Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá OBJETIVOS • CONHECER AS MEDIDAS DE SANEAMENTO BÁSICO DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA PARA SITUAÇÕES DE DESASTRES NATURAIS, COM FOCO EM ENCHENTES • CONHECER QUAIS SÃO AS DOENÇAS QUE MAIS OCORREM EM DESASTRES NATURAIS, COM FOCO EM ENCHENTES • CONHECER AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO INDIVIDUAIS E COLETIVAS DE DESASTRES NATURAIS MEDIDAS DE SANEAMENTO BÁSICO DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA PARA SITUAÇÕES DE DESASTRES NATURAIS INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES Os desastres naturais predominantes no Brasil estão associados às inundações, vendavais, granizos, escorregamentos, secas e estiagens. Desses, as inundações são as mais incidentes As inundações ocorrem quando há transbordamento de água da calha normal de rios, mares, lagos e açudes, ou pelo acúmulo de água por drenagem deficiente após chuvas intensas e concentradas. Elas podem ser: • Graduais • Intensas e bruscas (enxurradas) • Alagamentos • Chuvas intensas (subtipo de desastre meteorológico) Uma característica relevante das inundações é a capacidade de acometer grandes áreas e poder ocorrer em qualquer região, estado e município do país → pode causar óbitos, traumas, alterações no comportamento de doenças, prejuízos ao patrimônio público, ambiental e de bens materiais individuais • As inundações distribuem-se por todas as regiões e são registradas em todos os meses do ano • Os danos dependem da magnitude do evento e das vulnerabilidades locais O setor de saúde deve estabelecer estratégias para gestão de risco de desastres associados às inundações, baseadas nos princípios de integralidade e equidade do SUS • Política Nacional de Vigilância em Saúde (PVNS): preconiza que medidas de prevenção, controle e contenção de riscos, danos e agravos à saúde pública devem estar estabelecidas como um processo contínuo no âmbito do SUS, em suas 3 esferas de gestão • Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS): tem como competência aprimorar medidas de redução, manejo de emergências e recuperação dos efeitos, melhorando sua estrutura organizacional e seu processo de trabalho DESASTRES E SEUS EFEITOS NA SAÚDE HUMANA Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá Dentre os principais impactos à saúde, destacam-se: • Aumento súbito do número de óbitos • Ocorrência de traumatismos, afogamentos, quedas e choques elétricos, dentre outros agravos à saúde, que excedem a capacidade de resposta dos serviços de saúde • Dano ou destruição da infraestrutura física e funcional dos serviços de saúde, incluindo os arquivos, com consequente perda de dados, informações e diminuição da capacidade de atendimento • Dano à infraestrutura e interrupção do abastecimento de água para consumo humano, dos serviços de drenagem, limpeza urbana, de esgotamento sanitário e fornecimento de energia elétrica • Aumento do risco de contaminação da água para consumo humano e dos alimentos, considerando os parâmetros físicos, químicos e microbiológicos • Aumento da ocorrência de doenças infecciosas (respiratórias e de transmissão hídrica e alimentar) e agravamento das doenças crônicas e de transmissão por vetores, assim como o surgimento de transtornos mentais, acidentes por animais peçonhentos e por outros animais • Aumento do risco de transmissão de doenças devido à aglomeração de pessoas (alojamentos, abrigos, dentre outros • Aumento da demanda nos serviços de saúde (média e alta complexidade) como fator de ampliação da ocorrência de surtos e epidemias • Escassez de alimentos, podendo ocasionar problemas nutricionais, especialmente nos casos de inundações prolongadas • Aumento do risco de transtornos mentais e/ou psicossociais na população direta ou indiretamente atingida, principalmente quando ocorrem perdas familiares, econômicas, materiais ou quando há necessidade de ir para abrigos (podendo causar problemas secundários, a exemplo de violência física e sexual MEDIDAS SANITÁRIAS A SEREM ADOTADAS Os desastres naturais, em