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2 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA CONTEUDISTAS Ricardo de Oliveira Betat Gelson Luis Garcia Wilmen Vieira João Moreira Lobo REFORMULADOR Daniel Pinheiro Spinelli CÂMARA TÉCNICA/REVISORES Thiago César Fagundes Santos Viviane Oliveira Rodrigues REVISÃO PEDAGÓGICA Gizele Ferreira dos Santos Siste SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO Lúcio André Amorim Renato Antunes dos Santos DESIGNER Ozandia Castilho Martins Fagner Fernandes Douetts Renato Antunes dos Santos DESIGNER INSTRUCIONAL Wagner Henrique Varela da Silva 3 Sumário Apresentação do Curso ............................................................................................... 8 Objetivos do Curso .................................................................................................... 12 Estrutura do Curso .................................................................................................... 12 Módulo I - LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO .................................................................. 15 Apresentação do módulo ....................................................................................... 15 Objetivos do módulo .............................................................................................. 15 Estrutura do módulo .............................................................................................. 16 Aula 1 - Categoria de habilitação e relação com veículos conduzidos .................. 17 1.1 Compreendendo as categorias .................................................................... 21 Aula 2 - Documentação exigida para condutor e veículo; Sinalização Viária ........ 45 2.1 Documentos exigidos para o veículo............................................................ 46 2.2 Documentação do condutor ......................................................................... 51 2.3 Sinalização Viária ......................................................................................... 54 AULA 3 — Infrações, crimes de trânsito e penalidades ............................................ 60 3.1 Infrações ...................................................................................................... 61 3.2 Penalidades ................................................................................................. 65 3.3 Crimes de Trânsito ....................................................................................... 70 AULA 4 — Regras gerais de estacionamento, parada e circulação .......................... 79 4.1 Estudo de Caso ............................................................................................ 80 4.2 Estacionamento e Parada ............................................................................ 81 4.3 Circulação .................................................................................................... 84 4.4 Principais normas de circulação e conduta, referentes à condução de veículos de emergência ................................................................................................... 86 AULA 5 — Legislação Específica e responsabilidades do condutor de veículo de emergência. ........................................................................................................... 92 5.1 Estudo de Caso ............................................................................................ 92 4 5.2 Veículos de Emergência .............................................................................. 94 5.3 Legislação específica para veículos de emergência .................................... 95 Finalizando ............................................................................................................ 99 Módulo II - DIREÇÃO DEFENSIVA ......................................................................... 100 Apresentação do módulo ..................................................................................... 100 Objetivos do módulo ............................................................................................ 100 Estrutura do módulo ............................................................................................ 101 Aula 1 - Direção defensiva: mais que um conceito, um ato de cidadania ............ 102 1.1 Dados e informações sobre o trânsito ........................................................ 104 1.2 Definindo Direção Defensiva ...................................................................... 110 1.3 A importância do comportamento seguro na condução de veículos especializados .................................................................................................. 111 AULA 2 — Condições adversas: como reduzir os riscos ..................................... 118 2.1 Tipos de condições adversas ..................................................................... 119 AULA 3 — Comportamento seguro na condução de veículos de emergência .... 135 3.1. Definindo acidente de trânsito ................................................................... 135 3.2 Acidente evitável ou não evitável ............................................................... 136 3.3 A importância de ver e ser visto ................................................................. 137 3.4 A importância do comportamento seguro na condução de veículos especializados .................................................................................................. 140 3.5 Comportamento seguro e comportamento de risco — diferença que pode poupar vidas. .................................................................................................... 142 3.6 Como ultrapassar e ser ultrapassado......................................................... 144 3.7 Principais causas de acidentes de trânsito ................................................ 149 3.8 Como evitar acidentes com outros veículos — Tipos de acidentes e como evitá-los ............................................................................................................ 149 3.9 O acidente de difícil identificação da causa (Colisão Misteriosa): .............. 153 5 3.10 Como evitar acidentes com pedestres e outros integrantes do trânsito (motociclistas, ciclistas, carroceiros, esqueitistas) ........................................... 156 Finalizando .......................................................................................................... 167 MÓDULO III — NOÇÕES DE PRIMEIROS SOCORROS, RESPEITO AO MEIO AMBIENTE E CONVÍVIO SOCIAL .......................................................................... 169 Apresentação do módulo ..................................................................................... 169 Objetivos do módulo ............................................................................................ 170 Estrutura do módulo ............................................................................................ 171 AULA 1 - Primeiras providências ......................................................................... 172 1.1 Gerenciamento de risco: primeiras ações .................................................. 172 AULA 2 — Cinemática do Trauma ....................................................................... 184 2.1 Colisão frontal ............................................................................................ 185 2.2 Colisão traseira .......................................................................................... 186 2.3 Colisão transversal ..................................................................................... 187 2.4 Capotamento ..............................................................................................188 AULA 3 — ؙVerificação das condições gerais da vítima de acidente ou do enfermo ............................................................................................................................. 189 3.1 EPI Básico para socorro às vítimas............................................................ 189 3.2 ABC da vida para Suporte Básico de Vida (SBV) — Exame Primário ....... 194 3.3 Controle da cervical.................................................................................... 202 AULA 4 — Controle de hemorragias ................................................................... 203 4.1 Hemorragias externas ................................................................................ 204 4.2 Choque ....................................................................................................... 208 4.3 Cuidados com a vítima ou enfermo (o que não fazer)................................ 210 AULA 05 — Respeito ao Meio Ambiente ............................................................. 211 5.1 O veículo como agente poluidor do meio ambiente ................................... 212 5.2 Regulamentação do CONAMA sobre poluição ambiental causada por veículos ......................................................................................................................... 214 6 5.3 Manutenção preventiva do veículo para preservação do meio ambiente:.. 219 5.4 Infrações e crimes que têm relação com a poluição .................................. 220 AULA 06 — Noções de convívio social ............................................................... 222 6.1 O indivíduo, o grupo e a sociedade ............................................................ 223 6.2 Relacionamento interpessoal ..................................................................... 