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INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 149PROENEM.COM.BR SEQUENCIADORES II PRONOMES DEMONSTRATIVOS15 Os pronomes, no português atual, possuem três grandes propriedades: acompanhar ou substituir o substantivo numa construção frasal; indicar a pessoa do discurso; representar um elemento da frase que já tenha sido ou irá ser mencionado. Tomemos como exemplo o seguinte texto, retirado da seção Carta dos leitores, de O Globo: A revolução do óbvio Bastou a polícia fazer o óbvio – policiar, prender e devolver à vítima o fruto do roubo – para um turista ter a melhor das impressões da cidade. A eficiência maravilhou o sueco Jan Hedlun, localizado no hotel por um telefonema da delegacia, onde estavam sua mochila e os ladrões – estes atrás das grades. Se ESSE fosse o padrão de toda a polícia, o carioca teria a melhor das impressões do poder público e pagaria impostos e taxas sem reclamar. (O Globo, 13/7/02.) Na construção “sua mochila”, o pronome possessivo sua acompanha o substantivo mochila. Se, por acaso, o autor quisesse se referir à mochila novamente, poderia construir sua frase deste modo: [sua mochila] ...ela se encontrava intacta... O pronome reto ela estaria substituindo o substantivo mochila. Repare que, no texto, o pronome demonstrativo esse, destacado pelo autor, substitui, não um substantivo específico, mas toda uma ação feita anteriormente (policiar, prender e devolver à vítima o fruto do roubo). Essa função de retomar um elemento expresso anteriormente recebe o nome de função anafórica; se o elemento aponta para um termo que ainda será mencionado, recebe o nome de função catafórica. Os pronomes têm uma função muito importante na ligação das orações, pois eles evitam a repetição de termos, tornando o texto mais conciso e mais bem estruturado. Quanto à marcação da pessoa do discurso, os pronomes (principalmente os demonstrativos) têm papel fundamental na estruturação da frase. O falante, na modalidade oral, tem como recuperar a informação precisa sobre aquilo que se quer dizer através de gestos, olhares, ou a própria proximidade dos interlocutores. Em um discurso escrito, essa informação tende a ficar imprecisa, levando o interlocutor a um não entendimento da mensagem. Dessa forma, a utilização do pronome é fundamental para esse entendimento. O carioca, por exemplo, não usa, normalmente, em sua oralidade, o pronome este. Usa esse para substantivos próximos a ele, falante, ou ao interlocutor. O pronome aquele se refere a um substantivo distante dos dois. A referência a que substantivo está em jogo se faz por meio de um gesto, como já falado. Mas, e na escrita? Usamos o pronome de 1ª pessoa (este / esta) para marcar a proximidade com a 1ª pessoa do discurso, o emissor; o pronome de 2ª pessoa (esse / essa), para marcar a proximidade com a 2ª pessoa do discurso, o receptor; o pronome de 3ª pessoa (aquele / aquela), para marcar a distância dos interlocutores envolvidos no discurso. Um texto é um tecido e sua costura se faz por meio de mecanismos linguísticos de coesão, que contribuem para realizar sua coerência. Como já dito, um pronome pode promover uma coesão por anáfora ou catáfora. Tomemos um conjunto de exemplos: A população e a cidade estão imersas num caos: esta carece de cuidados estruturais; aquela, de valores morais. Veja que estabelecemos uma coesão anafórica, esta (1ª pessoa) se refere à palavra mais próxima (cidade). Para a palavra mais distante (população) usamos o pronome aquela (3ª pessoa). No discurso escrito, o entendimento da mensagem exige precisão da coesão, que, entre palavras, usa esse procedimento. Quando o pronome aponta não para uma palavra, mas para uma ideia, usamos outro procedimento: Quando a coesão se estabelece com uma ideia que já se mencionou (anáfora), usamos o pronome de 2ª pessoa (esse / essa): Viver às voltas com políticos corruptos: será essa a história do Brasil? Se a coesão se estabelece com uma ideia que ainda será mencionada (catáfora), usamos o pronome de 1ª pessoa (este / esta): Será esta a história do Brasil: viver às voltas com políticos corruptos? Releia o trecho da carta do leitor de O Globo: (...) onde estavam sua mochila e os ladrões – estes atrás das grades. Se ESSE fosse o padrão de toda a polícia, o carioca teria a melhor das impressões do poder público e pagaria impostos e taxas sem reclamar. Veja que o pronome estes se refere à palavra “ladrões”. Como está próxima, usou-se, adequadamente, o pronome de 1ª pessoa. Repare, agora, que o pronome esse retoma uma ideia expressa anteriormente. Portanto, o uso da 2ª pessoa foi adequado. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Cite dois sequenciadores de caráter anafórico. 02. Conceitue função anafórica. 03. Conceitue função catafórica. 04. Explique como pode ser desenvolvida a coesão textual. 05. Apresente a função do pronome no texto. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR150 INTERPRETAÇÃO 15 SEQUENCIADORES II - PRONOMES DEMONSTRATIVOS PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (ENEM) Apesar de Não lembro quem disse que a gente gosta de uma pessoa não por causa de, mas apesar de. Gostar daquilo que é gostável é fácil: gentileza, bom humor, inteligência, simpatia, tudo isso a gente tem em estoque na hora em que conhece uma pessoa e resolve conquistá-la. Os defeitos ficam guardadinhos nos primeiros dias e só então, com a convivência, vão saindo do esconderijo e revelando-se no dia a dia. Você então descobre que ele não é apenas gentil e doce, mas também um tremendo casca-grossa quando trata os próprios funcionários. E ela não é apenas segura e determinada, mas uma chorona que passa 20 dias por mês com TPM. E que ele ronca, e que ela diz palavrão demais, e que ele é supersticioso por bobagens, e que ela enjoa na estrada, e que ele não gosta de criança, e que ela não gosta de cachorro, e agora? Agora, convoquem o amor para resolver essa encrenca. MEDEIROS, M. Revista O Globo, n. 790, 12 jun. 2011 (adaptado). Há elementos de coesão textual que retomam informações no texto e outros que as antecipam. Nos trechos, o elemento de coesão sublinhado que antecipa uma informação do texto é a) “Gostar daquilo que é gostável é fácil [...]”