacidade cognitiva. 
 
 
 
As mudanças no desenvolvimento humano podem ser divididas em 
qualitativas e quantitativas. Como os próprios termos indicam, as qualitativas referem-
se à qualidade e as quantitativas, à quantidade (BEE; BOYD, 2011). 
Para que possa ficar mais compreensível, pense em uma criança pré verbal, 
ou seja, que ainda não fala, mas que emite alguns sons, como os balbucios. Quando 
ela passa a ter a capacidade de usar a linguagem verbal, por exemplo, fala “mama” 
(para expressar mamãe) ou “quê” (para demonstrar o verbo querer), ocorreu o 
desenvolvimento qualitativo, de pré verbal a criança passou a ser verbal (PAPALIA; 
OLDS; FELDMAN, 2009). Já quando a família registra o número de palavras que essa 
criança fala, ela acompanha o seu desenvolvimento verbal quantitativo. 
Outro exemplo seria uma criança que entrou na escola pela primeira vez e 
tinha apenas três amigos, vizinhos do prédio em que mora. No final do ano letivo, ele 
fez 20 amigos, nesse caso, observa-se uma mudança quantitativa. Ao se comparar a 
amizade entre crianças menores, que apenas brincam juntas e adolescentes, que 
têm grupos para estudar, grupos para ir para balada, grupos para praticar esporte, 
constata-se mudanças qualitativas (BEE; BOYD, 2011). 
 
Influências no desenvolvimento humano 
Conforme explicitado anteriormente, a tendência atual dos estudos sobre o 
desenvolvimento humano é concebê-lo como multicausal, não apenas como 
puramente biológico ou exclusivamente social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
Dentre os fatores determinantes do desenvolvimento humano, destacam-se: 
hereditariedade, família, condições socioeconômicas, cultura, raça-etnia e contexto 
histórico. Abaixo serão apresentadas pesquisas que comprovam a influência de 
cada um desses aspectos do desenvolvimento humano: 
 Hereditariedade: Segundo Marques-Lopes et al. (2004), há a estimativa de que 
a obesidade tenha entre 40% a 70% de caráter hereditário. Em um país 
gordofóbico, no qual comumente alunos obesos sofrem preconceito na 
escola, é importante que os professores e toda a comunidade escolar saibam 
que muitas vezes a obesidade é resultado de fatores que não são de 
responsabilidade do aluno e/ou sua família. 
 Família: Para Silva et al. (2008) a família apresenta fatores de risco e de 
proteção que impactam o desenvolvimento infantil. Um exemplo dado pelas 
referidas autoras é quanto à escolarização: nas famílias que se envolvem mais 
na educação escolar de seus filhos, bem como naquelas cujos pais têm maior 
escolarização, a tendência é que os estudantes obtenham maior sucesso 
escolar. 
 Condições socioeconômicas: A situação socioeconômica é um importante 
determinante para a saúde do idoso (CONFORTIN et al., 2017): ter uma casa 
segura, alimentação apropriada para a idade, acesso a medicamentos e 
acompanhamento médicos de qualidade fazem com que a pessoa consiga 
se desenvolver de maneira adequada e saudável. Essa situação pode 
inclusive favorecer a sua capacidade/vontade de voltar a estudar. 
 Cultura: O comportamento alimentar é um dos principais determinantes do 
desenvolvimento infantil. De acordo com Rossi, Moreira e Rauen (2008), a 
cultura exerce forte influência na alimentação das crianças: disponibilidade e 
acesso a determinados alimentos, bem como a estrutura das refeições podem 
ser apontados como fatores culturais que interferem na alimentação. Com 
essa informação, principalmente as professoras da educação infantil e do 
ensino fundamental saberão da sua responsabilidade sob o comportamento 
alimentar e poderão abordar questões sobre esse tema em suas aulas. 
 Raça-cor: Em um estudo que objetivou conhecer a prevalência dos principais 
fatores de risco e proteção em escolares, segundo as diferenças de raça-cor, 
baseando-se na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE/2012), Malta 
et al (2017) constataram que: 1) Adolescentes brancos: frequentam escolas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
privadas, suas mães são mais escolarizadas, experimentam mais bebida 
alcoólica. 2) Estudantes pretos, pardos e indígenas: consomem mais feijão e 
frutas. 3) Adolescentes indígenas: praticam mais atividades físicas e relataram 
ser mais vítima de violência física. 4) Estudantes amarelos e pretos: informaram 
sofrer mais bullying. Por meio dessa pesquisa, constata-se que o pertencimento 
racial e de cor é um importante determinante do desenvolvimento de várias 
maneiras, desde o tipo de escola frequentada e da alimentação, até às 
atividades físicas realizadas, ao tipo de violência sofrida. 
 Contexto histórico: É importante que o sujeito seja concebido como um ser 
inserido em uma história, sendo determinado por ela e, ao mesmo tempo, 
determinando-a. Isso significa compreender a historicidade das pessoas. 
Nascer e viver em um determinado momento histórico tem as suas 
especificidades: durante a colonização dos portugueses, as guerras mundiais, 
a ditadura civil-militar ou a pandemia do Coronavírus 19. Nesse último caso, 
Costa et al. (2021) fizeram uma pesquisa para conhecer as consequências da 
pandemia do coronavírus para os adolescentes: mudanças nas formas de 
convivência; os lugares ocupados; as mídias; os riscos e as preocupações, 
todos esses aspectos acarretam consequências para o seu desenvolvimento. 
Destacam-se: a impossibilidade de separação dos pais e de convivência física 
com seus grupos de pares, o fechamento de serviços, como escola (COSTA et 
al., 2021). 
 
