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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Mediação de Leitura
Prof. João Olinto Trindade Junior
Prof.ª Rosangela Silveira Garcia
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof. João Olinto Trindade Junior
Prof.ª Rosangela Silveira Garcia
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
J95m
 Junior, João Olinto Trindade
 Mediação de leitura. / João Olinto Trindade Junior; Rosangela 
Silveira Garcia. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
 280 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-083-0
1. Leitura. - Brasil. 2. Mediação. – Brasil. I. Garcia, Rosangela Silveira. 
II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 370
apresentação
A leitura é um ato de abrir uma janela de si para o mundo e do 
mundo para si. É espaço do qual o conhecimento emerge e onde a reflexão e 
a imaginação encontram pouso. A leitura abre possibilidades múltiplas.
Para refletirmos sobre a correlação entre leitura e mediação, no 
contexto de ensino, devemos compreender como tais concepções se 
correlacionam, e as intersecções entre linguagem, práticas sociais, leitura e 
práticas de mediação. 
No desenvolvimento de práticas de mediação de leitura o educador 
deve perceber-se no papel de mediador, não somente da leitura, mas da 
aprendizagem do aluno. Visando refletir sobre a construção deste papel, ao 
longo de seus estudos você desenvolverá as competências necessárias ao 
estabelecimento do ensino de práticas mediadoras em sua prática pedagógica. 
Neste percurso discutiremos os efeitos das políticas educacionais nas 
práticas de ensino da leitura, refletiremos sobre a leitura e sua integração em 
práticas interdisciplinares, sobre o desenvolvimento da mediação da leitura 
em espaços escolares e não escolares; assim como a composição do texto e da 
leitura em contextos digitais.
 
Prontos para o desafio?
Prof. João Olinto Trindade Junior
Prof.ª Rosangela Silveira Garcia
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui 
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você 
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
suMário
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA ................................................ 1
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA ............................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 A LEITURA CONSTITUÍDA HISTÓRICO-SOCIALMENTE .................................................. 3
2.1 A LEITURA COMO PRÁTICA SOCIAL .................................................................................. 11
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 11
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 24
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 25
TÓPICO 2 - LEITURA E MEDIAÇÃO .............................................................................................. 27
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 27
2 CONCEPÇÕES DE LEITURA E MEDIAÇÃO ............................................................................. 27
2.1 A LEITURA E A LINGUAGEM: PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO ............................................ 36
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 45
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 49
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 50
TÓPICO 3 - A LEITURA E O LEITOR .............................................................................................. 53
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 53
2 LEITURA & LEITOR: O QUE LER? PARA QUE LER?............................................................... 54
2.1 A MEDIAÇÃO LITERÁRIA NA FORMAÇÃO DO LEITOR ................................................. 63
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 72
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 73
TÓPICO 4 - RELAÇÃO DA LEITURA COM A ORALIDADE E COM A ESCRITA .............. 75
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75
2 CULTURA ORAL E LEITURA ........................................................................................................ 76
2.1 CULTURA ORAL E ESCRITA .................................................................................................... 78
2.2 CULTURA ORAL E ESCRITA ................................................................................................... 84
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 91
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 92
UNIDADE 2 - LEITURA: POLÍTICAS E PRÁTICAS .................................................................... 93
TÓPICO 1 - A LEITURA NO CONTEXTO BRASILEIRO: DIÁLOGO COM AS POLÍTICAS 
PÚBLICAS ..............................................................................................................................................95
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95
2 PRÁTICAS DE LEITURA ................................................................................................................. 95
3 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO ..................................................................................... 100
4 MOVIMENTOS DE INCENTIVO À LEITURA ........................................................................ 105
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 113
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 114
TÓPICO 2 - A LEITURA NUMA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR ............................... 115
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 115
2 A LEITURA E SUA INTEGRAÇÃO EM PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES ................ 115
2.1 LEITOR INFORMACIONAL .................................................................................................... 124
2.2 LEITOR ESTUDIOSO ................................................................................................................. 124
2.3 LEITOR DILETANTE ................................................................................................................. 125
3 A MEDIAÇÃO DA LEITURA EM ESPAÇOS ESCOLARES ................................................... 126
3.1 A NATUREZA DA LEITURA EM AMBIENTES ESCOLARES ........................................... 130
3.2 PLANEJAMENTO DIDÁTICO-LITERÁRIO .......................................................................... 133
3.3 O GOSTO PELA LEITURA ....................................................................................................... 135
4 A MEDIAÇÃO DA LEITURA EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES ........................................ 140
4.1 LINGUAGEM E TRAPAÇA ...................................................................................................... 144
4.2 A FUNÇÃO DO ESCRITOR ...................................................................................................... 145
4.3 A PROEMINÊNCIA DO SIGNO LITERÁRIO ....................................................................... 146
4.4 A LITERARIEDADE ................................................................................................................... 149
4.5 A PLURISSIGNIFICAÇÃO LITERÁRIA ................................................................................. 151
5 LEITURA: COMO AVALIAR? HABILIDADES E COMPETÊNCIAS LEITORAS ............. 153
5.1 APROPRIANDO-SE DO TEXTO .............................................................................................. 154
5.2 LITERATURA E NICHO ........................................................................................................... 155
5.3 CAMINHOS DA LEITURA COMPETENTE .......................................................................... 156
5.4 A LEITURA REINVENTADA ................................................................................................... 162
5.4.1 Fichamento ......................................................................................................................... 164
5.4.2 Ficha de citações ................................................................................................................. 164
5.4.3 Resumo ................................................................................................................................ 165
5.4.4 Comentário ......................................................................................................................... 166
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 168
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 171
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 172
UNIDADE 3 - RECURSOS DIDÁTICO-TECNOLÓGICOS A SERVIÇO DA LEITURA .... 173
TÓPICO 1 - LEITURA NO CONTEXTO DIGITAL: PROCESSOS E ESTRATÉGIAS ......... 175
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 175
2 PROCESSOS DE MEDIAÇÃO DE LEITURA NO CONTEXTO DIGITAL ....................... 175
3 O PAPEL DO PROFESSOR FORMADOR DO ALUNO LEITOR E O 
DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS DE MEDIAÇÃO DA LEITURA ..................... 185
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 194
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 195
TÓPICO 2 - TECNOLOGIAS DIGITAIS E O LETRAMENTO LITERÁRIO ......................... 197
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 197
2 LETRAMENTO LITERÁRIO......................................................................................................... 197
3 A LEITURA E O TEXTO, LEITURA E NOVAS TECNOLOGIAS ........................................ 205
3.1 UM OLHAR AO TEXTO LITERÁRIO EM INTERFACES DIGITAIS ................................. 210
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 215
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 216
TÓPICO 3 - COMPOSIÇÕES DO TEXTO NO CIBERESPAÇO E OS PROCESSOS DE 
LEITURA DESENVOLVIDOS ......................................................................................................... 217
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 217
2 LENDO O HIPERTEXTO ............................................................................................................... 217
3 TEXTO SINCRÉTICO E MULTIMODALIDADE .................................................................... 222
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 228
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 230
TÓPICO 4 - RECURSOS EDUCACIONAIS DIGITAIS PARA ENSINO DA LEITURA ..... 233
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 233
2 RECURSOS EDUCACIONAIS DIGITAIS: TIPOS, CLASSIFICAÇÕES, USOS ............... 233
3 RECURSOS EDUCACIONAIS DIGITAIS EXEMPLOS DE PRÁTICAS DE LEITURA ... 240
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 251
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 252
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 255
1
UNIDADE 1 - 
PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA 
LEITURA 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• apresentar um panorama amplo dos conceitos de mediação e leitura;
• desenvolver a capacidade de reconhecimento da leitura como prática so-
cial;
• possibilitar a compreensão da correlação entre leitura, oralidade e escrita; 
•	 identificar	os	efeitos	da	mediação	literáriana	formação	do	leitor.
Esta	 unidade	 está	 dividida	 em	 quatro	 tópicos.	 No	 decorrer	 da	 unidade,	
você	 encontrará	 autoatividades	 com	 o	 objetivo	 de	 reforçar	 o	 conteúdo	
apresentado.
TÓPICO	1	–	A	CONSTITUIÇÃO	DA	LEITURA
TÓPICO	2	–	LEITURA	E	MEDIAÇÃO
TÓPICO	3	–	A	LEITURA	E	O	LEITOR
TÓPICO	4	–	RELAÇÕES	DA	LEITURA	COM	A	ORALIDADE	E	COM	A	
ESCRITA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 - 
UNIDADE 1
A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
1 INTRODUÇÃO
Da	 leitura	 do	 conhecimento	 histórico	 no	 desenrolar	 dos	 papiros	 da	
antiguidade	à	leitura	do	hipertexto	que	se	manifesta	nas	telas	digitais	muita	coisa	
mudou.	O	livro	assumiu	os	mais	diferentes	formatos	e	o	processo	de	autoria	se	
ressignificou	na	criação	de	blogs	e	postagens	em	sites	de	redes	sociais.		
Desta	 forma,	 para	 refletirmos	 sobre	 as	 práticas	 de	 leitura	 devemos	
compreendê-la	nos	diferentes	contextos	e	momentos	históricos	em	que	ela	se	fez	
presente;	assim	como	seu	entrelaçamento	às	práticas	sociais.	Nesse	contexto,	este	
tópico tem como meta apresentar um panorama da evolução histórica da leitura, 
sua inserção na prática social e como tal dinâmica se entrelaça com os atos de 
leitura	do	sujeito.
2 A LEITURA CONSTITUÍDA HISTÓRICO-SOCIALMENTE 
Você já pensou sobre a relação que estabelecemos com a leitura ao longo 
de nossa vida?
Já	refletiu	de	que	forma	a	leitura	faz	parte	do	cotidiano?	E	como	a	leitura,	
historicamente,	se	formou?
Todos esses questionamentos são válidos e comporão parte de nossos 
estudos.	De	fato,	é	“ponto	aceito	sem	contestação	que	a	leitura	do	texto	escrito	
constitui	 uma	das	 conquistas	 da	 humanidade.	 Pela	 leitura,	 o	 ser	 humano	não	
só	 absorve	 o	 conhecimento,	 como	 pode	 transformá-lo	 em	 um	 processo	 de	
aperfeiçoamento	contínuo”	(CALDIN,	2003,	p.	52).
Se	 formos	 analisar,	 de	 forma	mais	 abrangente	 e	 profunda,	 o	 papel	 da	
leitura	 em	 nossa	 vida	 ultrapassa	 práticas	 escolares	 de	 ensino.	 Devemos	 ter	 a	
ciência de que nossa relação com a leitura não se estabelece no contexto escolar, 
ela precede nossa história — a própria história da humanidade — a qual está 
entrelaçada	de	forma	intrínseca.
A	leitura	faz	parte	de	nossas	vivências,	atravessa	nossas	relações	com	o	
mundo	por	meio	dos	sentidos	que	produz;	sendo	nosso	meio	de	comunicação	
com	o	mundo,	de	apreendê-lo	em	todas	as	suas	facetas.	
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
4
Além	disso,	a	leitura	pode	ser	compreendida	sob	diferentes	enfoques,	entre	
eles:	 como	 fator	de	desenvolvimento	 cognitivo;	 como	 acesso	 ao	 conhecimento	
historicamente	produzido	pelo	pensamento	humano;	como	modo	de	socialização	
da	 informação;	 como	 manifestação	 da	 história	 social;	 como	 manifestação	
discursiva; como modo de interação entre o sujeito-autor e o sujeito-leitor; como 
fator	de	expressão	de	cidadania;	como	acesso	a	memória	social;	como	inserção	
social	do	sujeito	nas	práticas	do	cotidiano.	Portanto,	pensar	a	leitura	constituída	
histórico-socialmente	é	pensá-la	sobre	todos	esses	ângulos.
