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Literaturas de Língua Portuguesa I - Leitura

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Literaturas de 
língua portuguesa
Bruna Tella Guerra
Juliana Silva Cunha de Mendonça
Literaturas de língua 
portuguesa I
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Guerra, Bruna Tella 
 
 ISBN 978-85-522-0271-4
 1. Literatura portuguesa. 2. Língua portuguesa. I. Título. 
 CDD 469 
Juliana Silva Cunha de Mendonça. – Londrina : Editora e 
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
 144 p.
A782l Literaturas de língua portuguesa I / Bruna Tella Guerra, 
© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer 
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo 
de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e 
Distribuidora Educacional S.A.
Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente Acadêmico de Graduação
Mário Ghio Júnior
Conselho Acadêmico 
Alberto S. Santana
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Cristiane Lisandra Danna
Danielly Nunes Andrade Noé
Emanuel Santana
Grasiele Aparecida Lourenço
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Paulo Heraldo Costa do Valle
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Emiliano Cesar de Almeida
Editorial
Adilson Braga Fontes
André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
Diogo Ribeiro Garcia
Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1 | A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV
Seção 1.1 - Contexto de formação da literatura em Portugal
Seção 1.2 - A poesia trovadoresca em Portugal
Seção 1.3 - O Humanismo em Portugal 
7
9
18
31
Unidade 2 | O Renascimento em Portugal e no Brasil
Seção 2.1 - O Classicismo
Seção 2.2 - A poesia classicista portuguesa
Seção 2.3 - A literatura de formação do Brasil
47
48
58
69
Unidade 3 | O Barroco e o Arcadismo em Portugal e no Brasil
Seção 3.1 - O Barroco na literatura de língua portuguesa
Seção 3.2 - O Arcadismo em Portugal
Seção 3.3 - O Arcadismo no Brasil
81
82
93
102
Unidade 4 | O Romantismo em língua portuguesa
Seção 4.1 - O Romantismo na Europa e em Portugal
Seção 4.2 - A formação da literatura brasileira e a poesia romântica
Seção 4.3 - A prosa romântica no Brasil
113
114
124
132
Palavras do autor
Caro aluno,
Neste curso introdutório à Literatura de Língua Portuguesa, 
faremos um panorama das manifestações literárias lusófonas e de 
seu contexto de produção, partindo do Trovadorismo português 
até chegarmos ao Romantismo brasileiro, período que consolida a 
literatura nacional.
O objetivo do curso é que você compreenda como se deu o 
processo de formação da literatura brasileira, desde a transposição 
dos modelos lusitanos até a gradual adaptação e incorporação desses 
modelos aos temas e necessidades locais.
Ao longo do livro, você encontrará sugestões de 
complementação de leitura e referências bibliográficas essenciais 
para a continuidade do seu estudo, que não deve se limitar às aulas 
ou a este material introdutório. 
Esperamos que este livro se torne um instrumento importante na 
busca pelo conhecimento das literaturas de língua portuguesa. 
Bons estudos! 
Unidade 1
A literatura portuguesa 
entre os séculos XII e XIV
Convite ao estudo
Em uma famosa citação, um dos principais literatos brasileiros, 
Antonio Candido, afirma que “estudar literatura brasileira é 
estudar literatura comparada” (CANDIDO apud MELO, 2013, p. 
9). Isso se deve ao fato de o Brasil ser um país novo e periférico 
e, consequentemente, as manifestações literárias que surgem 
aqui geralmente retomarem algo que já foi feito em outro lugar, 
sobretudo na Europa.
Não se trata de um demérito nosso, apenas de uma 
especificidade histórica. Ao contrário de países como Portugal, 
Espanha ou França, onde a literatura foi se constituindo ao 
passo que a língua e a sociedade ganhavam forma, o Brasil — 
assim como outros países do Novo Mundo, sofreu uma espécie 
de transplante de uma língua e de uma literatura previamente 
gestadas na metrópole. No nosso caso, em Portugal. 
A formação da literatura brasileira parte, portanto, de um 
processo de assimilação e adaptação de modelos e valores 
ibéricos. É por isso que a primeira unidade deste livro se dedica 
a apresentar o contexto de formação da literatura em Portugal: 
para que possamos entender de onde surgem e no que implicam 
os modelos que nos foram transmitidos através da colonização.
Nesta unidade, veremos um panorama da literatura medieval, 
saberemos como o galego-português se estabeleceu como 
língua literária de Portugal, conheceremos os cancioneiros 
trovadorescos, as novelas de cavalaria e os diferentes tipos 
de cantiga. Além disso, seremos apresentados às bases do 
Humanismo português e à crônica histórica.
Embora seja um período fascinante e com diversos 
elementos que podem interessar aos jovens — como poemas 
de amor e de ofensas, conflitos e aventuras —, nem sempre 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV8
é fácil engajar os alunos do ensino fundamental e médio em 
um conteúdo que à primeira vista lhes parece distante. Para 
isso, a seção “contexto de aprendizagem” desta unidade 
traz uma professora fictícia, a Joana, propondo atividades 
de sala de aula que ajudem a convidar os adolescentes para 
o estudo da disciplina.
A ideia de Joana é inserir os alunos como personagens dos 
períodos estudados e pedir para que eles resolvam problemas 
lúdicos a partir do conteúdo das aulas. Ao fim de cada unidade, 
veremos o que Joana propôs a seus alunos e sugeriremos 
nossas próprias atividades pedagógicas.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 9
Seção 1.1
Contexto de formação da literatura em Portugal
Em sua primeira aula sobre literatura trovadoresca, a professora 
Joana deu um panorama geral do contexto em que essa literatura 
se desenvolvia. Ela explicou a situação política da Península Ibérica, 
a questão da formação e da separação das línguas e a influência 
da tradição católica. Em seguida, os alunos foram convidados a 
solucionar a atividade abaixo:
“Literatura é um tema muito interessante, mas nesse momento 
a prioridade é expulsar os árabes da Península Ibérica e consolidar o 
reino português. Tendo como base o que aprendemos nesta aula, 
elabore um plano de ação para um trovador que pretenda ajudar 
nesse projeto. Que língua, temas e formas literárias ele deve escolher? 
Onde deve centrar sua produção?”.
De que forma responder a esses questionamentos pode ajudar os 
alunos a entenderem o contexto da literatura medieval? Que outras 
perguntas Joana poderia propor para essa aula?
Diálogo aberto 
Não pode faltar
Contexto de formação da literatura em Portugal
O contexto da literatura medieval
A literatura medieval se desenvolve em um contexto de 
fragmentação dos antigos reinos europeus e de lenta maturação dos 
Estados nacionais modernos. O período que vai desde a queda do 
Império Romano, no século V, até o Renascimento, no século XV, 
é marcado por uma organização social insular em torno de grandes 
proprietários de terra: os chamados senhores feudais. 
Na Península Ibérica havia diversos reinos com fronteiras voláteis 
e frequentes lutas entre si. Mesmo assim, a mobilização em torno 
das Guerras de Reconquista — processo de expulsão dos árabes — 
fez com que a região preservasse uma relativa unidade em torno da 
realeza. Ao contrário do que aconteceu em outras partes da Europa, 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV10
o poder real não foi tão fragmentado entre os senhores de terra. Por 
conta disso, alguns historiadores dizem que não houvede fato um 
sistema feudal ibérico. 
Culturalmente, a Igreja Católica detinha praticamente todas as vias 
de educação formal e de saber instituído. Apenas 2% da população 
europeia era alfabetizada e a prática da leitura e da escrita estavam 
restritas basicamente aos mosteiros e às abadias, onde os livros eram 
manuscritos, geralmente em latim, a língua de circulação acadêmica 
e litúrgica da época. Mesmo a maior parte dos nobres era analfabeta 
e, quando muito, tinha a bíblia e alguns poucos livros em casa. A partir 
do século XII, foram surgindo escolas particulares — que necessitavam 
de autorização da Igreja para funcionar — e, posteriormente, por volta 
de 1200, sugiram as universidades. 
Sendo assim, não é surpreendente que a literatura medieval seja 
largamente moldada pela oralidade. Tanto a composição quanto a 
transmissão e apresentação de boa parte dos textos era feita oralmente.
No caso das cantigas trovadorescas — gênero medieval ao qual 
iremos nos concentrar —, que surgem no sul da atual França (à época, 
Occitânia) e se espalham até a Alemanha, os poemas costumavam 
ser acompanhados por instrumentos de corda, sopro e percussão 
como o alaúde, a flauta e o pandeiro e apresentados nas cortes de 
diversos nobres ou em competições. 
O florescimento das cantigas está vinculado a um período do 
medievo em que a vida começava a se concentrar nos palácios, em 
torno de reis e de nobres. Seu caráter sentimental e a afirmação de 
valores aristocráticos contrasta com o tom rude das canções de gesta 
(epopeias medievais), cuja temática remete aos combates.
Os trovadores eram hospedados por nobres por longas 
temporadas a fim de entreter suas cortes. As canções que eles 
compunham também eram usadas para passar recados, fazer 
propaganda, louvar os mecenas, maldizer inimigos e para difundir 
valores morais e de comportamento. 
Os grandes senhores ibéricos, no entanto, não se limitavam 
a financiar a arte trovadoresca, sendo eles próprios alguns de 
seus maiores produtores, em uma simbiose entre poder político e 
econômico e produção cultural sem paralelo em séculos posteriores. 
O símbolo máximo disso foi Dom Dinis, rei de Portugal que estava 
entre os maiores trovadores da época. 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 11
As cantigas galego-portuguesas foram produzidas durante 
um período de cerca de 150 anos que vai do fim do século XII até 
meados do século XIV, intervalo que corresponde ao surgimento das 
nacionalidades ibéricas. 
