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Literatura Brasileira-Do romantismo colonial ao

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Prévia do material em texto

2012
Literatura BrasiLeira: Do 
PeríoDo CoLoniaL ao 
romantismo
Prof.ª Joseni Terezinha Frainer Pasqualini
Copyright © UNIASSELVI 2012
Elaboração:
Prof.ª Joseni Terezinha Frainer Pasqualini
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
 869
 P284l Pasqualini, Joseni Terezinha Frainer
 Literatura brasileira : do período colonial ao 
 romantismo / Joseni Terezinha Frainer Pasqualini. 
 Indaial : Grupo UNIASSELVI, 2012.
 237 p. il. 
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-370-9
 1. Literatura brasileira 2. Romantismo
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
 
Impresso por:
III
aPresentação
Caro/a acadêmico/a, seja bem-vindo/a ao estudo da disciplina de 
Literatura Brasileira: do Período Colonial ao Romantismo. Apreciar essa 
literatura é refletir sobre o contexto histórico, os períodos, os artistas, uma vez 
que na composição de uma obra literária estão expressas uma cultura, um 
tempo, uma ideologia e uma estética, mas, sobretudo, uma manifestação da arte.
Para a elaboração deste caderno nossa atenção centrou-se na literatura 
medieval, na renascentista, na literatura escrita em solo brasileiro no período 
em que o Brasil pertencia a Portugal, para, em seguida, refletirmos sobre 
a literatura de um Brasil pós-colonial. Sendo assim, apresentamos textos 
literários dos autores mais expressivos, de modo especial os que nos ajudam 
a pensar na construção e evolução da literatura brasileira.
As escolhas, tanto dos poetas como dos críticos literários, foram 
pensadas em termos de atender ao objetivo de analisar autores e épocas das 
manifestações literárias escritas nos três primeiros séculos da nação brasileira, 
para compreensão do fenômeno literário de nossa nação. Enfim, cremos 
que os conteúdos abordados podem auxiliá-lo/a no processo de aquisição e 
aprimoramento de conhecimentos e na capacidade de estabelecer relações, 
debater e argumentar, o que, esperamos, contribua para que você se torne 
um/a professor/a sempre em busca de aperfeiçoamento.
Prof.ª Joseni Terezinha Frainer Pasqualini
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 - A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA ......................................... 1
TÓPICO 1 - A IDADE MÉDIA .............................................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 O CONTEXTO LITERÁRIO DA EUROPA MEDIEVAL .............................................................. 3
3 A PRODUÇÃO LITERÁRIA DE UM PORTUGAL MEDIEVAL ................................................ 5
4 A EUROPA RENASCENTISTA E A PRODUÇÃO LITERÁRIA ................................................. 6
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 15
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17
TÓPICO 2 - A ILHA DE VERA CRUZ, A TERRA DE SANTA CRUZ: BRASIL ......................... 19
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19
2 A COLONIZAÇÃO DA NAÇÃO BRASILEIRA ........................................................................... 19
2.1 A LITERATURA DE INFORMAÇÃO ........................................................................................... 20
3 A CARTA DE CAMINHA ................................................................................................................... 21
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 27
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 29
TÓPICO 3 - OS JESUÍTAS: FONTE DE CONHECIMENTO E 
 ALARGAMENTO DE NOSSA LITERATURA ........................................................... 31
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31
2 A LITERATURA JESUÍTA ................................................................................................................. 31
3 COUTINHO E CANDIDO: SOBRE A FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA ....... 37
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 43
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 45
UNIDADE 2 - AS ANTÍTESES E PARADOXOS DO BARROCO ................................................. 47
TÓPICO 1 - A LITERATURA SEISCENTISTA .................................................................................. 49
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 49
2 O MANEIRISMO .................................................................................................................................. 50
3 O CONTEXTO HISTÓRICO E REPRESENTANTES DO BARROCO EUROPEU .................. 55
3.1 A REFORMA E A CONTRARREFORMA .................................................................................... 56
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 64
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 66
TÓPICO 2 - O BARROCO NO BRASIL ............................................................................................. 67
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 67
2 A PRIMEIRA EPOPEIA BRASILEIRA .............................................................................................67
3 GREGÓRIO DE MATOS..................................................................................................................... 70
4 PADRE ANTÔNIO VIEIRA E OS SERMÕES ................................................................................ 75
5 BOTELHO DE OLIVEIRA E NUNO MARQUES PEREIRA: 
 POESIA EM TERRAS BAIANAS ...................................................................................................... 81
5.1 A PINTURA E A ESCULTURA BARROCA NO BRASIL .......................................................... 85
sumário
VIII
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 91
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 96
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 98
TÓPICO 3 - O ARCADISMO ................................................................................................................ 99
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 99
2 O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DO SÉCULO XVIII ............................................... 99
3 CONVENÇÕES ÁRCADES E SEUS REPRESENTANTES 104
3.1 CLÁUDIO MANUEL DA COSTA...............................................................................................106
3.2 TOMÁS ANTONIO GONZAGA .................................................................................................111
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................126
RESUMO DO TÓPICO 3 .....................................................................................................................129
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................131
UNIDADE 3 - O MOVIMENTO ROMÂNTICO .............................................................................133
TÓPICO 1 - IDEIAS E IDEAIS DOS ROMÂNTICOS ..................................................................135
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................135
2 O ROMANTISMO: CONTEXTO HISTÓRICO NA EUROPA E 
 POR EXTENSÃO NO BRASIL .........................................................................................................136
3 OS PRECURSORES DO ROMANTISMO ....................................................................................143
RESUMO DO TÓPICO 1 .....................................................................................................................156
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................159
TÓPICO 2 - DO PRÉ-ROMANTISMO AO ROMANTISMO ......................................................161
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................161
2 OS POETAS E A TEMÁTICA INDIANISTA ................................................................................161
3 GONÇALVES DIAS: INDIANISTA POR NATUREZA ..............................................................166
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................183
RESUMO DO TÓPICO2 ......................................................................................................................186
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................188
TÓPICO 3 - O ULTRARROMANTISMO .........................................................................................191
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................191
2 POETAS DO INDIVIDUALISMO ROMÂNTICO ......................................................................191
3 O POETA DOS ESCRAVOS .............................................................................................................213
4 O ROMANCE DE FICÇÃO...............................................................................................................218
4.1 REPRESENTAÇÃO TEATRAL ....................................................................................................224
RESUMO DO TÓPICO 3 .....................................................................................................................228
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................231
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................233
1
UNIDADE 1
A EUROPA DA IDADE MÉDIA E 
RENASCENTISTA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• refletir sobre as mudanças ocorridas no campo da arte a partir do Re-
nascimento;
• abordar questões pertinentes ao contexto histórico do qual a literatura 
faz parte; 
• analisar textos e identificar características da literatura informativa e jesuítica;
• abordar as concepções de diferentes críticos literários no que concerne a 
uma autonomia literária brasileira em relação a Portugal.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um 
deles você encontrará atividades que o/a ajudarão a fixar os conhecimentos 
abordados.
TÓPICO 1 – A IDADE MÉDIA 
TÓPICO 2 – A ILHA DE VERA CRUZ, A TERRA DE SANTA CRUZ: BRASIL 
TÓPICO 3 – OS JESUÍTAS: FONTE DE CONHECIMENTO E ALARGAMEN-
TO DE NOSSA LITERATURA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A IDADE MÉDIA
1 INTRODUÇÃO
Para a compreensão do argumento literário brasileiro é preciso esboçar 
um panorama histórico da Europa e de Portugal, no período que antecede a 
colonização do Brasil. Vale lembrar que, até o ano de 476, Roma foi capital do 
Império Romano, subjugado após esta data pelos germânicos. Este acontecimento 
serve de transição para o início da Idade Média. Já no final do século XIII, expande-
se no Continente Europeu, principalmente na Itália, um movimento intelectual a 
partir do qual se desenvolveu a doutrina filosófica e uma nova concepção artística, 
o Humanismo. A base desse movimento descartava o pensamento servil proposto 
pela Igreja, valorizando os estudos clássicos e priorizando uma postura racional.
2 O CONTEXTO LITERÁRIO DA EUROPA MEDIEVAL 
A cultura da Idade Média refletia o momento histórico daquele período: 
as Cruzadas, a luta contra os mouros, os feudos, o poder espiritual do clero. O 
sistema econômico e político foi marcado pelo feudalismo, que consistia numa 
hierarquia rígida entre o suserano (aquele que possuía domínio sobre um feudo 
e de que dependiam outros feudos) e o vassalo que, mediante juramento àquele, 
dele se tornava dependente, rendendo-lhe obediência.
Além da nobreza, havia ainda outra classe social: o clero, que, na época, 
detinha grande poder, por possuir grandes extensões de terras, além de dedicar-se 
também à política. No mundo medieval não havia liberdade religiosa e era a Igreja 
a guardiã da verdade divina, o que lhe outorgava o direito de controlar a vida das 
pessoas e influenciar nas decisões políticas. O poder máximo da Igreja medieval 
ocorreu entre os anos de 1198 e 1216, época em que o papa era considerado figura 
importante dentro do cenário religioso e político, com poder de coroar reis, decidir 
sobre disputas territoriais e excomungar quem discordasse de suas decisões. No 
período em questão, padres, bispos e papas vendiam indulgências,acumulando 
cada vez mais riquezas. A Igreja associava a perdição da alma à realização dos 
desejos carnais, condenando, dessa maneira, o sensualismo e promovendo a 
castidade e a devoção a Deus como meio de conquistar a graça divina. Nessa 
perspectiva, a pena ao Inferno era o que as pessoas temiam e o teocentrismo era 
base do pensamento da Igreja Católica na Idade Média.