225 6.3 O indivíduo como cidadão .......................................................................... 227 6.4 A responsabilidade civil e criminal do condutor e o CTB ............................ 228 Finalizando .......................................................................................................... 229 MÓDULO IV — RELACIONAMENTO INTERPESSOAL ......................................... 231 Apresentação do módulo ..................................................................................... 231 Objetivos do módulo ............................................................................................ 232 Estrutura do módulo ............................................................................................ 232 AULA 1 — Aspectos de comportamento e de segurança na condução de veículos de emergência ..................................................................................................... 233 1.1 O impacto da qualidade das relações interpessoais no ambiente de trabalho do profissional de segurança pública ............................................................... 233 1.2 Comportamento preventivo versus comportamento de risco ..................... 237 1.3 Urgência ..................................................................................................... 239 1.4 Equilíbrio emocional ................................................................................... 241 1.5 Síndrome de Burnout ................................................................................. 243 1.6 Agressividade e insegurança no trânsito .................................................... 247 1.7 Fatores relacionados à agressividade ........................................................ 248 AULA 2 — Comportamento solidário no trânsito ................................................. 252 2.1 Convivência ................................................................................................ 253 2.2 Por que conviver? ...................................................................................... 258 AULA 3 — O condutor e os demais atores do processo de circulação ............... 260 3.1 Tolerância .................................................................................................. 263 3.2 Intolerância ................................................................................................. 264 7 AULA 4 — As Normas de segurança no trânsito e os agentes de fiscalização de trânsito ................................................................................................................. 266 4.1 Respeito aos outros ................................................................................... 266 4.2 Respeito às normas estabelecidas para segurança no trânsito ................. 269 4.3 Papel dos Agentes de Fiscalização de Trânsito ......................................... 271 AULA 5 — Atendimento aos usuários ................................................................. 273 5.1 Características dos usuários de veículos de emergência .......................... 273 5.2 Expectativas dos usuários .......................................................................... 275 5.3 Atendimento às diferenças e especificidades dos usuários (pessoas com necessidades especiais, pessoas de determinadas faixas etárias/de outras condições) ........................................................................................................ 276 5.4 Trauma ....................................................................................................... 278 5.5 Cuidados especiais e atenção que devem ser dispensados aos passageiros e aos outros atores do trânsito, na condução de veículos de emergência ....... 279 Finalizando .......................................................................................................... 280 Referências Bibliográficas ....................................................................................... 282 8 Apresentação do Curso Caro(a) aluno(a), Olá! Seja bem-vindo(a) ao curso de Condutores de Veículos de Emergência (CVE)! Nós, da Rede EaD-Segen, estamos muito felizes em poder disponibilizar esta capacitação para os profissionais que integram o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). De antemão, pedimos licença para adotar um tom mais informal ao longo do curso; isso porque pretendemos tornar a sua experiência de aprendizagem mais leve e dinâmica, dessa forma você poderá ter um contato mais próximo com as lições e com as experiências compartilhadas pelos conteudistas. Trata-se de um material especialmente pensado para você, agente do Susp que conduz viaturas em geral, unidades de resgate e de atendimento, que presta serviços de urgência e emergência que se preocupa com seu bem-estar e com o de terceiros. Além disso, o curso é uma exigência legal prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), mas você já se perguntou qual a importância desse curso? Saiba que não se trata de mera formalidade. É uma estratégia, na verdade, que busca reduzir a violência e as fatalidades registradas no trânsito. Assim sendo, a lei considera essencial preparar o condutor para o adequado exercício da atividade profissional. O treinamento e a constante capacitação dos agentes por meio de cursos especializados são importantes medidas de segurança para si e para terceiros. O trânsito de viaturas, ambulâncias ou unidades de resgate, por exemplo, possuem prerrogativas que outros veículos não detêm. As excepcionalidades, portanto, demandaram tratamento especial pelo legislador. 9 Haja vista a natureza emergencial dos serviços, o atendimento ao cidadão deverá se dar num curto espaço de tempo, e a demora em responder alguns pedidos de ajuda pode resultar na continuação da vida ou na morte de alguém. O CTB, ciente dessa necessidade, conferiu algumas prerrogativas para o trânsito e para a circulação desses veículos. No atendimento de emergências, o legislador definiu que algumas normas nãosão aplicáveis aos seus condutores. Trata-se, portanto, de uma previsão que deve obedecer a condicionalidades específicas e que devem ser analisadas pelo condutor, quase sempre em situações de estresse, sob forte emoção. Determinar a velocidade, a escolha da faixa, a mudança na direção ou a parada repentina de um veículo de emergência deve ocorrer, na maioria das vezes, em frações de segundos. Trata-se de decisão técnica que requer perícia e treinamento do condutor, sempre em busca da segurança pessoal e de terceiros. Você deve ter percebido, a essa altura, que a condução desses veículos envolve grandes responsabilidades e a atividade, portanto, exige a aprovação em curso especializado. Nesse sentido, a característica principal da especialização é a qualificação prévia para seu exercício. Esse é um assunto que não costuma pautar as discussões em quartéis ou delegacias, por exemplo. Isso se deve, em grande parte, por conta da própria natureza da função desempenhada, na qual dirigir assume um status de tamanha normalidade que se incorpora à rotina do operador de segurança. Dirigir se torna mecânico e deixa de contar com a atenção necessária do motorista. A situação é diferente, porém, quando um colega, ou até mesmo você, envolve-se em um acidente. A partir daí, o tema toma conta das unidades de trabalho e, muitas vezes, da própria vida do agente. Então, o que se vê em seguida é uma sucessão de fatos que prejudicam o relacionamento pessoal e profissional e a saúde dos envolvidos. Procedimentos administrativos são abertos e, algumas vezes, ações civis e criminais acontecem paralelamente. Ocorrem licenças médicas, desgaste físico e mental, afastamentos para o comparecimento em oitivas e em tratamentos médicos. 10 Nesse momento, aparecem as perguntas: o que poderia ter sido feito? Como evitar novos casos? Atualmente, o Brasil sofre com um tipo de violência diferente daquela abordada nas páginas policiais dos jornais, uma violência distinta daquela comumente combatida pela segurança pública. Trata-se da violência no trânsito. Acidentes no trânsito são a terceira maior causa de mortes no mundo (ficando atrás apenas das doenças cardíacas e do câncer), e o número de óbitos decorrentes da violência pública no Brasil praticamente se iguala àquele registrado devido a acidentes de trânsito, conforme levantamento feito pelo Observatório Nacional de Segurança Viária. Dessa forma, como sugestão, solicitamos que se dedique efetivamente à leitura e siga com seus estudos em um ambiente tranquilo e de fácil concentração. Afaste-se das distrações das redes sociais e, o mais importante: aproveite as aulas de cabeça aberta, sem resistências desnecessárias, pois, ao disponibilizarmos o ensino para o público adulto é notório que o interesse e autonomia são fundamentais para o aprendizado. Da nossa parte, buscamos a descontração e a apresentação de um conteúdo personalizado, para atender o dia a dia do agente da segurança pública com base na educação a distância, que permite uma melhor organização pelo aluno do tempo e do local para sua realização. Tudo isso para que você possa despertar a curiosidade, conservar o interesse e se identificar com o material apresentado. Registramos que essa capacitação é destinada aos agentes do Susp que nunca tenham realizado o curso de Condutores de Veículos de Emergência (CVE). Seja pela própria Rede EaD (no antigo ambiente) ou por outro meio (presencial ou a distância). A validade do curso é de cinco anos, após esse período, o profissional deverá passar por um processo de atualização frequentando o curso: Atualização de Condutores de Veículos de Emergência (ACVE). Alguns esclarecimentos sobre o curso: 11 Ele possui 60 horas, é exclusivo para agentes que integram o Susp e encontra-se dividido em 4 (quatro) módulos. Observe que para o efetivo aproveitamento da capacitação é necessário que o discente esteja com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) válida em qualquer categoria. 