Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AO DES. RELATOR DA 14º CÂMARA DE DIREITO PRIVADO DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO Ref. ao Processo nº _____ MARIA CAPITOLINA SANTIAGO e BENTO SANTIAGO, já qualificados nos autos em epígrafe, por seu advogado in fine assinado, na ação que lhe move QUINZINHO MACHADO DE ASSIS e CAROLINA MACHADO DE ASSIS, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ante a existência de contradição, omissão e erro material no venerando acórdão proferido, opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO nos termos do art.1022 e seguintes do CPC/15, pelas razões de fato e de direito que a seguir passa a expor: I. DA SÍNTESE PROCESSUAL Os recorridos propuseram uma ação de usucapião especial rural, em face dos recorrentes, visando obter declaração do domínio útil de imóvel, localizado no bairro Quincas Borba, s/n, zona rural do município de Rio de Janeiro/RJ, sob alegação inverídica de que possuem um imóvel desde 2006 e nunca sofreram qualquer tipo de reivindicação ou impugnação por parte de quem quer que seja, sem oposição e de forma ininterrupta durante todo esse tempo. O juízo a cor em que pese ou o costumeiro acerto, entendeu por bem julgar procedente a pretensão dos autores, sob a fundamentação de que se possível a transmutação da posse apontando que comodato teria sido usado para manter a propriedade da Terra sem custo, ex vi: Muitas vezes o instituto do comodato é utilizado como ferramenta por parte de pessoas com melhores condições, para manter determinada propriedade sem custas desta, forma o comandante faz acepção da Terra ao comodatário e de forma desidiosa, passa anos sem nem mesmo visitá-la, apresentando-se apenas quando conveniente, enquanto a propriedade é mantida às custas do comodatário, mesmo que posse tenha se dado por meio de comodato, na hipótese aventada é possível a transmutação da posse conforme entendimentos dos tribunais Inconformado com a r.sentença proferida os recorrentes entraram com recurso de apelação, este sendo desprovido, mas eivado de omissão, obscuridade, contradição, erro material. Deste modo, não restando outra alternativa à defesa senão a ingressar com os presentes embargos. II. DA OMISSÃO QUANTO À PRELIMINAR: NULIDADE DE CITAÇÃO Conforme se depreende do teor dos autos, quando da interposição de seu Recurso de Apelação, os embargantes alegaram, em sede de preliminar, a nulidade de citação, sendo que o acórdão proferido foi omisso quanto a tal arguição. O art. 238 do Código de Processo Civil é cristalino ao definir o conceito de citação, sendo que, não sendo esta efetivada, a relação processual não se aperfeiçoa: Art. 238. Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual. A fim de garantir a efetiva abertura do contraditório e ampla defesa no curso da relação processual, é indispensável a realização de citação válida, nos exatos termos do art. 239 do citado códex: Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido. § 1º O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de contestação ou de embargos à execução. § 2º Rejeitada a alegação de nulidade, tratando-se de processo de: I - conhecimento, o réu será considerado revel; II - execução, o feito terá seguimento. Conforme é possível extrair do teor dos autos, Maria Capitolina Santiago e seu esposo tomaram conhecimento da ação porque a citação foi enviada erroneamente para a casa de sua mãe, Dona Fortunata, a qual foi citada em seu nome. O Código de Processo Civil é taxativo ao impor, em seu art. 242, que a citação será pessoal, o que, obviamente, não ocorreu na instrução processual, sendo, portanto , nula de pleno direito, ferindo o direito ao contraditório, garantido constitucionalmente: Art. 242. A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita na pessoa do representante legal ou do procurador do réu, do executado ou do interessado. A matéria não foi atacada por meio de Agravo de Instrumento por não constar do rol do art. 1.015 do CPC/15. Tratando-se de matéria de ordem pública, pode ser alegada a qualquer tempo, não tendo, desta forma, sido atingida pela preclusão, razão pela qual, ante ao critério autorizativo do § 1º do art. 1.009 do Código de Processo Civil, se requer preliminarmente a análise da mencionada nulidade de citação para, sendo conhecida e provida de arguição, seja declarada a nulidade dos autos posteriores. É importante frisar que o entendimento dos Tribunais é pacífico quanto ao cabimento de Embargos de declaração para sanar tal omissão, vejamos: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. PRELIMINAR. NULIDADE DA CITAÇÃO. NÃO APRECIAÇÃO. OMISSÃO. VÍCIO CITRA PETITA. SENTENÇA CASSADA. – Ocorre vício citra petita de sentença, quando o julgador deixa de apreciar o pedido formulado pelas