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
4
TEOCENTRISMO: visão cristã de mundo baseada na ideia de um ser humano 
desgraçado e pecador e de Deus como ser perfeito, centro de todas as coisas. (SILVEIRA apud 
MOISÉS, 2004).
UNI
A influência da Igreja sobre a produção cultural foi determinante para que 
se expandisse a visão teocêntrica, cuja razão era iluminada pela revelação divina. 
Na Europa medieval a produção cultural era composta de textos teológicos, 
biografias de santos e histórias de cavalaria, o que refletia o domínio da Igreja 
e da nobreza sobre a sociedade. Os textos sagrados, as obras dos filósofos da 
Antiguidade, para não representarem qualquer ameaça ao poder da Igreja, eram 
reproduzidos nas abadias e mosteiros. É nesse contexto de proibição que nasce 
também o lirismo trovadoresco, aliado ao servilismo dos vassalos aos senhores 
feudais e dos fiéis a Deus, cuja concepção deu origem à literatura medieval: 
afirmação da submissão do trovador à sua dama ou do cavaleiro à sua donzela.
“A lira trovadoresca é fundamentalmente uma lírica amorosa, que se assenta 
sobre uma rede específica de relações sociais. Transferem-se assim para o serviço da mulher 
aquelas atitudes e formas de subordinação que se estabeleciam antes entre o vassalo e 
o senhor.” A nomenclatura da canção de amor provençal é transportada para as relações 
feudais: a mulher é a senhora, o homem o seu servidor, “preza-se a generosidade e tem-
se em pouco a avareza, estabelece-se entre o homem e a mulher um pacto de serviço e 
lealdade”. (VIEIRA, 1987, p. 367).
UNI
O trovador medieval consagrava o amor platônico, pois a dama era a 
criatura mais nobre e respeitável da criação, a mulher ideal, passava a ser a pessoa 
a quem compunha os seus versos líricos.
 
Além do Trovadorismo, também se difundiram as novelas de cavalaria, 
originárias das narrativas de assuntos guerreiros em que o cavaleiro defendia o 
bem e vencia o mal. O cavaleiro medieval era concebido segundo os padrões da 
Igreja Católica. Era casto, fiel, dedicado, disposto ao sacrifício para defender a 
honra cristã. Esse herói feudal nos remete às Cruzadas, envolvido na defesa da 
Europa Ocidental contra os sarracenos e eslavos, inimigos da cristandade. A ideia 
de cavaleiro medieval opunha-se à do cavaleiro da corte, geralmente sedutor e 
envolvido em amores ilícitos. 
TÓPICO 1 | A IDADE MÉDIA
5
As novelas de cavalaria não apresentavam autoria e circulavam pela Europa 
como verdadeira propaganda das Cruzadas, para estimular a fé cristã e angariar o 
apoio das populações ao movimento. Eram tidas em alto apreço e foi muito grande 
a sua influência sobre os hábitos e os costumes da população da época. 
Ao final do século XIII o teocentrismo medieval cedeu lugar à valorização 
do homem e suas potencialidades. Este começa a controlar o seu destino e, a 
partir do Renascimento, passa a conceber uma visão de mundo antropocêntrica. 
O Renascimento não rompe com o mundo medieval, no entanto, é um período 
marcado pela circulação de ordem artística, cultural e científica. O homem passa 
a exercer sua capacidade de questionar o mundo, ou seja, a fazer uso da razão. 
A natureza passou a ser vista como obra e bondade divinas. Esse novo modo de 
ver o mundo surge nas obras literárias e artísticas, as quais contribuíram para a 
revolução estética.
3 A PRODUÇÃO LITERÁRIA DE UM PORTUGAL MEDIEVAL
Portugal tornou-se uma nação independente na Idade Média em 1143 e, na 
Europa deste período, como já enfatizado, o homem vivia imerso no catolicismo. 
Nessa perspectiva, os movimentos relevantes foram marcados pela presença da 
Igreja e quem não seguisse os preceitos católicos estava à margem da sociedade. 
Portugal começava a afirmar-se como reino independente, embora ainda mantivesse 
laços econômicos, sociais e culturais com o restante da Península Ibérica. 
Lembre, caro/a acadêmico/a, que, conforme você estudou no Caderno de 
Literatura Portuguesa, as primeiras manifestações literárias de Portugal foram 
editadas em galego-português, quando o trovador Paio Soares Taveirós compõe 
a cantiga chamada A Ribeirinha. Aí ocorre o início da primeira escola literária 
portuguesa, o Trovadorismo. 
O lirismo trovadoresco antecede a prosa portuguesa. Desse modo, são 
dois períodos que marcam o surgimento da literatura portuguesa: o primeiro, 
lírico, caracterizado pela poesia das cantigas; e o segundo, a prosa, trazendo as 
novelas de cavalaria.
O período trovadoresco da literatura portuguesa foi marcado pelo 
florescimento das chamadas cantigas, poemas criados com o objetivo de que 
fossem cantados, acompanhados por instrumentos musicais. Essas cantigas 
compreendiam as de amor e de amigo. Existiam ainda as cantigas do gênero 
satírico, de escárnio e as de maldizer. 
As novelas de cavalaria marcam a segunda etapa da literatura portuguesa 
do período medieval. Elas têm grande destaque enquanto obras de ficção escritas 
em prosa. Sua origem está nas canções de gesta, pois tratavam de aventuras de 
cavaleiros andantes.
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
6
Um dos primeiros textos em prosa conhecidos em Portugal é a novela 
de cavalaria Amadis de Gaula, cujo modelo de cavaleiro era o herói apaixonado 
pela donzela. No texto são abordados temas como fidelidade à mulher amada, o 
desejo físico em flagrante oposição ao platonismo, o sentimentalismo e a timidez 
do herói, o amor cortês palaciano, as lutas e o ideal do guerreiro, o sensualismo 
evidente e o desejo carnal masculino e feminino.
 
Outro gênero da época foram as crônicas historiográficas. Elas apresentam 
um panorama da sociedade lusitana, expondo a vida palaciana, suas contradições 
e vícios, o movimento dos trabalhadores nas aldeias, as festas urbanas, a 
decadência da aristocracia, dentre outros aspectos. 
Além da crônica histórica, outra contribuição foi a prosa didática, a qual 
se constitui principalmente de textos doutrinários compostos ou traduzidos pela 
nobreza, com temas religiosos e morais. Este tipo de literatura desenvolveu-se 
num período em que houve grande preocupação com a cultura. Príncipes deram 
ênfase à organização de bibliotecas e à escrita. 
Também se desenvolve a chamada Poesia Palaciana, escrita por nobres e 
para a nobreza, ressaltando seus usos, seus costumes na vida da corte. 
A produção literária portuguesa da Idade Média, como já enfatizamos, 
foi marcada pelo teocentrismo. Com o surgimento do movimento renascentista, 
o pensamento passa a ser diverso e tal fato é evidenciado também pela literatura, 
assunto que abordaremos no próximo tópico.
4 A EUROPA RENASCENTISTA E A PRODUÇÃO LITERÁRIA
Na Europa dos séculos XIV a XVI é latente a produção científica e artística. 
Toda essa intensificação no campo da arte e da ciência ficou conhecida como 
Renascimento ou Renascença. O berço do Renascimento foi a Itália. Mas, por que 
a Itália? Vamos recordar alguns fatos relacionados ao contexto dessa época, no 
intuito de melhor compreender a arte que ali se desenvolvia.
A Itália possuía cidades nas quais as atividades comerciais, mesmo durante 
a Idade Média, eram intensas. Basta lembrar Veneza e Gênova, duas importantes 
cidades portuárias italianas. Elas mantinham um contato estreito com os árabes 
e bizantinos por meio do comércio, fato este que ofereceu condições para que os 
italianos tivessem acesso às obras clássicas desses povos. Vale lembrar ainda que o 
Império Romano possuía a memória da cultura clássica, e o Renascimento buscou 
influência nessa cultura greco-romana.
TÓPICO 1 | A IDADE MÉDIA
7
Caro/a acadêmico/a. O ato de patrocinar e investir em arte e cultura é conhecidocomo mecenato. O termo deriva do nome de um influente conselheiro do Império Romano, 
Caio Mecenas, que, com suas ideias, influenciou o então Imperador Otávio Augusto a sustentar 
a produção artística de poetas e intelectuais da época. Tal ideia tornou-se modelo a ser seguido 
e vários governos, no intuito de obter fama e glória, fomentavam produções artísticas. “Os 
principais mecenas da época do Renascimento cultural foram: Lourenço de Medici, famoso 
banqueiro italiano; Come de Medici, nobre banqueiro e político italiano; e Galeazzo Maria 
Sforza, duque de Milão”. (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA DO BRASIL, [s.d.], p. 5870).
UNI
Outro aspecto a ser mencionado diz respeito ao Humanismo: pode-se 
dizer que ele pregava a pesquisa, a observação e a crítica. Foi um movimento 
intelectual com forte aversão ao princípio da autoridade. Para Sevcenko (1994), o 
Renascimento foi a colocação do Humanismo no plano concreto. 
