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Prévia do material em texto

1 
 
 
JUSTAMAND, M. ; MECHI, P. S. ; FUNARI, P. P. A. . Repressão política e direitos humanos: 
arqueologia, história e memória da ditadura militar brasileira. In: MECHI, Patricia; MELO, 
Wanderson Fábio. (Org.). Questões da Ditadura: vigilância, repressão, projetos e 
contestações. 1ed.Palmas: Eduft, 2014, v. 1, p. 28-43. 
 
 Repressão política e direitos humanos: Arqueologia, História e memória da ditadura 
militar brasileira 
 
Prof. Dr. Michel Justamand
1
 
Profª Drª Patricia Sposito Mechi
2
 
Prof. Dr. Pedro Paulo de Abreu Funari
3
 
 
 
Nascida durante o período imperialista, a Arqueologia, na origem definida como o 
estudo das coisas antigas, teve íntima colaboração com a construção do mundo burguês, com 
a legitimação da dominação europeia sobre os demais povos do mundo, esteve vinculada a 
posições conservadoras ou reacionárias e não poucas vezes esteve a serviço “da opressão de 
indígenas, mulheres, pobres, minorias diversas e mesmo maioria variadas”
4
. Entretanto, a 
partir da segunda metade do século XX, vinculou-se cada vez mais às demandas colocadas 
pelos movimentos sociais, colaborando na afirmação dos direitos dos povos, das minorias, 
atuando em favor dos direitos humanos, no resgate História dos excluídos e dos oprimidos. 
No Brasil, foi apenas com o final da ditadura que a renovação do campo de estudos da 
Arqueologia se fez sentir. Aproximando-se cada vez mais das questões sociais, contribuindo 
para a reescrita da História, recuperou elementos da resistência à escravidão, da História dos 
povos indígenas, das resistências populares em Canudos
5
 e no Contestado
6
. Hoje, por meio da 
 
1
Professor adjunto da UFAM – Universidade Federal do Amazonas, Pós-Doutor em História, Doutor em 
Antropologia e Graduado em História pela PUC-SP; e vinculado ao Núcleo de Pesquisas: Arqueologia e 
Ecologia Histórica dos Neotrópicos da USP. 
2
 Professora adjunta da UFT – Universidade Federal do Tocantins. Doutora em História Social pela PUC-SP. 
Líder do grupo de pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo (UFT) e pesquisadora do Centro de Estudos de 
História da América Latina (PUC-SP) 
3
 Professor titular do Departamento de História da Unicamp, ex-secretário do Congresso Mundial de 
Arqueologia, bolsista de produtividade do CNPq. 
4
FUNARI, Pedro P. A. “Arqueologia no Brasil e no mundo: origens, problemáticas e tendências”. Ciência e 
Cultura [online]. 2013, vol.65, n.2, p. 23. 
5
 Cf. Paulo Zanettini, http://www.oolhodahistoria.ufba.br/03zaneti.html. 
2 
 
interação entre a academia e a sociedade, oferece contribuição relevante para, mais uma vez, 
desmontar a História dos opressores ao dedicar-se à temática da violação dos direitos 
humanos durante a ditadura militar no Brasil. Este artigo enfoca essa contribuição. 
 A Arqueologia consagrou-se, no mundo todo, por resgatar o passado mais distante da 
humanidade. Assim, acostumou-se a pensar na Arqueologia como a ciência que, recuperando 
o registro da atividade humana por meio de elementos da cultura material, permitiu conhecer 
elementos do modo de vida, da economia, da cultura e da sociabilidade dos seres humanos, 
desde um período de seis milhões de anos antes do presente. Por muito tempo concentrada em 
evidências longínquas da atividade humana, a Arqueologia desenvolveu diversas técnicas, 
métodos e procedimentos ao longo de mais de 150 anos de investimentos intelectuais, 
corporais e financeiros, para datar esses vestígios antigos
7
. 
Entretanto, ao aproximar-se das temáticas sociais e ao procurar dar respostas às 
minorias, aos excluídos e oprimidos, a Arqueologia passou – sem abandonar os temas do 
passado mais distante da humanidade – a contribuir sobremaneira para questões 
contemporâneas. Em muitos países ela tem um papel importante nas discussões sobre 
identidade, que é um dos temas que perpassam a reflexão teórica da área. Os debates apontam 
para uma compreensão de identidade como representação, construídas nas relações entre 
semelhanças e diferenças. Segundo Castro, as identidades são “fenômenos sociais, dinâmicos e 
dialéticos. São múltiplas e flexíveis no tempo e no espaço
8
” e podem ser compreendida também 
pelos elementos simbólicos e materiais dos grupos humanos. 
 Por meio dos mais variados vestígios, encontrados graças às escavações – muitas 
vezes a partir de indicações e sugestões de pessoas comuns ou graças a empreendimentos 
imobiliários – podem recuperar-se elementos da História pregressa de uma dada região, muitas 
vezes contrariando a História oficial. Há ocasiões em que as escavações não ocorrem a partir de 
um problema de pesquisa ou da identificação de vestígios relevantes, e sim por determinação 
governamental, já que é obrigatória a atividade arqueológica antes do início da construção de 
grandes obras, como pontes, estradas, represas e viadutos. Essa atividade de resgate e 
salvamento de sítios arqueológicos – que logo serão perdidos para sempre – foi instituída a 
partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que estabeleceu a obrigatoriedade da 
 
