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Formas líricas - do clássico à contemporaneidade

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1 Objetivos de aprendizagem
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
AULA 11
Formas líricas: do clássico 
à contemporaneidade
 � Conhecer algumas formas poéticas tradicionais e 
seus condicionamentos retóricos e históricos;
 � Reconhecer a ruptura contemporânea das formas líricas e 
a proposição modernista de uma poética da liberdade.
UNIDADE 03Teoria Literária I
172
Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
2 Começando a história
Olá, meu caro estudante.
Chegamos ao término de mais uma unidade de estudo com esta aula 11. 
Desde a aula 8, estamos conversando sobre a abordagem do texto poético, 
principalmente sobre o aspecto interno da obra. Agora, é hora de conhecermos 
algumas formas líricas, isto é, vários tipos de poemas definidos a partir de uma 
estrutura relativamente fixa, como o número de estrofes, certas temáticas ou 
procedimentos retóricos.
Você está pronto para mais uma rodada de leitura?
Para começar a história, é importante destacar que a designação genérica de 
poema, capaz de abarcar uma infinidade de textos escritos em versos, nem 
sempre foi tomada nesse sentido geral. Valer dizer, por exemplo, que os poetas, 
até meados do século XVIII, não escreviam poemas, mas escreviam sonetos, odes, 
elegias..., enfim, uma série de formas poéticas.
É claro que hoje, como falamos, todos esses tipos poéticos são genericamente 
chamados de poemas. Mas não custa nada tentarmos compreender as coisas 
inserindo-as em seu devido contexto de produção. Aliás, isso é um dever da 
pesquisa acadêmica, sob pena de se tornar anacrônica, distorcendo os sentidos 
mais verossímeis de seu objeto de estudo. Essa é a linha defendida, entre outros, 
por Alcir Pécora no livro Máquina de gêneros. Observe as palavras do autor 
referindo-se aos propósitos dos textos compilados na referida obra:
Os diferentes gêneros retórico-poéticos dos vários textos 
estudados não são formas em que vazam conteúdos 
externos a elas, mas determinações convencionais e 
históricas constitutivas dos sentidos verossímeis de cada 
um desses textos.
[...] Cada um dos trabalhos aqui reunidos procura exatamente 
isso: descrever os sentidos básicos de alguns escritos 
importantes, produzidos entre os séculos XVI e XVIII, a 
partir do exame de procedimentos previstos e aplicados 
pelas convenções letradas em vigência no período em 
questão. Isto quer dizer, por exemplo, que o que se tem 
chamado genericamente de “poema” não se reconhece, 
numa preceptiva de tradição clássica, como “poema” – termo 
cômodo pela totalização de objetos de tradições letradas 
muito distintas e, muitas vezes, impossíveis de justapor ou 
englobar –, mas, digamos, como soneto, como madrigal, 
como romance pastoril, como epístola satírica, formas poéticas 
173
AULA 11
precisas, com teoria, história e efeitos particulares. (PÉCORA, 
2001, p. 11-12).
Sem mais delongas, vamos às formas poéticas?
3 Tecendo conhecimento
3.1 Soneto
Sem nenhuma dúvida, o soneto é a forma lírica mais conhecida dos estudos 
literários na tradição ocidental. Trata-se de um poema (lá vem o termo de 
novo) de forma fixa com catorze versos, distribuídos em dois quartetos e dois 
tercetos (soneto de tradição renascentista) ou três quartetos e um dístico (soneto 
shakespeariano).
O formato renascentista, difundido pelos poetas italianos Dante e Petrarca, foi 
o que mais encontrou eco nas literaturas portuguesa e brasileira, tendo Luís Vaz 
de Camões como um dos maiores sonetistas de todos os tempos.
Antes de lermos exemplos de sonetos de Camões, Shakespeare, Olavo Bilac e 
Vinicius de Moraes, observe como Gregório de Matos, poeta brasileiro do século 
XVII, fez uso da ironia ao compor um suposto soneto elogioso. Na brincadeira, 
apresentou metalinguisticamente a forma poética do soneto, já que não encontrou 
nada para louvar a pessoa a qual era destinado o poema:
A certa personagem desvanecida
Soneto
Um soneto começo em vosso gabo; 
Contemos esta regra por primeira, 
Já lá vão duas, e esta é a terceira, 
Já este quartetinho está no cabo. 
Na quinta torce agora a porca o rabo: 
A sexta vá também desta maneira, 
na sétima entro já com grã canseira, 
E saio dos quartetos muito brabo. 