Há que se considerar que, na Idade Média, os fenômenos naturais ou 
acontecimentos estariam atrelados a uma explicação originada nos desígnios 
divinos, o pensamento teocêntrico obtinha maior força e o poder, como vimos, 
advinha da Igreja. Com o Renascimento, ampliam-se e são reconhecidas novas 
formas de se pensar as expressões artísticas, as ciências e a política. Foi durante o 
movimento renascentista que ocorreu a disseminação do humanismo e pode ser 
definido como uma doutrina de caráter filosófico considerada como afirmação da 
independência, autonomia e libertação do espírito humano. O historiador Jacob 
Burckhardt (1818-1897) enfatiza que o humanismo coloca o homem no centro 
de todas as preocupações filosóficas, morais e artísticas. (ENCYCLOPAEDIA 
BRITANNICA DO BRASIL, [s.d.], p. 5870).
A partir do grande acúmulo de riquezas obtidas no comércio com o 
Oriente, formou-se uma poderosa classe de ricos mercadores, banqueiros e 
poderosos senhores. Estes, ou seja, príncipes, condes, bispos, dentre outros, em 
troca de reconhecimento, prestígio e status de nobreza, investiam grandes somas 
em dinheiro na arte. Sendo assim, artistas de várias localidades se dirigiam à 
Itália em busca de poderosos (mecenas) que financiassem suas obras.
Apesar de o humanismo ligar-se intimamente ao Renascimento, ele não iniciou 
na Renascença, ou seja, as manifestações humanistas fizeram parte da Antiguidade Clássica, 
bem como do decorrer da Baixa Idade Média. (TOTA; LIMA, 2004). Podemos então afirmar 
que o Renascimento é a continuidade de um diálogo que se inicia na Idade Média.
UNI
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
8
A visão de mundo da burguesia sintoniza-se com a renovação, o 
Renascimento. A ideia da cultura medieval que se configurava pela religiosidade, 
pela interpretação dos fatos ligados a fenômenos da natureza não mais combinava 
com a classe burguesa em ascensão. Desse modo, o sucesso nos negócios dependia 
da observação, do raciocínio e do cálculo, e não da intervenção divina.
Na Europa medieval, conforme já descrito, houve produção cultural, mas 
no Renascimento ocorreu uma significativa expansão. O mesmo foi dividido em 
três fases: “Trecento” (século XIV), “Quattrocento” (século XV) e “Cinquecento” 
(século XVI).
Da primeira fase destacamos o poeta Francisco Petrarca, Giovanni 
Boccacio, e sua célebre obra, Decameron, e Dante Alighieri e A Divina Comédia. 
Petrarca, considerado o “Pai do Humanismo”, compôs inúmeras poesias líricas e 
odes, em dialeto italiano e na língua latina. Destas destacamos o soneto no qual o 
“eu” lírico explicita a relação entre o estado de espírito dos amantes, a beleza do 
dia e a natureza como referência.
Obras como as de Petrarca constituíram a base para o desenvolvimento 
do Humanismo e serviram de inspiração para poetas e artistas de outros países 
da Europa. 
Além de cantar o amor entre os amantes na literatura, havia ainda 
preocupação com o destino do ser humano após a morte. Muitas eram as crônicas 
e lendas que descreviam os aspectos da vida eterna. Inspirado por essa tradição, 
o poeta Dante Alighieri dedicou-se à composição de uma das obras-primas da 
Literatura universal, a Divina Comédia. Considerado pelos italianos como o seu 
poeta maior, Alighieri viveu entre 1265 e 1321. O autor florentino colaborou com 
o surgimento de um movimento poético denominado Dolce Stil Nuovo.
Duas rosas de amor, no Éden colhidas,
No dia, quando Maio era nascente,
 De amante antigo e sábio alto presente
Entre dois jovens foram repartidas.
Com riso vago e frases comovidas
De enamorar até um silvano horrente,
E assim de um amoroso raio ardente
Nossas faces ficaram acendidas.
O sol não viu jamais um par tão 
brando –
Num suspiro e num riso ele dizia –
Os dois jovens amantes abraçando.
Assim frases e rosas repartia,
E o coração se alegra, recordando
Ó feliz eloquência, ó doce dia!
(PETRARCA, 1998, p. 32)
TÓPICO 1 | A IDADE MÉDIA
9
A concepção do Dolce Stil Nuovo era “o poder do amor como mediador da 
sabedoria divina; comunicação direta entre a amada e o Reino de Deus; seu poder de conferir 
fé, conhecimento e renovação interior ao amante; e finalmente, a restrição explícita de tais 
dons aos que amam”. (AUERBACH, 1997, p. 43).
NOTA
Esse estilo “[...] é quase sinônimo de poesia de amor”. (CARPEAUX, 1959, 
p. 332). Tal concepção deu origem a um movimento poético voltado a celebrar os 
dotes morais da amada e Dante foi o representante maior da poesia stilnuovista, 
uma expressão idealizada, transcendental, tal qual convinha a um amor por um 
ser quase celestial. 
Para compor a Divina Comédia, Dante procurou unir a história da Igreja do 
seu tempo, a política de Florença e a trajetória do ser humano, juntamente com as 
suas concepções filosóficas, religiosas e literárias.
Poema épico, com propósitos filosóficos, teológicos e morais, o poema 
poderia ser a afirmação do modo medieval de ver o mundo sob vários aspectos. 
Escrito num período de catorze anos (1307-1321), sintetiza a visão de Dante 
quanto ao mundo das almas – uma fantástica viagem pelos três reinos do além-
túmulo – Inferno, Purgatório e Paraíso, dividida em três partes, com trinta e três 
cantos cada uma. O Inferno possui um canto a mais, que serve de introdução ao 
poema. No total, são cem cantos, com 14.233 versos hendecassílabos, encadeados 
por rimas segundo o esquema ABA, BCB, CDC. Esse encadeamento pode ser 
visualizado a partir dos primeiros versos e se repete ao longo de toda a obra:
A meio caminhar de nossa vida
fui me encontrar em uma selva escura:
estava a reta minha via perdida.
Ah! Que a tarefa de narrar é dura
essa selva selvagem, rude e forte
que volve o medo à mente que a figura.
De tão amarga, pouco mais lhe é a morte,
mas, tratar do bem que enfim lá achei,
direi do mais que me guardava a sorte.
(ALIGHIERI, 2005, p. 25)
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
10
Observa-se que o poema possui uma simetria matemática baseada no número 
três, cujas estrofes, com três versos cada uma, rimam da forma encadeada, formando, 
ainda, a terza rima, ou seja, a linha central de cada terceto controla as duas linhas 
marginais do terceto seguinte. A terza rima dá uma impressão de movimento, ao fazer 
com que cada terceto antecipe o som que irá ecoar duas vezes no terceto seguinte.
Com a terza rima, “Dante encontrou um veículo privilegiado para a progressão de 
extensas sequências narrativas ou expositivas, pelo peculiar encadeamento que proporciona 
a cada tercina com as que antecedem e as que lhes sucedem”. (MOURA, 2005, p. 11).
UNI
Escrita predominantemente em dialeto florentino, revelando o desejo do 
poeta de que a língua toscana passasse a ser reconhecida como língua oficial, “[...] 
a Comédia constitui um ponto terminal e um divisor de águas” (AUERBACH, 
1997, p. 119), atribuindo ao poeta a paternidade da língua italiana, da mesma 
forma que o mesmo dá início à literatura italiana. 
O poeta descreveu a geografia e a população do “outro mundo” e deu 
forma sensível às ideias religiosas; o escritor foi geógrafo e historiador doInferno, Purgatório e Paraíso. A Comédia é o relato da viagem e do testemunho 
da salvação de Dante; é, também, a parábola para qualquer cristão perdido no 
pecado. O personagem se encontrava no meio do caminho de sua vida, vendo-se 
perdido em uma floresta escura, que poderia simbolizar um período de entrega 
a uma vida mundana, ou seja, havia deixado de seguir o caminho dito certo. A 
viagem do peregrino é acompanhada por Virgílio, que simboliza o intelecto, a 
razão, a sabedoria moral, que o guiou para fora da selva escura. Com Virgílio, o 
personagem encontra a possibilidade de elevar-se da “selva selvagem”. Perdido 
no pecado, empreende a caminhada através do além-túmulo, ao lado do guia, 
e é nessa condição que o mestre conduz o viajante pelo Inferno e depois pelo 
Purgatório, representando a razão que é, na concepção aristotélica adotada por 
Dante, condição da Virtude. (MAURO, 2005). 
O poeta, ao narrar em primeira pessoa, mobilizou em seu poema as suas 
virtudes expressiva e imaginativa, como escreve Anatol Rosenfeld: 
[...] é perfeitamente possível que haja referência indireta a vivências 
reais; estas, porém, foram transfiguradas pela energia da imaginação e 
da linguagem poética que visam a uma expressão “mais verdadeira”, 
mais definitiva e mais absoluta. (1989, p. 22).
Ainda segundo o que revela Contini, “no ‘eu’ de Dante convergem o homem 
em geral, sujeito do viver e do agir, e o indivíduo histórico, titular de uma experiência 
determinada em um certo espaço e um certo tempo”. (CONTINI, 1999, p. 35).
TÓPICO 1 | A IDADE MÉDIA
11
Especialmente no Inferno, o personagem assume em si toda a experiência 
humana, narrando sua perdição, conversando com as almas e vendo toda a espécie 
de sofrimento e tormento que se apresenta como caminho a ser percorrido para 
encontrar a verdade. O narrador não é conhecedor do drama das almas e, na 
medida em que faz sua peregrinação, passa a compreender os fatos através das 
imagens que encontra, dos acontecimentos que suscitam sentimentos de piedade, 
temor, dúvidas que inquietam e instigam seu espírito. Segundo o crítico literário 
Todorov, é a chamada “visão de fora da narração” (1971, p. 237), que ocorre 
quando o narrador descreve unicamente o que presencia e ouve. 