especial as enchentes, causam grandes prejuízos materiais, ambientais, sociais, econômicos e de saúde, colocando a saúde e o bem-estar da população acometida em perigo O período pós desastre é tão sério quanto o momento da destruição em si → grande número de pessoas sem abrigo, alimentação, agasalho e sujeitas a condições ambientais adversas que propiciam a propagação de doenças A adoção de medias apropriadas visa a redução e/ou eliminação de riscos de enfermidades preveníveis e de óbitos • Fase de recuperação: todas as medidas de emergência têm como objetivo específico restabelecer as condições e serviços de saúde ambiental ao nível que eram antes do desastre (independentemente da qualidade anterior), contemplando as seguintes ações: o Busca, resgate, evacuação e tratamento de pessoas afetadas o Restauração das comunicações o Estudo, informe e avaliação dos danos • O melhoramento da qualidade do serviço é parte da fase de reabilitação (imediatamente após a fase de recuperação) Medidas sanitárias a serem adotadas: • Provisão de abrigo • Provisão de água • Esgotos sanitários • Medidas contra insetos e roedores • Eliminação de resíduos sólidos • Preparação e distribuição de alimentos PROVISÃO DE ABRIGOS Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá O conceito principal a se ter em mente é o de “provisório” e o critério para instalação de abrigos deve ser coerente com esse princípio O melhor e mais prático sistema de abrigos provisórios para pessoas afetadas é o alojamento em domicílio de parentes, amigos ou solidários. O alojamento coletivo gera problemas e deve ser utilizado somente em casos de extrema necessidade Possíveis tipos de abrigos provisórios: • Autoalbergues: residência de familiares, amigos ou solidários foram das áreas de risco • Substitutos: transferência para outra moradia em arrendamento • Comunitários: alojamentos em clubes, colégios, igrejas, acampamentos o Esses devem ser uma solução muito provisório, pois não podem abrigar as pessoas por períodos prolongados o Acampamentos devem ser a última opção, podem são caros, difíceis de administrar e podem representar riscos especiais à saúde da população Critérios para seleção de abrigos: • Proteção contra o frio, calor, vento e chuva • Lugar para guardar pertences pessoais e proteção de bens • Seguridade emocional e de intimidade • Abastecimento de água potável • Facilidade de acesso e próximo às fontes de abastecimento de água, alimentos, combustível Atividades a serem desenvolvidas nos abrigos provisórios (tanto por profissionais da área diretamente ou pela própria comunidade mediante assessoria técnica de profissionais): • Administração • Atividades de saúde: em geral, compreendem planejar, coordenar e executar ações em saúde com a finalidade de controlar a morbimortalidade da população abrigada, desenvolvendo programas de: o Assistência o Prevenção de enfermidades o Promoção e educação em saúde o Vigilância em saúde pública o Saneamento ambiental • Atividades de nutrição • Segurança PROVISÃO DE ÁGUA A possibilidade de colapsos no sistema de abastecimento de água após desastres é grande → as providências para retomar o abastecimento devem ser imediatas • Quando o abastecimento público de água é danificado pela enchente, a primeira prioridade sanitária é colocá-lo de volta em condições de uso de tal forma a suprir o requerimento mínimo de água O serviço de água da localidade deve ter já de antemão um plano para casos de emergências, contendo informações, instruções e ações que devem levantar em conta aspectos antes, durante e após a emergência • Acordos de cooperação institucional entre a Defesa Civil e outras instituições locais e do governo Outros meios de suprir as necessidades: • Fontes alternativas: sistemas privados de indústrias e clubes o Aqueles que produzem água:poços, captações de água superficial em tratamento o Aqueles que armazenam água: volumes de água, como piscinas e tanques de armazenamento o A água dessas fontes pode ser utilizada como água potável em emergências, adicionando quantidades adequadas