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REFORÇO DE VIGAS DE CONCRETO À FLEXÃO E AO CISALHAMENTO COM TECIDOS DE FIBRA DE CARBONO Caroline Maia Araújo TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DE PÓS GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: ________________________________________________ Prof. Ibrahim A. E. M. Shehata, Ph.D. ________________________________________________ Profª. Lídia C. D. Shehata, Ph.D. ________________________________________________ Prof. Ronaldo Barros Gomes, Ph.D. ________________________________________________ Profª. Regina Helena F. de Souza, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MARÇO DE 2002 ii ARAÚJO, CAROLINE MAIA Reforço à Flexão e ao Cisalhamento de Vigas de Concreto com Tecidos de fibra de Carbono [Rio de Janeiro] 2002 XIII, 140 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc., Engenharia Civil, 2002) Tese - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Reforço Estrutural 2. Fibras de Carbono 3. Flexão e Cisalhamento I. COPPE/UFRJ II. Título ( série ) iii Agradecimentos Desejo expressar o meu reconhecimento a todas as pessoas e entidades que contribuíram, direta e indiretamente, para a realização e conclusão deste trabalho. Aos meus pais pelo apoio e dedicação e por despertar em mim o gosto pela engenharia. Ao professor Ibrahim pelos ensinamentos, rigor científico, revisão crítica, disponibilidade permanente e ajuda na condução dos ensaios. À professora Lídia pelos importantes ensinamentos, dedicação às revisões e sugestões indispensáveis para a melhoria deste trabalho. Aos professores da UFRN, Joaci, Márcio, Robinson, Roberto e Olavo pelos ensinamentos fundamentais na minha formação e pelo incentivo. A Ítalo, pelo incentivo e compreensão e pelas idéias para a melhoria dos gráficos, tabelas e apresentação deste trabalho. À minha família, pelos inúmeros exemplos de perseverança e sucesso e em especial a Neidinha, Josué, Laura e Luíza por me proporcionarem tempo, espaço, apoio moral e inspiração. Aos amigos da COPPE, pela convivência e companheirismo e em especial aos colegas Sérgio e Emílio, pela grande ajuda em toda a parte experimental deste trabalho. Aos funcionários do laboratório de estruturas da COPPE/UFRJ, pelos serviços prestados na execução dos ensaios. Aos funcionários do laboratório de micros da COPPE/UFRJ, pela ajuda, paciência e atenção. Ao CNPq e à Capes pelo apoio financeiro concedido. À SIKA S.A., pelo fornecimento de material e pessoal para a realização do programa experimental. iv Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) REFORÇO DE VIGAS DE CONCRETO À FLEXÃO E AO CISALHAMENTO COM TECIDOS DE FIBRA DE CARBONO Caroline Maia Araújo Março/2002 Orientador: Ibrahim A. E. M. Shehata Programa: Engenharia Civil Este trabalho visou o estudo do comportamento estrutural de vigas de concreto armado reforçadas à flexão, ao cisalhamento, e à flexão e ao cisalhamento simultaneamente, com tecido de fibra de carbono colado com resina epóxica. O programa experimental consistiu no ensaio de quatro vigas, uma destas vigas foi reforçada à flexão com cinco camadas de tecido de fibra de carbono coladas na parte tracionada da viga, enquanto outra viga foi reforçada apenas ao cisalhamento por meio de colagem de três camadas de tecido de fibra de carbono nas suas faces inferior e laterais na forma de U. A terceira viga foi reforçada simultaneamente à flexão e ao cisalhamento, com cinco camadas de tecido de fibra de carbono tendo dimensões iguais às dos respectivos reforços feitos nas vigas mencionadas anteriormente. A quarta viga não foi reforçada e serviu como referência. O comportamento estrutural dessas vigas foi avaliado em termos de flecha, deformação do concreto e das armaduras internas e de reforço, e carga de ruptura. Os resultados experimentais mostraram o aumento da resistência e da rigidez das vigas e tornaram possível estabelecer critérios de ruptura para as vigas reforçadas e propor métodos de cálculo, baseados na teoria de flexão simples e no modelo de treliça, que apresentam bons resultados quando comparados aos resultados experimentais. v Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) SHEAR AND FLEXURAL STRENGTHENING OF CONCRETE BEAMS USING BONDED CFRP SHEETS Caroline Maia araújo March/2002 Advisor: Ibrahim A. E. M. Shehata Department: Civil Engineering This work aimed to study the structural behavior of strengthened reinforced concrete beams either in bending, in shear, and in both bending and shear with bonded CFRP sheets. The experimental program comprised tests of four beams, one strengthened in bending with five layers of CFRP sheet bonded on the tension side, while the other beam was strengthened in shear with three layers of CFRP sheet “U” stirrups bonded on the web. The third beam was strengthened in both bending and shear, with five layers of CFRP sheet. The forth beam was not strengthened and served as a reference beam. The structural behavior of the beams was evaluated in terms of deflection, concrete, steel and CFRP strain, and ultimate load. The tests results showed increase in resistance and stiffness of the beams and made it possible to establish failure criteria for the strengthened beams and propose calculation models based on the flexural theory and the truss model, that gave good results when compared to the experimental ones. vi Índice 1. Introdução 1 2. Revisão Bibliográfica 3 2.1. Introdução 3 2.2. Polímeros reforçados com fibra de carbono (PRFC) 4 2.2.1. Composição 4 2.2.2. Sistemas de reforço 9 2.2.3. Execução do reforço 11 2.2.4. Mecanismos de ligação 12 2.2.4.1. Modos de Ruína 12 2.2.4.2. Resistência da Ligação 14 2.3. Alguns estudos experimentais sobre reforço com tecido de fibra de carbono 19 2.3.1. Norris et al (1997) 19 2.3.2. Souza et al (1998) 24 2.3.3. Brosens et al (2000) 27 2.3.4. Silva e Moreno (2000) 29 2.3.5. Beber et al (2000) 31 2.3.6. Khalifa e Nanni (2000) 33 2.3.7. Matthys (2000) 36 2.3.7.1. Vigas reforçadas à flexão 36 2.3.7.2. Vigas reforçadas ao cisalhamento 38 2.4. Estudos experimentais sobre vigas com reforços colados externamente realizados na COPPE 40 2.4.1. Morais (1997) 40 2.4.2. Carneiro (1998) 44 2.4.3. Pinto (2000) e Cerqueira (2000) 47 2.5. Considerações finais 50 3. Resultados Experimentais 52 3.1. Introdução 52 3.2. Materiais 52 3.2.1. Concreto 52 3.3.2. Aço 54 3.2.3. Fibras 57 3.3. Projeto estrutural 59 3.3.1. Vigas 59 3.3.2. Reforço 62 3.3.2.1. Dimensionamento 62 3.4. Confecção das vigas 66 3.4.1. Fôrmas 66 3.4.2. Concretagem 66 3.4.3. Instrumentação 67 3.4.3.1. Extensômetros elétricos de resistência (EER) 67 3.4.3.2. Extensômetro mecânico 67 3.4.3.3. Deflectômetros elétricos 68 vii 3.4.4. Execução do reforço 69 3.5. Descrição dos ensaios 70 3.5.1. Montagem 70 3.5.2. Execução 70 3.6. Resultados dos ensaios 74 3.6.1. VC-1R 74 3.6.2. VC-1 78 3.6.3. VC-2 83 3.6.3. VC-3 87 4. Análise dos Resultados 93 4.1. Introdução 93 4.2. Resistência teórica das vigas antes do reforço 93 4.2.1. Resistência à flexão 93 4.2.2. Resistência ao cisalhamento 95 4.3. Resistência teórica das vigas depois do reforço 96 4.3.1. Resistência à flexão 96 4.3.2. Resistência ao cisalhamento 97 4.4. Análise das grandezas medidas 99 4.4.1. Flechas 994.4.2. Deformação da seção transversal do meio do vão 101 4.4.3. Deformação das armaduras longitudinais internas e de reforço 101 4.4.4. Resistência à flexão das vigas reforçadas 104 4.4.5. Deformação das armaduras transversais internas e de reforço 106 4.4.6. Resistência ao cisalhamento das vigas reforçadas 108 4.5 Considerações finais 110 5. Conclusões e sugestões 113 Referências Bibliográficas 115 Anexo A - Fotografias 120 Anexo B – Tabelas de Resultados 133 viii Índice de figuras Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 2.1 Diagrama tensão-deformação dos principais tipos de fibra (MATTHYS, 2000) 6 2.2 Modos de ruptura para reforço à flexão sugeridos por Triantafillou (1998a) 13 2.3 Esquema de reforço ao cisalhamento referente às equações 2.10 e 2.11 18 2.4 Comprimento df w usado na equação 2.13 19 2.5 Detalhamento das vigas ensaiadas por Norris et al (1997) 20 2.6 Orientação das fibras e disposição do reforço das vigas de Norris et al (1997) 21 2.7 Detalhamento da armadura das vigas de Souza et al (1998) 24 2.8 Detalhamento do reforço das vigas de Souza et al (1998) 25 2.9 Detalhamento da armadura e reforço das vigas de Brosens et al (2000) 28 2.10 Detalhamento das armaduras e dos reforços das vigas de Silva e Moreno (2000) 29 2.11 Detalhamento das vigas ensaiadas por Beber et al (2000) 32 2.12 Esquematização das vigas de Khalifa e Nanni (2000) 34 2.13 Geometria das vigas de Matthys (2000) 36 2.14 Detalhamento da armação e do reforço das vigas de Matthys (2000) reforçadas à flexão 37 2.15 Detalhamento do reforço das vigas de Matthys (2000) reforçadas ao cisalhamento 39 2.16 Geometria e carregamento das vigas de Morais (1997) 41 2.17 Reforços de flexão e cisalhamento das vigas de Morais (1997) 42 2.18 Geometria e carregamento das vigas de Carneiro (1998) 44 2.19 Reforços de flexão e cisalhamento das vigas de Carneiro (1998) 45 2.20 Reforços de flexão e cisalhamento das vigas de Pinto(2000) e Cerqueira (2000) 48 Capítulo 3 – Programa Experimental 3.1 Diagrama tensão-deformação das barras lisas de diâmetro 5,0 mm usadas nas vigas VC-1R, VC1 e VC-3. 