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CENTRO CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS ENGENHARIA ELÉTRICA JOÃO MOUZINHO DE QUEIROZ NETO ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GERAÇÃO DE ENERGIA A BIOGÁS PROVENIENTE DE UMA FAZENDA DE SUÍNOS NO MUNICÍPIO DE PARACURU-CE Fortaleza 2017 i JOÃO MOUZINHO DE QUEIROZ NETO ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GERAÇÃO DE ENERGIA A BIOGÁS PROVENIENTE DE UMA FAZENDA DE SUÍNOS NO MUNICÍPIO DE PARACURU-CE Orientador: Prof. Msc. Cristiano Régis Freitas de Brito Fortaleza 2017 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Universidade de Fortaleza, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Elétrica. ii ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GERAÇÃO DE ENERGIA A BIOGÁS PROVENIENTE DE UMA FAZENDA DE SUÍNOS NO MUNICÍPIO DE PARACURU-CE Aprovada em: __/__/___. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Msc. Cristiano Régis Freitas de Brito (Orientador) Universidade de Fortaleza ________________________________________ Prof. Msc. José Dickson Araújo de Oliveira Universidade de Fortaleza ________________________________________ Prof. Msc. Paulo Henrique Pereira Silva Universidade de Fortaleza Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Universidade de Fortaleza, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Elétrica. ii AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus por seu inconfundível amor, graça e misericórdia que me permitiram chegar até aqui. Sem Ele nada seria possível. À minha família, meus pais, Iatagã Teixeira e Cláudia Cândido, pelo amor e apoio ao longo de toda a jornada da minha vida, em especial a minha mãe por ter lutado comigo em todos os momentos e por todas as orações. Ao meu irmão Ian Queiroz, pelo companheirismo e ajuda que nunca me foram negados e pelos momentos mais engraçados e divertidos que já tive. À minha avó, Teresinha Teixeira de Queiroz, por todo o zelo, amor e investimento que foram feitos ao longo de toda a estrada da minha vida. A possibilidade da minha graduação é, sem dúvidas, uma vitória da qual ela também é merecedora. Ao meu orientador Cristiano Régis por toda ajuda, colaboração e principalmente paciência. Muito obrigado por ter acreditado na minha ideia e ter caminhado comigo ao longo desse ano. Serei infinitamente grato por tudo e sempre torcerei muito pelo seu sucesso. Sua humildade e vontade de ajudar são qualidades que admirei muito. Aos meus amigos Stéfanie Cavalcante, Raylla Silveira, Alex Martins e Rebeca Caetano por serem os irmãos que escolhi para a vida. Com eles descobri que a vida pode ser mais leve e cheia de graça, amor e verdade. À minha amiga Alice Leão por ter sido a maior apoiadora e incentivadora desse projeto. Serei eternamente grato por toda ajuda e suporte. Você é parte integrante desse trabalho. À Universidade de Fortaleza por me proporcionar experiências de suma importância não somente para vida como futuro profissional, mas como ser humano ético que acredita que o mundo pode ser melhor através da educação. iii RESUMO Analisando a atual conjuntura energética é perceptível a ligação existente entre o aumento do consumo de energia com a necessidade de disponibilidade da mesma a preços favoráveis. As pressões relacionadas às questões ambientais têm ganhado força na última década, associando a geração de elétrica com o uso sustentável dos recursos naturais e dessa forma almejando-se uma redução dos impactos socioambientais. O uso massivo de fontes alternativas e complementares a matriz energética brasileira traz consigo uma visão moderna que alia o conceito de manutenção da crescente demanda de energia com sustentabilidade ecológica. Em qualquer setor da economia, vê-se que o aumento da produção está diretamente associado à redução do consumo e dos desperdícios. Baseado nessa assertiva, no presente trabalho buscou-se avaliar uma alternativa que mitigasse o desperdício do biogás produzido em uma fazenda de produção de suínos de corte que, devido à ausência de um sistema de aproveitamento, estava sendo queimado acarretando a perda do potencial energético do mesmo. Foram realizadas visitas a fazenda para aquisição dos dados de consumo de energia do empreendimento, dimensionamento das tubulações para condução do biogás, escolha do moto-gerador, estimativas quantidade de biogás e seu potencial energético, custos das instalações, bem como a estimativa de retorno do investimento. Foi observado que o empreendimento estudado consome cerca de 5.677kWh/mês, deverá ser utilizado uma tubulação de 75mm para conduzir o biogás, o moto-gerador escolhido foi o GMWM 120, de 120 kVA, tem um potencial de gerar 55m³/hora de biogás e 44.550kWh/mês. Os custos das instalações foram estimados em R$ 298.554,30, sendo que o tempo de retorno do investimento é de cerca de 5 anos. Palavras-chave: Aproveitamento energético, Biogás, Fontes Renováveis, Sustentabilidade. iv ABSTRACT Analyzing the current energy situation is evident the connection between the increase in energy consumption and the need for availability of energy at favorable prices. The pressures related to environmental issues have gained strength in the last decade, associating electric generation with the sustainable use of natural resources and thus aiming at reducing social and environmental impacts. The massive use of alternative and complementary sources to the Brazilian energy matrix brings with it a modern vision that combines the concept of maintaining the growing demand for energy with ecological sustainability. In any sector of the economy, it is seen that the increase in production is directly associated with the reduction of consumption and waste. Based on this assertion, the present work sought to evaluate an alternative that would mitigate the waste of the biogas produced in a farm that, due to the lack of a system of use, was being burned resulting in the loss of the its energy potential. It was carried out visits in the farm to acquire some data of its energy consumption, sizing of the tubes for biogas conduction, choose the best generator, estimate que quantity of the biogas and its energetic potencial, costs of the future installation as well as payback estimative. It was observed that the studied farm consumes about 5677kWh/month, must be used a 75mm tube for biogas conduction, the model of the chosen generator is the GMWM 120 (120 kVA), has a biogas generation potencial of 55m³/hora and 44.550kWh/month of electric energy. The costs of installation would be about R$ 298.554,30 and the payback would be about 5 years. Keywords: Energetic recovery. Biogas. Renewable Sources. Sustainability. v LISTA DE FIGURAS Figura 1. Evolução da produção de Biodiesel no Brasil. .................................................. 7 Figura 2. Produção de Carne Suína brasileira no período entre os anos de 2002 a 2008. .......................................................................................................................................... 8 Figura 3. Esquema da digestão anaeróbia para geração do biogás. ........................... 15 Figura 4. Formas de aplicação do biogás. ........................................................................ 23 Figura 5. Esquema de funcionamento do motor ciclo Otto. ........................................... 24 Figura 6. Balanço energético de um sistemaconvencional. ......................................... 26 Figura 7.Balanço energético de um sistema de cogeração. .......................................... 26 Figura 8. Esquema básico do funcionamento de um biodigestor. ................................ 30 Figura 9. Biodigestor modelo chinês. ................................................................................ 32 Figura 10. Biodigestor modelo indiano. ............................................................................. 33 Figura 11. Biodigestor Modelo Batelada. .......................................................................... 34 Figura 12. Biodigestor modelo canadense de uma pequena propriedade rural. ....... 35 Figura 13. Delimitação da Fazenda Santana. .................................................................. 40 Figura 14. Esquema da Geração de Biogás na Fazenda Santana. ............................. 42 Figura 15. Queimador da propriedade. ............................................................................. 43 Figura 16. Biodigestor e queimador da Fazenda Santana. ........................................... 44 Figura 17. Válvula de alívio de pressão. ........................................................................... 45 Figura 18. Análise da vazão de biogás. ............................................................................ 56 Figura 19. Moto-gerador MODELO:GMWM 120. ............................................................ 59 Figura 20. Painel de proteção para geração distribuída. ............................................... 60 Figura 21.Esquema de filtragem do biogás. ..................................................................... 62 vi LISTA DE QUADROS Quadro 01. Principais usinas movidas a biomassa por Insumo no Brasil ..................... 6 Quadro 02. Composição Média do Biogás. ...................................................................... 17 Quadro 03. Composição Média do Biogás em Diferentes Biomassas. ....................... 18 Quadro 04. Composição típica do biogás Produzido e Purificado. .............................. 20 Quadro 05. Relação entre a produção de dejetos e gás. ............................................... 