A arte trovadoresca galego-portuguesa bebe da tradição provençal, 
movimento artístico nascido no sul da França no início do século 
XII e que rapidamente se estende pela Europa cristã. Compondo 
e cantando em língua falada (no caso, o occitânico), e não mais 
em latim, como era de hábito, os trovadores provençais definiram 
padrões artísticos e culturais que se tornariam dominantes nas cortes 
europeias durante os séculos seguintes, entre eles o culto ao amor e 
à arte pela arte.
Para o crítico Otto Maria Carpeaux, “A poesia provençal deixou no 
espírito europeu uma marca profunda. Era a primeira poesia profana 
que o Ocidente criara” (2012, p. 192). Entre essas marcas, o culto ao 
amor se destaca, com uma representação da relação entre dama e 
poeta baseada na relação entre senhor e vassalo. 
Reflita
O termo “trovador” é disputado desde aquela época. Em geral, ele é 
usado para designar os artistas que compunham tanto a poesia quanto a 
melodia de suas próprias cantigas. Também é comum que o termo seja 
usado especificamente para nobres e senhores para quem a arte poética 
era entendida como uma atividade desinteressada. Já os jograis são 
músicos e instrumentistas das classes populares que acompanhavam 
as apresentações e que por vezes também eram compositores. Segrel 
é um termo usado para o trovador profissional, em geral andarilho, 
enquanto menestrel é o nome dado ao músico.
O galego-português como língua literária de Portugal
O galego-português foi uma antiga variedade linguística falada 
na faixa ocidental da Península Ibérica até meados do século XIV e 
que deu origem às atuais línguas portuguesa e galega. Essa variedade 
é basicamente uma derivação do latim vulgar com influências 
germânicas e árabes, fruto de sucessivas ocupações daquele território. 
Em seu ápice, entre os séculos X e XIV, o galego-português 
deteve a segunda literatura mais importante da Europa, perdendo 
apenas para o occitano. A língua era usada não apenas nos reinos 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV12
da Galiza e de Portugal como também nos vizinhos Leão e Castela 
e chegou a influenciar até mesmo trovadores occitanos. O rei 
castelhano Afonso X, por exemplo, escreveu suas Cantigas de Santa 
Maria em galego-português.
É a partir do final do século XII que essa língua falada se estabelece 
como língua literária por excelência, num processo que se estende até 
cerca de 1350, e que, embora inclua manifestações em prosa, alcança 
sua mais notável expressão na poesia trovadoresca, considerada o 
primeiro gênero literário lusitano e um dos que melhor expressa o 
ethos daquele povo. O mais antigo cantar galego-português datável 
com segurança — Ora faz ost’o senhor de Navarra, de Joan Soares de 
Paiva — foi composto em 1196. 
É importante notar que quando falamos em poesia galego-
portuguesa isso não implica dizer que os autores tenham nascido 
em Portugal, e sim que tenham escolhido aquela língua para compor 
suas obras. As fronteiras linguísticas, culturais e políticas daquela 
época não eram rígidas, e a noção de uma língua uniforme como 
elemento identitário de um Estado só se solidifica posteriormente, 
com a criação do conceito de Estado-nação, no final do século XVIII. 
Com a independência do reino de Portugal, em 1139, e a lenta 
deslocação do centro político da Hispânia para Castela a partir de 
1085, a antiga semelhança linguística e de costumes entre a Galiza 
e Portugal vai se rompendo, dando lugar ao desenvolvimento do 
português como conhecemos hoje. Já a língua galega, relegada a 
segundo plano, continua existindo e é falada de forma minoritária em 
parte da Espanha.
Assimile
A Península Ibérica, que hoje abriga Portugal e Espanha, foi dividida ao 
longo da Idade Média entre diversos reinos como os de Leão, Castela, 
Galiza e o Condado Portucalense. Uma série de conflitos, acordos e 
casamentos entre a realeza da região deu origem a esses dois países com 
suas respectivas línguas como os conhecemos hoje. O estabelecimento 
dessas línguas e fronteiras como duas entidades claramente separadas, 
no entanto, foi um processo gradual e motivado pela necessidade de 
afirmar identidades nacionais que ainda não estavam definidas no 
período medieval e que mesmo hoje suscitam discordância. 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 13
Os cancioneiros trovadorescos
Embora as cantigas medievais pertencessem a uma tradição 
oral, algumas delas foram registradas por escrito nos chamados 
cancioneiros: as primeiras coletâneas da poesia portuguesa.
No total, chegaram até os nossos tempos cerca de 1680 cantigas 
profanas em galego-português da autoria de cerca de 180 trovadores. 
Essas cantigas foram recolhidas em três grandes cancioneiros: o 
Cancioneiro da Ajuda — que traz basicamente cantigas de amor —, 
o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Biblioteca 
Vaticana — que trazem cantigas de todos os gêneros.
O mais antigo deles, o da Ajuda, foi produzido no começo do 
século XIV, sendo, portanto, contemporâneo à última geração de 
trovadores. 
Além dessas três coletâneas, também nos chegaram algumas 
folhas soltas com cantigas. Duas delas — o Pergaminho Vindel e o 
Pergaminho Sharrer — são muito importantes por trazerem algo raro: 
as notações musicais que acompanhavam os poemas.
Fonte: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/iluminura.asp?img=A_151_37>. Acesso em: 11 abr. 2017.
Figura 1.1 | Iluminura do Cancioneiro da Ajuda mostra cantigas em seu contexto 
de apresentação
U1 - A literaturaportuguesa entre os séculos XII e XIV14
Exemplificando
Descoberto em 1990, nos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa, 
o Pergaminho Sharrer — batizado em homenagem ao pesquisador 
responsável pelo achado — traz sete fragmentos de cantigas de amor de 
Dom Dinis com suas respectivas notações musicais. É o único manuscrito 
a conservar melodias de cantigas portuguesas (o outro documento 
que contém notações de cantigas da tradição galego-portuguesa, o 
Pergaminho Vindel, traz obras de Martim Codax, de origem galesa). Esse 
material é de suma importância, porque, na poesia trovadoresca, a palavra 
não é autônoma, mas acompanhada de um som que a complementa. 
Ouvir uma cantiga é muito diferente de simplesmente lê-la. 
No site do Projeto Littera – <http://cantigas.fcsh.unl.pt/
cantigasmusicadastipo.asp?t=or>, é possível escutar algumas cantigas 
com suas melodias originais reconstruídas a partir desses dois 
pergaminhos. No mesmo site você pode ler todas as cantigas que estão 
nos três grandes cancioneiros galego-portugueses, além de usar esse 
material em sala de aula. 
As novelas de cavalaria na Europa e em Portugal
Ao que sabemos, a única expressão em prosa com função 
literária e profana na época das cantigas eram as novelas de 
cavalaria. Oriundas na França e, mais remotamente, na Inglaterra, 
essas novelas derivam da prosificação das canções de gesta, os 
poemas épicos medievais.
Elas se organizam em três ciclos temáticos: o ciclo bretão 
ou arturiano, que trata do Rei Arthur e de seus cavaleiros; o ciclo 
carolíngio, sobre Carlos Magno e os doze pares da França; e o ciclo 
clássico, com temas de inspiração greco-latina. Desses, somente 
o ciclo arturiano teve penetração em Portugal e ainda assim não 
se conhece nenhuma novela de cavalaria autenticamente lusitana: 
todas parecem ser traduções e adaptações de textos franceses, 
exceto pela novela Amadis de Gaula, posterior às demais e de 
possível autoria portuguesa.
Entre as novelas que circularam por Portugal na época de ouro 
da cavalaria, só permaneceram a História de Merlim, cuja versão 
portuguesa desapareceu, restando apenas a espanhola; José de 
Arimatéia, e A Demanda do Santo Graal, a mais famosa de todas.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 15
As novelas de cavalaria misturavam valores cristãos a um 
imaginário pagão de influência celta responsável por um certo caráter 
mágico dessas narrativas. Nessa equação entravam ainda valores 
aristocráticos e cavaleirescos de coragem e lealdade. A Demanda do 
Santo Graal, por exemplo, é uma grande mistura dessas diferentes 
referências. A novela começa em uma comemoração do dia de 
Pentecostes no reino de Camelot, governado pelo Rei Arthur. Os 
cavaleiros estão reunidos em torno de uma mesa redonda (a “távola 
redonda”) depois que um deles consegue retirar uma espada sagrada 
fincada em uma pedra de mármore. Durante o jantar, o Santo Graal 
(o cálice bíblico onde Jesus teria bebido vinho na Última Ceia e no 
qual José de Arimatéia teria colhido seu sangue na cruz) surge diante 
de todos e em seguida desaparece. No dia seguinte, após ouvirem a 
missa, os cavaleiros decidem partir em uma aventura em busca do 
objeto sagrado. Eles acreditam que recuperar o cálice seja uma forma 
de salvar o reino, que se encontra em decadência. 
A novela então reúne elementos mágicos (a espada, o cálice que 
aparece e desaparece diante de todos) a valores cristãos (a busca pelo 
objeto bíblico, muito embora haja referência a um objeto semelhante 
na lenda celta) e cavaleirescos (a relação entre os cavaleiros e o rei, a 
aventura) em uma história de enorme penetração na cultura popular 
até hoje.