54 3.2 Diagrama tensão-deformação das barras nervuradas de diâmetro 6,3 mm usadas nas vigas VC-1R, VC1, VC-2 e VC-3. 55 3.3 Diagrama tensão-deformação das barras nervuradas de diâmetro 8 mm usadas nas vigas VC-1R, VC1, VC-2 e VC-3 55 3.4 Diagrama tensão-deformação das barras nervuradas de diâmetro 16 mm usadas nas vigas VC-1R, VC1, VC-2 e VC-3 56 3.5 Diagrama tensão-deformação das barras nervuradas de diâmetro 20 mm usadas na viga VC1 56 3.6 Diagrama tensão-deformação do corpo de prova de tecido de fibra de carbono 59 3.7 Geometria, carregamento e diagramas de esforços solicitantes das vigas ensaiadas 60 3.8 Detalhamento da armadura interna de VC-1R e VC-3 61 ix 3.9 Detalhamento do reforço das vigas 65 3.10 Esquema das fôrmas 66 3.11 Posicionamento dos extensômetros elétricos nas armaduras internas das vigas 67 3.12 Posicionamento dos extensômetros elétricos no reforço das vigas 68 3.13 Posicionamento das placas de cobre para medição da deformação do concreto 69 3.14 Posicionamento dos deflectômetros para medição das flechas das seções do meio e de aplicação de uma das cargas 69 3.15 Esquema de ensaio das vigas 71 3.16 Esquema do tirante usado para manter a viga sob carga durante a execução do reforço 72 3.17 Diagrama triangular de deformações e de tensões para a fase elástica de uma viga fletida 72 3.18 Esquema de forças e diagrama de momento fletor para a viga ancorada pelo tirante 73 3.19 Diagrama carga-deformação dos estribos 1, 2 e 3 da viga VC-1R 75 3.20 Diagrama carga-deformação dos estribos 4, 5 e 6 da viga VC-1R 75 3.21 Diagrama carga-deformação da barra longitudinal da viga VC-1R 76 3.22 Diagrama carga-flecha da viga VC-1R 76 3.23 Diagrama de distribuição da deformação da seção transversal do meio do vão da viga VC-1R 79 3.24 Diagrama carga-deformação dos estribos 1,2 e 3 da viga VC-1 79 3.25 Diagrama carga-deformação dos estribos externos 1r,2r e 3r da viga VC-1 79 3.26 Diagrama carga-deformação dos estribos 4,5 e 6 da viga VC-1 80 3.27 Diagrama carga-deformação dos estribos externos 4r,5r e 6r da viga VC-1 80 3.28 Diagrama carga-deformação da barra longitudinal da viga VC-1 81 3.29 Diagrama carga-flecha da viga VC-1 81 3.30 Diagrama de distribuição da deformação da seção transversal do meio do vão da viga VC-1 82 3.31 Diagrama carga-deformação dos estribos 1,2 e 3 da viga VC-2 84 3.32 Diagrama carga-deformação dos estribos 4,5 e 6 da viga VC-2 84 3.33 Diagrama carga-deformação da barra longitudinal da viga VC-2 85 3.34 Diagrama carga-deformação do reforço de flexão da viga VC-2 85 3.35 Diagrama carga-flecha da viga VC-2 86 3.36 Diagrama de distribuição da deformação da seção transversal do meio do vão da viga VC-2 86 3.37 Diagrama carga-deformação dos estribos 1,2 e 3 da viga VC-3 89 3.38 Diagrama carga-deformação dos estribos externos 1r,2r e 3r da viga VC-3 89 3.39 Diagrama carga-deformação dos estribos 4,5 e 6 da viga VC-3 90 3.40 Diagrama carga-deformação dos estribos externos 4r,5r e 6r da viga VC-3 90 3.41 Diagrama carga-deformação da barra longitudinal da viga VC-3 91 3.42 Diagrama carga-deformação do reforço de flexão da viga VC-3 91 3.43 Diagrama carga-flecha da viga VC-3 92 3.44 Diagrama de distribuição da deformação da seção transversal do meio do vão da viga VC-3 92 x Capítulo 4 – Análise dos Resultados 4.1 Diagrama retangular simplificado de tensões e diagrama de deformações da seção da viga 94 4.2 Diagrama retangular simplificado de tensões e diagrama de deformações da seção da viga reforçada 97 4.3 Diagrama carga-flecha das vigas em todos os ciclos de carregamento 100 4.4 Diagrama de deformação da armadura longitudinal na seção do meio do vão 102 4.5 Diagrama de deformação da armadura longitudinal e da armadura de reforço na seção do meio do vão da viga VC-2 103 4.6 Diagrama de deformação da armadura longitudinal e da armadura de reforço na seção do meio do vão da viga VC-3 103 4.7 Comprimento do reforço de flexão considerado na equação 4.18 e 4.19 105 4.8 Diagrama de deformação da armadura transversal interna e de reforço mais solicitadas da viga VC-1 107 4.9 Diagrama de deformação da armadura transversal interna e de reforço mais solicitadas da viga VC-3 107 4.10 Detalhe do reforço de cisalhamento considerado na equação 4.20 109 4.11 Fluxograma do modelo de dimensionamento proposto para reforço à flexão 112 xi Índice de tabelas Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 2.1 Propriedades típicas dos principais tipos de fibras (MATTHYS, 2000) 6 2.2 Propriedades típicas das resinas mais usadas segundo Taerwe et al (1997) 8 2.3 Descrição dos sistemas de PRFC curados “in situ” (JUVANDES, 1999) 10 2.4 Dados das vigas de Norris et al (1997) 23 2.5 Dados das vigas de Souza et al (1998) 26 2.6 Dados das vigas de Brosens et al (2000) 28 2.7 Dados das vigas de Silva e Moreno (2000) 31 2.8 Dados das vigas de Beber et al (2000) 33 2.9 Dados das vigas de Khalifa e Nanni (2000) 35 2.10 Dados das vigas de Matthys (2000)reforçadas à flexão 37 2.11 Dados das vigas de Matthys (2000) reforçadas ao cisalhamento 40 2.12 Armadura e carregamento durante o reforço das vigas de Morais (1997) 41 2.13 Dados das vigas de Morais (1997) 43 2.14 Dados das vigas de Carneiro (1998) 46 2.15 Dados das vigas de Pinto e Cerqueira (2000) 49 Capítulo 3 – Programa Experimental 3.1 Quantidade de material por m3 de concreto 53 3.2 Valores médios de resistência do concreto à tração e à compressão54 3.3 Características das barras de aço usadas na armação das vigas 57 3.4 Armaduras de flexão e cisalhamento das vigas 60 3.5 Reforço usado nas vigas 64 3.6 Força nos tirantes usados na ancoragem das vigas 74 Capítulo 4 – Análise dos Resultados 4.1 Resistência teórica à flexão das vigas sem o reforço 95 4.2 Resistência teórica ao cisalhamento das vigas sem o reforço 96 4.3 Resultados teóricos da resistência à flexão das vigas reforçadas 98 4.4 Resultados teóricos da resistência ao cisalhamento das vigas reforçadas 99 4.5 Cargas de serviço, de escoamento do aço interno e de ruptura das vigas reforçadas 100 4.6 Relação x/d das vigas obtida nos ensaios 101 4.7 Valores da tensão de cisalhamento limite do concreto sugeridos por diversos autores 104 4.8 Resultados teóricos da resistência à flexão das vigas reforçadas, com limitação da deformação do reforço 106 4.9 Taxa de variação da carga em relação à deformação das armaduras interna e de reforço mais solicitadas 108 4.10 Resultados teóricos da resistência ao cisalhamento das vigas reforçadas, com limitação da deformação do reforço 110 xii Lista de símbolos Letras latinas a Vão de cisalhamento Af Área da seção transversal do reforço As Área da seção transversal da armadura longitudinal de tração As’ Área da seção transversal da armadura longitudinal de compressão Asw Área da seção transversal da armadura de cisalhamento b Largura da seção transversal da viga bf Largura do PRF (Polímero Reforçado com Fibras) br Largura do reforço d Altura útil da seção df Altura útil da seção em relação ao PRF Ec Módulo de elasticidade secante do concreto Ef Módulo de elasticidade longitudinal do PRF Ef t Módulo de elasticidade transversal do PRF Es Módulo de elasticidade do aço fc Resistência à compressão do concreto fck Resistência à compressão do concreto característica fcm Resistência à compressão do concreto média ft Resistência à tração fct,dir Resistência à tração direta do concreto fctm Resistência à tração do concreto média fctm,dir Resistência média à tração direta do concreto fst Resistência à tração do aço fy Tensão de escoamento do aço fy,exp Tensão de escoamento do aço experimental fy k Tensão de escoamento do aço característica Feq Força equivalente a um dos macacos hidráulicos Fo Força de pré-tração por tirante/estribo hf Altura do reforço de cisalhamento na lateral da viga L Comprimento do reforço de flexão entre a sua extremidade e a extremidade da placa de aplicação de carga Lf Comprimento do PRF Lr Comprimento do reforço Lt Distância da seção do meio da viga à seção de ancoragem do tirante M Momento fletor Mu Momento fletor último N Número de camadas do PRF Plim,fl Carga correspondente à flecha limite do estado limite de serviço Pserviço,ELS Carga de serviço Pu Carga última Pu,exp Carga última experimental Py Carga correspondente ao escoamento da armadura longitudinal de tração s Espaçamento da armadura de cisalhamento sf Espaçamento dos estribos de PRF sr Espaçamento do reforço de cisalhamento tf Espessura do PRF xiii tr Espessura do reforço T Força de tração em cada perna do tirante Vc Parcela de contribuição “do concreto” na força cortante resistente da viga Vf Parcela de contribuição do reforço de cisalhamento na força cortante resistente da viga Vg Força cortante quando da realização do reforço VR Força cortante resistente da viga VR,exp Força cortante resistente experimental da viga Vs Parcela de contribuição da armadura de aço na força cortante resistente da viga Vu Força cortante última x Altura da linha neutra xe Altura da linha neutra elástica xp Altura da linha neutra plástica Letras gregas δ Flecha δy Flecha medida quando do escoamento da armadura longitudinal de tração ε f e Deformação específica efetiva do PRF εu Deformação específica última ε f Deformação específica do PRF ε f,lim Deformação específica limite do PRF ε f u Deformação específica última do PRF ε s Deformação específica do aço da armadura longitudinal de