12 Objetivos do Curso Proporcionar ao condutor que atua no Sistema Único de Segurança Pública condições para atuar de forma consciente, ética e legal na direção de veículos de emergência; Destacar a importância de agir de forma adequada e correta no caso de eventualidades, preparando-o para adoção de iniciativas responsáveis no trânsito; Capacitar agentes para o relacionamento harmonioso com os demais componentes do sistema viário, tais como pedestres e outros condutores; e Oferecer segurança no trânsito, além de conhecer, observar e aplicar disposições contidas no CTB, na legislação de trânsito e legislação específica sobre o transporte especializado de veículos de emergências. Estrutura do Curso Este curso compreende os seguintes módulos: Módulo 1 - Legislação de Trânsito (15 horas-aula). Módulo 2 - Direção Defensiva (15 horas-aula). Módulo 3 - Noções de Primeiros Socorros, Respeito ao Meio Ambiente e Convívio Social (15 horas-aula). Módulo 4 - Relacionamento Interpessoal (15 horas-aula). 13 Mensagem do Reformulador Ouça o ÁUDIO 1 Caro Colega, Desculpe-me pela intimidade, mas é que ser da segurança pública e ter a oportunidade de desenvolver um conteúdo voltado para esse segmento torna a atividade especial. Na realidade, somos colegas de trabalho, pessoas que lidam com as mesmas situações e isso fica evidente durante a leitura do material. Não quer dizer que alguém de fora do ramo da segurança pública não pudesse ter atuado como conteudista de um curso como este; está cheio de bons profissionais nas universidades, nas empresas e no setor público. Mas o olhar interno, de quem vivencia o dia a dia da profissão, agrega um tipo de conhecimento da realidade que aqueles profissionais citados anteriormente não têm. Nosso trabalho possui particularidades, excelências e, também, as suas dificuldades. Mas, seja você um agente da segurança pública experiente, com muitos anos de bons serviços prestados à sociedade, seja você um novato na atividade, é possível imaginar que tenha tido o pensamento: este curso não passa de uma besteira! Como um curso online vai me ensinar a conduzir uma viatura policial ou uma ambulância? Isso deve ser coisa de algum teórico que não tem o que fazer! (Sejamos sinceros, a maioria, nesta altura do curso está pensando isso – EU estava pensando assim quando fiz o curso pela primeira vez!) Então, vamos a alguns esclarecimentos e combinados: o primeiro deles é: este curso NÃO VAI ensinar você a dirigir! Muito menos ensinar a dirigir um veículo de emergência! E nem é a finalidade dele fazer isso, até porque este é um curso teórico. Na verdade, um dos pressupostos deste curso é que você JÁ SABE DIRIGIR! A ideia aqui é fornecer dicas para que você possa ser um motorista mais prudente; informações para que você conheça um mínimo de legislação para desempenhar bem 14 sua função (e não se meter em problemas); e, finalmente, algumas técnicas que podem salvar a SUA vida, a vida de seus colegas de profissão e, inclusive, a vida de seus familiares. Nosso objetivo é ajudar você a cumprir a sua missão, finalizando seu plantão ou turno de serviço são e salvo e sem broncas a responder! Parece bom para você? O segundo esclarecimento é que, sim, este curso é uma exigência legal para a nossa profissão, prevista no art. 145, inciso IV, da Lei n. 9.503/1997, mais conhecida como Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Se vocês forem olhar esse inciso, verão que ele fala de dois cursos: do “curso especializado” e do “curso de prática veicular em situação de risco”. No caso, este que você está cursando é o “curso especializado”, que é teórico. O detalhe é que este é oferecido, lá fora (na modalidade presencial ou a distância), por um valorde algumas centenas de reais. Aqui, a Secretaria de Gestão e Ensino em Segurança Pública (Segen) está oferecendo a você gratuitamente, pensando na sua capacitação! Já o curso de prática veicular em situação de risco, apesar de ainda carecer de uma regulamentação nacional, está sendo oferecido por algumas instituições, como a Polícia Rodoviária Federal ou as Polícias Militares, com nomes como “Condução Veicular Policial” ou “Condução Policial”. O conhecimento dos dois cursos (prático e teórico) se completa. Se você tiver oportunidade, faça o outro curso: você não vai se arrepender! E agora, o combinado: pare de torcer o nariz e abra a sua mente! Todos podemos aprender e crescer profissionalmente, se quisermos. Se você enxergar o curso como uma obrigação ou como uma formalidade, seu desempenho será prejudicado. Mas, se você vier com o espírito disposto a aprender, vai ver que aqui tem muita coisa boa e que são aplicáveis ao SEU trabalho, ao nosso trabalho! Por fim, desejamos a você um excelente curso! Certamente, você vai adquirir conhecimentos úteis para a sua profissão e para a sua vida! Vocês merecem o melhor, pois são os guerreiros e guerreiras que zelam e protegem o nosso Brasil! 100 Módulo II - DIREÇÃO DEFENSIVA Apresentação do módulo Caro profissional de segurança pública, conforme você estudou no módulo anterior, a legislação de trânsito brasileira regulamenta aspectos importantes para a circulação de veículos de emergência, sendo ressaltado que a correta observância às regras de circulação e de conduta, mesmo que em situação diferenciada, é preponderante para reduzir os riscos de acidentes de trânsito. Com os conhecimentos adquiridos, principalmente em relação aos agentes públicos em serviço, você pode refletir sobre as graves consequências às quais a condução agressiva pode levar, como ao cometimento de infrações ou até mesmo de crimes de trânsito. Neste módulo, você terá acesso a dados estatísticos que apresentam um cenário de guerra nas cidades e rodovias brasileiras. A partir do estudo dessas informações, você será capaz de fazer uma análise mais consciente de seu papel neste contexto. A partir do conhecimento dos riscos das condições adversas, das técnicas de condução segura e da dinâmica dos acidentes rodoviários, você acrescentará à sua vivência ferramentas e atitudes importantes para evitar acidentes de trânsito, em uma convivência mais harmoniosa, com foco no respeito e na preservação da vida humana. Pronto para começar? Objetivos do módulo Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de: • Analisar dados e informações sobre o atual cenário do trânsito brasileiro e sobre a atuação dos agentes de segurança pública nesse contexto; • Reconhecer a importância da direção defensiva na condução de veículos de emergência, para evitar o envolvimento em acidentes; 101 • Diferenciar procedimentos de comportamento seguro em relação às ações de comportamento de risco na condução de veículos de emergência; • Identificar os principais sinais de alteração física e mental do condutor sob o efeito de bebida alcoólica e de substâncias psicoativas; • Listar os procedimentos para uma ultrapassagem segura; e • Compreender os principais fatores de acidentes de difícil identificação da causa. Estrutura do módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 — Direção defensiva: mais que um conceito, um ato de cidadania; Aula 2 — Condições adversas: como reduzir os riscos; e Aula 3 — Comportamento seguro na condução de veículos de emergência. 102 Aula 1 - Direção defensiva: mais que um conceito, um ato de cidadania Introdução O Brasil é um país de dimensões continentais. Para conectar as diversas regiões de nossa nação e para realizar o transporte de passageiros e de cargas entre elas, o país optou por priorizar o modal de transporte rodoviário. Mas nem sempre foi assim, até a segunda década do século XX o modal ferroviário havia sido a opção de transporte predominante. Esse paradigma começou a ser alterado a partir do governo do presidente Washington Luís (1926 - 1930). Ele acreditava que as rodovias seriam o meio pelo qual se conseguiria realizar o desenvolvimento nacional e se tornou conhecido pelo lema: “Governar é Abrir Estradas”, sendo, por este motivo, apelidado como o “Estradeiro”. Em seu governo, foi pavimentada a primeira rodovia brasileira, a rodovia Rio-Petrópolis (atual BR 040). Figura 41: Washington Luís Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Washington_Lu%C3%ADs#/media/Ficheiro:Washington_Lu%C3%ADs_(fo to).jpg. 103 A partir de então, e progressivamente, os governos brasileiros foram ampliando o alcance e escopo de importância do modal rodoviário, contribuindo para sua consolidação enquanto modal predominante. Dentre os governos com atuação destacada neste sentido, temos o governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956- 1961), que dentre outras medidas, consolidou a indústria automobilística no Brasil, com a criação do GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística). Figura 42: Juscelino Kubitschek Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Juscelino_Kubitschek#/media/Ficheiro:Juscelino.jpg. Dentre os motivos que levaram à consolidação do modal rodoviário no Brasil, podemos optar, dentre outros, os seguintes: Em primeiro lugar Havia o propósito de integrar as mais diversas regiões brasileiras, principalmente para efetivar a transferência da nova capital que estava sendo construída, Brasília, para o centro do nosso território. Por esse motivo, logo após a implantação de Brasília, foram implantadas importantes rodovias como a Belém - Brasília, Brasília - Rio Branco e Cuiabá - Porto Velho, para incrementar as relações comerciais das regiões Centro-Oeste e Norte. 