Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RUA DR. MARIO FERRAZ, 414, JD. PAULISTANO CEP: 01453-011 SÃO PAULO-SP Tel.: 3707 8900 WWW.CASADOSABER.COM.BR 1 DANTE ALIGHIERI 10/11/2009 Notícia biográfica Dante Alighieri nasceu entre 21 e 31 de maio de 1265 em uma família da nobreza urbana de Florença, filho de Alighiero, filho de Bellincione, e de uma Bella, de sobrenome desconhecido. O trisavô de Dante, Cacciaguida, morreu na Segunda Cruzada, em 1147. Dante ficou órfão de mãe aos 6 anos; seu pai se casou novamente com Lapa, com quem teve dois filhos. Morreu quando Dante tinha 12 anos. Dante foi casado com Gemma Donati, com quem teve 3 filhos; nada diz da esposa em sua poesia. Sabe-se que estudou retórica com Brunetto Latini, humanista florentino, que está no Inferno, condenado pelo pecado de sodomia. Florença não tinha universidade e Dante certamente estudou teologia com os dominicanos de Santa Maria Novella e os franciscanos de Santa Croce. Florença então é uma república. Com cerca de 90.000 habitantes, uma das mais importantes cidades do norte da Itália por causa das suas 300 fábricas de tecidos, sua atividade mercantil e bancos. Está empenhada na expansão territorial e no desenvolvimento econômico que Dante condena, no Canto 16 do Paraíso, como as causas principais dos conflitos que a dividem. No seu tempo, dois partidos políticos disputam o poder, os guelfos, partidários do Papa, e os gibelinos, partidários do Imperador do Sacro Império. (Os termos güibelino e güelfo surgem no século XII, na circunstância das lutas entre os partidários da Casa de Hohenstaufen, a quem pertencia o castelo de Weiblingen (do qual deriva o termo guibelino/gibelino), e os partidários da Saxônia, apoiados pelo Papa, que tinham sede no ducado de Welf (donde deriva o termo güelfo/guelfo). A origem dos dois partidos nas cidades italianas costuma ser associada à política do Imperador Frederico Barbarossa. Os partidos surgiram nas lutas entre os Comuns e o Papa sustentado pelos guelfos, de um lado, e o Imperador apoiado pelos gibelinos e os grandes senhores feudais, de outro. Em 1260, os guelfos foram expulsos de Florença pelos gibelinos, mas não o pai de Dante; no fato alguns historiadores viram a pouca importância da sua família. Aos 18 anos, ficou amigo do poeta Guido Cavalcanti, da antiga nobreza florentina, um dos principais poetas italianos desse tempo, que seguia o dolce stil nuovo de outro poeta, Guido Guinizelli. Em 1289, com 24 anos, Dante participou como cavaleiro das guerras da Commune, a comuna de Florença, em que os gibelinos toscanos foram derrotados. Para participar da vida política de Florença, era preciso ser membro de uma das corporações ou artes; como Dante era nobre e não trabalhava manualmente, participou dos negócios da cidade como membro da Arte dos Médicos e Boticários. Depois de 1295, participou na administração da cidade como membro do Conselho dos Cem e embaixador em San Gimignano. Entre 15 de junho e 15 de agosto de 1300, foi um dos seis priori ou membros do conselho, o órgão máximo do governo de Florença. Nesse tempo, os guelfos estavam divididos em 2 facções inimigas, os Neri, Negros, fiéis a Roma, chefiados por Corso Donati, e os Bianchi, Brancos, também anti-imperiais, mas RUA DR. MARIO FERRAZ, 414, JD. PAULISTANO CEP: 01453-011 SÃO PAULO-SP Tel.: 3707 8900 WWW.CASADOSABER.COM.BR 2 resistentes à hegemonia do Papa, chefiados por Vieri dei Cerchi. Dante pertencia aos Bianchi. O Papa Bonifácio VIII aparenta querer unir as facções guelfas, mas efetivamente tem um pacto secreto com os nobres Neri, que pretendem destruir a comuna popular de Florença. Por volta de 1300, o pacto é do conhecimento de todos. Em 7 de maio de 1300, quando o partido dos Bianchi está no poder, a Signoria da cidade envia Dante como embaixador a San Gimignano, para consolidar a liga guelfa na luta do Papa contra os Aldobrandeschi de Santa Fiora. Entre 15 de junho e 15 de agosto de 1300, Dante foi um dos seis priori, membros do Conselho, o órgão máximo do governo de Florença. Em junho de 1300, depois que os cônsules das guildas (corporações) foram atacados pelos nobres Neri, os priori do Conselho exilaram homens dos dois partidos, tentando manter a paz na cidade. Entre os exilados, estava o poeta Guido Cavalcanti, amigo