de cloro e estabelecendo convênios com os proprietários Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá • Novas fontes: aquelas que tradicionalmente não são utilizadas o Águas subterrâneas: geralmente são de boa qualidade, necessitando apenas de um processo de desinfecção o Águas superficiais: requerem algum tipo de tratamento, desde a desinfecção até os processos mais completos Distribuição de água por meios não convencionais: • Caminhões cisterna • Tubulações provisórias e fontes públicas Controle de qualidade: a água distribuída deve ser pelo menos sanitariamente “segura”, isto é, isenta de poluição microbiana ou tóxica, o que é verificado por meio de exames laboratoriais • Determinação do cloro residual • Determinação do pH • Exame bacteriológico Desinfecção da água e das estruturas: elimina os microrganismos potencialmente nocivos e, assim, reduz a incidência da maior parte das enfermidades transmitidas pela água • Consiste no emprego de substâncias químicas como permanganato de potássio, iodo, cloro, ozônio • A presença de cloro protege, além da água em si, as tubulações e estruturas contra o desenvolvimento de microrganismos patogênicos Desinfecção no domicílio: • Os recipientes para armazenar água são selecionados de acordo com sua disponibilidade e comodidade • Estudos da OPS têm chegado à conclusão de que frequentemente a água desses recipientes está contaminada (seja por uma contaminação antes de ser armazenada ou seja por conta do recipiente contaminado) → causa comum da propagação de enfermidades transmitidas pela água • Alternativas para a desinfecção doméstica: o Fervura: um dos métodos mais caros o Desinfecção por iodo: uso limitado, destinando-se geralmente em emergências curtas o Desinfecção por cloro: mais utilizado o Filtração domiciliar OS ESGOTOS SANITÁRIOS Os materiais sólidos e o lodo que são arrastados pelas águas durantes as inundações se depositam nos esgotos, podendo obstruí-los totalmente As medidas de emergência a serem adotadas nas cidades com sistema público de esgoto são: • Reparação rápida das tubulações • Desentupimento de galerias • Drenagem e limpeza das estações de tratamento e elevatórias • Desinfecção de efluentes A desinfecção é uma das etapas mais importantes no tratamento de esgotos → promover redução do número de microrganismos patogênico → água do corpo receptor pode ser usada para abastecimento e irrigação • Cloração: método mais utilizado nas estações de tratamento o Antes da cloração: pré-tratamento ▪ Peneiras e/ou desintegradores: reduzir as dimensões dos sólidos Quando não existe esgoto disponível no local acometido pela inundação: Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá • Se existe água encanada: veiculação hídrica o Construir privadas (W.C.) → da privada, o esgoto segue 2 caminhos distintos e exclusivos: a fossa séptica ou a rede de esgotos • Construção de sistemas de fossa tipo privada higiênica ou fossa seca não são aconselháveis em zonas urbanas Sistema de saneamento portátil (banheiros químicos): cabines sanitárias autônomas (não dependem da rede de água e esgoto) • Caráter provisório, sempre para períodos curtos MEDIDAS CONTRA OS INSETOS E ROEDORES As condições imediatamente após uma enchente favorecem um aumento brusco da população de insetos e roedores, como consequência da destruição de serviços de coleta e eliminação de resíduos • Vetores mais comuns transmissores de doenças: pulgas, moscas, piolhos, ácaros, carrapatos, mosquitos e roedores • Animais peçonhentos: cobras e aranhas Objetivo das medidas contra vetores: controle das enfermidades transmitidas por eles, sobretudo em áreas que já se conhece a prevalência delas Os programas de luta contra vetores devem ser planejados em duas fases: • Fase de urgência: imediatamente após a enchente, o foco deve ser a destruição, por meios físicos ou químicos, desses vetores (em pessoas, roupas, camas, domicílios) • Após o período de urgência: ênfase às medidas de gestão ambiental, concentradas no saneamento e levando em consideração fatores como: o Tipo de