A Demanda do Santo Graal que circulava em Portugal é uma versão da 
Vulgata arturiana de Robert Baron, que por sua vez é produto de toda 
uma cultura literária anterior. Por se tratar de uma história de grande 
difusão desde a Idade Média, existe todo tipo de versão para a lenda do 
Rei Arthur e de seus cavaleiros. Mesmo no período medieval, as versões 
eram múltiplas e hoje todos conhecemos livros e filmes a esse respeito, 
como a quadrilogia As Brumas de Avalon, da escritora americana Marion 
Zimmer Bradley, e os filmes Exacalibur (John Boorman, 1981) e Camelot 
(Joshua Logan, 1967). É preciso ter em mente, no entanto, que esses 
filmes e livros fazem um uso livre do mito, adaptando-o à sensibilidade 
da época em que foram produzidos. 
Sem medo de errar
Na situação-problema desta seção, nossa personagem propôs 
que os alunos se colocassem no lugar de um trovador que quisesse 
Pesquise mais
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV16
ajudar na consolidação de Portugal como território linguística e 
culturalmente independente de Leão e Castela. Trata-se, obviamente, 
de uma atividade lúdica com certa liberdade histórica: não é possível 
dizer que os trovadores compusessem com esse tipo de objetivo. 
No entanto, as respostas esperadas seriam que os alunos definissem 
o galego-português, e não o latim ou occitano, como língua para 
suas composições e que se dedicassem às cantigas em detrimento 
das novelas de cavalaria uma vez que essas últimas não tiveram tanta 
expressão em Portugal.
Faça valer a pena
1. "Ai Deus! Disse Galvam; como fremosas maravilhas aqui há! 
Verdadeiramente sam demostradas de Nosso Senhor e sam altas maravilhas 
do Santo Graal e sam as grandes pruridades da Santa Egreja. Certas, disse 
Galvam a Estor, per esto que Deus mostrou a Elaim devemos nós a entender 
que jazemos empecado mortal e que nom nos ama Deus como a ele e que 
mais deve seer cavaleiro do Santo Graal que nós." (NUNES, 1995, p. 118)
Em relação à difusão das novelas de cavalaria em Portugal podemos 
afirmar que:
a) Não houve manifestação desse tipo em Portugal. Por se tratar de uma 
tradição francesa, as novelas foram preteridas pelas cantigas, gênero criado 
na Península Ibérica.
b) Circulavam somente entre os nobres, que sabiam ler em francês e se 
identificavam com os ideais cavaleirescos.
c) Algumas novelas do círculo arturiano foram traduzidas e adaptadas 
e tiveram relativa circulação em Portugal, mas nada que pudesse ser 
comparado à circulação das cantigas.
d) Por se tratar de uma manifestação em prosa, mais simples de ser assimilada, 
ganhou mais popularidade do que as cantigas, que só interessavam às cortes.
e) Eram lidas pelos trovadores nas mesmas apresentações em que as 
cantigas eram entoadas, tendo uma circulação semelhante.
2. "O lirismo galego-português possui valores próprios, mas a dívida para 
com a poesia occitânica é considerável [...] Muito embora não possamos 
falar num regime de tipo feudal em Portugal, e na Provença o mesmo 
regime diferisse em muitos aspectos do feudalismo do Norte, não é de 
estranhar que existissem nestes países, sobretudo na classe palaciana, um 
estilo de vida social mais ou menos semelhante. A própria aclimatação das 
formas literárias do trovadorismo occitânico nestes países é testemunho de 
que havia neles condições de vida compatíveis com esse tipo de literatura." 
(SPINA, 1996. p. 22.)
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 17
3. 
Sabe-se que o trovadorismo galego-português teve forte influência 
dos trovadores provençais. Assinale abaixo a única opção que trata 
corretamente das heranças da poesia occitânica nas cantigas portuguesas. 
a) A opção de compor em língua falada, não mais em grego, como 
era usual.
b) O culto ao amor idealizado e espiritualizado.
c) A prosificação das canções de gesta, de origem occitânica.
d) A valorização de comportamentos dos camponeses occitanos. 
e) A noção de arte pela arte.
“O que vos nunca cuidei a dizer,
com gram coita, senhor, vo-lo direi,
porque me vejo já por vós morrer;
ca sabedes que nunca vos falei
de como me matava voss'amor;
ca sabe Deus bem que doutra senhor,
que eu nom havia, mi vos chamei.”
(DINIS, [s.d.], [s.p.])
Marque abaixo a única opção que só traz informações verdadeiras em 
relação à forma de difusão das cantigas durante a Idade Média.
a) Eram transmitidasoralmente ou através de livros como os cancioneiros, 
que ajudavam a disseminar os poemas por todo o reino. 
b) Os menestreis eram artistas que compunham tanto o poema quanto 
a melodia de suas próprias cantigas e que se apresentavam em cortes e 
em concursos. 
c) Somente nobres e senhores compunham cantigas, sendo o mais famoso 
deles o rei Dom Dinis, um dos maiores trovadores ibéricos. 
d) O fato de serem acompanhadas de música e possuírem uma métrica 
pobre facilitava a memorização das cantigas. 
e) Nas cantigas, poema e melodia formavam um todo significativo de modo 
que ler esses poemas sem a música é de certo modo empobrecê-los. 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV18
Seção 1.2
A poesia trovadoresca em Portugal
Na segunda aula sobre literatura medieval, Joana explicou a 
diferença entre as cantigas de amor, amigo, escárnio e maldizer. 
Para ela, era crucial que os alunos entendessem que cada um desses 
gêneros possuía temáticas e objetivos diferentes e que o chamado 
amor cortês, base da concepção do amor romântico, estabelecia um 
tipo de relação muito específico e alheio às nossas concepções atuais 
de amor.
Para isso, ela pediu que a turma respondesse ao questionamento 
abaixo:
“Você estava muito feliz com Inês — que era simples, tinha uma 
beleza singela e te levava para passear pelos bosques —, quando 
conheceu Beatriz — que é nobre, altiva e incapaz de decorar seu 
nome. Tendo em mente o conteúdo desta aula, escolha o tipo de 
cantiga que você comporia para cada uma delas e reflita sobre a 
diferença entre os gêneros. Além de escolher o gênero, você seria 
capaz de compor uma cantiga com base no conteúdo da aula?”.
Você acha que essa reflexão é suficiente para entender a diferença 
entre as cantigas trovadorescas? Com base na tentativa de Joana, 
elabore novas questões que achar mais adequadas.
Diálogo aberto 
Não pode faltar
 A doutrina e os gêneros trovadorescos
A poesia trovadoresca trabalha com preceitos estilísticos e 
temáticos rígidos. Ao ler alguns desses poemas você logo notará que, 
apesar das diferenças entre obras e autores particulares, há uma forte 
unidade formal e de conteúdo entre eles. 
Uma das melhores fontes para conhecer as regras que os próprios 
poetas estabeleceram na hora de compor esse tipo de poesia é o 
pequeno tratado sobre a Arte de Trovar, que abre o Cancioneiro 
da Biblioteca Nacional. Esse texto anônimo possivelmente redigido 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 19
pelo Conde Barcelos, filho de Dom Dinis, nos chegou de maneira 
fragmentada e oferece orientações sobre a composição das cantigas, 
com uma definição geral das regras de cada gênero. 
A cantiga galego-portuguesa de cunho profano se divide em três 
gêneros principais: a cantiga de amor (em voz masculina), a cantiga 
de amigo (em voz feminina) e a de escárnio e maldizer (de teor 
satírico). Paralelamente, havia gêneros minoritários como a tenção 
(disputa dialogada), o pranto (lamento pela morte de alguém), o lai 
(composição de matéria da Bretanha) e a pastorela (narrativa do 
encontro entre o trovador e uma pastora).
Quando dizemos que as canções de amor eram em voz 
masculina e as de amigo em voz feminina, é preciso deixar claro 
que isso se refere à voz poética incorporada ao texto, e não à pessoa 
que iria performar essas canções em público. Embora seja possível 
que houvesse mulheres cantando canções de amigo, em geral 
elas eram apresentadas por homens. Também vale ressaltar que 
canções de amigo não dizem respeito à amizade, sendo também elas 
composições de temática amorosa.
Assimile
Terminologia trovadoresca:
“Cantiga de amor: gênero elevado em voz masculina de inspiração 
fortemente provençal. Nela, um trovador exalta seus sentimentos por 
uma mulher idealizada e por quem está disposto a tudo. 
Cantiga de amigo: gênero em voz feminina baseado em tradições locais. 
Cantiga de amor dialogada: cantiga em forma de diálogo entre uma voz 
masculina e outra feminina, iniciada pela voz masculina.
Cantiga de amigo dialogada: cantiga em forma de diálogo entre duas 
vozes femininas ou entre uma voz feminina e outra masculina, iniciada 
pela voz feminina.
Cantiga de escárnio e maldizer: cantiga de cunho satírico. As que ‘dizem 
mal’ de forma disfarçada (equívoca) são de escárnio, já as que o fazem 
de forma aberta e ostensiva são de maldizer.
Cantiga de loor: cantiga de louvor a alguém.
Cantiga de seguir: cantiga que ‘segue’ (toma como base) uma 
composição anterior. É possível seguir mantendo apenas a música da 
cantiga base, à qual se adaptam novos versos; mantendo a música e 
também as rimas da base; ou mantendo a música, algumas das rimas e 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV20
alguns versos ou mesmo o refrão da cantiga em que se baseia, dando a 
esses versos ou ao refrão um novo sentido. 
Escárnio de amigo: cantiga satírica em voz feminina.
Espúria: cantiga ou poema composto em uma época posterior a da 
lírica-galego portuguesa, mas que segue seus preceitos. São poemas 
escritos entre o final do século XIV e o início do século XVI em espaços 
deixados em branco nos manuscritos medievais. 
Gesta de maldizer: cantiga de maldizer em forma de gesta, parodiando 
o gênero épico medieval (a narração dos feitos de um herói).