104 Em segundo lugar A opção pelo modal rodoviário levou em consideração aspectos de natureza política e econômica. A expansão da malha rodoviária possibilitou a atração de grandes empresas automotivas internacionais. E, conforme os teóricos da economia, em especial aqueles que defendem a Teoria dos Pólos Econômicos, a participação de certas indústrias, como a automobilística, tem um efeito de escala, pois atrai empresas vinculadas ao ramo central. Ou seja, para viabilizar a indústria automotiva, precisam ser criadas empresas de autopeças, fabricantes de pneus, vidros automotivos, lubrificantes etc., sem falar no desenvolvimento da indústria petrolífera e, inclusive, do setor de serviços (concessionárias, oficinas mecânicas, empresas seguradoras etc.). Assim, em nome dessa estratégia de atração de capitais e de geração de empregos, as ferrovias, que, até então, concentravam o transporte de cargas e de passageiros, foram abandonadas e negligenciadas para facilitar o tráfego rodoviário. 1.1 Dados e informações sobre o trânsito Conforme dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), compilados por meio do Anuário CNT do Transporte 2020, o Brasil possui, atualmente, mais de 1,7 milhões de km de rodovias, somando as federais, estaduais e municipais, embora a maioria ainda não seja pavimentada: Figura 43: Evolução da malha rodoviária por ano segundo o tipo de jurisdição - 2001 – 2019 Fonte: https://anuariodotransporte.cnt.org.br/2020/Rodoviario/1-3-1-1-1-/Malha- rodovi%C3%A1ria-total 105 Segundo os dados da CNT, no ano de 2020, a malha rodoviária federal do Brasil possuía uma extensão total de 73.181,6 km, dos quais 64.022,4 km são rodovias (vias rurais pavimentadas) e 9.159,2 km são estradas (vias rurais não pavimentadas), desse total apenas 47.438,6 km são de vias planejadas. Minas Gerais concentra 12,6% de toda a extensão pavimentada, seguido da Bahia, com 9,9%. De acordo com dados oficiais do Ministério da Infraestrutura (MINFRA), entre os diversos modais de transporte, o rodoviário ocupa posiçãode destaque no país, tendo respondido por cerca de 65% do volume do transporte de carga em 2015. Evidentemente, a opção que a nossa nação fez — priorizar o transporte de cargas e de passageiros por meio do modal rodoviário — tem seus ônus e seus bônus. Vejamos agora um pouco mais sobre as consequências dessa escolha. Conforme os dados do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), em janeiro de 2021, o Brasil possuía uma frota circulante de mais de 108,2 milhões de veículos, entre caminhões, ônibus, automóveis, motocicletas etc. Infelizmente, a estrutura viária urbana e rural disponível não acompanhou o crescimento vertiginoso da frota: um aumento de mais de 50% nos últimos dez anos, a despeito da redução da taxa de crescimento da frota a partir da crise econômica de 2016. Figura 44: Tabela do Crescimento da Frota Brasileira Fonte: do conteudista, com base em dados encontrados em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt- br/assuntos/transito/conteudo-denatran/estatisticas-frota-de-veiculos-denatran. 106 Essa expansão tem gerado sérios problemas para a circulação viária, principalmente nas áreas urbanas. A disputa por espaço e o desrespeito às regras de circulação e de conduta, aliados ao estresse dos motoristas, têm acarretado muitos conflitos e graves acidentes. Na verdade, o crescimento desenfreado das mortes e de feridos em acidentes de trânsito não é uma situação que é exclusiva do Brasil, mas um problema que ocorre em escala mundial, em especial nos países pobres e nos países em desenvolvimento. Observando o gráfico a seguir, você terá uma ideia clara do quanto é expressivo esse fenômeno. Uma guerra é travada diariamente, numa escala planetária, com milhares de mortos por ano. Figura 45: Dados de morte de trânsito por ano, segundo a OMS Fonte: GLOBAL STATUS REPORT ON ROAD SAFETY (2018); SCD/EaD/Segen. Os acidentes de trânsito são, atualmente, a principal causa de mortes para crianças a partir dos cinco anos de idade, e para adolescentes e jovens adultos (até os 29 anos de idade). Conforme dados de uma pesquisa anterior, realizada pela OMS em 2013, em números absolutos, o Brasil está no quarto lugar do ranking de países com maior quantidade de mortes ocasionadas por acidentes de trânsito. Veja a tabela a seguir: 107 Figura 46: Mortes no trânsito - 2013 Fonte: do conteudista com dados do GLOBAL STATUS REPORT ON ROAD SAFETY (2013). IMPORTANTE! Em 2015, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizou, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o estudo “Custos dos acidentes de trânsito no Brasil: estimativa simplificada com base na atualização das pesquisas do IPEA sobre custos de acidentes nos aglomerados urbanos e rodovias”. Este estudo estimou o custo anual com acidentes de trânsito no Brasil em, no mínimo, R$ 47 bilhões (utilizando números conservadores; com números “pessimistas” o custo seria estimado em R$ 56 bilhões de reais). Essa pesquisa foi realizada com dados tabulados pelo Ipea em 2014. Dentro desse número está o custo com acidentes em aglomerados urbanos, superior a R$ 9,3 bilhões, e o custo dos acidentes em rodovias (federais, estaduais e municipais), de aproximadamente R$ 37,7 bilhões. 108 O progressivo agravamento da violência no tráfego viário levou as Nações Unidas a proclamarem a Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011/2020, um conjunto de ações a serem implementadas pelos seus estados-membros, com a intenção de reduzir as mortes no trânsito em 50% ao final do período. Desde o início, o governo brasileiro apoiou a iniciativa com ações de diversos ministérios, iniciando uma árdua luta pela redução do número de acidentes e das vítimas no trânsito. No período de 2011 a 2020, devido ao esforço conjunto do Governo Federal com os governos estaduais e municipais e com as organizações da sociedade civil em implementar ações que aumentaram a segurança no trânsito, o número de acidentes de trânsito, por ano, apresentou uma queda sensível, que resultou na preservação da vida de milhares de brasileiros. No entanto, ainda é cedo para comemorar, pois os números ainda permanecem bastante elevados. Conforme dados oficiais disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS); em 2019, mais de 31,3 mil vidas foram ceifadas em acidentes de trânsito no Brasil./ E essa é uma estimativa “conservadora”; pois, se levarmos em conta o número de indenizações por morte pagas pelo consórcio de seguradoras do Seguro DPVAT, o número sobe para mais de 40,7 mil mortos. Figura 47: Sinistros de trânsito Fonte: Portal do Trânsito (2019). 109 Os danos causados pelos acidentes de trânsito constituem um importante problema de saúde pública. Sua prevenção eficaz exige esforços concentrados. Os problemas de trânsito estão entre os mais complexos e perigosos com os quais as pessoas se defrontam no dia a dia. Conforme já apontamos, estima-se que: Figura 48: Dados OMS (2018) de mortes e feridos em acidentes de trânsito Fonte: conteudista;SCD/EaD/Segen. No Brasil, os acidentes de trânsito apresentam um alto custo social, cultural e intelectual. Profissionais no auge de sua capacidade produtiva e jovens promissores encontram-se entre os que mais morrem no trânsito. Um levantamento feito pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) indica que jovens do sexo masculino e de idade entre 18 e 25 anos compuseram mais de 28% das vítimas fatais nos acidentes de trânsito em 2013. Recentemente, a Terceira Conferência Global das Nações Unidas sobre Segurança no Trânsito, realizada em Estocolmo em fevereiro de 2020, definiu o período de 2021 a 2030 como a Segunda Década de Ação pela Segurança no Trânsito. A meta, mais uma vez, é reduzir pelo menos 50% dos acidentes e mortes no trânsito em todo o mundo. Será que dessa vez nós conseguiremos ter sucesso? 110 Para refletir: Como profissional de segurança pública, reflita acerca do seu papel nessa ação e a contribuição que você pode dar em relação à segurança do trânsito em sua cidade e em seu local de trabalho. Entre as vítimas do trânsito, atualmente, há um grande número de policiais, agentes penitenciários, bombeiros e guardas municipais que estavam a serviço na maioria das situações. Figura 49: Acidente com viatura em serviço Fonte: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2021/04/16/acidente-envolvendo-viatura-da- pm-deixa-tres-feridos-em-sorocaba.ghtml. 1.2 Definindo Direção Defensiva Caro profissional de segurança pública, antes de continuarmos o nosso estudo, gostaríamos que você parasse por alguns instantes e respondesse: para você, o que é Direção Defensiva? 111 Vamos lá: talvez você, como a grande maioria dos condutores brasileiros, normalmente responda usando a famosa frase: “Direção Defensiva é dirigir por si e pelos outros”. É uma resposta automática, está na ponta da língua. Leia a definição em destaque, e, em seguida, compare com as suas ações na condução de seu veículo particular e de veículos de emergência. Direção Defensiva é... Dirigir de modo a evitar acidentes, apesar das ações incorretas dos outros e das condições adversas, proporcionando o máximo de segurança a si mesmo, aos seus passageiros e aos demais usuários do trânsito. A definição de dirigir defensivamente transcende ao ato de dirigir em si, pois vai muito além do mecanicismo de conduzir um veículo: é um estado de espírito. Em termos comparativos, dirigir defensivamente, na essência, é dar a outra face sem revidar. O ato de dirigir é quase automático para muitos condutores. Você entra no veículo e desloca-se de um ponto ao outro e muitas vezes não percebe o quão complexo e cansativo é dirigir. Para uma condução segura de veículos de emergência, vocêdeve evitar cometer erros e se valer dos elementos da Direção Defensiva. 