De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), as influências no 
desenvolvimento humano podem ser normativas e não normativas. As normativas 
são aqueles eventos que ocorrem de maneira muito parecida entre as pessoas. 
Podem ser histórico-contextuais, como no caso da pandemia do coronavírus, ou 
etários, de acordo com a faixa etária, por exemplo, o período em que ocorre a 
menarca. Já as influências não normativas são aquelas situações inesperadas para 
aquele momento do desenvolvimento humano, como o casamento na infância, a 
viuvez no início da vida adulta. 
No contexto educacional, pode-se ilustrar como influência normativa a 
passagem da escola para o ensino superior, na juventude. Já um exemplo de evento 
não normativo é a interrupção dos estudos durante a alfabetização de uma criança 
que precisa trabalhar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
 
 
 
 O desenvolvimento humano é dividido em períodos, de uma forma 
geral, no cotidiano, referimo-nos à infância, à adolescência, à juventude, à vida 
adulta e à velhice. No entanto, para o estudo do desenvolvimento, esses períodos 
são mais específicos, de forma a possibilitar o maior conhecimento sobre cada um 
deles, por exemplo, o que ocorre com a cognição de um bebê que acabou de 
nascer? Quais são as características físicas esperadas de uma senhora de 80 anos? 
Abaixo está reproduzida a proposta de Papalia, Olds, Feldman (2009) de 
divisão dos períodos do desenvolvimento humano de acordo com a faixa etária. É 
importante ressaltar que essa divisão, apesar de se basear no critério etário,
leva em 
consideração também aspectos culturais. Por exemplo, para determinadas culturas, 
como as etnias indígenas Tembé e Kaxuyana, a adolescência não existe, da infância, 
passa-se para a vida adulta (TRAVASSOS, CECCARELLI, 2017), para outras, como a 
brasileira, considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a 
adolescência acaba aos 18 anos. 
 
