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AULA ATIVIDADE ALUNO AULA ATIVIDADE ALUNO AULA ATIVIDADE ALUNO Disciplina: Homem, Cultura e Sociedade Teleaula: 04 Prezado (a) discente, seja bem vindo(a) A aula atividade tem a finalidade de promover o autoestudo das competências e conteúdos relacionados ao debate sobre as Pluralidades no século XXI: debates sobre intolerâncias e gênero. A aula atividade terá a duração de 1h20min e está organizada em leituras e reflexões sobre protagonismo da mulher negra na luta pela existência e sobrevivência em uma realidade sócio-histórica racista e patriarcalista. Siga todas as orientações indicadas e conte sempre com a mediação do seu(sua) tutor(a) e a interatividade com a professora. Bons estudos! ___________________***__________________ Avaliação de resultados de aprendizagem Objetivo da Atividade: A partir da leitura e compreensão dos textos de apoio, desenvolva um texto considerando a importância do debate sobre o feminismo a partir do recorte racial e dialogue com as discussões sobre a intelectualidade feminina negra. Orientações de como fazer: Desenvolva as seguintes reflexões: A. Quais são as condições históricas, culturais, sociais, econômicas e políticas que motivam a invisibilidade das mulheres negras? B. Quais os impactos da luta da mulher negra no campo de luta do feminismo? Após realizar as anotações da atividade, você deverá solicitar ao tutor(a) que encaminhem a síntese de entendimento dos conteúdos apresentados, para que AULA ATIVIDADE ALUNO possamos interagir e dialogar sobre as discussões teóricas. Fragmento textual 1 Uma perspectiva feminista negra para os direitos humanos A historiografia dos Direitos Humanos é marcada por uma série de ausências no que diz respeito a participação das comunidades internacionais que não estão inseridas no contexto do norte global. A inscrição de outras vivências e experiências no cânone acadêmico da teoria dos direitos humanos é recente, sendo a mesma marcada pela perspectiva decolonial, a qual possibilitou um profícuo debate que deslocou a homogeneidade eurocêntrica a respeito da construção histórica dos Direitos Humanos. O marco da construção de uma perspectiva decolonial da gramática do direito se dá a partir das experiências dos países localizados no que é denominado enquanto Terceiro Mundo, uma alternativa ao conceito de biopolítica, cuja gênese e centralidade se localiza nos Estados Unidos e na Europa (MIGNOLO,2017). Contudo, mesmo dentro da perspectiva decolonial, há ausências de percepções que deem conta das contribuições que as mulheres negras no contexto da diáspora trouxeram para a produção teórica e ativista dos direitos humanos. Considerando que o racismo e o sexismo são fatores sociais que impedem ou dificultam o acesso aos direitos humanos, é fundamental compreender os mecanismos de hierarquização racial e de gênero que estão empreendidos na construção do campo teórico dos Direitos Humanos, principalmente a partir do que Stuart Hall denomina como “economia sexual específica” (HALL, 2003, p.347), a qual na visão de Jurema Werneck manifesta-se no “menor acesso das mulheres negras ao ambiente público na condição protagonistas de narrativas capazes de expressar singularidades e semelhanças em relação aos demais grupos constitutivos das sociedades ocidentais, a partir de seus pontos de vista.” (WERNECK, 2007, p.18). Sueli Carneiro, Jurema Werneck e Sônia Beatriz dos Santos são três intelectuais negras que nos auxiliam na reflexão sobre o ponto de vista de mulheres negras como ponto de partida para pensar outros paradigmas na reflexão sobre direitos humanos no contexto brasileiro, uma vez que os Direitos Humanos devem ser compreendidos a AULA ATIVIDADE ALUNO partir de uma integração que articule história, contexto e crítica. Analisar as condições históricas, culturais, sociais, econômicas e políticas que motivam a invisibilidade das mulheres negras nas narrativas dos direitos humanos no contexto nacional é básico para estabelecer um arco crítico que seja capaz de reconhecer que essas ausências são prejudiciais para o alcance de uma teoria de direitos humanos que desafie a perspectiva de universalidade do pensamento eurocêntrico. A racialização das mulheres da diáspora africana é resultado de uma lógica na qual as definições sobre quem eram essas mulheres, que características as colocavam numa mesma categoria, quais eram as formas mais efetivas de controlar as narrativas, trajetórias e histórias dessas mulheres, não foi inicialmente definida por elas. Essas mulheres, enquanto “sujeitos identitários e políticos, são resultado de uma articulação