1.3 A importância do comportamento seguro na condução de veículos especializados 1.3.1 Erros que devem ser evitados no trânsito Os erros que devem ser evitados no trânsito, dizem respeito: I. A infrações de trânsito; 112 II. Ao abuso do veículo; III. A atraso de horário; e IV. À descortesia. Veja a seguir sobre cada um deles! Infrações de trânsito Você, como condutor habilitado e que conduz veículo de emergência, tem o dever de conhecer e de obedecer à legislação de trânsito (cumprir e fazer cumprir). Contudo, há razões maiores para você respeitar as regras, pois: • Foram feitas para a sua proteção e possuem como objetivo a segurança de todos; e • Você deve ser exemplo positivo para a sociedade, e será cobrado em caso de desrespeito. Abuso do veículo Em decorrência das características da sua atividade de emergência, em muitas situações, você necessita executar manobras que exigem mais do veículo. As mais comuns são: o uso indevido da embreagem; o uso indevido do freio e das arrancadas e manobras bruscas que prejudicam partes vitais do veículo, reduzindo a vida útil do equipamento e comprometendo a segurança. Use o veículo com foco na preservação do patrimônio público e do meio ambiente. Atraso de horário Planeje seu deslocamento com antecedência, saindo um pouco mais cedo, para ter uma folga de tempo, a fim de compensar os imprevistos que surgirem. Evite empreender velocidade que ponha em risco a sua vida e a dos demais somente para recuperar o tempo de atraso, devido às situações inesperadas (congestionamento, problemas no veículo etc.). 113 Descortesia Em condições normais, você deve desenvolver atitudes de cortesia, ou seja, respeitar os outros condutores de veículos e os pedestres. Ao demonstrar cortesia, você evita um ambiente de animosidade e descrédito. Portanto, “cortesia gera cortesia”, diminuindo a possibilidade de envolvimento em acidentes. E, mesmo que tenhamos o acidente de trânsito, a descortesia dificulta a mediação de conflitos, podendo além dos transtornos ocasionados pelo acidente evoluir para uma desinteligência entre as partes e uma possível posterior violência física. IMPORTANTE! Lembre-se: o mais importante em uma ocorrência de emergência é você conseguir chegar ao seu destino em segurança; pois, caso se envolva em acidente no percurso, de nada terá adiantado a pressa, além da impossibilidade de socorrer quem necessita de auxílio. A sua segurança, a de sua equipe e a dos demais atores envolvidos no trânsito vêm em primeiro lugar! Situação Hipotética: Se Caro profissional de segurança pública, analise a seguinte situação: os policiais militares Paulo Marcelo, S. Duarte e Z. Maia estão de serviço, realizando o policiamento ostensivo em determinada região da cidade, quando recebem a notícia de que está acontecendo o arrombamento de um estabelecimento comercial. Paulo Marcelo, que é o motorista da viatura, começa um deslocamento tático para atender à ocorrência e tentar surpreender os criminosos em flagrante delito. Como ele quer surpreender os criminosos, 114 ele resolve desligar a sirene da viatura durante este deslocamento. No entanto, durante o deslocamento, ao se aproximar de um cruzamento com pouca visibilidade, Paulo Marcelo não reduziu a velocidade da viatura e nem tomou outras precauções, de modo que um veículo que seguia pela via transversal colidiu lateralmente contra a viatura e fez com que ela girasse sobre a via. Com o impacto, S. Duarte, que estava no banco do passageiro (comandante da viatura) sem o cinto de segurança, foi arremessado para fora do veículo e sofreu ferimentos graves. O que você pensa acerca da situação hipotética descrita acima? Será que valeu a pena ignorar normas básicas de segurança no afã de atender uma ocorrência? Será que você, em algum momento, já arriscou sua segurança de modo semelhante? 1.3.2 Elementos da direção defensiva São elementos da direção defensiva: I. Conhecimento; II. Atenção; III. Previsão; IV. Decisão; e V. Habilidade. Veja a seguir sobre cada um deles! Conhecimento • Aplique suas experiências vivenciadas em situações anteriores; • Tenha domínio da legislação de trânsito; procure manter-se atualizado; • Identifique os riscos causados por condições adversas (chuva, neblina etc.); 115 • Conheça as características de segurança, dirigibilidade e utilização dos controles do veículo que está conduzindo; • Conheça os limites de sua habilidade (autoconhecimento); e • Conheça as características do percurso que você vai fazer. Atenção! • Mantenha-se atento à sinalização, tanto à vertical como à horizontal; • Perceba seu posicionamento em relação aos demais veículos; • Observe as ações dos pedestres para protegê-los; • Perceba as condições do pavimento (buracos, ondulações, objetos etc.); e • Em longos trechos rodoviários, faça pausas, no máximo, a cada duas horas de condução contínua, para evitar o cansaço visual e a hipnose rodoviária, que progressivamente diminuem a sua atenção. Figura 50: Obras na pista Fonte: https://www.flickr.com/photos/pacgov/6011424093/. 116 IMPORTANTE! A atenção difusa é a mais adequada para a condução veicular. Você deve estar sempre com a mente alerta, olhar à frente, à retaguarda, para todos os lados e até mesmo à frente do veículo que se desloca na dianteira. Os condutores de veículos não devem dirigir com atenção fixa ou dispersiva. A Previsão se divide em mediata e imediata: Previsão mediata (antes de iniciar os deslocamentos): • Vistorie os níveis de óleo lubrificante e hidráulico, fluido de freio e líquido de arrefecimento; • Verifique a quantidade de combustível: deixar faltar combustível no veículo além de aumentar riscos de acidentes pela imobilização no leito viário, constitui infração de trânsito de natureza média (art. 180 do CTB).; • Verifique o estado de conservação e a calibragem dos pneus, inclusive do estepe; • Solicite a reposição das peças importantes para o funcionamento do veículo, caso seja necessário; • Cheque a sua documentação e a do veículo; lembre-se que a sua documentação e a do veículo podem ser válidas, também, por meio de documentos digitais; e • Planeje os deslocamentos (itinerário principal e alternativo). Previsão imediata (durante os deslocamentos) • Reduza a velocidade próximo aos cruzamentos e às áreas de risco; • Observe as indicações de mudança de direção dos demais condutores; e • Mude rapidamente a forma de condução em situações adversas, redobrando os cuidados. 117 Decisão • Considere o tempo de reação para executar a manobra; • Evite a hesitação (você tem frações de segundos para agir); e • Escolha uma ação que esteja alinhada à sua habilidade ao volante e às características do veículo que está conduzindo (estabilidade, freios, peso e dimensões). Habilidade • Realize treinamentos de condução veicular, sempre que possível e/ou quando oferecidos pela sua corporação; • Desenvolva os automatismos corretos; • Efetue as manobras necessárias, em situações de risco, para evitar acidentes; e • Não exceda os limites do veículo, da via e os seus próprios durante a execução das manobras. IMPORTANTE! Com os conhecimentos necessários, dedicando toda a atenção possível ao ato de dirigir, você poderá prever situações de risco. Estando devidamente treinado, terá habilidade para decidir e agir defensivamente, de modo a evitar acidentes, preservando a sua segurança e a dos demais participantes do trânsito. 118 AULA 2 — Condições adversas: como reduzir os riscos Introdução O condutor de veículos de emergência, em muitas situações, tem detrafegar sem as condições ideais de segurança para atender as mais diversas ocorrências, independentemente das condições climáticas, da luminosidade, do trânsito e da qualidade da via. É importante que você seja capaz de identificar esses riscos rapidamente e agir corretamente diante dessas situações, adotando os procedimentos adequados para cada uma delas. Mas o que são condições adversas? Pense e leia o conceito em seguida: Condições adversas são: Fatores ou combinação de fatores que contribuem para aumentar as situações de risco no trânsito, podendo comprometer a segurança (www.portaldotransito.com.br). Exemplificando: Fatores combinados que aumentam os riscos de acidentes: I. Veículo com suspensão defeituosa + pista danificada; II. Pneus desgastados + pista molhada + excesso de velocidade; III. Excesso de velocidade + via sem sinalização; IV. Tráfego intenso + desatenção; e V. Álcool + sono + excesso de velocidade. 119 2.1 Tipos de condições adversas Algumas das condições adversas são oriundas do(a): Figura 51: Condições adversas Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Veja a seguir, a descrição dessas condições adversas: 2.1.1 Condições adversas de clima Algumas condições climáticas podem interferir na segurança do trânsito, pois alteram as condições da via (diminuindo a sua capacidade visual) e os padrões de comportamento do veículo em relação à aderência dos pneus e à estabilidade. 