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Estado Democrático de Direito

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ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA
CIÊNCIA POLÍTICA E DO ESTADO
Docente: 	Eduardo Tuma 
Discentes: Marcelo Duarte da Silva – RA 1717251
	 Priscila Pereira Rosenbaum Feriancic - RA: 1472187
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
O que é um Estado Democrático de Direito?
O Estado Democrático de Direito é aquele em que o poder político não apenas está subordinado ao ordenamento jurídico, mas em que as leis são criadas pelo povo, diretamente ou por meio de representantes eleitos, e para o povo. 
A doutrina ainda define o Estado Democrático de Direito como aquele que é regido por normas democráticas, que as autoridades públicas observam e respeitam os direitos e garantias fundamentais e no qual há eleições livres, periódicas e populares.
O modelo é marcado pela soberania popular, separação dos poderes estatais e respeito às garantias fundamentais e aos direitos humanos. 
Dada a sua importância, na Constituição Federal de 1988, está expresso já no artigo 1º: 
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
Qual a diferença entre Estado de Direito e Estado Democrático de Direito?
De acordo com Ênio Moraes da Silva[footnoteRef:1], por óbvio, a diferença entre Estado de Direito e Estado Democrático de Direito reside no termo “democrático”. O autor, citando o entendimento de Loewenstein, define que o principal aspecto do Estado Democrático Constitucional está na distribuição e nos mecanismos institucionais de controle do poder político, fazendo com que este esteja efetivamente submetido ao povo. [1: https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/42/167/ril_v42_n167_p213.pdf
] 
De acordo com a literatura consultada (Silva, 2005; Beçak, 2013; Oliveira, 2016), notamos que o Estado de Direito se caracteriza como uma resposta às monarquias absolutistas dos séculos XVII e XVIII, sobretudo na França, na tentativa de limitar o poder dos reis e garantir que todos sejam tratados de forma igualitária perante a lei. Temos nesse período a afirmação do constitucionalismo, ou como alguns autores mencionam (p.ex. Siqueira, 2008), surge a ideia da Supremacia da Constituição. 
De uma forma mais simples, a principal diferença entre ambos é que no Estado de Direito as autoridades políticas estão submetidas à lei, mas esta não necessariamente traduz a vontade do povo. Não há compromisso do Estado com a garantia dos direitos fundamentais e sociais dos cidadãos.
No Estado Democrático de Direito as autoridades políticas estão submetidas ao ordenamento jurídico constituído conforme a vontade do povo. Todas as decisões devem estar calçadas nos direitos e garantias fundamentais expressos na Lei ou Constituição.
Quais são os princípios do Estado Democrático de Direito? Explique
Os mais importantes princípios do Estado Democrático de Direito são a soberania popular, a separação dos poderes estatais em legislativo, executivo e judiciário e o respeito aos direitos humanos.
Contudo, a doutrina de José Afonso da Silva[footnoteRef:2], enumera como princípios do Estado Democrático de Direito expressos na Constituição Federal Brasileira vigente os seguintes: [2: José Afonso da Silva, O Estado Democrático de Direito, Revista de Direito Administrativo; v. 173 (1988); pp. 15-24 
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/viewFile/45920/44126] 
O princípio da constitucionalidade o qual determina que o “Estado Democrático de Direito se funda na legitimidade de uma Constituição rígida, emanada da vontade popular, que, dotada de supremacia, vincule todos os poderes e os atos deles provenientes, com as garantias de atuação livre da jurisdição constitucional;” Tal princípio pode ser traduzido como o princípio fundamental que atende o interesse comum da sociedade por meio do consenso das partes. Semelhante a este, é o Princípio Democrático, em que o Estado, por meio da Constituição, deve constituir-se e uma “democracia representativa e participativa, pluralista, e que seja a garantia geral da vigência e eficácia dos direitos fundamentais.”. Estes dois princípios estão expressos no artigo 1º da Constituição Federal Brasileira de 1988.
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...)
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
Destaca também o Princípio da divisão de poderes, demarcado claramente no artigo 2º: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” e inclui neste a independência e autonomia administrativa e financeira do Poder Judiciário, art. 99. 
Já o Princípio dos direitos fundamentais individuais, coletivos, sociais e culturais, constitui-se de normas constitucionais obrigadas à preservação dos direitos humanos fundamentais e naturais. Na Constituição Federal de 1988, estão elencados no Títulos II dos Direitos e Garantias Fundamentais, onde reside o emblemático artigo 5º, Título VII sobre a Ordem Econômica e Financeira e Título VIII, que trata da Ordem Social. Na mesma esfera, enumera ainda o Princípio da igualdade, expresso no art. 5º, caput e inciso I, que iguala perante a lei todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país, no tocante aos direitos fundamentais; o Princípio da legalidade destacado no inciso II do art. 5º, que protege o cidadão de possíveis abusos, e determina que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” e o Princípio da segurança jurídica, afixados nos incisos XXXVI a LXXIII do art. 5º.
Por fim, enumera o Princípio da justiça social, destacados no caput do artigo 170 e caput do artigo 193, os quais direcionam o estado para a “realização da democracia social e cultural”.
O que é um Estado de Direito?
Para entendermos a instituição do Estado de Direito, precisamos buscar na literatura o que se entende por Estado, pois o vocábulo tem sido empregado na linguagem dos filósofos e dos estadistas ora como sinônimo de Sociedade, ora totalmente contrastante. E esse dualismo Sociedade-Estado mantém-se instaurado no pensamento político do Ocidente desde o declínio e a dissolução do corporativismo medieval e consequente surgimento da burguesia. 
A obra do Professor Paulo Bonavides (2019, pp. 65-71), considerado um dos precursores da Ciência Política em nosso País, faz uma revisão histórica de grande relevância sobre a formação e organização do Estado desde a Antiguidade até os dias atuais. 