Lai: composição de matéria da Bretanha de autor desconhecido, mas 
atribuída a uma ou a várias personagens lendárias dos romances do ciclo 
bretão-arturiano.
Pastorela: cantiga lírico-narrativa geralmente dialogada que descreve 
o encontro entre um cavaleiro-trovador e uma pastora em um 
contexto campestre.
Pranto: cantiga elegíaca para homenagear um morto. 
Pranto de escárnio: cantiga satírica que parodia o pranto. 
Sirventês moral: cantiga crítica de tema moral.
Tenção: cantiga em que dois trovadores discutem, em estrofes 
alternadas, um tema ou uma questão. O primeiro a intervir é considerado, 
nos manuscritos, como o autor da cantiga. Ao responder, o interlocutor 
tem de manter o esquema formal (métrico, rimático etc) proposto na 
primeira estrofe. A cada trovador cabe o mesmo número de estrofes (ou 
ainda de findas, se a composição as tiver).
Cantiga de refrão: cantiga com estribilho (um ou mais versos repetidos 
no final de cada estrofe).
Cantiga de refrão paralelística: cantiga cujo princípio estruturante é a 
repetição de versos numa sequência determinada, com refrão invariável. 
No paralelismo perfeito, com leixa-pren, as estrofes são constituídas 
por dísticos que se repetem uma vez com variações mínimas, sendo 
o último verso de cada par de estrofes retomado no par de estrofes 
seguinte, num esquema de versos cuja versão mais simples pode ser 
descrita na forma: a, b, a’, b’, b, c, b’, c’, c, d, c’, d’ etc.).
Leixa-pren (deixa-prende): recurso formal que consiste em 
acompanhar o último verso da uma estrofe (que não o refrão) e com 
ele iniciar a estrofe seguinte, repetindo o verso inteiro ou fazendo uma 
ligeira variação.
Cantiga de mestria: cantiga sem refrão.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 21
Descordo: cantiga cujas estrofes não obedecem à norma da isometria.
Cobras: estrofes ou coplas.
Finda: remate de uma cantiga, constituído por um, dois ou três versos 
finais (em casos raros, quatro). As cantigas podem ter duas ou mais findas.
Cobras singulares: estrofes com rimas próprias.
Cobras uníssonas: quando as rimas são comuns.
Cobras doblas: estrofes com séries de rimas que se repetem a cada 
duas estrofes.
Cantiga de atafinda: cantiga cujas estrofes estão ligadas sintaticamente.
Ateúda: cantiga que não sofre interrupção sintática entre as estrofes, e 
na qual o sentido se liga do primeiro ao último verso.
Dobre: repetição de palavras na mesma estrofe que se repete em 
pontos fixos em todas as outras estrofes (se na primeira estrofe se repete 
a mesma palavra em dois pontos, nas estrofes seguintes deverá repetir-
se uma outra palavra na mesma posição).
Mozdobre: processo semelhante ao dobre, mas com variação na flexão 
da palavra(exemplo: amar/amei).
Palavra: verso.
Palavra-perduda: verso de uma estrofe que não rima com nenhum 
outro (mas podendo ou não rimar com os versos correspondentes das 
estrofes seguintes).
Palavra-rima: palavra repetida em rima no mesmo verso de todas 
as estrofes.”
(Fonte: Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: 
<http://www.cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp#4>. Acesso em: 
13 jun. 2017).
A Cantiga de Amor
De influência marcadamente provençal, as cantigas de amor são 
composições de registro aristocrático e de forma retoricamente 
elaborada, em que uma voz masculina sentimental canta a beleza 
e as qualidades ímpares de uma senhora inatingível e o sofrimento 
(coita) do poeta diante da indiferença feminina ou de sua própria 
incapacidade de expressar esse amor. 
O gênero segue claramente o universo do fin’amor provençal 
(sobretudo o da fase mais tardia), um modelo que influencia não 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV22
apenas o aspecto formal, mas que estabelece uma “arte de amar” 
com novos parâmetros culturais e sociais que norteiam as relações 
entre homem e mulher. Trata-se de um amor servil e vassalo prestado 
pelo poeta à sua senhora. Para usar um termo pouco exato, mas que 
se tornou usual, trata-se do nascimento do “amor cortês”. 
Apesar das inegáveis influências do canso provençal, a cantiga 
de amor galego-portuguesa possui características próprias. Ela 
em geral é mais curta do que os poemas da tradição provençal e 
frequentemente (em mais da metade das cantigas que conhecemos) 
inclui um refrão, enquanto a norma provençal é de maestria, ou seja, 
sem refrão. 
Para os trovadores provençais, o amor é a fonte da poesia. O 
código amoroso que eles criaram, no entanto, é bastante rígido e 
prevê a submissão absoluta do poeta à sua dama, uma vassalagem 
humilde e paciente, a promessa de honrá-la e de servi-la com 
fidelidade, além da prudência e da moderação a fim de não abalar 
a reputação da dama a quem se ama. Para o trovador, sua senhal 
(em provençal) ou senhor (em galego-português) — pseudônimos 
poéticos usados para proteger a identidade da dama — é a mulher 
mais formosa e admirável do mundo. Por ela, o poeta está disposto 
a abdicar de títulos e riquezas. A impossibilidade de se declarar, o 
sofrimento, insônia, perda de apetite e perturbações causadas por 
esse amor são cantadas e até mesmo celebradas.
Reflita
O amor do trovador muitas vezes era dirigido a mulheres casadas ou que 
não estavam ao alcance do poeta. Não é verdade, no entanto, que fosse 
um amor despido de sua dimensão carnal. “O amor, para os trovadores, 
era, como bem definiu Bernard de Ventadorn, o amor integral, o puro e 
o da carne”, afirma o medievalista Segismundo Spina (1972, p. 24). 
Posteriormente, quando a Igreja conseguiria impor o culto à Virgem 
Maria como tema para os novos trovadores, é que esse amor perderia 
sua dimensão erótica. 
A Cantiga de Amigo
Enquanto a cantiga de amor bebe de influências estrangeiras e se 
origina no ambiente aristocrático, a cantiga de amigo é um gênero 
autóctone e bem mais popular, gestado a partir de uma tradição 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 23
antiga de cantos em voz feminina largamente difundida na região e 
que teria sido adaptada ao universo palaciano pelos trovadores. 
A figura feminina desses poemas não é uma senhora idealizada e 
indiferente, mas a velida (bela), a bem-talhada (de corpo bem feito): 
uma jovem enamorada que canta temas relacionados à iniciação 
amorosa. A alegria pela proximidade do encontro com seu amigo 
(namorado), a tristeza e a saudade por sua partida, a decepção e a raiva 
por suas mentiras e faltas. São frequentes aqui os espaços naturais e 
abertos e um certo erotismo feminino. Também é comum que essa 
voz feminina tenha interlocutores como sua mãe, irmãs ou amigas.
Do ponto de vista formal, quase todas as cantigas de amigo 
possuem refrão e muitas delas recorrem a uma técnica arcaica de 
construção estrófica conhecida como “paralelismo”, que consiste na 
apresentação da mesma ideia em versos alternados, com pequenas 
variações verbais no fim de cada verso.
Apesar de trazerem eu-líricos femininos, a maior parte dessas 
canções foi composta por homens e geralmente eram eles quem 
as cantavam.
Exemplifi cando
A seguir, leremos a cantiga mais famosa de Dom Dinis, uma das mais 
conhecidas de toda a tradição galego-portuguesa. Note que se trata 
de uma cantiga de amigo paralelística, com refrão inalterado e cobras 
alternadas. Nela, uma donzela conversa com as flores do verde pino em 
um exemplo raro de personificação da natureza na tradição galaico-
portuguesa. A moça pede às flores notícias do namorado, que ela crê 
ter desaparecido. As flores, no entanto, a tranquilizam dizendo que ele 
logo estará com ela. 
- Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é? 
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado? 
Ai Deus, e u é? 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV24
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs conmigo?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é? 
- Vós me preguntades polo voss'amigo
e eu bem vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é? 
- Vós me preguntades polo voss'amado
e eu bem vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é? 
- E eu bem vos digo que é san'e vivo
e será vosco ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é? 
- E eu bem vos digo que é viv'e sano
e será vosc[o] ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.
asp?cdcant=592&pv=sim>. Acesso em: 11 abr. 2017.
As Cantigas de Escárnio e de Maldizer
Se as cantigas de amor e de amigo se dedicam a temas sentimentais, 
o terceiro grande gênero praticado pela tradição galaico-portuguesa 
passa longe desses assuntos do coração. As cantigas de escárnio e 
de maldizer são poemas satíricos que abarcam um vasto leque de 
motivos, personagens e acontecimentos, mas que se unem em sua 
característica fundamental, que é falar mal de algo ou de alguém. O 
amor, quando aparece, é criticado e ridicularizado, nunca exaltado.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 25
Algumas opinam sobre comportamentos sexuais e posturas 
morais, outras gracejam de políticos ou de situações sociais, um 
terceiro tipo se dedica a falar mal de inimigos pessoais e um quarto 
faz troça de outros gêneros poéticos. Na maioria dos casos, a crítica 
é dirigida a uma pessoa específica a quem o poeta se refere logo nos 
primeiros versos.
O tratado sobre a Arte de Trovar define essas cantigas como 
poemas de “dizer mal” de alguém e estabelece que, enquanto nas 
cantigas de maldizer a crítica seria direta e ostensiva, nas de escárnio 
ela seria feita de modo mais sutil, “por palavras cobertas que hajam 
dous entendimentos” (ou seja, com duplo sentido, o chamado 
“equívoco” ou hequivocatium). No entanto, essa diferenciação não 
parece tão bem estabelecida para os próprios trovadores e por vezes 
eles misturam as duas coisas.