de heterogeneidades, resultante de demandas históricas, políticas, culturais, de enfrentamento das condições adversas estabelecidas pela dominação ocidental eurocêntrica ao longo dos séculos de escravidão, expropriação colonial e da modernidade racializada e racista em que vivemos. (WERNECK, 2016). O potencial do ativismo intelectual feminista negro tem organizado intervenções internacionais que desestabilizam as lógicas do colonialismo. Essas mulheres refletem pressupostos civilizatórios distintos daqueles que estão estabelecidos como “universais” pela hegemonia. É inegável a contribuição de mulheres negra para a agenda dos direitos humanos internacionais, sobretudo partir do final da década de 1980 e início da década de 1990. Conforme Sueli Carneiro (2002) avalia em artigo sobre a III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas o ativismo dos movimentos negros brasileiros articulou-se de maneira relevante para organizar documentos que apontassem a situação dos direitos humanos da população afro- brasileira. A construção de instrumentos estatais que analisam as condições dos direitos humanos das mulheres negras em nível nacional e internacional tem pautado as agendas de mulheres negras e também revelam como as instituições tem recebido as demandas das mesmas. Na última década documentos como Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, AULA ATIVIDADE ALUNO Dossiê Mulheres Negras (2013), Mapa da Violência (FLACSO, 1998-2016), Atlas da Violência, CPI do Assassinato de Jovens entre outros revela que as instituições judiciárias têm produzido documentos e normas que refletem a mobilização dessas mulheres por estratégias que que reflitam o cenário sócio-econômico da população negra em geral e das mulheres negras em específico. Por outro lado, a ausência de mecanismos que subvertam os quadros indiciados por esses documentos, fala muito alto sobre invisibilidade, o silenciamento e a desumanização da negritude no campo dos Direitos Humanos. Mesmo que as organizações nacionais e internacionais de direitos humanos tenham consciência dos altos índices de mortalidade, violência, desemprego, analfabetismo, e dos baixos indicadores no que diz respeito ao acesso à saúde, saneamento, transporte e moradia não há alterações significativas desses índices nos últimos 30 anos. Há, portanto, um “ostracismo imposto às vozes dissonantes” (VARGAS, 2010, p.32) uma disposição em excluir a população negra, especialmente as mulheres, através de ignorância e silêncio institucional. O silêncio sobre a centralidade das organizações de mulheres nas reivindicações e na agenda propositiva dos direitos humanos, tanto em nível nacional quanto em nível internacional, reflete a estrutura de hierarquização racial em vários campos, inclusive na produção epistemológica. Mas, além desse fator, também consubstancia o “pacto narcísico” (BENTO, 2002) da branquitude, o qual é “é responsável, em grande medida, por informar a renúncia da categoria raça das propostas que defendem a centralidade da classe, gênero ou sexualidade (PIRES, 2017)”. A perspectiva de enegrecimento do Direito a partir da atuação de mulheresnegras desloca as gramáticas estabelecidas até então e vai além do respeito às diferenças, exige um reconhecimento da supressão direitos, dos mais fundamentais, como o direito a reparação civilizatória pelos crimes correlatos da escravização, aos quais essas mulheres e suas comunidades estiveram submetidas. Coloca uma categoria extremamente subalternizada no centro das discussões e das análises a respeito dos direitos humanos. É preciso fazê-lo, ou seguimos reproduzindo silêncios. AULA ATIVIDADE ALUNO (WINNIE BUENO. Uma perspectiva feminista negra para os direitos humanos. Disponível em: https://www.geledes.org.br/uma-perspectiva-feminista-negra-para-os-direitos- humanos/?gclid=Cj0KCQjw0caCBhCIARIsAGAfuMzrVTrljbSYDzvKe3apX1ZlnKjii1pm45M eYrZ3MouElwJmzBguY24aAq32EALw_wcB Acesso em 13 mar 2022) Fragmento textual 2 Intelectuais Negras Visíveis Bell Hooks nos EUA. Conceição Evaristo no Brasil. Djaimilia Pereira em Portugal. Autoras que com suas obras colocam em primeiro plano o poder curativo que a escrita desempenha na vida de Mulheres Negras. Afetada por esse poder, a convite de Antonia Pellegrino, contínuo o papo, apresentando o fio de minha trama: se a palavra feminismo é branca e ocidental, a prática feminista é Negra e Diaspórica. Tal fio nos coloca diante da urgência de conversar sobre sentidos mais justos e profundos de feminismo. Nesse diálogo, que também se refere a protagonismo, capacidade de escuta e lugar de fala, façamo-nos as perguntas: Que histórias não