Destarte	pensar	na	leitura	nas	práticas	escolares,	a	leitura	do	saber	ou	do	
lazer,	no	âmbito	do	desenvolvimento	cognitivo	e	do	encontro	com	as	letras	–	e	
mesmo	o	texto	imagético	–	há	a	leitura	do	mundo	como	aponta	Freire	(1988),	ou	
seja,	a	 leitura	como	prática	social,	como	forma	de	comunicação	do	sujeito	com	
seus	pares	e	com	o	mundo.
Outro	ponto	de	refl	exão	é	sobre	a	relação	binária	leitura-livro.
Contra toda representação, elaborada pela própria literatura, do texto 
ideal,	abstrato,	estável	porque	desligado	de	qualquer	materialidade,	é	
necessário	recordar	vigorosamente	que	não	existe	nenhum	texto	fora	
do suporte que o dá a ler, que não há compreensão de um escrito, 
qualquer	que	ele	seja,	que	não	dependa	das	formas	através	das	quais	
ele	chega	ao	seu	leitor	(CHARTIER,	2002,	p.	126).
A	modernidade	 atualizou	 os	 suportes	 que	 dão	materialidade	 ao	 texto	
de leitura; o que, se pensarmos considerando aspectos históricos, sejam eles, 
atuais	 ou	não,	 identifi	camos	que	o	 livro	 físico	não	 é	 o	 cerne	da	 instituição	da	
leitura,	de	interação	com	o	texto	–	literário	ou	não.	Se	na	pré-história	o	contato	da	
leitura	ocorria	através	de	registros	rupestres	ou	de	pergaminhos,	na	atualidade	
navegamos	pelo	hipertexto	e	pela	linguagem	multimodal.	
FIGURA 1 – EVOLUÇÃO DOS SUPORTES DE LEITURA
FONTE: <https://www.ultrapassandolimites.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/08/a-impor-
tancia-da-leitura-542x341.png>. Acesso em: 24 jan. 2020.
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
5
A	 leitura	 pode	 ser	 mediada	 por	 diferentes	 suportes	 que	 emergem	 do	
contexto	em	que	as	práticas	de	leitura	se	produzem	(Figura	1).	Um	bom	exemplo	
é	o	formato	navegacional	em	um	texto	impresso	em	um	livro	e	um	texto	digital	
(ebook)	em	um	smartphone,	ou	outro	aparelho	digital;	no	livro	a	leitura	ocorrerá	
de	modo	linear,	do	início	ao	fim	de	uma	página,	no	folhear	de	página	a	página,	
respeitando	 a	materialidade	 do	 livro	 físico	 (impresso);	 em	um	 suporte	 digital	
a	 leitura	 pode	 ser	 alinear,	 ocorre	 por	 meio	 de	 links	 estabelecendo	 conexões	
intertextuais	com	novos	textos.
Para	refletirmos	sobre	as	práticas	de	leitura	devemos	compreendê-la	nos	
diferentes	contextos	e	momentos	históricos	em	que	ela	se	fez	presente,	pois	eles	
são	distintos	e	irão	afetar	a	interação	com	o	texto	e	os	suportes	se	apresentam.
É por meio da interação com o texto, que a leitura dotada de intencionalidade 
promove	e	sofre	efeitos	de	fatores	sociais	e	culturais,	da	produção	de	sentido	que	
se estabelece entre o leitor e o texto; dela emerge a negociação de valores, ideais e 
aspectos	subjetivos	entre	o	leitor,	a	obra	e	o	autor	do	texto.
A	leitura	se	realiza	a	partir	do	diálogo	do	leitor	com	o	objeto	lido	—	
seja	escrito,	sonoro,	seja	um	gesto,	uma	imagem,	um	acontecimento.	
Esse	diálogo	é	referenciado	por	um	tempo	um	espaço,	uma	situação;	
desenvolvido	de	acordo	com	os	desafios	e	as	respostas	que	o	objeto	
apresenta,	 em	 função	de	expectativas	e	necessidades,	do	prazer	das	
descobertas	 e	do	 reconhecimento	de	vivências	do	 leitor	 (MARTINS,	
1994	apud	OLIVEIRA,	2015,	p.	14).
De	 fato,	 as	 interações	 com	 a	 leitura	 sofrem	 efeitos	 do	 contexto	 sócio-
histórico	no	qual	ela	se	produz	e	se	manifesta	(Figura	2).	
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
6
Quando	pensamos	nossa	relação	com	a	leitura,	identifi	camos	quanto	ela	
está integrada em nossa história, nosso cotidiano e emerge do nosso contato com 
o	mundo	da	informação	e	conhecimento.
Historicamente,	a	leitura	sofreu	efeito	nos	seus	modos	de	produção;	ou	
seja,	as	formas	de	interação	entre	o	leitor	e	o	texto	nem	sempre	foram	do	modo	
como	hoje	se	confi	gura.
Na	perspectiva	histórica,	desde	a	Antiguidade	até	nossos	dias,	início	
do	 século	 XXI,	 aconteceu	 e	 acontece	 uma	 divisão	 entre	 letrados	 e	
não letrados, contrastes entre leitores com maior grau de habilidade 
e	 leitores	 com	 baixo	 grau	 de	 letramento.	 Cada	 grupo	 ou	 indivíduo	
faz	uso	de	um	tipo	de	leitura	e	de	formas	variadas	de	ler,	o	que	lhes	
confere	apropriações	e	representações	diferenciadas	(KNUPPEL,	2006,	
p.	4).
Knuppel	(2016),	em	seus	estudos,	traça	uma	linha	do	tempo	dos	modos	
e	formas	de	ler	que	destaca	as	distintas	relações	construídas	ao	longo	do	tempo	
entre	o	leitor	e	o	texto	(Figura	3).
FIGURA 2 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEITURA
FONTE: Brodbeck (2012, p. 16-21)
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
7
FIGURA 3 – LINHA DO TEMPO MODOS DE LEITURA
FONTE: Adaptado de Knuppel (2016)
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
8
Na	visão	da	autora	“pode	se	observar	que	estas	diferenças,	nos	modos	
e	 formas	de	 ler,	 defi	nia	 claramente	um	 tipo	de	 comunidade	 leitora,	 pois	 cada	
segmento	social	atribuía	um	signifi	cado	diferente	ao	ato	de	ler”	(KNUPPEL,	2016,	
p.	5).
Observamos na cronologia da leitura esua correlação com a cognição, 
temáticas frequentes em estudos que se voltam ao contexto de ensino e contexto social – 
de apropriação de conhecimento.
IMPORTANT
E
Jou	(2001,	p.	144)	destaca	que	“no	ato	de	ler,	cria-se	a	cognição	específi	ca	
da	leitura,	desenvolvendo-se,	progressivamente,	tanto	os	conhecimentos	formais	
quanto	 os	procedimentos	de	 realização”.	Considerando	 a	 cognição	 como	ação	
sobre	determinado	conhecimento,	a	autora	defende	que	“a	própria	atividade	de	
leitura	permite	a	utilização	de	estratégias	específi	cas	[...]	facilitam	a	recuperação	
e	 o	 desenvolvimento	 do	 conhecimento	 específi	co	 da	 leitura,	 criando	 novas	
associações	 e	 aumentando,	 consequentemente,	 a	 capacidade	 de	 leitura”	 (JOU,	
2001,	p.	53).
Berninger et al.	 (2002	 apud	 FERNANDES;	 MURAROLLI,	 2016,	 p.	 156)	
apresentam	uma	arquitetura	representativa	do	sistema	de	leitura	(Figura	4).
FIGURA 4 – ARQUITETURA DO SISTEMA DE LEITURA
FONTE: Berninger et al. (2002 apud FERNANDES; MURAROLLI, 2016, p. 156)
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
9
Observa-se, na perspectiva apresentada pelas autoras, a correlação direta 
entre	o	sistema	de	escrita	e	a	leitura	sistematizado	em	níveis	interdependentes;	
entretanto,	 aliados	 ao	 contexto	de	produção	 –	 a	 situação	 em	que	o	discurso	 é	
produzido	–	ou	 seja,	potencialmente	entrelaçado	ao	 contexto	histórico	e	 social	
onde	a	leitura	se	produz.	
Tomemos	em	primeiro	lugar	a	leitura.	Está	ela	sendo	praticada	como	
passatempo	ou	como	algo	que	passa	além	do	seu	tempo	de	realização?	
É	a	segunda	modalidade	que	mais	me	interessa.	O	leitor	leva	rastros	do	
vivido	no	momento	da	leitura	para	depois	ou	para	fora	do	momento	
imediato	 –	 isso	 torna	 a	 leitura	 uma	 experiência.	 Sendo	mediata	 ou	
mediadora,	a	leitura	levada	pelo	sujeito	para	além	do	dado	imediato	
permite	pensar,	ser	crítico	da	situação,	relacionar	o	antes	e	o	depois,	
entender	a	história,	ser	parte	dela,	continuá-la,	modificá-la	(KRAMER	
2000,	p.	20).
A	interação	do	leitor	com	a	perspectiva	histórica	–	temporal	–	trazida	pela	
leitura,	como	destaca	Kramer	(2000),	vai	ao	encontro	da	assertiva	de	Santos	(2015,	
p.	31)	quando	ressalta	que	o	leitor	“confere	ao	texto	os	sentidos	que	a	sua	época	e	
o	seu	mundo	lhe	permitem”.
Para compreender melhor a necessidade de alinhamento do conhecimento 
do	contexto	histórico	entre	o	texto	e	o	leitor	observe	o	excerto	de	música	de	Chico	
Buarque	e	Milton	Nascimento:
Cálice (1973)
Pai,	afasta	de	mim	esse	cálice 
Pai,	afasta	de	mim	esse	cálice 
Pai,	afasta	de	mim	esse	cálice 
De	vinho	tinto	de	sangue
[...]
Como	é	difícil	acordar	calado 
Se	na	calada	da	noite	eu	me	dano 
Quero lançar um grito desumano 
Que	é	uma	maneira	de	ser	escutado 
Esse silêncio todo me atordoa 
Atordoado eu permaneço atento
FONTE: <https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45121/>. Acesso em: 24 jan. 2020. (grifo 
nosso)
Você	considera	que	os	sentidos	produzidos	pela	leitura	desse	excerto	na	
atualidade	seria	o	mesmo	que	os	produzidos	em	1973?
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
10
Gilberto Gil, cantor e compositor brasileiro, explica a música Cálice e discute 
a censura nas artes durante o período da ditadura. Assista ao vídeo disponível em: https://
youtu.be/8CnSiaP-jL4.
DICAS
No	 contexto	 contemporâneo	 o	 termo	 cálice	 pode	 ser	 compreendido	
simplesmente	 como	 um	 copo	 com	 formato	 diferenciado	 dos	 demais.	 Agora,	
vamos	 pensar	 no	 contexto	 sócio-histórico	 da	 produção	 desse	 texto	 –	 período	
compreendido	entre	1964	e	1985	(Figura	5)	–	que	no	Brasil	corresponde	ao	governo	
militar,	denominado	também	como	ditadura,	época	de	censura	a	determinadas	
formas	de	produção	artística	(Figura	5)	e	intelectual.
