Buscar

Processual Civil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
1) CONCEITO 
 
O Direito Processual Civil é um ramo do Direito Público1 interno, consistente no 
conjunto de regras e princípios que regulamentam o exercício da jurisdição, a ação e o 
processo, com o objetivo de eliminar os conflitos de interesses de natureza não penal ou 
não especial (v.g., o conflito trabalhista, que é resolvido na Justiça do Trabalho). 
• Ramo do Direito Público: considera-se ramo de Direito Público porque: (i) 
regulamenta função normalmente exercida pelo Poder Público e (ii) tem a 
finalidade pública de aplicação do Direito e obtenção da paz (pacificação 
social). 
• Conjunto de regras e princípios: tem-se por regras, aquelas normas jurídicas 
dotadas de maior concretude e um menor grau de abstração; e, por princípios, 
aquelas normas dotadas de menor concretude e um maior grau de abstração 
(vagueza, abertura). 
 
Há autores que sustentam que entre essas duas espécies de normas existe uma diferença 
de grau. Para alguns, os princípios seriam as normas mais importantes de um 
ordenamento jurídico, enquanto as regras seriam aquelas normas que concretizariam 
esses princípios (José Afonso da Silva, Celso Antônio Bandeira de Mello, Luís Roberto 
Barroso, J. J. Gomes Canotilho, Joseph Raz). Outros fazem a distinção de ambas as 
espécies a partir do grau de abstração e generalidade: princípios seriam mais abstratos 
e mais gerais que as regras (Luís Roberto Barroso e Joseph Raz). O autor não leva em 
conta ou utiliza estas espécies de classificação em sua obra. 
• Jurisdição2: é a função-poder do Estado (Estado-juiz) de, quando provocado, 
dar uma solução impositiva e definitiva aos conflitos que lhe são submetidos, 
aplicando o direito material ao caso concreto. É poder de dizer o direito, de 
dizer quem tem razão, substituindo, assim, a vontade das partes. 
 
1 A lado do Direito Constitucional, do Direito Administrativo, do Direito Penal, do Direito Processual Penal, 
do Direito Processual Trabalhista etc. 
2 Jurisdição é o conceito central de toda teoria geral do processo, consistente na função do Estado em dar 
solução aos conflitos (jurisdição é função do Estado consistente na solução de litígios). Para que o Estado 
possa cumprir essa função, a sociedade confere ao Estado um poder para que sempre que provocado, possa 
dar uma solução impositiva e definitiva aos conflitos (jurisdição é expressão de poder do Estado). Diz-se 
então que a jurisdição é uma atividade substitutiva da vontade das partes, porque o Estado, quando 
provocado, impõe a solução do conflito. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
• Ação: é o direito público subjetivo do indivíduo, exercido contra o Estado 
(rompendo assim a sua inércia – inércia da jurisdição), na busca de uma tutela 
ou provimento jurisdicional. 
• Processo: é o instrumento de exercício da jurisdição, um instrumento de 
aplicação do direito material. Para que o Estado exerça a função-poder de, 
sempre que provocado, dar uma solução impositiva e definitiva ao conflito que 
lhe foi submetido, precisa de um instrumento que vai disciplinar essa atividade 
estatal. Esse instrumento é o processo. 
 
2) FONTES DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
As principais fontes formais do Direito Processual Civil são: 
 
• A Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), de 1988; 
• O Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015) – o CPC é o Direito 
Constitucional aplicado ao processo; 
• O conjunto de leis esparsas existente (v.g., Lei n. 9.099/95 – Lei dos Juizados 
Especiais; Lei n. 7.347/85 – Lei da Ação Civil Pública; Lei n. 11.419/06 – 
Informatização do Processo Judicial; 
• As normas internacionais aplicáveis (tratados internacionais); 
• Jurisprudência, súmulas, súmula vinculantes; 
• Regimento interno dos Tribunais (TJ, TRF, STF, STF etc.); 
• Códigos de Organização Judiciária presente em cada Estado da federação; 
• Costumes e doutrina*. 
 
No estudo do Processo Civil, o CPC será o mais importante instrumento a ser 
analisado na disciplina. A sua estrutura básica, que se encontra presente também em outros 
diplomas normativos, conforme dispõe a Lei Complementar 95/1998 é a seguinte: 
• Partes (Geral e Especial); 
• Livros (Parte Geral: 5 livros; Parte Especial: 3 Livros; Livro Complementar); 
• Títulos; 
• Capítulos; e; 
• Seções (podendo haver subseções, conforme a necessidade). 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp95.htm
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
3
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Essas subdivisões estarão compostas pelos chamados artigos, que devem estar 
numerados de forma sequencial em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4 etc.). 
Entre o primeiro e o nono artigo, a numeração costuma ser ordinal (1°, 2°, 3°, 4° 
etc.). Do artigo 10 em diante a numeração é cardinal (dez, onze, doze, treze...quinze etc.). 
Os artigos podem ter uma forma simples ou podem, também, conter subdivisões. 
Quando há subdivisões, chamamos a parte inicial do artigo (aquela que acompanha o 
número) de caput, que significa cabeça em latim. É, portanto, a cabeça do artigo. Ela é 
considerada sua parte mais importante e serve para a interpretação das demais subdivisões 
do artigo. A princípio, todas as partes do artigo devem ser interpretadas de modo que sejam 
compatíveis com o caput. 
Além do caput, as outras partes dos artigos são parágrafos, incisos e alíneas. 
Se o artigo dispuser de apenas um parágrafo ele será denominado “Parágrafo 
único”. Se existirem múltiplos parágrafos, eles serão designados pelo símbolo “§” seguido 
da respectiva numeração em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, etc.), valendo a regra dos 
números ordinais e cardinais, como nos artigos (apesar de que dificilmente um artigo terá 
mais do que nove parágrafos). Então, quando vir numa lei ou num texto “§ 1°”, deve-se ler 
“parágrafo primeiro” e já se sabe que existirão outros (senão ele seria um “Parágrafo 
único”). Normalmente, os parágrafos destacam aspectos importantes de um artigo que não 
estão diretamente explicitados em sua cabeça. Também podem trazer alguma exceção à 
aplicação da regra do artigo. 
Os incisos, por outro lado, estão simbolizados por algarismos romanos (I, II, III, IV, 
V, VI etc.) e podem constar logo após o caput do artigo ou após o texto principal do 
parágrafo. Eles costumam ser utilizados para descrever as hipóteses em que a regra que 
está na cabeça deve ser aplicada. A cabeça do artigo ou o parágrafo descrevem a regra e 
termina com o sinal “:”, ou “nos casos de:”, ou “nas seguintes formas:”. Essa descrição 
feita nos incisos pode ser exaustiva (contendo todas as hipóteses possíveis) ou pode 
simplesmente dar exemplos de hipóteses em que a regra é aplicável. 
As alíneas, por sua vez, estão simbolizadas por letras minúsculas (“a”, “b”, “c”, “d” 
etc.) e são subdivisões dos incisos. Normalmente cumprem a mesma função dos incisos, 
detalhando hipóteses de aplicação de uma regra prevista logo anteriormente. 
 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
4
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
3) CONCEITO DE PROCESSO 
 
De acordo com Piero Calamandrei, o processo se apresenta como a “série de atos 
regulados pelo direito processual, através dos quais se leva a cabo o exercício da 
jurisdição”. Para Humberto Theodoro Jr., “esses múltiplos e sucessivosatos se 
intervinculam e se mantêm coesos graças à relação jurídico-processual que os justifica e 
lhes dá coerência pela meta final única visada: a prestação jurisdicional”. 
 
Para Misael Montenegro Filho, “processo é o instrumento utilizado pela pessoa 
que exercitou o direito de ação para obter resposta jurisdicional que ponha fim 
ao conflito de interesses instaurado ou em vias de sê-lo”. 
De acordo com a doutrina, o processo tem dois aspectos: um objetivo e um 
subjetivo: 
1) Aspecto subjetivo: o processo estabelece uma relação (jurídica-processual) entre 
o juiz (Estado) e as partes (autor e réu), que se prolonga no tempo, implicando 
deveres, ônus, faculdades e direitos de cada um. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Essa relação jurídica-processual é (características): 
 
• autônoma: existe independentemente da relação jurídica de direito material; 
• triangular: composta por juiz, autor e réu. Diferente da relação jurídica de direito 
material (linear), que envolve, por exemplo, o credor e o devedor; 
• pública: o processo é público e, portanto, a relação jurídica-processual também é. 
• complexa: pois prevê uma série de direitos, deveres, ônus e faculdades; 
• dinâmica: já que pode ser alterada ao longo do processo (ex.: sucessão das partes). 
 