6
 Cf. LINO, J. T. . A cultura material da Guerra do Contestado como documento histórico. Cadernos do CEOM 
(Unochapecó), v. 25, p. 45-70, 2012. 
7
Como o carbono 14 que ajuda na medição e datação dos vestígios humanos, entre outros elementos químicos e 
físicos que compõem o material de uso de laboratórios e analises da Arqueologia. 
8
 CASTRO, Viviane Maria Cavalcanti. O uso do conceito de identidade na Arqueologia. Disponível em: 
http://www.ufpe.br/clioarq/images/documentos/V23N1-2008/2008v1n23a9.pdf. Acessado em 10 de maio de 
2013. 
http://www.ufpe.br/clioarq/images/documentos/V23N1-2008/2008v1n23a9.pdf
3 
 
presença de arqueólogos em construções de grande vulto ou de impacto socioambiental 
profundo
9
. Dessa forma, muitos empreendimentos no território nacional estão sendo 
acompanhados e monitorados por equipes de arqueólogos, numa atividade que têm sido 
chamadas nos meios científicos de “Arqueologia de Contrato”. Esse trabalho proporcionou um 
maior desenvolvimento da área, oxigenou e dinamizou os estudos e, sem dúvida, ampliou os 
escopo da Arqueologia no país e os interessados nela. 
Sabe-se que a pesquisa arqueológica, entretanto, não depende apenas da 
intervenção do Estado em obras de infra-estrutura e do capital para a sua realização. São de 
grande relevância científica os projetos desenvolvidos por pesquisadores financiados pelos 
organismos públicos e ou privados, que não estão submetidos à urgência da realização do 
trabalho frente à eminente destruição do sítio. 
Entre os pesquisadores, há aqueles que desenvolvem trabalho a partir de interesses 
étnicos, como os estudos realizados com etnias indígenas
10
 ou negros
11
, em muitos locais do 
Brasil e do mundo
12
. Por meio desses estudos, podem se revelar Histórias que estavam 
esquecidas, adormecidas, muitas vezes excluídas ou emudecidas por inúmeros motivos. 
Mais recentemente, a Arqueologia tem se mostrado uma grande aliada dos direitos 
humanos na América Latina, em particular ao oferecer seu aporte teórico e metodológico para 
desvendar os mecanismos de repressão e resistência que vigoraram nos regimes ditatoriais 
durante as décadas entre 1960 e 1980. 
Trazendo novas dimensões para os estudos sobre as ditaduras militares no 
continente, a Arqueologia contribui no esclarecimento daquilo que a documentação escrita ou 
oral nem sempre dá conta. Nesses casos, a Arqueologia estabelece uma interface importante 
com a História. Evidenciando, dessa forma, outros prismas de análise, objetos e “vozes” 
emudecidas que emanam dos vestígios materiais, contribuindo sobremaneira para esclarecer os9
A Constituição Federal de 1988, que ainda está em vigor, prevê em seu artigo 20 quais são os bens da União. 
Entre eles estão destacados em seu parágrafo X: os sítios arqueológicos e pré-históricos; no artigo 225, estão 
previstas as questões em torno do meio ambiente. Já o parágrafo IV descreve que obras causadoras de impacto 
ambiental, necessitam de estudos prévios e que sejam publicados os relatórios e dados provenientes dessas 
empreitadas. 
10
Sobre a questão indígena, ver: CASTRO, Eduardo Viveiros de e CUNHA, Manuela Carneiro da. Amazônia: 
etnologia e História indígena. São Paulo: Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da USP/FAPESP, 1993; 
ver também: CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos Índios no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1992; ver 
ainda: NEVES, Eduardo Góes. Os índios antes de Cabral: Arqueologia e História indígena no Brasil. In: SILVA, 
Aracy Lopes da e GRUPIONI, Luiz Donisete Benzi (org.). A temática indígena na escola: novos subsídios para 
professores de 1 e 2 graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995, p. 171-196. 
11
FUNARI, Pedro Paulo Abreu. A Arqueologia de Palmares – sua contribuição para o conhecimento da História 
da cultura afro-americana. In: REIS, João José e GOMES, Flávio dos Santos. Liberdade por um fio. História dos 
quilombos no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1996, p. 26-51. 
12
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Trad. Maria Celeste da Costa e Souza e Almir de Oliveira 
Aguiar. São Paulo: editora Nacional, 1976. Ver também: KEELEY, Lawrence H. A guerra antes da civilização. 
O mito do bom selvagem. Trad. Fabio de Faria. São Paulo: É Realizações, 2011. 
4 
 