Formalmente, as cantigas de escárnio e maldizer tendem a ser de 
mestria, embora quase um terço das conservadas incluam um refrão. 
O humor moralizante e a paródia também são traços comuns desse 
gênero, que era usado como arma em disputas de poder. 
Exemplifi cando
A seguir, leremos uma cantiga de maldizer com refrão e cobras 
singulares. De autoria do trovador português João Garcia de Guilhade, 
essa é uma das cantigas mais antológicas do gênero e oferece uma 
paródia do elogio cortês da senhora. Nela, o poeta destila ofensas contra 
uma senhora que se queixava de nunca ter sido louvada por ele. 
Ai dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv'en[o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei todavia;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia! 
Dona fea, se Deus mi perdom,
pois havedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razomU1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV26
vos quero já loar todavia;
e vedes qual será a loaçom:
dona fea, velha e sandia! 
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já um bom cantar farei
em que vos loarei todavia;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
(Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.
asp?cdcant=1520&pv=sim>. Acesso em: 11 abr. 2017.)
Durante os seus estudos universitários, é importante que você nunca se 
limite a uma só fonte. Ao ler um único autor tratando de um assunto, o 
que conhecemos é a visão daquele autor, não o assunto. Ao ler diversas 
fontes é que conseguimos ter uma perspectiva melhor do assunto e 
das diferentes visões sobre ele. Para isso, você sempre pode usar as 
sugestões contidas na seção Referências ao fim de cada tópico.
Também é importante que você se dedique à leitura dos textos 
literários, não apenas de fragmentos ou resumos e aos textos originais 
mencionados. No caso desta seção, por exemplo, dedique algum 
tempo à leitura de outras cantigas. Além disso, é interessante que leia 
o manuscrito sobre A Arte de Trovar, disponível em livros e em diversos 
sites e digitalizado pela World Digital Library, mantida pela Biblioteca do 
Congresso dos Estados Unidos. (Disponível em: <https://www.wdl.org/
en/item/13529/>. Acesso em: 11 abr. 2017.)
 Na situação-problema desta seção, nossa personagem propôs 
que os alunos compusessem cantigas para duas mulheres diferentes: 
enquanto Inês se assemelha a uma jovem campesina das cantigas 
de amigo, Beatriz é a típica senhora idealizada das cantigas de amor. 
O importante nessa atividade é que você, aluno, com o apoio do 
professor, possa avaliar o seu próprio embasamento a qualquer que 
seja a resposta dada pelos alunos de Joana.
Sem medo de errar
Pesquise mais
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 27
Faça valer a pena
1. A mia senhor que eu por mal de mi
vi e por mal daquestes olhos meus
e por que muitas vezes maldezi
mi e o mund'e muitas vezes Deus,
 des que a nom vi, nom er vi pesar
 d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar. 
A que mi faz querer mal mi medês
e quantos amigos soía haver
e de[s]asperar de Deus, que mi pês,
pero mi tod'este mal faz sofrer,
 des que a nom vi, nom ar vi pesar
 d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar. 
A por que mi quer este coraçom sair de seu logar, e por que já
moir'e perdi o sem e a razom,
pero m'este mal fez e mais fará,
 des que a nom vi, nom ar vi pesar
 d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar.
(DINIS, [s.d.], [s.p.])
Com base na leitura da cantiga de autoria de Dom Dinis, classifique a que 
gênero pertence essa composição e quais são os traços distintivos que 
permitem essa afirmação:
a) Trata-se de uma cantiga de amor, como podemos observar pela 
presença de uma senhora idealizada, do registro elevado e da voz poética 
masculina.
b) Trata-se de uma cantiga de amigo, como podemos observar pela 
presença de refrão e de paralelismo. Em que pese o conteúdo amoroso, é 
preciso notar que canções de amigo também são românticas.
c) Trata-se de uma cantiga de maldizer, em que o trovador se revolta contra 
um Deus que o faz sofrer, composta com cobras singulares e desacordo. 
d) Trata-se de uma cantiga de amor, como podemos observar pela 
temática amorosa, uma vez que a cantiga de amor é o único gênero que 
se dedica a ela. 
e) Trata-se de uma cantiga de amor dialogada, em que a voz poética 
debate com Deus a respeito de sua coita (sofrimento amoroso).
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV28
Capítulo Vº
Cantigas d'escarneo som aquelas que os trobadores fazem 
querendo dizer mal d'alguém em elas, e dizem-lho per 
palavras cobertas que hajam dous entendimentos, pera 
lhe-lo nom entenderem [...] ligeiramente; e estas palavras 
chamam os clérigos hequivocatio. E estas cantigas se podem 
fazer outrossi de meestria ou de refram.
E pero que alguns dizem que há i algũas cantigas de joguete 
d'arteiro, estas nom som mais ca d'escarnho, nem ham outro 
entendimento. Pero er dizem que outras há i de risabelha, 
estas ou seram d'escarnho ou de maldizer; e chamam-lhes 
assi porque riim ende a vezes os homens, mais nom som 
cousas em que sabedoria nem outro bem haja.
Capítulo VIº
Cantigas de maldizer som aquela[s] que fazem os trobadores 
[...] descobertamente e [em] elas entram palavras e[m] que 
querem dizer mal e nom haver[am] outro entendimento 
senom aquel que querem dizer chaam[ente]. E outrossi as 
todas fazem dizer […].
(CANTIGAS MEDIEVAIS GALEGO-PORTUGUESAS, [s.d.], [s.p.])
Com base na definição de cantigas de escárnio e de maldizer oferecida 
pelo tratado sobre a Arte de Trovar e nos seus conhecimentos acerca do 
gênero, assinale a única opção correta:
a) Cantigas de escárnio e maldizer compõem o gênero satírico do 
movimento trovadoresco, que se dedica a parodiar os demais gêneros, 
tratando sempre de temáticas amorosas e sentimentais, só que em uma 
chave humorística e de troça.
b) Existe uma separação clara entre cantigas de escárnio e maldizer. Nas 
primeiras a crítica é direta e ostensiva, enquanto nas segundas é mais sutil, 
com uso de duplo sentido.
c) Existe uma separação clara entre cantigas de escárnio e maldizer. Nas 
primeiras a crítica é mais sutil, com uso de duplo sentido, enquanto nas 
segundas é direta e ostensiva. 
d) O que diferencia cantigas de escárnio das de maldizer é o aspecto formal, 
sendo as de escárnio cantigas de mestria e as de maldizer, de refrão. 
e) Tanto as cantigas de escárnio quanto as de maldizer são satíricas e se 
dedicam a falar mal de algo ou de alguém. A diferença entre elas, contudo, 
não é bem estabelecida entre os próprios trovadores.
2.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 29
Enas verdes ervas
vi andá'las cervas,
meu amigo.
Enos verdes prados
vi os cervos bravos, 
meu amigo.
E com sabor delas
lavei mias garcetas,
meu amigo.
E com sabor delos 
lavei meus cabelos, 
meu amigo.
Des que los lavei
d'ouro los liei,
meu amigo.
Des que las lavara,
d'ouro las liara, 
meu amigo.
D'ouro los liei
e vos asperei, 
meu amigo.
D'ouro las liara
e vos asperava, 
meu amigo.
(MEOGO, [s.d.],[s.p.])
A partir da leitura e da análise da cantiga de Pero Meogo, é possível 
afirmar que:
a) Trata-se de uma cantiga de amigo, gênero de origem provençal 
cantado por mulheres sobre temas amorosos e sobre a vida no campo. 
b) A imagem do ouro atando os cabelos da donzela faz lembrar uma 
aliança de casamento, reforçando sua expectativa amorosa enquanto 
espera pelo namorado. Essa espera, assim como a paisagem idílica em 
que ela se encontra, são temas recorrentes das cantigas de amigo.
c) Embora o poema use o termo amigo, trata-se claramente de uma 
cantiga de amor uma vez que o conteúdo romântico e a ausência de 
paralelismo impossibilitam sua classificação como cantiga de amigo. 
3.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV30
d) Enquanto a cantiga de amor é cantada em voz masculina e traz uma 
mulher idealizada, a cantiga de amigo é cantada em voz feminina e traz 
a figura de um homem idealizado por quem a donzela espera e a quem 
está disposta a servir.
e) Trata-se de uma cantiga de amigo, gênero originado na região 
de Portugal cantado em voz feminina e geralmente performado por 
mulheres pastoreiras.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 31
Seção 1.3
O Humanismo em Portugal 
Em sua aula acerca do Humanismo português, a professora 
Joana falou sobre as especificidades desse movimento em Portugal 
e apresentou aos alunos o teatro vicentino, uma de suas principais 
expressões literárias. Joana queria que os alunos entendessem como 
as peças de Gil Vicente dialogavam com outras formas artísticas do 
período. Para isso, convidou os alunos a observarem a pintura O Carro 
de Feno do pintor alemão Hieronymus Bosch (1450-1516). A partir da 
observação desse tríptico, Joana propôs a seguinte comparação:
Depois de ler a peça O Auto da Barca do Inferno, de GilVicente, e 
de observar a pintura de Bosch, identifique elementos e personagens 
comuns às duas obras. Você acha que o quadro de Bosch poderia 
ilustrar a peça de Gil Vicente?
Diálogo aberto 
Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/O_carro_de_feno#/media/File:The_Hay_Wain_by_Hieronymus_Bosch.jpg>. 
Acesso em: 22 maio 2017. 
