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2017 Linguística apLicada à Língua EspanhoLa i Prof. Wellington Freire Machado Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof. Wellington Freire Machado Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 468.24 M149l Machado, Wellington Freire Linguística aplicada à língua espanhola / Wellington Freire Machado. Indaial: UNIASSELVI, 2017. 234 p. : il. ISBN 978-85-515-0117-7 1.Língua Espanhola. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Impresso por: III aprEsEntação Prezado acadêmico, primeiramente receba as boas-vindas ao Livro de Estudos de Linguística Aplicada à Língua Espanhola I. É com entusiasmo que compartilhamos este material planejado exclusivamente pensando em você, estudante do curso de Letras da UNIASSELVI. A criação desta obra instrucional baseou-se em princípios pedagógicos que visam não somente ao melhor aproveitamento da disciplina, mas também a sua autonomia no âmbito das questões aqui apresentadas. Antes de começarmos é importante que você saiba que a Linguística Aplicada à Língua Espanhola I é uma das disciplinas basilares do curso de Letras – Espanhol. O estudo desta matéria possibilita ao acadêmico um entendimento teórico-prático de temas que circundam a linguagem humana e a comunicação, algo inerente a todos nós. Ao estudar gradualmente este material você avançará em temas importantes, como a linguagem, os fenômenos linguísticos, o processo de ensino e aprendizagem, a aquisição da língua espanhola como língua estrangeira, o desenvolvimento das competências oral e escrita, o ensino de espanhol no Brasil e muito mais. O conhecimento adquirido nesta etapa fortalecerá a sua futura prática em sala de aula ao ensinar a língua espanhola, instrumentalizando-o a identificar impasses de ensino e aprendizagem e a traçar estratégias para o melhor aproveitamento dos seus alunos. Além disso, você se sentirá mais confiante em relação às questões ligadas à língua, à linguagem e aos parâmetros que refletem sobre o ensino de uma língua estrangeira. Desejamos a você um excelente estudo. Desbrave com prazer o incrível universo do curso de Letras da UNIASSELVI. Prof. Wellington Freire Machado IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA ............................................................................................... 1 TÓPICO 1 – UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA .................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 PARÂMETROS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DA LINGUÍSTICA ........................... 4 3 DICOTOMIAS SAUSSURIANAS E CONCEITOS IMPORTANTES ....................................... 9 3.1 LÍNGUA E FALA ............................................................................................................................. 9 3.2 SINCRONIA E DIACRONIA ......................................................................................................... 10 3.3 SINTAGMA E PARADIGMA......................................................................................................... 12 3.4 SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO (SIGNO LINGUÍSTICO) .................................................... 14 4 ESTRUTURALISMO E GERATIVISMO ......................................................................................... 16 5 FUNCIONALISMO: A TERCEIRA ONDA DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS ...................... 18 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 20 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 – LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA........................................... 23 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 23 2 PERSPECTIVAS DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA TEÓRICA ................................................... 24 3 AS LINGUAGENS ESCRITA E ORAL E SEUS PADRÕES ......................................................... 29 4 A CONSTITUIÇÃO DAS LÍNGUAS NEOLATINAS ................................................................... 34 5 A LÍNGUA ESPANHOLA E SUAS ORIGENS ............................................................................... 39 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 42 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 43 TÓPICO 3 – LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA ........................................... 45 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 45 2 A LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA: HISTÓRIA DA DISCIPLINA E CONCEPÇÃO INICIAL ......................................................................................... 46 3 PERSPECTIVA AMPLIADA DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA APLICADA .......................... 49 4 ÁREAS DE ATUAÇÃO DA LINGUÍSTICA APLICADA ............................................................. 51 4.1 LOGOPÉDIA .................................................................................................................................... 51 4.2 PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA .................................................................................................. 52 4.3 LEXICOGRAFIA .............................................................................................................................. 53 4.4 TERMINOLOGIA ............................................................................................................................ 54 4.5 TRADUÇÃO ASSISTIDA POR COMPUTADOR........................................................................ 54 4.6 FONÉTICA APLICADA ................................................................................................................. 54 4.7 LINGUÍSTICA FORENSE ...............................................................................................................54 4.8 ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA .............................................................................. 55 5 ESTUDO LINGUÍSTICO E ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA ............................................ 55 5.1 MARCO COMUM EUROPEU DE REFERÊNCIA PARA AS LÍNGUAS ................................ 57 5.2 ALGUMAS EXPERIÊNCIAS NO ENSINO DE ESPANHOL .................................................... 61 6 AVALIAÇÕES E CERTIFICAÇÕES LINGUÍSTICAS ................................................................... 65 6.1 DIPLOMA DE ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA (DELE) ..................................... 66 sumário VIII 6.2 CERTIFICADO DE ESPAÑOL LENGUA Y USO (CELU) .......................................................68 6.3 PROFICIÊNCIA EM LEITURA ....................................................................................................70 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................71 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................72 UNIDADE 2 – A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) ................................................................................75 TÓPICO 1 – A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS ...................................................................................77 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................77 2 CONCEITOS-CHAVE EM LINGUÍSTICA APLICADA .............................................................78 2.1 APRENDIZAGEM X AQUISIÇÃO DE E/LE .............................................................................78 2.2 L2 E LE .............................................................................................................................................80 2.3 BILINGUISMO ..............................................................................................................................81 3 PERSPECTIVA SOCIOAFETIVA DE ENSINO DE E/LE ............................................................82 4 PERSPECTIVA COGNITIVA E METACOGNITIVA ..................................................................84 5 PERSPECTIVA INTERACIONAL ...................................................................................................86 6 PERSPECTIVA SOCIAL ....................................................................................................................88 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................90 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................91 TÓPICO 2 – ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES ................................................................................................93 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................93 2 O ENSINO DE ESPANHOL COM FINS DE TURISMO ............................................................94 3 O ENSINO DE ESPANHOL COM FIM COMERCIAL ...............................................................99 4 O ENSINO DE ESPANHOL COM FINS JURÍDICOS ................................................................100 5 O ENSINO DE ESPANHOL A CRIANÇAS ..................................................................................102 6 ESPANHOL PARA FINS ACADÊMICOS .....................................................................................106 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................109 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................110 TÓPICO 3 – O ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL ........113 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113 2 O BRASIL E A LÍNGUA ESPANHOLA: UMA RELAÇÃO NADA NOVA ............................114 3 O APRENDIZADO FORMAL DE ESPANHOL NO BRASIL: DOS PRIMÓRDIOS À ATUALIDADE .................................................................................................................................116 4 OPÇÕES ALTERNATIVAS DE APRENDIZAGEM DA LÍNGUA NO BRASIL ....................119 5 PROBLEMA INICIAL DE BRASILEIROS APRENDENDO ESPANHOL ..............................120 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................123 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................124 TÓPICO 4 – O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL VISTO DE DENTRO: PERSPECTIVA DOCENTE E NOÇÃO DE ERRO....................................