174
Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
Agora nos tercetos que direi? 
Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais, 
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei. 
Nesta vida um soneto já ditei, 
Se desta agora escapo, nunca mais; 
Louvado seja Deus, que o acabei. 
(MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 1999, p. 154).
Etimologicamente, é corrente a indicação dos teóricos de que a palavra soneto 
provém do italiano sonetto, diminutivo de suono, “som”, música, canção (cf. 
D’ONOFRIO (2007); MOISÉS (2004); MEIRA (1974) e TAVARES (2002)).
Agora, vamos ao que interessa: a apreciação de quatro sonetos:
Soneto XVIII
William Shakespeare
Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
(SHAKESPEARE, William. A melhor poesia do mundo. São Paulo: Ediouro, 2001, p. 18-9)
175
AULA 11
[Busque Amor novas artes, novo engenho]
Luís Vaz de Camões
Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.
(CAMÕES, Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Cultrix, s/d, p. 112).
Soneto XIII (Via Láctea)
Olavo Bilac
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
176
Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
(BILAC, Olavo. Melhores poemas de Olavo Bilac. 4. ed. São Paulo: Global, 2003, p. 44).
Soneto do amor total
Vinicius de Moraes
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude. 
(MORAES, Vinicius de. Livro de sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 91).
O soneto, apesar de ser uma forma poética tipicamente renascentista, não deixou 
de ser cultivado pelos modernos (românticos) e modernistas. Mário de Andrade, 
Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes, por exemplo, compuseram 
belíssimos sonetos.
177
AULA 11
Para fecharmos a discussão sobre essa forma poética específica, cumpre ainda 
ressaltar alguns elementos importantes. No dizer de Antonio Candido, sobre o 
soneto, trata-se da
adoção de um instrumento expressivo italiano (ou fixado 
e explorado pelos italianos), apto pela suaestrutura a 
exprimir uma dialética; isto é, no caso, uma forma ordenada 
e progressiva de argumentação. Há certa analogia entre 
a marcha do soneto e a de certo tipo de raciocínio lógico 
em voga ainda ao tempo de Camões: o silogismo. Em geral, 
contém uma proposição ou uma série de proposições (ou 
algo que se pode assimilar a ela) e uma conclusão (ou algo 
que se pode a ela assimilar). (CANDIDO, 1996, p. 20).
Essas palavras são corroboradas por Salvatore D’Onofrio, que nos lembra de 
outros aspectos semânticos e estruturais e, ainda, que o desfecho dos sonetos, 
via de regra, apresenta o que ficou conhecido como “chave de ouro”. Certamente, 
você já ouviu falar na expressão “fechar com chave de ouro”, não é verdade?
O soneto regular ou petrarquiano é composto de duas 
quadras e dois tercetos, geralmente de versos decassílabos e 
com o esquema rímico abba/abba/cde/cde. As duas quadras, 
portanto, formam um campo fônico homogêneo pelo 
chamamento entre si dos versos externos e dos versos 
internos. Já a sonoridade dos tercetos provém de uma 
diferente combinação de rimas. A essa diferença fônica 
corresponde também uma diferença semântica: nas duas 
quadras coloca-se o tema e nos tercetos dá-se a conclusão, 
que geralmente culmina no último verso com a famosa “chave 
de ouro”. Como se vê, a forma poemática do soneto tem algo 
em comum com o silogismo, modo cerrado de raciocínio 
muito cultivado pelos filósofos da Baixa Idade Média: a uma 
premissa ou tese sucede uma oposição de pensamento ou 
antítese, terminando com a síntese, a proposta de resolução 
do problema. (D’ONOFRIO, 2007, p. 256).
Exercitando
A partir dos sonetos de Camões e Olavo Bilac, acima transcritos, procure verificar 
neles as colocações de Salvatore D’Onofrio agora citadas. Observe como o 
esquema de rimas e a organização semântica correspondem ao que foi dito, 
como foi expressa a chamada “chave de ouro” nos textos e como a estrutura 
argumentativa deles condiz com a dialética (apresentação de tese, oposição 
e síntese).