21 Quadro 06. Comparação energética entre o biogás e outros combustíveis. .............. 21 Quadro 07. Consumo mensal médio da Fazenda Santana. .......................................... 41 Quadro 08. Levantamento estrutural da Fazenda Santana. .......................................... 45 Quadro 09. Composição do biogás na Fazenda Santana. ............................................ 46 Quadro 10. Densidades Relativa do Biogás (em relação ao ar) para Diferentes Misturas (%) do Biogás. ........................................................................................................ 48 Quadro 11. Densidades relativa do biogás para a Mistura do Biogás da Fazenda Santana. .................................................................................................................................. 54 Quadro 12. Quadro de Informações Técnicas do Filtro de Ácido Sulfídrico. .............. 62 Quadro 13. Custos inerentes a tubulação. ....................................................................... 63 Quadro 14. Custos inerentes ao sistema de geração de energia. ............................... 64 Quadro 15. Investimento total do projeto. ......................................................................... 64 Quadro 16. Unidades consumidoras sob mesmo CPF. ................................................. 65 vii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica BIG Banco de Informação de Geração BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento CCEE Câmara de Comercialização de Energia Elétrica CNA Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil CPF Cadastro de Pessoa Física GD Geração Distribuída GN Gás Natural GNC Gás Natural Comprimido GNL Gás Natural Liquefeito GNV Gás Natural Veicular GLP Gás Liquefeito de Petróleo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MME Ministério de Minas e Energia OIE Oferta Interna de Energia nacional PCI Poder Calorífico Inferior PCS Poder Calorífico Superior PE Polietileno PIB Produto Interno Bruto PVC Policloreto de Vinila SNA Sociedade Nacional de Agricultura USDA United State Departament Agriculture UT Unidade de Terminação viii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1 1.1. Justificativa .................................................................................................. 3 1.2. Objetivos ....................................................................................................... 4 1.2.1. Objetivos Gerais ......................................................................................... 4 1.2.2. Objetivos Específicos .................................................................................. 4 2. Referencial teórico .............................................................................................. 5 2.1. Análise da Biomassa na perspectiva Nacional ......................................... 5 2.2. O Biogás ....................................................................................................... 9 2.2.1 Histórico do Biogás .................................................................................... 10 2.2.2 Processos da Digestão Anaeróbia ............................................................. 11 2.2.2.1 Fundamentos da Digestão Anaeróbia para obtenção do biogás ............ 12 2.2.2.2 Formação do Biogás ............................................................................... 13 2.2.2.3 Fatores que influenciam na digestão anaeróbia ..................................... 15 2.2.3 Composição do Biogás .............................................................................. 16 2.2.4 Purificação e Limpeza do Biogás ............................................................... 18 2.2.5 Poder Calorífico e Equivalências Energéticas ........................................... 20 2.2.6 Possibilidades para aproveitamento do Biogás ......................................... 22 2.2.6.1 Análise de Motores e Ciclos Termodinâmicos ........................................ 23 2.2.6.2 Aplicação do biogás na produção de eletricidade com motores Otto ..... 24 2.2.6.3 Aproveitamento do biogás na perspectiva da cogeração ....................... 25 2.2.6.4 Aproveitamento do Biogás como Biocombustível ................................... 27 2.3. Biodigestores ............................................................................................. 28 2.3.1 Análise Geral ............................................................................................. 28 2.3.2 Tipos de biodigestores ............................................................................... 30 2.3.2.1 Biodigestor Chinês .................................................................................. 31 2.3.2.2 Biodigestor Indiano ................................................................................. 32 2.3.2.3 Biodigestor batelada ............................................................................... 33 2.3.2.4 Biodigestor Canadense ........................................................................... 34 2.4. Tubulações para Condução do Biogás .................................................... 36 2.5. Possibilidades para Geração Distribuída ................................................. 37 3. Materiais e Métodos .......................................................................................... 39 ix 3.1. Dados e Análises do Empreendimento .................................................... 39 3.2. Análise do consumoda fazenda ............................................................... 41 3.3. Atual Configuração da Instalação ............................................................. 41 3.4. Dimensionamento da tubulação do biogás ............................................. 46 3.5. Perda de pressão na rede de condução do Biogás ................................ 46 3.6. Estimativa de produção teórica de biogás .............................................. 50 3.7. Diâmetro da Tubulação .............................................................................. 50 3.8. Escolha do grupo moto-gerador ............................................................... 51 3.9. Sistema de filtragem .................................................................................. 52 3.10. Estimativa do Tempo de Retorno do Investimento .............................. 53 4. Resultados e Discussão ................................................................................... 54 4.1. Estimativa da pressão de operação na rede de condução do Biogás .. 54 4.2. Estimativa da produção teórica de biogás .............................................. 55 4.3. Diâmetro da Tubulação .............................................................................. 57 4.4. Grupo Moto-Gerador .................................................................................. 57 4.5. Sistema de Purificação .............................................................................. 61 4.6. Custos do Projeto ...................................................................................... 62 4.7. Economia Proporcionada pelo Sistema de Geração .............................. 64 4.8. Estimativa do Tempo de Retorno do Investimento ................................. 65 4.9. Simulação do Investimento ....................................................................... 66 5. Conclusão ......................................................................................................... 68 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 70 ANEXO A .................................................................................................................. 75 ANEXO B .................................................................................................................. 79 ANEXO C .................................................................................................................. 80 1 1. INTRODUÇÃO No decorrer do século XX, o Brasil atravessou por um intenso período de desenvolvimento econômico e social culminando em um crescimento demográfico associado com intensos processos de urbanização e avanços da indústria. Nesse contexto, a disponibilidade de energia, a custos satisfatórios e em condições de quantidade e qualidade adequadas acabou constituindo-se como um requisito fundamental para promover o desenvolvimento de uma nação. (GORINI et al., 2007) No entanto, com as constantes irregularidades de chuvas, comprometendo os níveis dos reservatórios das hidrelétricas, e o elevado custo na geração de energia, através das termelétricas, têm-se fomentado a necessidade de diversificar a matriz energética brasileira em meio à crescente demanda por eletricidade. Nesse ínterim, a busca por investimentos em fontes alternativas de energia acaba desenvolvendo-se como fator trivial não somente para manutenção e crescimento socioeconômico, mas também para preservação e uso sustentável dos recursos naturais. As necessidades de mudanças no setor energético têm estimulado o desenvolvimento de estratégias que visam garantir o progresso das fontes renováveis na matriz brasileira. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME), em 2015 as fontes alternativas totalizaram participação de cerca de 41,2% na matriz energética nacional; sendo tal indicador quase três vezes superior a medial mundial que é de aproximadamente 13,8%. Além disso, atualmente o Brasil também ocupa uma posição de notoriedade no que diz respeito a sua matriz de geração elétrica - sendo 74% de recursos renováveis, em comparação com a média mundial, com apenas 23,8%. O destaque fica para o crescimento da participação das energias renováveis que são alternativas à geração hidrelétrica, como a eólica, a solar e também a biomassa. Sendo a biomassa, dessa forma, uma fonte para geração de energia com excelente potencial de crescimento e aproveitamento no país para os próximos anos. (MME, 2015) Segundo o Atlas da ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica - (2005), página 77, o termo biomassa compreende: “Todo recurso renovável oriundo de matéria orgânica (de origem animal ou vegetal) que pode ser utilizada na produção de energia. Assim como a energia hidráulica e outras fontes renováveis, a 2 biomassa é uma forma indireta de energia solar. A energia solar é convertida em energia química, através da fotossíntese, base dos processos biológicos de todos os seres vivos. ” Além de contribuir para a diversificação matriz, a biomassa coopera para uma redução da dependência dos combustíveis fósseis. Existem, então, várias rotas tecnológicas que aproveitam o potencial da biomassa na geração de energia elétrica. A rota, de forma geral, dá-se através da conversão de uma matéria-prima, como detritos animais, em um produto intermediário, o biogás. E sendo este utilizado para atuar sobre uma máquina motriz. Tal máquina produzirá a energia mecânica que acionará um gerador de energia elétrica. (ANEEL, 2005) O aproveitamento de dejetos animais na geração de energia traz uma visão que alia a necessidade do uso sustentável e racional dos recursos ambientais com a possibilidade de viabilidade financeira. Como exemplo, têm-se a atividade da suinocultura no Brasil. Segundo Diesel et al., (2010), o potencial poluente dos dejetos suínos, em termos comparativos, é superior ao de outras espécies. Fazendo-se uso do conceito de equivalente populacional, em termos de dejetos produzidos, um suíno pode equivaler a 3,5 pessoas, aproximadamente. O dado é preocupante quando analisado na perspectiva ecológica e social, por conta do descarte de tantos detritos, além do desconforto ambiental proveniente de maus odores e presença de insetos na localidade próxima às pocilgas. Uma saída viável para essa problemática poderia dar- se com uso da tecnologia de decomposição anaeróbia de resíduos através da implementação de biodigestores. Embora possa ocorrer naturalmente, é no interior de equipamentos chamados de biodigestores que a biodigestão acontece de forma controlada, permitindo com que os produtos das reações de fermentação possam ser capturados: biofertilizantes e, principalmente, o biogás. Este que antes desperdiçado, passa a ser aproveitado energeticamente, agregando, assim, valor aos dejetos que antes eram vistos somente como passivos danosos ambientais. No referido trabalho será realizado um estudo da viabilidade do projeto de uma instalação que se propõe a conduzir o biogás obtido em um biodigestor, do tipo canadense, passando por filtros de purificação até sua chegada a um moto-gerador, para geração de eletricidade. A propriedade em estudo, situada em Paracurú-Ce, 3 busca realizar o aproveitamento dos dejetos suínos na produção de biogás para geração elétrica. Hoje o potencial energético do biogás, na propriedade em questão, está sendo perdido. Devido à ausência de uma estrutura confiável para que ocorra a geração de energia, o biogás produzido está sendo canalizado diretamente a queimadores. Segundo Bley Jr. (2009) a queima do biogás deve ser analisada sob duas perspectivas. Ela é positiva por reduzir os impactos ambientais, já que transforma o gás metano em gás carbônico; gás este que agride 21 vezes menos a camada de ozônio. E negativa no ponto de vista gerador, uma vez que acaba fazendocom que o valor econômico e energético do biogás seja desperdiçado - ao invés do mesmo ser inserido num projeto que faça sua utilização de forma eficiente, gerando energia que pode até mesmo está associada a sistemas de cogeração. 1.1. Justificativa Até pouco tempo atrás, o biogás era visto simplesmente como um mero subproduto da decomposição anaeróbica do lixo urbano, de lodos provenientes de estações de tratamento de esgoto e de resíduos de animais. Entretanto, com o intenso crescimento econômico e social observado nas últimas décadas aliado com as contínuas elevações dos preços dos combustíveis, tem-se buscado incentivar a produção de energia elétrica por intermédio de fontes alternativas e economicamente viáveis, criando-se, dessa maneira, meios de produção de energia que busquem atender à crescente demanda além de cooperar com a economia e conservação dos recursos naturais, instigando o compromisso de crescimento sustentável.(VILLELA et al., 2006). Os potenciais energéticos da biomassa quando somados com as perspectivas ambientais e socioeconômicas acabam tornando essa fonte energética bastante atrativa pois, além de produzir energia, um dos seus outros grandes benefícios também é a utilização de grande quantidade de lixo orgânico, efluentes líquidos e dejetos agrícolas que deixariam de agredir a natureza. (BLEY JR, 2009) O presente trabalho visa contemplar principalmente a ideia de economia e sustentabilidade que seria obtido através da implementação do projeto de uma instalação para uso eficiente do biogás. Sendo um fator bastante positivo pois 4 colabora para redução do consumo de energia, dá um destino proveitoso para os dejetos dos animais que vivem na propriedade, melhorando com isso a qualidade de vida dos moradores locais e sem contar com os possíveis ganhos financeiros que podem ser obtidos com a produção e venda de fertilizantes; contribuindo para que o tempo de retorno do possível investimento seja ainda menor. 1.2. Objetivos 1.2.1. Objetivos Gerais Estruturar o dimensionamento de uma instalação para aproveitamento do Biogás produzido em um biodigestor e, concomitantemente, analisar a viabilidade técnica e econômica da implantação dessa proposta para que seja possível a geração de energia elétrica. 1.2.2. Objetivos Específicos Em consonância com o objetivo geral deste trabalho, foram traçados os seguintes objetivos específicos: o Coletar dados sobre a produção de biogás estimada na propriedade em estudo; o Dimensionar a Tubulação de Condução do Biogás; o Definir os equipamentos a serem utilizados numa instalação (filtros/motogerador) para aproveitamento do biogás na produção de energia elétrica; o Analisar a viabilidade econômica do projeto (tempo de retorno do investimento). 5 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Análise da Biomassa na perspectiva Nacional O crescimento populacional, o enriquecimento de países em desenvolvimento e a demanda por alimentos e energia, como destacados inicialmente, torna-se um desafio aos grandes centros de produção e consumo no mundo. Os novos paradigmas relacionados à mitigação de impactos ambientais, destacando-se entre eles a minimização das emissões de gases do efeito estufa, reforçam a necessidade de obtenção de fontes alternativas, limpas e renováveis de energia. O Brasil, diante desse contexto, encontra-se em posição privilegiada, no que se refere à geração de energia elétrica limpa através da biomassa. Fatores como sua ampla extensão territorial considerada continental associada com inúmeras áreas propícias a agropecuária, juntamente com a sua experiência como exportador agrícola acabam sendo fatores preponderantes para um avanço em potencial da biomassa nos próximos anos. Segundo o Portal Brasil (2011), até 2021 as previsões do MME apontam a manutenção da participação das fontes renováveis na matriz de Oferta Interna de Energia nacional (OIE), ficando a biomassa com percentuais superiores a 30%. Em 2021, especificamente, a mesma poderá alcançar 32,4% de participação na matriz energética. Dessa forma, a biomassa vem sendo paulatinamente utilizada na geração de eletricidade, principalmente em se tratando do suprimento de eletricidade para demandas que se encontram isoladas e sem acesso à rede elétrica. De acordo com Nogueira et al., (2000), para que seja possível a determinação da disponibilidade de biomassa é necessária que sejam levadas em consideração restrições de origem ecológica, tecnológica e econômica. As restrições ecológicas estão associadas à qualidade de vida e à preservação do ecossistema. As limitações tecnológicas estão relacionadas à existência ou não de métodos, processos confiáveis e operações que possam garantir a conversão da biomassa em algum combustível genérico. Por fim, as limitações econômicas devem ser observadas sob duas perspectivas. Em um primeiro plano, é trivial averiguar se a biomassa que virá a ser utilizada energeticamente apresenta outros usos que possam ser mais viáveis economicamente; seja na indústria ou no ramo alimentício. Num segundo plano, é importante analisar se os custos investidos na exploração da biomassa são 6 compatíveis com os benefícios energéticos da mesma e comparáveis com os demais combustíveis. Segundo Cortez et al., (2008) as principais biomassas do Brasil são constituídas por resíduos vegetais, resíduos sólidos urbanos, industriais, florestais e, principalmente, animais. O Quadro 01 apresenta um levantamento realizado pelo Banco de Informação de Geração (BIG) a respeito dos empreendimentos para geração de energia vigentes com uso da biomassa. Para tal, foram levadas em consideração informações conjunturais sobre os principais tipos de insumos, a quantidade de empreendimentos de geração em operação e a potência de gerada. Quadro 01. Principais usinas movidas a biomassa por Insumo no Brasil Fonte: Adaptado de BIG (2014). Analisando o Quadro 01 é possível destacar o uso massivo do bagaço da cana-de-açúcar como importante biomassa constituinte da matriz nacional. Conforme Walker (2009), o uso em potencial da biomassa da cana está associado com o desenvolvimento da frota de veículos a álcool, criando-se, dessa maneira, uma alternativa que seja mais promissora e, do ponto de vista ambiental, mais adequada que os derivados de petróleo, através do biodiesel. São Paulo é um dos estados brasileiros que vem despontando na produção do insumo da cana; exportando álcool para todo o país e fazendo da indústria sucroalcooleira ainda mais autônoma e sustentável em energia produzida através dessa fonte biocombustível. 