 
Autor 
Juiz 
Réu 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
5
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
2) Aspecto objetivo: O processo é constituído por um conjunto de atos 
ordenadamente encadeados e previamente previstos em lei, que se destinam a 
um fim determinado: a prestação jurisdicional. Para que ela seja alcançada, há 
um procedimento a ser seguido. 
 
3.1) Processo e Procedimento 
 
Enquanto o processo é um instrumento de solução de conflitos, o procedimento 
consiste no conjunto de atos preordenados que os sujeitos do processo (partes, juiz, MP, 
auxiliares da justiça, etc.) seguem até a solução da lide. Vale dizer, portanto, que o 
procedimento é a forma pela qual o processo se desenvolve. 
 
O processo, entendido como o instrumento utilizado pelo Estado para solucionar 
os conflitos de interesses, desenvolve-se através da prática de atos, a maioria 
pelas partes (como a apresentação de petições), alguns pelo juiz (como a 
prolação das decisões interlocutórias, das sentenças e dos despachos, a 
designação das audiências, a determinação para que uma prova seja produzida 
de ofício etc.) e outros pelos auxiliares da Justiça (como o cumprimento de 
mandados pelo oficial de justiça; as certidões que são emitidas nos autos 
informando o decurso de prazos etc.). A essa sucessão de atos, que representa a 
forma como o processo se desenvolve, atribuímos a denominação procedimento 
(Misael Montenegro Filho). 
Quanto mais complexo for o procedimento, no sentido de admitir a prática de 
vários e vários atos, maior é o tempo de duração do processo, característica que é peculiar 
ao procedimento comum. 
Assim, podemos afirmar que a parte provoca o Estado através do exercício do 
direito de ação (direito de pleitear a solução do conflito de interesses), acarretando a 
formação do processo, que se desenvolve através de um procedimento (sucessão de atos 
processuais), até a prolação da sentença, que conclui a prestação da função jurisdicional, 
pondo fim ao conflito. 
Vale lembrar que o processo é apenas um dos instrumentos existentes no 
ordenamento jurídico brasileiro para a solução de conflitos. Outros instrumentos: 
mediação, conciliação, autocomposição, arbitragem, autotutela etc. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
6
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 No CPC/73 existiam dois procedimentos: o ordinário e o sumário. Já o CPC/2015 
unificou tais procedimentos em apenas um, o chamado “procedimento comum”. Paralelo 
a este, existem ainda o procedimento sumaríssimo (regulado pela Lei n. 9.099/95 – JEC) e 
os procedimentos especiais (relacionados às ações possessórias, à ação monitória e ao 
mandado de segurança, dentre outros). 
 
Configuração existente atualmente: 
 
 
Para lembrar: 
Ação = direito conferido a todas às pessoas, de requerer a eliminação do conflito 
de interesses. 
Jurisdição = poder conferido ao Estado, de resolver os conflitos de interesses. 
Lide = conflito de interesses, briga, divergência, como a invasão de um imóvel, 
a infidelidade conjugal, o não pagamento de aluguéis, o atropelamento de pessoa 
na via pública, a colisão entre dois veículos. 
Processo = instrumento utilizado pelo Estado para resolver os conflitos de 
interesses. 
Procedimento = forma como os atos são praticados no curso do processo. 
Como regra, o procedimento é aquele previsto em lei, como medida da garantia da 
segurança jurídica e tratamento igualitário às partes. Porém, excepcionalmente, sempre que 
autorizado por lei, é permitido aos sujeitos do processo alterar o procedimento previsto em 
lei (flexibilização do disposto em lei pelas partes e pelo juiz). 
Exemplos de flexibilização pelo juiz: 
a) Dilatação de prazos processuais e alteração da ordem de produção dos meios de 
prova (CPC, art. 139, VI); 
b) Distribuição dinâmica do ônus da prova (CPC, art. 373, § 1º). 
Exemplo de flexibilização pelas partes: negócios jurídicos processuais. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
7
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
3.2) O princípio do respeito ao autorregramento da vontade no processo 
 
Conforme a doutrina de Fredie Didier Jr., o CPC inovou ao contemplar o que ele 
chama de princípio do respeito ao autorregramento da vontade no processo, pelo qual 
admite-se que as partes formulem acordo sobre o procedimento no âmbito do processo 
(negócios jurídicos processuais). 
O princípio visa a obtenção de um ambiente processual em que o direito 
fundamental de se autorregular possa ser exercido pelas partes sem restrições irrazoáveis 
ou injustificadas. De modo mais simples, esse princípio visa tornar o processo jurisdicional 
um espaço propício para o exercício da liberdade. Isso faz com que as partes possam, de 
certo modo, “escolher” o procedimento no âmbito do processo. 
O princípio do autorregramento é uma decorrência do direito fundamental à 
liberdade (CRFB, art. 5º, caput) que deve ser respeitado também no âmbito do processo, e 
também do devido processo legal (CRFB, art. 5º, LIV). 
O princípio é verificado pela redação do art. 190 do CPC: 
 
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é 
lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para 
ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, 
poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. 
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das 
convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos 
de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma 
parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. 
Assim, por força do art. 190, do CPC, versando a causa sobre direitos que 
admitam autocomposição (ex.: direito aos alimentos, direito coletivo, partilha de bens, 
visita e guarda dos filhos, pagamento de multa contratual etc.), é lícito às partes 
plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às 
especificidades da causa e convencionar sobre seus ônus, poderes, faculdades e deveres 
processuais, antes ou durante o processo. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________P
ág
in
a 
8
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Trata-se da consagração do princípio da autonomia privada (Direito Civil) também 
no âmbito do processo. A regra, agora, é a liberdade (autorregramento). Assim, as partes 
poderão escolher como o processo vai tramitar, prazos, ônus da prova, datas das 
audiências, escolha consensual de peritos etc. 
Contudo, a autonomia não é absoluta (dever de obediência aos demais princípios 
que norteiam o processo, tais como o da cooperação, da boa-fé, da igualdade, do 
contraditório etc.). 
De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar um calendário para a prática de 
atos processuais. Este calendário vinculará as partes e o juiz, e os prazos nele previstos 
somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados. Dispensa-se 
a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas 
datas tiverem sido designadas no calendário. 
O juiz, de ofício ou a requerimento, poderá controlar a validade das convenções 
formuladas pelas partes, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de 
inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta 
situação de vulnerabilidade. 
 
4) PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 
 
Enquanto o direito de ação depende de determinadas condições, sem as quais o 
autor é carecedor, o processo deve preencher certos requisitos para que possa ser 
constituído e ter um desenvolvimento regular e válido. Portanto, antes de decidir o mérito, 
é preciso que o juiz examine se foram preenchidas duas ordens de questões prévias: as 
condições da ação e os pressupostos processuais. 
Desse modo, é possível conceituar os pressupostos processuais como requisitos 
estabelecidos por lei para que o processo possa ser considerado juridicamente existente e, a 
partir de então, se desenvolver validamente, também de acordo com os requisitos previstos 
em lei. 
Os pressupostos processuais, que decorrem do princípio do devido processo legal, 
são classificados, doutrinariamente3, em duas categorias: 
a) pressupostos de constituição/existência; 
b) pressupostos de validade ou desenvolvimento válido. 
 
3 Há na doutrina uma grande variação quanto ao tratamento dos pressupostos processuais e sua classificação. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
9
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
 
Os “pressupostos processuais de existência do processo são os elementos 
mínimos sem os quais não é sequer possível dizer que existe uma relação 
jurídica processual”, como a “presença do órgão jurisdicional, presença do autor 
e presença do réu”. 
Os pressupostos (requisitos) de validade (positivos) “são aqueles a que alude o 
texto da lei como de desenvolvimento válido e regular do processo. São 
requisitos que precisam estar preenchidos para que o processo seja válido. Sem 
eles (mas desde que presentes os pressupostos de existência), até existe uma 
relação jurídica processual, mas ela não se desenvolve validamente: o processo 
não está autorizado a gerar seus normais resultados (sentença de mérito, no 
processo de conhecimento; satisfação do direito, na execução). 
Os pressupostos (requisitos) de validade (negativos) são aqueles “que se situam 
fora da relação jurídica processual que se esteja analisando, por isso que são 
também chamados de pressupostos extrínsecos ou exteriores. Diferentemente 
dos pressupostos positivos, que estão vinculados aos sujeitos do processo, os 
pressupostos negativos caracterizam-se por sua objetividade. A presença desses 
pressupostos impede a resolução do mérito - tanto quanto a ausência dos 
anteriores também a impede (Luiz Rodrigues Wambier; Eduardo Talamini). 
Existem várias classificações doutrinárias quanto aos pressupostos processuais, 
algumas bastante conhecidas, como a de Galeno de Lacerda4. 
O gráfico abaixo demonstra a classificação proposta por Fredie Didier Jr., com base 
nas lições de José Orlando Rocha de Carvalho, o qual deve ser adotado com a seguinte 
observação: o autor inclui a legitimidade ad causam e o interesse de agir como 
pressuposto processual (e não como condições da ação), uma postura que não é 
adotada por grande parte da doutrina e também por esse professor que subscreve. 
 