enfermidades de transmissão vetorial na área afetada o Densidade da população Luta contra moscas, mosquitos e outros insetos: • Moscas: a mosca doméstica é a mais comum dos vetores por conta de sua larga distribuição e elevado número de indivíduos o Ciclo biológico (8 a 20 dias): ovo, larva, pupa, adulto o Controle das fezes humanas e dos animais, bem como de resíduos sólidos orgânicos provenientes dos abrigos reduz a proliferação de moscas ▪ Correto acondicionamento + sistema de coleta e destino final + educação sanitária ▪ Uso de inseticidas (medida temporária) • Mosquitos: adulto é a forma transmissora de doenças e caracteriza-se pelo aparelho bucal picador- sugador o Ciclo biológico: ovo, larva, pupa, adulto o Larvas são todas aquáticas ▪ Destruição de criadouros (locais que acumulam água parada) ▪ Drenagem ▪ Aterro o Combate à fase adulta ▪ Uso de inseticidas (pulverização de alta pressão) ▪ Desmatamento: eliminação da vegetação ao redor da casa, prédio ou abrigo, num raio de 500m o Uso de mosquiteiros, repelentes e telas nas janelas, iluminação abundante • Piolhos, pulgas e ácaros: se desenvolvem entre pessoas com pouca higiene pessoal e em aglomerações o Baratas: problemas estéticos, de mau cheiro, estragos de alimentos, transmissão de doenças (helmintos) Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá o Medidas para eliminar infestações: boa higiene dos ambientes e combate químico o Pulgas: picam o humano, os gatos, os cachorros e ratos (peste bubônica) o Ácaros: sarna (enfermidade na pele que pode propagar-se muito nos abrigos provisórios) Controle de roedores: animais dotados de grande resistência que causam prejuízos de ordem econômica e sanitária • Danificam estruturas e transmitem doenças • Efeito bumerangue: alto aumento populacional de roedores em curto espaço de tempo por conta da desratização inadequada e incompleta • As medidas de controle consistem em técnicas de caráter permanente (medidas preventivas) realizadas antes do surgimento de um desastre e técnicas de caráter provisório ou temporário, que visam à redução do nível de infestação dos roedores o Ações permanentes (Anti-ratirzação): disposição, coleta e destino adequado do lixo; vedação de rachaduras que favoreçam o acesso e a permanência de roedores; limpeza de área peridomiciliar o Ações temporárias (Desratização): medidas para eliminação de roedores infestados ▪ Métodos mecânicos: raticidas (ratoeiras), aparelhos de ultrasom que repelem instalações de roedores, pasta adesiva ▪ Métodos biológicos: para o controle de ratos urbanos, quase não se tem avanços nesse método ▪ Emprego de substâncias químicas com a finalidade de matar, atrair ou repelir os roedores • O mecanismo mais eficaz no controle de roedores a longo prazo é a prevenção, através de práticas de saneamento adequadas ELIMINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS As enfermidades transmitidas por vetores aumentam com o manejo inadequado do lixo → ocorrência de enchentes em zonas urbanas → acionar o órgão de limpeza urbana encarregado de executar serviços de coleta e eliminação do lixo Os serviços normais de limpeza pública podem vir a inexistir em algumas áreas durante um certo período de tempo → serviços individuais devem ser feitos de modo a amenizar os problemas Os resíduos devem ser acondicionados, coletados, transportados e submetidos a um tratamento • Acondicionamento: à medida que são produzidos, devem ser acondicionadoso Os recipientes devem ser, na medida do possível, herméticos, resistentes, possuir alças e tampas o Devem ser colocados em pontos estratégicos que gerem pequenas distâncias a serem percorridas pelas pessoas o Sacos plásticos o Para a remoção dos recipientes, pode-se formar equipes de limpeza dentro dos abrigos • Coleta: retirar os resíduos sólidos do local de armazenamento e levá-los até o lugar de eliminação o Campanhas educativas + disponibilidade de serviços de limpeza = sucesso • Destinação final: pode haver 2 tipos de situações: o População é assistida por serviços de coleta de lixo ▪ Etapa segue a coleta e