tração ε s,g Deformação específica do aço da armadura longitudinal de tração quando da execução do reforço ε sw Deformação específica do aço da armadura transversal ε sw,g Deformação específica do aço transversal durante a execução do reforço ε y Deformação específica de escoamento do aço ε y* Deformação específica de escoamento do aço para o diagrama bilinear de tensões µd Índice de ductilidade ρ f Taxa geométrica da armadura longitudinal de tração de PRF ρL Taxa geométrica do aço da armadura longitudinal de tração ρT Taxa geométrica do aço da armadura transversal σf Tensão no PRF σs’ Tensão no aço da armadura longitudinal de compressão τlim Tensão cisalhante limite do concreto φ Diâmetro φef Diâmetro efetivo γg Coeficiente de segurança global CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1 O concreto armado foi o material de construção mais utilizado no século vinte (MEHTA e MONTEIRO, 1994) e continua sendo um dos materiais mais importantes da construção civil. No entanto, a deterioração das estruturas, muitas vezes prematura e fruto do descaso com aspectos relativos à durabilidade, a inviabilidade de reconstrução em tempo hábil de estruturas vitais, os acidentes naturais e falhas de projeto, de detalhamento e de execução vêm aumentando a prática do reparo e reforço das estruturas de concreto. Há uma constante evolução buscando praticidade na execução, aumento da vida útil e barateamento, além do aumento da capacidade resistente das estruturas. Dentre as técnicas de reparo e reforço de estruturas de concreto armado, a de aplicação de reforços colados tem as vantagens de ser eficiente, de fácil execução e de não aumentar significativamente o peso e dimensões do elemento. Os polímeros reforçados com fibras de carbono reúnem um conjunto de propriedades que lhes garante um lugar de destaque entre as técnicas de reparo e reforço por colagem externa: têm alta resistência à tração e alto módulo de elasticidade e são leves e resistentes à corrosão. Para acompanhar o desenvolvimento destes novos materiais e ter-se métodos de cálculos seguros fundamentados em expressivo número de resultados experimentais, existe uma grande necessidade de pesquisas sistemáticas nesta área. Este trabalho teve como objetivo analisar o comportamento estrutural de vigas reforçadas à flexão, ao cisalhamento, e à flexão e cisalhamento simultaneamente, com a utilização de tecido unidirecional de fibra de carbono colado CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 2 com adesivo epóxico, e verificar a eficiência do reforço e a adequação de modelos de cálculo convencionais para o seu dimensionamento. Foram confeccionadas quatro vigas de concreto armado, uma foi carregada continuamente até a ruína, não tendo sido reforçada para servir de referência e as outras três foram submetidas a dois ciclos de carregamento antes de serem forçadas sob carga constante e carregadas até a ruína. Além destas, também foi tomada como referência uma viga ensaiada por Morais (1997). O segundo capítulo faz uma breve apresentação dos polímeros reforçados com fibra de carbono e resume alguns estudos experimentais da literatura técnica sobre vigas de concreto armado reforçadas por colagem desses materiais. O detalhamento e os resultados do programa experimental desenvolvido neste trabalho são descritos no terceiro capítulo. No quarto capítulo são apresentadas as capacidades resistentes das vigas à flexão e ao cisalhamento teóricas, antes e depois da execução do reforço, e feita comparação destas com as obtidas no programa experimental. É feita também uma análise dos resultados experimentais através de flechas, deformações e cargas últimas. As conclusões gerais do trabalho e sugestões para trabalhos futuros são apresentadas no quintocapítulo. As tabelas com os resultados dos ensaios de cada viga podem ser vistas no anexo A e as fotografias dos ensaios no anexo B. CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3 2.1 INTRODUÇÃO As primeiras pesquisas sobre reforço de vigas de concreto armado com adição de chapas metálicas coladas com resina epóxica foram realizadas na década de 60 (THOMAS et al, 1998). Esta técnica, eficiente e de custo relativamente baixo, tem as desvantagens da corrosão do aço, da baixa resistência ao fogo e, em função do peso e tamanhos comerciais das chapas, da necessidade de escoras e dificuldade de manipulação. Nas últimas décadas, tem havido grande mobilização de esforços para a procura de novos materiais mais duráveis, resistentes e leves para serem utilizados no reforço estrutural. Os materiais compósitos reforçados com fibra surgiram como alternativa para os casos em que emprego dos materiais tradicionais, aço e concreto, não é adequado. Diversas indústrias já utilizavam os materiais compósitos com êxito, e propriedades como elevada resistência à tração, leveza, resistência à corrosão e à fadiga, amortecimento ao choque e isolamento eletromagnético atraíram o interesse da indústria da construção civil. Este capítulo faz uma breve apresentação dos polímeros reforçados com fibra de carbono e resume alguns estudos experimentais sobre vigas de concreto armado reforçadas por colagem desses materiais e outros estudos sobre reforço realizados na COPPE. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4 2.2 POLÍMEROS REFORÇADOS COM FIBRA DE CARBONO (PRFC) Inicialmente utilizados para o reforço de pilares submetidos a ações sísmicas, os polímeros reforçados com fibra de carbono ou “carbon fiber reinforced polymers” (CFRP) já se encontram em aplicações práticas no reforço de lajes, vigas, pilares e paredes, em estruturas como edifícios e pontes. Uma vez garantida a boa qualidade do concreto e a ausência de corrosão nas armaduras, tais reforços possibilitam a limitação das fissuras e redução das flechas, além de aumento da resistência à flexão e ao cisalhamento. A durabilidade, a leveza e o alto módulo de elasticidade (podendo chegar a 800 GPa) dos PRFC são as características responsáveis pela sua boa aceitação. O custo do compósito, que chega a ser dez vezes maior que o do aço, representa apenas 20% do custo total da obra de reforço e pode ser compensado pela economia gerada na execução mais rápida, fácil e limpa. Os PRFC possuem baixa condutividade térmica transversal (MEIER, 1997) e a sua resistência ao fogo é limitada pela instabilidade da resina exposta a elevadas temperaturas. No entanto, as conseqüências de danos ao reforço são levadas em consideração pelos coeficientes de segurança, admitindo-se que a estrutura resista às ações permanentes e a uma po rcentagem das ações variáveis. 2.2.1 Composição Compósito é a combinação de dois ou mais materiais, que atuam em conjunto e mantêm suas identidades. Os polímeros são materiais compósitos não homogêneos, anisotrópicos e de comportamento perfeitamente elástico até a ruína. Os polímeros reforçados com fibra (PRF) ou “fiber reinforced polymers” (FRP) são constituídos por um componente estrutural (as fibras) e por um componente matricial (a resina polimérica e, normalmente, alguns “fillers” e aditivos). O desempenho de um PRF é determinado pelas propriedades e características dos materiais que o constituem, pela interação desses materiais e pelas condições da execução do reforço, daí a sua grande versatilidade. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 5 a) Fibras As fibras são responsáveis pela resistência e rigidez do compósito, que varia em função do tipo, tamanho, grau de concentração e disposição das mesmas na matriz. A direção principal das fibras leva ao valor máximo da resistência e rigidez do compósito, e esses valores vão diminuindo ao se afastar da direção principal até o mínimo que corresponde à direção perpendicular àquela. Vários tipos de fibra, e com grande variedade de propriedades, estão disponíveis comercialmente. As fibras longas (contínuas) e de pequeno diâmetro são as mais adequadas para o reforço de estruturas de concreto pela ótima capacidade de transferência de carga e de aproveitamento de suas propriedades. As fibras contínuas mais utilizadas atualmente são as de vidro, as de aramida (ou Kevlar) e as de carbono. As propriedades físicas e mecânicas variam consideravelmente entre os diferentes tipos de fibra e podem variar significativamente também para o mesmo tipo de fibra. A tabela 2.1 mostra a variação das propriedades físicas e mecânicas de diversas fibras e a figura 2.1 faz uma comparação do diagrama tensão x deformação das mesmas com o do aço. As fibras de carbono são as mais rígidas e resistentes dentre as fibras utilizadas para o reforço de polímeros. Segundo Ripper e Scherer (1999), destacam- se principalmente pela extraordinária rigidez e leveza, ótimo comportamento relativo à fadiga e à atuação de cargas cíclicas, estabilidade térmica e reológica e excepcional resistência aos vários tipos de ataques químicos. Por outro lado, em função de sua boa condutividade elétrica, as fibras de carbono podem possibilitar corrosão do tipo galvânica quando em contato com metais (RIPPER, 1998). CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 6 Resistência à tração (MPa) Módulo de elasticidade (MPa) Deformação última (%) Peso específico (kg/m 3 ) Diâmetro da fibra (µm) tipo PAN* - com alta resistência (HS) 3500 - 5000 200 - 260 1.2 - 1.8 1700 - 1800 5 - 8 tipo PAN* - com alto módulo de elasticidade (HM) 2500 - 4000 350 - 700 0.4 - 0.8 1800 - 2000 5 - 8 tipo Pitch** - com alto módulo de elasticidade (HM) 3000 - 3500 400 - 800 0.4 - 1.5 1900 - 2100 9 - 18 com módulo de elasticidade intermediário (IM) 2700 - 4500 60 - 80 4.0 - 4.8 1400 - 1450 12 - 15 com alto módulo de elasticidade (HM) 2700 - 4500 115 - 130 2.5 - 3.5 1400 - 1450 12 - 15 aluminoborosilicato de cálcio (E) 1800 - 2700 70 - 75 3.0 - 4.5 2550 - 2600 5 - 25 aluminosilicato de magnésio (S) 3400 - 4800 85 - 100 4.5 - 5.5 2550 - 2600 5 - 25 **Pitch = fibras obtidas pela pirólise do petróleo destilado ou do piche convertido em cristal líquido Tabela 2.1 - Propriedades típicas dos principais tipos de fibra (MATTHYS, 2000) Tipo de Fibras Carbono (C) Aramida (A) Vidro (G) *PAN = fibras obtidas por pirólise e oxidação de fibras sintéticas de Poliacrilonitrila Figura 2.1 – Diagrama tensão-deformação dos principais tipos de fibra (MATTHYS, 2000) CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 7 b) Matriz A matriz polimérica de um PRF envolve completamente as fibras dando proteção mecânica e contra agentes agressivos e promovendo a transferência de tensões. A seleção da matriz influencia diretamente a fabricação e o custo final do PRF. As matrizes poliméricas podem ser baseadas em resinas termoplásticas (thermoplastic resins) ou em resinas termoendurecíveis (thermosetting resins). As resinas termoplásticas são caracterizadas por macromoléculas mais lineares e podem ser repetidamente fundidas quando aquecidas e endurecidas quando resfriadas. Por terem mais ductilidade e tenacidade, são mais resistentes a impactos e micro-fissuração que as resinas termoendurecíveis. No entanto, sua alta viscosidade dificulta a incorporação de fibras longas e, por conseqüência, a fabricação de compósitos com tais fibras. Uma vez curadas, as resinas termoendurecíveis são caracterizadas por um alto grau de polimerização das moléculas e endurecimento irreversível, se aquecidas depois de endurecidas não fundem e se decompõemse expostas a altas temperaturas. Essas resinas impregnam facilmente as fibras sem necessidade de condições especiais, como altas temperaturas ou grandes pressões, e, comparadas às resinas termoplásticas, oferecem melhor estabilidade térmica e química, além de menor retração e relaxação. As resinas mais utilizadas nos PRF são as termoendurecíveis da classe dos poliésteres insaturados, dos vinilésteres e dos epóxidos. As resinas epóxi são bastante usadas nos compósitos de alta performance pela extensa gama de propriedades físicas e mecânicas, apesar do alto custo. A tabela 2.2 traz as propriedades típicas das resinas termoendurecíveis mais usadas segundo Taerwe et al (1997). CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 8 Tipo de resina Resistência à tração (MPa) Módulo de elasticidade (GPa) Peso específico (kg/m3) Retração na cura (%) Poliéster 35 - 104 2.1 - 3.5 1100 - 1400 5 - 12 Vinil éster 73 - 81 3.0 - 3.5 1100 - 1300 5 - 10 Epóxi 55 - 130 2.8 - 4.1 1200 - 1300 1 - 5 Tabela 2.2 - Propriedades típicas das resinas mais usadas segundo Taerwe et al (1997) As maiores vantagens das resinas epóxicas são a excelente resistência à tração, boa resistência à fluência, boa resistência química e a solventes, forte adesão com as fibras e baixa retração durante a cura. O preço e o longo período de cura são as desvantagens. Ainda, elevadas temperaturas comprometem a resina epóxica, que se torna elastomérica e sofre reduções consideráveis de resistência. A temperatura que representa a passagem de um estado vítreo para um estado elástico e dúctil é chamada temperatura de transição vítrea e a aproximação desta temperatura faz com que as propriedades mecânicas como resistência e rigidez da resina diminuam acentuadamente. Esse problema pode ser amenizado com o uso de sprinklers e/ou de pintura especial no acabamento do reforço para aumentar a resistência ao fogo. Enquanto não endurecida, são importantes as noções dos tempos de utilização e de endurecimento da resina epóxica. O período em que a resina mantém suas características de aderência e pode ser manipulada sem dificuldade é chamado de tempo de utilização (“pot life"). Quanto maior a temperatura e quantidade de material a ser preparado, menor o tempo de utilização. Isto ocorre em função da maior quantidade de calor e conseqüente aceleração das reações. O tempo de endurecimento (“open time”) é o tempo que a resina leva para endurecer e é o intervalo no qual o compósito deve ser colado para que suas propriedades se desenvolvam satisfatoriamente. Este tempo é influenciado pelas temperaturas do ambiente, do compósito e da superfície a ser reforçada. Afora a resina, “fillers” e aditivos comumente também compõem a matriz. Os “fillers” têm a função de diminuir o custo e melhorar as propriedades da matriz CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 9 (controlar a retração, melhorar a capacidade de transferência de tensões e controlar a tixotropia da resina). Para aumentar a resistência da matriz e facilitar a fabricação do compósito, vários tipos de aditivos podem ser usados. Os mais comuns são os inibidores da ação de raios ultravioleta, os antioxidantes, os catalisadores e os desmoldantes. c) Adesivo O adesivo é o material responsável pela colagem do PRF na superfície do concreto e pela transferência de tensões, possibilitando a ação conjunta dos dois materiais. A transferência de tensão é feita no plano da interface concreto-adesivo- compósito, nele ocorrendo tensões predominantemente cisalhantes, embora tensões normais a essa interface também possam ocorrer. A escolha do adesivo depende do tipo de performance desejada, do substrato e das condições do ambiente e de aplicação do compósito na execução. Os adesivos estruturais mais usados e aceitos são as resinas epóxicas. 2.2.2 Sistemas de Reforço Os compósitos de fibra de carbono para utilização em concreto armado são comercializados em duas categorias: como barras e grelhas para armadura em substituição ao aço e como tecidos e laminados para reforço. A segunda categoria é dividida em dois grupos: os sistemas pré-fabricados (laminados) e os sistemas curados “in situ”. Os sistemas pré-fabricados (lâminas) se apresentam na forma de compósitos totalmente curados, com forma, tamanho e rigidez definidas, prontos para serem colados no elemento a ser reforçado. Tipicamente, possuem um teor de fibras em torno de 70% e espessura entre 1,0 e 1,5 mm. Em relação aos sistemas curados “in situ”, têm a vantagem do maior controle de qualidade, uma vez que só as propriedades do adesivo são afetadas pela execução. Contudo, são menos flexíveis. A aplicação de feixes de fibras contínuas na forma de fios, em estado seco ou pré-impregnado, sobre um adesivo epóxico previamente espalhado na superfície a ser reforçada constitui os chamados sistemas curados “in situ”. O adesivo, ao CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 10 impregnar as fibras, transforma o conjunto em um PRF e faz a ligação deste com o substrato. Os sistemas curados “in situ” ainda não têm terminologia padronizada e neste trabalho serão designados por mantas e tecidos, de acordo com a disposição das fibras no plano, e estão resumidos na tabela 2.3 (JUVANDES, 1999), que é baseada em designações citadas no “EUROCOMP Design Code and Handbook”, no JCI TC952 (comitê técnico em concreto reforçado com fibras contínuas do Japan Concrete Institute) e na versão provisória do ACI Committee 440F. A espessura final de um compósito curado “in situ” é inferior à espessura de um compósito pré-fabricado e difícil de ser determinada. Para a fibra em estado seco, essa espessura varia entre 0,1 a 0,5 mm. Descrição Orientação das fibras Estado secos pré- impregnados * designação internacional pré- impregnadas secas "mat" * Espalhamento aleatório das fibras num tapete rolante que, depois, é pulverizado com resina para adquirir consistência multidirecional "cloth" * Fios contínuos tecidos por um processo têxtil convencional ( 150 - 400 g / m2 ) unidirecional ou bidirecional ou multidirecional MANTAS "woven * roving" Entrelaçamento direcionado de dois fios ou faixa de fibras ( 600 - 800 g / m2 ) bidirecionais: 0/90º 0/45º 0/-45º Tabela 2.3 - Descrição dos sistemas de PRFC curados "in situ" (JUVANDES, 1999) Designação TECIDOS "sheets" * Disposição em faixas contínuas e paralelas de fibras sobre uma rede de proteção (200 - 300 g/ m 2 ) unidirecionais CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 11 2.2.3 Execução do Reforço O funcionamento apropriado do reforço depende de sua colagem contínua ao substrato. Antes da execução do reforço, o concreto deteriorado deve ser removido e as barras com corrosão devem ser substituídas. Quinas e cantos angulosos na superfície do concreto devem ser arredondados para evitar a delaminação do compósito. Para o concreto, a resistência à compressão mínima recomendada pelo ACI Committee 440 (2001) é de 17 MPa e a mínima resistência à tração direta (fct,dir,determinada pelo teste de pull-off) é de 1,4 MPa. Ainda, nos manuais do CEB- FIP (2001) e da SIKA (2000), o valor mínimo recomendado para fct,dir é igual a 1 MPa. As áreas que vão receber o reforço devem ser apicoadas ou lixadas para remover a camada superficial de concreto. Uma vez limpa e seca, a superfície do concreto pode ser melhorada com a aplicação de um primer especificado pelo fabricante. O primer é um produto que penetra no concreto por capilaridadecom a função de melhorar a capacidade adesiva da superfície para a recepção da resina de saturação ou do adesivo. Quando necessário, a superfície deve ser regularizada com a aplicação de “putty”, uma argamassa que deve ser compatível com o primer utilizado. A colagem do compósito na superfície do concreto difere para cada tipo de PRF. Para a colagem dos PRF curados “in situ” (tecidos e mantas) um adesivo/resina saturante com alta viscosidade é usado tanto para colar quanto para impregnar o compósito. Os reforços que estarão sujeitos à radiação solar ou a ataques químicos devem ter acabamento apropriado. A temperatura, a umidade relativa do ar e a umidade da superfície durante a execução do reforço têm grande influência na performance do compósito. Embora altas temperaturas não são indicadas durante a execução do reforço por apressarem a cura da resina, baixas temperaturas e dias chuvosos também prejudicam o serviço, pois tornam a resina muito viscosa e a cura bastante lenta, a temperatura deve estar acima de 5ºC de acordo com Thomas e Thomas (1996) e pelo menos 3ºC acima do ponto de orvalho (SIKA, 2000) para possibilitar a adesão da resina na superfície do concreto. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 12 Ripper e Scherer (1999) recomendam que a umidade do substrato, quando da aplicação do reforço, deve ser inferior a 4% e o controle feito por equipamento adequado. Segundo Matthys (2000), a adesão obtida é insuficiente quando a umidade relativa do ar é maior que 80%. 2.2.4 Mecanismos de Ligação A eficiência dos compósitos de fibra de carbono e o estabelecimento de critérios de dimensionamento requerem uma maior compreensão dos mecanismos de ligação que envolvem esse tipo de reforço. O dimensionamento do reforço e a resistência da ligação concreto-adesivo-compósito são definidores do comportamento estrutural do elemento a ser reforçado. 2.2.4.1 Modos de Ruína A opinião de pesquisadores do assunto ainda diverge em relação ao comportamento estrutural na ruína de vigas reforçadas com PRFC, principalmente no que concerne à ruptura na interface concreto -resina-compósito. Dentre as classificações encontradas (ARDUINI E NANNI, 1997, JUVANDES, 1999), a de Triantafillou (1998a) é a mais representativa dos modos de ruptura para reforços à flexão e reforços ao cisalhamento. Os sete modos de ruptura em estruturas reforçadas à flexão são mostrados na figura 2.2. Os três primeiros modos listados, (a), (b) e (c), podem ser caracterizados como clássicos, uma vez que sua análise pode ser feita pelos métodos convencionais: hipótese das seções planas, compatibilidade de deformações e equilíbrio das forças. O escoamento da armadura seguido de ruptura do reforço (a) pode acontecer quando as taxas de aço e de reforço forem excepcionalmente baixas, assim como a deformação de ruptura do compósito, ou ainda devido a uma elevada resistência à compressão do concreto. O esmagamento do concreto (c), ao contrário, ocorre quando as taxas de reforço e de aço são elevadas. O modo (b) seria o alvo do dimensionamento ótimo do reforço, onde a ruína é governada pelo escoamento do aço, seguida de esmagamento do concreto CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 13 enquanto o reforço permanece intacto. Os demais modos, (d), (e), (f) e (g), representam ruínas prematuras que ocorrem de maneira frágil e brusca. O destacamento do compósito nas extremidades da zona de ancoragem (d) é o modo mais crítico no dimensionamento do reforço. Pode ser decorrente de fissuras de cisalhamento do concreto junto à interface concreto -adesivo nas extremidades do compósito. Nos locais próximos às demais fissuras de cisalhamento, é menos provável a ocorrência de destacamento do compósito (e), pela própria continuidade do reforço de flexão. Quando há uma deformação relativamente alta do compósito junto às fissuras de flexão, pode ocorrer o descolamento do reforço, que é o modo (f) de ruptura. (a) Escoamento da armadura interna seguido de ruptura do reforço (b) Escoamento da armadura interna seguido de esmagamento do concreto (c) Esmagamento do concreto (d) Destacamento do compósito nas extremidades da zona de ancoragem (e) Descolamento do compósito próximo às fissuras inclinadas (f) Descolamento do compósito provocado por fissuras de flexão (g) Descolamento do compósito provocado por irregularidades na superfície do concreto e falha na concretagem. Figura 2.2 – Modos de ruptura para reforço à flexão segundo Triantafillou (1998a) O modo de ruptura (g), causado por descolamento do reforço em função de irregularidades na superfície do concreto, má concretagem e espalhamento incorreto da resina, pode ser prevenido se forem seguidos os cuidados na execução do reforço já mencionados no item anterior. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14 Os modos de ruptura para reforço ao cisalhamento variam bastante com o tipo de PRF (laminado, manta ou tecido), com a disposição nas faces (orientação das fibras, largura e afastamento entre faixas de PRF coladas) e com o tipo de ancoragem das extremidades. Os modos sugeridos por Triantafillou (1998a) são destacamento do concreto próximo à interface concreto -adesivo e ruptura do compósito. A ruptura do compósito pode ocorrer com tensões de tração inferiores à sua resistência à tração causada por concentração de tensões ou áreas d e descolamento do compósito. A protensão do compósito representa uma opção para uma maior utilização de sua capacidade resistente à tração. Alguns estudos experimentais (TRIANTAFILLOU et al, 1992) feitos com tecidos unidirecionais protendidos reforçando vigas de concreto armado mostram que o aumento no confinamento do concreto gerado é benéfico no controle da fissuração e no aumento da capacidade resistente ao cisalhamento, levando a uma diminuição na área de compósito necessária para o reforço. No entanto, a adaptação deste método de reforço para estruturas reais ainda apresenta dificuldades práticas. 2.2.4.2 Resistência da Ligação A compatibilidade de deformações entre os materiais, admitida no cálculo do reforço, é imprescindível para assegurar a aderência e promover o ganho de resistência, rigidez ou ductilidade previstas. O comportamento geral da interface da ligação concreto-adesivo-compósito é fundamental na prevenção dos modos indesejados de ruínas prematuras. Esse comportamento é condicionado pelo menor dos valores das resistências à tração e ao cisalhamento dos três materiais envolvidos: a camada superficial do concreto, a resina e o compósito. Nos casos mais comuns tem-se que a superfície do concreto é quem limita o desempenho da ligação. A tensão cisalhante máxima a ser resistida pelo concreto, evitando o destacamento do reforço, é influenciada pelas condições iniciais da estrutura: a classe e o estado de deterioração do concreto e o padrão de fissuração da camada mais externa e pelo tipo de preparação do substrato. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 15 Tendo por base o modelo de Mohr-Coulomb modificado, pode-se estabelecer que a tensão de cisalhamento limite para o concreto é dada por: dirct,lim fkô ⋅= (2.1) O fator k leva em consideração o estado pré-fissurado em que se encontra o concreto quando é executado o reforço. Alguns trabalhos encontrados na literatura sugerem os seguintes valores para esse τlim: • Triantafillou (1998b): 5,1 f 25,0ô c c ctk lim =γ γ ⋅= (2.2) • Beber (1999) 2/1 clim f28,0ô ⋅= (2.3) • Pinto (2000) e Cerqueira (2000) ⋅ ⋅ = vigada laterais das concreto o para vigada fundo do concreto o para dirct, dirct, lim f0,5 f0,3 ô (2.4) sendo fct,dir a resistência do concreto à tração direta. • Adhikary e Mutsuyoshi (2001): 3/2 clim f25,0ô ⋅=(2.5) • CEB-FIP (2001): 1,5 ãe f0,21f ã f 1.8fô cctmctk c ctk cbdlim =⋅= ⋅== (2.6) sendo fctk = resistência à tração do concreto característica; CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 16 fctm = resistência à tração do concreto média; A escolha do tipo adequado de resina, que deve ter resistências à tração e ao cisalhamento superiores às do concreto, assim como seus espalhamento e espessura adequados são importantes para evitar o descolamento do reforço. Deve- se, ainda, limitar a deformação máxima do compósito para garantir a ação conjunta com a armadura interna. Para reforço de flexão, a deformação específica do mesmo no estado último não deve ser maior que a deformação específica efetiva (ε f e), que é definida de diferentes maneiras na literatura: • Neubauer et al (1997) ⋅ ⋅⋅ = å0,5 0,8% å6 a å5 å fu ss fe (2.7) • CEB-FIP (2001) 0,85%å0,65% fe ≤≤ (2.8) • ACI Committee 440 (2001) fumfe åkå ⋅= (2.9) >⋅⋅≤ ⋅⋅⋅ ≤⋅⋅≤ ⋅⋅− ⋅ = 180000tENpara0.90 tEN 90000 å60 1 180000tENpara0.90 360000 tEN 1 å60 1 k ff fffu ff ff fu m sendo N = número de camadas do PRF; Ef = módulo de elasticidade do PRF; tf = espessura de cada camada do PRF; ε s = deformação específica do aço da armadura longitudinal de tração; (unidades SI) CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17 ε f u = deformação específica última do PRF. Para o reforço de cisalhamento, as definições de ε f e são as seguintes: • CEB-FIP (2001) (2.10) (2.11) com valores de fcm em MPa e Ef em GPa. fu 0,30 ff 2/3 cm fe å)ñE f (0,17å (a) 2.3 figura na mostrado PRFC de reforço para ⋅ ⋅ ⋅= ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = − fu 0,30 ff 2/3 cm 30,56 ff 2/3 cm fe å) ñE f (0,17 10) ñE f (0,65 å (b) 2.3 figura na mostrado PRFC de reforço Para CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18 Figura 2.3 – Esquema de reforços ao cisalhamento referentes às equações 2.10 e 2.11. • ACI Committee 440 (2001) (2.12) (2.13) sendo fc = resistência à compressão do concreto; ρ f = taxa geométrica do PRF; df w = comprimento mostrado na figura 2.4; − − == ⋅⋅ =≤ ⋅ ⋅⋅= ⋅ = laterais nas só colado reforço para d 2Ld U"" em reforço para d Ld k;) 27 f (k )Et(N 23300 Le0,75 å11900 Lkk k SI), unidades em ( para 0.4% åk å fw efw fw efw 2 2/3c 1 0,58 ff e fu e21 v fuv fe CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 19 Figura 2.4 – Comprimento df w usado na equação 2.13. 