178
Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
3.2 Elegia
Diferentemente do soneto, que não provém da tradição greco-latina, a elegia, 
etimologicamente, vem do latim elegia e do grego elegéia, significando canto 
fúnebre; élegos = pranto. Na poética grega antiga, a elegia era um canto plangente 
em honra aos mortos, acompanhado pela flauta e caracterizado pelo emprego de 
dísticos em hexâmetros, versos de seis pés, e pentâmetros, de cinco pés (confira 
melhor o significado desses elementos retornando à aula 9 sobre os elementos 
formais do texto poético). Na verdade, a elegia começou por ser todo poema 
estruturado dessa maneira, somente mais tarde adquiriu o sentido especial, 
vinculado à ideia de lamento e pranto (MOISÉS, 2004, p. 137-8).
Uma das elegias mais famosas da literatura brasileira é o texto “Cântico do 
Calvário”, do poeta romântico Fagundes Varela. Veja alguns fragmentos desse 
poema e o significado dos termos grifados logo abaixo:
Cântico do Calvário
À memória de meu filho morto a 11 de dezembro de 1863
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!
(...)
Como eras lindo! Nas rosadas faces
Tinhas ainda o tépido vestígio
Dos beijos divinais, — nos olhos langues
Brilhava o brando raio que acendera
179
AULA 11
A bênção do Senhor quando o deixaste!
Sobre o teu corpo a chusma dos anjinhos,
Filhos do éter e da luz, voavam,
Riam-se alegres, das caçoilasníveas
Celeste aroma te vertendo ao corpo!
E eu dizia comigo: — teu destino
Será mais belo que o cantar das fadas
Que dançam no arrebol, — mais triunfante
Que o sol nascente derribando ao nada
Muralhas de negrume!... Irás tão alto
Como o pássaro-rei do Novo Mundo!
(...)
Mas não! Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
No vulto solitário de uma estrela.
E são teus raios que meu estro aquecem!
Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!
Brilha e fulgura no azulado manto,
Mas não te arrojes, lágrima da noite,
Nas ondas nebulosas do ocidente!
Brilha e fulgura! Quando a morte fria
Sobre mim sacudir o pó das asas,
Escada de Jacó serão teus raios
Por onde asinha subirá minh’alma.
(VARELA, Fagundes. In: Poesia brasileira: romantismo.
10. ed. São Paulo: Ática, 1999, p. 72-76).
Vocabulário:
Pegureiro: pastor, guardador de gado.
Messe: ceifa, colheita.
Estio: verão.
Idílio: galanteio; suavidade; sonho.
Tépido: morno; fraco.
Langues: sem forças; sem energia; frouxos, fracos, abatidos, debilitados.
Chusma: grande quantidade; magote.
180
Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
Caçoilas: tipos de vaso; caçarolas.
Níveas: relativo à neve; branco como a neve.
Arrebol: vermelhidão do nascer ou do pôr do sol.
Flébil: 1) lacrimoso, choroso; 2) débil , fraco.
Estro: engenho poético; imaginação criadora, inspiração, talento.
Arrojes: arrastas, lanças.
Asinha: depressa, prontamente, em breve.
Exercitando
Ampliando a noção da referida forma poética, os modernistas, tais como Murilo 
Mendes, Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade, compuseram elegias 
dando-lhes novos formatos, de acordo com a liberdade estilística propugnada 
pela época dos autores.
Leia o texto abaixo de Drummond e responda ao que se pede em seguida:
Elegia 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
181
AULA 11
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova Reunião. 23 livros
de poesia. v. 1. Rio de Janeiro: Bestbolso, 2009, p. 106-7).
a) Em que sentido o poema de Drummond rompe com a noção antiga 
de elegia? Em que sentido se aproxima?
b) De que maneira a figura do eu-lírico no texto se diferencia da noção 
tradicional do lirismo de 1ª pessoa?
c) Que elementos históricos podem ajudar na compreensão do 
poema? Por que são decisivas as referências à Ilha de Manhattan 
e ao ano de 1938?
3.3 Ode
É mais uma forma poética de origem clássica. O termo vem do grego oidê, que, 
assim como a palavra hino, significa “canto”.
Era um poema caracterizado pela voz do cantor que se 
servia de um instrumento de corda (lira ou harpa) para 
o acompanhamento musical. Originariamente, era um 
canto individual que expressava sentimentos pessoais, 
especialmente o amor. [...]
Paralelamente à ode monódica, surgiu também a forma 
coral da ode, de assunto mais solene, exaltando a religião, 
a pátria, os heróis de guerra ou de atividades esportivas. A 
ode, portanto, passou a exercer uma função quase igual à 
do hino. (D’ONOFRIO, 2007, p. 233-4).