Nessa perspectiva, a narrativa parece residir na firmeza do caráter do 
personagem, ao lidar com algumas das questões mais fundamentais da condição 
humana. Diante dos desafios, ele segue, com convicção, sua crença na existência 
da vida eterna e sugere como finalidade e prioridade de nossa vivência terrena a 
busca da união com Deus, por meio da purificação. 
Com gradualidade, nos revelou o seu crescimento espiritual e sua 
maturação, até a conquista de uma condição correta para encontrar o caminho 
rumo à salvação.. A Divina Comédia constitui uma doutrina da humanidade, um 
código moral, cuja obediência aos seus preceitos levaria o homem à conquista do 
Paraíso. Dessa maneira, o autor exalta e justifica as crenças do catolicismo e, como 
forma de castigo, destina o homem pecador ao Inferno, e ao homem virtuoso 
oferece como prêmio alcançar o Paraíso. 
Quando conhecemos o poema inteiro, reconhecemos quão engenhosa e 
convincentemente Dante operou para se enquadrar nos homens reais, em 
seus contemporâneos, amigos, inimigos, personagens históricas recentes, 
figuras lendárias e bíblicas e figuras da ficção antiga. (ELIOT, 1989, p. 77). 
O seu sacro poema é, pois, uma obra impregnada de ideias e fenômenos 
que se propagam ao longo do tempo: é isto que possibilitou o alistamento de 
Dante como cidadão da Literatura e da História.
Esses toscanos exerceram forte influência sobre as literaturas de toda 
a Europa. Daí a dizer que são considerados precursores do Renascimento. Em 
meados de 1300, segundo Otto Maria Carpeaux (1959, p. 329), a “Itália já possuía 
uma literatura moderna, apoiada no renascimento das letras antigas, enquanto 
o resto da Europa se encontrava ainda nas trevas medievais”. Ainda segundo o 
mesmo, a gente europeia passou a admirar a renascença italiana que teria “[...] 
criado o homem moderno e a civilização moderna”. (Op.cit., p. 329).
Você se lembra dos mecenas? Aqueles que patrocinavam a arte? Então, 
do segundo período, “quattrocento” (século XV), merece destaque o fato de a 
família Medici apadrinhar os escritores, tornando, assim, Florença o principal 
centro renascentista.
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
12
Quanto à terceira fase, o “cinquecento” (século XVI), pode-se destacar 
Nicolau Maquiavel, pela obra O Príncipe, e Desidério Erasmo de Rotterdam, com 
O Elogio da Loucura, na qual criticou a sociedade europeia: satirizava os costumes 
da época e inflava o povo a perceber a necessidade de reformar a Igreja Católica. 
Na França, o Renascimento teve importantes expoentes: Rabelais (1490-
1553), autor de Gargantua e Pantagruel; Montaigne (1533-1592), autor de estudos 
intitulados Ensaios. Na Inglaterra, um dos expoentes do Renascimento foi Thomas 
More (1475-1535), autor de Utopia. Nessa obra é descrita a vida da população 
de uma ilha imaginária. Outro escritor que merece destaque é o filósofo Francis 
Bacon (1561-1626), autor de Novun Organun.
William Shakespeare, autor de peças teatrais como Hamlet e Otelo, também 
se consagrou no Renascimento. Na Alemanha, a pintura renascentista imortalizou 
nomes como Hans Holbein (1497-1553) e Albert Dürer (1471-1528). Na Espanha, a 
principal figura do Renascimento foi Miguel de Cervantes, autor de Dom Quixote 
de La Mancha, obra cujo tema e enredo satirizam a cavalaria medieval. 
Caro/a acadêmico/a: Leonardo da Vinci, autor de Mona Lisa e Santa Ceia, e de 
estudos que anteciparam importantes inventos e conhecimentos técnico-científicos, 
tais como o avião, o helicóptero e o submarino, também fez parte do Renascimento.
Outro artista italiano foi Michelangelo, que projetou a cúpula da Basílica 
de São Pedro (em Roma) e pintou afrescos. O Juízo Final e A Criação de Adão são 
algumas das cenas da Capela Sistina de autoria deste gênio.
FIGURA 1 – A CRIAÇÃO DE ADÃO
FONTE: Disponível em: <www.wga.hu/index1.html.>. No ABC index: Michelangelo 
Buonarroti>Frescoes on the Sistine Cell>. Acesso em: 24 jan. 2011.
Além de pintor, Michelangelo foi também escultor de notáveis obras, 
como a Pietà.
TÓPICO 1 | A IDADE MÉDIA
13
FIGURA 2 – PIETÀ
FONTE: Disponível em: <www.casthalia.com.br/a.../michelangelo_teto.
htm>. Acesso em: 24 jan. 2011.
No campo científico destacaram-se Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e 
Giordano Bruno. A geografia é transformada devido aos conhecimentos advindos do 
descobrimento de novos continentes. No campo da tecnologia, destaque-se a invenção da 
imprensa e da pólvora.
NOTA
Nunca é demais lembrar que, dentre as características que fazem parte 
desse movimento renascentista, encontramos: uma sociedade que admirava a 
beleza e tentava reproduzi-la nas obras de arte; um tempo no qual a razão passou 
a ser a base do conhecimento e um homem capaz de criar e explicar os fenômenos 
que o rodeiam, ao mesmo tempo em que passa a valorizar os prazeres sensoriais. 
Ligada a estes aspectos, destaca-se também uma sociedade com um objetivo em 
comum, qual seja, sorver da Antiguidade greco-romana a cultura e a estética. 
Então, os artistas renascentistas passaram a ler e apreciar cada vez mais as obras 
dos gregos e romanos, na tentativa de imitá-los. Tal fato renovou não apenas as 
artes plásticas, a literatura, a arquitetura, mas a organização política e econômica 
daquelas sociedades dos séculos XIV a XVI.
E o Brasil? Antes de falar sobre o Renascimento em nosso país, deter-nos-
emos um pouco no Renascimento em Portugal. As ideias renascentistas portuguesas 
eram, como não poderiam deixar de ser, as mesmas que as de toda a Europa. 
Lembre-se de que Sá de Miranda, autor que você estudou na disciplina de Literatura 
Portuguesa, passou um período na Itália. Em seu retorno, aproximadamente em 
1527, trouxe na bagagem não somente a estética clássica harmoniosa e culta,que 
vigorava naquele país renascentista, mas as novas concepções e ideias. 
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
14
Dentre a produção literária portuguesa desse período podemos destacar 
o teatro de Gil Vicente. Estudiosos contemporâneos dividem os textos vicentinos 
em: autos de moralidade, autos cavaleirescos e pastoris, farsas, alegorias de 
temas profanos. Era um tipo de teatro popular, por causa das suas características 
consideradas fundamentais – temas, linguagem utilizada e atores. Antes de Gil 
Vicente não havia teatro em Portugal, mas encenações de caráter religioso. Nas 
suas composições, Vicente procurou manter certa proximidade às influências 
medievais, com um teatro didático-moralizante. Se, em parte, focalizava as 
virtudes cristãs, procurava também não perder de vista a sociedade lusitana da 
época, trazendo o humor e senso crítico.
Valendo-se de uma simplicidade que lhe era peculiar, Gil Vicente procurava 
passar ao público uma visão crítica da sociedade. O elemento básico para a 
composição das peças era a vida diária, a vida real das pessoas e a doutrina cristã. 
Mas, sem dúvida, a maior figura do Renascimento em Portugal foi Luís 
Vaz de Camões. O poeta lírico e épico. Camões perpetuou e eternizou o povo 
português ao elaborar Os Lusíadas, publicado em 1572. O poema relata a história 
de Portugal desde sua formação até a descoberta do caminho para as Índias, por 
Vasco da Gama. Na narrativa em questão aparecem a mitologia pagã e a visão 
cristã, os sentimentos sobre a guerra e o império, o desejo da aventura.
Caro/a acadêmico/a, você já estudou este poeta e sua epopeia no Caderno 
de Literatura Portuguesa e pôde perceber que Camões funde elementos épicos 
e líricos. Nela estão presentes duas importantes vertentes do Renascimento 
português: as expedições ultramarinas e o Humanismo.
E foi em uma dessas expedições ultramarinas que as terras brasileiras foram 
“descobertas”. O Brasil não foi imediatamente explorado. Para os portugueses, 
interessavam as colônias orientais. Foi aproximadamente em 1532 que se iniciou 
a colonização propriamente dita e com ela também o processo que foi o germe 
para a literatura brasileira. Fatos estes que serão abordados no próximo tópico.
15
Neste tópico, você viu que:
• No mundo medieval não havia liberdade religiosa e era a Igreja a guardiã da 
verdade divina, o que lhe outorgava o direito de controlar a vida das pessoas e 
influenciar nas decisões políticas. O teocentrismo era a base do pensamento da 
Igreja Católica na Idade Média. Além disso, o sistema econômico e político era 
marcado pelo feudalismo.
• Na Europa medieval a produção cultural era composta de textos teológicos, 
biografias de santos e histórias de cavalaria, o que refletia o domínio da Igreja e 
da nobreza sobre a sociedade.