120 IMPORTANTE! É importante que você preste atenção às condições a serem apresentadas, pois elas podem se agravar a ponto de impedir o seu deslocamento seguro. Veja algumas delas a seguir: Chuva Reduz a visibilidade, diminui a aderência dos pneus, principalmente nas curvas, aumenta o espaço percorrido nas frenagens e dificulta as manobras de emergência. Se houver uma lâmina de água sobre a pista, também há o risco de aquaplanagem. O que fazer em caso de condução sob chuva? Compare as alternativas relacionadas às suas atitudes na condução de veículo de emergência: I. Obrigatoriamente, acenda o farol de luz baixa do veículo (CTB – Art. 40, inciso I, alínea “b”, conforme a redação dada pela entrada em vigor da Lei n. 14.071/2020); II. Acione o limpador do para-brisa e mantenha as palhetas em bom estado; III. Reduza a velocidade, de acordo com as condições de segurança; IV. Aumente a distância do veículo que segue à frente; V. Redobre a atenção; VI. Mantenha os vidros limpos, desengordurados e desembaçados; VII. Redobre o cuidado nas curvas e durante frenagens; e VIII. Evite passar em poças ou em lugares com acúmulo de água. 121 IMPORTANTE! Em situações de chuva intensa, um cuidado especial deve ser tomado ao passar por poças de água, pois, dependendo do caso, pode ser difícil estimar a profundidade delas. Se a profundidade for tal que chegue a invadir o compartimento do motor, pode ser que ocorra o chamado calço hidráulico. O calço hidráulico é uma situação ocasionada pela entrada de água no interior da câmara de combustão, que impede o pistão de comprimir a mistura no seu interior, ocasionando um travamento abrupto e consequente empeno ou ruptura das bielas. Isso pode ocasionar sérios danos ao motor, com o consequente prejuízo financeiro. Recomendamos que você evite passar em poças cuja profundidade seja superior à metade da altura das rodas do veículo. Figura 52: Dirigindo na chuva Fonte: https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=50300&picture=ceu- dramatico-ao-dirigir. 122 No momento em que está chovendo, ou logo após, pode ocorrer a aquaplanagem, fenômeno no qual o veículo não consegue remover a lâmina d’água e perde o contato com a pista, de modo que o condutor pode perder o controle do veículo. Quais são as causas que levam à aquaplanagem? • Excesso de água na pista; • Calibragem inadequada dos pneus; • Tipo de pista; • Velocidade incompatível; e/ou • Pneus desgastados (lisos). Quando você não sabe o que fazer em situações de aquaplanagem, normalmente perde o controle do veículo e se envolve em acidente. O que você deve fazer quando o veículo aquaplanar? Compare as suas respostas com alguns procedimentos indicados. O que fazer durante a aquaplanagem? • Tirar o pé do acelerador até retomar o controle completo da direção; • Não frear; pois, se as rodas estiverem travadas no momento em que voltar o contato dos pneus com a pista, o veículo poderá desgovernar; e • Segurar o volante com firmeza, mantendo-o alinhado. 123 Neblina A neblina reduz significativamente a visibilidade; sendo assim, você deve ter muito cuidado ao conduzir o veículo nessas condições. Normalmente, os acidentes são gravíssimos, podendo envolver vários veículos. Figura 53: Acidente com viatura da Polícia Rodoviária Federal Fonte: Divulgação/PRF. Em caso de neblina, quais os cuidados que você normalmente adota? Compare se suas ações estão adequadas, lendo algumas recomendações a seguir. Ações do condutor ao dirigir sob neblina: I. Obrigatoriamente, acenda o farol de luz baixa do veículo (CTB – Art. 40, inciso I, alínea “b”, conforme redação dada pela entrada em vigor da Lei n. 14.071/2020); II. Acenda os faróis de neblina, caso o veículo seja equipado com eles; III. Se o veículo possuir a lanterna de neblina traseira, acenda-a; 124 IV. Reduza a velocidade, mantendo um ritmo constante sem acelerações e/ou reduções bruscas; V. Redobre a atenção; VI. Mantenha os faróis de luz alta desligados; VII. Deixe o pisca alerta desligado, para não confundir os demais motoristas; e VIII. Evite realizar ultrapassagens. Ouça o ÁUDIO 4 2.1.2 Condições adversas da via O condutor de veículos de emergência deve estar sempre atento às condições adversas que possam existir nas vias, pavimentadas ou não. Mesmo que você conheça o percurso, não deve desconsiderar a possibilidade de ser surpreendido, sob risco de causar danos ao veículo ou até mesmo de envolver-se em acidente de trânsito. A realidade nos mostra uma série de deficiências que aumentam as probabilidades de o condutor se acidentar. Figura 54: Estrada esburacada Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/estrada-danos-repara%C3%A7%C3%A3o-perigo-414462/. 125 Veja abaixo as situações mais comuns com que você pode se deparar: Principais condições adversas da via: I. Largura da via insuficiente; II. Ponte estreita; III. Trechos escorregadios; IV. Aclives e declives acentuados; V. Má conservação do pavimento (buracos); VI. Queda de barreiras e objetos na via (pedras); VII. Animais sobre a via; VIII. Falta de acostamento; IX. Drenagem deficiente (acúmulo de água, areia); X. Depressões, ondulações e desníveis; XI. Falta de sinalização vertical ou horizontal; e/ou XII. Lombadas (nas rodovias, principalmente). IMPORTANTE! Muitas vezes, a sinalização vertical de advertência (placas amarelas com símbolos pretos, de formato quadrado com um dos vértices apontando para baixo), informam-nos sobre algumas das condições adversas das vias. Esse é um dos motivos pelos quais devemos prestar bastante atenção à sinalização quando conduzimos os veículos de emergência. 126 Veja alguns exemplos: Figura 55: Exemplos de Placas de Sinalização de Advertência Fonte: Anexo II do Código de Trânsito Brasileiro - Resolução do Contran nº 160/2004; SCD/EaD/Segen. Vias com conservação deficiente Vias sem conservação danificam o veículo, principalmente a suspensão e os pneus. São consideradas como fator de risco para a ocorrência de acidentes, podendo causar lesões irreparáveis e a morte de pessoas, além de danos materiais. O que fazer ao se deparar com uma via malconservada? I. Conduzao veículo em velocidade compatível com a condição da via; II. Tenha cuidado com objetos e buracos, eles podem danificar os pneus; III. Tenha cuidado para não bater o veículo por baixo, isso poderá danificar o cárter; e IV. Tenha cuidado para não se envolver em acidente com outro veículo ao tentar frear ou desviar de buracos na pista. Vias com sinalização deficiente ou sem sinalização No desempenho de sua atividade, normalmente você trafega em vias urbanas e rurais em boas condições de tráfego, trazendo todas as informações ao condutor; no entanto, algumas vias podem apresentar sinalização deficiente, por vezes encoberta pela vegetação, ou totalmente inexistente, tanto vertical quanto horizontal. 127 O que você deve fazer ao conduzir por vias com sinalização deficiente ou inexistente? • Conduzir o veículo com velocidade compatível e com atenção redobrada; • Sempre que possível, evitar viajar à noite; e • Ajustar-se às condições da via. IMPORTANTE! Conforme previsto no artigo 72 do Código de Trânsito Brasileiro, todo cidadão tem o direito de solicitar por escrito melhorias e sugestões que julgar necessário aos órgãos do Sistema Nacional de Trânsito. Então, seja na viatura policial ou em seu carro particular, se você está transitando por uma via esburacada ou com sinalização deficiente, você pode acionar o órgão competente para solicitar a regularização da situação. 2.1.3 Condições adversas de trânsito As condições adversas de trânsito estão relacionadas à quantidade, ao tipo e ao tamanho dos veículos e aos horários de circulação, podendo apresentar congestionamento ou não. Existem períodos do dia que afetam as condições de trânsito, tais como a hora do rush, que significa o período de maior movimentação de veículos e pedestres, provocando congestionamentos, além de dias de chuva, épocas de festas, férias escolares, feriadões etc. Ocasionalmente, acontecem condições adversas de trânsito na presença de rebanhos de animais, maquinário agrícola, obras, carroças, funerais etc. O trânsito pode ser alterado, ainda, por: batedores, escoltas, desmoronamento, acidentes, bloqueio parcial de pista, rompimento de estrada, fiscalização etc. 128 O que fazer ao se deparar com essas condições de tráfego? I. Nos horários de entrada e de saída de aula, evite transitar em ruas onde existam colégios; II. Quando você souber que há obras numa via de tráfego intenso, procure outro caminho; III. Tenha sempre em mente um roteiro alternativo para o caso de engarrafamento inesperado, mesmo se for mais longo. Você economiza tempo e combustível num trajeto maior que esteja livre; IV. Se possível, utilize dispositivos e/ou aplicativos de navegação, tais como o Waze® ou o Google Maps®; eles ajudam a ganhar tempo e a economizar combustível; certifique-se de que os suportes que prendem o smartphone estejam instalados em local que não prejudiquem a visibilidade do condutor; e V. Mantenha-se calmo. Figura 56: Aplicativos de navegação (Waze® ou o Google Maps®) Fonte: SCD/EaD/Segen. 129 2.1.4 Condições adversas de veículo Caro colega profissional de segurança pública, qual foi a última vez que você realizou uma inspeção de primeiro escalão (utilize o checklist disponível no item 4.4.3 da Aula 4 do Módulo 1), aquela realizada pelo motorista, antes de iniciar o serviço? Como um condutor defensivo, você deve manter o veículo em que trabalha sempre em condições de reagir instantânea e eficientemente a todos os comandos, inspecionando-o antes de iniciar o serviço. Acima de tudo, este procedimento garante a SUA segurança e a segurança de todos os colegas que estão com você na viatura! Defeitos mais comuns em veículos que facilitam os acidentes I. Pneus desgastados; II. Limpador de para-brisa com defeito; III. Espelho retrovisor danificado/inexistente; IV. Suspensão defeituosa; V. Defeito na direção (folga e desalinhamento); VI. Falta de balanceamento e cambagem; VII. Ausência de sirene e de luzes de emergência; VIII. Freios desregulados; e IX. Lâmpadas queimadas. 