o transporte normais → processamento do lixo o População não é assistida por serviços de coleta ▪ Promoção de educação sanitária pelos órgãos responsáveis para garantir o manejo adequado do lixo, evitando situações de insalubridade e contaminação do solo ▪ Lançamento em fossas (“depósitos de lixo”): método mais adequado nesses casos • Vala onde o lixo coletado é jogado e, em seguida, coberta com terra • Solução inviável caso o lençol freático seja muito elevado → nesse caso pode- se incinerar (elevado custo de implantação) Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá PREPARAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS Vigilância sanitária: proteção e defesa da saúde da população por meio do controle sanitário de serviços e produtos destinados ao consumo (inspeções e fiscalizações) • Em emergências, a vigilância sanitária deve desenvolver ações para o gerenciamento dos riscos em abrigos, manipulação de alimentos, comércio local e armazéns, destino dos resíduos Orientações quanto as doações de alimentos • Devem ser doados alimentos e bebidas não perecíveis que possam ser armazenados à temperatura ambiente • Os alimentos doados devem estar em suas embalagens originais, onde encontram-se as informações sobre o produto, fechadas e terem prazos de validade maiores que 3 meses • 1ª etapa de doação: por conta da dificuldade de acesso à água, equipamentos e ingredientes para preparo de alimentos, devem ser doados alimentos industrializados prontos para consumo (ex: água mineral, biscoitos, cereais, sucos, leite UHT, conservas de carne, peixe, vegetais, frutas desidratadas) • 2ª etapa de doação: com a melhoria das condições de estrutura física, podem ser doados alimentos que devem ser preparados, como arroz, feijão, farinha, açúcar, macarrão, sal Orientações quanto ao armazenamento e transporte dos alimentos • Agrupar os alimentos por categorias • Armazenar longe de medicamentos, vacinas e outros produtos químicos • Evitar empilhamentos excessivos para não haver danos às embalagens dos alimentos e, assim, não contaminá-los • Consumir os alimentos que vencem a validade primeiro, para que não sejam desperdiçados e haja o maior aproveitamento possível dos alimentos pela população afetada • Local limpo e arejado, mantidos sobre estruturas que evitem o contato direto dos alimentos com o chão e com as paredes DOENÇAS QUE MAIS OCORREM EM DESASTRES NATURAIS ENDEMIAS E ZOONOSES: POR QUE AUMENTAM EM PERÍODOS DE ENCHENTES? LEPTOSPIROSE Uma das principais ocorrências epidemiológicas após inundações (água + rato + lixo = leptospirose) Doença infecciosa causada por bactéria (Leptospira) presente na urina de ratos Transmissão: contato de humanos com água ou lama contaminada com urina de roedores → leptospira penetra no organismo pela pele, sobretudo se houver arranhões ou ferimentos • Não é transmitida de uma pessoa para outra Sintomas frequentes: febre, dor de cabeça, dores pelo corpo (sobretudo na panturrilha) Tratamento: antibióticos e hidratação Prevenção: evitar contato com água e lama de inundações (não entrar na água/lama, usar botas e luvas de borracha, usar sacos plásticos duplos marrados nos pés e nas mãos) • Se o contato for inevitável: permanecer o menor tempo possível na água/lama • Inundações em residências: após a água abaixar, lavar e desinfectar a caixa d’água, o chão, as paredes, as roupas, os objetos, jogar os alimentos fora Outros animais como boi, porco, cão, cavalo podem também se infectar e transmitir a doença a humanos, porém em menor escala → evitar contato direto com eles e limpar e desinfectar diariamente o local onde urinam Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá • No Brasil, não existem vacinas para humanos, comente para animais ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS Animais peçonhentos são aqueles que produzem substâncias tóxicas e apresentam um aparelho especializado de inoculação dessa substância, como serpentes, escorpiões, aranhas e lagartas Durante inundações, esses animais podem ser desalojados de seus habitats naturais e passar