FIGURA 5 – ARQUITETURA DO SISTEMA DE LEITURA
FONTE: <http://twixar.me/jw0m>. Acesso em: 24 jan. 2020.
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
11
A censura nesse período se apoiou no Decreto-Lei nº 1.077, de 26 de janeiro 
de 1970.
NOTA
O	sentido	registrado	pelos	censores	potencialmente	se	referia	ao	ato	de	
“calar-se”,	o	que	levou	a	letra	da	música	a	ser	censurada	e	proibida	de	divulgação	
durante	 cinco	 anos.	Tal	 ação,	 segundo	Bicicgo	 (2013,	 p.	 62),	 tem	o	objetivo	de	
“controlar	 o	 discurso	 do	 autor,	mas,	 também,	 regular	 os	 sentidos	 produzidos	
pelo	leitor”.
Essa	acepção	vai	 ao	encontro	do	que	defende	Santos	 (2015,	p.	 31)	para	
quem	os	sentidos	emergentes	de	uma	leitura	“são	resultado	do	confronto	entre	as	
histórias	de	leitura	do	sujeito-leitor	e	as	condições	sócio-históricas	de	realização	
da	leitura	de	determinado	texto.	Esse	confronto	impede	a	existência	de	um	único	
sentido,	como	também	o	exagero	da	pluralidade	infinita	de	leituras”.
Faça	 uma	 pesquisa	 de	 outros	 tipos	 de	 artes,	 além	 da	 música,	 que	 foram	
censuradas	no	Brasil	durante	o	regime	militar.
AUTOATIVIDADE
2.1 A LEITURA COMO PRÁTICA SOCIAL 
A leitura, enquanto prática social, remonta à antiguidade, segundo 
Fernández	e	Kanashiro	(2011,	p.	134):	
[...]	 a	 atividade	 física	 de	 ler	 também	passou	 por	 transformações.	A	
leitura oral representada pelos pintores e iluminadores como um 
esforço	intenso	que	mobilizava	o	corpo	inteiro,	cedeu	espaço	para	a	
leitura	dos	 livros	 folheados	no	qual	o	 leitor	manuseia	suas	páginas.	
Atualmente	também	convivemos	com	a	leitura	digital,	cuja	mediação	
se	dá	pela	tela	do	computador.	
Obras	e	suportes	de	leitura	são,	na	atualidade,	escolhas	do	leitor.
Entretanto, ler nem sempre esteve associado à liberdade, a escolhas 
democráticas.	 Ao	 mergulharmos	 na	 obra	 de	 Umberto	 Eco,	 O nome da Rosa, 
fazemos	uma	viagem	ao	contexto	medieval.	É	possível	perceber	os	perigos	que	
a	 leitura	 trazia	 para	 aqueles	 que	 queriam	 controlar	 as	 pessoas,	 mesmo	 num	
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
12
período	de	poucos	letrados.	Por	isso,	alguns	manuscritos	confiscados	pela	Igreja,	
a	 detentora	 do	 poder	 na	 época,	 ficaram	 escondidos	 até	 mesmo	 dos	 monges	
copistas.	As	escrituras	que	escaparam	da	fogueira,	se	encontram	nos	recônditos	
de uma secreta biblioteca de mosteiro, acorrentadas às prateleiras cheirando a 
ranço	 e	mofo,	 pois	 abrigavam	 em	 suas	páginas	 as	descobertas	 e	 os	devaneios	
daqueles	que	se	permitiram	ir	além	dos	ensinamentos	religiosos.	Escritos	que	para	
a	época	podiam	corromper	as	mentes	das	pessoas,	fazendo-as	pensar,	imaginar	
e	devanear.	A	censura	angariou	séculos	e	apesar	dos	avanços	ocorridos	com	a	
renascença,	 a	modernidade	 e	 a	 pós-modernidade,	 ela	 é	 instrumento	 daqueles	
que	novamente	querem	controlar	as	pessoas.	O	medo	de	que	a	leitura	corrompa,	
transgrida,	se	rebele	pode	ser	percebido	no	decorrer	da	história.	Temos	aqui	no	
Brasil	um	grande	exemplo,	se	adentrarmos	na	história	da	Inconfidência	Mineira,	
seus	 líderes	 eram	 leitores	 assíduos,	 críticos,	 inconformados	 com	 sua	 situação.	
Tais	fatos	levantam	questões	que	empoderam	a	leitura	e	ressalta	a	importância	
do	ato	de	ler	e	suas	influências	sobre	o	sujeito	leitor.	
Desta	forma	podemos	dizer	que:
A leitura surge em nosso dia-a-dia como uma ação básica do homem 
no	universo.	De	tudo	que	vislumbramos,	que	olhamos	naturalmente	
e,	às	vezes,	involuntariamente,	fazemos	uma	leitura.	Quando	abrimos	
um jornal, quando vimos uma briga de rua, quando olhamos um 
desenho,	uma	obra	de	arte,	ao	ouvirmos	uma	música,	de	todos	esses	
exemplos,	cada	ser	humano,	além	de	uma	leitura	metódica	e	didática,	
fazemos	uma	leitura	—	interpretação	—	crítica.	Essa	leitura	é	que	nos	
caracteriza	 como	 ser	 pensante.	 Modificante	 e	 crítico	 da	 sociedade	
vigente	(VITORIO,	2017,	s.p.).
No	tópico	anterior	vimos	que	os	modos	e	formas	de	ler	vão	se	compondo	
a	partir	de	distintos	suportes,	e	que	as	formas	de	interação	entre	o	leitor	e	o	texto	
nem	sempre	foram	do	modo	como	na	atualidade	se	constrói;	assim	como,	que	a	
leitura	sofre,	e	promove	efeitos,	do	contexto	histórico	e	social	em	que	se	produz.	
O	que	é	prática	social	e	como	tal	dinâmica	se	entrelaça	com	os	atos	de	
leitura do sujeito?
Para respondera esse questionamento devemos pensar a relação do 
homem – sujeito leitor – com o mundo social por meio da linguagem, compreender 
como	esse	mundo	se	constitui	e	o	papel	da	leitura	nessa	relação.
Indissociável pensar leitura como prática social – aqui considerada 
enquanto	situações	de	interação	e	comunicação	na	qual	os	sujeitos	se	inserem	–	e	
não	pensar	na	relação	do	sujeito	com	a	linguagem.
Como a linguagem se insere nas práticas sociais?
A	partir	da	ótica	de	Vygotsky	(1998)	e	Bakhtin	(1995),	concebe-se	linguagem	
como	forma	de	manifestação	do	pensamento	e	mediadora	da	relação	do	sujeito	
com	a	 realidade;	 compreendida	como	“o	 lugar	da	 interação,	da	negociação	de	
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
13
sentidos,	 da	 representação	 de	 papeis,	 constituição	 de	 identidades”	 (SOUZA;	
MOTA,	2007,	p.	506),	portanto,	base	de	toda	prática	social	ou	práticas	de	uso	da	
língua.
As marcas individuais e as determinadas pelo lugar social de onde 
provém	o	sujeito	estarão	presentes	tanto	na	produção	do	texto	quanto	
na	leitura.	A	interação	sujeito/linguagem	na	leitura	é	caracterizada	por	
uma	situação	de	intersubjetividade	do	leitor/texto	que	se	relacionam	
durante a enunciação, ambos com identidades sociais próprias 
(DELL’ISOLA,	1993,	p.	167).
A	 leitura	 como	 prática	 social	 se	 concretiza	 através	 do	 uso	 da	 língua	
“diretamente	vinculado	 com	as	 relações	 estabelecidas	 entre	os	 indivíduos	que	
vivem	 em	 sociedade	 e	 com	 a	 história	 da	 civilização	 humana”	 (SALDANHA,	
2016,	p.	31).	
Se considerarmos o sujeito e sua relação com o mundo social, ou seja, 
o sujeito como ser social constituído pela linguagem, como defende Bakhtin (2003), o 
conceito de língua como unicamente sistema de signos é ultrapassado e não dá conta das 
necessidades de estudo sobre a leitura como prática social.
IMPORTANT
E
Para	Grotta	(2000)	a	leitura	é	uma	atividade	de	linguagem	mediadora	da	
relação sujeito-cultura-mundo social; sendo por meio dela que o sujeito social 
acessa	o	conhecimento	e	conquista	elementos	que	lhe	possibilitam	“compreender,	
participar	e	intervir	em	sua	realidade”	(GROTTA,	2000,	p.	25).		Soares	(2000,	p.	
18)	complementa	dizendo	que	a	 leitura	é	“interação	verbal	entre	 indivíduos,	e	
indivíduos	socialmente	determinados:	o	leitor,	seu	universo,	seu	lugar	na	estrutura	
social,	suas	relações	com	o	mundo	e	com	os	outros;	o	autor,	seu	universo,	seu	
lugar	na	estrutura	social,	suas	relações	com	o	mundo	e	os	outros”.
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
14
FIGURA 6 – FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA
FONTE: Os autores
A	 leitura	 não	 tem	 uma	 função	 una	 (Figura	 6),	 é	 modo	 de	 acesso	 ao	
mundo	social,	se	constitui	socialmente	enquanto	“processo	que	além	de	mediar	
a	 aquisição	 de	 conhecimentos,	 apresenta	 uma	 natureza	 política	 e	 ideológica,	
que	 tem	 a	 possibilidade	 de	moldar	 os	 sujeitos	 a	 agir	 conforme	 determinados	
princípios”	(VITORIO,	2017,	s.p.).	A	ideologia	se	faz	presente	na	leitura,	seja	na	
visão	de	mundo	de	seu	autor	quanto	no	sentido	que	ao	leitor	produz	e	que	esse	
internaliza.	A	 ideologia	 “está	 presente	 no	 sentido	 das	 palavras,	 na	 estrutura/
organização	de	um	texto,	nas	metáforas,	na	própria	coerência	do	discurso	e	nas	
convenções	discursivas	de	que	faz	uso	[...]	As	ideologias	são,	portanto,	ideias	e	
crenças	veiculadas	no	discurso”	(SILVA;	GONÇALVES,	2017,	p.	12).
Ler	 é	 uma	 prática	 social	 que	 se	 interliga	 a	 outros	 textos	 e	 outras	
leituras,	ou	seja,	a	leitura	de	um	texto	pressupõe	em	ações	conjuntas	
de	valores,	crenças	e	atitudes	que	refl	etem	o	grupo	social	em	que	as	
pessoas	estão	inseridas.	A	leitura	não	é	apenas	o	entendimento	de	um	
leitor inserido na cultura letrada, mas uma relação de aspectos sociais 
e culturais que perpassam pela atividade intelectual em que o leitor 
utiliza	diversas	estratégias	baseadas	em	seu	conhecimento	linguístico,	
sociocultural	e	enciclopédico	(	KLEIMAN,	2013	apud	EVANGELISTA;	
JERÔNIMO,	2014,	p.	6-7).	
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
15
Assista ao fi lme O Nome da Rosa, ou leia o livro homônimo de Umberto Eco. 
Esta obra refl ete aspectos da autoria (muitos textos ao longo da história não tiveram seu 
autor nomeado por risco de perseguição. Neste enredo que remete a era medieval, você vai 
transitar numa época de poucos letrados, de domínio religioso. Estranhas mortes começam 
a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália durante a baixa Idade Média, onde as 
vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda uma imensa 
biblioteca, onde poucos monges têm acesso às publicações sacras e profanas. A chegada 
de um monge franciscano, incumbido de investigar os casos, irá mostrar o verdadeiro 
motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da santa inquisição.