Figura 1.2 | O carro de feno
Você considera a pergunta e a atividade como um todo uma forma 
eficiente de engajar os alunos? Consegue pensar em estratégias 
parecidas com a da professora Joana?
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV32
O Humanismo
O Humanismo é um movimento que surge na Itália por volta do 
século XIV e que se expande pela Europa nos dois séculos seguintes, 
promovendo um resgate da cultura greco-latina e valorizando as 
capacidades humanas, com mudanças profundas nas universidades 
e nas artes. 
Alguns dos primeiros humanistas, a exemplo do escritor italiano 
Francesco Petrarca (1304 - 1374), eram ligados à Igreja, profundos 
conhecedores da língua latina e colecionadores de manuscritos. 
Considerado o pai do Humanismo, Petrarca trabalhou na primeira 
tradução latina do poeta grego Homero e descobriu uma coleção de 
cartas de Cícero até então desconhecida.
Enquanto o estudo da tradição romana não foi interrompido 
durante a Idade Média, a literatura grega foi amplamente esquecida 
na Europa Ocidental e poucos dominavam a língua, de modo que 
a herança grega se fazia presente sobretudo a partir da mediação 
romana. A partir do século XIV, no entanto, o grego volta a ser 
ensinado em escolas e universidades, textos da Antiguidade Clássica 
são traduzidos para o latim e para línguas vernaculares e a Europa 
Ocidental é assaltada por uma euforia por essa tradição redescoberta. 
A ética do Humanismo renascentista enfatiza o valor e a agência 
individual e coletiva do ser humano e sua capacidade de melhorar 
suas condições objetivas através do uso da razão e da inteligência 
em vez de se submeter cegamente a tradições e às autoridades. Isso 
não significa necessariamente voltar-se contra a Igreja ou contra a 
ordem social estabelecida, mas cultivar o próprio discernimento em 
vez de obedecer cegamente. Como vimos anteriormente, muitos 
dos primeiros humanistas eram fortemente vinculados à Igreja, e foi 
Petrarca quem difundiu a ideia de que a Idade Média seria um período 
de trevas encerrado pelas luzes do Humanismo. As “trevas” a que ele se 
referia não eram o teocentrismo ou a influência da Igreja, e sim a falta 
de pensamento racional, algo que não se opunha necessariamente à 
doutrina católica na visão do poeta. 
O termo “idade das trevas”, no entanto, acabou sendo 
popularizado de um modo bastante problemático por dar a 
Não pode faltar
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 33
entender que a Idade Média teria sido um período de baixa 
produção intelectual quando, na verdade, foi um período que 
gestou as bases do pensamento ocidental.
Nesse período, o estudo da retórica e da eloquência passou a 
ser valorizado como forma de influenciar na vida comunitária e de 
persuadir os outros a seguir o caminho da virtude e da prudência. 
Gramática, história, poesia e filosofia, sobretudo com temas referentes 
à moral e à ética, ganharam destaque. O projeto de ensino humanista 
ambicionava que mais pessoas estudassem uma variedade maior 
de assuntos. O conhecimento, antes largamente restrito ao clero, 
tornou-se mais difundido.
Posteriormente, o Humanismo daria origem ao chamado 
Renascimento Cultural, que marca o fim da Idade Média, entre fins 
do século XIV e o final do século XVI. A citação abaixo, do historiador 
francês Jean Delumeau (1923) em seu livro A Civilização do 
Renascimento, de 1967, explicita as bases desse movimento
Cícero e Quintiliano entendiam por humanitas a cultura 
espiritual, a polidez dos costumes e, mais geralmente, 
a civilização. Quando os intelectuais italianos, a partir 
de Petrarca, se voltaram novamente para os grandes 
escritores da Antiguidade, faziam-no no desejo de 
recuperar os valores da cultura que eles tinham exaltado. 
Essa “recuperação” exigia a pesquisa de manuscritos, a 
eliminação das leituras defeituosas e a crítica filológica dos 
textos, bem como o estudo de línguas antigas esquecidas 
como o grego e o hebraico. Portanto, certos humanistas 
foram, principalmente, gramáticos e puristas. Mas era 
impossível que a redescoberta do pensamento dos Antigos 
não influenciasse a filosofia da época que operava tal 
descoberta. Daí o desenvolvimento de um sincretismo 
humanista que se esforçou por conciliar o Evangelho 
cristão com a sabedoria de Platão reencontrada e com a de 
Cícero, e a austeridade do cristianismo com o epicurismo 
ou, ao contrário, com o estoicismo. Este esforço de síntese 
caracteriza a época do Renascimento de Lorenzo Valla a 
Montaigne. O humanismo foi mais pagão em Itália que 
além-Alpes; sofreu uma tentação de cepticismo com os 
“paduanos” e com Dolet. Mas, no seu todo, com Ficino, 
Thomas More e Erasmo, foi principalmente uma tentativa 
— parcialmente bem sucedida — de integração no 
cristianismo do amor à vida e à beleza que tinha marcado a 
cultura antiga. (DELUMEAU, 1984, p. 281)
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV34
É nessa época que surge o termo “modernidade”, que significa 
antiguidade renovada e resume a ambição humanista: reeditar o 
antigo no atual. 
Refl ita
Quando falamos em modernidade hoje, em geral pensamos em uma 
ruptura com o antigo. Esse termo, no entanto, surgiu de um modo muito 
diferente, como vimos acima. Quais elementos antigos foram reeditados 
pelo Humanismo e qual foi sua influência no pensamento renascentista? 
Principais características do Humanismo em Portugal
Em Portugal, pode-se dizer que o Humanismo se inicia no final 
do século XV, embora antes disso já houvesse interesse pontual pela 
cultura grega e considerável pela latina, com traduções do latim feitas 
ou incentivadas por príncipes da casa de Avis.
Em permanente tensão com a cultura medieval, o Humanismo 
português voltou-se bastante para a questão dos textos gregos e 
latinos, de sua tradução e releitura e para o pensamento do filósofo 
grego Aristóteles, relegando as ciências naturais a segundo plano. A 
partir de meados do século XVI, quando os jesuítas da Companhia 
de Jesus ganham influência no país, as ideias Humanistas perdem 
espaço no cenário intelectual lusitano. 
Grosso modo, denominamos de literatura humanista a produção 
literária do período situado entre o final da Idade Média e o início 
da Idade Moderna que contenha traços desse movimento, como 
a influência greco-latina e a valorização da agência humana. Em 
Portugal, essa produção compreende a poesia palaciana reunida no 
Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, o trabalho historiográfico 
de Fernão Lopes e a produção teatral de Gil Vicente. 
Durante o período renascentista, Portugal inicia uma das épocas mais 
interessantes de sua história: o período das Grandes Navegações, que 
culminaria no descobrimento do Brasil e na incorporação de territórios 
na América, na África e no Oriente. Além de suas consequências políticas 
e econômicas, as Grandes Navegações teriam forte impacto cultural no 
pensamento ocidental. Além de serem em si mesmas um enorme feito 
Pesquise mais
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 35
científico humano, elas apresentariam aos europeus territórios e povos 
que não constavam no texto bíblico, para o qual só havia três continentes 
no mundo e nenhuma menção aos índios. Essas novidades seriam 
tematizadas por muitos anos tanto pela Igreja quanto por pensadores 
não religiosos. Havia quem pensasse, por exemplo, que a América 
seria uma espécie de Paraíso e que os índios estariam fora do pecado 
original, não sendo filhos de Adão. Pesquise um pouco quais seriam as 
explicações teológicas para o surgimento do quarto continente e para as 
origens dos índios e suas influências no pensamento da época.
O Cancioneiro Geral de Garciade Resende
O Cancioneiro Geral de Garcia de Resende é uma compilação 
de poemas palacianos reunidos pelo português Garcia de Resende 
(1482-1536), que era poeta, cronista e membro da corte de D. Manuel 
I. Publicado em 1516, foi a primeira coletânea de poemas impressa em 
Portugal (vale lembrar que os cancioneiros da poesia trovadoresca 
eram manuscritos) e o principal repositório de poesia do país à época. 
Garcia de Resende seguiu modelos castelhanos como o 
Cancioneiro de Baena, de 1445, e o Cancioneiro Geral de Hernando 
del Castillo, publicado em 1511. Ao contrário deles, no entanto, sua 
compilação não se organiza por temas e inclui quase mil poemas 
de 286 autores dos séculos XV e XVI sobre os mais diversos assuntos 
escritos em sua maioria em português, embora um número expressivo 
esteja em castelhano.
Entre os autores ali reunidos, vários deles pertencentes às 
cortes de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, destacam-se Diogo 
Brandão, Duarte de Brito, Jorge de Aguiar, Francisco da Silveira, 
João Roiz de Castel Branco, além dos mais conhecidos Gil Vicente, 
Bernardim Ribeiro e Sá de Miranda, com poemas que tratam de 
assuntos da vida palaciana e que refletem a visão de mundo dos 
nobres e fidalgos que os escreviam. Nesses poemas, o amor é 
tratado de forma mais sensual e a mulher já não traz contornos 
tão idealizados quanto no trovadorismo.
A influência humanista no Cancioneiro Geral faz-se presente 
desde o prólogo, quando Garcia de Resende afirma que um dos 
objetivos de sua coletânea é estimular que outros poetas cantem os 
feitos lusitanos, que ele afirma serem “dignos de Eneidas ou Odisseias” 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV36
(RESENDE, 1516), duas grandes epopéias da tradição greco-latina. 
Além disso, diversos poemas fazem referência a personagens da 
Antiguidade Clássica como Eurídice e Orfeu, Ariana e Teseu e Páris e 
Helena. O cancioneiro ainda inclui algumas versões portuguesas de 
versos latinos feitas por poetas como João Roiz de Lucena e de João 
Roiz de Sá.