a procurar alimentos nas proximidades das casas e abrigos Os acidentes costumam aumentar em 2 momentos: quando o nível da água começa a subir ou enquanto desce, principalmente quando as pessoas começam a voltar para suas casas para limpar e remover o entulho Sintomas de uma pessoa picada por: • Jararaca: região da picada apresenta dor, inchaço, machas arroxeadas, sangramento pelos orifícios da picada, pelas gengivas e pela urina, podendo haver necrose e insuficiência renal • Cascavel: local da picada não apresenta lesão evidente, apenas uma sensação de formigamento, dificuldade de manter os olhos abertos, visão turva, sonolência, dores musculares generalizadas e urina escura • Coral verdadeira: não provoca alterações importantes no local da picada, visão borrada, pálpebras caídas e sonolência • Escorpião: dor no local da picada de início imediato e intensidade moderada, geralmente com boa evolução dos casos o Crianças podem apresentar manifestações graves • Aranhas de importância médica no Brasil: o Aranha-armadeira ou aranha-da-banana o Aranha-marrom o Aranha viúva-negra Medidas após uma picada por animal peçonhento: • Lavar o local da picada com água e sabão • Levar a vítima ao serviço de saúde mais próximo, de preferência um hospital onde um médico deve atendê-la • Manter a vítima deitada em repouso para reduzir a absorção do veneno o Manter o local da picada (pernas e braços) em posição mais elevada que o restante do corpo • Não fazer torniquete, pois impede a circulação de sangue, podendo causar necrose • Não sugar o local da picada ou furar tentando fazer o veneno sair, pois alguns venenos causam hemorragias • Hidratar a vítima somente com água • Levar, se possível, o animal agressor, mesmo morto, para facilitar o diagnóstico Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá • Nenhum remédio caseiro substitui o soro antipeçonheto específico o Todo soro só é encontrado e aplicado em hospitais do SUS DENGUE Virose transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti Estratégias de prevenção: controle vetorial Não existem evidências que as inundações por si próprias possam contribuir com o aumento imediato do número de casos. Contudo, acredita-se que posteriormente ocorre a formação de muitos criadouros, o que favorece o desenvolvimento do vetor e o aumento de infestação DOENÇAS DE TRANSMISSÃO RESPIRATÓRIA São doenças infectocontagiosas causadas por diferentes agentes (bactérias, vírus, fungos) e transmitidas através das vias respiratórias por gotículas contaminadas eliminadas em espirros, tosses ou fala Transmissão: • Contato direto com gotículas de secreção respiratória de uma pessoa doente ou portadora da infecção • Contato indireto: objetos recentemente contaminados → mãos contaminadas levadas à boca, olhos ou nariz Condições meteorológicas (umidade, frio, vento) + descolamento de populações de suas residências para abrigos → favorecimento de disseminação de doenças de transmissão respiratória, como gripes, meningites, sarampo, rubéola, difteria, coqueluche, tuberculose Sintomas de pessoas contaminadas por doenças de transmissão respiratória:• Influenza (gripe): febre acima de 38°C, dor no corpo, tosse seca, dor de garganta, fraqueza • Coqueluche: tosse comprida, crises de tosse muito fortes acompanhadas de um “guincho” e tosse vômito • Rubéola: febre baixa, caroços no pescoço (gânglios retroauriculares infartados) manchas vermelhas pelo corpo • Sarampo: febre alta, olhos vermelhos (conjuntivite), tosse e manchas vermelhas pelo corpo • Difteria: febre moderada, presença de placas branco-acinzentadas que se instalam nas amígdalas e invadem estruturas vizinhas e comprometimento do estado geral • Meningite: febre elevada, vômitos em jato, dor de cabeça, rigidez na nuca, podendo apresentar petéquias (pequenas manchas vermelhas pelo corpo) • Tuberculose: febre moderada e frequentemente vespertina, persistente por mais de 15 dias, irritabilidade, tosse, perda de peso e sudorese noturna Fatores de risco para contração dessas doenças: gestação, diabetes, doenças