• A lira trovadoresca é fundamentalmente uma lírica amorosa, na qual o poeta 
trovador consagra o amor platônico: a dama como criatura mais nobre e 
respeitável da criação, uma mulher ideal.
• Na Europa medieval também se difundiram as novelas de cavalaria, originárias 
das narrativas de assuntos guerreiros, em que o cavaleiro defendia o bem e 
vencia o mal.
• O teocentrismo medieval começa a ceder lugar à visão de mundo antropocêntrica. 
• Na Europa dos séculos XIV a XVI é latente a produção científica e artística, 
patrocinada pelos mecenas. Toda essa intensificação no campo da arte e da 
ciência ficou conhecida como Renascimento ou Renascença.
• O Humanismo pregava a pesquisa, a observação e a crítica. Foi um movimento 
intelectual com forte aversão ao princípio da autoridade. A base do movimento 
descartava o pensamento servil proposto pela Igreja, valorizando os estudos 
clássicos e priorizando uma postura racional.
• O Renascimento foi a realização do Humanismo no plano concreto.
• A visão de mundo da burguesia sintoniza-se com a renovação, o Renascimento. 
Sendo assim, a interpretação dos fatos ligados a fenômenos da natureza, bem 
como as questões ligadas à religiosidade, não mais combinavam com a classe 
burguesa em ascensão. 
• A Renascença, no que concerne aos movimentos artísticos, foi dividida em três 
fases: “Trecento” (século XIV), “Quatrocento” (século XV) e “Cinquecento” 
(século XVI).
RESUMO DO TÓPICO 1
16
• Destacam-se da primeira fase, o “trecento”, artistas como Petrarca e Dante 
Alighieri, que, além de cantarem o amor entre os amantes, escreviam também 
sobre o destino do ser humano após a morte. Foi Dante quem escreveu uma das 
obras-primas da literatura universal, a Divina Comédia, que relata aspectos da 
vida eterna e, por isso, consagrou-se como o maior poeta italiano.
• Do segundo período, o “quattrocento”, merece destaque o fato de que Florença 
tornou-se o principal centro renascentista.
• Quanto à terceira fase, o “cinquecento” (século XVI), vários foram os artistas que 
se destacaram: Nicolau Maquiavel, Erasmo de Rotterdam, Rabelais, Montaigne, 
Thomas More, William Shakespeare, Miguel de Cervantes, Leonardo da Vinci, 
dentre outros.
• Dentre as características que fazem parte do Renascimento, destacamos: uma 
sociedade que admirava a beleza e tentava reproduzi-la nas obras de arte; a 
razão, que passou a ser a base do conhecimento; um homem capaz de explicar 
os fenômenos que o rodeavam; artistas que absorvem da Antiguidade greco-
romana a cultura e a estética e, então, passaram a ler e apreciar cada vez mais 
as obras dos gregos e romanos, na tentativa de imitá-los. 
• A maior figura do Renascimento em Portugal foi Luís Vaz de Camões. O poeta 
lírico e épico perpetuou e eternizou o povo português ao elaborar Os Lusíadas, 
publicado em 1572. 
• Na obra de Camões estão presentes duas importantes vertentes do Renascimento 
português: as expedições ultramarinas e o Humanismo.
17
1 As novelas de cavalaria e as crônicas historiográficas marcam a literatura 
portuguesa do período medieval. Elabore algumas considerações sobre elas, 
procurando destacar suas diferenças. 
2 Elenque alguns fatos que nos ajudam a entender o porquê de a Itália ser 
considerada berço do Renascimento. 
3 Na Idade Média, os fenômenos naturais ou acontecimentos estariam 
atrelados a uma explicação originada nos desígnios divinos. Com o 
Renascimento, ocorrem mudanças no modo de conceber tais acontecimentos. 
Aponte algumas destas mudanças.
AUTOATIVIDADE
18
19
TÓPICO 2
A ILHA DE VERA CRUZ, A TERRA DE SANTA CRUZ: BRASIL
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A madeira (o pau-brasil), que atraiu a atenção dos portugueses para a nova 
terra e da qual extraíam uma tinta vermelha, tinha razoável mercado na Europa. Para 
sua exploração, os portugueses não movimentaram grande volume de capital, sendo 
assim, aqui estabeleceram pequenas fortificações, precárias, para proteção da costa e 
envio da madeira. Sem o estabelecimento de uma sociedade, a vida cultural sofreria de 
escassez e descontinuidade. Esse período, denominado “Quinhentismo”, apresentou 
algumas manifestações, escritos com o objetivo de informar e de catequizar. Vejamos, 
a seguir, o contexto que os originou e, assim, descrever um pouco do que aconteceu 
no Brasil entre 1500 e 1600 no âmbito da arte literária.
2 A COLONIZAÇÃO DA NAÇÃO BRASILEIRA
Para delinear um estudo sobre a literatura brasileira é preciso considerar 
o início da colonização. Com a chegada dos portugueses ao Brasil, inicia-se a 
fase colonial e após os primeiros contatos com os indígenas, por volta de 1530, 
Portugal, efetivamente, inicia a colonização das terras do Novo Mundo. Tal 
intento ocorre, pois o comércio com as Índias já não era mais tão lucrativo, devido 
à concorrência de outros países que também lá chegaram. Além disso, a segurança 
da Colônia estava ameaçada. Portugal temia perder as terras para os invasores 
corsários estrangeiros.
O sentido da colonização deve ser entendido da seguinte forma: a Colônia 
fica sob o controle de Portugal, e da Colônia serão extraídos os produtos e metais 
preciosos enviados à Metrópole. Acontece então a extração do pau-brasil,o cultivo 
da cana-de-açúcar e o envio de metais preciosos à Corte. A passagem de um 
Brasil colonial para um Brasil independente ocorre por um “[...] lento processo de 
aculturação do português à terra e aos nativos, deixando de ser Colônia quando 
passa a ser sujeito da sua história”. (BOSI, 1992, p. 13).
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
20
2.1 A LITERATURA DE INFORMAÇÃO
Antes de iniciar a discussão sobre os escritos da Colônia, é interessante 
refletir sobre as considerações estabelecidas por Antonio Candido (1959). O 
estudioso distingue manifestação literária de literatura propriamente dita. Segundo 
o crítico, a literatura é um conjunto de obras que pressupõe em comum temas, 
língua e imagens, características estas que dão a conhecer “as notas dominantes 
duma determinada fase” e promovem uma continuidade literária; para tanto, três 
elementos são indispensáveis: 
[...] a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou 
menos conscientes de seu papel; um conjunto de receptores, formando 
os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um 
mecanismo transmissor (de modo geral uma linguagem transmitida 
em estilos) que liga uns aos outros. (CANDIDO, 1959, p. 26).
Sem este conjunto de elementos não há tradição, os escritos não são 
representativos de um sistema. No entanto, são escritos significativos e possuem 
valor. Segundo o estudioso, os escritos em terras brasileiras que vão do século 
XVI ao XVIII são, pois, manifestações literárias importantes para a formação da 
literatura brasileira. 
Bosi assim se expressa sobre os textos informativos: “[...] a pré-história 
das nossas letras interessa como reflexo da visão do mundo e da linguagem que 
nos legaram os primeiros observadores do país.” (1992, p. 15). 
Os primeiros textos, de modo geral, eram descrições sobre a qualidade 
da terra, as possibilidades do que poderia ser explorado, as dificuldades locais, 
a fauna, a flora, a vida dos nativos e os primeiros encontros destes com os 
portugueses. Sua função era comunicar, orientar, relatar, enfim, dar a conhecer à 
Coroa o que se passava nas expedições ultramarinas. Essa informação expressa 
o modo de noticiar as grandes navegações de Portugal, Espanha e de tantas 
outras expedições – um gênero muito difundido no século XV, conhecido como 
literatura de viagem.
Em solo brasileiro, desses textos comumente chamados de literatura 
informativa, destacamos:
• A Carta do Descobrimento – Pero Vaz de Caminha A el-rei D. Manuel, relatando 
a chegada dos portugueses e os primeiros contatos com a natureza e os índios. 
Escrita em 1500.
• O Tratado da Terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente 
chamamos de Brasil – Pero de Magalhães Gândavo. Escrito por volta de 1576.
• Fernão Cardim chega em 1584 ao Brasil e percorre capitanias e povoações. 
Descreve a natureza – fauna e flora – e os indígenas. Ele o faz sob o título Tratado 
da Terra e da Gente do Brasil.
TÓPICO 2 | A ILHA DE VERA CRUZ, A TERRA DE SANTA CRUZ: BRASIL
21
• O Diário de Navegação de Pero Lopes e Souza, escrivão do primeiro grupo 
colonizador, o de Martim Afonso de Souza (1530).
• O Tratado Descritivo do Brasil (1587), de Gabriel Soares de Souza. 
3 A CARTA DE CAMINHA
Quando a corte portuguesa aqui chegou, encontrou uma natureza 
exuberante, os índios e seus costumes, fatos que deveriam ser comunicados ao rei 
D. Manuel. Pero Vaz de Caminha era o escrivão da frota incumbido de acompanhar 
a expedição de Pedro Álvares Cabral e relatar o que nela ocorria. Caminha, tão logo 
aportou na nova terra, comunicou o fato ao rei. O teor da carta, considerada a certidão 
de nascimento do Brasil, permite-nos perceber as expectativas dos portugueses em 
relação ao Brasil. Para tanto, Caminha faz uso da tipologia descritiva. 