. b) “[...] tudo isso a gente tem em estoque [...]”. c) “[...] na hora em que conhece uma pessoa [...]”. d) “[...] resolve conquistá-la.” e) “[...] para resolver essa encrenca.” 02. (ENEM) Há qualquer coisa de especial nisso de botar a cara na janela em crônica de jornal — eu não fazia isso há muitos anos, enquanto me escondia em poesia e ficção. Crônica algumas vezes também é feita, intencionalmente, para provocar. Além do mais, em certos dias mesmo o escritor mais escolado não está lá grande coisa. Tem os que mostram sua cara escrevendo para reclamar: moderna demais, antiquada demais. Alguns discorrem sobre o assunto, e é gostoso compartilhar ideias. Há os textos que parecem passar despercebidos, outros rendem um montão de recados: “Você escreveu exatamente o que eu sinto”, “Isso é exatamente o que falo com meus pacientes”, “É isso que digo para meus pais”, “Comentei com minha namorada”. Os estímulos são valiosos pra quem nesses tempos andava meio assim: é como me botarem no colo — também eu preciso. Na verdade, nunca fui tão posta no colo por leitores como na janela do jornal. De modo que está sendo ótima, essa brincadeira séria, com alguns textos que iam acabar neste livro, outros espalhados por aí. Porque eu levo a sério ser sério... mesmo quando parece que estou brincando: essa é uma das maravilhas de escrever. Como escrevi há muitos anos e continua sendo a minha verdade: palavras são meu jeito mais secreto de calar. LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. Os textos fazem uso constante de recursos que permitem a articulação entre suas partes. Quanto à construção do fragmento,o elemento a) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela em crônica de jornal”. b) “assim” é uma paráfrase de “é como me botarem no colo”. c) “isso” remete a “escondia em poesia e ficção”. d) “alguns” antecipa a informação “É isso que digo para meus pais”. e) “essa” recupera a informação anterior “janela do jornal”. 03. (UNEAL) [...] Os outros admiravam-se da serenidade de Rodrigo, que encarava Bento a sorrir. E quando falou, dirigiu-se aos que o cercavam: – Vosmecês estão vendo. Esse moço está me provocando... Insolente, Bento Amaral botou as mãos na cintura e disse: – Pois ainda não tinha compreendido? Bibiana sentiu que alguém lhe pegava do braço e arrastava para longe dos dois rivais, abrindo caminho por entre os convivas. Não ergueu os olhos, mas sentiu que esse alguém era seu pai. – Vamos lá pra dentro resolver isso como cavalheiros... – sugeriu Joca Rodrigues, batendo timidamente no ombro de Bento. – Não vejo nenhum cavalheiro na minha frente – retrucou este, mais moderado do que pronunciando as palavras. – Vejo é um patife! O sangue subiu à cabeça de Rodrigo, que teve de fazer um esforço desesperado para não saltar sobre o outro. [...] VERÍSSIMO, Érico. Um certo capitão Rodrigo. São Paulo: Globo, 1991. p. 93 (Fragmento). Considerando as frases abaixo, retiradas da narrativa, identifique a opção em que há um pronome demonstrativo que funciona como antecedente de um pronome relativo. a) “Os outros admiravam-se da serenidade...” b) “...serenidade de Rodrigo, que encarava Bento...” c) “...dirigiu-se aos que o cercavam...” d) “– Vosmecês estão vendo. Esse moço está me provocando...” e) “...mas sentiu que esse alguém era o seu pai.” 04. (PUC-SP) Da Soberania do Indivíduo Helio Schwartsman FOLHA DE S.PAULO, 24/10/2015 “SÃO PAULO – Alguns leitores ficaram um pouco bravos comigo porque eu afirmei na coluna de ontem que a legislação sobre costumes de um Estado moderno deve sempre seguir a inspiração liberal e não a conservadora. Diferentemente do que sugeriram certos missivistas, não escrevi isso porque minhas preferências pessoais coincidem com as ideias ditas progressistas, mas porque existe uma diferença qualitativa no papel que as duas visões de mundo reservam para a lei. Na visão conservadora, é legítimo que o Estado opere ativamente para promover a coesão social, mesmo que, para isso, force o indivíduo a conformar-se ao “statu quo”. Não dá para dizer que não funcione. Em que pese um certo autoritarismo intrínseco, sociedades que colocam os interesses coletivos acima dos individuais tendem a apresentar menores índices de violência interpessoal e menos desigualdade. Costumam ser menos inventivas também, mas esse é outro problema. Já para os liberais, a ênfase recai sobre a liberdade individual. Bem no espírito de John Stuart Mill, atitudes e comportamentos, por mais exóticos que pareçam, só podem ser legitimamente proibidos ou limitados se resultarem em dano objetivo e demonstrável para terceiros. Caso contrário, “sobre si mesmo, seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano”. A implicação mais óbvia dessa diferença é que, enquanto a perspectiva liberal permite que cada grupo viva segundo suas próprias convicções, ainda que numa escala menor que a do todo, a concepção conservadora exige que as franjas minoritárias renunciem a seus valores. Trocando em miúdos, existem vários projetos de lei para proibir ou limitar o aborto e o casamento gay, mas não há nenhum com o intuito de torná-los obrigatórios. Numa PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 15 SEQUENCIADORES II - PRONOMES DEMONSTRATIVOS 151 INTERPRETAÇÃO época em que consensos sociais podem mudar rapidamente, conservadores deveriam ser os principais interessados numa legislação bem liberal.” Considere a ordem em que são empregados os pronomes demonstrativos evidenciados no texto de Hélio Schwartsman e aponte a que se referem. a) conjunto de leis sobre costumes de um Estado moderno que tem de ser constantemente guiado pela inspiração liberal; legitimidade de o Estado operar de forma ativa em prol da coesão social. b) composição de leis que deliberam sobre práticas do Estado moderno; visão conservadora que considera ilegítima a forma de promover a coesão social. c) legislação sobre comportamento de um Estado moderno cujas bases são conservadoras; visão liberal que considera legítimo o Estado trabalhar ativamente para a coesão social. d) rol de leis de natureza liberal que o Estado moderno pretende promover para contestar a inspiração conservadora; legitimidade de o Estado trabalhar ativamente para promover a coesão social. 05. (UECE) Um novo A B C Aquela velha carta de ABC dava arrepios. Três faixas verticais borravam a capa, duras, antipáticas; e, fugindo a elas, encontrávamos num papel de embrulho o alfabeto, sílabas, frases soltas e afinal máximas sisudas. Suportávamos esses horrores como um castigo e inutilizávamos as folhas percorridas, esperando sempre que as coisas melhorassem. Engano: as letras eram pequeninas e feias; o exercício da soletração, cantado, embrutecia a gente; os provérbios, os graves conselhos morais ficavam impenetráveis, apesar dos esforços dos mestres arreliados, dos puxavantes de orelha e da palmatória. “A preguiça é a chave da pobreza”, afirmava-se ali. Que espécie de chave seria aquela? Aos seis anos, eu e meus companheiros de infelicidade escolar, quase todos pobres, não conhecíamos a pobreza pelo nome e tínhamos poucas chaves, de gaveta, de armários e de portas.Chave de pobreza para uma criança de seis anos é terrível. Nessa medonha carta, que rasgávamos com prazer, salvavam- se algumas linhas. “Paulina mastigou pimenta.” Bem. Conhecíamos pimenta e achávamos natural que a língua de Paulina estivesse ardendo. Mas que teria acontecido depois? Essa história contada em três palavras não nos satisfazia, precisávamos saber mais alguma coisa a respeito de Paulina. O que ofereciam, porém, à nossa curiosidade infantil eram conceitos idiotas: “Fala pouco e bem: Ter-te-ão por alguém!” Ter-te-ão? Esse Terteão para mim era um homem, e nunca pude compreender o que ele fazia na última página do odioso folheto. Éramos realmente uns pirralhos bastante desgraçados. Marques Rebelo enviou-me há dias um A B C novo. Recebendo-o, lembrei-me com amargura da chave da pobreza e do Terteão, que ainda circulam no interior. A capa da brochura que hoje me aparece tem uns balões — e logo aí o futuro cidadão aprende algumas letras. Na primeira folha, em tabuleiros de xadrez de casas brancas e vermelhas, procurou- se a melhor maneira de impingir aos inocentes essa coisa desagradável que é o alfabeto. O resto do livro encerra pedaços de vida de um casal de crianças. João e Maria regam flores, bebem leite, brincam na praia, jogam bola, passeiam em bicicleta, nadam, apanham legumes, vão ao Jardim Zoológico. Tudo isso é dito em poucas palavras, como na história de Paulina, que mastigava pimentas na velha carta de A B C. Mas enquanto ali o caso se narrava com letras miúdas e safadas, em papel de embrulho, aqui as brincadeiras e as ocupações das personagens se contam em bonitas legendas e principalmente em desenhos cheios de pormenores que a narração curta não poderia conter. (............................................................) Abril, 1938. (Graciliano Ramos. Linhas tortas. Obra póstuma. p.174-175.) A crônica inicia-se com o pronome demonstrativo aquela. Na primeira linha do segundo parágrafo (linha 5), aparece outro pronome demonstrativo: esses. Atente ao que se diz sobre esses pronomes e as expressões em que eles aparecem. I. Aquela velha carta de A B C, na linha 1, aponta para a memória do enunciatário, o que sugere ter o enunciador a certeza de que o enunciatário partilha com ele a informação que vem a seguir. II. Ao contráriode Aquela velha carta de A B C (linha 1), esses horrores (linha 5) aponta para algo que está expresso na materialidade do texto. III. A interpretação coerente dos dois pronomes — aquela e esses — exige do leitor mais domínio das normas gramaticais do que das normas textuais. Está correto o que se afirma em a) I e II apenas. b) II e III apenas. c) I, II e III. d) I e III apenas. 06. (UECE) TEXTO I Poema de sete faces 1 5 10 15 20 25 30 Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. Carlos Drummond de Andrade. In Alguma poesia, publicado em 1930. Obs. O “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade, será usado como subsídio (ou suporte) para a leitura do poema “Com licença poética” (texto 2). PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR152 INTERPRETAÇÃO 15 SEQUENCIADORES II - PRONOMES DEMONSTRATIVOS TEXTO II Com licença poética 1 5 10 15 Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. Adélia Prado. Bagagem. 