Quadro 1: Faixa etária e período do desenvolvimento 
Faixa etária Período 
Da concepção ao nascimento Pré-natal 
Do nascimento aos três anos Primeira infância 
Dos três aos seis anos Segunda infância 
Dos seis aos 11 anos Terceira infância 
Dos 11 aos 20 anos Adolescência 
Dos 20 aos 40 anos Início da vida adulta 
Dos 40 aos 65 anos Vida adulta intermediária 
Dos 65 anos em diante Vida adulta tardia 
Fonte: Papalia, Olds, Feldman (2009, p. 12-13) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
 
É imprescindível que futuros professores tenham conhecimento científico sobre 
o desenvolvimento humano considerando, inclusive, que o processo educativo pode 
ocorrer com estudantes em diferentes faixas etárias, desde a mais tenra idade, até 
os idosos, conforme explicitado anteriormente. 
O estudo sobre o desenvolvimento humano pode auxiliar os professores a 
saber como lidar com os estudantes, o que esperar de cada um deles, o que eles já 
devem saber, bem como o que podem aprender. Esse entendimento será 
indispensável no momento da construção das atividades pedagógicas. Por exemplo, 
para Jean Piaget, (como será estudo na unidade IV) é por volta dos 12 anos que os 
adolescentes conseguem ter uma compreensão dos conceitos abstratos, assim 
sendo, nesse período, as tarefas escolares devem explorar essa habilidade. 
Além do conteúdo pedagógico a ser desenvolvido, outro aspecto que o 
estudo do desenvolvimento pode contribuir para a prática da professora é como 
abordar tais conteúdos, qual a metodologia a ser utilizada? De acordo com Henri 
Wallon (que também será abordado na unidade 4), geralmente, por volta dos três 
anos, a criança passa por uma fase de oposição, em que quer vivenciar a sua 
independência. Os professores podem aproveitar esse momento e estimular que as 
crianças explorem o ambiente da escola, busquem aquilo que as interessa, por 
exemplo. 
Com essa unidade, foi possível constatar que o estudo do desenvolvimento 
descreve, em cada um dos períodos, o tipo de desenvolvimento esperado, por 
exemplo, para os professores de adolescentes, quais os tipos de desenvolvimento 
físico, cognitivo e psicossocial espera-se que ocorram, além disso, quais as influências 
desse desenvolvimento? Com essas informações, a educadora estará mais apta 
para escolher o conteúdo e o método mais adequados para planejar e executar as 
suas aulas. 
 
https://bit.ly/2ZhtIsK
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788580556308%20Acesso%20em%2021/08/2012
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
 
 
A partir das próximas duas unidades, será abordado o estudo sobre as 
correntes epistemológicas do desenvolvimento humano, ou seja, como as diferentes 
abordagens/teorias acreditam que ocorre esse desenvolvimento, quais são as suas 
determinações, como cada uma acredita que ocorre o processo de ensino e 
aprendizagem. Serão abordados: o inatismo, o ambientalismo, a abordagem 
comportamental e as teorias interacionistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (Quadrix - 2018 - CFP - Especialista em Psicologia – Psicopedagogia/Adaptada) 
Toda prática educativa traz em si uma teoria do conhecimento. Itard, médico francês 
nascido em 1975, foi um dos primeiros a trabalhar com dificuldades de 
aprendizagem, propondo um tratamento para o menino Victor de Aveyron, que 
ficou conhecido como “menino selvagem”. Nessa ocasião, ainda não se acreditava, 
por forças do capitalismo, que pacientes com algum tipo de atraso pudessem 
aprender, sendo esse caso um marco na construção da visão atual em relação ao 
ser que não aprende. Considerando o contexto apresentado e o atual, assinale a 
alternativa correta. 
 
a) Atualmente não existem mais práticas que tendem a segregar alunos que 
aprendem de alunos que não aprendem. 
b) Os estudos do desenvolvimento humanos são exclusivos dos médicos, assim sendo, 
apenas eles podem opinar sobre o que está sendo solicitado na questão. 
c) Ao professor cabe lecionar sua disciplina, independentemente do 
desenvolvimento de seus alunos. 
d) O professor, sozinho, não tem base teórica para conhecer os seus alunos, pois ele 
não estuda sobre o desenvolvimento humano. 
e) É de extrema relevância ampliar as discussões em torno da temática do 
desenvolvimento humano e buscar a contextualização histórica, além de teorias 
e pesquisas científicas para fomentar novas posturas. 
 