7 Através da Figura 1 é possível observar a evolução dos biocombustíveis ao longo dos últimos anos, em bilhões de litros, no Brasil. Figura 1. Evolução da produção de Biodiesel no Brasil. Fonte: SNA (2015). Além da cana-de-açúcar, torna-se relevante também enfatizar sobre a biomassa presente em resíduos animais. Ainda de acordo com Cortez et al., (2008) a produção de excrementos animais pode variar com as práticas culturais adotadas, afinal, quando se trata de criações em confinamento, o custo e viabilidade da coleta podem ser potencializados. Os mais importantes detritos obtidos pela atividade biológica encontram-se no gado bovino, caprino, ovino e suíno, cujas criações são relevantes e por isso justificam seu aproveitamento energético. Sendo esse último o enfoque desse trabalho; voltado ao potencial da biomassa presente em dejetos suínos. Segundo Miele (2006), no contexto agropecuário brasileiro, a suinocultura configura-se como uma atividade de grande valor econômico, chegando a contribuir com cerca de 1% sob o Produto Interno Bruto (PIB) nacional. De acordo com os dados da Safra&Mercado e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), no ano de 2008 a produção mundialde carne suína alcançou um ápice histórico, com aproximadamente 98,44 milhões de toneladas. (BONFANTE, 2010) 8 Conforme dados do IBGE em 2009, o Brasil ocupava a quinta posição no ranking de maiores produtores mundiais de suínos, ficando atrás somente da China, Estados Unidos, Alemanha e Espanha. (IBGE, 2009). Entretanto, em 2015, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Brasil acabou subindo mais uma posição, passando a ocupar o quarto lugar como produtor e exportador mundial de suínos. (CANAL RURAL, 2015) A Figura 2 ilustra o desenvolvimento da produção brasileira de suínos entre os anos de 2002 a 2008. Figura 2. Produção de Carne Suína brasileira no período entre os anos de 2002 a 2008. Fonte: BONFANTE (2010). Definitivamente, as atividades da agropecuária (voltadas à suinocultura) estão ocupando lugar de destaque na matriz do agronegócio brasileiro. Enfatizando-se sua importância no panorama socioeconômico nacional, estima-se que mais de 730 mil pessoas dependem diretamente da cadeia produtiva da suinocultura brasileira, sendo essa atividade responsável pela renda de mais de 2,7 milhões de pessoas. (ROPPA, 2002 apud GONÇALVES et al., 2006) O desenvolvimento da indústria de proteína animal no Brasil, apesar de promissor, revela alguns fatos preocupantes, principalmente devido ao aumento da produção de dejetos, anualmente chegando ao patamar de 1,36 milhões de toneladas 9 (BLEY JR, 2009). Em sua essência, esses dejetos são constituídos por: (i) fezes e urina de animais, (ii) pêlos e poeira, (iii) resíduos de ração e (iv) água, oriunda do excesso dos bebedouros e da limpeza das instalações. Ressaltando-se que a quantidade e qualidade dos dejetos produzidos variam com relação ao tipo de criação, estação do ano e número de animais. (ALVES, 2007) A tendência crescente para adoção de sistemas produtores de suínos acaba induzindo o lançamento de dejetos em rios e cursos de água, devido a ausência ou inadequações de sistemas que possam realizar o tratamento ou aproveitamento dos detritos, assim, comprometendo a vida aquática e prejudicando a saúde das populações que fazem uso dessa água. (OLIVEIRA, 1993) Conforme Miranda (2005) existem outras problemáticas relacionadas aos dejetos suínos no que se refere ao aumento do nível dos nutrientes no solo: que pode alcançar níveis tóxicos, sendo saturado ao ponto de reduzir a capacidade de absorção de nutrientes e podendo provocar a poluição do ar pela presença de compostos odoríferos (amônia e gás sulfídrico). Uma das maneiras de resolver essa problemática ambiental, aliando-a com a perspectiva energética, dá-se através da digestão anaeróbia. Esta apresenta a vantagem da geração de biogás, que pode ser aproveitado na geração de eletricidade e, ao ser queimado, evita com que gases ainda mais poluentes sejam lançados no ecossistema, cooperando para o efeito estufa. 2.2. O Biogás De acordo com Pecora (2006), o biogás trata-se de uma mistura de gases obtida por intermédio da digestão anaeróbia. Logo, diante desse processo fermentativo haverá consumo da matéria orgânica por bactérias, resultando principalmente na produção de biogás e biofertizantes. 10 2.2.1 Histórico do Biogás Segundo Karlsson et al. (2014), na natureza, o processo mais comum para degradação da matéria orgânica dá-se através da digestão anaeróbia; tendo-se, como consequência, a obtenção do biogás. Em suma, tal processo é evidenciado quando ocorre a quebra de matéria orgânica em ambientes anóxicos ou com pouca concentração de oxigênio (fundo do mar, estuários e pântanos); constituindo sistemas anaeróbios propícios para formação do biogás. Levantamentos históricos apontam que as primeiras iniciativas de teste e uso do biogás datam do século X a.C. e foram realizados pela antiga civilização assíria, hoje a atual região do Iraque, para aquecimento das águas dos banheiros públicos. Similarmente, evidências históricas também atestam que, para a essa mesma finalidade, os persas também fizeram uso do biogás no século XVI a.C. (LUSK, 1998) De acordo com Deublein et al., (2008), existem relatos, considerados ainda mais antigos que comprovam o uso do biogás, por parte dos sumérios, em processos que envolviam limpeza e purificação anaeróbia de resíduos, por volta dos anos 3000 a.C. Buscando estabelecer uma visão cronológica dos fatos, veja a seguir os principais acontecimentos datados sobre as primeiras investigações e estudos científicos a respeito do biogás: i. em 1630, Jean Baptista Van Helmont constatou a existência de gases inflamamáveis que eram obtidos da decomposição de resíduos orgânicos (ABASSI et al., 2012 ); ii. em 1682, quase meio século depois, Boyle conseguiu obervar a possibilidade de obtenção de gases por intermédio de resíduos animais e vegetais (STAFFORD, 1974 apud ONUDI, 2011); iii. em 1776, Alessandro Volta averiguou que havia uma relação existente entre a digestão anaeróbia da matéria e a presença de gás combustível; o mesmo que havia sido chamado de “gás dos pântanos” por seu descobridor, Shirley, em 1659 (STAFFORD, 1980 apud ONUDI, 2011); 11 iv. em 1808, Humphry Davy conseguiu obter metano através do esterco de gado em recipientes fechados de laboratório (TIETJEN,1975 apud ONUDI, 2011); v. em 1884, houve , de fato, a primeira tentativa de produção do biogás. Louis Pasteur conseguiu obter cerca de cem litros (100 L) de biogás através de cem metros cúbicos (100 m³) de esterco de cavalos e água à 35ºc (DEUBLEIN et al., 2008). Ainda de acordo com Karlsson et al., (2014) nas décadas de 50 e 60, os países pioneiros a produzir o biogás e a utilizá-lo, de forma mais intensa como fonte energética, foram a Índia e China. Na década de 70, com a crise energética do petróleo, houve um aumento significativo no preço da energia, e a procura por investimentos em fontes alternativas de geração tornou-se uma necessidade eminente. Dessa forma, acabou sendo estimulado o desenvolvimento da tecnologia de digestão anaeróbia no Brasil. (CAETANO,1995). Ressalta-se que a produção do biogás traz consigo benefícios de ordem social, financeira e ambiental (CIBIOGÁS, 2013): i. á nível social, com a retirada de detritos do meio ambiente, é possível mitigar a presença de odores desagradáveis juntamente com a proliferação de doenças que possivelmente são causadas por animais e insetos atraídos pelos dejetos; ii. na vertende econômica dos fatos, a produção de biogás permite o abastecimento local de energia térmica e elétrica para consumo da propriedade ou empresa, juntamente com lucros obtidos a partir da produção de biofertilizantes; iii. na perpectiva ambiental, o emprego de dejetos animais para geração do biogás permite com que o produtor ou empresário deixe de contaminar rios, açudes, lençóis freáticos e o solo. Evitando que gases de efeito estufa, oriundos da decomposição dos detritos, sejam lançados na atmosfera. 2.2.2 Processos da Digestão Anaeróbia Quando há uma má gestão de resíduos e dejetos, a problemática da poluição ambiental torna-se ainda mais evidente. Diante desse cenário, a tecnologia da digestão anaeróbia torna-se um instrumento viável para redução das cargas 12 poluentes, através da conversão de detritos orgânicos em biogás. Este, ao sofrer queima, demonstra seu perfil energético sendo utilizado para geração de eletricidade ou calor. Assim, a biodigestão anaeróbia acaba proporcionando, por exemplo, melhor aproveitamento dos detritos, com possibilidade de redução de custos com eletricidade e, como enfatizado anteriormente, evitando com que grandes concentrações de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2) sejam lançados para atmosfera, evitando assim a ação de gases de efeito estufa. Além disso, através desse processo fermentativo anaeróbio é possível também obter biofertilizantesricos em nutrientes assimiláveis e com melhor potencial sanitário em relação ao material original, através de um processo controlado em biodigestores.