24 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2007. p.9. Sobre o emprego da expressão desses que tocam trombeta (texto II, linha 2), considere as afirmações abaixo: I. Remete indiretamente a um elemento já expresso no poema. II. Tem por base a pressuposição de que o elemento referido faz parte do conhecimento do leitor. III. Indica certo desprezo do sujeito lírico pelas coisas sagradas. Está correto o que se afirma em a) I e III, apenas. b) II e III, apenas. c) I e II, apenas. d) I, II e III. 07. (FGV) Redundâncias Ter medo da morte é coisa dos vivos o morto está livre de tudo o que é vida Ter apego ao mundo é coisa dos vivos para o morto não há (não houve) raios rios risos E ninguém vive a morte quer morto quer vivo mera noção que existe só enquanto existo (Ferreira Gullar, Muitas vozes) Determinado pronome demonstrativo, “quando, no singular mas- culino, equivale a isto, isso, aquilo...” : Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo A definição está corretamente exemplificada com o verso: a) é coisa dos vivos b) de tudo o que é vida c) E ninguém vive a morte d) quer morto quer vivo e) mera noção que existe 08. (CIAAR) Assinale a alternativa em que o elemento a é pronome demonstrativo. a) “Psicólogos ligados a universidades americanas respeitadas como a Harvard e a da Pensilvânia...” b) “Eles induzem seus pacientes a enxergar a si próprios não como um redemoinho de desejos...” c) “Apenas 3% da população possui telefone fixo, e a mortalidade infantil é de 54 óbitos a cada 1.000...” d) “Queremos dar consistência e respeitabilidade a esse tema”, diz o psicólogo Tal Ben-Shahar...” 09. (IBGE) A eficácia das palavras certas Havia um cego sentado numa calçada em Paris. A seus pés, um boné e um cartaz em madeira escrito com giz branco gritava: “Por favor, ajude-me. Sou cego”. Um publicitário da área de criação, que passava em frente a ele, parou e viu umas poucas moedas no boné. Sem pedir licença, pegou o cartaz e com o giz escreveu outro conceito. Colocou o pedaço de madeira aos pés do cego e foi embora. Ao cair da tarde, o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Seu boné, agora, estava cheio de notas e moedas. O cego reconheceu as pegadas do publicitário e perguntou se havia sido ele quem reescrevera o cartaz, sobretudo querendo saber o que ele havia escrito. O publicitário respondeu: “Nada que não esteja de acordo com o conceito original, mas com outras palavras”. E, sorrindo, continuou o seu caminho. O cego nunca soube o que estava escrito, mas seu novo cartaz dizia: “Hoje é primavera em Paris e eu não posso vê-la”. (Produção de Texto, Maria Luíza M. Abaurre e Maria Bernadete M. Abaurre) A frase abaixo em que o emprego do demonstrativo sublinhado está inadequado é: a) “As capas deste livro que você leva são muito separadas”. (Ambrose Bierce). b) “Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro”. (Mário Quintana). c) “Claro que a vida é bizarra. O único modo de encarar isso é fazer pipoca e desfrutar o show”. (David Gerrold). d) “Não há nenhum lugar nessa Terra tão distante quanto ontem”. (Robert Nathan). e) “Escritor original não é aquele que não imita ninguém, é aquele que ninguém pode imitar”. (Chateaubriand). 10. (ALERJ) O pronome demonstrativo tem frequentemente emprego anafórico; a frase abaixo em que o pronome demonstrativo destacado NÃO se refere a uma oração é: a) “Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo”. (José Saramago); b) “Ser pobre é pecado venial; se conformar com isso é pecado mortal”. (Millôr Fernandes); c) “Minha única razão para mencionar este fato é que isso é irrelevante, pois não é uma causa do crime”. (Saul Gorn); d) “De um certo ponto em diante não há retorno. Isso é algo que a experiência mostra”. (F. Kafka); e) “Contaram-me que os peixes não se importam de serem pescados pois têm sangue frio e não sentem dor. Mas não foi um peixe que me contou isso”. (H. Brown). 11. (UECE) O texto a seguir foi extraído de uma crônica de Affonso Romano de Sant’Anna, cronista e poeta mineiro. Professor universitário e jornalista, escreveu para os maiores jornais do País. “Com uma produção diversificada e consistente, pensa o Brasil e a cultura do seu tempo, e se destaca como teórico, como poeta, como cronista, como professor, como administrador cultural e como jornalista.” Porta de colégio Passando pela porta de um colégio, me veio a sensação nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal, direis. Mas a sensação era tocante. Por isso, parei, como se precisasse ver melhor o que via e previa. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 15 SEQUENCIADORES II - PRONOMES DEMONSTRATIVOS 153 INTERPRETAÇÃO Primeiro há uma diferença de 1clima entre 6aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrigerantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só o uniforme. Não é só a idade. É toda uma 2atmosfera, como se estivessem ainda dentro de uma 8redoma ou aquário, numa bolha, resguardados do mundo. Talvez não estejam. Vários já sofreram a pancada da separação dos pais. 7Aprenderam que a vida é também um exercício de separação. 9Um ou outro já transou droga, e com isso deve ter se sentido (equivocadamente) muito adulto. Mas há uma sensação de pureza angelical misturada com palpitação sexual, que se exibe nos gestos sedutores dos adolescentes. Onde estarão 4esses meninos e meninasdentro de dez ou vinte anos? 5Aquele ali, moreno, de cabelos longos corridos, que parece gostar de esporte, vai se interessar pela informática ou economia; 5aquela de cabelos louros e crespos vai ser dona de boutique; 5aquela morena de cabelos lisos quer ser médica; a gorduchinha vai acabar casando com um gerente de multinacional; 5aquela esguia, meio bailarina, achará um diplomata. Algumas estudarão Letras, se casarão, largarão tudo e passarão parte do dia levando filhos à praia e à praça e pegando-os de novo à tardinha no colégio. [...] Estou olhando aquele bando de adolescentes com evidente ternura. Pudesse passava a mão nos seus cabelos e contava- lhes as últimas histórias da carochinha antes que o 3lobo feroz as assaltasse na esquina. Pudesse lhes diria daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma, enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-lo. SANT’ANNA, Affonso Romano de. Affonso Romano de Sant’Anna: seleção e prefácio de Letícia Malard. Coleção Melhores Crônicas. p. 64-66. Atente para o que se diz sobre as expressões referenciais seguintes: esses meninos e meninas (ref. 4) e aquele/a (ref. 5). I. Todas essas expressões retomam individualmente o que foi mencionado de maneira geral no trecho aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrigerantes (ref. 6) II. Enquanto a expressão esses meninos e meninas dentro de dez ou vinte anos? (ref. 6) se refere ao que foi dito (anáfora), todas as outras se referem ao que vai ser dito (catáfora). III. A expressão aquele (ali) presentifica a cena enunciativa. Está correto o que se afirma em a) I e II apenas. b) I e III apenas. c) II e III apenas. d) I, II e III. 12. (UERJ) Sobre a origem da poesia A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, 1a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. 4Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história. A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades − significante e significado. Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras? 2Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado. Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substantivos), 5não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais propensas à composição analógica. 3Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é vermelha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria existência − como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta). 6No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. 7A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo. (...) Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. 8Mas temos esses pequenos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade. ARNALDO ANTUNES. www.arnaldoantunes.com.br Na coesão textual, ocorre o que se chama catáfora quando um termo se refere a algo que ainda vai ser enunciado na frase. Um exemplo em que o termo destacado constrói uma catáfora é: a) Como se ela restituísse, (ref.4) b) Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, (ref.2) c) não numa partícula verbal externa a elas, (ref.5) d) No seu estado de língua, no dicionário, as palavras interme- deiam (ref.6) 13. (UFPE) Em “continuará DESATIVADO o canal povo-rainha”, a palavra em destaque é formada com o acréscimo de um prefixo que expressa negação ou privação, como em: a) inflação e ingestão. b) inapto e inábil. c) amorfo e anfíbio. d) anáfora e êxodo. e) reprovar e distender. 14. (CESGRANRIO) Reflexivo O que não escrevi, calou-me. O que não fiz, partiu-me. O que não senti, doeu-se. O que não vivi, morreu-se. O que adiei, adeus-se. (Affonso Romano de Sant’Anna) PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR154 INTERPRETAÇÃO 15 SEQUENCIADORES II - PRONOMES DEMONSTRATIVOS Assinale a classifi cação gramatical correta para os vocábulos ‘O’ e ‘se’: “O que adiei, adeus-se” (5º verso) a) artigo - pronome reflexivo b) pronome pessoal oblíquo - pronome apassivador c) pronome pessoal oblíquo - pronome reflexivo d) pronome demonstrativo - palavra de realce e) pronome demonstrativo - pronome apassivador 15. (UEL) Pergunta-se QUANTOS são AO CERTO OS que foram premiados. As classes a que pertencem as expressões em destaque na frase acima são, respectivamente, a) advérbio de intensidade, locução prepositiva, artigo defi nido. b) pronome interrogativo, advérbio de modo, artigo defi nido. c) advérbio de intensidade, locução prepositiva, pronome demonstrativo. d) pronome interrogativo, locução adverbial, pronome demonstrativo. e) pronome indefi nido, locução adverbial, artigo defi nido. 16. (VUNESP) Os autores da obra sobre Trump estão cientes da norma. Ela é objeto de longo debate na parte dois do livro. O que alegam é que, por vezes, a obrigação do médico de alertar a comunidade para riscos que ela corre prevalece sobre a privacidade. Se o médico desconfi a de que seu paciente psicótico planeja assassinar alguém, precisa alertar a vítima potencial, mesmo que isso implique violação do sigilo profi ssional. Na frase do parágrafo do texto “... mesmo que isso implique violação do sigilo profi ssional.”, o termo em destaque refere-se a) ao conhecimento da norma pelos autores da obra. b) ao longo debate na parte dois do livro. c) à colocação da privacidade em primeiro plano. d) à desconfi ança do médico quanto à internação do paciente. e) à atitude de alertar a vítima em potencial. 17. (UNIFESP) Em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa, as lacunas da fala da personagem, no primeiro quadrinho, devem ser preenchidas, respectivamente, com: a) algum ... me livrar b) o ... livrar eu c) esse ... me livrar d) um ... livrareu e) este ... me livrar 18. (UFBA) Passa-me _____ livro que tens aí na mão para _____ consultar o índice. a) este; eu b) esse; eu c) esse; mim d) este; mim e) aquele; eu 19. (UEL) Na frase "Dada a atitude de CERTOS estudantes, criticá- los é O que se faz NECESSÁRIO", as palavras em destaque são, respectivamente, a) pronome relativo - artigo - advérbio. b) pronome indefi nido - pronome demonstrativo - adjetivo. c) pronome demonstrativo - artigo - advérbio. d) pronome indefi nido - pronome demonstrativo - substantivo. e) pronome demonstrativo - artigo - adjetivo. 