Assimile
Embora ambos tenham sido gêneros literários cultivados nas cortes 
e nas casas aristocráticas para entretenimento dos nobres, a poesia 
trovadoresca e a poesia palaciana renascentista trazem diferenças 
importantes. A maior delas é que nessa época a poesia se torna 
claramente independente de acompanhamentos musicais e de 
coreografias. Trata-se de um texto feito para ser lido e declamado, 
não cantado ou dançado. Essa mudança na perfomance exige que a 
poesia firme uma expressividade própria, o que acarreta em mudanças 
formais e em novas formas de compor. A estrutura paralelística, comum 
nas cantigas trovadorescas, é substituída pela técnica do mote glosado, 
na qual o poeta se vale de um tema (mote) desenvolvido ao longo do 
poema, com repetições em diferentes versos.
Durante a Contra-Reforma, o Cancioneiro Geral seria incluso 
na lista de livros censurados pela Igreja e posteriormente sofreria 
cortes de versos e composições inteiras considerados heréticos ou 
indecorosos. Alguns poemas, como a cantiga de Antom de Montoro 
à rainha D. Isabel de Castela em que o poeta admitia a possibilidade de 
ela dar à luz um novo Messias de fato contrariavam princípios básicos 
da Igreja. Depois da censura, o cancioneiro só voltaria a ser reeditado 
na íntegra durante o século XIX. 
O teatro de Gil Vicente
Além de ter sido um poeta de renome, figurando entre os mais 
importantes do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, o eborense 
Gil Vicente (1465 - 1536) é considerado o primeiro grande dramaturgo 
ibérico, tendo escrito mais de quarenta peças profanas e de cunho 
religioso para as cortes de Dom Manoel e de Dom João III. 
Principal representante da literatura renascentista lusitana, 
sua obra é marcada pela mistura de valores medievais expressos, 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 37
por exemplo, na oposição maniqueísta entre céu e inferno e no 
forte tom moralizante, e pensamento humanista, expresso no 
questionamento das hierarquias estabelecidas. Os personagens 
vicentinos se baseiam em tipos sociais portugueses do século XVI 
expostos em uma chave frequentemente crítica e satírica. Lá estão o 
religioso de conduta questionável, o nobre que não possui atitudes 
nobres, o agiota, o infiel.
Severo crítico dos costumes, dos desvios e da mentalidade 
mercantilista da época e muito cioso dos preceitos cristãos, Gil 
Vicente faz uso de personagens alegóricos e de elementos da 
cultura popular portuguesa. Sua peça mais famosa, o Auto da Barca 
do Inferno, escrita em 1516, encena um julgamento de almas no 
qual os personagens, reunidos em um porto, embarcam a bordo 
de duas barcas: uma guiada pelo Diabo e por seu ajudante e a outra 
por um anjo.
Entre os passageiros da barca do inferno estão dois altos 
funcionários da Justiça — um juiz corrupto e um procurador que 
lucrava às custa dos lavradores —, uma cafetina e um frade com sua 
amante. O dramaturgo usa esses personagens para criticar a hipocrisia 
e as imposturas. No fim, todos são condenados ao inferno, exceto 
quatro cavaleiros da Ordem de Cristo, que seguem na barca da Glória, 
e um parvo, que fica no cais, como numa espécie de purgatório, por 
ser um homem muito simples, ainda que tivesse pecado. O judeu 
do grupo não é aceito sequer pelo Diabo e segue do lado de fora 
da barca do inferno, amarrado por uma corda, refletindo o forte 
antissemitismo da época.
Exemplifi cando
FIDALGO Esta barca onde vai ora,
que assi está apercebida?
DIABO Vai pera a ilha perdida,
e há-de partir logo ess'ora.
FIDALGO Pera lá vai a senhora?
DIABO Senhor, a vosso serviço.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV38
FIDALGO Parece-me isso cortiço...
DIABO Porque a vedes lá de fora.
FIDALGO Porém, a que terra passais?
DIABO Pera o inferno, senhor.
FIDALGO Terra é bem sem-sabor.
DIABO Quê?... E também cá zombais?
FIDALGO E passageiros achais
pera tal habitação?
DIABO Vejo-vos eu em feição
pera ir ao nosso cais...
FIDALGO Parece-te a ti assi!...
DIABO Em que esperas ter guarida?
FIDALGO Que leixo na outra vida
quem reze sempre por mi.
DIABO Quem reze sempre por ti?!..
Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
E tu viveste a teu prazer,
cuidando cá guarecer
por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai...
que haveis de ir à derradeira!
Mandai meter a cadeira,
que assi passou vosso pai.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 39
(Trecho de O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, onde um Fidalgo 
que representa a nobreza argumenta com o Diabo que não deve ser 
enviado ao inferno porque pagou para que rezassem por ele. A íntegra da 
peça pode ser lida no site do Domínio Público. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000107.pdf>. Acesso 
em: 10 de jun. 2017.)
Fernão Lopes e a crônica histórica portuguesa
A partir do final da Idade Média, as narrativas históricas, mais 
especificamente aquelas centradas nos feitos dos grandes homens, 
ganham importância em Portugal com a ascensão da dinastia de Avis, 
que patrocinava esse tipo de produção.
Nesse período, acontece uma mudança crucial: a preservação da 
memória, até então feita erraticamente e em geral pelos mosteiros 
ou por aristocratas individuais, passa a ser feita pela Coroa, na forma 
de uma história oficial. A ideia de uma história comum e heróica está 
na base da formação do conceito de povo unificado, essencial para a 
construção de uma nação. 
Ao cronista português Fernão Lopes (1385 - 1460, em datas 
aproximadas), guarda-mor da Torre do Tombo, o arquivo geral do 
reino, foi dada a tarefa de escrever "as estórias dos reis que antigamente 
em Portugal foram". Ou seja, de narrar a vida, os feitos e os reinados 
dos reis portugueses desde os tempos do Condado Portucalense. 
De todas as suas crônicas, no entanto, só nos chegaram aquelas a 
respeito de Dom Pedro I, Dom Fernando e Dom João I, rei à época 
de Fernão Lopes. 
Em que pese seu caráter oficial, o fato de ter sidodiretamente 
encomendada e financiada pela Coroa e a proximidade do autor 
com o rei Dom João I, as crônicas de Fernão Lopes buscam certo 
rigor histórico, ao menos nos termos que eram possíveis para aquele 
momento e contexto. É comum que o autor cite mais de uma 
fonte com diferentes versões para o mesmo fato, por exemplo, 
ou que diga que não é possível ter certeza sobre as razões que 
levaram a determinado acontecimento. Apesar dessa preocupação 
com a verdade, é preciso enfatizar que as crônicas historiográficas 
daquela época pouco se parecem com os textos produzidos hoje 
pela historiografia, quando pressupõem-se uma independência do 
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV40
historiador em relação a seu objeto de estudo e um rigor metodológico 
inexistentes naquela época. 
No prólogo de sua Crónica de D. João I, o autor expõe seus 
métodos e objetivos ao dizer que o intuito é “em esta obra escrever 
verdade sem outra mistura” e que, para isso, fará uso de todos os 
documentos disponíveis, confrontando-os para chegar aos dados 
mais confiáveis possíveis, “com quanto cuidado e diligência vimos 
grandes volumes de livros, de desvairadas linguagens e terras, e isso 
mesmo públicas escrituras de muitos cartários e outros lugares”. Para 
Fernão Lopes (2003-2017, [s.p.]), é essencial que seu trabalho não dê 
por certo coisas duvidosas, “nem entendais que certificamos cousa, 
salvo de muitos aprovada, e per escrituras vestidas de fé”.
O dramaturgo português Gil Vicente e o pintor alemão Hieronymus 
Bosch possuem muito em comum. As obras de ambos trazem uma 
mistura de valores Humanistas e medievais. No tríptico de Bosch, 
vemos três momentos, um em cada painel, como era comum nesse 
tipo de pintura que se divide em três. No primeiro painel, vemos o 
Jardim do Éden, com a humanidade representada antes do pecado 
original. Já no painel central, vemos um carro de feno que simboliza 
os bens materiais sendo disputados por todos de maneira violenta. 
É possível notar brigas, promiscuidade e personagens como nobres 
e religiosos no meio disso tudo, enquanto um anjo olha para o céu 
em desespero. No terceiro painel, vemos como aquele carro de feno 
segue para o inferno, onde os personagens devem ser punidos por 
seus desvios. 
O carro de feno de Bosch funciona mais ou menos como a 
barca do inferno da obra vicentina, levando os homens, inclusive os 
religiosos e os nobres, a serem julgados por seus pecados.
Sem medo de errar
Faça valer a pena
1. 
“Vem um Corregedor, carregado de feitos, e, chegando à 
barca do Inferno, com sua vara na mão, diz:
CORREGEDOR Hou da barca!
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 41
DIABO Que quereis?
CORREGEDOR Está aqui o senhor juiz?
DIABO Oh amador de perdiz.
gentil cárrega trazeis!
CORREGEDOR No meu ar conhecereis
que nom é ela do meu jeito.
DIABO Como vai lá o direito?
CORREGEDOR Nestes feitos o vereis.
DIABO Ora, pois, entrai. Veremos
que diz i nesse papel...
CORREGEDOR E onde vai o batel?
DIABO No Inferno vos poeremos.
CORREGEDOR Como? À terra dos demos
há-de ir um corregedor?
DIABO Santo descorregedor,
embarcai, e remaremos!
Ora, entrai, pois que viestes!
CORREGEDOR
Non est de regulae juris, não!
DIABO
Ita, Ita! Dai cá a mão!