Tradicionalmente, a ode ficou sendo um texto de louvor, de homenagem,de 
exaltação, com um certo tom solene, grave.
Mário de Andrade, por sua vez, no modernismo brasileiro, subverteu a lógica de 
exaltação que a ode tradicionalmente estabeleceu e criou a irônica e sarcástica 
“Ode ao burguês”, transformando a ode (o louvor, o elogio) em ódio, tanto 
sonoramente, no título, quanto textualmente, no corpo do poema. Confira:
182
Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
Ode ao Burguês
Mário de Andrade
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, 
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
“— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!”
Come! Come-te a ti mesmo, oh! Gelatina pasma!
Oh! Purée de batatas morais!
Oh! Cabelos nas ventas! Oh! Carecas!
183
AULA 11
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
(ANDRADE, Mário de. Poesias completas. São 
Paulo: Círculo do Livro, s/d).
3.4 Poemas bucólicos
No dizer de Hênio Tavares (2002, p. 297-8), são poemas que dizem respeito à 
vida no campo, daí se chamarem também pastoris ou campestres. Apresentam 
como variantes:
a) Idílio: uma composição em monólogo que celebra os encantos da 
vida bucólica, impregnada quase sempre de sentimento amoroso. 
É uma espécie muito ao gosto dos poetas árcades;
b) Écloga (ou égloga): difere do idílio por nele intervirem os diálogos. 
São poemas dialogados nos quais o poeta cede a palavra a 
interlocutores.
184
Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
3.5 Outras formas líricas
Há uma infinidade de formas poéticas que o espaço de 
nosso material didático não permite pormenorizar. De 
qualquer forma, você, meu caro estudante, não precisa 
se preocupar com tanta nomenclatura. Os dicionários 
especializados e os manuais de teoria literária oferecerão 
as informações necessárias quando você se deparar com 
tais formas poéticas. O Dicionário de termos literários, de 
Massaud Moisés, chega a historicizar desde as origens do 
vocábulo até quem cultivou determinado tipo de poema 
ao longo do tempo. Vale a pena consultá-lo sempre.
Abaixo, uma minilista de formas poéticas com seus respectivos significados, 
compilada a partir de Salvatore D’Onofrio (2007, p. 228-270) e Hênio Tavares 
(2002, p. 269-312):
a) Hino: do grego hymnos, que significa “canto”, o hino é uma das 
primeiras manifestações poéticas do homem, cujo sentimento 
de religiosidade o leva a exaltar suas divindades.
b) Canção: no sentido genérico, a palavra portuguesa canção 
corresponde à francesa chanson e à italiana canzone, as três 
derivadas do termo latino cantionem, indica toda poesia 
relacionada com a música e o canto.
c) Cantiga: da mesma origem etimológica de canção, o termo 
cantiga designa as primeiras manifestações poéticas em língua 
vernácula, ainda do tempo em que a poesia não era separada 
da música, do canto e da dança. Entre os vários tipos de cantiga, 
os três mais cultivados na Idade Média portuguesa foram a 
cantiga de amigo, a cantiga de amor e a cantiga de escárnio. 
Estas serão objeto de estudo de Literatura Portuguesa I no 
próximo período.
d) Balada: em suas origens, durante a Baixa Idade Média, a 
balada era uma forma poemática narrada composta para 
ser musicada e cantada com acompanhamento coreográfico 
nas festas de vindima e de outras colheitas do campo. Existe 
ainda a balada de forma fixa que apresenta as seguintes 
Figura 1 
185
AULA 11
características: 3 oitavas e uma quadra (às vezes, uma quintilha), 
versos octossílabos, 3 rimas cruzadas (ou variáveis) e a repetição 
de um mesmo conceito ou ideia ao fim de cada estrofe.
e) Rondó e rondel: são formas poéticas que, como a balada, estão 
relacionadas com a dança. A diferença consiste no aspecto 
circular: do termo latino rotundum (“redondo”) derivaram 
as palavras francesas ronde e rondeau, nomes de bailados 
populares medievais. A circularidade coreográfica transfere-se 
para o poema composto de estrofes e de versos que se 
chamam mutuamente, repetindo-se. O rondel é composto 
de duas quadras e uma quintilha, com uma certa repetição 
de versos (os dois primeiros versos da 1ª quadra serão os dois 
últimos da 2ª quadra; e o primeiro verso da 1ª quadra será 
o último verso da quintilha. O rondó, por sua vez, apresenta 
vários formatos.
f) Vilancete e redondilha: vilancete deriva de vila, lugarejo 
habitado por camponeses (vilões). É uma forma poemática da 
península ibérica, de origem popular. O vilancete é composto 
de uma estrofe-matriz, chamada vilancico, mote ou cabeça, 
seguida de várias estrofes denominadas voltas ou glosas. 