procedimentos repressivos, por conseguir mostrar, com grande precisão, por exemplo, como 
foram mortos pelos regimes ditatoriais os militantes e as pessoas comuns. Nota-se isso por 
meio do exame das ossadas encontradas, por exemplo. Contudo, sua contribuição vai além da 
identificação dos desaparecidos. São importantes também os vestígios deixados nos locais onde 
se praticaram torturas e assassinatos, como instrumentos abandonados em porões dos centros 
clandestinos de detenção, inscrições e marcas deixadas em paredes, as roupas usadas, os 
mobiliários, entre outros. Assim, a ciência arqueológica ajuda na recuperação da História e da 
memória dos desaparecidos e na compreensão dos sistemas repressivos. 
Essa é uma dimensão democrática da Arqueologia, que está em oposição às 
concepções da História tradicional, que embasa a versão daqueles que defendem os regimes 
ditatoriais
13
 e atribuem ao documento escrito oficial um caráter de “verdade”. Esta 
historiografia conservadora, que tratou sempre das camadas dominantes da sociedade é refutada 
pelas correntes mais atentas à diversidade e aos conflitos. Essas últimas abordagens ampliaram 
a noção de documento e incluíram também a Arqueologia, que pode atuar sobre quaisquer 
grupos humanos, inclusive os oprimidos, os sem escrita e os já extintos, que não podem ser 
resgatados senão por meio dos restos materiais, conhecidos como “lixo” 
14
. 
Se hoje é possível vislumbrar a democratização da área, ela foi retardada pelos 
contextos sociopolíticos na América Latina, pois diversos países estiveram sob o jugo de 
ditaduras militares entre as décadas de 1960 e 1980, cujos dispositivos repressivos se 
assentavam na limitação ao acesso à informação para as pessoas comuns
15
. 
Sobre o período que teve um impacto negativo na área, a Arqueologia hoje é 
chamada a dar uma imensa contribuição. Sobre a documentação fragmentária deixada pelas 
ditaduras, ela emerge como a ciência que contribui para o esclarecimento dos procedimentos 
repressivos e para a recuperação da História dos desaparecidos
16
. O desvelamento dos 
desaparecimentos provocados pelas ditaduras militares tem sido reivindicado por segmentos 
sociais engajados em movimentos de memória de verdade, surgidos em diversos países após o 
fim das ditaduras. 
Inúmeros esforços nacionais e internacionais têm sido feitos para resgatar a 
História do último período ditatorial latino-americano e o aporte da Arqueologia oferece a 
 
13
 FUNARI, Paulo A., ZARANKIN, Andrés e REIS, José Albertoni. Arqueologia da repressão e da resistência 
– América Latina na era das ditaduras (1960-1980). São Paulo, Annablume/Fapesp, 2008. 
14
 Idem. 
15
Idem. 
16
 CARVALHO, Aline Vieira de e FUNARI, Pedro Paulo A. A importância da Arqueologia Forense na 
construção das memórias perdidas nos períodos ditatoriais latino-americano. In: SOARES, Inês Virgínia Prado e 
KISHI, Sandra Akemi Shimada (coord.). Memória e verdade: a justiça de transição no estado democrático 
brasileiro. Belo Horizonte: Fórum, 2009. 
5 
 
possibilidade lançar luzes sobre muitos de seus aspectos. A História dos desaparecimentos pode 
se beneficiar sobremaneira desse aporte, conforme destacam Funari, Zarankin e Reis, ao 
referirem-se à possibilidade de uma “ação de pesquisa arqueológica com não-lugares – 
marcados por atrocidades e sevícias contra seres humanos – ocultadas de forma oficial, mas 
existindo, na clandestinidade, num período de repressão aos direitos humanos” 
17
. 
Com uma dimensão política evidente, o compromisso assumido pela Arqueologia 
que trata das ditaduras na América Latina, perfilada ao lado de pessoas comuns, procura 
recuperar e reconstituir a História ofuscada pelo manto diáfano dos que defenderam tais 
regimes de opressão. A Arqueologia se engaja também num esforço que procura, guardadas as 
especificidades nacionais, revelar os legados de violência vividos no subcontinente, num 
momento de fortalecimento da chamada “justiça de transição
18
”. 
Entre as pesquisas representativas dessa contribuição na América Latina, 
destacamos a História da busca arqueológica e do achado dos restos de Che Guevara na 
Bolívia, a memória do massacre de da “Plaza de las Tres Culturas”, no México; a análise dos 
registros pictóricos dos presos políticos no Quartel San Carlos, na Venezuela, além das análises 
empreendidas pela Arqueologia sobre arquitetura dos Centros Clandestinos de Detenção da 
ditadura militar argentina
19
. 
Evidencia-se, assim, que dentre as áreas que a Arqueologia tem oferecido grande 
contribuição, destacam-se os direitos humanos e a memória da repressão política na América 
Latina. Pela natureza dos regimes ditatoriais que vigoraram na região entre as décadas de 1960 
e 1980, há muitas lacunas na documentação escrita e a impossibilidade de contar com muitos 
testemunhos, já que parcela significativa dos opositores dos regimes militares foi assassinada. 
Além disso, a documentação escrita continua pouco acessível, em muitos casos, ou mesmo 
pode ter sido destruída. Por isso, os vestígios materiais revestem-se de valor ainda maior. 
No que se refere à documentação dos órgãos oficiais, sabe-se que uma parte da 
documentação foi destruída, de modo a ocultar as práticas repressivas dos regimes. Já em 
relação à documentação dos opositores, a dificuldade de responder a algumas questões a partir 
do registro escrito esbarra nas estratégias de sobrevivência da clandestinidade. Por questões de 
 