20. (VUNESP) Black Friday? Levantamento feito pela Folha mostrou que boa parte dos “descontos” oferecidos nesta sexta- feira não passa de manipulações até meio infantis de preços, com o objetivo de iludir o consumidor. Antes, porém, de imprecar contra a ganância dos capitalistas, convém perguntar se os consumidores não desejam ser enganados. E há• motivos para acreditar que pelo menos uma parte deles queira. No recém-lançado Dollars and Sense (dinheiro e juízo), Dan Ariely e Jeff Kreisler relatam um experimento natural que mostra que pessoas podem optar por ser “ludibriadas” voluntariamente e que, em algum recôndito do cérebro, isso faz sentido. O termo destacado na frase do terceiro parágrafo – ... em algum recôndito do cérebro, isso faz sentido. – refere-se à a) demonstração de que não há descontos de fato em certas promoções. b) manipulação de preços com a intenção de ludibriar o consumidor. c) crítica dos consumidores atribuída à ganância dos comerciantes. d) relação estabelecida entre dinheiro e juízo no livro recém- lançado. e) opção de algumas pessoas por serem enganadas de modo voluntário. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (CP2) Reescreva a oração “que gera gentileza”, do texto, substituindo o pronome relativo pelo termo antecedente, a fi m de construir um período simples. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 15 SEQUENCIADORES II - PRONOMES DEMONSTRATIVOS 155 INTERPRETAÇÃO 02. (UERJ) Do bom uso do relativismo Hoje, pela multimídia, imagens e gentes do mundo inteiro nos entram pelos telhados, portas e janelas e convivem conosco. É o efeito das redes globalizadas de comunicação. A primeira reação é de perplexidade que pode provocar duas atitudes: ou de interesse para melhor conhecer, que implica abertura e diálogo, ou de distanciamento, que pressupõe fechar o espírito e excluir. De todas as formas, surge uma percepção incontornável: nosso modo de ser não é o único. Há gente que, sem deixar de ser gente, é diferente. Quer dizer, nosso modo de ser, de habitar o mundo, de pensar, de valorar e de comer não é absoluto. Há mil outras formas diferentes de sermos humanos, desde a forma dos esquimós siberianos, passando pelos yanomamis do Brasil, até chegarmos aos sofisticados moradores de 1Alphavilles, onde se resguardam as elites opulentas e amedrontadas. O mesmo vale para as diferenças de cultura, de língua, de religião, de ética e de lazer. Deste fato surge, de imediato, o relativismo em dois sentidos: primeiro, importa relativizar todos os modos de ser; nenhum deles é absoluto a ponto de invalidar os demais; impõe-se também a atitude de respeito e de acolhida da diferença porque, pelo simples fato de estar-aí, goza de direito de existir e de co-existir; segundo, o relativo quer expressar o fato de que todos estão de alguma forma relacionados. 3Eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros, porque todos são portadores da mesma humanidade. Devemos alargar a compreensão do humano para além de nossa concretização. Somos uma geo-sociedade una, múltipla e diferente. Todas estas manifestações humanas são portadoras de valor e de verdade. Mas são um valor e uma verdade relativos, vale dizer, relacionados uns aos outros, autoimplicados, sendo que nenhum deles, tomado em si, é absoluto. Então não há verdade absoluta? Vale o 2everything goes de alguns pós-modernos? Quer dizer, o “vale tudo”? Não é o vale tudo. Tudo vale na medida em que mantém relação com os outros, respeitando-os em sua diferença. Cada um é portador de verdade mas ninguém pode ter o monopólio dela. Todos, de alguma forma, participam da verdade. Mas podem crescer para uma verdade mais plena, na medida em que mais e mais se abrem uns aos outros. Bem dizia o poeta espanhol António Machado: “Não a tua verdade. A verdade. Vem comigo buscá-la. A tua, guarde-a”. Se a buscarmos juntos, no diálogo e na cordialidade, então mais e mais desaparece a minha verdade para dar lugar à Verdade comungada por todos. A ilusão do Ocidente é de imaginar que a única janela que dá acesso à verdade, à religião verdadeira, à autêntica cultura e ao saber crítico é o seu modo de ver e de viver. As demais janelas apenas mostram paisagens distorcidas. Ele se condena a um fundamentalismo visceral que o fez, outrora, organizar massacres ao impor a sua religião e, hoje, guerras para forçar a democracia no Iraque e no Afeganistão. Devemos fazer o bom uso do relativismo, inspirados na culinária. Há uma só culinária, a que prepara os alimentos humanos. Mas ela se concretiza em muitas formas, as várias cozinhas: a mineira, a nordestina, a japonesa, a chinesa, a mexicana e outras. Ninguém pode dizer que só uma é a verdadeira e gostosa e as outras não. Todas são gostosas do seu jeito e todas mostram a extraordinária versatilidade da arte culinária. Por que com a verdade deveria ser diferente? LEONARDO BOFF http://alainet.org Vocabulário: 1: Alphavilles: condomínios de luxo 2: everything goes: literalmente, “todas as coisas vão”; equivale à expressão “vale tudo” Eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros, porque todos são portadores da mesma humanidade. (ref. 3) Identifique a relação de sentido que a oração sublinhada estabelece com a parte do período que a antecede. Reescreva todo o período, substituindo o conectivo e mantendo essa mesma relação de sentido. 03. (PUCRJ) Ensinar exige rigorosidade metódica O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. Uma de suas tarefas primordiais é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis. E esta rigorosidade metódica não tem nada que ver com o discurso “bancário” meramente transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo. É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Faz parte das condições em que aprender criticamente é possível a pressuposição por parte dos educandos de que o educador já teve ou continua tendo experiência da produção de certos saberes e 1que estes não podem a eles, os educandos, ser simplesmente transferidos. Pelo contrário, nas condições de verdadeira aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. 