 
4 Galeno Lacerda classifica os pressupostos processuais em subjetivos, objetivos, formais e extrínsecos à 
relação processual. São pressupostos subjetivos: a) concernentes ao juiz: ter jurisdição, ser competente para 
conhecer da ação e ser imparcial (inexistir causa de impedimento ou suspeição); b) concernentes às partes: 
personalidade judiciária (capacidade de ser parte), capacidade processual e representação por advogado. Já os 
pressupostos objetivos são a existência de um pedido, de uma causa de pedir, de nexo lógico entre ambos e a 
compatibilidade dos pedidos caso haja mais de um. Os pressupostos formais são aqueles que dizem respeito à 
forma dos atos processuais, e, por fim, entre os pressupostos extrínsecos temos o compromisso, a perempção, 
a caução, o depósito prévio das custas, a litispendência e a coisa julgada. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
0
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Pressupostos processuais5 
 
4.1) Breves comentários acerca dos pressupostos processuais em sua especificidade: 
 
Comentários acerca dos pressupostos de existência: 
• Órgão investido de jurisdição (juiz): para que um processo possa se constituir, isto 
é, vir a existir em termos jurídicos processuais, imprescindível a presença de um 
órgão investido de jurisdição, do poder de dizer o direito, aplicando o direito 
material ao caso concreto e solucionando, assim, o conflito. Trata-se da figura do 
juiz togado; cuida-se aqui de um pressuposto subjetivo;6 
• Capacidade de ser parte (parte): é “a personalidade judiciária: aptidão para, em 
tese, ser sujeito de uma relação jurídica processual (processo) ou assumir uma 
situação jurídica processual (autor, réu, assistente etc.). Dela são dotados todos 
aqueles que tenham personalidade civil - ou seja, aqueles que podem ser sujeitos de 
uma relação jurídica material”; trata-se de pressuposto subjetivo;7 
 
5 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Introdução ao Direito Processual Civil, Parte 
Geral e Processo de Conhecimento. 19. ed. Belo Horizonte, JusPODIVM, 2017, p. 353 e ss. Com pequenas 
alterações feita pelo professor. 
6 “Considerar-se-á inexistente o processo se a demanda for ajuizada perante não juiz e decisão prolatada por 
não juiz é uma não decisão, é apenas um simulacro a que não se pode emprestar qualquer eficácia jurídica”. 
7 “...pessoas naturais e as jurídicas -, como também o nascituro, o condomínio, o nondum conceptus,a 
sociedade de fato, sociedade não personificada e sociedade irregular (...) os entes formais (como o espólio, 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
1
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
• Existência de demanda: é ato de pedir, necessário para a instauração do processo. 
É o seu fato jurídico. Ao dirigir-se ao Poder Judiciário, o autor dá origem ao 
processo (CPC, art. 312). Note-se que “o processo existe sem réu; para ele, porém, 
só terá eficácia, somente poderá produzir alguma consequência jurídica, se for 
validamente citado”; trata-se de pressuposto objetivo. 
 
Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for 
protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos 
mencionados no art. 240 depois que for validamente citado. 
 
 
Fredie Didier Jr. explica que o “processo é um feixe de relações jurídicas,do 
ponto de vista da eficácia, e um procedimento, do ponto de vista da existência. 
Como em toda relação jurídica, impõe-se a coexistência de elementos subjetivos 
(sujeitos) e objetivos (fato jurídico e objeto). 
Os sujeitos principais do processo são as partes (autor e réu) e o Estado-juiz. 
Para que o processo exista, basta que alguém postule perante um órgão que 
esteja investido de jurisdição: a existência de um autor (sujeito que pratique o 
ato inaugural, que tenha personalidade judiciária) e de um órgão investido de 
jurisdição completa o elemento subjetivo do processo. O processo existe sem 
réu; para ele, porém, só terá eficácia, somente poderá produzir alguma 
consequência jurídica, se for validamente citado (art. 312 do CPC). 
Os elementos objetivos de uma relação jurídica são o fato jurídico e o objeto. O 
fato jurídico que instaura a relação jurídica processual é o ato inaugural (ato 
postulatório que introduz o objeto litigioso do processo) de alguém com 
personalidade judiciária perante órgão investido de jurisdição, conforme prevê o 
art. 312 do CPC. O objeto litigioso do processo é o objeto da prestação 
jurisdicional solicitada nesse ato, normalmente designado de demanda. 
Preenchidos esses elementos, o processo existe. 
 
 
 
 
 
massa falida, herança jacente etc.), as comunidades indígenas ou grupos tribais e os órgãos públicos 
(Ministério Público, PROCON, Tribunal de Contas etc.)”. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
2
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
Comentários acerca dos pressupostos (ou requisitos) de validade: 
 
• Competência (juízo) e imparcialidade (juiz): a competência do órgão jurisdicional 
(juízo) é requisito de validade do procedimento que este órgão eventualmente vier a 
conduzir e, por consequência, da decisão que vier a proferir.8 Assim, o órgão 
jurisdicional deve ter competência para apreciar determinada demanda que lhe é 
submetida; já a imparcialidade, igualmente requisito processual de validade, 
consiste na necessidade de que o juiz da causa seja desinteressado, isto é, que não 
tenha interesse e nem seja tendente a beneficiar ou estabelecer privilégios gratuitos 
a apenas uma das partes envolvidas no litígio9; tratam-se de pressupostos 
subjetivos; 
• Capacidade processual e postulatória (parte): a capacidade processual, também 
chama de capacidade de estar em juízo, é “a aptidão para praticar atos processuais 
independentemente de assistência ou representação (pais, tutor, curador etc.), 
pessoalmente, ou por pessoas indicadas pela lei, tais como o síndico, administrador 
judicial, inventariante etc. (CPC, art. 75).10 Por sua vez, a capacidade postulatória 
(ius postulandi) é a capacidade de postular (pedir, solicitar, requerer) um 
provimento jurisdicional, isto é, alguma providência para o Estado-juiz. Trata-se de 
uma capacidade técnica, sem a qual não é possível a realização válida de 
determinados atos processuais. Essa capacidade é obtida no momento em que a 
pessoa se faz representar por meio de um profissional que tem o exercício da 
advocacia como ato privativo, ou seja, pelo advogado (art. 3º, da Lei n. 8.906/94). 
 
 
8 A jurisdição é una e indivisível, sendo “exercida em todo o território nacional. Por questão de conveniência, 
especializam-se setores da função jurisdicional. Distribuem-se as causas pelos vários órgãos jurisdicionais, 
conforme as suas atribuições, que têm seus limites definidos em lei. Limites que lhes permitem o exercício da 
jurisdição. A jurisdição é una, porquanto manifestação do poder estatal. Entretanto, para que seja mais bem 
administrada, há de ser exercida por diversos órgãos distintos. A competência é exatamente o resultado de 
critérios para distribuir entre vários órgãos as atribuições relativas ao desempenho da jurisdição”. Falando de 
outro modo, a competência jurisdicional é uma técnica de distribuição de trabalho no âmbito do Poder 
Judiciário, bem como “o poder de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos por lei”. 
9 O “ato do juiz parcial é ato que pode ser invalidado. Há dois graus de parcialidade: o impedimento e a 
suspeição”, que serão estudados mais adiante. “A parcialidade é vício que não gera a extinção do processo: 
verificado o impedimento ou a suspeição do magistrado, os autos do processo devem ser remetidos ao seu 
substituto legal. Os atos decisórios praticados devem ser invalidados”. 
10 A capacidade processual “diz respeito à prática e a recepção eficazes de atos processuais, a começar pela 
petição e a citação, isto é, ao pedir e ao ser citado (...) pressupõe a capacidade de ser parte. É possível ter 
capacidade de ser parte e não ter capacidade processual; a recíproca, porém, não é verdadeira. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
3
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
• Respeito ao formalismo processual: a formalidade processual está consubstanciada 
no conjunto de regras que disciplinam a atividade processual. “Considera-se 
formalismo processual a totalidade formal do processo, ‘compreendendo não só a 
forma, ou as formalidades, mas especialmente a delimitação dos poderes, 
faculdades e deveres dos sujeitos processuais, coordenação da sua atividade, 
ordenação do procedimento e organização do processo, com vistas a que sejam 
atingidas as suas finalidades primordiais’”. A espinha dorsal do formalismo é o 
procedimento;11 trata-se de um pressuposto objetivo; 
 