são contadas? Quem, no Brasil e no mundo, são as pioneiras na autoria de projetos e na condução de experiências em nome da igualdade e da liberdade? De quem é a voz que foi reprimida para que a história única do feminismo virasse verdade? Na partilha desigual do nome e do como, os direitos autorais ficam com as Mulheres Negras, as grandes pioneiras na autoria de práticas feministas, desde antes da travessia do Atlântico. Como herdeiras desse patrimônio ancestral, temos em mãos o compromisso de conferir visibilidade às histórias de glória e criatividade que carregamos. Esse turning point nas nossas narrativas relaciona-se com a principal pauta do feminismo negro: o ato de restituir humanidades negadas. Narrar na primeira pessoa as nossas histórias de beleza, força e sucesso é parte dessa restituição, pois produzir nossos próprios saberes a partir de quem somos e do que sonhamos representa revidar com a poderosa arma da beleza, o anonimato, a pobreza, o preterimento e os alarmantes indicadores sociais como a história única pela qual somos vistas e narradas. Significa a aposta em um projeto de humanidade negra https://www.geledes.org.br/uma-perspectiva-feminista-negra-para-os-direitos-humanos/?gclid=Cj0KCQjw0caCBhCIARIsAGAfuMzrVTrljbSYDzvKe3apX1ZlnKjii1pm45MeYrZ3MouElwJmzBguY24aAq32EALw_wcB https://www.geledes.org.br/uma-perspectiva-feminista-negra-para-os-direitos-humanos/?gclid=Cj0KCQjw0caCBhCIARIsAGAfuMzrVTrljbSYDzvKe3apX1ZlnKjii1pm45MeYrZ3MouElwJmzBguY24aAq32EALw_wcB https://www.geledes.org.br/uma-perspectiva-feminista-negra-para-os-direitos-humanos/?gclid=Cj0KCQjw0caCBhCIARIsAGAfuMzrVTrljbSYDzvKe3apX1ZlnKjii1pm45MeYrZ3MouElwJmzBguY24aAq32EALw_wcB AULA ATIVIDADE ALUNO comprometido em conferir visibilidade a trajetórias que nos fazem enxergar a diversidade que nos constitui. As potências que carregamos, multiplicamos e que estão ausentes dos grandes meios de comunicação. Dada a história de preterimento dos espaços de poder — em especial os ligados à cultura escrita—, priorizar o como alimentamos práticas feministas de liberdade relaciona-se com valorizar a ação, o cuidado e o movimento como elementos que definem o que é ser uma Intelectual Negra. Historicamente à margem da academia, da política institucional, da grande mídia e de outros espaços de poder, nossa intelectualidade constrói-se através da percepção – em diversos níveis – de que somos Mulheres Negras 24 horas por dia. Como chefas e arrimas de família. Na condição de primeiras a acessarem a universidade e obterem um diploma que se estende à toda família. No ato político de cuidar e educar filhos nossos e dos outros. Na valorização do estudo como instrumento de libertação. No trabalho em movimentos sociais e comunidades religiosas. Todos esses protagonismos reverberam em um tipo de intelectualidade produzida a partir de saberes comuns, tecidos na interação entre Mulheres Negras de diferentes gerações. Até hoje quando estou em sala de aula como professora universitária, as imagens da vó Leonor, uma mulher semianalfabeta que segurou as minhas mãos para o traçado das primeiras letras no caderno de caligrafia, fazem-me lembrar por que sou quem sou. As emocionantes narrativas de estudantes que, após um semestre estudando a produção de Mulheres Negras, passaram a ver a si próprios, suas mães, avós, irmãs como intelectuais negras também são parte dessa jornada. Essas histórias, carregadas de ancestralidade e beleza, ensinam-nos que interpretar vivências de Mulheres Negras exclusivamente a partir da dor e da denúncia das vulnerabilidades e prejuízos econômicos que nos afetam encobre a potência e a diversidade que nos constituem como sujeitas históricas. O catálogo “Intelectuais Negras Visíveis”, obra pioneira que apresenta o trabalho de 120 profissionais negras no Brasil e que será lançado no dia 29 de julho, na 15ª Flip, insere-se no projeto coletivo de restituição de humanidade. Se é tudo uma questão de ponto de vista, para mim, o Feminismo é e sempre será uma prática Linda e Preta”. “Você pode substituir Mulheres Negras como objeto de estudo por Mulheres Negras AULA ATIVIDADE ALUNO contando a sua própria história.” (Intelectuais Negras Visíveis. Disponível em: https://lpeqi.quimica.ufg.br/n/99196- intelectuais-negras-visiveis Acesso em 15 mar 2022). Conte sempre com o(a) seu(sua) tutor(a) a distância e a professora da disciplina para acompanhar sua aprendizagem. Bons Estudos! Professora Maria Gisele de Alencar https://lpeqi.quimica.ufg.br/n/99196-intelectuais-negras-visiveis https://lpeqi.quimica.ufg.br/n/99196-intelectuais-negras-visiveis
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