de Dante. Ainda em junho de 1300, o Papa Bonifácio VIII envia o cardeal d’Aquasparta com a missão oficial de pacificar a cidade. Efetivamente, o cardeal é mandado para apoiar os Neri contra os Bianchi. Sua missão falha e o Papa chama Charles de Valois, irmão do rei da França, Felipe o Belo, para invadir a Toscana. Em 1301, Dante se posiciona à frente dos Bianchi contra o Papa e os franceses. Em outubro de 1301, quando o exército francês de Charles de Valois já está às portas de Florença, os Bianchi enviam embaixadores ao Papa, Dante entre eles, tentando conciliação. O Papa o detém, enquanto os Neri ocupam Florença com o auxílio das tropas francesas. Em outubro de 1301, Dante se exila. Em 1º. de novembro de 1301, Charles de Valois invade a cidade e os Neri voltam do exílio, seguindo-se violências contra os Bianchi. Muitos são assassinados ou têm suas propriedades arrasadas. Os Neri no poder reconhecem oficialmente a autoridade do Papa e os Bianchi são acusados de gibelinismo, traição e fraude nos negócios públicos. Em 27 de janeiro de 1302, Cante Gabrielli da Gubbio, nomeado pelos Neri podestà, chefe da cidade, condena Dante, até então só culpado por se opor ao Papa, a pagar uma multa exorbitante de 5000 florins e ficar fora da Toscana por 2 anos. Em 10 de março, como não aparece para pagá-la, é condenado à morte. Se voltasse, seria queimado vivo amarrado numa estaca. Mais tarde, a sentença foi estendida a seus filhos, que fugiram. Bonifácio VIII morre em 1303. O novo papa, Benedito XI, inicia negociações para pacificar os partidos rivais. Dante tem oportunidade de voltar em condições humilhantes, vestido de estopa e pedindo perdão a seus inimigos. Recusa. No Canto 26 do Inferno, no círculo dos traidores e fraudulentos, Ulisses conta a Dante que, depois do fim da guerra de Tróia, podendo retornar para Ítaca, onde Penélope e Telêmaco o esperavam, preferiu explorar o desconhecido para além das Colunas de Hércules, o estreito de Gibraltar, onde o Mar Tenebroso (Atlântico) o engoliu. Harold Bloom vê na narrativa de Ulisses uma referência orgulhosa de Dante a si mesmo. No exílio, demonstra saudade da pátria; ao mesmo tempo, orgulho e desprezo. Dante fica exilado durante 20 anos, vivendo em várias cidades italianas com muitas dificuldades. Fala-se que esteve em Paris e em Oxford, mas não há provas. Em 1304, escreve a canção “Tre donne in torno al cor mi son venute”, “Três damas me vieram em torno do coração”, em que declara seu amor pela justiça e o desejo de reconciliação, que aparecem em outros textos que escreve, como as várias cartas. Produz RUA DR. MARIO FERRAZ, 414, JD. PAULISTANO CEP: 01453-011 SÃO PAULO-SP Tel.: 3707 8900 WWW.CASADOSABER.COM.BR 3 obras em latim, como De vulgari eloquentia, Sobre a eloquência em língua vulgar; De monarchia, Sobre a monarquia, e obras de exegese, Convivio. No Convívio, desenvolve a idéia de que a desordem e a violência são conseqüências da falta de um guia dos negócios públicos orientado pela Providência divina para “a perfeição da vida humana”. Em Sobre a eloqüência vulgar, escreve sobre a língua vulgar, o italiano (toscano), que valoriza como língua literária que substitui o latim. Entre 1305 e 1314, o Papa Clemente V, francês partidário do rei da França, Felipe o Belo, transfere a sede do Papado de Roma para Avignon. No Inferno, um papa simoníaco, Nicolau III, afirma que, depois de Bonifácio VIII, o Papa Clemente Vtambém será precipitado na boca inflamada onde queimam os simoníacos. No Paraíso, Beatriz profetiza que um Duce, chefe, virá para arrancar o poder de Clemente V e de Felipe, o Belo. Também São Pedro, no Céu de Estrelas Fixas, prediz a intervenção divina em favor da Igreja, afirmando que está deturpada pela ambição de Clemente V e João XXII por bens temporais. Em 1310, quando o Papa Clemente V aceita coroar o novo imperador em Roma, Dante escreve cartas demonstrando satisfação. Sua Carta V, por exemplo, é dirigida aos príncipes e populações da Itália, pedindo-lhes que se alegrem com a chegada do Rex pacificus, o rei pacífico. Só Florença, aliada a Roberto de Nápoles, opõe-se ao novo imperador. Em 31 de março de 1311, Dante escreve a Carta VI, em que ataca os florentinos. Na Carta VII, de abril de 1311, propõe a Henrique VII esmagar a cabeça