Princípio da instrumentalidade das formas (CPC, arts. 188 e 277) 
O processo não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para o alcance de 
uma finalidade, que é a realização do direito material, por meio da prestação 
jurisdicional pleiteada. 
“A instrumentalidade do processo pauta-se na premissa de que o direito material 
coloca-se como o valor que deve presidir a criação, a interpretação e a aplicação 
das regras processuais. O processualista contemporâneo não pode ignorar isso”. 
Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, 
salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, 
realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. 
Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido 
o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade. 
• Inexistência de perempção, litispendência, coisa julgada e convenção de 
arbitragem: aqui estão o que a doutrina costuma denominar pressupostos 
processuais negativos, em razão de não poderem estar presentes no processo, sob 
pena prejudicar o seu desenvolvimento válido, isto é, são considerados negativos 
aqueles fatos que não podem ocorrer para que o procedimento se instaure e 
desenvolva validamente. A perempção está prevista no § 3º, do art. 486, do CPC e 
consiste no fato de o autor dar causa, por três vezes, à extinção do processo sem o 
julgamento do mérito em razão do abandono, situação em que não poderá propor 
nova ação contra o réu com o mesmo objeto; tratam-se de pressupostos objetivos; 
 
11 Embora o desrespeito ao formalismo possa implicar na invalidade do ato jurídico processual ou do 
procedimento, isso não importa imediatamente a extinção do processo (CPC, art. 485, IV). Nesse sentido, 
vale um alerta importante: “sempre deverá buscar-se o aproveitamento dos atos processuais ou a sanação do 
vício; somente se impossível a correção ou o aproveitamento é que o ato não deve ser aceito e, se for o caso, 
o processo ser extinto”. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
4
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
 
§ 3º Se o autor der causa, por 3(três) vezes, a sentença fundada em abandono da 
causa, não poderá propor nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-
lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito. 
 
4.2) Regime jurídico dos pressupostos processuais 
 
Os pressupostos de existência e de validade da relação processual caracterizam-se 
por um regime jurídico comum: 
• implicam a invalidade ou inexistência do processo como um todo, e não apenas 
de específicos atos processuais; 
• não sendo corrigido o defeito (há casos em que o defeito é corrigível, por 
exemplo, falta ou nulidade de citação, incapacidade de estar em juízo etc.; em 
outros, não, por exemplo litispendência, coisa julgada etc.), impõe-se a extinção do 
processo sem julgamento de seu mérito (CPC, art. 485, IV a VI); 
• trata-se de matéria a respeito da qual não ocorre preclusão, nem para as partes, 
nem para o juiz, podendo este se manifestar a respeito delas de ofício (ou seja, 
mesmo se provocação da parte interessada), a todo momento e em todo e qualquer 
grau de jurisdição (CPC, arts. 337, § 5º e 485, § 3º). 
A falta de pressuposto de existência implica a própria ausência do aperfeiçoamento 
da relação jurídica processual. Juridicamente não há processo (ao menos ele não existe em 
sua configuração plena, de relação trilateral, a única apta a produzir pronunciamentos 
eficazes contra qualquer das partes). A decisão que se proferir nesse processo, ao qual 
falta pressuposto de existência, será juridicamente inexistente, ou, conforme parte da 
doutrina, absolutamente ineficaz. 
Já a falta de pressuposto de validade (positivo ou negativo) implica nulidade do 
processo e da sentença nele proferida e, embora a sentença possa transitar em julgado e 
fazer coisa julgada, inclusive material, poderá ser desconstituída por meio da ação 
rescisória (CPC, art. 966 e ss.). 
 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
5
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
5) SUJEITOS DO PROCESSO 
 
Os principais sujeitos do processo são: o juiz (sujeito imparcial), autor e réu 
(sujeitos parciais). Há também diversos sujeitos secundários, como os auxiliares da justiça, 
as testemunhas, os peritos, os assistentes técnicos, os terceiros intervenientes, o Ministério 
Público e os advogados. 
 
5.1) O juiz 
 
O juiz é o agente estatal investido de jurisdição. 
Conforme o modelo de processo adotado pelo sistema processual em determinado 
ordenamento jurídico, o juiz possui participação mais ou menos ativa, bem como maiores 
ou menores poderes. Existem 2 modelos dignos de nota: 
a) o sistema adversarial (Common Law) cujas características são as seguintes: (i) 
um modelo liberal de processo; (ii) em que a condução do processo é feita pelas partes; e, 
(iii) em razão do respeito aos direitos e garantias fundamentais das partes, dentre os quais, 
a liberdade, o juiz tem poderes restritos. Ex.: possibilidade de negócios jurídicos 
processuais prevista expressamente em lei. 
b) o sistema inquisitorial (Civil Law) cujas características são as seguintes: (i) 
modelo social de processo; (ii) em que o juiz tem maiores poderes na condução do 
processo; e, (iii) na busca de uma solução correta para a demanda, atribui-se poderes 
maiores ao juiz, sem, contudo, comprometer sua imparcialidade. Ex.: determinação de 
produção de prova de ofício pelo magistrado. 
A tendência mundial é a adoção de um modelo que apresenta características dos 
dois sistemas (adversarial e inquisitorial). O Novo CPC segue esta perspectiva: ao mesmo 
tempo em que prestigia a vontade das partes, inclusive quanto ao gerenciamento do 
processo (admite-se a realização de negócio jurídico processual; fixação de calendário 
processual), atribui grandes poderes ao juiz tanto no gerenciamento do processo quanto na 
produção de provas. Ex.: juiz pode, de ofício, determinar a produção de provas. 
 
Poderes/deveres do juiz 
 
De acordo com o art. 139, do CPC, o juiz dirigirá o processo conforme as 
disposições previstas no Código, incumbindo-lhe: 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
6
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
I - assegurar às partes igualdade de tratamento; 
II - velar pela duração razoável do processo; 
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir 
postulações meramente protelatórias; 
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações 
que tenham por objeto prestação pecuniária; 
V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio 
de conciliadores e mediadores judiciais; 
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de 
prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à 
tutela do direito; 
 
A dilação de prazos somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo 
regular (ordinariamente previsto em lei). 
Ex.: pode acontecer do juiz, numa ação indenizatória, designar, em primeiro lugar, 
a audiência de instrução e julgamento, para apuração da culpa. E, numa autêntica inversão 
da sequência probatória, designar a perícia depois, a fim de quantificar os danos sofridos 
pela vítima, uma vez evidenciada a responsabilidade civil. Ou seja, o juiz, de uma só vez 
no exemplo dado, permitirá que a perícia seja designada apenas se imprescindível (prévio 
reconhecimento da culpa do agente) e que os valores sejam, desde já e independente de 
posterior liquidação, fixados na decisão final. 
VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial, 
além da segurança interna dos fóruns e tribunais; 
VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para 
inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso; 
Trata-se do interrogatório da parte. É um meio de prova, de caráter complementar, 
no qual o juiz ouve as partes, para delas obter esclarecimentos a respeito de fatos que 
permaneçam confusos ou obscuros. Não se confunde com o depoimento pessoal 
(requerido pela parte contrária; prestado na audiência de instrução e julgamento, e sobre o 
qual pode incidir a pena de confissão). 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
7
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
Interpretação da norma: A convocação das partes a qualquer tempo, para 
inquiri-las sobre os fatos da causa não se confunde com a convocação para 
prestar depoimento pessoal, na audiência de instrução e julgamento. Aquela 
providência serve para tentar retirar o magistrado do estado de perplexidade 
quanto a alguma questão controvertida, enquanto que esta se destina à obtenção 
da confissão. 
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros 
vícios processuais; 
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o 
Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a 
que se referem o art. 5ª da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), e o art. 82 da Lei nº 
8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), para, se for o caso, promover a propositura 
da ação coletiva respectiva. 
Existem outros poderes/deveres do juiz que estão espalhados ao longo do CPC e 
que serão estudados no momento oportuno. Ex.: poder do juiz de determinar, de ofício, a 
produção de uma determinada prova (CPC, art. 370). 
 