DICAS
Para	 Brandão	 (1994	 apud	 PEREIRA;	 FREITAS;	ARAÚJO,	 2016	 p.	 5)	 “a	
leitura	como	atividade	de	linguagem	é	uma	“prática	social	de	alcance	político.	Ao	
promover	a	interação	entre	indivíduos,	a	leitura,	não	só	como	leitura	da	palavra,	
mas	também	como	leitura	de	mundo,	deve	ser	atividade	constitutiva	de	sujeitos	
capazes	de	interligar	o	mundo	e	nele	atuar	como	cidadãos”	(Figura	7).	
FIGURA 7 - IMAGEM REPRESENTATIVA DA RELAÇÃO LEITURA-AUTONOMIA DO SUJEITO
FONTE: <http://twixar.me/Bw0m>. Acesso em: 24 jan. 2020.
A leitura — enquanto prática social — possibilita ao sujeito a inserção 
em todos os campos sociais, o diálogo com o mundo e acesso ao espaço do 
conhecimento.
A leitura, como ato social, promove a autonomia do sujeito e sua inserção 
em	distintos	âmbitos	da	sociedade;	organiza-se	como	“um	instrumento	de	poder,	
porque dá ao sujeito a capacidade de ampliar seus conhecimentos e as suas 
possibilidades	comunicativas,	[...]	enriquecendo-o	e	permitindo	transformar	para	
transformar	a	realidade	em	que	está	inserido”	(VITORIO,	2007,	s.p.).
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
16
Na	 perspectiva	 defendida	 por	 Pereira,	 Freitas	 e	 Araújo	 (2016,	 p.	 4),	 a	
leitura	como	prática	social	“exige	um	leitor	reflexivo,	atento	e	que	seja	capaz	de	
empregar	seus	conhecimentos	prévios,	sejam	linguísticos,	textuais	e	de	mundo,	a	
fim	de	que	possa	construir	novos	enunciados”.
Sobre	 a	 leitura	 de	 mundo,	 para	 Freire	 (1989	 apud SILVA,	 2013,	 p.	 3)	
“precede	sempre	a	leitura	da	palavra	e	a	leitura	desta	implica	a	continuidade	da	
leitura	daquele.	A	leitura	é	associada	à	forma	de	ver	o	mundo”.
Ler	 sempre	 representou	uma	das	 ligações	mais	 significativas	do	 ser	
humano	com	o	mundo.	Lendo,	reflete-se	e	presentifica-se	na	história.	
O	 homem,	 permanentemente,	 realizou	 uma	 leitura	 de	 mundo.	 Em	
paredes de cavernas ou em aparelhos de computação, lá está ele 
reproduzindo	seu	“estar-no-mundo”	e	reconhecendo-se	como	capaz	
de	representação.	Certamente,	ler	é	engajamento	existencial.	Quando	
dizemos	 ler,	 nos	 referimos	 a	 todas	 formas	 de	 leitura.	 Lendo,	 nos	
tornamos	mais	humanos	e	sensíveis	(CAVALCANTI,	2002,	p.	13).
Leitura	 como	 prática	 social	 também	 é	 leitura	 do	mundo	 e	 de	 si	 neste	
mundo; leitura do mundo, que precede a leitura das letras, o mundo da linguagem, 
constrói-se	no	mundo	dos	 sentidos	possíveis	 e	 infinitos;	 “precede	 a	 leitura	da	
palavra,	daí	que	a	posterior	leitura	desta	não	possa	prescindir	da	continuidade	
da	 leitura	 daquele.	 Linguagem	 e	 realidade	 se	 prendem	 dinamicamente.	 A	
compreensão	texto	a	ser	alcançada	por	sua	leitura	crítica	implica	a	percepção	das	
relações	entre	o	texto	e	o	contexto”	(FREIRE,	1995	apud	CARDOSO,	2011,	p.	43).
O educador Paulo Freire dizia que o homem lê o mundo antes de ler a 
palavra. Esta é uma das ideias presentes no documentário Paulo Freire Contemporâneo, 
que resgata o método de alfabetização criado pelo educador. Assista ao documentário 
disponível no endereço: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.
do?select_action=&co_obra=99980.
DICAS
O	contexto	a	que	Freire	se	refere	é	o	da	interlocução	do	espaço	temporal	
no	qual	a	escrita	dotexto	se	fez	até	o	momento	de	seu	encontro	com	o	leitor.	Esse	
é	o	espaço	da	significância,	da	produção	de	sentidos.
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
17
Ler	 é,	 pois,	 um	 ato	 de	 primeira	 instância	 no	 esboço	 da	 consciência	
de si mesmo e do outro e sua inscrição no mundo se dá como uma 
escrita,	devida.	Do	ato	de	ler	decorre	ao	ato	de	escrever,	de	escrever	a	
própria história e dos outros, de marcar a própria existência social com 
traços	que	podem,	no	entanto,	guardar-se	sob	a	forma	das	oralidades,	
tanto	 quanto	 ganhar	 volumes,	 cores	 e	 sinais.	 [...]	 Ler	 é	 inscrever-
se	 no	 mundo	 como	 signo,	 entrar	 na	 cadeia	 significante,	 elaborar	
continuamente	 interpretações	 que	 dão	 sentido	 ao	 mundo,	 registrá-
la	 com	 palavras,	 gestos,	 traços.	 Ler	 é	 significar	 e	 ao	mesmo	 tempo	
tornar-se	significante.	A	leitura	é	uma	escrita	de	si	mesmo,	na	relação	
interativa	que	dá	sentido	ao	mundo	(YUNES,	1995,	p.	195).
De	 fato,	 a	 leitura	 não	 se	 prende	 ao	 texto	 escrito	—	 apesar	 de	 com	 ele	
estabelecer	 uma	 relação	 próxima	 e	 indissociável	 —,	 vai	 além	 dele	 e	 age	 na	
oralidade	—	que	tem	como	base	a	leitura	da	memória.	A	transmissão	de	contos	
orais,	que	se	fez	presente	em	grande	parte	da	nossa	história,	não	seria	uma	leitura	
da memória?
Como	afirma	Silva	(1985	apud	CALDIN,	2003,	p.	52),	“a	leitura,	se	levada	
a	 efeito	 crítica	 e	 reflexivamente,	 levanta-se	 como	 um	 trabalho	 de	 combate	 à	
alienação	(não-racionalidade).		Dessa	forma,	a	leitura	se	caracteriza	como	sendo	
uma	atividade	de	questionamento,	conscientização	e	libertação”;	é	uma	prática	
social	 que	 conduz	“o	 leitor,	 enquanto	 sujeito	histórico,	 a	 inscrever-se	 em	uma	
disputa	de	interpretações”	(CAZARIN,	2006,	p.	307).
A	prática	social	não	se	 faz	sem	a	prática	discursiva,	“essa	articulação	é	
realizada	pelos	sujeitos	sociais	(reflexividade	presente	na	prática	discursiva),	que,	
a	seu	modo,	internalizam	as	práticas	sociais	e	constroem	uma	prática	discursiva	
própria”	(SILVA;	GONÇALVES,	2017,	p.	7).	
Para	 Fairclough	 (1995;	 2001;	 2005	 apud	 SILVA;	 GONÇALVES,	 2017,	
p.	 8),	 que	 conceitua	 discurso	 como	 “prática,	 não	 apenas	 de	 representação	 do	
mundo,	mas	 de	 significação	 do	mundo,	 constituindo	 e	 construindo	 o	mundo	
em	significado”,	ocorrem	implicações	em	pensar	a	própria	linguagem,	em	uma	
perspectiva	discursiva,	como	prática	social	(Figura	8).
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
18
FIGURA 8 – PRÁTICA SOCIAL E PRÁTICA DISCURSIVA
FONTE: Adaptado de Fairclough (1995; 2001; 2005 apud SILVA; GONÇALVES, 2017, p. 6)
O linguista, em uma concepção tridimensional do discurso, situa a prática 
social	agregadora	da	prática	discursiva	e	do	texto	(Figura	9).
FIGURA 9 – CONCEPÇÃO TRIDIMENSIONAL DO DISCURSO
FONTE: Fairclough (2001 apud SILVA; GONÇALVES, 2017, p. 9)
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
19
As práticas sociais nessa perspectiva são compostas de quatro momentos 
de	 articulação	 que,	 impactados	 pela	 estrutura	 e	 ações	 (eventos),	 instituem	 o	
momento	discursivo	das	práticas	através	da	mobilização	de	gêneros,	discursos	e	
estilos	(Figura	10).
FIGURA 10 - MEDIAÇÃO DE ESTRUTURA E AÇÃO PELA PRÁTICA SOCIAL
FONTE: Chouliaraki e Fairclough (1999 apud ACOSTA; RESENDE, 2014, p. 131)
A	prática	social	em	interlocução	ao	ato	de	ler,	“na	medida	em	que	vem	
apelar ao receptor por sua participação, acaba provocando suas memórias e nelas, 
suas	posturas,	seus	sonhos,	suas	opiniões	antes	tão	encobertas	ou	desconhecidas	
por ele próprio; crenças, valores materializados em discursos”	(YUNES,1995,	p.	
191,	grifo	nosso);	mobilizando	a	constituição	do	sujeito-cidadão.
Como	 vimos	 (Figura	 6),	 uma	 das	 funções	 sociais	 da	 leitura	 é	 o	
desenvolvimento	da	cidadania.
Mas	ser	 letrado	e	 ler	na	vida	e	na	cidadania	é	muito	mais	que	 isso:	
é	escapar	da	literalidade	dos	textos	e	interpretá-los,	colocando-os	em	
relação com outros textos e discursos, de maneira situada na realidade 
social;	 é	 discutir	 com	 os	 textos,	 replicando	 e	 avaliando	 posições	 e	
ideologias	que	constituem	seus	sentidos;	é,	enfim,	trazer	o	texto	para	
a	vida	e	colocá-lo	em	relação	com	ela.	Mais	que	 isso,	as	práticas	de	
leitura na vida são muito variadas e dependentes de contexto, cada um 
deles	exigindo	certas	capacidades	leitoras	e	não	outras	(ROJO,	2002,	
p.	2).
Antes	de	nos	aprofundarmos	na	relação	entre	leitura	e	cidadania,	vamos	
nos	deter	no	conceito	do	que	significa(ou)	o	termo	ao	longo	da	história.
 
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
20
Rezende	Filho	e	Câmara	Neto	(2001)	discorrem	sobre	a	evolução	histórica	
do	conceito	de	cidadania	(Figura	11);	os	autores	destacam	que	mesmo	ao	longo	da	
evolução	do	termo	a	cidadania	“de	fato	só	pode	se	constituir	por	meio	de	acirrada	
luta	quotidiana	por	direitos	e	pela	garantia	daqueles	que	já	existem”	(REZENDE	
FILHO;	CÂMARA	NETO,	 2001,	 p.	 5);	 dessa	 forma	vemos	 o	 importante	 papel	
da leitura como modo de inserção do sujeito na sociedade na busca de atuar de 
forma	crítica	e	defensora	de	seus	direitos	—	e	cumpridor	de	seus	deveres	—	no	
papel	de	cidadão.