(SOUZA,1984) 2.2.2.1 Fundamentos da Digestão Anaeróbia para obtenção do biogás A digestão anaeróbia trata-se de um ecossistema de diversos grupos de microrganismos que atuam de forma a converter matéria orgânica complexa em metano, gás carbônico, água, gás sulfídrico e amônia, juntamente com a proliferação de novas células bacterianas. (CHERNICHARO, 2007) Diante da ausência de oxigênio molelucar (O2), durante o processo biológico da digestão anaeróbia, alguns microrganismos, com ênfase na ação de bactérias anaeróbias e fungos, é possível com que a materia orgânica solubilizada ou em estado semilíquido (lodo) seja transformada em compostos químicos mais simples como o gás carbônico e o gás metano, componentes fundamentais do biogás. (BELLI, 1995 apud GUSMÃO, 2008) A geração do biogás, principal subproduto da decomposição anaeróbia, desenvolve-se de forma interdependente, simultânea e controlada. Interdependente devido ao fato de que quaisquer alterações ao longo do seu processo de formação podem comprometer todo o procedimento da biodigestão. Controlada, já que essas reações (etapas) acontecem dentro de reatores chamados de biodigestores. Apesar de simultânea, a sequência para obtenção do biogás requer algumas etapas primordiais: Hidrólise, Acidogênese, Acetogênese e Metanogênese (PORTAL DO BIOGÁS, 2016). 13 2.2.2.2 Formação do Biogás Hidrólise Sabendo que os microorganismos não apresentam a capacidade de assimilação da matéria orgânica particulada, assim, a primeira fase da degradação anaeróbia dar-se-á através da hidrólise de polímeros (materiais particulados complexos) em materiais dissolvidos mais simples, constituindo moléculas menores. Ressalta-se que esse processo de conversão de materiais particulados em dissolvidos é obtido por intermédio da ação de exoenxzimas excretadas por bactérias chamadas de fermentativas hidrolíticas. Tratando-se de um processo que geralmente ocorre lentamente (CHERNICHARO, 2007). Acidogênse Através da ação de bactérias fermentativas acidogênicas, os produtos obtidos na hidrólise (compostos orgânicos simples) sofrerão uma fermentação ácida dos no interior de microorganismos, gerando como resultado ácidos orgânicos e voláteis, como os ácidos propanóico, butanoico e lático, bem como álcoois. (BELLI, 1995 Apud FALCÃO et al., 2008) Acetogênese Na terceira etapa, acetogênese, as bactérias acetogênicas realizarão a oxidação de compostos orgânicos intermediários, como butirato e propionato, em substrato apropriado para os microorganismos metanogênicos. A existência dessas bactérias está condicionada a atividade de microorganismos consumidores de hidrogênio (CHERNICHARO, 2007). Para manutenção do equilíbrio nessa fase, as concentrações de hidrogênio (H2) nas reações precisam ser controladas. Altas concentrações não oferecem condições ideais para que os processos bacterianos acetogênicos consigam converter os ácidos orgânicos que foram gerados na fase anterior, acidogênese. Assim, a ação de redução das cargas de hidrogênio será realizada pelas bactérias da metanogênese, que conseguem processar o dióxido de carbono, hidrogênio e ácido acético em metano e gás carbônico (PORTAL DO BIOGÁS, 2016) 14 Metanogênese De acordo com Chernicharo (2007), por intermédio da ação de microrganismos metanogênicos, chamados de arqueas metanogênicas. Nessa fase, considerada o final do processo de conversão anaeróbio, dar-se-á a transformação de compostos orgânicos e hidrogênio em metano e dióxido de carbono, principais constituintes do biogás. Segundo Solera (2008) cerca de 70% de metano é produzido nessa etapa. Sulfetogênese A obtenção de sulfetos é um processo em que compostos a base de enxofre e o sulfato acabam sendo utilizados como aceptores de elétrons durante a ocorrência da oxidação de compostos orgânicos. Assim, os compostos sulfurados, como sulfatos e sulfitos, são reduzidos a sulfeto por meio da ação de bactérias sulforedutoras. As espécies desse grupo de bactérias apresentam em comum a capacidade de utilizar uma ampla gama de substratos, como toda a cadeia de ácidos orgânicos voláteis, etanol, metanol e outros. (CHERNICHARO, 2007). Lembrando que todos esses processos descritos podem acontecer naturalmente, mas também de forma controlada, com seus recursos sendo captados para utilização, através de biodigestores. A Figura 3 apresenta, esquematicamente, o processo da biodigestão anaeróbia da matéria orgânica. 15 Figura 3. Esquema da digestão anaeróbia para geração do biogás. Fonte: CHERNICHARO (2007). 2.2.2.3 Fatores que influenciam na digestão anaeróbia Resumem-se a seguir os principais parâmetros da digestão anaeróbia relacionada à geração de biogás: a) Temperatura: segundo Junior (2000), a atividade enzimática bacteriana está diretamente associada às variações de temperatura, afinal, alterações bruscas podem comprometer o equilíbrio das culturas envolvidas, com ênfase maior nas bactérias responsáveis diretamente pela formação de metano. Ressalta-se que, na faixa de aproximadamente 10ºC a ação das bactérias é lenta, e para valores superiores a 65ºC, suas enzimas, por conta do calor excessivo, acabam sendo destruídas. Assim, a faixa ideal para formação do biogás é de cerca de 32ºC a 37ºC nos biodigestores; 16 b) Potencial hidrogeniônico (pH): a atuação do pH é de fundamental importância para o controle e operação adequados da biodigestão anaeróbia. Em termos numéricos, o pH considerado ótimo para digestão anaeróbia (na geração de metano) pode variar no intervalo entre 6.6 - 7.4; podendo até mesmo alcançar estabilidade em um limite ainda mais amplo entre 6.0 - 8. É importante reforçar que, valores de pH, inferiores a 6 e superiores a 8.3, e mudanças bruscas (choques de pH) devem ser evitados já que podem inibir a ação de microrganismos formadores de metano. Apesar da produção de metano ser interrompida pelo baixo índice de pH, a produção de ácidos num reator pode continuar livremente, acarretando o azedamento do conteúdo no interior do mesmo e trazendo falhas ao processo. Assim, controlar o pH diz respeito, principalmente, a impedir a inibição da ação dos microrganismos metanogênicos (CHERNICHARO, 2007); c) Quantidade de Água: para manutenção de um estado ótimo das operações de decomposição num biodigestor, o teor de água deve variar numa faixa entre 60 a 90% do peso do conteúdo total da biomassa em decomposição (JUNIOR, 2000); d) Substrato: Segundo Pecora (2006), os substratos com potencial nutritivo devem constituir-se como fonte de alimento e de elementos químicos importantes para constituição do material celular e necessários a ação enzimática de microrganismos; a exemplo, destacam-se zinco, cobalto, cobre, manganês. Entretanto, em grandes concentrações, tais elementos podem realizar ação de inibição sobre os processos de fermentação por azedar a biomassa. 2.2.3 Composição do Biogás Como visto, o biogás, considerado uma mistura gasosa, pode ser gerado naturalmente, basicamente em ambientes anóxicos pela ação bacteriana sob a matéria orgânica. Entretanto, por intermédio da ação antrópica, esse processo natural pode ser maximizado com uso de equipamentos especialmente planejados que aceleram as reações de decomposição, os biodigestores, para que também seja 17 possível a obtenção do biogás. Neste segundo caso, as concentrações dos gases que formam o biogás podem variar em função de alguns parâmetros, como tipo de reator e substrato a ser digerido. É importante ressaltar que o potencial energético do biogás está estritamente associado com a concentração de metano em sua composição. Dessaforma, quanto mais rico for o biogás, maior será a concentração de metano sob o mesmo (FALCÃO et al., 2008). Os principais constituintes do biogás são o metano e o dióxido de carbono, no qual em média de 50 a 75% do volume total é composto de metano (CH4) e os 25 a 40% do restante do volume total basicamente de dióxido de carbono (CO2). Outros componentes, como o ácido sulfídrico (H2S), vapor de água (H2O), nitrogênio (N2), hidrogênio (H2) e amoníaco (NH3) também fazem parte do biogás, no entanto, em menores concentrações. Ressalta-se, no entanto, que tais valores percentuais podem variar dependendo do tipo de matéria orgânica e dejeto empregado (PORTAL DO BIOGÁS, 2016). O Quadro 02 apresenta um levantamento do volume médio percentual dos gases constituintes do biogás: Quadro 02. Composição Média do Biogás. Componentes Teor de Volume % Metano (CH4) 50 a 80 Dióxido de Carbono (CO2) 25 a 50 Hidrogênio (H2) 1 a 3 Nitrogênio (N2) 0,5 a 2,5 Gás Sulfídrico (H2S) 0,1 a 0,5 Amônio (NH3) 0,1 a 0,5 Monóxido de Carbono (CO) 0 a 0,1 Água (H2O) Variável Oxigênio (O2) 0,1 a1 Fonte: PINTO (2006) apud FALCÃO et al. (2008). Dentre os gases destacados no Quadro a acima o gás sulfídrico deve ser analisado com mais cautela e rigor. Afinal, este acaba trazendo problemáticas quanto 18 a viabilização da produção de energia, ocasionando a corrosão nos sistemas de condução do biogás e reduzindo a vida útil do grupo moto-gerador. (MAGALHÃES, 1986) Dependendo do tipo de biomassa, o aumento ou não da produção de metano, que torna a geração do biogás mais eficiente, pode variar. Testificando-se tal assertiva, têm-se no Quadro 03 algumas biomassas utilizadas na geração do biogás e seus respectivos volumes percentuais de metano, gás carbônico e ácido sulfídrico. Quadro 03. Composição Média do Biogás em Diferentes Biomassas. Fonte: LINS et al., (2015). 