cardiorrespiratórias, doenças renais crônicas, imunodepressão, idade (idosos e crianças) Vacinas: DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá Inundações frequentemente levam à contaminação da rede pública de abastecimento de água, seja pela entrada de água poluída nos pontos de vazamento da rede seja pela interrupção temporária das atividades das estações de tratamento Cólera (doença diarreica aguda causada pela ingestão de alimentos ou água contaminada pela bactéria) Doenças com sintomas mais tardios: • Febre tifoide: bactéria Salmonella entérica • Hepatite A: vírus (HAV) • Parasitoses intestinais Em casos de surtos de DDA, os primeiros casos devem ter amostras coletadas para pesquisa etiológica e os casos seguintes podem ter amostras coletada somente para realizar o exame específico de confirmação do agente etiológico identificado previamente TÉTANO ACIDENTAL Toxi-infecção grave causada pela toxina do bacilo Clostridium tetani, o qual pode estar exposto no ambiente e ser introduzido no organismo humano por meio de acidentes com objetos cortantes (arames, pregos, sobretudo os enferrujados, madeira, poeira) • Em inundações, a população afetada está mais susceptível a acidentes com esses tipos de objetos Prevenção: vacinação de crianças e adultos, sobretudo em municípios classificados como de risco para serem atingidos por desastres Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá MEDIDAS DE PREVENÇÃO EM DESASTRES NATURAIS MEDIDAS INDIVIDUAIS DE PREVENÇÃO CUIDADOS COM A ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO Caso observe alguma alteração na água da torneira, como odor ou coloração diferentes do habitual, entre em contato com a empresa responsável pela distribuição de água e/ou Secretaria de saúde do município Sempre filtrar e ferver por 5min a água antes de beber. Caso não possa ferver, trate a água com hipoclorito de sódio 2,5% (duas gotas de hipoclorito para cada litro de água e deixar repousar por 30min) Todo recipiente que vai servir de armazenamento para a água para consumo humano deve ser limpo e desinfectado, e não se pode usar, para isso, água sanitária que contenha alvejante e perfume, a qual só pode ser usada para limpar chão, pisos, paredes e embalagens Para não se contaminar com a água da enchente ou com a lama, no momento da limpeza, utiliza equipamentos de proteção individual como botas, luvas e máscaras (botas e luvas podem ser substituídas por sacos plásticos duplos e as máscaras por panos ou lenços úmidos) Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá CUIDADO COM OS ALIMENTOS Alimentos manipulados e armazenados de forma inadequada podem transmitir doenças Durante e após enchentes, é possível que os alimentos não estejam em condições adequadas para serem consumidos Não consumir: • Alimentos com cheiro, cor ou qualquer outro aspecto fora do habitual (úmidos, mofados ou murchos) • Alimentos como leite, peixe, carne, ovos, frango crus ou malcozidos, sobretudo aqueles que entraram em contato com a água da enchente • Frutas, verduras e legumes que entraram em contato com a água com a enchente • Alimentos industrializados com validade vencida Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá • Alimentos cozidos ou refrigerados que tenham ficado por mais de 2h fora da geladeira • Alimentos em embalagens de plástico que, mesmo não abertos, tiveram contato com a água da enchente • Alimentos em embalagens que apresentem sinais de alteração Alimentos que podem ser reaproveitados após contato com a água da enchente • Alimentos industrializados em embalagens de vidro, lata e caixa tipo longa vida que não estejam danificados ou com aspectos alterados ou abertos • As embalagens devem ser higienizadas antes de serem abertas PREVENÇÃO DE ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS Em períodos de enchentes, os animais peçonhentos invadem residências e aumentam os riscos de acidentes com humanos, sobretudo em áreas verdes ou próximas a matagais Cuidado ao entrar na água: deve-se evitar, mas caso entre, ficar atento a serpentes ou outros animais que