FIGURA 11 – EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CIDADANIA
FONTE: Adaptado de Rezende Filho e Câmara Neto (2001)
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
21
De	 acordo	 com	 os	 autores	 “apesar	 da	 existência	 de	 profundas	
desigualdades	 sociais,	 esse	 termo	 evoluiu	 com	 o	 passar	 dos	 anos.	Ampliou	 a	
abrangência	abraçando	todas	as	classes	sociais.	Deixou	de	restringir-se	apenas	à	
participação	política	para	relacionar	uma	série	de	deveres	da	sociedade	para	com	
o	cidadão”	(REZENDE	FILHO;	CÂMARA	NETO,	2001,	p.	6).	Martins	e	Sá	(2008,	
p.	239)	defendem	que	a	leitura	é	essencial	na	formação	do	cidadão	“perfeitamente	
integrado	nas	sociedades”;	para	as	autoras:
 
a	capacidade	de	usar	a	informação	escrita	(através da leitura)	é	uma	
questão	de	sobrevivência	na	vida	do	cidadão,	um	fator	de	facilidade	
no	acesso	à	cultura	comum	e	na	sua	partilha,	na	mobilidade	social.	A	
incapacidade	de	o	fazer	constitui	um	fator	de	redução	do	nível	e	da	
qualidade	da	participação	social,	logo,	de	exclusão	social	(MARTINS;	
SÁ,	2008,	p.	240,	grifo	nosso).
A	partir	 dessa	premissa	 “as	práticas	discursivas	de	 leitura	 e	 de	 escrita	
devem	 ser	 encaradas	 como	 fenômenos	 sociais	 que	 ultrapassam	 os	 limites	 da	
escola”	(MARTINS;	SÁ,	2008,	p.	245).	Marinho	(1983,	p.	92)	destaca	que	a	leitura	
é	o	“elo	das	coletividades	e	suas	relações	para	a	unidade	social;	é	a	nascente	da	
consciência	e	o	desvelar	do	mundo”;	para	a	autora	“o	exercício	da	cidadania	e	
a	conquista	das	condições	humanas	de	vida	passa	por	três	princípios	básicos:	o	
direito	civil,	o	direito	social	e	o	direito	político”	(MARINHO,	1983,	p.	92).
A LEITURA PARA CRÍTICA SOCIAL
Gabriela	Fagundes	Padilha
Fernanda	Souza
 
Ler	é	ferramenta	primordial	para	que	o	Ser	Humano	saiba	posicionar-
se,	ter	opiniões	próprias	e	ser	crítico.	Uma	vez	que:	
Ler	 significa	 ser	questionado	pelo	mundo	e	por	 si	mesmo,	 significa	
que	certas	respostas	podem	ser	encontradas	na	escrita,	significa	poder	
ter	acesso	a	essa	escrita,	significa	construir	uma	resposta	que	integra	
parte	das	novas	informações	ao	que	já	se	é	(FOUCAMBERT,	1994,	p.	
5).
Segundo	Kuenzer	 (2002,	p.	 101),	 “ler	 significa	em	primeiro	 lugar,	 ler	
criticamente,	o	que	quer	dizer	perder	a	ingenuidade	diante	do	texto	dos	outros,	
percebendo que atrás de cada texto há um sujeito, com uma prática histórica, 
uma	visão	de	mundo	(um	universo	de	valores),	uma	intenção”.	A	leitura	crítica	
é	geradora	de	 significados,	 em	que	ao	 ler,	 o	 leitor	 concorda	ou	discorda	da	
ideia	principal.	Isto	faz	com	que	seja	diferenciada	da	decodificação	de	sinais,	
reprodução	mecânica	de	 informações	 que	por	muito	 tempo	 foi	 considerada	
como	 interpretação	 textual.	 “[…]	 como	 atividade	 constitutiva	 de	 sujeitos	
capazes	 de	 interligar	 o	 mundo	 e	 nele	 atuar	 como	 cidadãos”	 (BRANDÃO;	
MICHELITTI,	1998,	p.	22).	
 
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃODA LEITURA 
22
Segundo	 Freire	 (1989,	 p.	 13)	 “a	 leitura	 da	 palavra	 não	 é	 apenas	
precedida	 pela	 leitura	 do	mundo,	mas	 por	 uma	 certa	 forma	 de	 ‘escrevê-lo’	
ou	 de	 ‘reescrevê-lo’,	 quer	 dizer,	 de	 transformá-lo	 através	 da	 nossa	 prática	
consciente”.	 Entendemos,	 então,	 que	 a	 leitura	 crítica	 desestabiliza	 o	mundo	
interior	 do	 indivíduo;	 gera-lhe	 dúvidas	 e	 anseios	 por	 mudanças.	 Em	 um	
primeiro	 momento,	 ocorre	 a	 inquietação;	 depois,	 alguns	 ajustes	 são	 feitos	
no	mundo	interior	do	leitor	por	meio	da	reflexão	para,	finalmente,	ocorrer	a	
prática	 consciente,	 que	 consiste	 no	 resultado	do	 novo	 sujeito	 transformado,	
porém	não	concluído.	Afinal,	outras	leituras	de	mundo	serão	lidas	e	relidas.	
Para	 formar	um	 leitor	 crítico,	é	 importante	que,	desde	o	processo	de	
aquisição da linguagem escrita e no ato de ler, haja a compreensão por parte 
daqueles	 que	 ensinam,	 que	 o	 processo	 de	 alfabetização	 se	 dará	 na	medida	
em que a leitura da palavra esteja inserida na leitura do mundo e estimule a 
continuidade	da	leitura	dele	(FREIRE,	1989).
Silva	 (2002)	define	a	criticidade	na	 leitura	dizendo	que	é	pela	 leitura	
crítica	 o	 sujeito	 abala	 o	 mundo	 das	 certezas	 (principalmente	 as	 da	 classe	
dominante),	 elabora	 e	 dinamiza	 conflitos,	 organiza	 sínteses,	 enfim	 combate	
assiduamente	qualquer	tipo	de	conformismo,	qualquer	tipo	de	escravização	às	
ideias	referidas	pelos	textos.	
No	ato	de	ler	prevalece,	portanto,	a	liberdade	por	parte	do	leitor	em	fazer	
as	 suas	escolhas.	Sua	prática	permite	ainda	articular	os	 conteúdos	culturais;	
expandir a memória; estimular a produção de textos e determinar processos de 
pensamento.	Possibilita	ainda	a	formação	de	pessoas	abertas	ao	mundo,	cuja	
visão	está	voltada	para	o	futuro	(ALLIENDE;	CONDEMARÍN,	2005).	
Pode-se,	 então,	 concluir	 que	 a	 prática	 da	 leitura	 crítica	 caminha	 de	
mãos	dadas	 com	a	autonomia.	Afinal,	um	sujeito	autônomo	e	 crítico	não	 se	
contentará	com	leituras	que	não	lhe	forneçam	novas	relações,	associações	ou	
combinações	de	ideias.	De	acordo	com	Silva	“todas	essas	ações	subjacentes	ao	
trabalho	de	interlocução	do	leitor	crítico	podem	ser	amalgamadas	num	único	
conceito,	qual	seja	o	de	POSICIONAMENTO”	(SILVA,	2002,	p.	29).	
Enfim,	ler	liberta,	impulsiona	as	possibilidades	de	conhecimento	a	níveis	
inimagináveis,	transforma	a	consciência	do	Ser	Humano	perante	o	mundo	em	
que	vive,	dota	o	leitor	a	ser	capaz	de	abrir	inúmeras	portas	do	desconhecido,	
instiga	ao	infinito.
FONTE: <http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/02/Gabriela-Fagundes-
-Padilha.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2020.
TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DA LEITURA
23
Agora que você já conhece a importante função da leitura como prática social, 
pesquise uma experiência desta prática que comprove sua potência. Para aprofundar a 
reflexão sobre esta atividade sugerimos a leitura do Capítulo 1 da obra de Michèle Petit, A 
arte de ler ou como resistir a adversidade. Nesta obra a autora mostra, por meio de diversos 
discursos de jovens, a potência da leitura como afetamento e prática social. Disponível em: 
https://www.academia.edu/33104273/A_arte_de_ler_ou_como_resistir_a_adversidade_
Michele_Petit.
DICAS
24
Neste tópico você aprendeu que:
 
•	 A	leitura	faz	parte	de	nossas	vivências,	atravessa	nossas	relações	com	o	mundo	
por	meio	dos	sentidos	que	produz;	sendo	nosso	meio	de	comunicação	com	o	
mundo.	
•	 A	 modernidade	 atualizou	 os	 suportes	 que	 dão	 materialidade	 ao	 texto	 de	
leitura;	hoje	navegamos	pelo	hipertexto	e	pela	linguagem	multimodal.	
•	 Para	 refletirmos	 sobre	 as	 práticas	 de	 leitura	 devemos	 compreendê-la	 nos	
diferentes	contextos	e	momentos	históricos	em	que	ela	se	fez	presente.
•	 É	por	meio	da	interação	com	o	texto,	que	a	leitura	promove	e	sofre	efeitos	de	
fatores	 sociais	e	 culturais,	da	produção	de	sentido	que	se	estabelece	entre	o	
leitor	e	o	texto.
•	 Os	 sentidos	 emergentes	de	uma	 leitura	 são	 resultado	do	 confronto	 entre	 as	
histórias	de	leitura	do	sujeito-leitor	e	as	condições	sócio-históricas	de	realização	
da	leitura	de	determinado	texto.
•	 A	leitura	como	prática	social	se	concretiza	através	do	uso	da	língua	diretamente	
vinculado	 com	 as	 relações	 estabelecidas	 entre	 os	 indivíduos	 que	 vivem	 em	
sociedade	e	com	a	história	da	civilização	humana.
•	 A	 leitura	 não	 tem	uma	 função	 una,	 é	modo	 de	 acesso	 ao	mundo	 social,	 se	
constitui	socialmente	enquanto	processo	que	além	de	mediar	a	aquisição	de	
conhecimentos,	apresenta	uma	natureza	política	e	ideológica.
• A leitura – enquanto prática social – possibilita ao sujeito a inserção em todos 
os	campos	sociais,	o	diálogo	com	o	mundo	e	acesso	ao	espaço	do	conhecimento.	
RESUMO DO TÓPICO 1
25
1		Sabe-se	que	o	que	está	além	do	alcance	dos	olhos,	o	que	se	esconde	por	
trás	das	linhas,	os	conhecimentos	prévios,	enfim,	são	elementos	necessários	
para a compreensão do texto, o que ultrapassa em muito, os limites da 
simples	decodificação.	O	leitor	não	é	mais	um	receptor	passivo	orientado	
pela	ordem	do	texto,	mas	é	capaz	de	construir	sentido	a	partir	da	direção	
e	elaboração	de	seu	pensamento	e	a	sua	 imagem	de	mundo.	Levando-se	
em	 consideração	 as	 quatro	 etapas	 do	 processo	 de	 leitura:	 decodificação,	
compreensão,	 interpretação	 e	 retenção	 (MENEGASSI,	 1995,	 p.	 86-89),	 e	
sabendo-se	do	valor	de	cada	uma	delas,	verifica-se	que,	para	que	ocorra	
uma	leitura	eficiente,	de	acordo	com	os	moldes	atuais,	a	segunda	etapa	—	
compreensão	—	 é	 indubitavelmente	 a	 de	maior	 importância	 para	 que	 o	
leitor ultrapasse os limites do campo visual; ou seja, compreender um texto 
significa	 apreender	 sua	 temática	 e	 seus	 tópicos	 principais,	 utilizando-se,	
para	isso,	de	todos	os	conhecimentos	prévios	que	lhe	dizem	respeito.	Até	há	
algumas	décadas,	a	leitura	consistia	no	simples	reconhecimento	de	letras,	
sílabas	 e	palavras.	As	pessoas	 se	preocupavam	com	uma	boa	pronúncia	
ao	 ler,	 bloqueando,	 muitas	 vezes,	 seu	 entendimento	 sobre	 o	 conteúdo	
adquirido, ou seja, não saindo da primeira etapa do processo de leitura, 
não	iam	muito	além	do	domínio	de	pronúncia.