Vedação ao non liquet (dever de julgamento) 
O juiz não se exime de decidir sob alegação delacuna ou obscuridade do 
ordenamento jurídico. Neste caso, deve-se aplicar o disposto no art. 4º da Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro, o qual determina que, na hipótese 
de omissão, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os 
princípios gerais de direito. 
Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 
Impedimento e suspeição 
É justo ser julgado por um juiz parcial? Tendente a favorecer uma das partes? 
A imparcialidade do juiz é essencial à jurisdição, sendo, portanto, uma garantia do 
jurisdicionado em decorrência dos princípios do juiz natural e do devido processo legal 
(CRFB, art. 5º, XXXVII, LIII e LIV). 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
8
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
Art. 5º, XXXVII - Não haverá juízo ou tribunal de exceção. 
Art. 5º, LIII - Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade 
competente. 
Art. 5º, LIV - Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal. 
Em reforço a essa garantia, o CPC enuncia hipóteses em que o juiz da causa será 
considerado impedido ou suspeito (arts. 144, hipóteses de impedimento; e 145, hipóteses 
de suspeição). Falando de outro modo, ordenamento jurídico “elenca um conjunto de 
hipóteses em que o juiz não deve atuar no processo, por haver um obstáculo ou ao menos 
uma dúvida quanto à sua neutralidade e isenção”. 
 
Jurisprudência (STJ- REsp. 731.766/RJ): os impedimentos e as suspeições têm 
índole pessoal, provocando o afastamento da pessoa física do juiz, mas não 
deslocam a competência para outro órgão jurisdicional. 
O afastamento do juiz, nesses casos, é uma medida preventiva, que visa assegurar 
que ele se mantenha equidistante dos litigantes. 
No impedimento, a participação do juiz é vedada, porque é mais intensa ou mais 
direta a sua ligação com o processo, havendo um risco maior de perda da imparcialidade. 
“O impedimento do magistrado para atuar em determinado processo não decorre da sua 
incompetência processual ou técnica, mas da sua estreita ligação com o próprio 
processo”, razão pela qual se afirma que as hipóteses de impedimento previstas pelo CPC 
são sempre circunstâncias objetivas. 
Diferentemente do que se observou em relação às hipóteses de impedimento, as que 
se referem à suspeição do magistrado são marcadas pela ligação indireta do juiz com 
pessoas que tomam assento no processo, exigindo a investigação dos aspectos subjetivos 
do relacionamento, criando dificuldades no campo da prova. Por isso se afirma que as 
situações de suspeição constituem circunstâncias de caráter subjetivo. Nos casos de 
suspeição, conquanto conveniente que o juiz se afaste, o risco é menor, razão pela qual, 
ainda que presentes as hipóteses, se nenhuma das partes reclamar e o juiz de ofício não 
pedir a sua substituição, o processo será por ele julgado, sem que, com isso, se verifiquem 
nulidades processuais. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
1
9
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Impedimento e suspeição podem ser vistos como graus de parcialidade diferentes: 
(i) situações de impedimento implicam um maior grau de parcialidade; (ii) situações de 
suspeição implicam um grau menor de parcialidade. 
O impedimento pode ser alegado a qualquer tempo e em qualquer grau de 
jurisdição (causa de nulidade absoluta). Admite-se, inclusive, o ajuizamento de ação 
rescisória quando a decisão for preferida por juiz impedido (CPC, art. 966, II). 
 
 Impedimento 
 
Tratam-se de hipóteses em que há a presunção absoluta de parcialidade (vício 
processual mais grave). De acordo com o art. 144, do CPC, há impedimento do juiz, sendo-
lhe vedado exercer suas funções no processo: 
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou 
como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha. 
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; (esta 
previsão evita ferir também o princípio do duplo grau de jurisdição). 
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro 
do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou 
afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; 
 
TABELA DE PARENTESCO 
 
Fonte: Internet 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
0
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
 
CPC, art. 144, § 1º 
Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor 
público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o 
processo antes do início da atividade judicante do juiz. 
Marcus Vinicius Rios Gonçalves explica que, caso contrário, se o juiz estiver na 
condução do processo anteriormente, quem ficará impedido de participar dele 
será o advogado, o defensor público ou o membro do Ministério Público. Isso 
porque, sendo superveniente a atuação do cônjuge, companheiro ou parente, o 
caso pode redundar em “impedimento provocado”. 
CPC, art. 144, § 3º 
O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato 
conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros 
advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não 
intervenha diretamente no processo. 
A regra visa evitar a burla do impedimento: não se constitui expressamente o 
parente do juiz como advogado, mas contrata o escritório de que esse parente faz 
parte. 
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou 
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; 
A regra também protege o juiz, que pode não concordar com a tese defendida pelo 
ente familiar, mas estará liberado (porque impedido) de expor essa conclusão. 
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica 
parte no processo; 
Fredie Didier Jr. explica que a regra não se aplica no caso de o juiz ser mero 
acionista de uma sociedade anônima, sem qualquer poder de gestão ou sem maior 
participação societária. 
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das 
partes; (herdeiro presuntivo é o possível herdeiro, aquele que é tido como herdeiro 
enquanto não se apresenta outro com melhor direito à herança). 
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de 
emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; 
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, 
companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro 
grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; 
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
1
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Se o juiz é parte, em outro processo, e tem como adversário a parte do processo que 
está sob sua condução ou o advogado dessa parte, está impedido. Ex.: se o juiz, como 
consumidor, processar o Banco X, ele estará impedido de julgar todas as demais ações que 
envolvam a referida instituição financeira. 
 
CPC, art. 147 (mais uma hipótese de impedimento) 
Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta 
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, o primeiro que conhecer do processo 
impedeque o outro nele atue, caso em que o segundo se escusará, remetendo os autos 
ao seu substituto legal. 
O art. 128 da LOMAN dispõe que: “Nos Tribunais, não poderão ter assento na mesma 
Turma, Câmara ou Seção, cônjuges e parentes consanguíneos ou afins em linha reta, 
bem como em linha colateral até o terceiro grau. Parágrafo único. Nas sessões do 
Tribunal Pleno ou órgão que o substituir, onde houver, o primeiro dos membros 
mutuamente impedidos, que votar, excluirá a participação do outro no julgamento.” 
Parcela da doutrina entende que o ditame legal em questão é imperativo e de 
aplicação ampla, de modo que deve ser respeitado mesmo em diferentes fases, em 
diferentes graus de jurisdição e até mesmo em processos de natureza administrativa, 
fixando-se a regra de que o primeiro juiz que atuar implicará o impedimento automático do 
segundo. 
 
Suspeição 
 
Tratam-se de hipóteses em que há uma presunção relativa de parcialidade (vício 
processual menos grave). 
 
Jurisprudência (STJ – Resp. 1.425.791/MT): o STJ tem optado por interpretar 
restritivamente as hipóteses de suspeição. 
De acordo com o art. 145, do CPC, há suspeição do juiz: 
I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; 
“A simples amizade ou animosidade do magistrado com uma das partes ou com o 
seu advogado não o torna suspeito, pelo fato de a norma se referir à amizade íntima e à 
inimizade, por exemplo, pelo fato de o magistrado ser padrinho de batismo do filho da 
parte ou do seu advogado, ou padrinho de casamento da parte; de frequentar a residência 
desta, bem assim de ser inimiga processual da parte ou do seu advogado em determinado 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
2
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
processo; de ter se divorciado da parte ou do seu advogado através de processo litigioso, 
com imputações de adultério, de agressões físicas; de ter integrado sociedade comercial 
com a parte ou com o seu advogado, na condição de sócios, desfeita através de processo 
litigioso etc.” (Misael Montenegro Filho) 
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois 
de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que 
subministrar meios para atender às despesas do litígio; 
Fredie Didier Jr. explica que não se considera suspeito o juiz, com base nesse 
artigo, que, na qualidade de doutrinador ou professor, manifesta-se em tese sobre questão 
jurídica, sem referência a uma situação concreta. 
“Por aconselhamento, devemos entender o contato de qualquer natureza havido 
entre o magistrado e a parte, no qual aquele fez referências à possibilidade do ajuizamento 
da ação judicial e estimulou a parte a fazê-lo, estimando as probabilidades de êxito. O 
aconselhamento não ocorre quando o magistrado estimula o encerramento do processo na 
audiência de tentativa de conciliação, demonstrando às partes como o caso vem sendo 
julgado pelas instâncias superiores”. 
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou 
companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; 
“A relação de crédito e de débito retira a necessária isenção que se espera na 
atuação do magistrado, influenciando-o a pender em favor da parte com a qual mantém a 
relação, para que esta, beneficiada pela sentença, possa solver a obrigação, ou 
contemporizar o débito”. 
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes. 
 