Semelhante ao vilancete é a redondilha, composição poética 
em que cada verso tem sete sílabas (redondilha maior) ou 
cinco sílabas (redondilha menor).
g) Haicai: composição poética de origem japonesa, de forma fixa, 
em estrofes de três versos. A estrofe deve conter 17 sílabas 
métricas, na seguinte ordem: 1º verso: 5 sílabas; 2º verso: 7 
sílabas; 3º verso: 5 sílabas (5-7-5).
Exercitando
Você deve ter verificado que existem muitas formas poéticas. A lista anterior é 
apenas uma amostra das várias possibilidades de composição lírica. Agora é 
sua vez de pesquisar: procure saber o que são os seguintes poemas: madrigal, 
epigrama, epitalâmio, acróstico, barcarola, décima, lira, oitava, parlenda, sextina, 
terça-rima.
186
Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
3.6 A poesia na contemporaneidade: formas livres
A poesia na contemporaneidade não costuma mais ser escrita seguindo os 
padrões retóricos que nortearam a tradição poética ao longo do tempo. Como 
vimos, no início desta aula, até de forma mais cômoda chamamos de poema 
toda construção poética em versos, termo que acaba envolvendo um sem-
número de composições, sem a necessidade de se seguir um padrão estrófico, 
rímico ou temático.
Certamente, o modernismo contribuiu de forma decisiva para uma poética da 
liberdade. É emblemático o texto de Manuel Bandeira, publicado inicialmente 
no livro Libertinagem, de 1930:
Poética
Manuel Bandeira
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e 
manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo 
de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com 
cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc
187AULA 11
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Antologia poética. 12. ed. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 70-71).
Observe que o autor propõe a fuga de todos os modelos enrijecedores da arte 
poética, enaltecendo o lirismo espontâneo e pungente. O lirismo comedido e 
regrado dos parnasianos ou o lirismo cheio de modelos dos “secretários”, que eram 
manuais (muito em voga até o século XIX) destinados a ensinar como escrever 
cartas de todos os tipos, inclusive de amor, textos poéticos e outras formas 
textuais, deveriam ser esquecidos para dar lugar à expansão subjetiva do poeta.
Nessa esteira, a produção modernista e contemporânea libertou-se da preocupação 
excessiva com a forma e com o purismo gramatical, recriando as formas poéticas 
tradicionais ou inventando novas.
188
Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
4 Aprofundando seu conhecimento
Livro: Lírica
Autor: Luís Vaz de Camões
Editora: Cultrix
A obra contempla a produção lírica do 
grande autor português – Camões. Nela, 
é possível identificar composições de várias 
formas poéticas: soneto, écloga, oitava, 
sextina, ode, elegia, canção, redondilhas. 
Vale a pena conhecer tais tipos líricos por 
meio de uma das mais poderosas vozes da 
literatura de língua portuguesa. É deleite, 
na certa, a leitura dos célebres sonetos: “Amor é fogo que arde sem se 
ver”, “Sete anos de pastor Jacó servia”, “Busque Amor novas artes, novo 
engenho”, “O dia em que nasci morra e pereça”, “Alma minha gentil que 
te partiste”, “Eu cantarei de amor tão docemente”, “Um mover de olhos, 
brando e piedoso”, “Transforma-se o amador na coisa amada”, “Tanto 
do meu estado me acho incerto”, “Mudam-se os tempos, mudam-se as 
vontades”.
Livro: Forma e sentido do texto literário
Autor: Salvatore D’Onofrio
Editora: Ática
Obra que apresenta modelos de análise de 
textos dos três gêneros literários basilares 
(o lírico, o narrativo e o dramático). Contos, 
poemas, peças e um número considerável de 
formas literárias são explicados e analisados, 
numa feliz junção de informações teórico-
críticas com exemplos práticos. Os modelos 
de análise apresentados fornecem dados 
importantes para o estudante que precisa aprender a analisar um texto 
literário a partir de vários níveis: fônico, sintático, semântico, gráfico e lexical.