FONTE: GREGHI, R. N.; CAMACHO, S.; FECCHIO, M. Afinal, por que tanta dificuldade em 
leitura? Akrópolis, Umuarama, v. 12, n. 3, jul./set., 2004.
Segundo	Santos	(2015),	os	sentidos	emergentes	de	uma	leitura	são	resultado:
a)	(			)	 Do	processamento	 sintático/gramatical	 que	promove	 a	 compreensão	
do	discurso	baseado	em	texto.
b)	(			)	 Dos	modos	e	 formas	de	 ler,	definidos	pela	 comunidade	 leitora,	pois	
cada	segmento	social	atribuí	um	significado	diferente	ao	ato	de	ler.
c)	(			)	 Do	confronto	entre	as	histórias	de	leitura	do	sujeito-leitor	e	as	condições	
sócio	históricas	de	realização	da	leitura	de	determinado	texto.
d)	(			)	 Do	contraste	entre	leitores	com	maior	grau	de	habilidade	e	leitores	com	
baixo	grau	de	letramento.
e)	(			)	 Do	ritmo	acelerado	das	 inovações	 tecnológicas	que	 transformaram	a	
maneira	de	ver	o	mundo.
2		Sobre	as	práticas	de	constituição	da	leitura,	avalie	as	afirmações	a	seguir:
I-	 Para	refletirmos	sobre	as	práticas	de	 leitura	devemos	compreendê-la	nos	
diferentes	 contextos	 e	 momentos	 históricos	 em	 que	 ela	 se	 fez	 presente,	
pois	eles	são	distintos	e	irão	afetar	a	interação	com	o	texto	e	os	suportes	se	
apresentam.
AUTOATIVIDADE
26
II-	No	século	XIX	começa	a	se	consolidar	o	tipo	de	leitura	como	preocupação	
presente em muitos autores, surgem novas ideias e a necessidade de 
um	 lugar	 que	 seja	 destinado	 às	 crianças	 na	 sociedade,	 além	 de	 novos	
procedimentos	nas	áreas	pedagógica	e	literária.
III-	O	confronto	entre	as	histórias	de	leitura	do	sujeito-leitor	e	as	condições	
sócio	ideológicas	de	realização	da	leitura	de	determinado	texto	impede	a	
existência	de	um	único	sentido,	como	também	o	exagero	da	pluralidade	
infinita	de	leituras	(SANTOS,	2015).
Sobre	as	assertivas	anteriores,	é	correto	o	que	se	afirma	em:
a)	(			)	 I,	apenas.
b)	(			)II,	apenas.
c)	(			)	 I	e	II.
d)	(			)	 II	e	III.	
e)	(			)	 I,	II	e	III.
27
TÓPICO 2 - 
UNIDADE 1
LEITURA E MEDIAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Para	 refletirmos	 sobre	 a	 correlação	 entre	 leitura	 e	 mediação	 devemos	
compreender	as	diferentes	concepções	que	esses	termos	podem	assumir;	assim	
como	as	relações	estabelecidas	entre	eles.
 
Nesse	contexto,	este	tópico	tem	como	meta	apresentar	as	concepções	de	
leitura	 e	mediação	 sob	 diferentes	 perspectivas	 teóricas	 e	 as	 intersecções	 entre	
linguagem,	leitura	e	práticas	de	mediação.	
 
A	leitura	abre	um	espaço	íntimo	no	ser	de	introspecção,	de	reflexão,	da	
imaginação.	Ela	nem	sempre	tem	a	capacidade	de	reparar	as	desigualdades,	mas	
serve	como	 impulso	para	mudanças	de	pensamento	e	até	de	contexto	pessoal,	
como	a	história	de	Ben	Carson,	negro,	filho	de	mãe	solteira	e	simples	empregada	
doméstica,	que	investe	nos	filhos,	os	sonhos	que	não	pode	realizar.	Este,	por	sua	
vez,	encontra	nos	livros	os	caminhos	para	a	tão	sonhada	medicina,	impulsionada	
pela	grande	mediadora	sua	mãe.	A	leitura	e	o	mediador	incansável	como	agentes	
contribuintes	e	encaminhadores	do	pensamento	construtivo	e	não	da	violência.	
A leitura abriu um campo de possibilidades, onde não parecia existirem muitas 
margens	de	manobra.	
2 CONCEPÇÕES DE LEITURA E MEDIAÇÃO
Segundo	Frizon	e	Grazioli	(2018,	p.	1):
As memórias que um leitor tem em relação aos seus primeiros 
contatos	com	as	narrativas,	orais	ou	escritas,	muitas	vezes	se	tornam	
marcantes	em	sua	trajetória.	A	mãe	que	entoava	canções	ou	lia,	ainda	
quando	 a	 criança	 estava	 em	 seu	 ventre	 ou	 já	 no	 colo.	 A	 avó	 que	
contava	histórias	ao	pé	da	cama.	A	professora	que	criou	o	cantinho	de	
leitura.	O	pai	e	a	mãe,	ou	outro	familiar	qualquer,	que	presenteou	com	
um	primeiro	 livro.	Há	 também	o	professor	contador	de	histórias.	O	
mediador	de	leitura.	A	bibliotecária	que	dispunha	as	obras	da	melhor	
forma	possível,	instigando	os	alunos	a	abrirem	aqueles	exemplares.	O	
amigo	que	falou	sobre	determinado	personagem	e	o	enredo	de	uma	
narrativa,	instigando	para	o	ato	de	ler.	A	pessoa	que	fez	com	que,	de	
algum	modo,	o	livro	chegasse	as	mãos	de	um	futuro	leitor.
28
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
Bakhtin	(1981	apud 
SILVA	2012,	p.	24)
A leitura se constitui em um processo interativo entre autor, 
leitor	 e	 as	 várias	 vozes	 que	 eles	 representam	 propiciando,	 por	
conseguinte,	construção	e	reconstrução	de	significados	e	gerando	
um	 processo	 ativo	 que	 constitui	 os	 sujeitos	 e	 confere	 vida	 à	
linguagem.
Rangel	(1990	apud 
SILVA	2013,	p.	9)
Ler	 é	 uma	 prática	 básica	 essencial	 para	 aprender.	 Trata-se	 de	
uma	situação	de	aprendizagem	em	que	leve	o	educando	a	pensar,	
fazer	 inferências,	 apropriar-se	 de	 sentidos	 a	 partir	 de	 contextos	
linguísticos,	históricos	e	situacionais	e	que	remeta	ao	conhecimento	
de	mundo	e	por	ser	esta	prática	fundamental	na	formação	de	um	
educando	letrado,	e	atuante	no	mundo	globalizado	que	estamos	
inseridos.
Smith	(1991,	p.	201) A	leitura	não	é	uma	questão	de	identificar	letras,	a	fim	de	reconhecer	
as	 palavras	para	 que	 se	 obtenha	 o	 significado	das	 sentenças.	A	
identificação	do	significado	não	requer	a	identificação	de	palavras	
individuais,	 exatamente	 como	 a	 identificação	 de	 palavras	 não	
requer	 a	 identificação	 de	 letras.	 Na	 verdade,	 qualquer	 esforço	
por	 parte	 de	 um	 leitor,	 para	 identificar	 palavras	 uma	 de	 cada	
vez,	sem	aproveitar	a	vantagem	de	sentido	como	um	todo,	indica	
um	fracasso	para	a	compreensão	e	está	provavelmente	fadado	ao	
fracasso.
Neste	 contexto,	 a	 interação	 entre	 a	 leitura	 e	 o	 leitor	 através	 de	 um	
mediador	 –	 um	 familiar,	 um	 professor,	 um	 bibliotecário	 –	 se	 apresenta	 como	
uma interlocução do leitor não somente com o livro – enquanto objeto de leitura 
–	 mas	 com	 outros	 leitores	 que	 vão	 possibilitar	 ou	 potencializar	 o	 ato	 de	 ler,	
principalmente	aos	leitores	iniciantes.	Traçado	o	panorama	histórico	da	leitura,	
e	 identificada	 sua	 interlocução	 com	práticas	 sociais	 de	 linguagem,	 vamos	 nos	
debruçar sobre os dois principais conceitos que nortearão nossos estudos: leitura 
e	mediação.	
No	tópico	anterior	foi	introduzido,	brevemente,	o	conceito	de	leitura	e	já	
apontada	a	ausência	de	uma	concepção	única,	mas	sim	a	presença	de	distintos	
significados	atrelados	a	campos	de	estudos	e	diferentes	abordagens	teóricas.	O	
que	nos	apresenta	um	grande	desafio:	o	de	compreender	os	trajetos	dos	diferentes	
sentidos	que	o	termo	vai	adquirindo.
Como	aponta	Aebersold	e	Field	(1997	apud	CAMPOS,	2008,	p.	58),	“definir	
leitura	não	é	uma	tarefa	 fácil,	mas	poderíamos	tentar	explicá-la	de	uma	forma	
bem	simplista:	leitura	é	o	que	acontece	quando	uma	pessoa	olha	para	um	texto	
qualquer	e	atribui	sentido	aos	símbolos	gráficos	nele	inseridos”.	
Com a meta de ampliar sua visão sobre tal conceito, e visando 
compreender	 tal	 complexidade	na	definição	do	 termo,	elaboramos	um	quadro	
que lhe possibilitará trajetar pelos distintos sentidos da expressão leitura com 
base	em	autores	de	diferentes	áreas	de	estudo	(Quadro	1).
QUADRO 1 – LEITURA – DIFERENTES ACEPÇÕES SOBRE O TERMO
TÓPICO 2 - LEITURA E MEDIAÇÃO
29
Lajolo	et al.	(1991,	
p.	59)
Ler	 não	 é	 decifrar,	 como	 num	 jogo	 de	 adivinhações,	 o	 sentido	
de	 um	 texto.	 É,	 a	 partir	 de	 um	 texto,	 ser	 capaz	 de	 atribuir-lhe	
significação,	 conseguir	 relacioná-lo	 a	 todos	 os	 outros	 textos	
significativos	para	cada	um,	reconhecer	nele	o	tipo	de	leitura	que	
seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta 
leitura,	ou	rebelar-se	contra	ela,	propondo	outra	não	prevista.
Yunes	(1995,	p.	193-
195)
Ler	 é	 um	 ato	 de	 primeira	 instância	 no	 esboço	 da	 consciência	
de si mesmo e do outro e sua inscrição no mundo se dá como 
uma	 escrita,	 de	 vida.	 [...]	A	 dimensão,	 pois,	 do	 ato	 que	 se	 crê	
centralizado	depois	da	alfabetização,	está	longe	de	ser	reduzida	às	
letras	combinadas	em	códigos	fonéticos-fonológicos,	morfológico	
e	sintáticos.		[...]	Ler	é	inscrever-se	no	mundo	do	signo,	entrar	na	
cadeia	 significante,	 elaborar	 continuamente	 interpretações	 que	
dão	 sentido	 ao	mundo,	 registrá-la	 com	palavras,	 gestos,	 traços.	
Ler	é	significar	e	ao	mesmo	tempo	tornar-se	significante.	A	leitura	
é	uma	escrita	de	si	mesmo,	na	relação	interativa	que	dá	sentido	ao	
mundo.
O ato de ler, assim, carrega para um encontro entre 
intersubjetividades e memórias várias que se interpenetram e 
resultam	na	interpretação.