17
FUNARI, Paulo A., ZARANKIN, Andrés e REIS, José Albertoni. Arqueologia da repressão e da resistência – 
América Latina na era das ditaduras (1960-1980). São Paulo, Annablume/Fapesp, 2008, p. 25. 
18
 Cf. SOARES, I. V. P. . Arqueologia e Justiça de transição no Brasil. In: Soares, Inês V P; Funari, Pedro Paulo; 
Carvalho, Aline Vieira de; Silva, Francisco Sérgio. (Org.). Arqueologia, direito e democracia. 1ed.Erechim: 
Habilis Editora, 2009, v. 1, p. 273-294. 
19
 Idem; ver ainda: CARVALHO, Aline Vieira de e FUNARI, Pedro Paulo A. A importância da Arqueologia 
Forense na construção das memórias perdidas nos períodos ditatoriais latino-americano. In: SOARES, Inês 
Virgínia Prado e KISHI, Sandra AkemiShimada (coord.). Memória e verdade: a justiça de transição no estado 
democrático brasileiro. Belo Horizonte: Fórum, 2009. 
6 
 
segurança, os documentos das organizações clandestinas e seus militantes eram destruídos 
quando se tinha a notícia de que um companheiro fora aprisionado pelos órgãos repressivos. 
Por outro lado, quando um “aparelho” era descoberto, a documentação era apreendida pela 
repressão. Não era possível manter arquivadas muitas informações. A documentação escrita das 
ditaduras é sempre fragmentária e incompleta
20
. 
 
A Arqueologia e o desvendamento da repressão da ditadura militar brasileira 
 
No Brasil, são muitos os casos em que a Arqueologia oferece grande contribuição. 
Dentre elas, as pesquisas realizadas no cemitério Dom Bosco, no bairro paulistano de Perus, 
que abriga uma vala clandestina, e as ossadas achadas no na região da guerrilha do Araguaia. 
Outros espaços também podem se favorecer da pesquisa arqueológica, como a “casa da morte” 
no município de Petrópolis, no Rio de Janeiro, do qual se soube da existência pelas revelações 
de sua única sobrevivente, a militante da Vanguarda Armada Revolucionária (Var-Palmares
21
) 
Etienne Romeu. Ou ainda o Sítio 31 de março, no bairro de Parelheiros, em São Paulo. Em 
espaços como esses, a Arqueologia pode recuperar uma parcela da História que a 
documentação escrita não conta, por meio dos indícios das sevícias sofridas. 
Muitas vezes, os vestígios são de conhecimento das populações que vivem nas 
proximidades de onde ocorreram as graves violações de direitos humanos. Alguns grupos ainda 
têm muito medo de fornecer pistas mais precisas sobre esses locais, por se sentirem ainda 
ameaçadas por represálias agentes da repressão, em alguns casos ainda vivos. 
Foi o que ocorreu com a população atingida pela repressão à guerrilha do 
Araguaia, que conviveu por muitos anos com a sombra do “Major Curió” – Sebastião 
Rodrigues de Moura, comandante da última fase de repressão à guerrilha, e posteriormente 
chefe do garimpo de Serra Pelada. Este militar se instalou na região, foi sucessivas vezes 
prefeito da cidade de “Curionópolis”, no Pará, batizada em homenagem a ele próprio, e pôde, 
durante um longo período, manter oculta a violência e o barbarismo ocorrido no Araguaia. 
Entretanto, nos últimos anos, esse quadro se modificou e a população passou, cada vez mais, a 
trazer à tona a violência desse episódio da História brasileira, que não atingiu apenas os 
militantes, mas também os moradores da região, que hoje revelam que a violência contra a 
pessoa comum atingiu níveis extremos. 
 
20
 Cf. http://www.camouflagecomics.com/pdf/08_torres_en.pdf. 
21
 Dentre os membros da organização VAR-Palmares estavam personalidades que se destacariam com o retorno 
do estado de direito, como Carlos Minc e Dilma Rousseff. 
7 
 
Para problematizar a contribuição da Arqueologia na elucidação da História dos 
mecanismos repressivos no Brasil e para demonstrar sua contribuição em devolver a memória 
dos que foram atingidos por ela, escolhemos dois casos que cujas investigações contam com a 
presença de arqueólogos: a “Vala clandestina” no cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus em 
São Paulo, e as buscas pelos restos mortais dos desaparecidos na guerrilha do Araguaia. 
 