2. Uma professora de Ensino Fundamental é convidada a assumir uma turma de 
Educação de Jovens e Adultos (EJA). Apesar de estar muito sobrecarregada, ela 
aceita a oferta, afinal, já possui todo o material das aulas preparado. 
 
Considerando os estudos sobre o desenvolvimento humano, marque a alternativa 
abaixo que melhor analisa o pensamento dessa professora: 
 
a) Ela está correta, afinal, independentemente da idade do estudante, o conteúdo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
deve ser ministrado da mesma forma para todos. 
b) Ela está errada, pois deve considerar a etapa de vida dos alunos para planejar a 
aula. 
c) Ela está correta, uma vez que todas as turmas são iguais, independentemente não 
apenas do pertencimento etário, mas também sociocultural. 
d) Ela está errada, pois, independentemente de seus esforços, os idosos não têm 
capacidade de se desenvolverem. 
e) Os estudos do desenvolvimento não trazem contribuições para a educação 
escolar. 
 
3. Diversas pesquisas têm buscado conhecer as consequências da pandemia para 
o desenvolvimento humano, desde os recém-nascidos, até os idosos. 
Compreendendo que o desenvolvimento humano sofre influências normativas e 
não normativas (Papalia, Olds e Feldman, 2009), complete a frase a seguir com a 
alternativa que melhor a completa: 
A pandemia do coronavírus é um evento ___________ do desenvolvimento 
humano, pois ____________________________. 
 
a) Normativo/ afetou todas as pessoas do mundo. 
b) Não normativo/ atingiu os sujeitos de maneira diferente. 
c) Normativo etário/ afetou as pessoas da mesma idade de forma idêntica. 
d) Não normativo/ atingiu todas as pessoas que viveram nesse contexto histórico. 
e) Normativo histórico/ afetou todas as pessoas que viveram nesse contexto histórico. 
 
4. A escola é um dos principais contextos em que os estudantes se desenvolvem. 
Analise as afirmativas abaixo, que relacionam o desenvolvimento e a 
escolarização, e marque a alternativa correta: 
I. Na escola deve ser priorizado o desenvolvimento cognitivo, pois esse é o mais 
importante. 
II. O desenvolvimento psicossocial deve ocorrer exclusivamente no seio familiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
III. Um desenvolvimento interfere no outro. 
 
a) Todas estão corretas. 
b) Todas estão erradas. 
c) I e II estão corretas e III está errada. 
d) I está errada e II e III estão corretas. 
e) I e II estão erradas e III está correta. 
 
5. (IBADE- Psicóloga) De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), o 
desenvolvimento humano é composto por três aspectos que estão interligados 
durante toda a vida, e cada um influencia os outros. São eles, respectivamente: 
a) Biológico, cognitivo e social. 
b) Físico, mental e psicológico. 
c) Biológico, cognitivo e psicossocial. 
d) Físico, cognitivo e psicossocial. 
e) Biológico, mental e psicológico. 
 