Dos muitos conceitos propostos na literatura (Beçak, 2013), a Teoria Geral do Estado, sistematizada no século XIX, na Alemanha, por George Jellinek (1919-2010), é tida pelo constitucionalista P. Bonavides (2019) o marco fundamental para um conceito, em sua opinião, como o mais completo, tratando o Estado como: 
“... a corporação de um povo, assentada num determinado território e dotada de um poder originário de mando”. 
Mas, ainda podemos observar nas palavras do reconhecido jurista brasileiro D.A. Dallari (2012, p. 122), uma complementação ao que G. Jellinek e outros doutrinadores haviam anteriormente compreendido sobre o Estado moderno (para Dallari todos os conceitos até então propostos davam ideia insuficiente do Estado, conforme mencionado em Beçak, 2013): 
“... Estado é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território.”
Esses entendimentos sobre a natureza do Estado decorrem em suma da Paz de Westfália, em 1648, em razão da separação do mundo ocidental em Estados. 
O Estado de Direito teve iníciodepois da Revolução Francesa, que marcou o fim do absolutismo e a instauração de um sistema de governo parlamentarista. Tem sua origem como Estado Liberal de Direito, tendo como características: “a submissão ao império de lei, a divisão dos poderes e garantias dos direitos individuais”, conforme citado por J.A. Silva (2005) em seu Curso de Direito Constitucional Positivo.
Para alguns autores (p.ex. Silva, 2005), a compreensão do Estado de Direito requer um entendimento básico das formas de direito natural e positivo, tendo essa dicotomia sido estabelecida pelo pensamento jurídico ocidental, influenciando sobremaneira o passado e o presente das relações sociedade–Estado e Estado–indivíduo. Daí postula-se que, como o próprio termo “Estado de Direito” expressa, não se pode falar da instituição Estado sem falar no Direito.
Como vemos na obra do Professor Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2004), o Estado submetido ao Direito se baseia no tripé constituído pelos princípios da legalidade, igualdade e justicialidade. O primeiro, caracterizado pela afirmação da liberdade do indivíduo como regra geral, é a fonte única de todas as obrigações dentro de um Estado de Direito. Com o princípio de igualdade, temos que a lei no Estado de Direito limitará o poder dos promulgadores das leis, estabelecendo que elas sejam iguais para todos, devendo todos respeitá-las, proibindo o arbítrio, as desigualdades comuns às monarquias absolutistas. Por fim, o princípio da justicialidade, era aplicado como instrumento de decisão dos litígios em qualquer esfera da Sociedade-Estado.
O Estado de Direito foi a alternativa encontrada pelo povo que estava revoltado com os poderes ilimitados do soberano no sistema absolutista. Thomas Hobbes, em seu célebre livro “O Leviatã”, acreditava que o ser humano em seu estado de natureza (antes de civilizar-se) tinha absoluta liberdade, não tendo que respeitar lei alguma. Essa situação, como o próprio Hobbes salientou, levariam a conflitos entre as pessoas e geraria uma “guerra de todos contra todos”. Dessa forma, para que essa situação fosse superada, todos deveriam renunciar seus direitos a um soberano incontestável, que garantir-lhes-ia uma vida boa por meio de um contrato social. Nesse sentido, esse soberano seria o rei absolutista.
O absolutismo fracassou porque o rei comandava tudo, era arbitrário e injusto. O soberano criava as leis, as executava e julgava quem a desrespeitassem. Ele estava acima da própria lei e contrariando seu contrato com o povo – de garantir a todos uma vida boa – promoveu insatisfações e revoltas que colocaram em xeque essa forma de governo, e foi a partir daí que o “Estado de direito” foi sendo orquestrado. Para Marcht et al. (2017), o Estado de Direito vem para contrapor ao jusnaturalismo irracional do monarca.
Por fim, devemos ressaltar que no Estado de Direito, o governante não possui poder absoluto. A figura do soberano como governante é substituída (absolutismo) pela soberania da lei que está acima de todos, inclusive dos governantes, em alguns casos, representados pelos parlamentares. Da observação que a lei é soberana e está acima de todos, podemos questionar se os anseios do povo estariam, de fato, atendidos com a nova organização do Estado. No Estado de Direito não há contemplação da “vontade geral”, alguns grupos sociais podem estar melhor ou mais bem representados que outros. O problema da desigualdade parece não ter sido totalmente resolvido (e ainda não foi, de fato resolvido!), pois o poder não emana necessariamente do povo, como estamos acostumados atualmente, e não há responsabilidade com a soberania popular.
Quais os principais fundamentos do Estado Democrático de Direito?
Dentro do arcabouço jurídico brasileiro pode-se destacar como sendo os principais fundamentos do Estado Democrático de Direito aqueles expressos no artigo primeiro da CF/88, os quais serão detalhados na sequência.
Art 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político.
Quanto à Soberania, significa o poder político supremo dentro do território, e, no plano internacional, no tocante às relações da República Federativa do Brasil com outros Estados soberanos. Isto é, o país é independente para a tomada de decisões internas e de suas relações internacionais. É dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso contrário, nega-se o Estado de Direito. 
Quando é mencionada a dignidade da pessoa humana o que se busca é proteger de forma integral o sujeito na qualidade de pessoa vivente em sua existência concreta. Na mesma esteira, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa garantem o exercício de todas as formas lícitas de trabalho e de atividade empresarial, excluído aquelas que degradam a pessoa humana.
Por fim, o pluralismo partidário, que por motivos históricos é traço marcante da democracia brasileira, como a pluralidade de partido, quando equilibrada, podemos ter um sistema de proteção à liberdade de participação do povo no governo de seu país.

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