A “Vala de Perus” 
 
Em 1990 foi descoberta no bairro paulistano de Perus, no Cemitério Dom Bosco, uma 
vala clandestina de ossadas não identificadas
22
. Eram 1049 ossadas de indigentes, 
acondicionadas em sacos plásticos, sem nenhuma espécie de identificação. A descoberta da 
vala é atribuída a Caco Barcelos, jornalista da Rede Globo que investigava o esquadrão da 
Morte. Entretanto, as famílias dos desaparecidos políticos já indicavam, desde 1973
23
, que ali 
poderiam estar enterrados esses “desaparecidos”. A família dos irmãos Iuri e Alex de Paula 
Xavier Pereira, militantes da Ação Libertadora Nacional, vinha visitando diversos cemitérios 
paulistanos, e examinando seus livros de registros. No cemitério Dom Bosco, eles 
encontraram o registro do sepultamento de João Maria de Freitas, nome usado por Alex de 
Paula Xavier Pereira na clandestinidade. Em 1975, duas quadras de corpos de “indigentes” 
foram exumados e, no ano seguinte, enterrados numa vala clandestina no mesmo cemitério
24
. 
Há evidências que o cemitério Dom Bosco, inaugurado em 1971, auge da repressão 
política, pelo prefeito nomeado da cidade de São Paulo, Paulo Maluf, fez parte de um 
complexo repressivo que envolvia o Departamento de Ordem Política e Social DOPS, o 
Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de defesa Interna o Doi-
Codi, e a Operação Bandeirante, Oban. É possível supor que deste complexo façam parte 
ainda o Sítio 31 de Março em Parelheiros, o Cemitério de Vila Formosa e outros locais ainda 
não identificados. 
Sob o comando de Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel entre 1970 e 
1976, o Doi-Codi, do II Exército de São Paulo se notabilizou por ser um dos principais 
centros de torturas do estado. De lá e de outros centros de tortura paulistas, saíam os 
 
22
 Cf. Manuel Alves Filho, Sem medo da verdade, Jornal da Unicamp, 
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/ago2001/unihoje_ju165pag03.html. 
23
 INSTITUTO MACUCO; Vala clandestina de Perus: desaparecidos políticos, um capítulo não encerrado da 
História brasileira São Paulo: Ed. do Autor, 2012, p. 30. 
24
 COMISSÃO DE FAMILIARES DE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS; INSTITUTO DE 
ESTUDOS DA VIOLÊNCIA DO ESTADO; GRUPO TORTURA NUNCA MAIS. Dossiê dos mortos e 
desaparecidos políticos a partir de 1964. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 1996. 
8 
 
cadáveres dos mortos nas dependências do complexo repressivo que tinham como destino o 
Cemitério Dom Bosco
25
. No projeto original do cemitério, havia a previsão da construção de 
um crematório, o que gerou muitas suspeitas à época; a ideia foi abandonada e o crematório 
municipal foi construído no cemitério de Vila Alpina. Com a inexistência do crematório no 
cemitério, as ossadas foram enterradas na vala clandestina
26
. 
Outros familiares também examinaram os livros de registros e encontraram indícios de 
que seus familiares desaparecidos estariam enterrados ali. Mas foi apenas em 4 de setembro 
de 1990 que a vala foi aberta, revelando a existência de mais de mil ossadas. 
Instalou-se uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as responsabilidades 
dos sepultamentos clandestinos e a identificação das ossadas. Denominada de CPI Vala de 
Perus: Desaparecidos Políticos, na gestão da prefeita Luiza Erundina, a CPI, teve seis meses 
de duração (entre 17 de setembro de 1990 e 15 de maio de 1991). 
As primeiras informações sobre a vala clandestina do Cemitério Dom Bosco datam, 
portanto, de um período em que a ditadura militar brasileira estava em plena vigência e a 
engrenagem repressiva do complexo– DOPS-Doi-Codi-Oban ainda em movimento. 
A “Vala de Perus” é indicada como a ponta final do novelo que envolve o referido 
complexo
27
. Presos políticos torturados e assassinados sob a chefia de Carlos Alberto 
Brilhante Ustra, pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, e por outros agentes da repressão 
terminavam sem identificação, sem dignidade, sem memória, sem vida, riscados da existência 
no não-lugar dos desaparecidos. 
Ao final da CPI, os trabalhos foram interrompidos e em 2001 as ossadas foram 
transladadas para o cemitério do Araçá, também na capital paulista e ainda aguardam 
identificação. Os trabalhos com a finalidade de identificar essas ossadas esbarram na ausência 
de investimentos estatais nas carreiras de Antropologia e Arqueologia forense e não existe um 
órgão específico que regulamente essa questão
28
. No entanto, os trabalhos atuais da Comissão 
Estadual da Verdade em São Paulo sobre a valade Perus e as exigências dos movimentos de 
familiares de mortos e desaparecidos políticos, grupo Tortura Nunca Mais e outras entidades 
que atuam na defesa dos direitos humanos para a identificação dos desaparecidos políticos, 
 
25
 INSTITUTO MACUCO; Vala clandestina de Perus: desaparecidos políticos, um capítulo não encerrado da 
História brasileira São Paulo: Ed. do Autor, 2012. 
26
 Idem. 
27
 INSTITUTO MACUCO; Vala clandestina de Perus: desaparecidos políticos, um capítulo não encerrado da 
História brasileira São Paulo: Ed. do Autor, 2012. 
28
 Cf. http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-05-20/falta-de-antropologos-e-arqueologos-forenses-
dificulta-identificacao-de-ossadas-do-cemiterio-de-perus. 
9 
 
pressiona o Estado brasileiro a tomar medidas mais efetivas para agilizar esses trabalhos e, 
entre elas, a Arqueologia assume papel relevante. 
 