partes. (TJ-MG – AC: 10394130097014002 MG, Relator: José Marcos Vieira, Data de Julgamento: 13/07/2016, Data de Publicação: 22/07/2016) Posto isso, requer-se sanadas as condições constantes da decisão atacada, a fim de que Vossa Excelência se manifeste acerca da preliminar arguida, reconhecendo-a, para ao final considerar nula a citação perpetrada. III. DA CONTRADIÇÃO ENTRE A FUNDAMENTAÇÃO E O DISPOSITIVO DO ACÓRDÃO (OBS: ART. 489 E 943 CPC) A contradição é a ausência de compatibilidade do teor da decisão proferida, por exemplo, quando a parte dispositiva de uma determinada sentença traz todos os fundamentos para a procedência do pedido, mas de modo diverso, em sua conclusão, consta que o pedido foi julgado improcedente. Em uma sentença ou acordão, deve haver harmonia entre os fundamentos e o conteúdo decisório, até porque a contradição leva à obscuridade, podendo, assim, ser a decisão atacada por meio de Embargos de Declaração, visando à emissão de esclarecimentos ou até mesmo à correção do conteúdo por parte do magistrado. Compulsando o teor do acórdão proferido, verifica-se que a parte de fundamentação dele é cristalina ao demonstrar que este Tribunal entende que não constam dos autos quaisquer comprovações do alegado do terreno, ex vi: De início, cumpre apontar que não constam dos autos quaisquer comprovação do alegado abandono do terreno. Em que pesem as argumentações existentes, a parte autora sequer invocou tal argumentação, o que, por si só, poderia configurar julgamento extra petita. Inclusive, o acórdão aponta que não se nega a possibilidade de transmutação da posse, porém, no caso presente, não há elementos que demonstrem sua efetiva ocorrência, pelo contrário, do analisado até aqui, resta cristalina a existência de contrato de comodato (o que não foi atacado pelos autores), impedindo, desta forma, a contagem de tempo para eventual usucapião, por se tratar justamente de posse precária, senão vejamos: Não se nega a possibilidade de transmutação da posse, porém, no caso presente, não há elementos que demonstrem sua efetiva ocorrência, pelo contrário, do analisado até aqui, resta cristalina a existência de contrato de comodato (o que não foi atacado pelos autores), impedindo, desta forma, a contagem de tempo para eventual usucapião, por se tratar justamente de posse precária. Por sua vez, no dispositivo do acórdão, apesar do Juízo ter reconhecido na fundamentação a inexistência de usucapião, julgou pela improcedência do recurso de apelação em patente contradição: Ante o exposto, pelo meu voto, entendo pelo DESPROVIMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO PROPOSTO, reformando-se a sentença atacada, conduzindo, assim, pela improcedência da ação. É de se destacar que se fosse julgar pela improcedência da apelação não se estaria diante de reforma da sentença como afirmado no acórdão, mas seria caso de manutenção da sentença. Quanto à possibilidade de sanar a contradição atacada por meio dos Embargos de Declaração, a jurisprudência é clara, vejamos: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃO ENTRE OS FUNDAMENTOS EA CONCLUSÃO. Situação em que são acolhidos os embargos de declaração opostos pelo exequente para sanar contradição entre fundamentos e a conclusão. (TRT-4 – AP: 00100311520145040661. Data do Julgamento: 07/11/2020, Seção Especializada em Execução) Assim, requer que seja sanada a contradição apontada, a fim de reconhecer a impossibilidade de transmutação da posse, julgando-se, desta forma, procedente o Recurso de Apelação interposto como reconhecido da fundamentação do Acórdão. IV. DO PEDIDO Postas e colocadas tais considerações e, mais ainda, crédulo no discernimento e aguçado senso de justiça de Vossa Excelência, os embargantes requerem que sejam: a) Admitidos os presentes embargos, posto que foram cumpridos os requisitos legais para sua interposição intimando-se a parte contrária para contrarrazoar nos termos do art. 1.023 do Código de Processo Civil. b) Providos os Embargos de Declaração, a fim de reconhecer a existência de contradição entre a parte de fundamentação do acórdão e o dispositivo, proferindo acórdão modificativo para, ao final, reconhecer a procedência da apelação interposta declarando a inexistência de usucapião nos termos alegados. c) Caso não seja o entendimento de Vossa Excelência quanto ao reconhecimento da procedência da apelação interposta, que sejam sanadas as omissões constantes da decisão atacada, a fim de que Vossa Excelência se manifeste acerca das omissões arguida, reconhecendo-a, para ao final considerar nula a citação perpetrada e atos posteriores. d) Condenados os embargos em custas e honorários de sucumbência nos termos do CPC/15. Nestes termos, Pede deferimento. Rio de Janeiro/RJ, data Nome, assinatura, advogado e OAB
Compartilhar