Goulemont	(1996	
apud	CHARTIER	
2000,	p.	107).
Ler	 é	 dar	 um	 sentido	 de	 conjunto,	 uma	 globalização	 e	 uma	
articulação	 aos	 sentidos	 produzidos	 pelas	 sequências.	 Não	 é	
encontrar	 o	 sentido	 desejado	 pelo	 autor	 [...]	 ler	 é,	 portanto,	
constituir	e	não	reconstruir	sentido.
Leffa	(1996,	p.	10) A	leitura	é	basicamente	um	processo	de	representação.	Como	esse	
processo	envolve	o	sentido	da	visão,	ler	é,	na	sua	essência,	olhar	
para	uma	coisa	e	ver	outra.	A	leitura	não	se	dá	por	acesso	direto	à	
realidade.	Nessa	triangulação	da	leitura	o	elemento	intermediário	
funciona	 como	 um	 espelho;	 mostra	 um	 segmento	 do	 mundo	
que normalmente nada tem a ver com sua própria consistência 
física.	[...]	Como	esses	espelhos	oferecem	imagens	fragmentadas	
do	mundo,	a	verdadeira	leitura	só	é	possível	quando	se	tem	um	
conhecimento	prévio	desse	mundo.
Solé	(1998	apud 
Queirós,	2012,	p.3-7)
	 Leitura	 é	 um	 processo	 mediante	 o	 qual	 se	 compreende	 a	
linguagem	 escrita	 [...]	 para	 ler	 necessitamos	 simultaneamente	
manejar	com	destreza	as	habilidades	de	decodificação	e	aportar	
ao	texto	nossos	objetivos,	ideias	e	experiências	prévias.	Para	uma	
pessoa	se	envolver	em	qualquer	atividade	de	leitura,	é	necessário	
que	ela	 sinta	que	é	 capaz	de	 ler,	de	compreender	o	 texto,	 tanto	
de	forma	autônoma,	como	apoiada	em	leitores	mais	experientes.	
Enfatiza-se	a	leitura	de	verdade,	aquela	que	realizamos	os	leitores	
experientes	e	que	nos	motiva,	é	a	leitura	que	naqual	nós	mesmos	
mandamos:	relendo,	parando	para	saboreá-la	ou	para	refletir.
Soares	(2000,	p.	18) Leitura	não	é	esse	ato	solitário;	é	interação	verbal	entre	indivíduos,	
e	indivíduos	socialmente	determinados:	o	leitor,	seu	universo,	seu	
lugar	na	 estrutura	 social,	 suas	 relações	 com	o	mundo	e	 com	os	
outros; o autor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas 
relações	com	o	mundo	e	os	outros.	
30
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
Indursky	(2001) Ler	é	mergulhar	em	uma	teia	discursiva	 invisível	construída	de	
já-ditos	para	desestruturar	 o	 texto	 e	 (re)construí-lo,	 segundo	os	
saberes	da	posição-sujeito	em	que	se	inscreve	o	sujeito-leitor.
Zapata	e	Vélez	
(2003	apud	SILVA,	
2012,	p.	25)
A	 leitura	 é	 uma	 atividade	 complexa	 que	 cumpre	 funções	
cognitivas,	 sociais,	 emocionais,	 afetivas,	 lúdicas	 e	 recreativas,	
que, como prática social e cultural, permite ao homem adquirir 
conhecimento,	voltar	no	tempo,	descansar	e	recriar.	Também
Contribui para o enriquecimento da conversação e da escrita, 
guia	o	leitor	para	a	reflexão	e	molda	algumas	de	suas	habilidades.	
Fatores	socioeconômicos,	culturais,	físicos,	psicológicos,	cognitivos	
e	linguísticos	interferem	na	leitura,	o	que	mostra	a	necessidade	de	
um	leitor	ativo,	que	tenha	clareza	no	conhecimento	prévio	que	ele	
possui	e	nos	propósitos	do	que	ele	pretende	alcançar.
Kleiman	(2004,	p.	
13)
A	 leitura	 é	 um	 processo	 interativo,	 é	 mediante	 a	 interação	 de	
diversos	 níveis	 de	 conhecimento	 que	 interagem	 entre	 si,	 como	
o	 conhecimento	 linguístico,	 o	 textual,	 o	de	mundo,	que	o	 leitor	
consegue	construir	o	sentido	do	texto.
Martins	(2007,	p.	31) A	 concepção	de	 leitura	pode	 ser	 sintetizada	 com	base	 em	duas	
características:
•	 Como	decodificação	mecânica	de	signos	linguísticos,	por	meio	
de	 aprendizado	 estabelecido	 a	 partir	 do	 condicionamento	
estímulo-resposta	(perspectiva	behaviorista-skinneriana);
• Como processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica 
envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, 
fisiológicas,	neurológicas,	tanto	quanto	culturais,	econômicos	e	
políticos	(perspectiva	cognitivo-sociológica).
Campos	(2008,	p.	
58)
A	leitura	é	vista	como	uma	atividade	dialógica,	um	processo	de	
interação	 que	 se	 realiza	 entre	 o	 leitor	 e	 o	 autor,	 mediado	 pelo	
texto, estando todos os elementos envolvidos situados em um 
determinado	momento	histórico-social.
Koch	e	Elias	(2008,	
p.	9-10)
Os	autores	apresentam	o	conceito	de	leitura	sob	três	perspectivas.
Foco	 no	 autor:	A	 leitura	 é	 a	 captação	 das	 ideias	 do	 autor,	 sem	
se levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor, 
a	 interação	autor-texto-leitor	com	propósitos	constituídos	sócio-
cognitivo-interacionalmente.	Cabe	ao	leitor	o	reconhecimento	das	
intenções	do	autor.
Foco	no	texto:	a	leitura	é	uma	atividade	que	exige	do	leitor	o	foco	
no	texto,	em	sua	linearidade,	uma	vez	que	“tudo	está	dito”.		Cabe	
ao leitor o reconhecimento do sentido das palavras e estruturas 
do	texto.
Foco	 na	 interação	 autor-texto-leitor:	 a	 leitura	 é	 uma	 atividade	
interativa altamente complexa de produção de sentidos que se 
realiza	com	base	nos	elementos	linguísticos	presentes	na	superfície	
textual	e	na	sua	forma	de	organização,	requer	a	mobilização	de	
um	vasto	conjunto	de	saberes	no	interior	do	evento	comunicativo.	
TÓPICO 2 - LEITURA E MEDIAÇÃO
31
Freire	(2009	apud 
PINHEIRO	et al.	
2012,	p.	2466)
Ler	 compreende	 uma	 visão	 crítica	 que	 não	 se	 esgota	 na	
descodificação	pura	da	escrita	ou	da	linguagem	escrita,	mas	que	
se	 antecipa	 e	 se	 alonga	 na	 inteligência	 do	mundo.	 Ler	 implica	
a	 percepção	 crítica,	 interpretação	 e	 “reescrita”	 do	 objeto	 lido,	
procurando	estabelecer	relações	entre	texto	e	realidade	vivida,	em	
outras	palavras,	a	leitura	deve	ir	além	da	decodificação	de	vogais	
e	consoantes,	precisa	fazer	com	que	leitor	transporte	o	conteúdo	
lido	para	seu	convívio	social.
Fuza	(2010,	p.	12) A leitura centrada no texto pode ser denominada: leitura sob a 
perspectiva	do	texto;	leitura	como	extração	(processo	ascendente/
bottom up);	leitura	como	decodificação.	A	leitura	centrada	no	leitor	
é	 denominada:	 leitura	 sob	 a	 perspectiva	do	 leitor;	 leitura	 como	
atribuição	 (processo	 descendente/top down).	 O	 diálogo	 entre	
texto e leitor promove o surgimento do conceito de leitura como 
interação.
FONTE: Os autores
Segundo	Vitorio	(2017,	s.p.):
Diante	 de	 tantos	 conceitos,	 pareceres,	 propostas	 das	mais	 diversas,	
sucintas	e	exploratórias	que	existam	sobre	“o	que	é	leitura?”,	todos	nós	
chegaremos	a	uma	resposta	diferente	e,	nessa	resposta,	já	estão	nossas	
interpretações,	 nossa	 pessoalidade	 de	 leitura	 e	 nossa	 subjetividade	
sobre	 o	 tema.	 Isso	 porque	 estamos	 tratando	 de	 uma	 experiência	
individual, cujos limites não estão demarcados por qualquer barreira 
que	seja,	seja	ela	temporal,	cultural,	racial	ou	até	mesmo	intelectual.
De	 fato,	 os	 conceitos	 apresentados	 não	 visam	 assumir	 uma	 ou	 outra	
abordagem	teórica,	mas	explorar	as	múltiplas	acepções	sobre	o	termo,	de	forma	
a	 serem	 complementares	 a	 visão	 do	 profissional	 letras.	 “A	 leitura,	 ainda	mais	
no	universo	dos	cursos	de	Letras,	é	uma	atividade	tão	 intrínseca	a	 tudo	o	que	
fazemos,	que	questionamentos	sobre	essa	atividade	às	vezes	são	subestimados	
por	se	tratar,	em	princípio,	de	algo	que	acontece	tão	naturalmente	que	dispensaria	
uma	explicação	mais	formal”	(FINATTO	et al.,	2015,	p.	6).
Assim como, para compreender o que é leitura, necessitamos percebê-la 
como prática que vai além de um processo de decodificação de signos. Se pensarmos o 
contexto escolar, a leitura pode ser vista como “instrumento para acessar os conhecimentos 
de todos os componentes curriculares” (COSTA, 2012 apud BRODBECK; COSTA; CORREA, 
2012, p. 30).
NOTA
32
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
Se	pensarmos	no	contexto	escolar,	outro	aspecto	se	torna	de	importante	
reflexão:	 o	papel	da	medicação	nas	práticas	de	 leitura;	definição	o que não se 
configura	tarefa	fácil	sendo	que,	para	Williams	(2007	apud	RASTELI,	2013,	p.	24),	
“indica	 que	 este	 conceito	 é	 dotado	de	 relativa	 complexidade	 e	 que	 se	 tornara	
mais	abrangente	na	medida	em	que	fora	utilizado	como	termo	chave	por	vários	
sistemas	do	pensamento	moderno”.
 
Da	mesma	forma	que	encontramos	diferentes	acepções	sobre	o	conceito	
de	 leitura	 também	 encontraremos	 na	 busca	 por	 um	 conceito	 sobre	mediação.	
Preferimos,	 apresentá-lo	 em	 um	 quadro	 de	 conceito	 da	 mesma	 forma	 que	 o	
quadro	anterior	elaborado,	a	partir	da	pesquisa	em	textos	de	diferentes	teóricos	
— da teoria cognitiva, da sociointeracionista e da sociológica-comunicacional — e 
com	eles	dialogando.
Hennion	(1993	apud 
Almeida	2008,	p.	13)
O termo mediação designa o lugar de interrogação, apontando 
como problemática a articulação entre essas duas maneiras 
duais	de	interrogar	o	mundo	social.
Lamizet	(1999	apud 
DAVALLON,	2003)	
Propõe	um	entendimento	da	mediação	cultural	situando-a	na	
ordem	de	 representação	do	 espaço	 social.	Assim,	de	 acordo	
com o autor, a mediação representa o imperativo social 
essencial	da	dialética	 entre	 o	 singular	 e	 o	 coletivo,	 e	da	 sua	
representação	em	formas	simbólicas.