podem estar nadando em busca de terra seca Principais cuidados ao voltar para casa: • Entrar com cuidado e observar atentamente a presença de animais peçonhentos • Bater os colchões antes de usá-los e sacudir cuidadosamente as roupas, sapatos, toalhas e lençóis • Limpar o interior e os arredores da casa usando luvas, botas e calças compridas • Nunca colocar a mão em buracos ou frestas • Caso encontre animais peçonhentos em casa, afaste-se lentamente deles e ligue para os bombeiros • Não andar descalço, usar botas ou calçados rígidos com perneira com proteção até o joelho e calças compridas • Não pegue nos animais peçonhentos, por mais que pareçam estar mortos IMUNIZAÇÃO O SUS oferece gratuitamente vacinas a diversos grupos populacionais (crianças, adolescentes, adultos, idosos e indígenas), cada um tendo seu calendário vacinal bem definido (cartão de vacina) As principais doenças que podem ser adquiridas em inundações e que podem ser prevenidas por meio da vacinação são: Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá • Diarreia por rotavírus • Influenza (gripe) • Meningite • Rubéola • Tétano acidental É importante guardar sempre os comprovantes de vacinação e, caso alguma não esteja em dia, procurar um serviço de saúde (UBS) para atualizar • Os cartões de vacinas devem ser guardados em um lugar seguro e levados caso a pessoa tenha que ir ao abrigo por conta da enchente CUIDADOS DENTRO E FORA DE CASA Dentro de casa: • Vedar as soleiras de portas e janelas ao escurecer para evitar a entrada de animais • Vedar buracos entre telhas, paredes e rodapés • Usar telas em ralos, pias e tanques • Manter a limpeza de ralos pelo menos 1 vez por semana • Não deixar restos de alimentos pela casa à noite • Usar lixeira com tampa • Ensacar o lixo doméstico e colocar fora de casa, em lugar alto (sem contato com o chão) pouco antes do caminhão de lixo passar para coletar • Não deixar acumular água na parte debaixo das torneiras de bebedouros e filtros Fora de casa: • Manter o quintal livre de entulhos para evitar criadouros de mosquitos, aparecimento de animais peçonhentos, ratos e acidentes que possam causar tétano acidental • Manter as calhas vazias para que a água corra com facilidade • Limpar periodicamente terrenos baldios vizinhos • Preserve os inimigos naturais de escorpiões e aranhas, como aves, lagartos, sapos MEDIDAS COLETIVAS DE PREVENÇÃO Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá ANTES DA INUNDAÇÃO (FASE PRÉ-EVENTO) Primeira providência: verificar os locais que são considerados áreas de risco Verificar a existência de abrigos em áreas elevadas Áreas de Proteção Permanentes (APPs): áreas que são sujeitas a inundações periódicas devido à dinâmica natural doscursos d’água • Não pode haver construção nessas áreas • Têm também função de permeabilidade e retenção de sedimentos Educação ambiental: conscientizar a população acerca dos riscos da disposição inadequada de lixo e entulho no sentido de ocasionar problemas no sistema de drenagem e vazão dos rios e gerar inundações DURANTE A INUNDAÇÃO (EVENTO) Não se deslocar por locais alagados, seja a pé, a nado ou no carro • Risco de afogamento, choque elétrico e doenças Sistemas de alerta: informar a população sobre a ocorrência de cheias em tempo hábil Acionar a defesa civil e o corpo de bombeiros DEPOIS DA INUNDAÇÃO (FASE PÓS-EVENTO) Os moradores que tiverem sido retirados de suas casas não devem retornar até que tenham autorização das autoridades competentes • No retorno, é necessário averiguar se a estrutura do imóvel não foi comprometida Lavar a desinfectar todos os objetos que tiveram contato com a água da inundação, assim como as caixas d’água As casas devem ser abertas e ventiladas Deve-se evitar o uso de poços naturais e fontes de água após a inundação Ferver a água por no mínimo 5min antes de consumir ou utilizar no preparo de alimentos Limpar os disjuntores antes de religar a energia elétrica Remover todo o lixo da casa e do quintal e depositar em local apropriado para ser recolhido pelo órgão de limpeza pública
Compartilhar