 
CPC, art. 145, § 1º (suspeição por foro íntimo) 
Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade 
de declarar suas razões. Ex.: a autora é amante do juiz (hehe ). 
CNJ – Resolução 82/2009: no caso de suspeição por foro íntimo, o magistrado 
deve enviar as razões por ofício reservado à corregedoria, para fins de correição 
(tema polêmico). A Resolução 82/2009 foi cancelada pelo CNJ em 2016, em 
virtude da entrada em vigor do CPC, que, ao contrário do CPC/73, aduz 
expressamente que não há a necessidade de o magistrado declarar a suas razões 
quando declarar-se suspeito por razões de foro íntimo. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
3
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
Impedimento ou suspeição provocados 
 
De acordo com o art. 144, § 1º, do CPC, é vedada a criação de fato superveniente a 
fim de caracterizar o impedimento do juiz. 
Ex.: provocar o impedimento contratando advogado que é filho do magistrado. 
Ademais, preconiza o art. 145, § 2º, do CPC, que será ilegítima a alegação de 
suspeição quando: 
a) Houver sido provocada por quem a alega (ex.: atacar o juiz para cavar a 
suspeição; 
b) A parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do 
arguido (ex.: a parte, que sabia da suspeição do magistrado durante todo o processo, mas 
deixa para alegá-la somente em caso de derrota). 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
4
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
Procedimento (CPC, art. 146) 
 
No prazo de 15 dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o 
impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual 
indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a 
alegação e com rol de testemunhas. Isso somente ocorrerá se o juiz não tiver reconhecido o 
impedimento/suspeição de ofício. Importante ressaltar que o impedimento, ao contrário da 
suspeição, não está sujeito à preclusão. 
 
Exceção de suspeição é poder especial do advogado? 
Fredie Didier Jr. aponta que há intensa controvérsia. Entende-se que não, pois o 
elenco de poderes especiais estaria estabelecido no art. 105, do CPC. Tem 
decisão do STJ para os dois lados (REsp. 173.390/MT e REsp. 1.233.727/SP). É 
aconselhável que o advogado peça procuração com poder específico de arguir a 
suspeição do magistrado, pois, além de consequências criminais que podem 
advir de tal conduta em desfavor da parte, quem julgará a causa, se a arguição 
for rejeitada, é o mesmo juiz anteriormente acusado de estar peitado. 
Recebida a petição, o juiz terá duas opções: (i) reconhecer o impedimento ou a 
suspeição e ordenar, imediatamente, a remessa dos autos ao seu substituto legal; (ii) caso 
contrário, determinar a autuação em apartado da petição e, no prazo de 15 dias, apresentar 
suas razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se houver, ordenando a 
remessa do incidente ao Tribunal. 
 
Humberto Theodoro Jr. afirma que se em vez de remeter o caso ao Tribunal, o 
juiz a quo resolve indeferir a impugnação liminarmente, caberá mandado de 
segurança “para a cassação tanto daquele indeferimento liminar como dos atos 
praticados no período da suspensão desencadeado pela oposição da exceção”, 
mesmo porque o CPC não prevê recurso para a espécie. 
No Tribunal, distribuído o incidente, o relator deverá declarar os efeitos em que o 
mesmo é recebido: (i) sem efeito suspensivo, o processo voltará a correr, enquanto o 
incidente não é julgado; (ii) com efeito suspensivo, o processo permanecerá suspenso até o 
julgamento do incidente. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
5
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
A propósito, enquanto não for declarado o efeito em que é recebido o incidente ou 
quando este for recebido com efeito suspensivo, eventual tutela de urgência deverá ser 
requerida ao substitutolegal. 
O Tribunal, ao julgar o incidente, poderá: 
a) rejeitar a alegação, quando esta for improcedente. 
b) acolher a alegação. Neste caso, o tribunal deve ainda: (i) tratando-se de 
impedimento ou manifesta suspeição, condenar o juiz nas custas e remeter os autos ao seu 
substituto legal, podendo o juiz recorrer da decisão; (ii) fixar o momento a partir do qual o 
juiz não poderia ter atuado; (iii) decretar a nulidade dos atos do juiz, se praticados quando 
já presente o motivo de impedimento ou de suspeição. 
 
Fredie Didier Jr. explica que do acórdão que julgar o incidente, somente são cabíveis os 
recursos extraordinários (especial para o STJ e extraordinário para o STF). Destaca 
ainda que o magistrado tem capacidade postulatória para fazer a sua defesa no 
incidente, não precisando de advogado. Para Nelson Nery Jr. e Rosa Nery, essa 
capacidade postulatória o habilita, inclusive, a subscrever recursos para o STJ e STF, 
caso seja derrotado no julgamento da exceção, sem a necessidade de representação 
judicial por advogado. Não se encampa esse último posicionamento, pela falta de 
amparo legal, tendo em vista que a capacidade concedida ao magistrado foi apenas a de 
elaborar a sua defesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
6
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
FLUXOGRAMA DO PROCEDIMENTO 
 
 
FONTE: THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Direito Processual 
Civil, Processo de Conhecimento e Procedimento Comum. 59. ed. São Paulo: Forense, 2018, Vol. 1. 
 
Impedimento ou suspeição de outros sujeitos processuais 
 
De acordo com o art. 148, do CPC, aplicam-se os motivos de impedimento e de 
suspeição: (i) aos membros do Ministério Público; (ii) aos auxiliares da justiça (ex.: perito, 
escrivão, intérprete etc.); (iii) aos demais sujeitos imparciais do processo. Deixa em aberto, 
caso haja o surgimento de novos auxiliares da justiça. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
7
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Neste caso, quanto ao procedimento, a parte interessada deverá arguir o 
impedimento ou a suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na 
primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos. Logo em seguida, o juiz mandará 
processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o arguido no 
prazo de 15 (quinze) dias e facultando a produção de prova, quando necessária. Ao final, o 
próprio magistrado deverá julgar o incidente. 
 
CPC, art. 148, § 3º. Nos tribunais, a arguição a que se refere o § 1º (impedimento 
ou suspeição) será disciplinada pelo regimento interno. 
CPC, art. 148, § 4º. Tal procedimento não se aplica à arguição de impedimento 
ou suspeição da testemunha (regulamento próprio para a contradita). 
 
5.2) Partes 
Autor e réu são as partes principais da demanda. O autor é o sujeito que formula 
sua pretensão em juízo, requerendo a tutela jurisdicional; já o réu é aquele contra o qual tal 
providência é pedida. 
 
Wambier e Talamini explicam que “denominam-se partes os chamados sujeitos 
parciais do processo - autor e réu - que são, respectivamente, aquele que formula 
pedido em juízo, mediante o exercício da ação, e aquele em face de quem se 
pede a tutela jurisdicional”. 
Lembrando que para ser parte em um processo são necessárias duas espécies de 
capacidade, além da postulatória (adquirida com a representação por advogado): 
a) a capacidade de ser parte: o art. 1º do Código Civil prevê que toda pessoa é 
capaz de direitos e deveres na ordem civil. Isso quer dizer que todo ser humano é dotado de 
personalidade jurídica e pode ser titular de relação jurídica, como credor (em sentido 
amplo) ou como devedor de determinada obrigação. Nesse plano situa-se a capacidade de 
ser parte (ser autor ou ser réu); 
b) a capacidade de estar em juízo: é a capacidade para estar em juízo formulando 
pedido ou sendo demandado. Aqui não basta que a parte seja capaz de ter direitos e 
assumir obrigações. É preciso mais. É preciso que exista também a capacidade de fato, ou 
capacidade de exercício, que se consubstancia na aptidão para a prática dos atos 
decorrentes da capacidade de direito (CPC, art. 70). Neste sentido, têm capacidade de fato, 
ou de exercício, aqueles que podem, por si mesmos, praticar os atos da vida civil. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
8
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
 
CPC, art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem 
capacidade para estar em juízo. 
CPC, art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou 
por curador, na forma da lei. 
 
LITISCONSÓRCIO 
 
O litisconsórcio é a existência de duas ou mais pessoas na posição de demandantes 
e/ou demandados no âmbito de um determinado processo. 
 