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 2 A NOÇÃO DE ERRO EM LINGUÍSTICA APLICADA .............................................................126 3 A INTERFERÊNCIA LINGUÍSTICA RELATADA POR PROFESSORES DE ALUNOS BRASILEIROS ..................................................................................................................128 4 DETECTADO O ERRO, COMO CORRIGIR O ALUNO? ..........................................................130 IX RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................134 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................135 TÓPICO 5 – ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS ...................................................137 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137 2 A INTERLÍNGUA COMO CAMINHO PERCORRIDO PELO FALANTE NÃO NATIVO .137 3 ANÁLISE CONTRASTIVA: UM DOS PRIMEIROS MÉTODOS ............................................142 4 ANÁLISE DE ERROS .........................................................................................................................144 5 COMPETÊNCIA COMUNICATIVA ..............................................................................................145 5.1 SUBCOMPETÊNCIA GRAMATICAL ........................................................................................145 5.2 SUBCOMPETÊNCIA SOCIOLINGUÍSTICA .............................................................................146 5.3 SUBCOMPETÊNCIA DISCURSIVA ...........................................................................................149 5.4 SUBCOMPETÊNCIA ESTRATÉGICA ........................................................................................150 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................152 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................153 UNIDADE 3 – AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA .......................................................................155 TÓPICO 1 – A AQUISIÇÃO DA LE ...................................................................................................1571 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157 2 A AQUISIÇÃO DO ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: LINHAS GERAIS ...157 3 DIFERENÇA DA AQUISIÇÃO DA LE E DA LM ........................................................................161 4 MOTIVAÇÕES PESSOAIS QUE FACILITAM O PROCESSO .................................................164 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................166 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................167 TÓPICO 2 – TEORIAS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS ...............................................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 CONDUTIVISMO REFUTADO ......................................................................................................170 3 TEORIAS AMBIENTALISTAS ........................................................................................................173 3.1 O FENÔMENO DA ACULTURAÇÃO .......................................................................................174 3.2 DESNATIVIZAÇÃO ......................................................................................................................176 3.3 ACOMODAÇÃO ...........................................................................................................................177 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 TÓPICO 3 – A QUESTÃO DO BILINGUISMO ..............................................................................181 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................181 2 BILINGUISMO SOCIAL...................................................................................................................182 3 BILINGUISMO INDIVIDUAL ........................................................................................................184 4 DIGLOSSIA .........................................................................................................................................185 5 ALTERNÂNCIA DE CÓDIGO .........................................................................................................188 6 O BOM APRENDIZ DE LÍNGUA ...................................................................................................192 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................195 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................196 TÓPICO 4 – A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE .........................................................................................................................197 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................197 2 A PRÁTICA ORAL NO ÂMBITO INDIVIDUAL E INSTRUTIVO .........................................198 X 3 A COMPETÊNCIA ESCRITA E A REDAÇÃO DE TEXTOS .....................................................201 4 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE LÍNGUA ESTRANGEIRA ..........203 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................206 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................207 TÓPICO 5 – QUESTÕES IMPORTANTES NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE L2: A INFORMAÇÃO TRANSFORMADA EM CONHECIMENTO.........................209 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................209 2 INPUT/ADUCTO .................................................................................................................................210 2.1 HIPÓTESE DO INPUT COMPREENSÍVEL ...............................................................................214 2.2 HIPÓTESE DO FILTRO AFETIVO E A MOTIVAÇÃO ............................................................215 2.3 HIPÓTESE DO MONITOR ...........................................................................................................219 2.4 HIPÓTESE DA ORDEM NATURAL ..........................................................................................221 3 INTAKE/EDUCTO ...............................................................................................................................222 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................224 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................225 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................227 1 UNIDADE 1 LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • distinguir as concepções de Língua, Linguagem, Fala e Linguística; • entender o processo constitutivo e o propósito da Linguística Geral, da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada da Língua Espanhola en- quanto ciências; • situar-se teoricamente nas bases que alicerçam o conhecimento linguístico moderno, reconhecendo e aplicando conceitos como sincronia, diacronia, sintagma, paradigma e signo linguístico; • conhecer os principais estudos da Linguística como ciência da linguagem humana; • orientar-se historicamente na constituição da língua espanhola; • identificar a linguagem e seus padrões; • reconhecer as perspectivas de estudo da língua espanhola; • relacionar os estudos linguísticos a temas voltados ao ensino de língua es- panhola. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA TÓPICO 2 – LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA TÓPICO 3 – PERSPECTIVAS DE ATUAÇÃO NA LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 1 INTRODUÇÃO No presente tópico, vamos abordar os conceitos de língua, linguagem, fala e linguística. Estes conceitos são considerados vitais para o entendimento que construiremos ao longo de todo o livro. Ao assentarmos esta base estaremos aptos para avançar em direção a questões específicas, afunilando progressivamente rumo ao nosso destino: a linguística aplicada ao ensino do espanhol. Antes de começar, gostaria de lançar um questionamento a você. Alguma vez já refletiu sobre a importância da língua no desenvolvimento da humanidade? Já parou para pensar como seria difícil a vida sem um sistema linguístico-comunicativo eficaz? No filme “A Guerra do Fogo”, de 1981, os autores recriaram um período da pré-história anterior ao uso da língua, no qual os hominídeos se expressavam através de uma linguagem especial em que prevaleciam elementos como o corpo, as expressões faciais, os movimentos repetitivos e os grunhidos. Todos estes de importância vital para o contato em uma realidade na qual a comunicação, tal como se conhece hoje, simplesmente não existia. É fato conhecidoque na história da humanidade a linguagem é uma das capacidades humanas que mais exerceu fascínio nos povos de diversas culturas. De acordo com Margarida Petter, em estudo publicado no livro “Introdução à Linguística”, os primeiros estudos da língua remontam ao século IV a.C., sendo o interesse pela língua perceptível através de "mitos, lendas, cantos, rituais ou por trabalhos eruditos que buscam conhecer essa capacidade humana" (2003, p. 6). No desenvolvimento deste tópico abordaremos o surgimento da Linguística moderna como disciplina e também a importância de Ferdinand de Saussure (1857-1913) para os estudos linguísticos do século XIX até a contemporaneidade. Como você já deve ter percebido, toda ciência humana possui referentes (obras fundadoras e pessoas que se destacaram) que são indispensáveis para o conhecimento que se produz posteriormente. Ao entendermos o papel de Saussure no âmbito dos estudos linguísticos, logo estaremos aptos para passar à etapa seguinte: as vertentes que surgiram após este momento inicial. Neste caso, observaremos o surgimento de duas correntes importantes na história dos estudos linguísticos, o Estruturalismo e o Funcionalismo. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 4 No campo do cinema, a linguagem é um tema que exerce grande fascínio. Um exemplo recente é o filme "A Chegada" (2016), do diretor Denis Villeneuve. De acordo com a Revista Época, em matéria publicada em 2 de desembro 2016, a trama "usa o aprendizado de um idioma extraterrestre para provar que as palavras podem moldar nossa visão de mundo". Com essa ideia, encontrada na hipótese linguística de Sapir- Whorf, os autores mesclam ficção científica com teorias linguísticas e constroem uma interessante obra ficcional. Veja mais em: <http:// epoca.globo.com/cultura/noticia/2016/12/o-filme-chegada-mostra- como-linguagem-influencia-nossos-pensamentos.html>. DICAS Divulgação do filme “A Chegada” 2 PARÂMETROS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DA LINGUÍSTICA Para estudarmos os parâmetros que fundamentam o estudo da Linguística, primeiramente estabeleceremos um itinerário de viagem que compreende paradas essenciais, tais como: a) Contexto histórico e conceito de Linguística. b) Quem foi Ferdinand de Saussure? c) Qual a diferença entre os termos Língua, Fala, Linguagem e Linguística? A Linguística, como disciplina acadêmica, não surgiu antes do século XIX. Ferdinand de Saussure, autor da obra de referência “Curso de Linguística Geral” (1916), afirma que esta ciência, que se constitui em torno dos fatos da língua, passou por pelo menos três fases sucessivas antes de reconhecer "o seu verdadeiro e único objeto" (SAUSSURE, 2006, p. 7). FIGURA 1 – LINGUAGEM HUMANA FONTE: Disponível em: <https://www.comaudi.com/wp-content/ uploads/2017/03/p%C3%A9rdida-auditiva-669x272.png>. Acesso em: 6 out. 2017. TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 5 Veremos quais foram as três fases pelas quais a linguagem passou antes de chegarmos ao que hoje se entende por Linguística: A primeira fase foi a Gramática. Esta disciplina, de acordo com Saussure (2006, p. 7), visa "unicamente a formular regras para distinguir as formas corretas das incorretas; é uma disciplina normativa, muito afastada da pura observação e cujo ponto de vista é forçosamente estreito". Você provavelmente já consultou gramáticas normativas para esclarecer dúvidas relativas ao uso das regras estabelecidas pela gramática tradicional. A gramática tradicional, tal como a conhecemos hoje, com frequência é objeto de crítica da Linguística Contemporânea. Nos próximos tópicos entenderemos o porquê disso. A segunda fase foi a Filologia. Saussure (2006, p. 7) ressalta que a Filologia não se preocupava unicamente com a língua como objeto, mas sim visava interpretar, fixar e comentar os textos, levando em consideração e ocupando-se da "história literária, dos costumes e das instituições". A terceira fase, de acordo com Saussure (2006, p. 9), começou quando se descobriu que as línguas podiam ser comparadas, o que deu origem ao que Saussure chama de "Filologia Comparativa" ou "Gramática Comparada". Os estudos comparativos vieram por meio da mão de nomes significativos, como Max Müller, G. Curtius e August Schleichter. Apesar de significar um avanço ao possuir "o mérito incontestável de abrir um campo novo e fecundo", esta escola não chegou a constituir a verdadeira ciência linguística, pois "jamais se preocupou em determinar a natureza do seu objeto de estudo" (SAUSSURE, 2006, p. 9). Ao ensinar a Linguística – e provavelmente sequer desconfiar que postumamente se transformaria no primeiro grande nome referencial desta disciplina –, Saussure (2006) afirma que a Linguística nasceu dos estudos das línguas românicas com as línguas germânicas: "Os estudos românicos, inaugurados por Diez – sua Gramática das Línguas Românicas data de 1836-1838 –, contribuíram particularmente para aproximar a Linguística do seu verdadeiro objeto” (SAUSSURE, 2006, p. 11). Se a Gramática trata das regras da língua e a Filologia trata da interpretação, do que, afinal, trata a Linguística e qual a sua tarefa? Saussure responde a esta pergunta de modo categórico. Leia com atenção a citação a seguir, pois ela define com clareza o pensamento de Saussure em relação ao tema: A matéria da Linguística é constituída inicialmente por todas as manifestações da linguagem humana, quer se trate de povos selvagens ou de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássicas ou de decadência, considerando-se em cada período não só a linguagem correta e a "bela linguagem", mas todas as formas de expressão. Isso não é tudo: como a linguagem escapa as mais das vezes à observação, o linguista deverá ter em conta os textos escritos, pois somente eles lhe farão conhecer os idiomas passados ou distantes: A tarefa da linguística será: UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 6 a) fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, o que quer dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstituir, na medida do possível, as línguas-mães de cada família; b) procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e universal, em todas as línguas, e deduzir as leis gerais às quais se possam referir os fenômenos peculiares da história; c) delimitar-se e definir-se a si própria (SAUSSURE, 2006, p. 13, grifo nosso). Você recorda dos filmes “A Guerra do Fogo” e “A Chegada”, que mencionamos nas páginas anteriores? São obras ficcionais que expressam a vitalidade da linguagem humana no processo de comunicação e, por essa razão, importantes para a Linguística, visto que abordam a linguagem a partir de perspectivas que vão além das regras e da interpretação por si mesmas. São situações mediadas pelo contexto e pelas condições (como no filme A Guerra do Fogo), e também por hipóteses ficcionalmente verossímeis (como no filme A Chegada). NOTA Nesse momento você já deve ter percebido que o nome de Ferdinand de Saussure aparece diversas vezes neste texto introdutório e possivelmente deve estar se perguntando a razão disso. Afinal, é normal que você esteja curioso para saber quem foi Saussure. FIGURA 2 – FERDINAND DE SAUSSURE (1857-1913) FONTE: Disponível em: <https://www.leme.pt/biografias/s/ saussure.jpg>. Acesso em: 22 out. 2017. Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra no dia 26 de novembro de 1857. Segundo Luis Casteleiro Oliveros (2000, p. 17), desde muito jovem dedicou- se ao estudo das ciências. Ao mudar-se para Leipzig, em 1876, cidade que a esta altura se constituía como a capital dos estudos linguísticos, Saussure teve como professor ninguém menos que Jorge Curtius (1820-1885), um dos primeiros TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 7 gramáticos comparativos que o autor cita na terceira fase antecessora aos estudos linguísticos. Saussure não deixou livros publicados sobre linguística e o que temos hoje é resultado dos esforços empreendidospor seus ex-alunos que, após sua morte, converteram as anotações de aula em obras póstumas. É graças a Saussure que hoje entendemos uma série de dicotomias linguísticas (oposições), todas de importância inegável para o entendimento da Linguística. As principais dicotomias saussurianas são: sincronia e diacronia, língua e fala, significante e significado, sintagma e paradigma. Estudaremos cada uma dessas definições no Subtópico 3 desta unidade. O Curso de Linguística Geral (1916), de Ferdinand de Saussure, é uma obra fundamental para o estudo da linguística moderna, pois congrega importantes apanhados e conceitos até hoje úteis para a disciplina. O livro não foi publicado por Saussure em vida e trata-se de uma obra póstuma editada por Charles Bally e Albert Sechehaye, com base nos cursos oferecidos por Saussure na Université de Genève no começo do século XX. NOTA Primeira edição do “Curso de Linguística Geral” Agora que já sabemos o que é a Linguística, do que ela se ocupa, o que a antecedeu e já sabemos também quem é a principal referência primária no âmbito moderno desta disciplina, que tal diferenciarmos os conceitos de Língua, Linguagem, Fala e Linguística? QUADRO 1 – DEFINIÇÕES DE LÍNGUA, LINGUAGEM, FALA E LINGUÍSTICA Língua A língua é um grande sistema constituído por regras. De acordo com Margarida Petter (2003, p. 10), a língua é "um sistema de signos" - "um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente dentro de um todo”. É a “parte social da linguagem", exterior ao indivíduo; não pode ser modificada pelo falante e obedece às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade". Em uma visão complementar, José Luiz Fiorin (2003, p. 3) afirma que “as línguas não são nomenclaturas, mas formas de categorizar o mundo”. Linguagem Se a língua é a “parte social da linguagem”, a linguagem está relacionada à individualidade. Petter (2003, p. 9) relembra que Saussure considerou a linguagem "heteróclita e multifacetada", pois abrange vários domínios; “é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social”. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 8 Fala Ato enunciativo. É individual e, segundo Petter (2006, p. 10), resulta das "combinações feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua; expressa-se pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários à produção dessas combinações". Linguística Contemporaneamente, o objeto de estudos da linguística é tripartido em Língua, Linguagem e Fala. De acordo com Petter (2003, p. 10), “A distinção linguagem/ língua/fala situa o objeto da Linguística para Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da linguagem em duas partes: uma que investiga a língua e outra que analisa a fala. As duas partes são inseparáveis, visto que são interdependentes: a língua é condição para se produzir a fala, mas não há língua sem o exercício da fala. Há necessidade, portanto, de duas Linguísticas: a Linguística da língua e a Linguística da fala. Saussure focalizou em seu trabalho a Linguística da língua, "produto social depositado no cérebro de cada um", sistema supraindividual que a sociedade impõe ao falante”. Segundo o Dicionário Houaiss (s.d., s.p.) da Língua Portuguesa, Heteróclito é tudo aquilo que “se afasta, se desvia das regras e das normas estabelecidas”. NOTA Vamos visualizar? Observe o diagrama que elaboramos para você. FIGURA 3 – DIAGRAMA DE LÍNGUA, LINGUAGEM, FALA E LINGUÍSTICA * Social (comum a todos) * Organizada (possui regras) * Individual e Social * Heteróclita e Multifacetada (várias formas de expressão). Individual (utiliza o código da língua + mecanismos psicofísicos) Ciência cujo objeto de estudo é a tríade Língua, Linguagem e Fala. FONTE: Adaptado de Saussure (2006) e Fiorin (2003) FONTE: O autor Língua Linguagem Fala Linguística TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 9 3 DICOTOMIAS SAUSSURIANAS E CONCEITOS IMPORTANTES Ao falarmos sobre o legado de Ferdinand de Saussure, com frequência nos deparamos com o conceito de dicotomias saussurianas, mas o que significa o termo "Dicotomia?". Consultamos dois dicionários para tentar entender melhor este conceito. O primeiro deles é o Dicionário Aurélio (s.d., s.p.), para esta publicação, a dicotomia é uma “divisão lógica de um conceito em dois outros conceitos, em geral contrários, que lhe esgotam a extensão”. Para o Dicionário Michaelis (s.d., s.p.), o termo "dicotomia" consiste em uma "classificação em que se divide cada coisa ou cada proposição em duas". Na verdade, ambas as definições se complementam, expressando-se de modo diferente. Vale lembrar que o termo dicotomia não é usado somente no âmbito dos estudos linguísticos, mas também por outras áreas. Para a Teologia, por exemplo, o corpo e a alma constituem a dicotomia mais importante. Para o Direito, o público e o privado. Na filosofia oriental, Taoísmo, a dicotomia mais importante é o símbolo do Yin-Yang. O Yin representa e energia feminina (Lua), ao passo que o Yang representa a masculina (Sol). FIGURA 4 – O YIN-YANG FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/thumb/1/17/Yin_yang.svg/1200px- Yin_yang.svg.png>. Acesso em: 20 out. 2017. No âmbito da Linguística, as dicotomias saussurianas mais conhecidas são quatro: língua e fala, sincronia e diacronia, sintagma e paradigma e significante e significado. Entender como funcionam as dicotomias saussurianas permitirá que você pense elementos que são fundamentais para a linguística teórica. Vamos nessa? O tema Língua e Fala você conheceu brevemente no Subtópico 2, quando distinguimos os conceitos de Língua, Linguagem, Fala e Linguística. É importante mencionar que estes dois conceitos constituem uma dicotomia para Saussure. Enquanto a língua é um sistema de regras de uso coletivo, a fala é um ato individual de enunciação que concretiza a língua. A existência de uma está ligada à existência da outra. Nesse caso, a fala existe como realização da língua. A língua e a fala também são conhecidas em linguística como langue e parole. 3.1 LÍNGUA E FALA UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 10 Linguagem FalaLíngua Enquanto a língua está depositada no cérebro de todos, a fala compreende, de acordo com Saussure (2006), combinações individuais (que dependem da vontade do falante) e atos de fonação voluntários, que são necessários para a execução dessas combinações. É exatamente essa relação entre uma e outra que convertem o tema língua-fala em uma dicotomia, visto que são extremidades que se correlacionam e existem em função uma da outra. 3.2 SINCRONIA E DIACRONIA Os conceitos de sincronia e diacronia são de importância vital para os estudos linguísticos. Saussure estabeleceu dois tipos de linguísticas: a linguística sincrônica e a linguística diacrônica. A sincrônica se ocupa de um recorte temporal (por exemplo, a língua no século XV). Já a linguística diacrônica se ocupa com as transformações da língua através do tempo (a língua nos séculos XV, XVI, XVII, XVIII...). Segundo Pietroforte (2005, p. 102), o significado das palavras sincronia e diacronia está ligado à origem na língua grega: "Diacronia, do grego dia "através" e chrónos "tempo", quer dizer "através do tempo", e sincronia, do grego syn "juntamente" e chrónos "tempo", significa "ao mesmo tempo". Observe a seguinte imagem: Ao discorrer sobre o tema, Saussure (2006, p. 27) afirma que o estudo da linguagem comporta duas partes: “uma, essencial, tem por objeto a língua, que é social em sua essência e independente do indivíduo; esse estudo é unicamente psíquico; outra, secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale dizer, a fala, inclusive a fonação e é psico-física”. TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 11 FIGURA 5 – SINCRONIA E DIACRONIA FONTE: O autor Na Figura 5 percebemos os séculos dispostos temporalmente (as linhas horizontais).O estudo do momento da língua em um destes séculos constitui o que chamamos de Sincronia. Por outro lado, ao compararmos a língua através do tempo, estamos realizando uma perspectiva dentro da linguística diacrônica. Um estudo diacrônico poderia se preocupar, por exemplo, com a evolução do pronome "você". Se buscarmos nos primórdios da língua portuguesa encontraremos a forma "vossa mercê". Com o passar do tempo adotou-se o "vosmecê". Posteriormente, "vancê" e atualmente "você". Hoje, no século XXI, há registros orais em que os falantes da língua utilizam somente a forma "Cê". FIGURA 6 – DIACRONIA FONTE: O autor Agora, imagine a seguinte situação: você está cursando a disciplina de Literatura da Língua Portuguesa e em algum momento o professor pede para que você leia uma cantiga de amor do período trovadoresco, ainda no tempo em que o português não existia tal como o conhecemos hoje. Observe a Cantiga da Ribeirinha, atribuída a Paio Soares de Taveirós: UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 12 FIGURA 7 – SINCRONIA FONTE: O autor O poema, que data do período de formação da língua portuguesa, possui um vocabulário que nos permite compreender melhor o estágio da língua naquele tempo específico. Por exemplo, a palavra "mentre" (verso 2) possui o mesmo significado de simultaneidade da palavra "enquanto" do português atual. O "Semelha" (verso 12) significa "parecer", ou dá indícios de que se desdobrou na palavra "semelhança". Um estudo diacrônico não se preocuparia em comparar (ver como essa palavra se modificou até chegar no estágio atual), mas compreender a língua tal como ela se apresentava no período estudado. Por exemplo: no século XII, o vocábulo “mentre” possuía a carga semântica de simultaneidade. A Cantiga da Ribeirinha é considerada o primeiro texto literário na língua galaico- portuguesa. O registro pertence a um período chamado “Trovadorismo” (literatura oral) e sua data é incerta, havendo divergências se a ocorrência remonta ao ano 1889, 1198, ou 1200. NOTA 3.3 SINTAGMA E PARADIGMA Imagine a seguinte situação: Você precisa muito dizer algo a alguém, mas desiste de falar por não saber como fazer, pois acredita que o assunto é sério demais para falar sem pensar. Você então decide se recolher e pensar melhor nas TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 13 palavras que vai utilizar. É necessário ser suave diante da situação. Ao recolher- se você buscou e escolheu as palavras disponíveis no seu paradigma, como se elas estivessem disponíveis em um compartimento do seu cérebro. Ao finalmente decidir falar, você trouxe as seguintes palavras escolhidas para o seu sintagma: A dicotomia paradigma e sintagma é vital quando pensamos nos processos língua, linguagem e fala. Mais uma vez, é preciso evocar as formas horizontais e verticais para compreender como se dá essa relação. É através do paradigma que se torna possível fazer as escolhas (eixo vertical). São estas escolhas que se combinam em um Sintagma (eixo horizontal). Segundo Petroforte (2005, p. 116), “O paradigma não é qualquer associação de signos pelo som e pelos sentidos, mas uma série de elementos linguísticos suscetíveis de figurar no mesmo ponto do enunciado, se o sentido for outro”. Vamos entender na prática? Paradigma Sintagma Observe a seguinte frase: O Brasil é o melhor país do mundo. A todo momento o falante da língua escolhe palavras na hora de falar. Estas palavras estão no que, linguisticamente, entendemos por paradigma. São as possibilidades que a língua oferece para expressar o que queremos. Esta escolha se dá em oposição a tantas outras formas possíveis. Desse modo, repare agora as outras formas possíveis de combinação no exemplo dado. O Canadá é o melhor país do mundo. O Japão é o melhor país do mundo. O Equador é o melhor país do mundo. Cada escolha pressupõe a seleção de outras combinações possíveis de acordo com a língua. Por exemplo, se a frase se referisse a países como “”Itália”, “Suíça” ou “Alemanha”, o artigo masculino “O” mudaria para o artigo feminino “A”. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 14 A Itália é o melhor país do mundo. A Suíça é o melhor país do mundo. A Alemanha é o melhor país do mundo. É importante lembrar que as combinações não são aleatórias e não podem transgredir o sistema da língua. Por exemplo: Jamais poder-se-ia dizer “Brasil O é melhor país mundo DO”. Por outro lado, outros elementos do sintagma poderiam ser substituídos por outros termos. Por exemplo, a palavra “melhor” concorre com a palavra “pior”. A palavra “mundo” concorre com a palavra “continente”. Perceba o que Petroforte (2005, p. 116-117) diz a respeito deste tema: No sintagma não se combinam quaisquer elementos aleatoriamente. A combinação no sintagma obedece a um padrão definido pelo sistema. Assim, por exemplo, podem-se combinar um artigo e um nome e, nesse caso, o artigo deve sempre preceder o nome. Em português, é possível a combinação o irmão, mas não a combinação irmão o. Por essa razão, não se deve confundir paradigma com língua e sintagma com fala. Tanto um quanto outro pertencem ao sistema, aquele por estabelecer os elementos que podem figurar num dado ponto da cadeia falada e este por obedecer a um padrão rígido de combinação. Sintagma: Horizontal – onde se combinam os elementos escolhidos no paradigma. Paradigma: Vertical – são as possibilidades de escolha que possui o falante da língua. NOTA 3.4 SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO (SIGNO LINGUÍSTICO) Até aqui conhecemos dicotomias importantes para os estudos linguísticos, como as dualidades sincronia-diacronia e sintagma-paradigma. Vamos pensar agora no signo linguístico. Você provavelmente já deve ter questionado a razão de certas coisas possuírem o nome que têm. Por exemplo, haveria alguma relação lógica entre a palavra que designa “cavalo” com o conceito equino ao qual se associa? Sabemos que este animal possui nomes diferentes em outras línguas, como caballo (espanhol), horse (inglês), pferd (alemão), cheval (francês) ou cal (romeno) e com frequência nos perguntamos: os nomes nestes idiomas são associados ao conceito por alguma razão natural ou socialmente decidiu-se nomeá-los assim sem justificativa alguma? Para entender isso é importante levar em consideração dois conceitos que vamos estudar nos parágrafos seguintes: significante (imagem acústica) e significado (conceito). TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 15 O signo linguístico é um conceito que abrange a dicotomia significante e significado. Segundo Saussure (2006, p. 80), o signo linguístico “une não uma coisa e uma palavra”, mas sim “um conceito e uma imagem acústica". A imagem acústica não é um som material, mas a “impressão psíquica desse som”. FIGURA 8 - O SIGNO LINGUÍSTICO BIPARTIDO EM CONCEITO E IMAGEM ACÚSTICA FONTE: Saussure (2006) Saussure (2006) relembra que as palavras da língua (significante) são imagens acústicas para nós. O signo linguístico, portanto, é a combinação do conceito (ordem semântica) com a imagem acústica (ordem fonológica). Segundo Ernani Viotti (2003, p. 21): “Ao impor uma formatação à massa amorfa do pensamento, a língua cria o significado, que é um conceito. Ao impor uma formatação à massa amorfa fônica/ gestual, a língua cria o significante, que é uma imagem acústica (no caso das línguas orais) ou ótica (no caso das línguas de sinais)”. Sobre o questionamento que lançamos no primeiro parágrafo, sobre a relação entre o nome e o conceito ser algo natural ou convencionado, Saussure afirma que o signo linguístico é arbitrário. Isto significa dizer que não há uma relação óbvia entre o significante (imagem acústica) e o significado (conceito). Não há um motivo que justifique. O autor cita o exemplo do signo mar: “a ideia de "mar" não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons /m-a-r/ que lhe serve de significante; poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, nãoimporta qual” (SAUSSURE, 2006, p. 81-82). Nesse sentido, o significante /mar/ poderia estar associado a outro conceito qualquer. Não há uma relação óbvia entre eles. É nesse sentido que o signo linguístico é arbitrário (não tem regras). Significante: a palavra – grafia e som (imagem acústica) no caso das línguas orais ou os gestos, no caso das línguas de sinais. Significado: O conceito ao qual nos remete o significante. NOTA Conceito Imagem acústica UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 16 4 ESTRUTURALISMO E GERATIVISMO No âmbito acadêmico existem correntes que defendem entendimentos próprios em relação a determinados fenômenos ou objetos de estudo. A visão sobre um conceito, por exemplo, pode ter definições distintas de acordo com a linha de estudos “A” ou “B”. Nos estudos linguísticos, a primeira referência que temos se chama Estruturalismo. O estruturalismo é uma corrente de estudos linguísticos que, muitas vezes, confunde-se com o surgimento da linguística moderna, já que surgiu na esteira das ideias de Saussure. O autor suíço defendia que a língua se assemelhava a um jogo de xadrez no qual o que interessa são as regras que determinarão o movimento das peças. Não por acaso, em seu “Curso de Linguística Geral” Saussure afirmou que a língua é um sistema cujas partes “podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica” (SAUSSURE, 2006, p. 102). Isso significa dizer que cada elemento possui um papel funcional ao integrar o grande todo. Interessa, então, pensar um elemento em relação ao outro, e não na função independente de cada um. O exemplo do jogo de xadrez é uma analogia coerente com essa ideia: recorde que cada peça do jogo (rei, rainha, cavalo, bispo, torre e peão) possui movimentos predeterminados por regras que embasam o jogo. FIGURA 9 – JOGO DE XADREZ: CADA PEÇA É MOVIDA POR REGRAS PREDETERMINADAS FONTE: Disponível em: <https://www.ibusiness.de/cgi-bin/resize/ upload/bilder/334866jg.jpg?maxheight=900&maxwidth=1600>. Acesso em: 20 out. 2017. Recentemente, você foi apresentado às dicotomias de Saussure e percebeu que o entendimento delas nos condiciona a uma compreensão sistemática da língua. Certamente, recordará que para Saussure a LÍNGUA era o principal objeto de estudo da Linguística. Dentro dessa perspectiva, os estruturalistas entendem a língua como forma (estrutura), e por isso são conhecidos – em um sentido mais amplo – também como formalistas. Além do estruturalismo, na metade do século XX registrou-se o surgimento de outra importante teoria de base formalista: o gerativismo chomskyano. TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 17 FIGURA 10 – NOAM CHOMSKY FONTE: Disponível em: <https://upload. wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bb/ Noam_Chomsky%2C_2004.jpg/1200px-Noam_ Chomsky%2C_2004.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. Fato incontestável é que por quase meio século o estruturalismo dominou os estudos linguísticos até o surgimento do gerativismo, em 1957, com a publicação da obra “Estruturas Sintáticas”. Noam Chomsky, o precursor desta corrente, nasceu na Filadélfia (Estados Unidos da América) em 1928. Entre tantas das suas contribuições científicas, a mais representativa para os estudos linguísticos é a Sintaxe Gerativa. Se para Saussure a linguística deveria descrever os elementos fundamentais do sistema linguístico, para Chomsky (2004) a linguística deveria explicar o caráter gerativo das línguas naturais. Na verdade, Chomsky não nega a relevância do descritivismo característico do estruturalismo, mas entende que qualquer falante da língua pode gerar uma infinita quantidade de sentenças. Segundo Eni Orlandi (1986, p. 37), Chomsky propõe “uma teoria a que chama de gramática e centra seu estudo na sintaxe. Esta, segundo ele, constitui um nível autônomo, central para a explicação da linguagem. A finalidade dessa gramática não é ditar normas, mas dar conta de todas (e apenas) as frases gramaticais, isto é, que pertencem à língua". Ainda hoje o Gerativismo inspira importantes estudos no âmbito dos estudos linguísticos. Você recorda das análises sintáticas que fazia no Ensino Médio na disciplina de Língua Portuguesa? Muito do que hoje se entende por sintaxe se deve aos estudos gerativistas da década de cinquenta e aos seus desdobramentos. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 18 FIGURA 11 – ANÁLISE SINTÁTICA FONTE: Chomsky (2004) Para o Gerativismo importa a forma, a língua como sistema. Nesse sentido, tanto o Estruturalismo como o Gerativismo são teorias que encontram afinidades significativas uma na outra. E são justamente essas afinidades que possibilitarão a crítica e, por conseguinte, o surgimento de uma terceira onda nos estudos linguísticos: os estudos de base funcionalista. Agora, já não mais apenas a Língua, mas também os aspectos de mudança e variação como parte da grande Língua. 5 FUNCIONALISMO: A TERCEIRA ONDA DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS Observamos, até o presente ponto, duas correntes focadas na forma (o Estruturalismo e o Gerativismo). Foi em contraposição às ideias defendidas por ambas as teorias que, na década de setenta, surgiu o que hoje conhecemos por Funcionalismo linguístico, apesar de anteriormente já existirem registros esparsos do que mais tarde surgiu como uma teoria linguística. De acordo com Fiorin (2003, p. 22), "a gramática funcional leva em consideração o uso das expressões linguísticas na interação verbal; inclui na análise da estrutura gramatical toda a situação comunicativa: o propósito do evento da fala, os participantes e o contexto discursivo". O Funcionalismo está ligado ao Círculo Linguístico de Praga, local onde foram gerados importantes estudos para o desenvolvimento desta corrente. As teses de Praga são nove teses que englobam estudos que se dedicam ao estudo da língua, sempre utilizando por base o estudo do tcheco e das línguas eslavas. Fiorin (2003, p. 23) afirma que os desdobramentos que o Funcionalismo apresenta na atualidade "concordam com o fato de que a língua é, antes de tudo, instrumento de interação social, usado para estabelecer relações comunicativas entre os usuários". Isso significa dizer que, para os funcionalistas, é na parole (fala) que se encontra o grande fenômeno linguístico de interesse dos seguidores desta corrente de estudos. TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 19 Você se lembra da hipótese linguística de Sapir-Whorf que mencionamos ao falar sobre o filme “A Chegada”? Eduard Sapir é um dos linguistas referenciais para o funcionalismo linguístico. Foi ele quem, com Benjamin Lee Whorf, postulou a hipótese linguística de que o pensamento humano é moldado pela linguagem e pela cultura. NOTA FIGURA 12 – EDUARD SAPIR FONTE: Disponível em: <http://linguisticanthropology.org/wp- content/uploads/2014/06/et0924b.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. Você recordará que para o Estruturalismo havia a dicotomia Língua e Fala (Langue e Parole). Já para o Funcionalismo não há essa divisão, visto que esta corrente enxerga a Língua e a Fala como uma mesma entidade. O bloco funcionalista nos estudos linguísticos se preocupa com questões ligadas à língua (sistema), à linguagem (formas de manifestação desse sistema) e à fala (manifestação individual do falante). São os estudos funcionalistas que permitem, por exemplo, que se diga que o objeto da linguística hoje é a Língua, a Linguagem e a Fala, tal como a definição que apresentamos nos pressupostos fundamentais para o estudo da linguística nesta unidade. 20 Neste tópico, você aprendeu que: • Existe uma série de parâmetros básicos para o estudo da Linguística. • O marco de fundação da Linguística moderna foi fundado na figura de Ferdinand de Saussure. • Existem delimitações conceituais dos termos Língua, Fala, Linguagem e Linguística. • Existiram três fases pelas quais passaram os estudos linguísticos. • As dicotomias saussurianas de língua e fala, sincronia e diacronia, sintagma e paradigmae significante e significado são importantes para o estudo da linguística. • As principais correntes linguísticas do século XX. RESUMO DO TÓPICO 1 21 1 Marque a questão incorreta: a) A Diacronia se ocupa com a língua através de um recorte, ao passo que a Sincronia se preocupa com as transformações da língua através do tempo. b) O paradigma é o âmbito das possibilidades, já o sintagma é a realização das escolhas paradigmáticas. c) O significante se constitui por uma imagem acústica e o significado constitui o conceito ao qual se atrela o significante. d) A linguagem é heteróclita e a língua é organizada. e) No sintagma não se combinam quaisquer elementos aleatoriamente. 2 Considere as seguintes afirmações: I - Enquanto a língua é um sistema de regras de uso coletivo, a fala é um ato individual de enunciação que concretiza a língua. II - A Linguagem é heteróclita e multifacetada. III - A Filologia constitui a terceira fase que antecedeu a Linguística como disciplina moderna. IV - A Gramática trata das regras da língua. V - O Curso de Linguística Geral é uma obra póstuma, encontrada nos pertences pessoais de Saussure e publicada posteriormente por dois ex-alunos do mestre. Assinale a alternativa correta: a) ( ) I, II, III, e V estão corretas. b) ( ) V e II estão incorretas. c) ( ) III e V estão incorretas. d) ( ) Somente a V é correta. e) ( ) Todas as alternativas estão incorretas. AUTOATIVIDADE 22 23 TÓPICO 2 LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1, você foi introduzido aos estudos linguísticos. Aprendeu conceitos importantes, conheceu autores notórios e descobriu que existem teorias linguísticas que são fundamentais para o conhecimento desta disciplina. Agora, munido dessas informações, você está apto para adentrar no Tópico 2, no qual discorreremos sobre o que se entende por Linguística Teórica da Língua Espanhola no âmbito científico. Neste aprendizado, possivelmente você deve estar se questionando: se a linguística geral engloba as perspectivas sincrônica e diacrônica, qual perspectiva abarcará a linguística teórica? A linguística teórica se propõe a entender como o idioma se organiza, tentando compreender minimamente cada uma das partes (fonemas, morfemas, orações, discursos) que o conformam como tal. Hernández de Mota (2000, p. 60) afirma que: La lingüística teórica o descriptiva se encarga de definir la forma como un idioma está organizado (estructura gramatical) descubriendo las unidades que lo conforman y determinando su posible combinación para expresar diversos significados; también investiga la utilidad y el nivel jerárquico de cada uno de sus elementos, ej. los sonidos se unen para formar morfemas; una palabra forma parte de una frase; una frase es elemento constitutivo de una oración y, a su vez, las oraciones se conectan entre sí para formar unidades complejas denominadas discursos. Compreender como se organiza a linguística teórica em língua espanhola é importante para que entendamos como o estudo dessa disciplina pode ser funcional no processo de ensino e aprendizagem da língua espanhola, quando podemos lançar mão de subsídios e ferramentas para melhor compreender o idioma que visamos aprender. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 24 FIGURA 13 – RAMOS DA LINGUÍSTICA FONTE: Mota (2000) Fonética No âmbito da linguística teórica, a Fonética é a disciplina que vai se ocupar de como se pronunciam os sons que formam parte da linguagem humana. De acordo com Mota (2000, p. 62), a Fonética "Describe cómo es producido cada sonido fisiológicamente: qué órganos vocales entran en juego, de dónde proviene y cómo se conduce el aire empleado en su producción y otras características importantes". Isto significa dizer que a Fonética se preocupa com a articulação das palavras no aparelho fonador. Já vimos que o signo é composto pelo significante e pelo significado. A Fonética se preocupa justamente com a parte significante, jamais com o significado. Você também já deve ter percebido que ao aprendermos uma nova língua, com frequência nos deparamos com sons que não existem ou que estão em desuso no português. Um exemplo clássico é o /r/ em espanhol. Você recorda o som que este /r/ faz no começo de palavras como “Ratón” “Ritmo” e “Ruta”? Observe a figura a seguir: 2 PERSPECTIVAS DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA TEÓRICA A linguística teórica se divide basicamente em áreas de especialização: a fonética, a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a análise do discurso, a pragmática e a semântica. Cada uma dessas áreas se ocupa de aspectos específicos da linguagem. Você recorda que no Tópico 1 vimos que a linguagem é definida como multifacetada (possui várias faces) e que também abrange vários domínios, sendo então "física, fisiológica e psíquica"? (PETTER, 2003, p. 9). É no âmago destes desdobramentos que se dividem as áreas de especialização da linguística teórica. Teórica Linguística Aplicada Análise discursiva Sintaxe Fonética Pragmática Outras Psicolinguística Sociolinguística Neurolinguística Linguística matemática Linguística computacional Morfologia Fonologia TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 25 FIGURA 14 – APARELHO FONADOR FONTE: Disponível em: <http://blogdelinguistica.blogspot.com.br>. Acesso em: 7 ago. 2017. Lábio superior Dentes superiores Dentes inferiores Lábio inferior Cordas vocais Fossas nasais Palato Abóbada palatina Véu palatino Alvéolos Língua Laringe Epiglote Faringe Úvulacanal respiratório Ao pronunciarmos estas palavras pronunciamos um /r/ vibrante. Para conseguir alcançá-lo precisamos elevar a língua até os alvéolos, vibrando-a (localize os alvéolos na figura). Esta é a particularidade deste som. Ao pronunciar as palavras em língua espanhola é importante que saibamos como fazê-lo