Os desaparecidos na guerrilha do Araguaia 
 
Mais avançada do que a movimentação em torno do cemitério Dom Bosco, são as 
buscas dos desaparecidos políticos na guerrilha do Araguaia, que ocorreu entre 1972 e 1974 
na tríplice fronteira entre os estados do Pará, Maranhão e Goiás (atualmente, estado do 
Tocantins). Tratou-se da mais longeva experiência de luta armada de caráter rural contra a 
ditadura militar. Organizada pelo Partido Comunista do Brasil, a guerrilha rural tinha a 
intenção de mobilizar a população camponesa e, para isso, o PC do B passou a enviar seus 
quadros para a região do Araguaia a partir de 1966. Após seis anos na área e tendo montado 
três destacamentos militares, os militantes foram descobertos; sobre eles e sobre a população 
local, se abateu a mais brutal repressão. 
A historiografia divide a repressão à guerrilha do Araguaia em três fases, das quais a 
última foi a mais violenta e que resultou no extermínio sistemático dos militantes. 
Oficialmente, são 62 militantes e ao menos 17 camponeses também desaparecidos. 
Moradores da região, que foram obrigados a trabalhar como guias do exército, 
informam que 21 guerrilheiros teriam sido presos pelas Forças Armadas e, dentre eles 18 
foram vistos circulando pelas bases militares. Todos estão desaparecidos e não há registros 
oficiais sobre essas mortes
29
. 
A pressão dos familiares levou, em 1995, à aprovação da Lei nº 9140, de dezembro de 
1995
30
, que deu subsídios para que no ano seguinte fosse montada uma operação na região, 
para a qual foi contratada o E.A.A.F. – Equipo Argentino de Antropologia Forense. Na 
ocasião foram localizados os restos mortais de duas pessoas: a de Maria Lucia Petit, 
identificada em 1996, e a ossada de Bergson Gurjão Farias, identificada apenas em 2009. 
Em 2001, a partir das necessidades apontadas pelas ações anteriores, nova 
investigações foram feitas na área da guerrilha do Araguaia, e outros locais foram escavados 
num trabalho realizado pelos arqueólogos do Museu Emílio Goeldi. Entretanto, nessa ocasião 
não se encontraram evidências de que nos locais escavados tivesse havido sepultamento. As 
mudanças na paisagem depois de quarenta anos do início da guerrilha e a necessidade de 
 
29
 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, Procuradorias da República do Pará, São Paulo e Distrito Federal. 
Relatório Parcial das Investigações sobre a guerrilha do Araguaia. Brasília, janeiro de 2002. 
30
 Idem. 
10 
 
maiores recursos tecnológicos dificultaram os trabalhos. Apesar de terem sido levantadas 
informações sobre nove militantes sepultados ou vistos pela última vez na base militar de 
Bacaba
31
, outros seis vistos ou enterrados em Xambioá, e quatro militantes em outros locais
32
. 
Novo fôlego para as investigações dos desaparecidos na guerrilha do Araguaia foi 
dado em 2010, graças à condenação do Estado brasileiro na Corte Interamericana de Direitos 
Humanos, órgão da Organização dos Estados Americanos. O motivo foi por não ter punido os 
responsáveis pela morte e desaparecimento de 62 pessoas. De acordo com Mechi, “a sentença 
determina que o Estado brasileiro realize todos os esforços para determinar o paradeiro das 
vítimas e identificar e entregar os restos mortais aos seus familiares, além de prestar 
atendimento médico, psicológico e psiquiátrico, quando necessário” 
33
. 
A partir dessa condenação, foi criado o Grupo de Trabalho Araguaia, 
GTA, coordenado conjuntamente pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da 
República (SDH/PR) e pelos Ministérios da Justiça e Defesa. O grupo conta com o apoio de 
equipe técnica pericial e as expedições são acompanhadas por familiares dos mortos e 
desaparecidos da guerrilha e representantes do Ministério Público Federal (MPF). Ao todo, já 
foram realizadas cinco expedições na região, muitas delas no cemitério de Xambioá. 
O trabalho ainda inconcluso do GTA já resgatou 25 ossadas que aguardam 
identificação em Brasília. O foco dos trabalhos claro é a identificação das ossadas dos 
desaparecidos políticos. Entretanto, nas as escavações, também se encontraram vestígios 
materiais, como garrafas, medicamentos, projéteis, pilhas, recipientes de comida vazios, 
avaliados pelo GTA como indicativos da existência de uma base de comunicação militar no 
local
34
. 
É sabido, também, que os guerrilheiros montaram seus Pontos de Apoio no interior da 
mata. Pode supor-se que, pela maneira como as provisões eram estocadas, muitas delas ainda 
 