2Só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004, p. 26. a) Explique, com suas próprias palavras, o que distingue os conceitos de “rigorosidade metódica” e de “discurso bancário”, apresentados por Paulo Freire. b) Identifique o referente do pronome demonstrativo estes em “que estes não podem a eles,os educandos, ser simplesmente transferidos” (ref. 1). c) Conservando o seu sentido original, reescreva a frase abaixo, atendendo à modificação proposta. Faça as alterações necessárias. Frase original: “Só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos.” (ref. 2) Frase modificada: Só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é aprendido pelos educandos 04. (CP2) Eu e a música Hoje ganhei um disco de um sambista que anda bem colocado nas paradas de sucesso. Logicamente, a pessoa que me deu o presente não me conhece muito bem, senão saberia que sou roqueira desde o útero materno e simpatizante entusiasmada do jazz e do blues, mas foi dado com amor e eu pensei: só conheço este cantor de ouvir falar, vá que seja um Chico Buarque, um Paulinho da Viola, um Celso Fonseca, e eu aqui relutando. Vou encarar. Arranquei o lacre e botei o CD pra tocar. Pulei a primeira faixa aos 20 segundos. A segunda pulei aos 13 segundos. A terceira, aos PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR156 INTERPRETAÇÃO 15 SEQUENCIADORES II - PRONOMES DEMONSTRATIVOS cinco. E as outras não ouvi. Fiquei chocada com a descoberta: sou muito menos democrática do que imaginava. Custaria eu escutar o disco inteiro antes de detestar? Custaria. Custaria uma hora do meu tempo, e isso é a parte menos grave. Custaria, acima de tudo, uma hora ausente de mim mesma, custaria a saudade de mim. Porque música não pode ser apenas um barulho que acontece fora de você. Música é uma confirmação de quem você é, música é um encontro. No meu caso, ela tem que ser um pouco louca, um pouco sensual e um pouco sofisticada – não importa o gênero. É isso que me cativa, ou então prefiro o silêncio. Diante da minha recusa em ouvir o disco que me haviam dado, fiquei pensando no que é mais importante para a humanidade, se a literatura ou a música. Felizmente, não é preciso optar entre uma e outra, mas e se tivéssemos quê? Eu já escrevi um sem-número de crônicas defendendo a importância da literatura para abrir horizontes, vencer preconceitos e aprender a escrever melhor – sem falar no quesito entretenimento: livro diverte. Mas a música tem um poder que vai além de atributos práticos e aplicáveis. A música nos invade de uma maneira que nos deixa sem defesa. Ainda mais num espetáculo ao vivo. Seja um rock’n’roll possante ou música erudita, não importa. Ela vai buscar você onde você se esconde. Pode ser que não seja assim com todos. Comigo é. A música passa ao largo do meu pensamento e se instala onde eu me sinto, onde eu me conecto com sensações infantis de extremo prazer, onde tudo se torna absolutamente instintivo. Ela me desengessa. Dá reconhecimento ao meu corpo, que reage a ela sem pudores. Enquanto as palavras vestem, a música despe. E quando estão juntas, letra e música – boa! – aí é uma excitação diferente, é um arrebatamento difícil de explicar. [...] Não sou muito boa de abstração. Talvez o que eu esteja querendo dizer é que, enquanto o livro permite que alternemos crença e descrença, a música nem nos dá tempo para este tipo de avaliação. Ela invade e captura o que há de melhor em nós: a nossa essência primeira, a mais intocada delas, a que não foi corrompida por racionalizações. Eu gosto de alguns sambas gravados pelo Vinicius, pela Marisa Monte, pelos Novos Baianos – aliás, por muitos baianos. São populares, mas pulam a cerca da mediocridade, vão ao encontro de algo mais saboroso, mais irreverente, mais tocante, mais que qualquer coisa que não seja óbvia. Este disco que ganhei era um samba óbvio, sem graça, chato. Não me dizia nada, não me revelava, era apenas um barulho do lado de fora. Não fiz concessão. Música tem que entrar. Martha Medeiros. (http://shaystar.wordpress.com/2010/06/10/eu-e-a-musica- %E2%80%93marthamedeiros/. Acessado em 10/10/2013) Transcreva a oração a que se refere o pronome demonstrativo isso no início do terceiro parágrafo do texto 05. (PUCRJ) No começo de seu Mercury; Ou: O Mensageiro Secreto e Rápido (1641), John Wilkins conta a seguinte história: O quanto 1essa Arte de escrever pareceu estranha quando da sua Invenção primeira é algo que podemos imaginar pelos Americanos recém-descobertos, que ficaram espantados ao ver Homens conversarem com Livros, e não conseguiam acreditar que um Papel pudesse falar... Há um relato excelente a esse Propósito, referente a um Escravo Índio; que, ao ser mandado por seu Senhor com uma Cesta de Figos e uma Carta, comeu durante o Percurso uma grande Parte de seu Carregamento, entregando o Restante à Pessoa a quem se destinava; que, ao ler a Carta e não encontrando a Quantidade de Figos correspondente ao que se tinha dito, acusa o Escravo de comê-los, dizendo que a Carta afirmava aquilo contra ele. Mas o Índio (apesar dessa Prova) negou o Fato, acusando o Papel de ser uma Testemunha falsa e mentirosa. Depois disso, sendo mandado de novo com um Carregamento semelhante e uma Carta expressando o Número exato de Figos que deviam ser entregues, ele, mais uma vez, de acordo com sua Prática anterior, devorou uma grande Parte deles durante o Percurso; mas, antes de comer o primeiro (para evitar as Acusações que se seguiriam), pegou a Carta e a escondeu sob uma grande Pedra, assegurando-se de que, se ela não o visse comer os Figos, nunca poderia