2.2.4 Purificação e Limpeza do Biogás O intuito primordial de realizar-se a purificação do biogás está diretamente associado com a necessidade de elevação do potencial energético do mesmo, somada com a possibilidade de aumento da vida útil da instalação responsável pela condução dos fluidos para geração de energia. De forma didática, o processo de limpeza consiste, essencialmente, em separar o metano dos demais componentes do biogás, como descritos anteriormente, gerando aumento do poder calorífico do mesmo e mitigando prováveis danos aos equipamentos da instalação (SILVA, 2009). Segundo França Jr (2008), a fim de se evitar irregularidades nos componentes internos do motor e da tubulação, o biogás precisa passar por um processo de limpeza que deve ser constituído basicamente por dois compartimentos instalados ao longo Análise da Composição de Biogás através de DIFERENTES Biomassas Biomassa Residual (efluente) CH4 - % CO2 - % H2S - ppm Amidonaria (mandioca) 53,4 44,9 97,0 Bovinocultura Leiteira 59,6 39,1 329,3 Misto (aves de postura + bovinocultura de corte) 69,2 28,8 64,1 Abatedouro de Aves 68,2 29,6 1.897,1 Suinocultura - Terminação 65,0 35,0 2.782,3 Suinocultura - Produção de Leitões 68,4 30,6 1.309,1 19 da linha de captação do gás, e sendo destinados a extrair o máximo possível de umidade e ácido sulfídrico do processo. A umidade pode ser removida, por exemplo, através de filtros “dessumidificadores” compostos por sílica gel azul. Esta atua como uma espécie de indicador; pois uma vez que satura, muda de coloração, informando visualmente a necessidade de troca, manutenção. Ressalta-se que, quando a finalidade de implementação do biogás for geração de energia elétrica, a remoção da água ao longo do procedimento é imprescindível para que não ocorra problemas funcionais no moto- gerador; responsável em converter o potencial energético do biogás em energia mecânica e, finalmente, em elétrica (FRANÇA JR, 2008). França Jr (2008) também comenta sobre a relevância na redução das concentrações de ácido sulfídrico. Nessa fase, o filtro chamado de “dessulfurizador”, em virtude da retirada de enxofre, pode ser composto por cavacos ou limalhas de ferro, em outras palavras, pelo óxido férrico (palhas de aço). A remoção do enxofre também é importante pois, devido à ação corrosiva do mesmo, as estruturas da tubulação e do motor podem ser comprometidas, ocasionando possíveis vazamentos e, consequentemente, diminuindo a vida útil da instalação e do potencial de geração energético. Há também filtros para redução das concentrações de gás carbônico, chamados de “descabonizadores”. Segundo Craveiro (1982), a mitigação das concentrações de gás carbônico também é trivial, uma vez que se operam com pressões elevadas, grandes quantidades de gás carbônico podem ser absorvidas pela água, tornando-a ácida. O que gera um problema no momento de descarte da mesma que se mistura com o material orgânico. A eficiência da implementação de um sistema para purificação do biogás é comprovada mediante uma análise que demostre o decréscimo das concentrações de água, enxofre e gás carbônico. O Quadro 04 apresenta uma exemplificação da relação entre a composição geral do biogás antes e após o processo de purificação realizado por Pecora (2006). 20 Quadro 04. Composição típica do biogás Produzido e Purificado. Fonte: PECORA (2006). 2.2.5 Poder Calorífico e Equivalências Energéticas Também conhecido como calor de combustão, poder de queima ou simplesmente, potência calorífica, segundo Costa (2006), o poder calorífico é uma das características mais imprescindíveis para a análise da qualidade e de utilização de um gás; representando, dessa forma, a quantidade de energia que é liberada durante processos de combustão completa de uma unidade de massa ou de volume de gás. Havendo a queima do combustível, processo chamado de combustão, haverá formação de água que poderá encontrar-se em estado líquido ou gasoso, em virtude dessa reação de queima na presença de hidrogênio. Assim, quando a água formada na combustão se condensa é possível obter o poder calorífico superior (PCS), mas se a água estiver no estado gasoso será obtido o poder calorífico inferior (PCI). Em consequência disso o biogás também terá ambos os poderes caloríficos. Analisando a concentração de metano no biogás, o poder calorífico do mesmo pode então variar de 4,95 a 7,92 kWh/m³ respectivamente para o poder calorífico inferior e superior; ressaltando-se que após tratamentos de purificação o poder calorífico do biogás poderá alcançar valores ainda maiores que os determinados anteriormente (COSTA, 2006). Compostos Químicos % de Volume do biogás Gerado % de Volume do biogás Purificado Metano (CH4) 50 a 80 % 80,80% Dióxido de Carbono (CO2) 20 a 40 % 4,07% Hidrogênio (H2) 1 a 2 % 0,00% Nitrogênio (N2) 0,5 a 2,5 % 13,20% Gás Sulfídrico (H2S) 1 a 2 % 0,06% Água (H2O) 1 a 2 % 0,98% Oxigênio (O2) 0,1 a1 % 0,89% TOTAL 100% 100% 21 Além da análise do poder calorífico, o estudo sobre as equivalências energéticas também é importante para que seja possível dimensionar uma instalação para aproveitamento do biogás como combustível gerador de eletricidade. No Quadro 05 tem-se uma correlação entre a quantidade de dejetos produzidos por animais semi-estabulados com a quantidade de metros cúbicos de biogás produzidos pelos detritos dos mesmos, considerando a análise para um animal de cada espécie. Quadro 05. Relação entre a produção de dejetos e gás. Material (Esterco) Kg de Dejetos/dia M³ de gás/kg de Dejetos M³ de gás/animal/dia Aves 0.09 0.055 0.0049 Bovinos 10.00 0.040 0.4000 Equinos 6.50 0.048 0.3100 Ovinos 0.77 0.070 0.0500 Suínos 2.25 0.064 0.1440 Fonte: FARRET (2010). Analisando-se o Quadro 05 pode-se presumir que, para a obtenção de um metro cúbico (1 m³) de biogás através da utilização de dejetossuínos, seriam necessários uma média de aproximadamente 15,6 quilogramas (kg) de esterco. Já o Quadro 06 apresenta uma comparação das equivalências energéticas existentes entre um metro cúbico (1 m³) de biogás e outros combustíveis. Quadro 06. Comparação energética entre o biogás e outros combustíveis. Combustíveis 1 m³ de biogás equivale a Gasolina 0,61 litros Querose 0,579 litros Óleo Diesel 0,553 litros Gás de Cozinha (GLP) 0,454 litros Lenha 1,536 Kg Eletricidade 1,43 kWh Álcool hidratado 0,790 litros Fonte: BARRERA (2003). 22 Assim, ligando as informações dos Quadros 05 e 06 pode-se constatar que, para 15,6 kg de esterco suíno, tem-se a produção de 1 m³ de biogás que, convertido em eletricidade, equivale a 1,43 kWh (quilowatt hora) teoricamente. Essas análises serão importantes para fazer o levantamento da quantidade de insumos combustíveis que a propriedade (a ser analisada) irá fornecer para que se possa realizar a correta escolha do moto-gerador. Em função das perdas no moto-gerador, esse valor estará sujeito a redução e mudanças. 2.2.6 Possibilidades para aproveitamento do Biogás De acordo com Deléo et al., (2009), existem inúmeras rotas alternativas para que se possa realizar o aproveitamento energético do biogás à nível industrial, residencial e rural. Segundo Silva (2009), uma das possibilidades de realizar o aproveitamento do biogás gerado em aterros seria através da injeção do mesmo à rede de gás natural. Dessa forma, podendo ser utilizado não só à nível industrial, mas também residencial e permitindo o acionamento de fogões. A usualidade do biogás está estritamente associada a concentração de metano (CH4) sob o mesmo. Como já visto, o metano, dentre os demais componentes do biogás, acaba sendo o que mais agrega valor energético. A Figura 4 apresenta um demostrativo das formas de uso do biogás estabelecendo um comparativo com as concentrações de metano. (PORTAL DO BIOGÁS, 2016). 23 Figura 4. Formas de aplicação do biogás. Fonte: PORTAL DO BIOGÁS (2016). O biogás também pode ser utilizado sob a forma de calor, por exemplo, no aquecimento de caldeiras ou de demais outros processos industriais que requeiram vapor d’água ou água em temperaturas elevadas em seu sistema operacional. 2.2.6.1 Análise de Motores e Ciclos Termodinâmicos A fim de compreender melhor os processos de aproveitamento energético, é indiscutível o entendimento sobre o funcionamento dos motores envolvidos nas tecnologias de conversão do biogás. Segundo Iclei (2009), o equipamento mais difundido para queima do biogás, devido ao seu rendimento elétrico e custo, quando comparado a outras tecnologias de conversão, são os motores de combustão interna, ou simplesmente, motor ciclo Otto. Esses motores são chamados de quatro tempos, uma vez que seu funcionamento é decorrente da ação sequenciada de quatro etapas. a) Admissão (1º tempo): Nessa fase, a abertura da válvula de admissão permite com que seja injetada, na câmera de combustão, a mistura ar- 24 combustível, enquanto o pistão se move aumentando o tamanho no interior da câmara. b) Compressão (2º tempo): Nesse segundo momento, a válvula de admissão fecha, e o pistão move-se de forma a comprimir a mistura. c) Combustão (3º tempo): Ao término da compressão, uma centelha lançada, pela vela de ignição, no sistema gerando a explosão da mistura e consequente expansão dos gases quentes oriundos da reação. d) Exaustão (4º tempo): Nessa última etapa, haverá a abertura da válvula de escape, permitindo a liberação dos gases pelo pistão. A Figura 5 apresenta um descritivo, passo a passo, do processo de funcionamento de um motor de combustão interna que trabalha em Ciclo Otto. Figura 5. Esquema de funcionamento do motor ciclo Otto. Fonte: Adaptado de INFOMOTOR (2009). 