31
 Bacaba era uma das bases que as Forças Armadas instalaram na região. Funcionando na fazenda de mesmo 
nome lá foram mantidos presos e torturados cerca de 300 moradores da região. o Tenente-Coronel José Vargas 
Gimenez, que admitiu ter torturado prisioneiros, relata que: As técnicas de interrogatório a que eram submetidos 
os guerrilheiros em Bacaba consistiam em choques com corrente elétrica gerada por baterias de telefones de 
campanha portáteis; telefone, que consistia em dar tapas com força, simultaneamente, nos ouvidos, com as mãos 
abertas; colocá-los em pé, descalços, em cima de duas latas de leite condensado, apoiando-se somente com um 
dedo na parede; dar-lhes socos em pontos vitais como fígado, rins, estômago, pescoço, rosto e cabeça; além de 
fazê-los passar fome e sede. JIMÉNEZ, José Vargas. Bacaba – Memórias de um guerreiro de selva da guerrilha 
do Araguaia. Campo Grande, Editora do Autor, 2007, p.56. 
32
 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, Procuradoria da República do Pará. Inquérito Civil Público. Assunto: 
Direitos Humanos. Guerrilha do Araguaia. Investigação visando localizar os restos mortais de vítimas da 
repressão política. Pará, junho de 2001. 
33
 MECHI, Patricia Sposito. “Contra a revolução, a barbárie”. Revista de História da Biblioteca Nacional. 
Dossiê Guerrilhas. Março de 2013, n. 90, p. 
34
 GRUPO DE TRABALHO ARAGUAIA. Relatório de conclusão. 04 de novembro de 2011, fl 22. Disponível 
em: http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/coordenacao/grupos-de-trabalho/justica-de-transicao/relatorios-1/relatorio-final-
gta-2011/Relatorio%20Final%20de%202011.PDF acessado em :10 de julho de 2012. 
http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/coordenacao/grupos-de-trabalho/justica-de-transicao/relatorios-1/relatorio-final-gta-2011/Relatorio%20Final%20de%202011.PDF
http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/coordenacao/grupos-de-trabalho/justica-de-transicao/relatorios-1/relatorio-final-gta-2011/Relatorio%20Final%20de%202011.PDF
11 
 
podem estar na região. Isso permite cotejar os registros escritos sobre a maneira como viviam 
os guerrilheiros, e a estrutura da guerrilha
35
. 
 
Arqueologia e direitos humanos 
 
Os estudos arqueológicos podem contribuir para o restabelecimento da memória 
roubada de uma geração de pessoas que perderam suas vidas combatendo os regimes 
ditatoriais. Dessa forma, contribui para a democratização do país, ao atuar de maneira decisiva 
nos esclarecimentos das perseguições, assassinatose desaparecimentos ocorridos entre as 
décadas de 1960 e 1980. Ao esclarecer os fatos, contribui para evitá-los no futuro, e deixa claro 
à sociedade que os algozes não podem deixar de prestar contas de seus atos. 
A ciência arqueológica está sendo “visitada”, chamada, revisitada, pelos 
interessados em justiça e liberdade e apresenta uma contribuição decisiva para a preservação da 
dignidade humana. Em especial, após a II Guerra Mundial diversos acordos internacionais 
oferecem embasamento jurídico para a atuação das diversas áreas do conhecimento 
comprometidas com os direitos humanos. 
No continente americano, em particular, a criação da Organização dos Estados 
Americanos, OEA, em 1948, logo após o fim da II Guerra Mundial, foi fundamental em 
diversos aspectos. Essa organização chamou a atenção para a destruição dos mais elementares 
direitos humanos durante a vigência desse conflito (1939 a 1945) e procurou salvaguardar a 
humanidade para que crimes de lesa humanidade não se repetissem, apesar de proliferarem 
exemplos de desumanidades ainda em pleno século XXI. 
Os trinta e cinco países americanos assinaram, antes mesmo criação da 
“Declaração Universal dos Direitos do Homem”, a “Declaração Americana dos Direitos dos 
Homens”, visando garantir a paz, a segurança, a mínima intervenção, a solução pacifica das 
controvérsias e a cooperação em diversos campos das sociedades americanas
36
. 
Tais iniciativas ainda foram ratificadas em outras oportunidades, como os 
Protocolos de Buenos Aires em 1967, Cartagena de 1985, Washington de 1992 e o de Manágua 
 
35
 GRABOIS, MAURÍCIO. “Diário de Maurício Grabois”. Disponível em: 
http://www.cartacapital.com.br/wp-
content/uploads/2011/04/Di%C3%A1rio_de_Maur%C3%ADcio_Grabois.pdf acessado em 15 de maio de 2012. 
36
 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Guia de Estudos XII Simulação de Organizações 
Internacionais -SOI 2012. Natal, RN, outubro de 2012. Disponível em: 
http://www.soi.org.br/upload/fd915a47f6e05207c3e0a27c0eb0a455effbb14eed3a0ca88ddbb01ab86f1622.pdf. 
Acessado em: 10 de abril de 2013, p. 7. 
http://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2011/04/Di%C3%A1rio_de_Maur%C3%ADcio_Grabois.pdf
http://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2011/04/Di%C3%A1rio_de_Maur%C3%ADcio_Grabois.pdf
http://www.soi.org.br/upload/fd915a47f6e05207c3e0a27c0eb0a455effbb14eed3a0ca88ddbb01ab86f1622.pdf
12 
 