e é justamente neste aspecto que o conhecimento da Fonética da língua espanhola pode ser uma ferramenta de grande auxílio no processo. No exemplo dado, mencionamos o caso da letra /r/ (que de acordo com a fonética possui duas possibilidades de pronúncia). Tanto a produção de vogais como as consoantes poderão ser descritas pela Fonética. Fonologia Se a Fonética se preocupa com a acústica, com os sons que o nosso aparelho fonador é capaz de fazer para pronunciar o aspecto significante do signo, a Fonologia se preocupa com a função e a organização do sistema sonoro da língua. Como você pode perceber, são áreas irmãs no âmbito dos estudos linguísticos. Ao se preocupar com a funcionalidade da fala, a Fonologia se preocupa com questões de diferenciação entre os fonemas no processo de produção de sentido, como no caso dos pares mínimos. Mota (2000) relembra que, ao se comparar os pares mínimos, «muro / duro», «mudo / dudo» y «mimo / mido», logo se comprova que os sons de /m/ e /d/ são fonemas diferenciados, pois a existência deles é capaz de modificar completamente o sentido e a função de uma palavra. Outra função da fonologia é pensar a estrutura silábica de uma língua, conforme exemplifica Mota (2000, p. 63) ao comparar a estrutura silábica do maia (Consoante+vogal+consoante) com o espanhol (consoante+vogal): “los patrones que forman (estructura silábica), por ejemplo, en los idiomas mayas predomina la secuencia de sonidos consonante+vocal+consonante (CVe) como en hin-q'ab' (mi mano en qanjob'aL) y en el español la combinación consonante+vocal (CV) como en «si-lla»”. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 26 Na atualidade, mais de seis milhões de pessoas falam o maia. Sua maior ocorrência se dá na América Central e parte da América do Norte (sul do México), especialmente em países como Guatemala, México e Belize. É uma das línguas indígenas mais antigas de que se tem notícia e seus primórdios antecedem o período pré-colombiano (descoberta da América). NOTA Sintaxe Você recorda que quando falamos sobre o gerativismo de Noam Chosmky mencionamos aexistência de uma sintaxe gerativa? Dentro daquela perspectiva importava a forma. A Sintaxe é o ramo da linguística teórica que vai se preocupar com as regras que permitem que se combine as palavras de forma linear, ou, como afirma Mota (2000, p. 64), "de manera que se formen unidades mayores de significado tales como frases y oraciones; la posibilidad de combinación es infinita". É a língua em seu aspecto horizontal, é a realização que se dá no sintagma. Observe a seguinte frase em espanhol: FIGURA 15 – ANÁLISE SINTÁTICA No exemplo dado percebe-se a função de cada um dos elementos da frase “El periodista escribió um artículo para el periódico”. A Sintaxe, então, ocupa- se de compreender a relação estabelecida entre cada um desses elementos. Esta relação se dá em função de regras previamente estabelecidas. FONTE: Mota (2000) El periodista escribió un artículo para el periódico artículo substantivo artículo substantivo artículo substantivo frase nominalverbo frase nominalpreposición frase preposicional frase verbalfrase nominal Oración El periodista escribió un artículo para el periódico. TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 27 Morfologia Se a Sintaxe se preocupa com a organização das palavras no sintagma, a morfologia se preocupa com a estrutura das palavras como unidades. Esta disciplina estudará a constituição das palavras através das unidades mínimas de significado (morfemas). A classificação dos morfemas se dá por morfemas independentes e morfemas dependentes. Os morfemas independentes possuem significado por si só sem necessitar que se unam com outro morfema (ocorre em palavras como: aunque, pero, desde, ella, él, azul, árbol, leche). Já os morfemas dependentes são aqueles que precisarão unir-se a outros para constituir um significado. Os morfemas derivacionais prefixais, ou prefixos, se colocam antes da raiz (ou radical), modificando seu significado original. Um exemplo de prefixo em língua espanhola são as unidades "An" e "A". Ambos sinalizam negação ou anomalia: analfabeto; amorfo. Além dos prefixos (que vêm antes), há também os sufixos (que vêm depois). O sufixo "Filia", por exemplo, significa aficção por algo que está representado pela palavra raiz. É o caso de "bibliofilia" (aficção por livros) e "francofilia" (aficção pela língua francesa). Cabe salientar, contudo, que o âmbito dos estudos morfológicos constitui uma disciplina bastante completa. Os exemplos de morfemas que você acabou de ver constituem uma partícula mínima do que pode vir a ser estudado nessa disciplina. Semântica No âmbito linguístico, a Semântica estudará o significado das palavras. Em espanhol, também é conhecida pelos nomes de onomasiología, semología, semasiología y sematología (RAIMONDO, 1991, p. 251 apud Mota, 2000). O que importa entender é que a semântica se preocupará com a acepção individual ou não de palavras, frases, morfemas e orações. Entre outras atribuições, a Semântica preocupa-se com: La construcción de definiciones para los vocablos de un idioma (léxico), con base en rasgos que le son característicos (semas), ej. Mujer: especie: +humano; sexo: +femenino; edad: [+adolescente, +joven, +adulto, + anciano]; número: [+individual, + colectivo]. Mujer: Ser humano de género femenino, pudiéndose asignar este término desde la etapa de la pubertad hasta la vejez, dependiendo de la cultura, para denotar una persona en particular (<<Esa mujer es interesante») o un grupo colectivo (<<La mujer y su papel en la sociedad»). En algunos contextos, durante la etapa de la infancia y la niñez la palabra es empleada con fines de identificación de género (<<Fue una mujercita» -la bebé que nació-) (RAIMONDO, 1991, p. 251 apud MOTA, 2000, p. 66). UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 28 Se pensarmos em comparação com a sintaxe, que se preocupa com a estrutura da língua e como ela se realiza no sintagma, a semântica vai se preocupar com o significado da realização sintagmática. Muitas vezes, você já deve ter se preocupado com o significado de uma palavra ou de uma frase específica. Em linhas gerais, essa é uma preocupação de ordem semântica. Nos domínios da linguística teórica esta é uma área de grande importância, visto que observa a língua no âmbito da sua realização. Análise do Discurso Se a Semântica se preocupa com o significado de unidades menores (como palavras, frases e orações), a análise do discurso vai se debruçar sobre as unidades maiores que a oração, como os parágrafos, os textos e os discursos. De acordo com Mota (2000), este ramo dos estudos linguísticos vai se preocupar com aspectos como o conteúdo, a coesão, a coerência, os referentes linguísticos e a temática. Foi o filósofo francês Michel Pêcheux (1938-1983) um dos grandes baluartes da análise do discurso francês. Entre as principais obras do autor, destaca-se "Análise Automática do Discurso" (1969), “O discurso: estrutura ou acontecimento” (1983) e “Semântica e discurso: uma crítica da afirmação do óbvio” (1975). FIGURA 16 – MICHEL PECHEUX (1938-1983): UM DOS GRANDES EXPOENTES DA ANÁLISE DO DISCURSO FONTE: Disponível em: <http://www.labeurb.unicamp.br/portal/ UserFiles/Image/Michel1.JPG>. Acesso em: 24 out. 2017. Pragmática A Pragmática se centra, fundamentalmente, no uso que as pessoas dão ao seu idioma em contextos distintos. Este uso pode estar mediado por uma intenção definida. É o usar a língua para a produção de efeitos e geração de significados específicos. São importantes vários elementos, tais como: • El efecto de lo que se dice o escribe en los demás. • La función del contexto, del conocimiento previo y de las experiencias socioculturales en la expresión y la interpretación. Tannen (2000) menciona que en la India, las normas de cortesía sugieren que si alguien expresa admiración o gusto por algo que lleva su interlocutor, TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 29 se espera que lo admirado le sea obsequiado; en América, la intención al expresar admiración conlleva únicamente agrado y nada más. • «La forma como se establece, se mantiene y se modifica la relación entre interlocutores» o participantes en el acto comunicativo (RAIMONDO, 1991, p. 174 apud MOTA, 2000, p. 72). Para pensar na importância da Pragmática, pensemos em uma figura de linguagem chamada ironia. Ao fazer um exame de memória, você seria capaz de lembrar quantas vezes já se valeu deste recurso para comentar algo? Ou então, quantas vezes alguém já utilizou esta figura com você? Se você não for adepto a este uso, talvez consiga recordar quantas vezes utilizou. Contudo, há muitas pessoas que usam a ironia com muita frequência. Se você for uma delas, certamente não conseguirá contar quantas vezes já a utilizou. O exercício da ironia em um discurso é uma função cabalmente analisada pela Pragmática. 