6. Maria, uma aluna com dificuldades de interação com outros adolescentes, é 
convidada pela professora de Química para participar do grupo de estudos sobre 
balanceamento de equações. A mãe da estudante, no dia seguinte, se dirige à 
escola e reclama com a direção que a educadora quer que a filha estude
mais, 
apesar de saber que seu problema é fazer amigos e não compreender a matéria. 
A genitora: 
a) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que o 
desenvolvimento cognitivo pode influenciar o desenvolvimento psicossocial, assim, 
Maria, ao ajudar os colegas, pode fazer amigos. Ou seja, a estratégia da 
professora foi proposital, para ajudar Maria. 
b) Conhece os estudos do desenvolvimento humano e sabe que o desenvolvimento 
psicossocial é o mais relevante de todos, independentemente da situação e do 
contexto. 
c) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que o 
desenvolvimento cognitivo é o mais importante de todos. Ou seja, Maria não tem 
problema sério. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
d) Conhece os estudos do desenvolvimento humano e sabe que um tipo de 
desenvolvimento não interfere no outro. Ou seja, a escola deveria ter criado uma 
estratégia puramente psicossocial para auxiliar Maria em sua dificuldade para 
fazer amigos. 
e) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que se a 
pessoa tem dificuldade em um tipo de desenvolvimento, necessariamente o terá 
em todos. Ou seja, se Maria tem problemas para fazer amigos (desenvolvimento 
psicossocial), ela terá dificuldades para compreender a matéria (desenvolvimento 
cognitivo). 
 
7. Analise as asserções abaixo marque a alternativa correta: 
I. Os estudos do desenvolvimento humano são multidisciplinares. 
II. Podem ser beneficiados por diferentes campos do saber, assim como podem 
beneficiar diferentes práticas profissionais. 
 
a) Ambas as afirmativas são falsas. 
b) Ambas as afirmativas são verdadeiras e não há correlação entre elas. 
c) A afirmativa I é falsa e a II é verdadeira. 
d) A afirmativa I é verdadeira e a II é falsa. 
e) Ambas as afirmativas são verdadeiras e há relação entre elas. 
 
8. Considerando os tipos de desenvolvimento humano, complete o quadro a seguir 
e marque a alternativa correta: 
Tipo de 
desenvolvimento 
Conceito Exemplo 
1) Relacionado às 
habilidades mentais 
Capacidade de abstração 
Físico Relativo ao corpo 2) 
Psicossocial 3) Emoções 
 
a) 1) Cognitivo; 2) Peso; 3) Referente a si e aos outros. 
b) 1) Mental; 2) Beleza; 3) Relacionado à inteligência. 
c) 1) Cognitivo; 2) Inteligência emocional; 3) Referente a si e aos outros. 
d) 1) Interpessoal; 2) Hipotireoidismo; 3) Referente à capacidade de comunicação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
e) 1) Intrapessoal; 2) Peso; 3) Relacionado à inteligência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS: 
INATISMO, AMBIENTALISMO E A 
PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL 
 
 
 
Nessa unidade, serão apresentadas três formas de conceber o 
desenvolvimento humano: o inatismo, o ambientalismo e a Psicologia 
Comportamental. No final de cada uma delas, são apresentadas suas ideias sobre o 
papel da educação no desenvolvimento. 
 