de 1993
37
. Os acordos internacionais legitimam e fortalecem as iniciativas de procura e 
identificação dos desaparecidos políticos durante os períodos ditatoriais. 
No Brasil, diversas ações vêm sendo realizadas para dar respostas às demandas 
apresentadas pela sociedade em torno do esclarecimento dos crimes cometidos pelo Estado 
durante a ditadura. Entre essas, destacam-se a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, 
“os projetos “Direito à Memória e à Verdade”, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da 
Presidência da República, “Memórias Reveladas”, da Casa Civil da Presidência da República, 
“Memorial da Resistência”, do Governo do Estado de São Paulo”
38
, além de algumas 
iniciativas da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, e ações da 
Procuradoria da República de São Paulo, entre outros
39
. 
 Algumas dessas ações desenvolvidas têm contribuído sobremaneira para avançar 
nos estudos tanto dos crimes cometidos pelo Estado, quanto para o aprofundamento de 
pesquisas em diversas temáticas vinculadas ao período. Entre as iniciativas, convém mencionar 
a transferência dos arquivos de órgãos como o Conselho de Segurança Nacional – CSN, a 
Comissão Geral de Investigações – CGI e o Serviço Nacional de Informações – SNI que foram 
para o Arquivo Nacional
40
, em 2005, assim como a criação da Comissão Nacional da Verdade 
de comissões estaduais, em universidades, sindicatos, entre outros. 
A História da repressão política aos opositores da ditadura militar no Brasil e a 
recuperação da memória de uma geração de opositores que o regime pretendia esconder, está 
sendo, pouco a pouco, resgatada e tornada pública, ao mesmo tempo em que são registrados 
avanços na compreensão dos mecanismos repressivos. Nesse quadro, a Arqueologia tem um 
papel decisivo na consolidação da compreensão de aspectos sociais e da realidade latino-
americana recente, além de atuar de maneira firme a favor dos direitos humanos, da justiça, da 
liberdade e da verdade. 
 
Agradecimentos 
 
 
37
Idem, ibidem. 
38
 ABRÃO. Paulo; TORELLY, Marcelo, et. alli. “Justiça de Transição no Brasil: o papel da Comissão de Anistia 
do Ministério da Justiça”. Revista Anistia Política e Justiça de Transição. Brásília, Ministério da Justiça, nº 1, 
jan. / jun. 2009, p. 13, disponível em: http://portal.mj.govol.br/main.asp?View={72590C4A-B0ED-4605-A9D8-
5247054336A6} , acessado em 13 de junho de 2012. 
39
 Ibidem. 
40
 Registre-se também que no dia 18 de junho de 2012 o Arquivo Nacional abriu para a consulta a toda a 
documentação vinculada direta ou indiretamente, ao Sistema Nacional de Informações e Contrainformação – 
SISNI, com base na Lei do Acesso a Informações (Lei nº 12.527, de 2012). Após um prazo de 30 dias para que 
fosse requerido o sigilo e, não tendo recebido nenhuma solicitação nesse sentido, todo o acervo ficou disponível 
à consulta de qualquer cidadão. 
http://portal.mj.gov.br/main.asp?View=%7b72590C4A-B0ED-4605-A9D8-5247054336A6%7d
http://portal.mj.gov.br/main.asp?View=%7b72590C4A-B0ED-4605-A9D8-5247054336A6%7d
13 
 
 Agradecemos a Aline Vieira de Carvalho,Jaisson Teixeira Lino, José Alberione dos 
Reis, Inês Soares, Paulo Zanettini e Andrés Zarankin e mencionamos o apoio institucional da 
UFAM, UFT, UNICAMP, CNPq e FAPESP. A responsabilidade pelas ideias restringe-se aos 
autores. 
 
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Comissão de Anistia do Ministério da Justiça”. Revista Anistia Política e Justiça de 
Transição. Brásília, Ministério da Justiça, nº 1, jan. / jun. 2009, p. 13, disponível em: 
http://portal.mj.govol.br/main.asp?View={72590C4A-B0ED-4605-A9D8-5247054336A6}, 
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http://www.soi.org.br/upload/fd915a47f6e05207c3e0a27c0eb0a455effbb14eed3a0ca88ddbb01ab86f1622.pdf
http://www.soi.org.br/upload/fd915a47f6e05207c3e0a27c0eb0a455effbb14eed3a0ca88ddbb01ab86f1622.pdf
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http://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2011/04/Di%C3%A1rio_de_Maur%C3%ADcio_Grabois.pdf
http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/coordenacao/grupos-de-trabalho/justica-de-transicao/relatorios-1/relatorio-final-gta-2011/Relatorio%20Final%20de%202011.PDF
http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/coordenacao/grupos-de-trabalho/justica-de-transicao/relatorios-1/relatorio-final-gta-2011/Relatorio%20Final%20de%202011.PDF

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