2.3 ALGUNS ESTUDOS EXPERIMENTAIS SOBRE REFORÇO COM TECIDOS DE FIBRA DE CARBONO Um resumo de alguns trabalhos que utilizaram tecidos de fibra de carbono como reforço e suas principais contribuições e conclusões são apresentados neste item. 2.3.1 Norris et al (1997) Neste estudo foram ensaiadas 19 vigas de concreto armado com o objetivo de investigar o comportamento de vigas reforçadas com mantas e tecidos de fibra de carbono, de forma e disposição variadas, à flexão ou ao cisalhamento. As vigas tinham seção retangular de 127mm x 203 mm, eram simplesmente apoiadas e foram divididas em dois grupos, com armaduras distintas, para estudar o comportamento à flexão ou ao cisalhamento (ver figura 2.5). As 13 vigas que foram utilizadas na investigação do comportamento à flexão (vigas de flexão) mediam 2440 mm de comprimento, tinham taxa de armadura transversal para o trecho entre cargas igual a 0,27% e para os demais trechos 0,87%. A taxa de armadura longitudinal era de 1,1%. As seis vigas restantes foram utilizadas na investigação do comportamento ao cisalhamento (vigas de cisalhamento), mediam 1220 mm de comprimento, tinham taxa de armadura transversal igual a 0,22% e taxa de armadura longitudinal igual a 1,93%. Todas as vigas foram pré-fissuradas, ou seja, foram submetidas a um carregamento correspondente à deformação de escoamento da armadura CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 20 longitudinal de tração e conseqüente aberturas de fissuras antes da realização do reforço, com exceção das vigas de controle tanto de flexão quanto de cisalhamento. Figura 2.5 – Detalhamento das vigas ensaiadas por Norris et al (1997). As barras de aço utilizadas tinham tensão de escoamento (fy ) igual a 420 MPa e o concreto utilizado tinha resistência média à compressão de 36,5 MPa. Foi estudado também o efeito de dois tipos de adesivos epóxicos designados por epóxi A (ft = 28,9 MPa e εu = 15,5%) e epóxi B (ft = 28,3 MPa e εu = 10,2%), sendo ft a resistência à tração e εu a deformação específica última. Os três tipos de reforço utilizados foram denominados de tipo I, tipo II e tipo III. O reforço tipo I era formado por duas camadas de tecido unidirecional de fibra de carbono e resina epóxi A. Os reforços tipo II e tipo III utilizaram resina epóxi B sendo que o primeiro era formado por duas camadas de manta unidirecional de fibra de carbono e o segundo por uma camada de manta bidirecional de fibras de carbono perpendiculares entre si. Seis sistemas de reforço com diferentes formas de orientação das fibras de carbono foram utilizados (ver figura 2.6). CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 21 Figura 2.6 – Orientação das fibras e disposição do reforço das vigas de Norris et al (1997). O sistema (A) consistia de duas camadas de fibras longitudinais coladas no fundo e laterais da viga. O sistema (B) era formado por duas camadas unidirecionais com orientação paralela (1ª camada) e perpendicular (2ª camada) ao eixo da viga, coladas no fundo e laterais da viga. O sistema (C) era constituído por duas camadas de fibras orientadas em ângulos de ± 45º. O sistema (D) era idêntico ao sistema (C) exceto pela porção central da viga que não recebeu reforço nas laterais. O sistema (E) era formado por fibras coladas perpendicularmente ao eixo da viga. O sistema (F) era idêntico ao sistema (C) sendo que o reforço cobria toda a altura da lateral da viga. Todos os sistemas de reforço possuíam a mesma quantidade de fibra de carbono por área. A tabela 2.4 traz os dados das vigas, sendo Ef t o módulo de elasticidade transversal do reforço e Pu a carga última. Segundo o autor, os resultados foram apresentados apenas para as vigas cujo comportamento foi considerado representativo para uma mesma orientação das fibras do reforço. Todas as vigas reforçadas exibiram aumento na carga de ruptura resistida, sendo que a magnitude desse aumento e o modo de ruptura estavam relacionados à orientação das fibras do reforço. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22 Os extensômetros adicionais das vigas IBi e IIBi foram dispostos ao longo da face inferior e lateral e indicaram a formação de novas fissuras de flexão nas extremidades do reforço. Não houve grande diferença de comportamento entre o tecido e a manta de CFRP utilizados. As diferenças mais significativas ocorreram em função da orientação das fibras e disposição do reforço utilizadas. Foram observados aumentos de resistência e rigidez de todas as vigas reforçadas, sendo a magnitude do ganho de resistência inversamente proporcional à ductilidad e na ruptura. As vigas que tiveram as fibras do reforço direcionadas perpendicularmente às fissuras, tanto de flexão quando de cisalhamento, tiveram grande acréscimo de rigidez e capacidade de carga, mas a ruptura foi brusca e ocorreu pelo destacamento do concreto nas extremidades do reforço. Quando as fibras do PRFC foramdispostas obliquamente em relação às fissuras o modo de ruptura foi mais dúctil, embora o aumento na rigidez e capacidade de carga tenha sido menor que o das vigas mencionadas anteriormente. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 23 ft (MPa) Ef (GPa) Eft (GPa) tf (mm) C96 Flexão - - - - - 50 flexão C48 Cisalhamento - - - - - 100 cisalhamento IA 389.7 138 IB 119 IBu IBi IC 67.8 80 escoamento do aço de flexão e descolamento do reforço na parte superior das laterais da viga ID 67.8 62 escoamento do aço de flexão e decolamento e ruptura do reforço na face inferior da viga IE 11.3 148 escoamento do aço de flexão e esmagamento do concreto IF 67.8 IIA 395.3 IIB IIBu IIBi IIE Cisalhamento 13.8 148 escoamento do aço de flexão e esmagamento do concreto IIIC IIID IIIF IIIFu 200 Tabela 2.4 - Dados das vigas de Norris et al (1997) Flexão 2 camadas de manta unidirecional de fibra de carbono 1 camada de manta bidirecional de fibra de carbono 0º-395.3 90º-13.8 Cisalhamento 1.0 0º-389.7 90º-11.3 Flexão 2 camadas de tecido de fibra de carbono Viga Tipo de investigação Modo de ruptura Tipo do reforço Pu (kN) compósito Os espaços em branco são dados não fornecidos pelo autor u indica que a viga não foi pré-fissurada antes da aplicação do reforço i indica que foram colocados strain-gages adicionais na viga Flexão 1.0 104.7 Cisalhamento escoamento do aço de flexão e destacamento do reforço na face inferior e laterais 4.6 33.4 2.8 destacamento do reforço na extremidade superior das laterais 28.3 28.3 1.5 escoamento do aço de flexão e destacamento do reforço na face inferior e laterais 34.1 CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 24 2.3.2 Souza et al (1998) A análise do comportamento de vigas de concreto armado reforçadas com tecidos de fibra de carbono, com diversos tipos de carregamento e sistemas de reforço, foi o objetivo deste trabalho. O estudo foi constituído por sete vigas de concreto armado com seção transversal retangular de 120 mm x 200 mm e vão de 2100 mm. A armadura das vigas é detalhada na fig. 2.7. Figura 2.7 – Detalhamento da armadura das vigas de Souza et al (1998) Cinco vigas foram reforçadas com tecido bidirecional de fibra de carbono com 70% das fibras no sentido principal e 30% das fibras no sentido transversal e medindo 75 mm de largura. O compósito foi ensaiado à tração e a deformação específica na ruptura foi igual a 0,66%. Os detalhes das vigas reforçadas podem ser encontrados na fig. 2.8 e na tabela 2.5. Apenas a viga F3 foi pré-fissurada com uma carga correspondente ao escoamento da armadura longitudinal, as demais vigas foram ensaiadas apenas uma vez. Duas vigas foram utilizadas como controle. A viga FRD, com a mesma armadura das demais, foi ensaiada até a ruptura sem receber reforço. A viga FRR foi executada com uma barra de aço adicional de modo que a área de aço total fosse equivalente à área de aço mais a área da fibra da s demais vigas reforçadas. A viga F3 foi a única viga a ser pré-fissurada. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 25 *1 Ponto de descolamento *2 Ruptura à tração da fibra *3 Esmagamento do concreto Figura 2.8 - Detalhamento do reforço das vigas de Souza et al (1998) O tipo de carregamento utilizado, concentrado ou distribuído, não diferenciou o comportamento das vigas F1 e F2, reforçadas da mesma forma, salvo o rompimento do compósito na viga F2. A capacidade resistente à flexão foi acrescida em até 70% em relação à viga de referência FRD, embora em serviço não tenha havido grande diferença, sendo sugerido pelos autores ensaios de modelos com maiores dimensões e mais próximos da realidade de estruturas reais. Comparando as vigas com uma camada e a viga com duas camadas de reforço de flexão tem-se que a inclusão de mais uma camada aumentou capacidade CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 26 resistente à flexão da viga em até 65%, com a ruptura ocorrendo por descolamento do reforço. As aberturas de fissuras mostraram-se relacionadas com o descolamento do reforço, já que as bandas de amarração levaram a uma melhora do comportamento da viga F3 em relação à viga F1. E f (GPa) f t (MPa) FRD - - - 8,8 FRR - - - 13,7 F1 14,7 descolamento do reforço de flexão e esmagamento do concreto F2 simulação de carga distribuída 15,4 descolamento e ruptura do reforço de flexão F3 1 camada de reforço na face inferior + 5 bandas transversais de amarração 17,5 descolamento e ruptura do reforço de flexão e esmagamento do concreto F4 1 camada de reforço na face inferior e outra nas laterais 33,6 ruptura do reforço na face lateral e esmagamento do concreto F5 2 camadas de reforço na face inferior 24,2 descolamento do reforço de flexão e esmagamento do concreto Tabela 2.5 - Dados das Vigas de Souza et al (1998) Mu (kN.m) Modo de ruptura* 33 486 138 1425 2 cargas concentradas nos terços dos vãos fcm (MPa) fy (MPa) * O esquema mostrando a localização da ruptura nas vigas encontra-se na figura 2.6 Compósito 1 camada de reforço na face inferior Viga Reforço Carregamento 2 cargas concentradas nos terços dos vãos M u = momento último e fy= tensão de escoamento do aço CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 27 2.3.3 Brosens et al (2000) Neste trabalho é sugerido um método de reforço combinando chapas de aço e tecidos de fibra de carbono com a finalidade de estudar o comportamento das vigas assim reforçadas. Foi feita uma série de quatro vigas de concreto armado com 1700 mm de comprimento, simplesmente apoiadas e com seção transversal retangular de 125 mm x 225 mm. Nenhuma armadura interna de combate ao cisalhamento foi utilizada nas vigas e as não foram pré-fissuradas. A viga de referência foi denominada viga A e não foi reforçada. A viga B recebeu como reforço de cisalhamento duas camadas de tecido de PRFC (0,167 mm cada camada) nas laterais da viga em toda a extensão dos vãos de cisalhamento, sendo a primeira camada com as fibras orientadas verticalmente e a segunda camada com as fibras orientadas horizontalmente. A viga C recebeu o mesmo reforço da viga B, mas apenas em uma das laterais. A viga D recebeu o mesmo reforço da viga C juntamente com uma chapa metálica (1400 mm x 75 mm x 2 mm) no fundo da viga como reforço de flexão e dois estribos de manta de PRFC (100 mm de largura) como ancoragem nas extremidades da chapa. Os detalhes são mostrados na figura 2.9 e os resultados das vigas ensaiadas encontram-se na tabela 2.6. As investigações experimentais mostraram que as mantas de PRFC aumentaram a capacidade resistente da viga em torno de 50%. Não houve diferença substancial entre a viga reforçada em uma única lateral (viga C) e a viga reforçada nas duas laterais (viga B); o ganho de resistência aumentou de 48% para 55%. A chapa de aço utilizada na viga D evitou o escoamento da armadura interna e aumentou a rigidez da viga, mas a utilização de materiais compósitos em contato com metais não seja recomendável devido à possibilidade de corrosão galvânica gerada pela diferença de potencial entre esses materiais. A ancoragem com os estribos de PRFC preveniu o arrancamento da chapa de aço, levando a um aumento da capacidade resistente à flexão de 80%. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 28 Figura 2.9 – Detalhamento da armadura e reforço das vigas de Brosens et al (2000). Ef (GPa) ft (MPa) A - - - 54 71 5.5 cisalhamento B 2 camadas de tecido de PRFC nas laterais 110 6.8 C 2 camadas de tecido de PRFC em uma lateral 105 6.6 D 2 camadas de manta de PRFCem uma lateral + chapa metálica no fundo + ancoragem com manta de PRFC 130 7.6 ruptura do reforço de cisalhamento seguida de falha da viga por cisalhamento Tabela 2.6 - Dados das vigas de Brosens et al (2000) 235 2450 escoamento da armadura seguido de ruptura do reforço de cisalhamento e falha por cisalhamento 54 Viga Reforço Compósito Pu (kN) δy (mm) δy = flecha medida antes do escoamento da armadura interna Modo de ruptura fcm (MPa) CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 29 2.3.4 Silva e Moreno (2000) Este estudo teve como objetivo investigar o comportamento de vigas de concreto de alta resistência reforçadas à flexão com tecidos de PRFC. As vigas tinham seção transversal retangular de 150 mm x 200 mm, 1560 mm de vão livre, eram simplesmente apoiadas e foram armadas da mesma forma. As vigas não foram pré-fissuradas e armadura interna e a disposição dos tecidos podem ser vistas na figura 2.10. Fig. 2.10 – Detalhamento das armaduras e dos reforços das vigas de Silva e Moreno (2000) Devido à pouca porosidade do concreto, a aderência do tecido ficou prejudicada de início. Visando certificar-se dos resultados, duas das vigas foram reforçadas da mesma forma (VRC1a e VRC1b). Os dados experimentais das vigas ensaiadas encontram-se na tabela 2.7, onde CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 30 bf = largura do PRF; ε f = deformação específica do PRF; As = área da seção transversal da armadura longitudinal de tração. A análise dos resultados mostrou que: § o reforço com tecidos de PRFC aumentou a rigidez das vigas de CAR e retardou o escoamento das armaduras, sendo que esse retardamento foi maior na viga com ancoragem do reforço; § as vigas que não tiveram sistema de ancoragem (VR1Ca e VR1Cb) tiveram ruptura por descolamento prematuro do tecido, iniciado em uma das extremidades e que se propagou em toda a extensão da face inferior da viga; § o sistema de ancoragem utilizado na viga VR1C/X foi de grande eficiência e fez com que a ruptura da viga fosse retardada até o instante da ruptura do reforço, § o aumento de capacidade resistente à flexão foi de 56% na viga com melhor desempenho (VR1C/X). CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 31 bf (mm) tf (mm) E f (MPa) εf (%) VT - - - - - 89.1 100.5 514.5 9.83 Flexão por escoamento da armadura interna VR1Ca 0.559 91.8 14.50 VR1Cb 0.297 89.1 13.05 VR1C/X 1 camada de manta de PRFC no fundo da viga + ancoragem 0.800 91.8 16.00 ruptura da manta descolamento da manta Tabela 2.7 - Dados das vigas de Silva e Moreno (2000) 100.5 1 camada de manta de PRFC no fundo da viga 120 0.117 240 514.5 Viga Reforço Mu (kN.m) compósito Modo de ruptura fcm (MPa) As (mm 2 ) fy (MPa) 2.3.5 Beber et al (2000) O programa experimental objetivou investigar o comportamento de dez vigas de concreto armado reforçadas com diversas camadas de tecido unidirecional de PRFC. As vigas tinham seção retangular de 120 mm x 250 mm e 2350 mm de vão livre, eram simplesmente apoiadas e foram carregadas como mostrado na figura 2.11. A taxa de armadura longitudinal das vigas era igual a 0,52% e a armadura transversal era formada por estribos de 6 mm de diâmetro e espaçamento uniforme de 110 mm. Todas as vigas foram submetidas a um único ensaio até a ruptura (não foram pré-fissuradas). CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 32 Figura 2.11 – Detalhamento das vigas ensaiadas por Beber et al (2000) Foram utilizadas uma, quatro, sete e dez camadas de tecido pré-impregnado unidirecional de fibra de carbono como reforço e as vigas cujo reforço tinha sete e dez camadas receberam bandas de ancoragem em forma de “U” nas extremidades do reforço de flexão. Os resultados experimentais são mostrados na tabela 2.8. O reforço com tecidos de fibra de carbono teve desempenho bastante satisfatório tanto quanto ao aumento da capacidade de carga (aumentos de até 182%) quanto ao aumento da rigidez, sendo limitado pela carga de ruptura associada ao destacamento do mesmo. Foi comprovada também a ação do reforço antes e depois do escoamento do aço, evitando grandes deformações plásticas na armadura. Segundo o autor, a deformação específica de ruptura fornecida pelo fabricante não foi alcançada pelo compósito nos ensaios das vigas reforçadas, e o valor obtido era cerca de 28% inferior. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 33 Ef (GPa) ft (MPa) VT1 - 44.0 2.634 47.4 VT2 - 44.0 2.688 47.0 VR3 47.9 2.447 65.2 VR4 48.0 2.295 62.0 ruptura do reforço VR5 60.0 1.907 102.2 VR6 60.1 1.840 100.6 VR7 80.1 1.350 124.2 VR8 85.1 1.275 124.0 VR9 90.0 1.096 129.6 VR10 95.0 1.052 137.0 * Deformação específica da armadura principal na carga de 44 kN ** ancoradas com bandas de amarração nas extremidades 3400 Py = carga referente ao escoamento da armadura longitudinal de tração Viga 33.6 565 1 camada de tecido de PRFC escoamento da armadura principal e esmagamento do concreto destacamento do reforço Tabela 2.8 - Dados das vigas de Beber et al (2000) tipo de reforço compósito fcm (MPa) fy (MPa) Py (kN) εs* (‰) Modo de rupturaPu (kN) 7 camadas de tecido de PRFC ** 4 camadas de tecido de PRFC 10 camadas de tecido de PRFC** 230 2.3.6 Khalifa e Nanni (2000) Este programa experimental teve como objetivo investigar o comportamento ao cisalhamento e os modos de ruptura de vigas com seção “T” deficientes ao cisalhamento e reforçadas com tecido de PRFC. Seis vigas com seção “T” medindo 2340 mm de comprimento, bi-apoiadas, carregadas e armadas como mostra a figura 2.12 foram ensaiadas. Todas as vigas foram pré-fissuradas e carregadas em 2 ou três ciclos até a ruptura. A viga BT1 serviu como referência e foi armada da mesma forma que as demais. A Viga BT2 foi reforçada com tecido de fibra de carbono, em forma de “U” e colado nas faces laterais e inferior, com as fibras perpendiculares ao eixo da viga. A viga BT3 teve o mesmo reforço que a viga BT2 mais uma segunda camada de tecido aplicada apenas nas laterais e com as fibras orientadas longitudinalmente em relação ao eixo da viga. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 34 Figura 2.12 – Esquematização das vigas de Khalifa e Nanni (2000) A viga BT4 foi reforçada com tiras de tecido de PFRC unidirecional e com as fibras orientadas perpendicularmente ao eixo da viga, medindo 50 mm de espessura e espaçadas de 125 mm de centro a centro. O reforço da viga BT5 foi similar ao da viga BT4 sendo que as tiras de tecido de PRFC foram coladas somente nas laterais da viga. A viga BT6 foi reforçada como a viga BT2, mas teve as extremidades do reforço no encontro da mesa com a alma utilizando uma barra de PRFV (polímero reforçado com fibra de vidro). A ancoragem da viga BT6 evitou o destacamento do compósito e aumentou a carga de ruptura em cerca de 40% (ver tabela 2.9) em relação à sua similar sem ancoragem (BT3), sugerindo que os reforços externos com tecidos de PRFC podem ser melhorados substancialmente quando providos de ancoragem adequada. Ainda assim, a deformação específica medida no reforço da viga BT6 ficou em torno de, apenas, 40% da deformação de ruptura do compósito. A maior deformação específica foi medida no reforço da viga BT4 e ficou em torno de 62% da deformação de ruptura do compósito. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 35 Todas as vigas reforçadas obtiveram acréscimo de capacidade de carga, chegando este a 145%. Não houve diferença em relação ao modo de ruptura das vigas com reforço em “U” e a viga com reforço somente nas laterais, mas a contribuição para a resistênciaao cisalhamento foi 25% menor para este último. Comparando-se os resultados das vigas BT2 e BT4 (quantidade de reforço 40% menor) verifica-se não houve grande aumento na capacidade resistente ao cisalhamento, confirmando que existe uma quantidade ótima de PRFC para reforço de cisalhamento e ao ultrapassá-la não há acréscimo de resistência ao cisalhamento da viga. tf (mm) Ef (GPa) ft (MPa) εf (%) BT1 - - - - - 180 Cisalhamento BT2 tecido contínuo em forma de "U" 0.45 310 BT3 2 camadas (0º/90º) de tecido contínuo em forma de "U" * 315 BT4 tiras de tecido em forma de "U" 1.00 324 BT5 tiras de tecido apenas nas laterais * 243 BT6 tecido contínuo em forma de "U" + ancoragem "U-anchor" 0.63 442 Flexão * Dados perdidos pelo autor Destacamento do reforço nas laterais da viga nas proximidades da maior fissura de cisalhamento e ruptura por cisalhamento 35 470 0.165 228 3790 Modo de ruptura Tabela 2.9 - Dados das vigas de Khalifa e Nanni (2000) Viga Reforço fcm (MPa) Compósito fy (MPa) Pu (kN) CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 36 2.3.7 Matthys (2000) O autor ensaiou duas séries de vigas com o objetivo de estudar separadamente o comportamento das vigas reforçadas à flexão e ao cisalhamento, utilizando lâminas e tecidos pré-impregnados de PRFC como reforço. Foram ensaiadas 16 vigas com dimensões 200 mm x 450 mm x 4000 mm, bi- apoiadas e com duas cargas concentradas aproximadamente nos terços do vão (ver fig. 2.13). Figura 2.13 – Geometria e carregamento das vigas de Matthys 2.3.7.1 Vigas reforçadas à flexão A primeira série consistia de nove vigas, sendo duas usadas como referência (BF1 e BF7) e as restantes reforçadas à flexão. As vigas só foram carregadas depois de reforçadas, com exceção das vigas BF4 e BF5 que foram pré-carregadas com 110 kN e fissuradas, sendo que, antes da execução do reforço, BF4 foi descarregada e BF5 foi reforçada sob carregamento. Os detalhes da armação e do reforço são mostrados na figura 2.14 e na tabela 2.10, sendo ρL a taxa geométrica de armadura longitudinal de tração. Nessa primeira série de vigas foram obtidos acréscimos de resistência à flexão entre 20% e 40%. Todas as vigas reforçadas tiveram ruína brusca por descolamento do compósito. A pré-fissuração não diminuiu significativamente o ganho de resistência da viga BF4, assim como a manutenção do carregamento durante o reforço (viga BF5) resultou em carga de ruptura apenas 4% inferior à da sua similar que não foi inicialmente carregada. Os compósitos de PRFC aumentaram a rigidez das vigas reforçadas e tornaram o padrão de fissuração mais denso, com menores aberturas de fissuras, influenciando positivamente o estado limite de serviço. No entanto, sua influência foi CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 37 maior no estado limite último. A ductilidade das vigas reforçadas diminuiu consideravelmente (entre 25% e 68%), mas se manteve aceitável segundo o autor. Figura 2.14 – Detalhamento da armadura interna e do reforço das vigas reforçadas à flexão de Matthys (2000) tipo ft (MPa) Ef (GPa) ρf (%) BF1 - - - - 33,7 144,2 EA/EC BF2 36,5 185 BF3 34,9 186 BF4 30,8 184,2 BF5 37,4 177 BF6 Lâmina de PRFC (1)+ ancoragem com tecido de PRFC (2) 35,9 183 BF7 - - - - 38,5 80,7 EA/EC BF8 Lâmina de PRFC (1) 3200 159 0,14 39,4 111,3 DC(EA) BF9 tecido de PRFC (3) 3500 233 0,026 33,7 95,8 DC(EA)/EC Tabela 2.10 - Dados das vigas de Matthys (2000) reforçadas à flexão (1) CarboDur 100 mm x 1.2 mm (2) Replark 330 mm x 0.111 mm (3) 2 camadas de Replak 100mm EA/EC escoamento do aço seguido de esmagamento do concreto DC(EA) Descolamento do compósito (depois do escoamento do aço) DC(EA)/EC Lâmina de PRFC (1) 3200 159 0,14 590 0,96 0,48 Viga reforço Pu (kN) Modo de ruptura fcm (MPa) fy (MPa) ρL (%) CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 38 2.3.7.2 Vigas reforçadas ao cisalhamento Na segunda série foram ensaiadas sete vigas, sendo duas tomadas como referência (BS1 e BS3) e as restantes reforçadas ao cisalhamento. A armadura interna de combate ao cisalhamento, utilizada apenas nos vãos de cisalhamento, consistia de estribos de 6 mm espaçados de 200 mm nas vigas BS1 e BS2 e espaçados de 400 mm nas demais vigas. A armadura de flexão foi de seis barras de 20mm para todas as vigas. As vigas foram pré-fissuradas antes da execução do reforço. Com exceção das vigas de referência, as vigas foram reforçadas ao cisalhamento com tecidos de PRFC (Replark) como mostrado na figura 2.15. Os resultados experimentais obtidos podem ser vistos na tabela 2.11. Baseando-se nos resultados experimentais obtidos, chegou-se às seguintes conclusões: • O uso de tecidos de PRFC como reforço ao cisalhamento aumentou consideravelmente a resistência ao cortante das vigas ensaiadas. Dependendo da quantidade de reforço, pode-se prevenir a ruptura por cisalhamento de modo a se obter uma ruptura por flexão. A configuração do reforço é de grande influência na efetividade do reforço ao cisalhamento. • A utilização de tiras em forma de U e tiras fechadas conseguiu retardar e até eliminar os mecanismos de descolamento do compósito, aumentando a eficiência do reforço. • A contribuição do compósito está relacionada à sua deformação, que deve ser inferior à sua deformação última, refletindo aspectos como abertura de fissur as de cisalhamento, descolamento localizado do compósito junto às fissuras e capacidade de ancoragem disponível. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 39 Figura 2.15 – Detalhamento do reforço das vigas de Matthys (2000) reforçadas ao cisalhamento CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 40 tipo ft (MPa) Ef (GPa) bf (mm) BS1 - - - - 35,0 206,3 C (TD) BS2 2 tiras em U e 2 tiras em I 3500 233 50/100 (1) 33,8 247,5 C (DC/TD) BS3 - - - - 37,5 136,6 C (TD) BS4 2 bandas em U cobrindo os vãos de cisalhamento 1070 38,4 252,0 F (EA/EC) BS5 6 tiras em U 50 36,0 170,0 BS6 2 tiras em U e 2 tiras em I 50 35,8 166,7 BS7 3 tiras fechadas 50/100 (1) 34,7 235,5 C (TD) Tabela 2.11 - Dados da vigas de Matthys (2000) reforçadas ao cisalhamento 233 Viga Pu (kN) reforço Modo de ruptura fcm (MPa) estribos (mm) fy (MPa) DC/TD: Descolamento do compósito seguido de tração diagonal EA/EC: Escoamento do aço seguido de esmagamento do concreto C (DC/TD) (1) Larguras diferentes nos dois vãos de cisalhamento C: ruptura por cisalhamento F: ruptura por flexão 560 TD: Tração diagonal (fissura de cisalhamento) φ 6 c. 200 φ 6 c. 400 3500 2.4 ESTUDOS EXPERIMENTAIS SOBRE VIGAS COM REFORÇOS COLADOS REALIZADOS NA COPPE Este item se propõe a abordar uma série de estudos sobre e reforço de elementos de concreto armado realizados nos últimos anos na COPPE, sendo o presente trabalho uma continuidade dos mesmos. 2.4.4 Morais (1997) Este trabalho objetivou estudar a eficiência do uso de chapas de aço coladas e tirantes externos pré-tracionados como reforço à flexão e o uso de chapas de aço coladas em tiras e estribos externos pré-tracionados como reforço ao cisalhamento de vigas de concreto armado. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 41 Foram confeccionadas 4 vigas com 4500 mm de comprimento, sendo 4000mm de vão livre, e seção transversal retangular de 150 mm x 450 mm. As vigas foram bi-apoiadas e carregadas como mostrado na figura 2.16. Figura 2.16 – Geometria e carregamento das vigas de Morais (1997) A armadura
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