3.1 INATISMO 
Inato é aquilo que nasce com o sujeito, independentemente da sua 
experiência e do contexto em que está inserido (DICIONÁRIO AULETE, 2021). Assim 
sendo, a corrente epistemológica do inatismo defende que a pessoa vai se 
desenvolver exclusivamente de acordo com os aspectos biológicos herdados, 
independentemente do meio em que está inserida (ALMEIDA, 2015). Dessa forma, os 
acontecimentos que ocorrem após o nascimento têm pouca importância para a 
definição da personalidade, dos valores, das condutas e da aprendizagem do sujeito 
(DAVIS; OLIVEIRA, 1994). 
Alguns ditados populares, como “quem herda, não furta”, “filho de peixe, 
peixinho é” e “pau que nasce torto, nunca se endireita”, são expressões muito 
comuns no cotidiano e partem dos pressupostos do inatismo: as pessoas são aquilo 
que herdam e não vão se modificar, independentemente das experiências que 
tiverem. 
De acordo com Davis e Oliveira (1994), o inatismo foi influenciado por ideias 
religiosas (cada pessoa é a imagem e semelhança de Deus e nasce com seu destino 
determinado), por concepções equivocadas da teoria evolucionista de Darwin (ao 
conceder ínfima importância aos fatores ambientais) e pelos primeiros estudos de 
embriologia (que erroneamente desconsideravam a influência do ambiente externo 
no desenvolvimento embrionário). 
Para o inatismo, a aprendizagem ocorrerá de acordo com o desenvolvimento 
de cada sujeito, que será determinado unicamente por sua herança genética. Dessa 
UNIDADE 
03 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
forma, o papel da professora é passivo e restrito: a ele cabe esperar o momento em 
que o estudante está pronto para determinada aprendizagem, sua função é 
principalmente auxiliar o aluno a organizar a predisposição com a qual nasceu 
(ALMEIDA, 2015). Dessa forma, acredita-se que a professora interfere minimamente 
no desenvolvimento (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). 
Para o inatismo, os estudantes provenientes de famílias com histórico de 
dificuldades de aprendizagem e/ou problemas no desenvolvimento irão, 
necessariamente, apresentar sérias limitações na sua escolarização (ALMEIDA, 2015) 
e nada poderá alterar esse destino que foi genética e previamente traçado, a 
professora pode tentar usar diferentes metodologias, conteúdos, mas não terá 
sucesso. 
Um dos grandes nomes a defender essas ideias foi Francis Galton (1822-1911), 
para ele, a inteligência era herdada. Em 1869, ele publicou o livro “A genialidade 
herdada” em que, por meio da história familiar, analisou homens muito inteligentes. 
Galton é reconhecido como um dos pais da eugenia, ciência que tinha como 
objetivo “aperfeiçoar” a espécie humana através do controle do cruzamento entre 
indivíduos pré-determinados (PATTO, 2008). 
 
 
 
Até hoje, as ideias de Galton impactam a sociedade de uma forma geral e, 
especificamente, a educação escolar. O pré-conceito de que as pessoas negras são 
menos inteligentes, de que os europeus são superiores, essas definições são 
estabelecidas sem se conhecer aquele determinado sujeito, apenas por ele 
pertencer a determinado grupo racial, espera-se que ele tenha certa capacidade 
(ou não), pois a herdou geneticamente. No Brasil, é possível pensar nas diferenças de 
padrões sociais construídos acerca das pessoas afrodescendentes e descendentes 
de europeus, por exemplo, conforme analisado no capítulo I dessa obra, no item 
sobre as pesquisas de Patto (2008). 
 