Andaló	(2006,	p.	21-22) Mediação	é	o	processo,	não	é	o	ato,	não	está	entre	dois	termos	
que	 estabelecem	 relação,	 ela	 é	 a	 relação.	 É	 um	 processo	
facilitador	que	possibilita	ao	indivíduo	apreende	o	mundo	que	
o	 cerca	 em	 seus	 significados.	 Tem	um	papel	 fundamental	 na	
constituição	do	sujeito	humano,	pois	possibilita	a	internalização	
de	categorias	[...]	permitem	a	apropriação	de	novos	significados,	
com	os	quais	os	sujeitos	reorganizam	suas	ações	e	vida.
Barros	(2006,	p.	17), Mediar	“[...]	é	fazer	fluir	a	indicação	ou	o	próprio	material	de	
leitura	até	o	destinatário-alvo,	eficiente	e	eficazmente	[...]”.	A	
mediação de leitura busca, primordialmente, mediar o leitor 
a	 (re)	 descobrir	 o	 prazerpela	 leitura,	 promovendo	 um	 elo	
de	aproximação	entre	o	 texto	e	o	 leitor.	Para	essa	 realização	
acreditamos	ser	necessária	a	presença	de	um	mediador.
Almeida	Júnior	(2007,	
p.	44)
A	leitura	é	realizada	a	partir	do	acervo	de	conhecimentos	de	
cada	pessoa.	Cada	leitura,	dessa	forma,	é	individual,	diferente	
de	outra	leitura,	pois	não	pode	prescindir	dos	referenciais	de	
quem	a	realiza.	A	exemplo	da	informação,	a	leitura	não	existe	a	
priori,	se	concretizando	no	processo	de	mediação.	No	entanto,	
a	mediação	da	leitura	faz	parte	da	mediação	da	informação
Dantas	(2008,	p.	4)	 O	 ato	 de	 mediar	 significa	 fixar	 entre	 duas	 partes	 um	 ponto	
de	 referência	 comum,	 mas	 equidistante,	 que	 a	 uma	 e	 a	 outra	
faculte	o	estabelecimento	de	algum	tipo	de	inter-relação,	ou	seja,	
as	 mediações	 seriam	 estratégias	 de	 comunicação	 em	 que,	 ao	
participar, o ser humano se representa a si próprio e o seu entorno, 
proporcionando	uma	significativa	produção	e	troca	de	sentidos.
QUADRO 2 – MEDIAÇÃO – DIFERENTES ACEPÇÕES SOBRE O TERMO
TÓPICO 2 - LEITURA E MEDIAÇÃO
33
Marteleto	(2009,	p.	19) Mediação	é	uma	construção	teórica	destinada	a	refletir	sobre	
as	 práticas	 e	 os	 dispositivos	 que	 compõem	 os	 arranjos	 de	
sentidos	 e	 formas	 comunicacionais	 e	 informacionais	 nas	
sociedades atuais, sem perder de vista os elos que, tanto os 
conteúdos	 quanto	 os	 suportes	 e	 os	 acervos,	mantêm	 com	 a	
tradição	cultural.
Gomes	(2010,	p.	88) A	mediação	relaciona-se	com	a	comunicação	e	se	caracteriza	
como um processo de intersubjetividades, resultante da 
negociação e da disputa de sentidos, que permite aos sujeitos 
ultrapassar e interpenetrar esses sentidos e gerar novas 
significações.	 A	 mediação	 se	 opõe	 ao	 imediatismo,	 porque	
demanda	o	jogo	dialético,	sem	o	qual	inexiste.
Feuerstein	(2012,	p.	1) Mediação	 é	 a	 interação	 de	 um	 adulto,	 cuja	 intenção	 pode	
ser	 a	 transmissão	 de	 um	 significado,	 de	 uma	 habilidade,	
incentivando a criança a se superar com vistas a expansão da 
capacidade	cognitiva	dela	ou	de	outro	mediado.
Barbosa e Barbosa 
(2013,	p.	11)
A	mediação	se	materializada	como	um	acolhimento	e	permite	
que	aqueles	que	buscam	adentrar	o	mundo	da	leitura,	façam	
uso dessa hospitalidade para apoiar-se e dar materialidade 
a	suas	buscas	e	desejos	de	compreensão	da	palavra,	da	vida.	
Principalmente, para elaborar, construir seu próprio lugar de 
leitor.
Rasteli	(2013,	p.	25) A	partir	de	Hegel	e	posteriormente	por	Marx,	a	mediação	será	
relacionada à articulação entre as partes de uma totalidade 
complexa,	 sendo	 a	 ela	 atribuída	 a	 responsabilidade	 pela	
capacidade	da	passagem	entre	o	 imediato	e	o	mediato.	Está,	
portanto, vinculada à ideia de processo e movimento que 
fundam	a	dialética.
FONTE: Os autores
Podemos	depreender	dessas	concepções	que	a	mediação	é	o	lugar	onde	
o processo comunicacional de interação entre os sujeitos, na construção de 
múltiplos	sentidos,	se	estabelece.
De	acordo	com	Feuerstein	 (2012),	a	mediação	se	centra	na	 interlocução	
que	se	estabelece	entre	o	mediador,	o	estímulo	e	o	mediado	(Figura	12).	
34
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
FIGURA 12 – PARCEIROS DA MEDIAÇÃO (FEUERSTEIN (2012)
FONTE: Os autores
Em síntese, o mediado “é o foco, o centro da intervenção do mediador. A 
mediação envolve a cognição e a motivação. A motivação é o aspecto afetivo da cognição. 
E o estímulo colabora, juntamente com as intervenções do mediador, para desenvolver a 
motivação no mediado” (CUNHA, 2017, p. 5).
IMPORTANT
E
TÓPICO 2 - LEITURA E MEDIAÇÃO
35
Tomemos novamente o exemplo de Ben Carson, este era o mediado em 
questão.	A	motivação	vem	do	desejo	de	sua	mãe	tirá-lo	de	seu	contexto	difícil	e	
miserável	e	a	angústia	para	que	não	se	debandasse	para	as	gangues,	comum	em	
seu	bairro.	Foi	o	estímulo	afetivo	desta	matriarca	mediadora	que	desenvolveu	
a	 habilidade	 instigadora	 no	 mediado	 que	 se	 tornou	 um	 grande	 médico	
neurocirurgião.	
Em O perfi l do professor mediador: pedagogia da mediação	 (TÉBAR,	 2011),	
“são	descritos	sete	valores	básicos	 [Figura	13],	que	ressaltam	a	 importância	da	
mediação	na	etapa	 infantil	e	básica	como	prevenção	de	subdesenvolvimento	e	
disfunções	nas	crianças”	(RASTELI,	2013,	p.	30),	de	vital	importância	sendo	que	
nosso	objetivo	é	investigar	a	mediação	da	leitura	em	espaços	escolares.
FIGURA 13 – VALORES BÁSICOS DA MEDIAÇÃO
FONTE: Adaptado de Rasteli (2013)
36
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
Tais	premissas	são	importantes	à	prática	do	professor	—	não	somente	do	
profissional	de	letras	ou	da	pedagogia,	mas	de	todas	as	áreas	do	saber	—	sendo	
que	 são	 vitais	 ao	 desenvolvimento	 cognitivo	 em	 práticas	 de	 leitura.	 Daí	 vem	
outra	questão,	para	incitar,	iniciar	ou	motivar	a	leitura	de	forma	mediadora,	cabe	
àquele	que	a	propõe	também	ser	um	esmero	leitor.	Pois,	como	incentivar	uma	
prática que não se pratica? Como incitar algo que não se está impregnado por ela?
Tradicionalmente associado à condição de "transmissor de conhecimentos", 
o papel do professor merece ser revisto à luz dos apelos educativos de nosso mundo 
e de novas configurações do projeto educativo. Assista à discussão apresentada 
pela Prof.ª Rosa Lavelberg (USP). Disponível em: http://eaulas.usp.br/portal/video.
action;jsessionid=CA566AE57643A767D6ED2B5FED78915E?idPlaylist=6361.
DICAS
2.1 A LEITURA E A LINGUAGEM: PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO 
Discutimos	 anteriormente	 conceitos	 importantes	 como	 de	 leitura	 e	
mediação,	 agora	 vamos	 explorar	 o	 conceito	 de	 linguagem	 e	 refletir	 sobre	 a	
correlação	desses	elementos	nas	práticas	escolares.	
A relação entre o dueto concepção de linguagem e concepção de 
leitura	 é	 fundamental	 na	 formação	 e	 no	 desenvolvimento	 do	 leitor	
proficiente.	 Tal	 compreensão	 leva	 em	observação	 a	 dependência	 do	
texto-leitor,	 ou	 seja,	 uma	 depende	 do	 texto	 (leitura	 foco	 no	 texto),	
outra	do	leitor	(leitura	foco	no	leitor)	e	uma	terceira	que	compreende	a	
interação	entre	autor/texto/leitor	(leitura	como	interação)	(CORACINI,	
2002	apud	BATISTA-SANTOS;	FERREIRA	2017,	p.	332).
Geraldi	 (1997	 apud	 BATISTA-SANTOS;	 FERREIRA	 2017)	 destaca	 a	
importância	de	compreender	as	concepções	de	língua,	sujeito	e	interações	(Figura	
14)	para,	de	forma	mais	abrangente,	conceber	o	que	é	linguagem.
TÓPICO 2 - LEITURA E MEDIAÇÃO
37
FIGURA 14 – DISTINÇÕES ENTRE LÍNGUA, SUJEITO E INTERAÇÕES
FONTE: Geraldi (1997 apud BATISTA-SANTOS; FERREIRA, 2017, p. 332-333)
Batista-Santos	 e	 Ferreira	 (2017),	 com	 base	 em	 Travaglia	 (1996),	 Koch	
(2005)	e	Fuza,	Ohuschi,	Menegassi	(2011),	sistematiza	o	conceito	de	linguagem	a	
partir	de	três	enfoques	(Figura	15):	linguagem	como	expressão	do	pensamento,	
linguagem como instrumento de comunicação e linguagem como interação; tais 
concepções	são	de	extrema	importância	quando	pensamos	a	mediação	da	leitura,	
pois serão base da construção da metodologia de ensino que será usada e das 
competências	leitoras	serão	mobilizadas.
38
UNIDADE 1 - PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA LEITURA 
FIGURA 15 – CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
FONTE: Batista-Santos e Ferreira (2017, p. 333)
Em	 síntese,	 na	 perspectiva	 das	 autoras,	 a	 linguagem	 como	 expressão	
está relacionada a uma visão de linguagem como representação do pensamento, 
alinhada	 aos	 pressupostos	 da	 gramática	 normativa.	 O	 sujeito,	 neste	 contexto,	
é	 para	 Koch	 (2005),	 passivo;	 um	 sujeito	 psicológico,	 extraído	 das	 práticas	
sociais	no	sentido	de	indivíduo	livre	de	infl	uência	do	meio	para	construção	do	
conhecimento, do agir e do pensar e de construir unilateralmente o sentido e 
exteriorizá-lo	(Figura	16).	Nesse	sentido,	“o	modo	como	o	texto,	que	se	usa	em	
cada	situação	de	interação	comunicativa,	está	constituído	não	depende	em	nada	
de	quem	se	 fala,	 em	que	 situação	 se	 fala,	 como,	quando	e	para	quem	se	 fala”	
(TRAVAGLIA,	1996,	p.	22).
FIGURA 16 – DESTITUIÇÃO DO CONTEXTO NO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO TEXTO
FONTE: <https://player.slideplayer.com.br/89/14358664/slides/slide_21.jpg>.

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