130 Figura 57: Viatura com defeito Fonte: Arquivo – Blog A Palavra. 2.1.5 Condições adversas de condutor Em muitas ocasiões, a jornada de trabalho extenuante do condutor de veículo de emergência pode interferir na maneabilidade, aumentando os riscos de envolvimento em acidentes de trânsito. Os aspectos físicos e psicológicos influenciam diretamente na atuação do condutor. Como exemplos, temos: fadiga, sono, estado alcoólico, audição deficiente, visão deficiente, perturbações mentais e emocionais, preocupações e medo (MASLACH; JACKSON, 1981). Estado físico e mental do condutor, consequências da ingestão e do consumo de bebida alcoólica e de substâncias psicoativas. A bebida alcoólica Atualmente, o álcool é a substância psicoativa que mais causa acidentes e mortes no trânsito no Brasil e no mundo (PECHANSKY, 2014). Relativamente à absorção e distribuição do álcool, Pechansky (2014, pg. 53), escreveu que: 131 “O etanol, quando ingerido, é absorvido rapidamente no estômago (20%) e no intestino delgado (80%) - órgão cheio de vasos e membranas permeáveis. O maior pico na concentração plasmática ocorre em torno de meia hora após a ingestão. A velocidade com que a pessoa bebeu, o tempo de esvaziamento gástrico e o início da absorção intestinal podem ser considerados os principais fatores determinantes das taxas variáveis de absorção de álcool encontradas em diferentes indivíduos ou circunstâncias. Se o indivíduo possuir alimentos no estômago (estado alimentado), isso retardará a absorção de etanol. Caso ele esteja sem alimento no estômago (estado de jejum), a absorção do etanol será de forma mais rápida, alcançando o pico plasmático maior do que no estado alimentado. Porém, quando o álcool chega no intestino delgado, sua absorção para a corrente sanguínea é rápida e completa, não importando a presença de alimentos.” A dosagem alcoólica distribui-se uniformemente em todos os órgãos e líquidos orgânicos, mas, principalmente no cérebro, afetando de maneira significativa a capacidade de conduzir veículos automotores. Relativamente aos efeitos da ingestão do álcool na condução de veículos, Pechansky (2014, pg. 58) escreveu que: “Dentre as habilidades necessárias para adequada condução de veículo automotor, o tempo de reação, ou seja, o tempo decorrido entre o indivíduo perceber a situação e reagir a ela foi diferente entre indivíduos alcoolizados e sóbrios. Os estudos apontam que o tempo de reação de um condutor que ingeriu álcool é maior que em um condutor sóbrio, interferindo negativamente na capacidade de condução. Por exemplo, diante de uma situação inesperada, durante o dia, um condutor que não consumiu bebida alcoólica leva até 1,75 segundos para iniciar uma reação. Se este condutor estiver a 80Km/h ele percorrerá cerca de 39 metros até efetivar sua ação. Já um condutor sob efeito de álcool, na mesma velocidade, passa a reagir em até 5,1 segundos, percorrendo uma distância de 113 metros antes de tomar qualquer decisão. Isso significa que o motorista 132 alcoolizado pode percorrer 74 metros a mais do que o condutor que não bebeu. A acuidade visual e o processamento da informação também ficam prejudicados. Um estudo realizado na Austrália identificou que o condutor embriagado demora mais tempo na identificação de outro veículo, fato que aumenta o risco e pode ocasionar um acidente. Além dos prejuízos na habilidade para a condução, o uso de álcool interfere negativamente na percepção de risco do condutor. Mesmo embriagado, o motorista acredita que sua conduta não representa perigo, tendendo a culpar os outros, atribuindo uma maior habilidade e autoconfiança na sua capacidade de condução.”Evidentemente, um bom profissional de segurança pública JAMAIS iria se apresentar a serviço para conduzir uma viatura estando alcoolizado; pois, além do perigo que isso causa, trata-se de uma infração de trânsito de natureza gravíssima (conforme o Art. 165 do CTB) e, dependendo do caso, até mesmo um crime de trânsito (de acordo com o Art. 306 do CTB). Vale salientar que a grande maioria das corporações policiais impõe, corretamente, sanções administrativas em seus regimes disciplinares aos profissionais de segurança que se apresentam para o serviço sob o efeito de álcool e/ou que ingerem bebida alcoólica estando a serviço. Por fim, um cuidado especial deve ser tomado no dia seguinte ao qual foi ingerida uma grande quantidade de bebida alcoólica: se a pessoa está de ressaca, isso significa que o seu corpo ainda não conseguiu metabolizar todo o álcool que está em sua corrente sanguínea. Ou seja, a pessoa AINDA se encontra sob o efeito de álcool! 133 Figura 58: Etilômetros - “passivo”, à esquerda, e o tradicional, à direita Fonte: José Carlos Schaeffer. Substâncias psicoativas A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera droga toda substância que, por sua natureza, afeta a estrutura e o funcionamento de um organismo vivo. Por sua vez, as Substâncias Psicoativas (SPAs) são aquelas que, quando ingeridas, inaladas ou inseridas na corrente sanguínea, afetam os processos normais de sentir, de pensar e de agir. No trânsito, este é um aspecto de vital importância, uma vez que tanto as drogas lícitas (medicamentos, por exemplo) quanto as ilícitas causam transformações químicas no organismo (distribuição, ação, armazenamento e saída) e atuam diretamente no sistema nervoso central, gerando alterações no nível de consciência do espaço e do tempo, desvirtuamento sensorial, perda do equilíbrio, psicoses e delírios. O uso de drogas pode ser fatal se ingeridas com álcool. Muitos condutores profissionais, por imposição da carga horária de trabalho, utilizam artifícios para não dormir nas viagens. As mais comuns são os chamados “arrebites” ou “rebites”, que 134 consistem em uma perigosa mistura de medicamentos (anfetaminas) que, a longo prazo, são extremamente prejudiciais à saúde. Nem toda substância psicoativa é ilícita. Muitas são medicamentos prescritos para situações específicas, como insônia ou défice de atenção. Caso o profissional de segurança pública esteja tomando alguma medicação com efeitos depressores do sistema nervoso central (SNC), a exemplo dos benzodiazepínicos (Rivotril®, Alprazolam etc.), ele não deve conduzir veículos de emergência, salvo se houver permissão médica. Figura 59: Exemplo de benzodiazepínicos (Rivotril® e Alprazolam) Fonte: SCD/EaD/Segen. É IMPORTANTE: Que você converse com o seu médico sobre os efeitos de quaisquer medicamentos que você estiver utilizando, no tocante à capacidade de dirigir veículos e máquinas; pois, dependendo da substância e da dosagem, elas podem ser mais perigosas do que o álcool. 135 Por fim, embora você já saiba disso, vale o conselho de que você não deve se automedicar; e nem modificar as dosagens ou interromper o tratamento sem a supervisão médica adequada. AULA 3 — Comportamento seguro na condução de veículos de emergência Introdução Nesta aula, você conhecerá as principais causas de acidentes e os procedimentos adequados para a realização de manobras como a ultrapassagem. Aprenderá também como evitar o envolvimento em acidentes ao adotar procedimentos seguros na condução de veículos de emergência. 3.1. Definindo acidente de trânsito Mas você deve estar se perguntando: afinal, o que é acidente de trânsito? Acidente de trânsito é: Todo acontecimento, casual ou não, tendo como consequências danos físicos ou materiais, envolvendo veículos, pessoas e/ou animais nas vias públicas. Em sua opinião, quais as principais causas dos acidentes de trânsito? 136 3.2 Acidente evitável ou não evitável Caro profissional de segurança pública, a primeira coisa que devemos pensar quando tratamos sobre acidentes de trânsito é: afinal, os acidentes são evitáveis ou não evitáveis? De acordo com as pesquisas realizadas sobre o assunto, confira as definições dos acidentes evitáveis e dos acidentes inevitáveis: Acidentes evitáveis São aqueles que ocorrem apenas porque pelo menos uma das pessoas envolvidas não agiu corretamente ou não tomou as medidas de segurança cabíveis. Acidente inevitável É aquele no qual as pessoas envolvidas tomam todas as medidas de segurança possíveis e o acidente ocorre mesmo assim. Levando-se em consideração que os acidentes de trânsito são o resultado de múltiplos fatores e que, em quase 90% dos acidentes, o erro humano é o principal motivo (de acordo com pesquisas na área de acidentologia, os defeitos em veículos respondem por cerca de quatro por cento das causas principais e os defeitos nas vias por cerca de 6%), fica claro que a grande maioria dos acidentes é completamente evitável. Praticamente todos os acidentes de trânsito são evitáveis. Na maior parte das vezes, só acontecem porque alguém é negligente de alguma forma, como, por exemplo, quando alguém dirige em alta velocidade, com os pneus carecas, sem manter uma distância de segurança, realizando ultrapassagens em faixa contínua. Qual a sua opinião a respeito disso? Você concorda comigo que a esmagadora maioria dos acidentes de trânsito são evitáveis? A violência dos graves acidentes está presente nas vias urbanas e rurais de todo o país. Aproximadamente 90% dos acidentes têm como causa a falha humana e, normalmente, ela recai sobre três aspectos jurídicos que caracterizam a culpabilidade: 137 Figura 60: Três aspectos jurídicos que caracterizam a culpabilidade Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. O acidente é um evento — de certa forma, intencional —, que pode ser evitado. É causador de lesões físicas e, muitas vezes, emocionais; no âmbito doméstico ou nos ambientes sociais. O acidente de trânsito visto como uma violência poderá ajudar na elaboração e na implementação de políticas públicas que possam prevenir sua ocorrência. 