Lembre, caro/a acadêmico/a, que fazer uso da linguagem para representar 
a imagem de alguma cena, seres ou objetos é adotar o ato de descrever. Os textos 
que possuem como estratégia predominante a descrição oferecem a possibilidade 
de visualizar o cenário, as personagens, os objetos. Para tanto, o escritor emprega a 
linguagem denotativa. Além disso, na organização de uma descrição, quem escreve 
capta a realidade a partir de um ponto de vista, organizando as ideias no intuito de 
informar o leitor, convencê-lo, transmitir impressões, sentimentos e emoções. 
No caso da carta endereçada à corte portuguesa, Caminha relata com 
objetividade e clareza, no intuito de atender aos interesses da Coroa. Enumera 
algumas das características físicas dos índios através de adjetivos como 
“avermelhados”, “rostos e narizes bem feitos”, “cabelos corredios”: “A feição deles 
era parda, algo avermelhada; de bons rostos e bons narizes. Em geral são bem feitos, andam 
nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas, 
e nisso são tão inocentes como quando mostram o rosto”. (CAMINHA, 1999, p. 19).
Perceba que a beleza física e a nudez impressionaram os portugueses. Os 
adornos indígenas também inquietam e são descritos com riqueza de detalhes: 
Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso 
verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso 
de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de 
dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo 
de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem 
lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber. (Op.cit., p. 19-20).
Por vezes, Caminha atenua a descrição do selvagem com os conectivos 
“porém”, “contudo”, conforme o fragmento: 
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
22
Eles, porém, com tudo, andam muito bem curados e muito limpos e 
naquilo me aprece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses que 
lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que às mansas, porque os corpos 
seus são tão limpos e tão gordos e tão formosos, que não pode mais ser. E isto 
me fez presumir que não têm casas em moradas em que se acolham. E o ar, a 
que se criam, os faz tais. (Op.cit., p. 43-44). 
A Carta é, sem dúvida, fonte de pesquisa tanto da gente quanto das terras do 
além-mar. Percebemos na introdução e ao final do relato a relação de subordinação 
à Coroa, patrocinadora das expedições marítimas: “Todavia tome Vossa Alteza minha 
ignorância por boa vontade”. (Op.cit., p. 11). “Beijo as mãos de Vossa Alteza”. (Op.cit., p. 
62). Caminha permeia a carta significativamente com reverências ao rei, à Igreja e 
ao capitão. Apesar de toda essa hierarquização, sugere qual deveria ser a principal 
preocupação da Coroa, qual seja, focar a atenção ao povo indígena: “Contudo, o 
melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a 
principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”. (CAMINHA, 1999, p. 61).
Ao longo da narração são relatados encontros entre os indígenas e os 
portugueses. A comunicação se estabelece através da linguagem não verbal, 
como observa Pero Vaz de Caminha:
O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos 
pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, 
mui grande, ao pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e 
Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com ele 
íamos, sentados no chão, nessa alcatifa. Acenderam-se tochas. E eles 
entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; 
nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a 
fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como 
se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para 
um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente 
para o castiçal, como se lá também houvesse prata! Mostraram-lhes 
um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na 
mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. (1999, p. 21).
Tais acenos interessaram sobremaneira os portugueses, interpretadoscomo indicação de riquezas que poderiam ser exploradas na Terra de Vera Cruz. 
Outros trechos da Carta dão a entender que existe ouro em terras brasileiras. É 
descrita uma provável permuta proposta pelos indígenas, uma troca de objetos 
de adorno dos portugueses por ouro: 
Viu um deles umas contas de rosairo, brancas; acenou que lhas dessem 
e folgou muito com elas e lançou-as ao pescoço e depois tirou-as e embrulhou-
as no braço; e acenava para terra e então para as contas e para o colar do 
capitão, como que dariam ouro por aquilo. (Op.cit., p. 22).
TÓPICO 2 | A ILHA DE VERA CRUZ, A TERRA DE SANTA CRUZ: BRASIL
23
O escambo começaria incidindo sobre diversos objetos. Os contatos se 
intensificaram e com eles a familiaridade: “Tudo era, de certa maneira, pautado 
pelo toma-lá-dá-cá, mesmo se o prazer de convívio se acrescentava à avidez da 
troca”. (SEABRA, 2000, [s.p.]). Ao capitão da expedição interessa descobrir se 
existia ouro e tentou obter, através dos gestos, informações precisas acerca da 
existência ou não do metal precioso, questionando um velho indígena:
E depois foi o Capitão para cima, ao longo do rio, que anda sempre 
em frente da praia, e ali esperou um velho que trazia na mão uma 
pá de almadia; falo, estando o Capitão com ele, perante nós todos, 
sem nunca ninguém o entender, nem ele a nós, sobre as coisas que a 
gente lhe perguntava de ouro, que nós desejávamos saber se o havia 
na terra. (CAMINHA, 1999, p. 39-40). 
Nenhum vestígio, a presença de ouro ainda era enigmática, como constatou 
Pero Vaz de Caminha ao final da Carta: “[...] até agora não pudemos saber que haja ouro, 
nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem de ferro: nem lho vimos.” (1999, p. 61).
Caminha acompanha as ações dos índios e europeus, as reações e 
atitudes de cada grupo, chegando a perceber as emoções que o contato desperta 
em ambos. No entanto, é preciso atentar para a relação complexa que se tece, a 
comunicação se estabelece de várias formas, mas também a alienação, própria 
de trocas frequentemente desiguais, como as que se desenvolveram entre povos, 
civilizações e culturas estabelecidas pelas descobertas.
Pero Vaz de Caminha (1450?-1500) é designado escrivão da feitoria de Calicute, 
na Índia. Segue com Cabral, em 1500, a caminho do Brasil. Quando Cabral chegou ao Brasil, 
cumpre sua missão de contar os feitos ao Rei e, em seguida, parte para a Índia, onde morreu 
no final do mesmo ano nas lutas entre portugueses e muçulmanos. A Carta, considerada o 
mais importante documento sobre o início da história do Brasil, ficou guardada nos arquivos 
da Torre do Tombo por mais de três séculos, sendo divulgada pela primeira vez em 1817, 
no livro Corografia Brasileira, escrito pelo padre Aires do Casal, fato que corroborou para 
esclarecer várias questões inerentes às terras recém-conquistadas.
UNI
Além de Caminha, outros viajantes também fizeram relatos sobre o Brasil. 
Pero Magalhães Gândavo escreveu a História da Província de Santa Cruz a que 
Vulgarmente Chamamos Brasil. No Prólogo informa ao leitor o motivo que o levou a 
escrever sobre a Província: “A causa principal que me obrigou a lançar mão da presente 
historia, e sair com ella a luz, foi por não haver até agora pessoa que a emprendesse, havendo 
já setenta e tantos annos que esta Provincia he descoberta.” (GÂNDAVO, 1980, [s.p.]).
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
24
Mas para que nesta parte magoemos ao Demonio, que tanto trabalhou 
e trabalha por extinguir a memoria da Santa Cruz e desterra-la dos 
corações dos homens, medeante a qual somos redimidos e livrados do 
poder de sua tirania, tornemos-lhe a restituir seu nome e chamemos-
lhe Provincia de Santa Cruz, como em principio (que assi o amoesta 
tambem aquelle illustre e famoso escritor João de Barros na sua 
primeira Década, tratando deste mesmo descobrimento) porque na 
verdade mais he destimar, e melhor soa nos ouvidos da gente Christã 
o nome de hum pao em que se obrou o misterio de nossa redençam 
que o doutro que nam serve de mais que de tingir pannos ou cousas 
semelhantes. (1980, [s.p.]).
No trecho a seguir, extraídos do Capítulo V, intitulado: das plantas, 
mantimentos e fruitas que ha nesta província, Gândavo faz referências às qualidades 
das frutas aqui existentes:
São tantas e tam diversas as plantas, fruitas, e hervas que ha nesta 
Província [...] Primeiramente tratarei da planta e raiz de que os moradores 
fazem seus mantimentos que la comem em logar de pão. A raiz se chama 
mandioca, e a planta de que se gera he de altura de hum homem pouco mais 
ou menos. (1980, [s.p.]).
[...]
Huma planta se da támbem nesta Provincia, que foi da ilha de Sam 
Thomé, com a fruita da qual se ajudam muitas pessoas a sustentar na terra. Esta 
planta he mui tenra e nam muito alta, nam tem ramos senam humas folhas que 
serão seis ou sete palmos de comprido. A fruita della se chama bananas. Parecem-
se na feição com pepinos, e crião-se em cachos: alguns delles ha tam grandes que 
tem de cento e cincoenta bananas pera cima, e muitas vezes he tamanho o peso 
della que acontece quebrar a planta pelo meio. Como são de vez colhem estes 
cachos, e dali a alguns dias amadurecem. Depois de colhidos cortão esta planta 
porque nam frutifica mais que a primeira vez: mas tornam logo a nascer della 
huns filhos que brotam do mesmo pé, de se fazem outros semelhantes. Esta 
fruita he mui sabrosa, e das boas, que ha na terra: tem huma pelle como de figo 
(ainda que mais dura) a qual lhe lanção fora quando a querem comer: mas faz 
dano à saude e causa fevre a quem se desmanda nella“. (1980, [s.p.]).