acusá-lo; mas, sendo agora acusado com muito mais rigor do que antes, confessou a Falta, admirando a Divindade do Papel e, para o futuro, promete realmente toda a sua Fidelidade em cada Tarefa. Poder-se-ia dizer que um texto, depois de separado de seu autor (assim como da intenção do autor) e das circunstâncias concretas de sua criação (e, consequentemente de seu referente intencionado), flutua (por assim dizer) no vácuo de um leque potencialmente infinito de interpretações possíveis. Wilkins poderia ter objetado que, no seu relato, o senhor tinha certeza de que a cesta mencionada na carta era a mesma levada pelo escravo, que o escravo que a levara era exatamente o mesmo a quem seu amigo dera a cesta, e que havia uma relação entre a expressão “30” escrita na carta e o número de figos contidos na cesta. Naturalmente, bastaria imaginar que, ao longo do caminho, o escravo original fora assassinado e outra pessoa o substituíra, que os trinta figos originais tinham sido substituídos por outros figos, que a cesta foi levada a um destinatário diferente, que o novo destinatário não sabia de nenhum amigo ansioso por lhe mandar figos. Mesmo assim seria possível concluir o que a carta estava dizendo? Entretanto, temos o direito de supor que a reação do novo destinatário seria algo do tipo: “Alguém, e Deus sabe quem, mandou-me uma quantidade de figos menor do que o número mencionado na carta que os acompanha.” Vamos supor agora que não apenas o mensageiro tivesse sido morto, como também que seus assassinos tivessem comido todos os figos, destruído a cesta, colocado a carta numa garrafa e a tivessem jogado no oceano, de modo que fosse encontrada setenta anos depois por Robinson Crusoé. Não havia cesta, nem escravo, nem figos, só uma carta. Apesar disso, aposto que a primeira reação de Robinson Crusoé teria sido: “Onde estão os figos?” [Adaptado de ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 47-49] a) O pronome demonstrativo essa, logo no início da passagem de John Wilkins (ref. 1), tem função anafórica, isto é, faz referência a um conteúdo textual anterior. A que conteúdo anterior podemos inferir que o pronome se refere nesse caso? b) Na passagem de Wilkins, escrita em 1641, adota-se uma convenção ortográfica distinta da nossa no que diz respeito ao uso de letras maiúsculas. Explicite a diferença. c) O verbo ser tem o mesmo comportamentosintático em todas as frases abaixo, exceto em uma delas. Indique-a e explique a diferença. I. Talvez a carta fosse encontrada setenta anos depois por Robinson Crusoé. II. A carta expressava o número exato de Figos que deviam ser entregues. III. Vamos supor que o mensageiro tivesse sido morto. IV. O escravo afirmou que o papel era uma testemunha falsa e mentirosa. V. O escravo foi mandado àquele destino com uma Cesta de Figos e uma carta. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. A 02. A 03. C 04. A 05. A 06. C 07. B 08. A 09. A 10. C 11. B 12. D 13. B 14. D 15. D 16. E 17. E 18. B 19. B 20. E PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 15 SEQUENCIADORES II - PRONOMES DEMONSTRATIVOS 157 INTERPRETAÇÃO EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. Para substituir o pronome relativo pelo termo antecedente, basta substituí-lo por “gentileza”, construindo o período simples: “Gentileza gera gentileza.” 02. Uma das relações e uma das respectivas reescrituras: • Causa - Eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros visto que todos são portadores da mesma humanidade. - Eles não podem ser pensados independentemente um dos outros já que todos são portadores da mesma humanidade. Como todos são portadores da mesma humanidade, eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros. • Explicação - Eles não podem ser pensados independentemente um dos outros, pois todos são portadores da mesma humanidade. 03. a) Rigorosidade metódica é, para Paulo Freire, a maneira de ensinar que fomenta no educando a curiosidade e a crítica, promovendo o conhecimento crítico necessário à autonomia. O processo educativo, nesse sentido, requer diálogo entre educador e educando, que são participativos e construtores do saber. O “discurso bancário”, por outro lado, reproduz a ideia de que o conhecimento é transferido do professor – detentor do saber – para o aluno, que recebe passivamente o conteúdo que lhe é passado. Esse discurso promove, assim, a manutenção de um comportamento acrítico. b) “certos saberes” c) Só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é aprendido pelos educandos porque é apreendido na sua razão de ser. 04. O pronome “isso” está inserido no período: “Custaria uma hora do meu tempo, e isso é a parte menos grave.”, dividido em duas orações pela vírgula. A partir da segunda oração pode-se questionar: “o que é a parte menos grave?”, e a resposta será “isso”, que se refere à oração anterior. Tem-se, então, que a parte menos grave é que “custaria uma hora do meu tempo”. 05. a) Pode-se inferir que o pronome essa retoma anaforicamente um conteúdo textual anterior referente ao advento da língua escrita. b) No texto de Wilkins, iniciam-se com letras maiúsculas os substantivos comuns, ao passo que, em nossa convenção ortográfica, aplica-se a inicial maiúscula apenas aos substantivos próprios, salvo em casos excepcionais. c) Em todos os casos, exceto em (IV), ser funciona como verbo auxiliar em construções na voz passiva. No caso (IV), ser funciona como verbo de ligação em um predicado nominal que tem como núcleo uma testemunha falsa e mentirosa. ANOTAÇÕES PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR158 INTERPRETAÇÃO 15 SEQUENCIADORES II - PRONOMES DEMONSTRATIVOS
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