Classificação 
 
O litisconsórcio pode ser classificado de acordo com vários critérios, a saber: (i) 
quanto ao polo, (ii) quanto ao momento, (iii) quanto ao regime e (iv) quanto a 
obrigatoriedade. 
Quanto ao polo o litisconsórcio pode ser ativo ou passivo. A pluralidade de partes 
no polo ativo é chamada litisconsórcio ativo, enquanto no polo passivo é denominada 
litisconsórcio passivo; em ambos os polos, será considerado misto. 
Ex.: litisconsórcio ativo – vários servidores contra o Estado. 
Ex.: litisconsórcio passivo – devedores solidários; usucapião; ação possessória 
(vários invasores) 
Ex.: litisconsórcio misto – ação reivindicatória movida por marido e mulher contra 
os atuais possuidores do imóvel (marido e mulher) 
Quanto ao momento o litisconsórcio pode ser inicial ou ulterior. Há litisconsórcio 
inicial quando formado já na propositura da ação, ao passo que haverá litisconsórcio 
ulterior quando formado durante o trâmite do processo. 
Ex.: litisconsórcio inicial – ação de servidores contra o Estado. 
Ex.: litisconsórcio ulterior – intervenção de terceiros (denunciação da lide); uma 
das partes morre e é sucedida por seus herdeiros. 
Observação importante: art. 118, do CPC. 
 
CPC, art. 118. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do 
processo, e todos devem ser intimados dos respectivos atos. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
2
9
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Quanto ao regime de tratamento, o litisconsórcio pode ser simples ou unitário. 
No litisconsórcio simples, as relações jurídicas materiais com o adversário são 
autônomas entre si. A sentença pode tratar de forma diferente cada litisconsorte. 
Ex.: ação movida contra devedores solidários; ação de usucapião (aquele em cujo 
nome o imóvel está registrado, os vizinhos – confinantes e terceiros interessados). 
Como regra, a atuação de um litisconsorte não beneficia nem prejudica os demais 
(CPC, art. 117). 
 
Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte 
adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que 
os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão 
beneficiar. 
Não beneficia e nem prejudica, pelo menos em regra. 
Segundo Marcus Vinícius Rios Gonçalves, é indispensável examinar o conteúdo do 
ato processual praticado. 
Imagine-se, por exemplo, que a vítima de um acidente de trânsito ajuíze uma 
demanda com pedido indenizatório, em face da pessoa que dirigia o veículo causador do 
fato e daquela que figura no departamento de trânsito comoproprietária. 
Haverá um litisconsórcio simples, pois a sentença pode ser diferente (ex.: se a 
pessoa tida por proprietária demonstra que, na data do acidente, já havia vendido o veículo, 
a sentença para ela será de improcedência, ao passo que, para a pessoa que dirigia o 
veículo, a sentença pode ser de procedência). 
Os réus são citados, e só a pessoa cujo nome figura no departamento de trânsito 
apresenta contestação, alegando que na data do acidente já tinha alienado o veículo e feito 
a entrega (o que transfere propriedade de bens móveis no Brasil é a tradição). 
Se tal alegação for acolhida, a pessoa que dirigia o veículo e permaneceu revel não 
será beneficiada, porque a defesa tem cunho pessoal, específico, particular: diz respeito tão 
somente a quem é atribuída a propriedade. Ainda que o motorista tivesse contestado, não 
poderia ter suscitado, em sua defesa, a mesma questão, porque esta não lhe diz respeito. 
Imaginemos a mesma situação, supondo, porém, que a pessoa tida por proprietária 
conteste alegando culpa exclusiva da vítima ou inexistência de dano. 
Se tal defesa for acolhida, acabará beneficiando também o corréu que dirigia. É que 
a defesa é comum, geral, poderia ter sido invocada também pelo corréu, se ele tivesse 
contestado. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
3
0
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Não é possível que o juiz, na mesma sentença, reconheça a culpa exclusiva da 
vítima ou a inexistência de dano e condene o corréu a indenizar, só porque ele não 
contestou. Se isso ocorresse, a sentença padeceria de grave incoerência. 
 
Portanto, se o litisconsórcio é simples, embora em princípio o regime seja o da 
autonomia, é indispensável verificar o que está sendo alegado: se for tema 
comum, o ato praticado por um dos litisconsortes acabará beneficiando os 
demais; se for específico, apenas aquele que o praticou. 
Já no litisconsórcio unitário, a natureza da relação jurídica (una e incindível) 
obriga o juiz a decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes (CPC, art. 
116). 
Ex.: ação de anulação de casamento promovida pelo MP contra os cônjuges; ação 
de investigação de paternidade de pai falecido contra todos os filhos reconhecidos. 
Ex.: ação de dissolução e liquidação de sociedade comercial, em que o art. 601 
determina a citação da pessoa jurídica e de todos os sócios. Tem que citar todos, pois a 
dissolução da sociedade afetará a todos, não podendo a empresa ser dissolvida para uns, 
sem que o seja para os outros. 
No litisconsórcio unitário, os atos e omissões de um litisconsorte poderão 
beneficiar dos demais, porém, jamais poderão prejudica-los (CPC, art. 117). Assim, por 
exemplo, a contestação de um aproveita os demais (CPC, art. 345, I); o recurso interposto 
por um aproveita aos demais (CPC, art. 1.005). Por outro lado, a renúncia, a confissão e o 
reconhecimento jurídico do pedido realizado por um dos litisconsortes não poderá 
prejudicar os demais. 
Na doutrina, Marcus Vinícius Rios Gonçalves afirma que é preciso levar em conta 
o tipo de ato que é praticado pelo litisconsorte. Há aqueles que são benéficos ou vantajosos 
para quem os pratica. A contestação ou recurso, por exemplo. Também há os que são 
praticados em detrimento dos próprios interesses, como a confissão, a renúncia, o 
reconhecimento jurídico do pedido, entre outros. 
Se o ato praticado por um litisconsorte unitário é vantajoso, todos os litisconsortes 
serão beneficiados: se só um contestou, e a tese apresentada na resposta foi acolhida, todos 
serão favorecidos; se apenas um recorrer, e o recurso for provido, haverá a reforma da 
decisão em favor de todos. Mas se o ato praticado pelo litisconsorte não for dessa natureza, 
mas desfavorável aos seus interesses, não é possível que os demais sejam prejudicados. 
Não seria justo nem razoável que o fossem por atos que não praticaram. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
3
1
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
No litisconsórcio unitário, o processo versa sobre uma relação jurídica única e 
indivisível, com mais de um titular. Ora, se só um confessar algo, ou renunciar, isso não 
poderá afetar os demais. Se o resultado há de ser o mesmo para todos, porque a relação é 
una e incindível, aquilo que não pode prejudicar os demais não poderá prejudicar nem 
mesmo o autor do ato desvantajoso. Afinal, se prejudicasse uns e não outros, o resultado 
acabaria sendo diferente. Portanto, o ato desvantajoso que não seja praticado por todos será 
absolutamente ineficaz e deverá ser desconsiderado pelo juiz, na decisão. 
 
Em síntese, no litisconsórcio unitário, ou o ato praticado por um ou alguns se 
estenderá para todos ou não valerá para ninguém, nem mesmo para quem o 
praticou. Valerá para todos, se for benéfico, favorável aos interesses dos 
litisconsortes, e não valerá para ninguém, se for prejudicial. Esse é o regime da 
unitariedade. 
 