 No Capítulo I, lamenta o fato da mudança de nome de Terra de Santa 
Cruz para Brasil. Segundo Gândavo, tal acontecimento é obra do Demônio e, 
para derrotar trabalho tão ardiloso, sugere:
TÓPICO 2 | A ILHA DE VERA CRUZ, A TERRA DE SANTA CRUZ: BRASIL
25
Há na obra descrição da fauna, flora, dos costumes indígenas, seus ritos 
e as guerras entre os povos nativos. Ao que parece, o autor assume uma postura 
negativa, uma vez que compara os costumes dos aborígenes aos padrões culturais 
e religiosos do povo português. A respeito da língua tupi, declara:
A lingoa de que usam, toda pela costa, he huma: ainda que em certos 
vocabulos differe n’algumas partes; mas nam de maneira que se 
deixem huns aos outros de entender: e isto até altura de vinte e sete 
grãos, que dahi por diante ha outra gentilidade, de que nós nam temos 
tanta noticia, que falam já outra lingoa differente. Esta de que trato, 
que he ageral pela costa, he mui branda, e a qualquer nação facil de 
tomar. Alguns vocabulos ha nella de que nam usam senam as femeas, 
e outros que nam servem senam pera os machos: carece de tres letras, 
convem a saber, nam se acha nella F, nem L, nem R, cousa digna 
despanto porque assi nam têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira 
vivem desordenadamente sem terem alem disto conta, nem peso, nem 
medido. (1980, [s.p.]).
Gabriel Soares de Souza também escreveu sobre a colônia. Seu Tratado 
Descritivo do Brasil é fonte de informações. Tal qual Gândavo e Caminha, o objetivo 
é o de informar à Metrópole sobre o que a Colônia poderia oferecer. Segundo 
Bosi, “[...] percorre toda a fauna e a flora da Bahia fazendo um inventário de 
quem vê tudo entre atento e encantado”. (1992, p. 21).
Os escritos que relatam o reconhecimento de um novo espaço 
respondem à necessidade de revelar geograficamente e socialmente a nova 
terra a Portugal e à Europa em geral. Revelam um maravilhar-se diante dessa 
nova paisagem e dos nativos:
E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos. 
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, 
segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro. Então 
lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das 
naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em 
terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-
se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três,de maneira 
que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou 
vinte. Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. 
Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em 
direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os 
arcos. E eles os depuseram”. (CAMINHA, 1999, p. 16).
Além dessa admiração diante da beleza, são exploradas comparações 
com o paraíso. Américo Vespúcio, cartógrafo e geógrafo, membro da primeira 
expedição enviada por D. Manuel em 1501, para explorar o litoral brasileiro, em 
seus escritos relata a beleza da gente nativa e ainda compara o “novo mundo” 
ao paraíso terrestre: “Questa terra é piena, preso al paradiso terrestre”. (VESPÚCIO 
apud COUTINHO, 2004a, p. 247).
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
26
Esse lugar ideal, paradisíaco, também é tema do escritor Thomas More, 
já citado como representante da terceira fase do Renascimento. Sua obra, Utopia, 
publicada em 1516, é marcada pela descrição de um lugar, uma ilha na qual os 
homens vivem em sistema de igualdade, acima das diferenças de classes, um paraíso.
Explorar dimensões míticas culturais é inaugurado por Erasmo, em Elogio 
da Loucura, em 1508. Sucessores como Montaigne, Rebelais e Daniel Defoe, ao 
dar vazão a estes escritos, se alargam na descrição física e comportamento do 
elemento humano, sem deixar de lado o paradisíaco, projetam e ao mesmo tempo 
provocam o interesse do “Velho Mundo” sobre o “Novo Mundo”.
As palavras de Vespúcio e Caminha aparecem em Gândavo e Anchieta 
e ecoam em Nóbrega, explorando um jardim, bosque de frutos viçosos em uma 
terra paradisíaca, “de tal maneira graciosa, que querendo aproveitá-la, dar-se-á nela 
tudo por bem das águas que tem”. (CAMINHA, 1999, p. 61).
São informações preciosas pela clareza e realismo com que descrevem essa 
visão edênica chamada Brasil. E dentre outras características, podemos destacar a 
exaltação de tudo o que fosse pitoresco e exótico. Informações como as descritas 
foram frequentes no século XVI; paralelamente a estas, aparecem os escritores 
portugueses jesuítas. Estes revelam, além de ricas informações, uma intenção 
catequética. É o que veremos a seguir.
27
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você, viu que:
• A madeira que atraiu a atenção dos portugueses para a nova terra, o pau-
brasil, tinha razoável mercado na Europa. Para sua exploração, estabeleceram-
se em terras brasileiras pequenas fortificações precárias, para proteção da costa 
e envio da madeira. Sem o aparecimento de uma sociedade, a vida cultural 
sofreria de escassez e descontinuidade e, assim, a jovem nação passa a ser 
colônia de Portugal.
• O sentido da colonização deve ser entendido da seguinte forma: a Colônia fica 
sob o controle de Portugal e da Colônia serão extraídos os produtos e metais 
preciosos enviados à Metrópole.
• No que concerne aos primeiros escritos em solo brasileiro, estes não são 
representativos de um sistema. No entanto, são escritos significativos e possuem 
valor. Sendo assim, para alguns estudiosos, os escritos em terras brasileiras, 
que vão do século XVI ao XVIII, são manifestações literárias importantes para 
a formação da literatura brasileira. 
• Os primeiros escritos em terras brasileiras foram os documentos que 
informavam à corte portuguesa a chegada e o encontro com os habitantes, 
os nativos. De modo geral, eram descrições sobre a qualidade da terra, as 
possibilidades do que poderia ser explorado, as dificuldades locais, a fauna, a 
flora, a vida dos nativos e os primeiros encontros destes com os portugueses.
• Em solo brasileiro, desses textos comumente chamados de literatura informativa 
destacamos: A Carta do Descobrimento; O Tratado da Terra do Brasil e a história da 
província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil; Tratado da Terra e da 
Gente do Brasil; O Tratado Descritivo do Brasil, dentre outros. 
• Pero Vaz de Caminha era o escrivão da frota incumbido de acompanhar a 
expedição de Pedro Álvares Cabral e relatar o que nela ocorria. Caminha, tão 
logo aportou na nova terra, comunicou o fato ao rei. O teor da carta, considerada 
a certidão de nascimento do Brasil, permite-nos perceber as expectativas dos 
portugueses em relação ao Brasil.
• Na carta endereçada à corte portuguesa, Caminha relata e enumera com 
objetividade e clareza algumas das características físicas dos índios, fatos que 
revelam a comunicação que se estabelece através da linguagem não verbal e o 
escambo que se iniciaria entre os aborígenes e o homem português.
28
• Além de Caminha, Pero Magalhães Gândavo faz referência às plantas, às 
frutas, aos pássaros, enfim, fauna e flora aqui existentes. Descreve também 
os costumes indígenas, seus ritos e as guerras entre os povos nativos. Ao que 
parece, o autor assume uma postura negativa em relação aos indígenas.
• De modo geral, esses escritos informativos revelam um maravilhar-se diante 
dessa nova paisagem e dos nativos: esse gênero literário, que explora dimensões 
míticas culturais, é inaugurado por Erasmo, em Elogio da Loucura, em 1508. 
29
1 É frequente nos escritos informativos o emprego de comparações (neste caso 
a Corte Portuguesa), na tentativa de exprimir aos leitores o desconhecido, 
o inusitado, o extraordinário. Cite uma dessas comparações. Você poderá 
retirar dos fragmentos dos autores analisados ou, se preferir, procure na 
internet as obras na íntegra.
2 A Carta de Pero Vaz de Caminha afigura-se como uma espécie de “Certidão 
de Nascimento” de nosso país. Localize uma passagem do texto de Caminha 
na qual, em meio às expressões de admiração e louvor, está subentendida a 
ideia de “conquista”, “posse” da Nova Terra.
3 As primeiras informações dos europeus, portugueses, documentam a 
natureza e o homem brasileiro. Sobre A Carta de Caminha, é correto afirmar:
A - Aproxima-se mais de um relato, dando notícias à corte de Portugal sobre 
as primeiras impressões da nova terra e da gente aqui encontrada.
B - Enfatiza uma terra de rara beleza e fertilidade, uma visão edênica da 
natureza do Brasil e sua exuberância. 
C - O texto revela o encontro de duas culturas diferentes: a portuguesa e a 
indígena.
D - A carta de Caminha pode ser considerada como pertencente a uma 
literatura que explora o ‘eu’ lírico amoroso, quando se observam as 
comparações e descrições da fauna e da flora. 
a) ( ) As afirmativas A e D estão corretas.
b) ( ) As afirmativas A, B e C estão corretas. 
c) ( ) Somente a afirmativa C está correta.
d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas. 
AUTOATIVIDADE
30
31
TÓPICO 3
OS JESUÍTAS: FONTE DE CONHECIMENTO E 
ALARGAMENTO DE NOSSA LITERATURA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Para a Companhia de Jesus, a docência era uma das características principais 
dos seus missionários. Nos colégios, os religiosos não somente ensinavam os alunos 
candidatos à vocação sacerdotal, como também jovens que não pretendiam seguir 
a vida religiosa, com o mesmo rigor e sujeitos às mesmas regras.
No Brasil, a Companhia aporta nove anos após a fundação da Ordem e se 
fixa na Bahia. A tônica na terra recém-descoberta passou a ser a conversão dos índios 
à fé cristã. Além dos intensos trabalhos com a educação dos aborígenes e do povo em 
geral, os jesuítas dedicaram-se à escrita de poemas, autos e sermões. Nesse tópico, dos 
inacianos que aqui viveram, destacaremos Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.