2.2.6.2 Aplicação do biogás na produção de eletricidade com motores Otto Uma vez que são analisados alguns parâmetros principais, destacando-se a vazão gasosa e especificações sobre a composição química e poder calorífico, torna- se possível determinar o potencial energético do biogás, como fonte primária de energia, oriunda da ação bacteriana em condições anóxicas nos biodigestores. 25 Basicamente, através de um processo de combustão controlada, a conversão da energia química contida no biogás em energia mecânica aciona turbinas acopladas a um sistema composto por moto-gerador, havendo geração de energia elétrica. Esta pode ser utilizada para consumo da propriedade local ou lançada na rede, através da comercialização de excedentes para a concessionária de energia, constituindo um sistema de geração distribuída. Iclei (2009) informa, como exemplo do uso de motores ciclo Otto na geração de eletricidade, a operação de duas grandes centrais térmicas que são movidas à biogás, no estado de São Paulo. Uma delas encontra-se no Aterro Sanitário Municipal Bandeirantes. Nesse aterro foram implementados 24 grupos geradores, constituídos de motores ciclo Otto importados e acoplados a geradores, com capacidade total de geração de 22 MW. A outra térmica, situada no Aterro Sanitário São João, também apresenta potencial de geração equivalente ao Aterro Bandeirantes, com 22 MW. Segundo Brunetti (2012) é importante destacar algumas vantagens são inerentes aos motores de combustão interna de ciclo Otto quatro tempos: Suavidade de Funcionamento; Diversidade de Fornecedores e Equipamentos; Custo Inicial Baixo; Sistemas de Controle Simples e Baratos. 2.2.6.3 Aproveitamento do biogás na perspectiva da cogeração Quando analisados os sistemas convencionais de geração de energia, os mesmos atingem cerca de 30 a 40 % da energia presente no combustível para gerar eletricidade, conforme a Figura 6. O restante desse potencial energético, que constitui cerca de mais da metade desse percentual, acaba sendo desperdiçado, configurando perdas (BARROS, 2015). 26 Figura 6. Balanço energético de um sistema convencional. Fonte: BARROS (2015). A cogeração, de forma didática, trata-se de um sistema em que se permite obter energia elétrica e calor por intermédio de uma mesma fonte energética, aumentando a eficiência do sistema e, consequentemente, trazendo mais economia e melhor aproveitamento da fonte geradora, o combustível. Assim, através da queima de um combustível, no caso, o biogás, obtêm-se calor e eletricidade, reduzindo-se significativamente as perdas dos sistemas, atingindo uma eficiência global e, em alguns casos de até 90% em comparação com a energia total presente no combustível (BARROS, 2015). Figura 7.Balanço energético de um sistema de cogeração. Fonte: BARROS (2015). 27 Logo, observa-se que o calor, antes dissipado, é recuperado dos gases de escape, produzindo vapor e água quente, podendo ser aproveitados em processos comerciais e industriais gerando benefícios e utilidades, onde principalmente destacam-se (BARROS, 2015): Aquecimento de água e de demais fluidos; Secagem de produtos; Aquecimento de Ambientes através do Ar quente; Ser enviada para um Chiller de absorção para geração de Ar frio. Além do alto desempenho, com a mitigação de desperdícios, a cogeração tem um caráter descentralizador, uma vez que precisa estar próxima da unidade consumidora. Assim, o impacto ambiental fica reduzido, já que não há necessidade de linhas de transmissão extensas e suas consequentes infraestruturas (BARROS, 2015). 2.2.6.4 Aproveitamento do Biogás como Biocombustível O crescimento da frota de veículos movidos a biocumbusíveis já é uma realidade irrefutável. Entratanto, para que o biogás possa ser utilizado em redes à base de gás natural, como combustível veicular sob forma de Gás Natural Veicular (GNV)ou até mesmo por industrias sob as formas de Gás Natural Comprimido (GNC) e Gás Natural Liquefeito (GNL) é necessário que o biogás atravesse por filtros de purificação, como já descritos anteriormente, a fim de que se retire principalmente a umidade, os sulfetos de hidrogênio e também o dióxido de carbono. Através desses processos de purificação, impurezas serão mitigadas, gerando, através do biogás, o biometano. Para alcançar o nível de biometano, a concentração de metano no biogás deve permear por cerca de 95% da concentração total. Logo, sendo essa concentração um parâmetro para estipular a qualidade do biometano (PORTAL BIOGÁS,2016). 28 2.3. Biodigestores 2.3.1 Análise Geral Segundo Nogueira (1986), uma das primeiras evidências e relatos da implantação de sistemas que se propõem a utilizar biodigestores datam do ano de 1857, em Bombaim na Índia. Esse primeiro biodigestor foi construído com o objetivo de gerar gás combustível para suprir um hospital de pessoas portadoras de hanseníase. Portanto, tornando a tecnologia dos processos de biodigestão através do uso de biodigestores, uma prática difundida há exatos 160 anos. Com a primeira crise do petróleo (1970), muitos órgãos de pesquisa buscaram saídas para resolver ou, ao menos, amenizar a conjuntura energética que necessitava de meios para suprir a demanda por eletricidade na época. Motivados pela busca por fontes alternativas de energia e pelos exemplos bem-sucedidos verificados na China e Índia, optou-se por investir na tecnologia dos biodigestores no Brasil e no mundo, principalmente no começo da década de 1980. Outro motivo que acentuou os investimentos em biodigestores diz respeito a questão sanitária. Afinal, até a década de 1970, a grande maioria dos processos de tratamento biológico no de esgoto eram somente aeróbios, ou seja, utilizando oxigênio para degradar dejetos orgânicos (SARAVANAN et al., 2006). Apesar da necessidade de políticas e investimentos governamentais que possibilitem um melhor aproveitamento do biogás, em se tratando do Brasil, o Nordeste, devido às temperaturas elevadas e praticamente constantes ao longo do ano, torna-se a região mais propícia para instalação dos biodigestores. Segundo Farret (2010), para que a decomposição anaeróbia ocorra de forma eficiente dentro de biodigestores, a temperatura correta de operação deve ser superior a 30ºC, e aproximando-se mais exatamente de 35ºC. Nas cidades frias das regiões sudeste e sul, de clima temperado subtropical, a temperatura de operação nos biodigestores é claramente menor do que a verificada no Nordeste, podendo ocorrer, dessa forma, uma diminuição no rendimento da produção de biogás, via biodigestor, em até 30% (LIMA, 2007). 29 Segundo Comastri Filho (1981), o biodigestor trata-se de uma câmara que é hermeticamente fechada de fermentação, também chamado de tanque de fermentação ou reator, sendo o local onde a biomassa (dejeto orgânico) atravessa os processos da biodigestão, por ação de bactérias anóxicas (atuam em ambientes com baixos percentuais de oxigênio ou na ausência completa do mesmo). Esse processo de biodigestão é constituído pelas cinco etapas da microbiologia da digestão anaeróbia (hidrólise, acidogênese, acetogênese, metanogênese e sulfetogênese); obtendo-se como resultado final a produção de biogás. Assim, os biodigestores geralmente são construídos sob a forma de tanques circulares e instalados abaixo do nível do solo com a finalidade de buscar mitigar as oscilações de temperatura; afinal, variações bruscas de temperatura podem inibir a ação das bactérias reduzindo ou cessando a produção de biogás. Uma vez compreendida as etapas da microbiologia da digestão anaeróbia que acontecem no interior do biodigestor, entender o funcionamento do mesmo torna-se bastante simples. Segundo Moraes (1980), primeiramente o esterco animal é exposto a um processo pré-fermentativo aeróbio, em outras palavras, de forma preliminar, a digestão dos dejetos acontece na presença do ar atmosférico, dessa forma, havendo a proliferação das bactérias aeróbias. Diante dessa realidade, a maior parte do oxigênio dissolvido nos detritos é lançado ao meio ou consumido por essas próprias bactérias, viabilizando, dessa forma, o posterior desenvolvimento das bactérias anaeróbias. Via tubulação, os resíduos orgânicos (esterco e urinas de animais) são conduzidos ao biodigestor para que ocorra a biodigestão anaeróbia. Este processo acontece, principalmente, na ausência de oxigênio e na presença de água (umidade). O grupo de bactérias anaeróbias que sintetizam a matéria orgânica encontram-se naturalmente no intestino e no estômago dos animais; e sendo as bactérias denominadas metanogênicas as mais importantes do processo. Afinal, as mesmas conferem potencial energético ao biogás, transformando hidrogênio, dióxido de carbono e ácido acético em metano e dióxido de carbono; podendo ser, então, armazenado em gasômetros e utilizado na produção de energia, calor e biofertilizantes (MORAES, 1980). 30 Figura 8. Esquema básico do funcionamento de um biodigestor. Fonte: COELHO (2012). 2.3.2 Tipos de biodigestores Analisando os biodigestores quanto ao abastecimento de biomassa (insumo), o mesmo pode ser classificado sob dois sistemas básicos: o contínuo e o intermitente (ou batelada). O contínuo é bem mais apropriado para a maior parte das biomassas, funcionando com abastecimentos diários ou periódicos, descarregando a massa já fermentada e sendo também mais simples no ponto de vista construtivo. Em sistemas contínuos, afim de evitar a formação de crostas no interior do biodigestor, a matéria orgânica pode até mesmo ser diluída ou triturada antes de ser injetada no mesmo. Já os reatores que trabalham em sistemas intermitentes são mais voltados a biomassas cujo material orgânico é de lenta decomposição aliada ao longo período de produção de biogás. Assim, nesse último sistema, a carga de biomassa é recebida totalmente no biodigestor, e só é retida até que seja finalizado o processo da biodigestão (período que pode durar entre 40 a 60 dias); sendo posteriormente realimentado e construído com grandes dimensões (GASPAR 2003). 