Figura 3 
Figura 2 
189
AULA 11
5 Trocando em miúdos
Há um número muito grande de formas poéticas, constituindo um vasto campo 
de leitura. Até meados do século XVIII, a escrita de poesia era muito regrada, ou 
seja, cheia de regras definidas por uma tradição retórico-poética. Com o advento 
da modernidade na literatura a partir dos românticos e com o aprofundamento 
dos modernistas, a poesia lírica passou a ser mais livre na construção formal e nas 
temáticas, resultando numa literatura contemporânea cada vez mais inovadora, 
questionadora e capaz de revitalizar os modelos poéticos de outrora.
O termo poema, nos moldes como o entendemos hoje, é relativamente recente, 
apesar de ter sua origem no grego antigo como “algo criado”, produto da poiesis, 
a ação de criar. Atualmente, a expressão engloba, de forma cômoda, como disse 
Alcir Pécora (2001, p. 12), toda manifestação literária em verso, desconsiderando 
os condicionamentos históricos que forjaram a escrita literária ao longo do 
tempo. Como pesquisadores da área de Letras, entretanto, não devemos deixar 
de considerar as condições de produção dos textos para que possamos nos 
aproximar o máximo possível da leitura mais verossímil das composições poéticas.
6 Autoavaliando
As grandes perguntas autoavaliativas para você responder sobre esta aula são 
as seguintes:
a) Consigo analisar um poema a partir de sua estrutura, reconhecendo 
os condicionamentos históricos e retóricos que determinam não só 
a forma do texto, mas também seu conteúdo?
b) Sou capaz de perceber as razões para determinado poeta ter intitulado 
seu texto de soneto, ode, elegia, écloga ou outra forma poética?
O reconhecimento do significado das formas líricas certamente ajudará no 
pontapé inicial para a análise de qualquer texto poético.
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Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
Referências
ANDRADE, Carlos Drummond de. Elegia 1938. In: Nova Reunião. 23 livros de 
poesia. v. 1. Rio de Janeiro: Bestbolso, 2009, p. 106-7.
ANDRADE, Mário de. Ode ao burguês. In: Poesias completas. São Paulo: Círculo 
do Livro, s/d.
BANDEIRA, Manuel. Poética. In: Antologia poética.12. ed. Rio de Janeiro: Nova 
Fronteira, 2001, p. 70-1.
BILAC, Olavo.Via Láctea: Soneto XIII. In: Melhores poemas de Olavo Bilac. 4. 
ed. Seleção de Marisa Lajolo. São Paulo: Global, 2003, p. 44 (Coleção Melhores 
Poemas; 16).
CAMÕES, Luís Vaz de. Busque Amor novas artes, novo engenho. In: Lírica. Seleção, 
prefácio e notas de Massaud Moisés. São Paulo: Cultrix, s/d, p. 112.
CANDIDO, Antonio. O estudo analítico do poema. 3. ed. São Paulo: Humanitas; 
FFLCH/USP, 1996.
D’ONOFRIO, Salvatore. Forma e sentido do texto literário. São Paulo: Ática, 
2007 (Ática Universidade).
MATOS, Gregório de. Soneto: A certa personagem desvanecida. In: Poemas 
escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel Wisnik. 7. ed. São Paulo: 
Cultrix, 1999, p. 154.
MEIRA, Cécil. Introdução ao estudo da literatura. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 1974.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
MORAES, Vinicius de. Soneto do amor total. In: Livro de sonetos. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1991, p. 91.
PÉCORA, Alcir. Máquina de gêneros. São Paulo: Edusp, 2001.
SHAKESPEARE, William. Soneto XVIII. In: VÁRIOS AUTORES. A melhor poesia do 
mundo: poetas estrangeiros. São Paulo: Ediouro, 2001, p. 18-9.
TAVARES, Hênio. Teoria literária. 12. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002.
VARELA, Fagundes. Cântico do Calvário. In: VÁRIOS AUTORES. Poesia brasileira: 
romantismo. 10. ed. São Paulo: Ática, 1999, p. 72-76.
191
AULA 11
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	Formas líricas: do clássico à contemporaneidade
	2	Começando a história
	3	Tecendo conhecimento
	3.1	Soneto
	3.2	Elegia
	3.3	Ode
	3.4	Poemas bucólicos
	3.5	Outras formas líricas
	3.6	A poesia na contemporaneidade: formas livres
	4	Aprofundando seu conhecimento
	5	Trocando em miúdos
	6	Autoavaliando
	Referências

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