3.2 AMBIENTALISMO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
Oposta ao inatismo, o ambientalismo defende que o comportamento é 
resultado exclusivo da experiência que o indivíduo vivencia, independentemente da 
sua genética. Essa concepção foi baseada no empirismo (ALMEIDA, 2015). 
O fundador do empirismo foi o filósofo inglês John Locke (1632-1704). Ele 
rejeitava a concepção de que os sujeitos já nasciam com ideias, para ele, os seres 
humanos eram como uma lousa em branco, que era preenchida através das 
experiências que tinha ao longo da sua vida, por meio delas, os indivíduos 
construiriam o seu conhecimento. SCHULTZ; SCHULTZ, 2016). 
Para o ambientalismo, os sujeitos vão se desenvolver de acordo com o meio 
em que estão inseridos e as experiências que viverão nele, isso lhes concede uma 
capacidade de plasticidade muito grande (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). De acordo com 
o dicionário Aulete, a plasticidade pode ser compreendida como a qualidade do 
que pode ser moldado, ao consideramos a plasticidade das pessoas, isso significa 
que elas irão mudar de acordo com o que vivenciarem (estímulos, condições 
ambientais, dentre outros aspectos). 
Diferentemente da teoria inatista, a ambientalista concede destaque à 
professora, pois é responsabilidade sua conduzir o processo de aprendizagem (seja 
no seu planejamento, sua execução e sua organização) (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). 
Para Davis e Oliveira (1994), o principal questionamento do ambientalismo é a 
passividade do sujeito, ele será determinado pelo ambiente. Especificamente no 
contexto escolar, essas autoras criticam
o diretismo exacerbado da professora, que 
não abre margem para a espontaneidade dos estudantes. Ainda de acordo com 
elas, o ambientalismo não valoriza, por exemplo, as aprendizagens advindas das 
situações de convívio entre as crianças, aquelas em que não há intervenção da 
professora (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
3.3 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O 
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO: DE WATSON A SKINNER 
Algumas estudiosas, como Davis e Oliveira (1994) e Alencar (2015), consideram 
que a abordagem Comportamental se encontra inserida na corrente Ambientalista, 
dada a relevância que esta concede ao ambiente como determinante para o 
comportamento humano. Todavia, como nessa obra apresentamos o Ambientalismo 
reducionista, que negligencia os fatores biológicos e genéticos, consideramos que a 
abordagem Comportamental não se insere nessa corrente epistemológica, pois, 
apesar da grande importância que confere ao ambiente, ela não nega a influência 
genética e ambiental. Além disso, dada a sua importância para a Psicologia e suas 
contribuições para a educação, optou-se por apresentá-la em um item 
separadamente. 
Conhecida como Psicologia Comportamental, Comportamentalismo, 
Psicologia Experimental, Análise Experimental do Comportamento ou Behaviorismo 
(do inglês behavior- comportamento), essa importante teoria tem como foco, como 
o próprio nome sugere, o comportamento humano (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2008). 
De acordo com o dicionário Aulete (versão online) comportamento é a 
maneira de se comportar, de viver, de agir e reagir; o modo de agir, em geral, em 
relação aos fatores ambientais; o conjunto de reações e atitudes do indivíduo diante 
do meio social, em sua interação com as situações, a reação de algo em 
determinadas circunstâncias ou a forma pela qual um organismo, ou parte dele, 
funciona ou reage aos estímulos. 
Na Psicologia: “Comportamento é entendido como interação entre indivíduo 
e ambiente [...]. O ser humano começa a ser estudado a partir de sua interação com 
o ambiente, sendo tomado como produto e produtor dessa interação” (BOCK; 
FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 59). De acordo com a abordagem Comportamental, as 
pessoas têm padrões de comportamento, por exemplo, ser tímido ou agitado, que 
são apresentados em diferentes contextos e com certa regularidade. 
Além do comportamento, um outro ponto muito discutido pela 
Comportamental é a aprendizagem que, nessa abordagem, pode ser 
compreendida como “qualquer mudança duradoura na maneira como os 
organismos respondem ao ambiente” (Goulart, Delage, Rico, Bríno, 2012, p. 21). Para 
entender de que forma ocorre a aprendizagem, faz-se necessário esclarecer alguns 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
conceitos, que serão discutidos a seguir. 
A Comportamental divide o comportamento em dois tipos: 
 Respondente ou reflexo, que ocorre de maneira involuntária (GOULART, 
DELAGE, RICO, BRÍNO, 2012). Por exemplo, quando a professora fecha os olhos 
no momento em que a luz do aparelho data show reflete diretamente sobre o 
seu rosto, ou seja, o estímulo luz eliciou (provocou) a resposta fechar os olhos. 
 Operante, que ocorre de maneira voluntária, é aprendido e vai ocorrer para 
que seja obtida alguma resposta almejada (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). 
Por exemplo, o aluno que tem o comportamento de estudar para conseguir 
uma boa nota. 
 