2 A LITERATURA JESUÍTICA
A Companhia de Jesus, uma ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola, 
em 1540, tinha por objetivo expandir a fé e os dogmas cristãos. Nesse sentido, o 
alargamento dos impérios português e espanhol veio a calhar. Os jesuítas estariam 
presentes no Continente Americano desde o início da colonização. A docência 
passaria a ser a característica principal da Companhia. Inicialmente os colégios 
dedicavam seus esforços apenas a alunos candidatos à vocação sacerdotal. 
Posteriormente passaram a aceitar também jovens que não pretendessem seguir 
a vida religiosa, masficariam sujeitos às mesmas regras dos candidatos a jesuítas.
Foi em Messina, na Sicília, que, em 1548, Inácio de Loyola abriu o primeiro 
colégio da Companhia, que serviria de inspiração a todos os outros. Em 1551 um 
Colégio Jesuíta é fundado em Roma, o qual começou a ensinar, além de Gramática 
e Retórica, Filosofia e Teologia. Os jesuítas empreenderam e implementaram a 
sistematização da sua atividade docente e publicaram, em 1599, a Ratio Studiorum. 
Segundo Joaquim Ferreira Gomes (1995, p. 35),
 
[...] a Ratio não é um tratado de pedagogia, mas um código, um 
programa, uma lei orgânica que se ocupa do conteúdo do ensino 
ministrado nos colégios e universidades da Companhia e que impõe 
métodos e regras a serem observados pelos responsáveis e pelos 
professores desses colégios e universidades. 
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
32
Eram 466 regras que compunham a Ratio Studiorum. Elas versavam sobre: 
férias, feriados, formação dos professores, relações entre os pais dos alunos, 
metodologias de trabalho, plano de estudos (humanidades, filosofia, história, 
ciências físicas e matemáticas), avaliação, regras disciplinares, dentre outros 
assuntos pertinentes à formação.
Em 1549, membros da Companhia de Jesus chegaram ao Brasil e se 
fixaram na Bahia. Lá, fundaram um colégio e iniciaram a catequese dos índios. A 
fé ibérica e medieval veio na bagagem desses missionários; em terras brasileiras, 
seu principal objetivo era propagá-la e a tônica passou a ser a conversão dos 
índios à fé cristã. Tais intentos ficaram registrados nos escritos desses jesuítas 
Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.
Manuel da Nóbrega nasceu em Portugal, em 18 de outubro de 1517. Formado 
em Cânones (Coimbra, 1541), em 1544 entra para a Companhia de Jesus. Cinco anos depois, 
vem para o Brasil, juntamente com Tomé de Souza, primeiro governador geral, chefiando a 
missão incumbida de instalar a Ordem na terra nova. Colaborou na fundação de Salvador e do 
Rio de Janeiro, e fundou São Paulo, em 25 de janeiro de 1554, ajudado por José de Anchieta. 
Faleceu em 18 de outubro de 1570. Escreveu: Cartas do Brasil (publicadas em conjunto em 
1886) e Diálogo sobre a Conversão do Gentio (escrito entre 1556 e 1558 e publicado em 
1880). (MOISÉS, 1999).
UNI
Nóbrega escreveu Diálogo sobre a Conversão do Gentio. Nesta obra 
apresenta um debate, uma conversa entre as personagens Gonçalo Álvares e 
Matheus Nogueira: uma discussão sobre a preocupação com o doutrinamento e a 
conversão do indígena ao cristianismo.
O diálogo é um gênero cultivado desde a Grécia. O filósofo Sócrates, por 
exemplo, empregava-o para averiguar uma verdade filosófica. Este poderia ocorrer entre 
personagens reais ou fictícios.
NOTA
TÓPICO 3 | OS JESUÍTAS: FONTE DE CONHECIMENTO E ALARGAMENTO DE NOSSA LITERATURA
33
A obra explicita a posição de Nóbrega, que, segundo o missionário, para 
a conversão do gentio, seria necessária a dedicação dos jesuítas. Segundo Faria 
(2006, p. 76), 
O Diálogo apresenta-se, assim, como um convite à conversão para o 
próprio missionário, que estava, com certeza, deixando-se enfraquecer 
por causa das dificuldades encontradas no embate com o gentio. O 
missionário abatido e desanimado (no Diálogo, representado por 
Alves) justifica sua posição de aversão ao indígena e à lida com ele, 
pois este não seria humano e não mereceria investimento. 
Vale ressaltar que o maior obstáculo para a catequese incidia sobre a 
questão dos hábitos indígenas. No início do Diálogo, o interlocutor Gonçalo 
Alves afirma:
“– Por demais hé trabalhar com estes; são tão bestiais, que não lhes entra no 
coração cousa de Deus; estão tão incarniçados em matar e comer, que nenhuma outra bem-
aventurança sabem desejar; pregar a estes hé pregar em deserto ha pedras”. (NÓBREGA, 
2006, p. 2).
Nessa passagem percebe-se a intertextualidade com o Evangelho de Lucas, 
a parábola do semeador que revela uma colheita custosa: “Eis que o semeador saiu 
a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves 
do céu a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e, tendo crescido, secou por falta de 
umidade [...]” (BÍBLIA SAGRADA, 1993, Lucas, 8:5-8). A personagem Gonçalo 
Alves manifesta o árduo trabalho que terá o missionário em terras brasileiras, 
comparando-o ao de um semeador.
José de Anchieta nasceu na Ilha de Tenerife, uma das Ilhas Canárias, em 1534, 
e faleceu em Reritiba (Espírito Santo) em 1597. Veio para o Brasil ainda noviço em 1553, logo 
fez sentir sua ação apostólica fundando com Nóbrega um colégio em Piratininga, núcleo 
da cidade de São Paulo. Pelo zelo religioso e pela sensibilidade humana, Anchieta ficou na 
história da colônia como exemplo de vida espiritual, particularmente heroica, nas condições 
adversas em que viveu. Suas poesias foram escritas em português, castelhano, tupi e latim. 
(BOSI, 1992).
UNI
Os escritos de Anchieta são autos e poemas. Nestes, revela que as 
necessidades humanas são espirituais e não materiais. Traduz não a materialidade 
do Renascimento, mas a salvação através de Deus. 
34
UNIDADE 1 | A EUROPA DA IDADE MÉDIA E RENASCENTISTA
Nos versos a vida não tem dura, o bem vai se gastando, Anchieta chama 
atenção para a brevidade da vida. Diante dessa pequena dimensão, o ser humano 
não deveria comprometer-se com a precariedade do mundo terreno. Lembra ao 
homem que tudo é vão e efêmero, a vida carnal é uma passagem, somente Deus 
é supremo. 
Segundo Leodegário de Azevedo Filho (1986), Anchieta é contrário à 
concepção epicurista, qual seja, devido à brevidade da vida e à não crença na 
eternidade da alma, o homem busca os prazeres mundanos e aproveita cada 
momento (carpe diem). 
Por enfatizar a fugacidade do tempo, a ilusão da vida e as coisas mundanas, 
Anchieta faz alusão à literatura barroca que se idealizaria plenamente no século 
XVII. No entanto, a forma de suas poesias, a exemplo de Em Deus meu criador, 
aproxima-se do arquétipo da poesia medieval. O mesmo emprega a redondilha.
Redondilha é o nome adotado, a partir do século XVI, para as estrofes em verso 
de cinco ou sete sílabas poéticas. É também chamada de medida velha e foi muito utilizada 
por Camões.
NOTA
Segundo Bosi (1992, p. 23), “[...] o vetor afetivo de Anchieta é a consolação 
pelo amor divino”, como podemos atestar na poesia que segue:
Em Deus meu criador
Não há cousa segura, 
tudo quanto se vê 
vai passando 
A vida não tem dura. 
O bem se vai gastando. 
Toda criatura 
passa voando.
Contente assim, minh´alma, 
do doce amor de Deus 
toda ferida, 
o mundo deixa em calma 
buscando a outra vida, 
na qual deseja ser absorvida.
(ANCHIETA apud BOSI, 1992, p. 26)
TÓPICO 3 | OS JESUÍTAS: FONTE DE CONHECIMENTO E ALARGAMENTO DE NOSSA LITERATURA
35
Mas se os poemas valem em si mesmos como estruturas literárias, os 
autos são de cunho pedagógico. Emprega ora o português e ora o tupi, conforme 
o público a doutrinar. Vejamos algumas palavras: Bispo é Pai-Guaçu; Tupany 
é Nossa Senhora; Alma é anga; demônio é anhangá e Deus é Tupã. “Aculturar 
também é sinônimo de traduzir”. (BOSI, 1992, p. 64).
Além disso, Anchieta e os demais missionários colheram das narrativas 
correntes algumas passagens nas quais apareciam entidades cósmicas (Tupã), 
ou então heróis civilizados (Sumé). Recorrem a tais narrativas sem compromisso 
com a cultura desse povo, aos missionários interessava as que se identificassem, 
sob algum aspecto, com figuras bíblicas. (BOSI, 1992, p. 68). 
A literatura serviu como instrumento para conversão e expansão da fé cristã 
e, então, o colonizador que aqui chegou impôs a celebração e o respeito à sua religião, 
o culto dos seus apegos, aos valores morais e estéticos, bem como o predomínio da 
sua língua. Sendo assim, muitas das manifestações culturais praticadas pelos nativos 
foram reprimidas e algumas foram proibidas, como foi o caso do culto aos mortos 
com seus cantos e danças. Para os jesuítas, tais ritos se traduziam como que em 
possessões demoníacas e, por esse motivo, os

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