da serpente que tenta morder a mãe-pátria. Por causa da carta, Dante não recebe a anistia concedida pelos florentinos, em setembro de 1311, a muitos exilados políticos. Por amor à cidade, também se recusa a estar entre os exilados que acampam na frente dela com as tropas imperiais de Henrique, que a sitiam. A morte súbita do Imperador, em 24 de agosto de 1313, quando ia atacar os franceses em Nápoles, acaba com as esperanças de Dante. Vai para Verona, no norte da Itália, onde Cangrande della Scala está montando um poderoso Estado gibelino. Nesse tempo, escreve a carta para os cardeais reunidos depois da morte do Papa Clemente V, falando-lhes da necessidade de elegerem um Papa italiano capaz de trazer a sede do papado, ainda em Avignon, de volta para Roma; ou a carta para um amigo florentino, em que fala da sua recusa da anistia que lhe concediam por julgá-la humilhante. Em 1316 (ou 1319), escreve a Carta 13, em que dedica o Paraíso a Cangrande della Scala. Nela, expõe o método alegórico de composição e interpretação da Comédia. Em 1318, deixa Verona e vai para Ravena, convidado pelo senhor da cidade, Guido da Polenta. Seus três filhos, Pietro, Jacopo e Antonia, reúnem-se com ele. Nesse tempo, escreve duas éclogas em latim. Em janeiro de 1320, esteve por pouco tempo em Verona. Guido da Polenta, senhor de Verona, o envia a Veneza como embaixador. Dante acabou o Paraíso. Atacado de malária, morre em Ravena, na noite do dia 13 para o 14 de setembro de 1321. Escreveu a Comédia entre 1307 e 1321. *** Em Vita Nuova, Vida Nova, Dante conta que aos 9 anos de idade viu Bice Portinari, também com 9. Ela depois seria esposa de um banqueiro de Florença, Bardi. Bice morreu com 25 anos e Dante se manteve fiel à visão da infância, que conta na Vita Nuova, um RUA DR. MARIO FERRAZ, 414, JD. PAULISTANO CEP: 01453-011 SÃO PAULO-SP Tel.: 3707 8900 WWW.CASADOSABER.COM.BR 4 prosimetron, texto que alterna prosa e poesia, que a celebram como donna angelicata, “dama angélica”. Dante transforma Bice em Beatrice. Beatrice é celebrada na Divina Comédia, onde é personagem determinante de todo o sentido do poema, sendo ao mesmo tempo mulher empírica e a Teologia. É ela quem envia Virgílio, que no poema é ao mesmo tempo o poeta romano do tempo de Augusto e a Razão, para salvar Dante do pecado e guiá-lo pelo Além, como se lê no Canto 1 do Inferno. É Beatrice que o recebe depois que sai do Purgatório e o guia pelo Paraíso até à visão extática de Deus, no último canto do poema. Beatriz é donna angelicata porque é um anjo beatificante - Bea+trice- um 9 que procede do 3 da Trindade- como salvação cristã da alma. Bibliografia Dante Alighieri ALIGHIERI, Dante. Obras Completas de Dante Alighieri. Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, 1956. --------------------A Divina Comédia: Inferno.Purgatório. Paraíso. Ed. bilingüe. Tradução e notas de Italo Eugenio Mauro. São Paulo, Editora 34, 1998, 3 v. -------------------- A Vita Nuova de Dante Alighieri. Tradução/ organização de Vasco Graça Moura. Lisboa, Bertrand Editora, 1995. AUERBACH, Eric. « Farinata e Cavalcante ». In Mimesis. Trad. G. Sperber, São Paulo, Perspectiva, 1971. ------------------- Figura. Madrid, Editorial Trotta, 1998. BLOOM, Harold. “Dante”. In The Western Canon. The Books and School of the Ages. New York San Diego London, Harcourt Brace & Company, 1994. CURTIUS, Ernst Robert.” Dante”.In Literatura Européia e Idade Média Latina. Trad. de Teodoro Cabral. Colaboração de Paulo Rónai. Rio de Janeiro, MEC-INL, 1957 ELIOT, Thomas Stearns. “Dante”. In Los Poetas Metafísicos y Otros Ensayos sobre Teatro y Religión. Buenos Aires, EMECÉ Editores S.A., 1944, Tomo II. _________. Selected Essays(1917-1932). London, Faber & Faber, 1970. LE GOFF, Jacques. « Le triomphe poétique. La ‘Divina Commedia’ ».In : La naissance du Purgatoire. Paris, Éditions Gallimard, 1981. PÉPIN, Jean. Dante et la tradition de l’ allégorie. Montréal, Institut d’ Études Médievales/ Paris : Librairie J. Vrin, 1970. ---------------. « A Filosofia Patrística » ; « Santo Agostinho e a Patrística Ocidental”; “Teologia e Filosofia na Idade Média”. In CHÂTELET, François (Direção). A Filosofia Medieval (Do século I ao século XV). Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1974, 2 v.
Compartilhar