PARA MEMORIZAR 
LITISCONSÓRCIO SIMPLES UNITÁRIO 
REGRA 
Em princípio, como a 
sentença pode ser diferente 
para os litisconsortes, o 
regime é o da autonomia ou 
independência: os atos 
praticados por um não 
beneficiam os demais. 
Como no litisconsórcio 
unitário discute-se no 
processo uma relação jurídica 
una e incindível, tendo o 
resultado de ser o mesmo para 
todos, os atos praticados por 
um dos litisconsortes 
beneficiam a todos. 
PARTICULARIDADES 
Apesar da autonomia, é 
preciso verificar qual o teor 
do ato praticado, para 
verificar qual o tipo de 
alegação foi feita pelo 
litisconsorte, pois, se for 
comum, do interesse geral, 
acabará beneficiando 
também os demais, já que 
não se pode acolher 
matérias comuns em 
relação a uns e não a outros, 
sob pena de a sentença ficar 
incoerente. 
É preciso distinguir que tipo 
de ato foi realizado pelo 
litisconsorte unitário. Se foi 
vantajoso, perpetrado em 
defesa dos próprios 
interessados, como a 
apresentação de resposta ou 
recurso, todos serão 
beneficiados. Mas se praticado 
em detrimento dos próprios 
interesses, como a confissão, a 
renúncia ou o reconhecimento 
do pedido, o ato será ineficaz, 
não prejudicando nem mesmo 
quem o praticou. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
3
2
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Quanto a obrigatoriedade, o litisconsórcio pode ser necessário ou facultativo. 
Litisconsórcio necessário é aquele cuja formação é obrigatória (CPC, art. 114). O 
litisconsórcio será necessário em duas hipóteses: 
1) quando a relação jurídica discutida nos autos é una, incindível e com vários 
titulares (necessário e unitário); 
Ex.: ação de anulação de casamento por bigamia promovida pelo MP. 
2) quando houver determinação legal expressa. 
Ex.: ação de usucapião: o autor deve citar, obrigatoriamente aquele em cujo nome o 
imóvel está registrado, todos os vizinhos (confinantes) do imóvel e terceiros interessados 
(CPC, art. 246, § 3º) (necessário por disposição legal e simples). 
Ex.: ação de dissolução e liquidação de sociedade comercial, em que o art. 601 
determina a citação da pessoa jurídica e de todos os sócios. Tem que citar todos, pois a 
dissolução da sociedade afetará a todos, não podendo a empresa ser dissolvida para uns, 
sem que o seja para os outros (necessário por disposição legal e unitário). 
 SIMPLES UNITÁRIO 
LITISCONSÓRCIO 
NECESSÁRIO 
O litisconsórcio será 
necessário e simples quando 
for necessário exclusivamente 
por força de lei, sem que no 
processo se discutam relações 
jurídicas unas e indivisíveis. 
Exemplo: ação de usucapião. 
O litisconsórcioserá necessário 
e unitário quando o processo 
versar sobre relação una, 
incindível e com vários titulares, 
caso em que todos terão de 
participar, e o resultado terá de 
ser o mesmo para todos. 
Na doutrina, Marcus Vinícius Rios Gonçalves explica as consequências da 
ausência, no processo, de um litisconsorte necessário. 
Enquanto o processo está em curso, verificando o juiz que há um litisconsorte 
necessário ausente, mandará incluí-lo. Se o processo estiver em fase avançada, tal 
determinação implicará a nulidade de todos os atos processuais até então praticados, sem a 
participação do litisconsorte necessário. Pode ocorrer que seja proferida sentença ou 
decisão interlocutória de mérito, e que transite em julgado, embora algum deles tenha 
estado ausente. Nesse caso, a solução é dada pelo art. 115, I e II, do CPC: a decisão será 
nula, quando deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o 
processo, ou ineficaz, nos outros casos, apenas em relação a todos os que não foram 
citados. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
3
3
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Em síntese, será preciso verificar se o litisconsórcio necessário em que um dos 
litisconsortes faltou era unitário ou simples. Se unitário, a falta de um implicará a nulidade 
da decisão para todos, já que não pode haver desfechos diferentes para eles, pois a lide é 
única. Se o litisconsórcio necessário era simples, a sentença será ineficaz para os que não 
foram citados, mas válida para os que foram citados no processo. 
 
CPC, art. 115. Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz 
determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro 
do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo. 
Na doutrina, Marcus Vinícius Rios Gonçalves explica que há complicações maiores 
no caso do litisconsórcio necessário ativo. Para que ele se forme voluntariamente, é 
indispensável que todos estejam dispostos a demandar, a propor a ação, caso em que 
bastará que se agrupem e proponham a demanda em conjunto, com o que estará satisfeita a 
exigência do litisconsórcio necessário. 
O problema surgirá se um deles não estiver disposto a acompanhar os demais, seja 
porque não quer ingressar em juízo, seja porque não está disposto a arcar com as custas e 
despesas do processo, seja especialmente porque acha que os demais litisconsortes ativos 
não têm razão, e que a demanda a ser proposta está fadada ao insucesso. Ocorre que, sendo 
o litisconsórcio necessário, o juiz só pode receber a petição inicial se todos estiverem 
integrando o polo ativo. 
Surgem, então, importantes divergências doutrinárias a respeito do tema, que 
podem ser resumidas em duas correntes fundamentais: 
a) a dos que entendem que, como ninguém é obrigado a demandar contra a vontade, 
não existe mecanismo para forçar o que não deseja ir a juízo; se um dos litisconsortes 
necessários não quiser fazê-lo, a demanda estará inviabilizada, ainda que todos os demais 
estejam dispostos. Essa corrente prestigia o princípio da liberdade de demandar; 
b) a dos que entendem que se deve prestigiar o direito de acesso à justiça, ainda que 
em detrimento da liberdade de demandar. Para essa corrente, é possível compelir o autor a 
participar da demanda, ainda que contra a vontade. Mas apresenta-se de imediato um 
problema prático: como obrigar aquele que não quer a ingressar em juízo contra a vontade? 
Para os defensores dessa corrente, só haveria uma maneira: solicitar ao juiz que determine 
a citação do litisconsorte ativo renitente, para que passe a integrar o processo. Ele, 
comparecendo ou não, assumiria a condição de parte, satisfazendo-se com isso a exigência 
do litisconsórcio necessário. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
3
4
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
A maioria dos defensores dessa corrente entende que citado, o litisconsorte ativo 
poderá optar entre figurar no polo ativo, partilhando dos interesses dos demais 
litisconsortes, ou no polo passivo, quando não estiver de acordo com o postulado por eles. 
Afinal, a exigência de participação estaria satisfeita tanto se o litisconsorte estiver no polo 
ativo quanto no passivo. 
Um exemplo prático ajuda a ilustrar as questões aqui suscitadas. Imagine-se que 
duas pessoas adquiram, conjuntamente, um bem indivisível, que tenha um defeito oculto. 
O direito material autoriza o adquirente da coisa defeituosa a postular a resolução do 
contrato (ação redibitória) ou o abatimento no preço (quanti minoris). 
Imagine-se que um dos adquirentes não queira mais a coisa, por causa do defeito, e 
decida resolver o contrato, ajuizando ação redibitória. 
Como são dois os compradores, seria necessário que a ação fosse proposta por 
ambos, em face do vendedor. Não é possível que seja proposta por um deles, sem o outro. 
Se ambos estiverem de acordo com a resolução, bastará que ajuízem juntos a 
demanda. Mais complicado será se um quiser propor a demanda e o outro não. Para os 
defensores da segunda corrente, o comprador que não queira mais a coisa ajuizará a ação e 
pedirá ao juízo que, antes de mandar citar o réu, mande citar o litisconsorte necessário, o 
outro comprador, cabendo a este assumir uma de duas posições possíveis. Poderá compor o 
polo ativo, uma vez que pode querer também a resolução do contrato (caso em que poderá 
aditar a inicial, de cuja elaboração não participou, para sanar algum vício ou afastar alguma 
deficiência que ela contenha), ou participar do polo passivo, se não quiser a resolução, seja 
porque entende que a coisa não tem vício nenhum, seja porque não quer resolver o 
contrato, mas postular, por exemplo, o abatimento no preço. Se optar pelo polo passivo, 
poderá apresentar contestação. A exigência do litisconsórcio necessário terá sido 
respeitada, porque todos os litisconsortes estarão no processo, ainda que não no mesmo 
polo. 
Pode, ainda, haver a possibilidade de o litisconsorte necessário citado não 
comparecer, nem para figurar no polo ativo, nem no passivo. Ainda assim a exigência 
estará satisfeita, porque basta a citação do ausente, não sendo indispensável que ele 
efetivamente compareça. Nesse caso, o ausente sofrerá os efeitos da sentença, mas não 
responderá pelas verbas de sucumbência, já que não participou. 
Para o autor, parece que a segunda corrente satisfaz melhor a garantia do acesso de 
todos à justiça, não sendo razoável que o daqueles que queiram demandar possa ficar 
obstado, às vezes, por mero capricho. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Luciano Meneguetti – fev. 2021 
________________________________________________________________________________ 
P
ág
in
a 
3
5
 -
 U
n
iT
o
le
d
o
 
Se o litisconsorte necessário ativo ausente não puder ser localizado, far-se-á a sua 
citação por edital. Não havendo comparecimento, será indispensável a nomeação de 
curador especial, que defenda os seus interesses. Ainda que se trate de litisconsórcio ativo, 
tal nomeação se faz necessária, pois a citação foi ficta e o citando sofrerá os efeitos do 
processo. 
Por sua vez, o litisconsórcio facultativo é aquele de formação não obrigatória e 
decorrente de opção do autor pela propositura da ação com pluralidade de partes ao invés 
de propor demandas isoladas. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em 
conjunto, ativa ou passivamente, quando (CPC, art. 113): 
1) entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; 
Ex.: solidariedade ativa/passiva. 
2) entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; 
Ex.: ação de cobrança de aluguéis contra inquilino e fiador

Outros materiais