31 2.3.2.1 Biodigestor Chinês O biodigestor Chinês é de abastecimento contínuo e, como o próprio nome sugere, foi desenvolvido na China. Assim, trata-se de um dos biodigestores cuja tecnologia simples por ser pioneira, é de literatura e conhecimento bastante difundidos. A construção do biodigestor chinês é feita em alvenaria. O mesmo foi desenvolvido para ser um projeto barato e que, ao mesmo tempo, economizasse espaço. Sendo assim, o modelo chinês é enterrado totalmente no solo. O reator em análise é constituído por uma câmara de alvenaria em formato cilíndrico aonde ocorre a fermentação e com teto impermeável, que é destinado ao armazenamento do biogás (DEGANUTTI et al., 2002). Esse modelo funciona com base no princípio de prensa hidráulica. Dessa forma, os aumentos de pressão, que são resultantes do acúmulo do biogás, acabam ocasionando o deslocamento do efluente da câmara de fermentação para a caixa de saída e, em casos de descompressão, o mesmo acontece só que em sentido contrário. Ressalta-se que, geralmente, uma certa quantidade do gás formado na caixa de saída acaba sendo lançada para atmosfera, dessa forma, havendo uma diminuição da pressão interna do gás e fazendo com que o modelo chinês não seja aplicado a sistemas cuja instalação são de grande porte (DEGANUTTI et al., 2002). A Figura 9 representa um modelo do biodigestor chinês. 32 Figura 9. Biodigestor modelo chinês. Fonte: DEGANUTTI et al., (2002). 2.3.2.2 Biodigestor Indiano Esse biodigestor contínuo, também chamado de biodigestor com campânula flutuante, é caracterizado porser constituído de uma câmara de digestão e de um depósito de gás móvel, caracterizando-se por apresentar uma campânula com gasômetro, a qual pode estar imersa sobre a biomassa em processo de fermentação e uma parede central que divide o tanque de fermentação em duas câmaras. Fundamentalmente, a função dessa parede divisória é fazer circular o material em decomposição pelo interior da câmara. Uma das características importantes desse modelo é a possibilidade de operar com pressão constante. Afinal, a medida que o gás é gerado e não é consumido de forma imediata, o gasômetro tende a deslocar-se na vertical, gerando aumento do volume do biodigestor, e fazendo com que a pressão no interior do mesmo se mantenha constante (DEGANUTTI et al., 2002). Os resíduos orgânicos que alimentam esse biodigestor não devem apresentar uma concentração muito grande de resíduos sólidos, afinal a circulação da matéria dever ser facilitada para que não ocorra possíveis entupimentos nas canalizações de entrada e saída dos dejetos. Construtivamente trata-se de um modelo simples; 33 entretanto, o gasômetro metálico e a distância do biodigestor à propriedade podem encarecer o transporte e inviabilizar a implantação desse modelo em que a automação é quase inexistente, sendo o controle do processo desenvolvido quase que totalmente de forma natural (MACHADO, 2013). A Figura 10 representa um esquema do biodigestor indiano. Figura 10. Biodigestor modelo indiano. Fonte: FRANÇA JR. (2008). 2.3.2.3 Biodigestor batelada Os biodigestores modelos batelada operam de forma descontínua ou intermitente. Em outras palavras, os mesmos são alimentados uma única vez, com grandes quantidades de matéria orgânica, sendo fechados hermeticamente por um certo período de tempo conveniente (que pode chegar em até 60 dias) para que ocorra a fermentação anaeróbia. Após o período descrito, a produção de biogás começa a declinar, informando, assim, que o insumo orgânico foi decomposto e, dessa forma, já sendo possível fazer a retirada de cerca de 80% da matéria orgânica restante, que será destinada para usos com fertilizantes. Os 20% dos detritos orgânicos finais mantêm-se no biodigestor como uma fonte a mais de fornecimento necessários para ação bacteriana nos processos de decomposição que serão vistos na próxima batelada (COELHO, 2012). Trata-se de um sistema de biodigestão simples, apresentando pouca exigência operacional. Sua instalação é básica, podendo ser representada somente por um 34 tanque anaeróbio, ou mesmo, vários conectados em série. Não há aberturas de entrada e saída dos dejetos orgânicos, afinal, o reabastecimento só é realizado quando a decomposição anaeróbia da primeira leva de dejetos foi concluída (DEGANUTTI et al., 2002). A Figura 11 apresenta um esquema do biodigestor tipo batelada. Figura 11. Biodigestor Modelo Batelada. Fonte: OLIVEIRA (2006). 2.3.2.4 Biodigestor Canadense O biodigestor canadense, também conhecido como modelo da marinha ou tubular, é uma das tecnologias de biodigestores mais comumente aplicáveis, principalmente em granjas de produção de suínos. Trata-se de um modelo horizontal, ou seja, tem menor profundidade, sendo mais largo que os demais biodigestores, com sentido de fluxo tubular. Logo, devido a esse carácter construtivo, apresenta grande área de exposição ao sol que, em climas quentes, contribui significativamente para a produção de biogás, tornando mais ativa ação de bactérias anóxicas por conta da elevação de temperatura. (CASTANHO et al., 2008) A Figura 12 apresenta um esquema simplificado de um biodigestor canadense. 35 Figura 12. Biodigestor modelo canadense de uma pequena propriedade rural. Fonte: TORRES et al. (2013). Esse biodigestor tubular é constituído de uma caixa de entrada em que são conduzidos os detritos oriundos das unidades criadoras (pocilgas); uma câmara de fermentação subterrânea revestida com material impermeabilizante; uma campânula superior construída com lona plástica escura ideal para reter o gás produzido; uma caixa de saída por onde atravessa o material efluente final; um registro para saída do biogás e um queimador. Assim, o gasômetro desse modelo de biodigestor acaba sendo do tipo plástico maleável, inflando como um balão conforme o biogás é produzido. Para que o gás saia do biodigestor com pressão suficiente para ser utilizado, costuma-se colocar sacos de areia e pedras sobre o gasômetro. Ressalta- se que, por questões de segurança, esse biodigestor deve estar cercado e com seus arredores continuamente limpos, assim, oferecendo um menor risco de que ocorram furos na lona da campânula (PEREIRA et al., 2009). Uma vez que a manta é utilizada como gasômetro e conferindo uma baixa pressão à mistura gasosa, a distância máxima que separa o biodigestor ao posto de consumo do mesmo (sistema moto-gerador) não deve exceder 50 metros. Assim, em casos específicos da necessidade de altas pressões, solicita-se o uso de compressores para tal (OLIVEIRA et al., 2006). Atualmente, o biodigestor canadense trata-se do modelo mais utilizado no Brasil, principalmente por conta do aperfeiçoamento da manta, ou lona, que é 36 impermeável e confeccionada em Policloreto de Vinila (PVC). A mesma oferece aos sistemas que fazem uso desse modelo um menor custo de implantação aliado com melhor facilidade de implementação da instalação; isso quando comparados aos modelos antigos indiano e chinês. Outras vantagens desse tipo de tecnologia seriam a maior resistência a corrosão, devido à chuva e ação do ácido sulfídrico presentes na mistura gasosa, além da possibilidade de ser um sistema que possa ser implementado tanto em grandes quanto em pequenos projetos que visam a produção de biogás (PRATI, 2010). 2.4. Tubulações para Condução do Biogás Para que seja possível analisar a viabilidade técnica de um projeto que faça o uso eficiente do biogás, torna-se necessário analisá-lo de forma global. Assim, além dos processos de geração e de conversão do mesmo em eletricidade, também é necessário estudar e averiguar as melhores propostas para condução do biogás nos chamados biogasodutos. Conforme Godoy et al (2011), ainda não existem normas específicas e destinadas a desenvolver e executar projetos que realizem a coleta e distribuição do biogás; sejam voltados à geração distribuída ou autônoma. Dessa forma, acaba existindo uma carência de normatizações que possam estabelecer padrões e critérios mínimos necessários para a correta otimização dos sistemas de condução do gás. É importante ressaltar que, em virtude do desenvolvimento dos programas nacionais como Proálcool e o Probiodiesel, é apenas uma questão de tempo a inserção de um programa voltado especificamente ao biogás, e dessa maneira, fazendo com que sejam estabelecidas orientações que balizem no dimensionamento de tubulações para o aproveitamento do biogás. Segundo Bley Jr (2009), é essencial o investimento em estudos e projetos de viabilidade técnica e econômica que estabeleçam padrões de dimensionamento mínimos e que levem, em consideração cada tipo de criação animal e região do país. Uma vez que seja disseminada a prática de geração energia através do biogás, isso poderá acarretar uma descentralização de equipamentos, conhecimento e 37 tecnologias, contribuindo para a geração de renda e emprego, seja em âmbito rural ou urbano no país. Após uma análise desenvolvida por Godoy et al; (2011) em inúmeros empreendimentos agroindustriais que utilizam o potencial energético do biogás, verificou-se que as tubulações destinadas à condução do mesmo apresentavam sérios problemas estruturais. As tubulações, constituídas em PVC rígido ao reagir como o metano, inchavam, gerando perda da ductibilidade
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