Remaremos um remo destes.
Fazei conta que nacestes
pera nosso companheiro.
- Que fazes tu, barzoneiro?
Faze-lhe essa prancha prestes!
CORREGEDOR Oh! Renego da viagem
e de quem me há-de levar!
Há 'qui meirinho do mar?
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV42
DIABO Não há tal costumagem.
CORREGEDOR Nom entendo esta barcagem,
nem hoc nom potest esse.
DIABO Se ora vos parecesse
que nom sei mais que linguagem...
Entrai, entrai, corregedor!
CORREGEDOR Hou! Videtis qui petatis - 
Super jure magestatis
tem vosso mando vigor?
DIABO Quando éreis ouvidor
nonne accepistis rapina?
Pois ireis pela bolina
onde nossa mercê for...
Oh! que isca esse papel
pera um fogo que eu sei!”
(VICENTE, Gil. O Auto da Barca do Inferno. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_
action=&co_obra=1815>. Acesso em: 22 maio 2017.)
Com base no trecho acima e nos seus conhecimentos acerca da obra de 
Gil Vicente, assinale a opção que descreve o teatro vicentino. 
a) Extremamente cioso dos valores cristãos, Gil Vicente pretende 
conscientizar as pessoas a respeito da necessidade de salvarem suas almas, 
afastando-se para isso do pecado e buscando cultivar atitudes virtuosas. 
b) Embora trabalhe com figuras alegóricas, o teatro vicentino não pode ser 
classificado como maniqueísta porque, no fim, nem todas as personagens 
são enviadas ao inferno. 
c) Em que pese suas críticas à sociedade portuguesa, Gil Vicente poupa o 
clero e a nobreza por ser um dramaturgo da corte.
d) Gil Vicente é conhecido como o pai do teatro português por ter sido o 
primeiro autor a produzir peças em Portugal. 
e) Devido ao tom crítico e satírico de suas peças, Gil Vicente não foi bem 
aceito em sua época, tendo seu talento reconhecido apenas depois de 
sua morte.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 43
2. 
"Cícero e Quintiliano entendiam por humanitas a cultura 
espiritual, a polidez dos costumes e, mais geralmente, a 
civilização. Quando os intelectuais italianos, a partir de 
Petrarca, se voltaram novamente para os grandes escritores 
da Antiguidade, faziam-no no desejo de recuperar os valores 
da cultura que eles tinham exaltado. Essa 'recuperação' 
exigia a pesquisa de manuscritos, a eliminação das leituras 
defeituosas e a crítica filológica dos textos, bem como o 
estudo de línguas antigas esquecidas como o grego e o 
hebraico. Portanto, certos humanistas foram, principalmente, 
gramáticos e puristas. Mas era impossível que a redescoberta 
do pensamento dos Antigos não influenciasse a filosofia da 
época que operava tal descoberta. Daí o desenvolvimento 
de um sincretismo humanista que se esforçou por conciliar 
o Evangelho cristão com a sabedoria de Platão reencontrada 
e com a de Cícero, e a austeridade do cristianismo com o 
epicurismo ou, ao contrário, com o estoicismo. Este esforço 
de síntese caracteriza a época do Renascimento de Lorenzo 
Valla a Montaigne. O humanismo foi mais pagão em Itália 
que além-Alpes; sofreu uma tentação de cepticismo com 
os 'paduanos' e com Dolet. Mas, no seu todo, com Ficino, 
Thomas More e Erasmo, foi principalmente uma tentativa —
parcialmente bem sucedida — de integração no cristianismo 
do amor à vida e à beleza que tinha marcado a cultura antiga."
(DELUMEAU, 1984, p. 281)
Com base na leitura do trecho acima, assinale a opção que caracteriza o 
Humanismo renascentista.
a) O pensamento humanista refuta qualquer espécie de doutrina católica ao 
defender que o homem se deixe guiar pela ciência e por sua própria razão.
b) Através do resgate de textos da tradição greco-latina, os estudiosos 
humanistas buscavam reeditar valores clássicos no presente, unindo o 
conhecimento dos antigos às necessidades e crenças de sua própria época.
c) O Humanismo voltou-se à tradução de textos gregos e latinos que 
permaneceram censurados pela Igreja durante a Idade das Trevas. 
d) Muito preocupados em traduzir e redescobrir os textos clássicos, 
o movimento humanista teve uma produção própria muito tímida e 
pouco expressiva.
e) Ao romper com o passado e com a Idade das Trevas, pode-se dizer 
que o Humanismo inaugura a Idade Moderna, guiada pela ciência e 
pelo antropocentrismo.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV44
3. 
"O léxico do Cancioneiro comporta um número significativo 
de palavras eruditas, típicas do fomento linguístico do 
Humanismo (pryminencia, seneytude propinco, multilóquio, 
por exemplo) e igualmente numerosas ocorrências de 
nomes próprios da antiguidade, heróis, filósofos, deuses e 
semideuses, bem como pares amorosos (Eurídice e Orfeu, 
Ariana e Teseu, Páris e Helena).
[...] Mas convém assinalar no Cancioneiro um outro aspecto 
importante que nele assumiu a cultura clássica: o de 
versõesem verso de poemas latinos. [...] O interesse dessas 
traduções é múltiplo. Pondo ‘em linguagem’, a rogo de 
grandes senhores, textos poéticos da latinidade, prestavam 
um serviço de divulgação humanística, que completa a 
promoção de versões de textos em prosa. Por outro lado, 
é um campo em que se podem verificar concretamente a 
disciplina e a técnica, bastante severas, que se impunham a 
si mesmos certos poetas do Cancioneiro."
(ROCHA, 1979, p. 49).
Com base na leitura do trecho acima, acerca do Cancioneiro Geral de 
Garcia de Resende, e em seus conhecimentos a respeito do Humanismo 
português, assinale a opção correta:
a) O trecho revela algumas especificidades do Humanismo português, a 
exemplo de sua baixa produção poética própria, uma vez que os poetas se 
limitaram a fazer versões de textos clássicos.
b) Feito para promover a cultura humanista em Portugal, o Cancioneiro 
Geral tinha como principal objetivo a divulgação de traduções de poemas 
latinos feitos por poetas portugueses. 
c) O trecho destaca como, ao trazer versões de poemas latinos e referências 
a personagens daquela tradição, o Cancioneiro Geral demonstra sua 
consonância com os valores humanistas.
d) Ao usar palavras eruditas e mencionar heróis da Antiguidade, os poemas 
do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende fazem uma contraposição aos 
valores renascentistas em voga na época. 
e) O interesse por poemas da tradição latina é uma das peculiaridades do 
Humanismo português.
U1 - A literatura portuguesa entre os séculos XII e XIV 45
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Unidade 2
O Renascimento em 
Portugal e no Brasil
Convite ao estudo
O mundo como o conhecemos hoje certamente é 
moldado, em grande parte, pelo período que sucedeu a Idade 
Média, quando as acumulações do capital passaram a dar 
novas formas e valores às relações sociais e os Estados-Nação 
começaram a se constituir. Portanto, conhecer esse momento 
é essencial para estabelecer inferências e apontamentos críticos 
sobre o que vivemos contemporaneamente. Uma das formas 
de se explorar isso é compreender as manifestações artísticas 
daquele momento.
Sendo assim, convidamos você a adentrar o contexto 
desta unidade: o Renascimento. Trata-se de um período muito 
plural, em que diversas mudanças sociais e políticas ocorreram, 
inclusive a chegada dos europeus ao “Novo Mundo”, ou seja, à 
América e, consequentemente, ao Brasil. Portanto, para além 
das diversificadas expressões artísticas ocorridas em território 
europeu, como o Classicismo e o Maneirismo, teremos contato 
com algumas das primeiras manifestações culturais em língua 
portuguesa em solos brasileiros – já que, desde esse instante, a 
cultura dos povos autóctones foi desprezada, de forma que dela 
sabemos ainda muito pouco –, como as literaturas de viagens e 
as literaturas jesuíticas de catequização indígena.
Cabe lembrar que o conteúdo a ser aqui apresentado 
não encerra o assunto. É apenas a ponta do iceberg para 
que você possa se aprofundar mais na temática e construir 
qualitativamente suas opiniões e seus pontos de vista. Por isso, 
as seções trarão situações-problema que podem contribuir 
nesse processo, bem como exemplos e dicas.
Bons estudos!
U2 - O Renascimento em Portugal e no Brasil48
Seção 2.1
O Classicismo
Diante da necessidade de continuar oferecendo um panorama 
das literaturas de língua portuguesa, a professora Joana decidiu 
apostar na relação entre o conteúdo a ser ensinado – dessa vez, o 
Classicismo – e o cotidiano de seus alunos. Depois de explicar todo 
o contexto Renascentista e as bases do Classicismo, decidiu explorar, 
então, o termo que constituiu o nome do período literário. Para isso, 
levou para a sala de aula alguns títulos de notícias que circularam na 
internet nos últimos tempos:
“Clássico Real Madrid x Barcelona pode deixar de existir.” (El país, 
9/11/2015)
“Financiamento coletivo viabiliza musical com clássicos do cantor 
Frank Sinatra.” (O Globo, 01/06/2017)
Após reforçar o uso da palavra “clássico” para se referir ao futebol 
e à música, a professora resolveu desafiar seus alunos a encontrarem 
relações de sentido possíveis entre esse termo tão utilizado no nosso 
cotidiano e o termo Classicismo, utilizado para as artes e a literatura 
do Renascimento.
Você acredita que é possível encontrar essa relação?
Diálogo aberto 
Não pode faltar
A estética clássica na Europa
Classicismo é o nome dado às manifestações

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