3.3 A importância de ver e ser visto Como é sabido, nós, seres humanos, possuímos cinco sentidos que possibilitam a nossa interação com o mundo: Figura 61: Cinco sentidos Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. 138 Do ponto de vista do trânsito e da condução de veículos, a visão acaba tendo um papel primordial! Assim, para transitar com segurança, é necessária a capacidade do condutor para ver o que está à sua volta, e também é primordial que o seu veículo seja visto pelos demais atores envolvidos no trânsito. Isso porque, conforme já sabemos, a falta de visibilidade, isto é, a falha em ver o que está na pista a tempo de tomar as decisões adequadas, é uma das principais causas de acidentes. Vejamos, agora, algumas dicas gerais para aumentar nossa capacidade de vermos e sermos vistos, assim como alguns aspectos específicos para os veículos de emergência. 3.3.1 Aspectos gerais a) Sistema de Iluminação dos Veículos: O sistema de iluminação dos veículos é fundamental para o nosso esforço de vermos e sermos vistos. Tanto é que o Código de Trânsito Brasileiro determina que o condutor deverá manter acesos os faróis do veículo, por meio da utilização da luz baixa, durante à noite. Do mesmo modo, quando transitamos por túneis e no caso de chuva, neblina ou cerração, os faróis de luz baixa devem permanecer acesos, ainda que esteja durante o dia (conforme o Art. 40, inciso I do CTB, de acordo com a redação dadapela Lei n. 14.071/2020). Da mesma forma, os veículos que não dispuserem de luzes de rodagem diurna deverão manter acesos os faróis nas rodovias de pista simples situadasfora dos perímetros urbanos, mesmo durante o dia (conforme o Art. 40, § 2º do CTB, de acordo com a redação dada pela Lei n. 14.071/2020). Mas, por que devemos manter os faróis ligados em rodovias mesmo durante o dia, se há a presença de iluminação natural? Uma série de estudos mostra que os faróis acesos ajudam a aumentar a visibilidade dos veículos quando estão transitando em rodovias, o que faz com que eles sejam percebidos a uma distância maior, diminuindo, assim, o risco de colisões frontais e de atropelamentos de pedestres. 139 Podemos, inclusive, pensar que, no caso de deslocamentos de emergência, é recomendado que os faróis estejam continuamente acesos, de modo a aumentar a visibilidade do veículo e reduzir o risco de acidentes. Por sua vez, o uso da luz alta é obrigatório nas vias não iluminadas, exceto ao cruzar com outro veículo ou ao segui-lo (conforme art. 40, inciso II do CTB). b) Use o sistema de sinalização (setas) corretamente: Durante nossos deslocamentos, compartilhamos o percurso com outras pessoas que podem caminhar, dirigir, pilotar moto, andar de bicicleta etc. Portanto, o uso correto das setas torna-se essencial para a convivência harmoniosa, pois ela é uma forma de envio de mensagens no trânsito. Então, sempre que você pretender realizar quaisquer deslocamentos laterais, ultrapassagens, conversões à esquerda ou à direita, mudanças de faixa de rolamento, retornos, desvios de obstáculos; ou quando for estacionar, use as setas para indicar a sua intenção. Comunicar-se no trânsito é importante! c) Regulagem dos espelhos retrovisores: Uma das regras básicas da direção defensiva é que o motorista tenha uma atenção difusa, ou seja, que esteja focado, simultaneamente, na condução do veículo e atento a tudo o que está acontecendo ao seu redor. Isso ressalta a importância da regulagem correta dos espelhos retrovisores, que devem ser mantidos sempre em uma posição estratégica e em perfeitas condições. Na verdade, uma das melhores maneiras de melhorar a visibilidade é ajustar os espelhos retrovisores (espelhos centrais e laterais) para minimizar os pontos cegos do veículo. d) Luz certa em caso de neblina: Conforme já vimos anteriormente, em situação de neblina, a visibilidade pode ser seriamente comprometida. Nesses casos, a recomendação é diminuir a velocidade, acender os faróis de luz baixa e, se o seu veículo dispuser, acender os faróis e a lanterna de neblina. Em caso de neblina, não acenda os faróis de luz alta, 140 pois o facho de luz vai se refletir na neblina e vai diminuir, ainda mais, a sua visibilidade. 3.3.2 Aspectos específicos para os veículos de emergência a) Uso das luzes intermitentes: Conforme vimos no módulo anterior, as luzes intermitentes são uma das características distintivas dos veículos de emergência, devendo ser, obrigatoriamente, acionadas para que o veículo desfrute das prerrogativas de prioridade de passagem, de livre-circulação, de estacionamento e de parada. No caso de deslocamento de urgência, elas devem ser usadas em conjunto com os dispositivos de alarme sonoro. O uso correto das luzes intermitentes vai aumentar sobremaneira a visibilidade do veículo de emergência, evitando que você se envolva em acidentes de trânsito, especialmente durante o período noturno. b) Padronização visual do veículo: Em geral, os veículos de emergência apresentam uma caracterização visual distintiva dos veículos “comuns”, destacando-os dos demais e aumentando sua visibilidade. 3.4 A importância do comportamento seguro na condução de veículos especializados Caro profissional de segurança pública, como você já está ciente a esta altura de nossos estudos, os veículos de emergência possuem características e regras bem específicas para a sua condução com segurança. 141 Conforme vimos anteriormente, existem vários tipos de acidentes e de fatores de risco para a condução. No entanto, um dos fatores mais comuns para a ocorrência de acidentes é não ser capaz de desviar ou parar seu veículo a tempo de evitar a colisão. Por isso, é importante que você tome medidas que possam garantir a sua segurança, tais como: a) Manter a distância de segurança: Sempre aumente a distância do veículo que segue à frente caso as condições de tráfego sejam desfavoráveis, por exemplo em dias de chuva ou em caso de neblina. b) Antecipar a frenagem: Assim que você vir a luz de freio do veículo que segue à frente, mantenha o seu pé apoiado no pedal do freio, de modo a manter uma distância segura, para que não seja necessária uma frenagem repentina. c) Controlar a situação: Aplique os princípios de direção defensiva já vistos e esteja atento, antecipando-se às ações dos outros condutores e prevenindo situações que possam causar acidentes. Você não tem controle sobre as ações dos outros, mas você tem controle sobre as suas ações na condução do veículo! d) Prestar atenção redobrada nos cruzamentos: Embora os veículos de emergência tenham prioridade de passagem nos cruzamentos, essa manobra deve ser executada com velocidade reduzida e com os devidos cuidados de segurança. Isso porque, muitas vezes, os automóveis que estão cruzando com o veículo de emergência não possuem visibilidade para perceber a aproximação dele, devido a carros, a árvores, a mobiliário urbano ou à própria geometria da via. Além disso, por conta do barulho do trânsito ou por estarem escutando música em volume alto, os condutores podem não escutar a sirene. Boa 142 parte dos acidentes que envolvem os veículos de emergência acontecem, justamente, nos cruzamentos. Todo cuidado é pouco neste quesito! 3.5 Comportamento seguro e comportamento de risco — diferença que pode poupar vidas. O trânsito em condições seguras é um direito de todos (CTB – art. 1º, § 2º) (BRASIL, 1997), cabendo aos órgãos do Sistema Nacional de Trânsito as medidas que assegurem a efetivação desse direito. Veja o que diz o CTB, em seu artigo 1º, inciso 2º: Art. 1º, § 2º “O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito”. Mas, além de ser um direito, o comportamento seguro no trânsito também é um dever de todos os cidadãos usuários das vias terrestres, seja na condição de condutor, de pedestre ou de passageiro. E VOCÊ, profissional de segurança pública, tem um papel importante nesse quesito. Entre as causas que influenciam o comportamento de risco no trânsito, temos o ser humano, as vias e os veículos. Conforme já falamos anteriormente, mais de 90% dos acidentes de trânsito decorrem da adoção de comportamentos inseguros ou imprudentes por parte dos condutores de veículos motorizados. Reconhecer estes comportamentos é um passo muito importante para que se obtenha atitudes prudentes e seguras. Comportamentos de risco do condutor Muitas vezes, durante a viagem, o motorista adota comportamentos de risco, geralmente na intenção de completar sua jornada no menor tempo possível. Na 143 grande maioria das vezes, o ganho de tempo é ínfimo e isso não chega nem perto de compensar os riscos assumidos. Entre os diversos comportamentos inadequados adotados pelos condutores dos veículos motorizados, podemos citar os seguintes: I. Não sinalizar as mudanças de faixa de rolamento, as manobras de conversão à esquerda e à direita e os retornos; II. Não usar o cinto de segurança; ou não exigir nem orientar que os passageiros usem; III. Não manter a distância de segurança em relação aos demais veículos e/ou ao bordo da pista de rolamento; IV. Não respeitar os limites de velocidade da via; V. Fazer ultrapassagens bruscas e repentinas; VI. “Costurar” entre
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