No exemplo acima tem-se um outro conceito essencial, o de reforçador, a 
nota foi o reforçador para que o aluno estudasse. O reforço altera a possibilidade de 
ocorrência de um determinado comportamento: os reforços positivos aumentam 
essa chance (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008) e os negativos retiram um estímulo 
considerado aversivo (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005) 
Em sala de aula, pode-se considerar que todas as crianças querem ser o 
ajudante do dia e irão se comportar de maneira adequada para ocuparem tal 
cargo, assim sendo, querer ser ajudante do dia é um reforçador positivo, é a resposta 
que as crianças querem obter e irão se comportar para consegui-la. Já na situação 
de uma professora que começa a gritar sempre que os estudantes mantêm muitas 
conversas paralelas, trata-se de um reforçador negativo, os alunos irão deixar de 
conversar durante as aulas para que a educadora não grite (estímulo aversivo). 
Outros conceitos importantes para o entendimento da Comportamental no 
ambiente escolar são: 
 Esquiva e fuga: a esquiva é a tentativa que algo indesejado não ocorra, já a 
fuga, como o próprio termo indica, é a tentativa de cessação de um estímulo 
aversivo quando ele já foi iniciado. (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005; BOCK; 
FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, o aluno que não vai à escola (esquiva) 
ou sai durante a aula (fuga) para não ser vítima de bullying (estímulo aversivo). 
 Punição: estratégia usada para reduzir a ocorrência de um dado 
comportamento (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005), pode ocorrer através do uso de 
um estímulo considerado aversivo ou da retirada de um reforçador positivo. 
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, quando uma aluna que 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
costumava ser participativa deixa de participar da aula depois que considerou 
que a professora foi injusta na correção de sua avaliação, ela está punindo a 
educadora. 
 Discriminação de estímulos: quando uma resposta é dada diante de um 
estímulo x, mas não no estímulo z (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por 
exemplo, quando a criança ouve o barulho da sirene escolar e entende que 
acabou o horário do recreio, ou seja, ela reconhece que o som do toque de 
saída da aula é diferente do término do recreio. 
 Generalização de estímulos: ocorre quando as respostas dadas a diferentes 
estímulos são semelhantes, pois os estímulos são compreendidos como 
semelhantes (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Para ilustrar, considere um 
estudante que se formou no ensino médio e, ao ingressar na faculdade, age 
da mesma maneira como o fazia na escola, como pedir permissão à 
professora para ir ao banheiro. Outra situação, é a criança que recém 
ingressou na escola e chama a professora de mãe. 
 
Para finalizar o tópico inicial da Comportamental, a seguir serão apresentados 
três importantes teóricos dessa abordagem: Pavlov, Watson e Skinner. 
Ivan Pavlov (1849/ 1936), cientista russo, que ao realizar um experimento com 
um cachorro, constatou o processo de condicionamento, que pode ser 
compreendido como uma alteração na forma que um ser vivo responde a um 
estímulo, sob influência do meio (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005). Abaixo está descrita a 
experiência de Pavlov (CARRARA, 2004): 
1) Antes do condicionamento: 
O cão via o alimento → ele salivava (o alimento é um estímulo incondicionado- 
que causa uma resposta reflexa, ou seja, o sujeito não consegue controlar, não é 
aprendida) 
O cão ouvia o som do sino → nada ocorria (o sino era um estímulo neutro) 
 2) Durante condicionamento: 
Pavlov tocava o som do sino ao mesmo tempo em que oferecia o alimento ao 
cão → o animal salivava (o estímulo neutro foi oferecido junto ao estímulo 
incondicionado, ocorreu o que os Behavioristas chamam de pareamento de 
estímulos) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
 
3) Depois do condicionamento: 
Ao ouvir o som do sino, mesmo sem a presença do alimento → o cachorro 
salivava (ocorreu o condicionamento) 
 
Esse é conhecido como condicionamento pavloviano, clássico ou 
respondente (pois é baseado nos reflexos) e é a maneira mais simples de 
aprendizagem (ALENCAR, 2007). Abaixo encontra-se um quadrinho que pode auxiliar 
na compreensão do experimento de Pavlov: 
 
Figura 4: Ilustração da experiência de Pavlov com cães 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3CAeHRg. Acesso em: 20 jun. 2021. 
 
 
 
O primeiro nome reconhecido como um psicólogo comportamental é John 
Watson (1878/1958), pesquisador estadunidense que defendeu que a Psicologia é o

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