3 AS LINGUAGENS ESCRITA E ORAL E SEUS PADRÕES No primeiro tópico, você aprendeu que a Língua é um grande sistema organizado e que constitui a parte social da linguagem. Já no segundo tópico, conheceu as diversas formas de se estudar essa língua. Nesta etapa, chegou o momento de compreendermos um conceito que é indispensável quando queremos ensinar ou aprender uma língua estrangeira: a norma estándar. Você já deve ter percebido que a linguagem, por ser multifacetada, pode ser adequada a diversas situações comunicativas. Esta adaptabilidade se percebe, por exemplo, quando você precisa se dirigir ao reitor da universidade onde estuda ou a alguma autoridade. De acordo com a norma, no trato com essas pessoas é indispensável que utilizemos uma linguagem formal, mediada por pronomes de tratamentos (como Vossa Senhoria, Excelentíssimo, no caso do português), assim como outras palavras e expressões específicas. Em língua espanhola, essa forma de se comunicar é orientada pelo que se entende por norma estándar (padrão). O tratamentoformal difere, por exemplo, do modo como nos comunicamos com pessoas com as quais temos intimidade (familiares, conhecidos e amigos íntimos). De acordo com Mota (2000, p. 40): Las normas definen lo que es y no es permitido con uno u otro grupo; algunas comunidades optan por un lenguaje coloquial para con los familiares mientras otros/ especialmente en relación a los padres, prefieren el uso de un tono formal. Las normas sociales determinan cómo debe la gente expresarse según la intención (saludar, agradecer, pedir, amenazar etc.), la audiencia (tipo de oyente o lector), el lugar, el medio de comunicación etc. A linguagem escrita, em língua espanhola, é normatizada por entidades como a Real Academia Española e pela Associação de Academias de Língua Espanhola. Este padrão de linguagem escrita se impõe frente às variações sociais e locais, em uma tentativa de unificar o idioma no plano textual, respeitando as particularidades de cada situação comunicativa. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 30 Nos exemplos a seguir selecionamos dois tipos de cartas redigidas para autoridades. O texto 1 trata de uma carta escrita pelo presidente do governo espanhol Mariano Rajoy e dirigida ao presidente do governo da Catalunha. Já no texto 2 se reproduz uma carta escrita por uma criança de oito anos e destinada ao presidente da Bolívia, Evo Morales. Carta do presidente do governo da Espanha (Mariano Rajoy) ao presidente do governo da Catalunha. E S P A N H A Texto 1: Estimado President: Contesto la carta que me ha remitido, a la que adjunta el acuerdo aprobado por el Gobierno de la Generalitat de Cataluña, mediante el cual se solicita al gobierno español el inicio de negociaciones sobre los términos y las condiciones para la celebración de un referéndum en Cataluña, así como la Moción 122/XI aprobada por el pleno del Parlament de Cataluña el pasado 18 de mayo. Como usted sabe, mi voluntad de dialogar y de llegar acuerdos con la Generalitat de Cataluña, como con cualquier otro gobierno autonómico, es plena y sincera. Esta disposición al diálogo y a la cooperación entre administraciones ha quedado de manifiesto a lo largo de estos años, en los que hemos llegado a numerosos acuerdos y prestado toda nuestra colaboración a la Generalitat. Son muchos los ámbitos en los que dicha colaboración ha redundado en beneficio de los ciudadanos de Cataluña. He tenido ocasión de reiterarle, tanto en público como en privado, las obligaciones constitucionales que comporta tanto mi cargo como el suyo. La primera de ellas, ineludible para mí, es la defensa del orden constitucional. A nadie se le oculta que la propuesta política a la que se me invita consiste en pactar con el gobierno que usted preside, la forma de vulnerar el núcleo esencial de la Constitución española. (…) Como gobernante y representante del Estado, le invito a recuperar los planteamientos que, lejos de generar desencuentro y frustración, se ajusten al común marco de convivencia y respondan a las necesidades reales de los catalanes, y desde esa posición, logremos encontrar espacios de acuerdo en beneficio de todos. Mariano Rajoy Brey Presidente del Gobierno Fonte: http://www.lamoncloa.gob.es/presidente/actividades Paginas/2017/250517rajoycataluna.aspx TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 31 Texto da atriz Kate del Castillo sobre a existência M É X I C O Texto 2: Es increíble la manera en que me mira, como resguardando, aceptándome con todo y mis noches de nostalgia, mis días de tristeza, mis despertares bañada en llanto, mis noches de lujuria, mis tardes filosóficas, mis borracheras en soledad hasta quedarme dormida. Me mira sin juzgar. Aquí en este lugar que decidí llamar mi hogar, HOME. Mi único YO, donde floto, donde me vuelvo niña y a madrazos me he vuelto mujer, donde soy simplemente YO. Nada se mueve, nada existe sin que yo lo decida…lo he hecho mío. Un espacio. Un vacío que llené de mí a base de lágrimas, rechazo, lucha, alegrías, amor y desamor, crecimiento y madurez, cómo duele madurar, duele crecer, cabrón duele. Su mirada me penetra y sonrío. Hasta lo más difícil que es ir en contra de mi misma, me ha costado mi hogar, home. Dejar, deshacerme, desligarme de…lo que creí era mío. Yo sé que nada me pertenece, que cuando muera, me iré sin maletas, sólo recuerdos y lo poco que quedará de mí, que será mucho pues…satisfacciones, tanto amor, tantas risas, tanto reconocimiento que tal vez no merecía, pero eso sí, plena, satisfecha y feliz me iré porque habré hecho y deshecho. Me habrán amado profundamente; he sido una mujer muy amada lo sé y tengo muy mala memoria pero de eso sí me acuerdo y para siempre, me han amado. Desde siempre me han amado. Más de lo que yo he amado tal vez y no es que no haya amado con todo lo que soy, apasionada y profundamente, es que … apenas me di cuenta. Estoy aprendiendo a amar. Su mirada me da consuelo. Nunca me he sentido tan vacía y tan feliz. Nunca me he sentido tan feliz pero tan vacía. Como sea da igual. Me doy las gracias a MÍ. Sólo a mí; por haber querido ser quien no era, como Dalí, mi ambición ha ido en aumento, ahora quiero ser KATE y lo estoy consiguiendo. La cultura, el poder, el conocimiento, la política, Hollywood, premios, no me darán una mejor tumba. Ser feliz será lo único que me dará a mí y a mis seres queridos paz cuando me vaya. Le entregaré cuentas al señor cuando me pregunte si fui feliz porque a eso me mandó no? Y tal vez mis cuentas se lean algo así: LA PASÉ DE LA FREGADA,SIEMPRE QUISE MÁS Y MÁS, A LO TARUGO ME PUSE INTENSÍSIMA, ESPERÉ MÁS DE LA GENTE,ME ENOJÉ POR TONTERÍAS,ME CALLÉ CUANDO NO DEBÍ,ODIÉ, ENVIDIÉ,ME TRAICIONÉ, MALDIJE, JUZGUÉ … … pero también me apasioné como desquiciada, me encabroné, me agarré a madrazos por amor, tuve pasión por mi profesión, defendí mi familia con los dientes, enloquecí de amor, tuve amistades que me sostuvieron las miles de veces que caí destrozada, viví intensamente, me lastimaron en lo más profundo, lastimé yo aún más, sentí morirme. Pero señor, no me arrepiento de un sólo momento, de una sola decisión porque por más estúpidas que fueron, salieron de mis entrañas, de mi par de ovarios, de mi corazón, de mi cabeza … de mí pues. Lucho y me hago más fuerte. FORTALEZA. Vivo y me hago más vulnerable. VULNERABILIDAD. Siento su mirada, sin ver, puro amor, amor puro. El “saber” me preocupaba tanto de chavita, quería dejar claro que no era tonta, era quien no quería ser y peor aún, quien no era ni seré. La vida es un instante de verdad, me da tristeza reconocerlo. Sólo quiero atenderme, sólo así podré superar UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 32 No primeiro texto, percebemos uma manifestação cabal do uso da norma culta – ou do espanhol dito estándar -, no qual o autor respeita o padrão da linguagem escrita e se dirige formalmente a outra autoridade. Já no segundo texto, percebe-se a ausência significativa de sinais de pontuação. No entanto, coexistente com a não pontuação (se considerarmos que o texto supostamente foi escrito por uma criança de oito anos – o que é questionável), percebe-se uma notável tentativa de adequação linguística no que diz respeito ao destinatário. Ao longo da explanação, em nenhum momento a autora refere-se ao presidente de seu país de outra forma senão como “Señor Presidente” ou “Distinguidísimo Señor Presidente”, o que – neste aspecto – se compatibiliza com a norma estándar. Ambos os exemplos explicitam uma faceta do padrão da linguagem escrita normatizada pela Real Academia Española: um que se escreve por completo dentro da norma e outro que almeja alcançar este padrão. De acordo com Demonte (2005, p. 3): El estándar es, además de la supravariante de prestigio, el conjunto “borroso” de rasgos y procesos fonéticos, morfológicos, sintácticos y léxicos que se describirían en parte en algunas gramáticas normativas, la idea de queesto va a terminar algún día. Soy romántica y cariñosa aunque me digan que tengo cara de cabrona. También soy bien cabrona. La vida en pareja es lo más maravilloso y divertido que me ha sucedido aunque ha sido breve, pero divino. Sólo si me atiendo podré ser liviana para mí. Para quien llegue a tomarme de la mano para caminar juntos riéndonos de habernos encontrado hasta ahora y sin lamentarnos el no habernos encontrado antes y que me calle con un beso largo y lento, lleno de vivencias, de vidas vividas por separado y después, formar una familia. Yo sé que llora al verme rota, toda rota. La muerte es egoísta. Los que nos quedamos la pasamos de la fregada. Por intereses personales : extrañamos, nos duele no volver a estar juntos nunca más, nos encontramos perdidos sin saber enfrentar nuestros propios elementos. Si pensáramos más en los “idos” y menos en nuestro dolor, no nos sería tan dura su partida. La muerte es EGO. Aunque los vacíos siempre serán eso, VACÍOS. Pero su mirada, su pequeñísima presencia llena en ese momento mi vacío. Mi corazón ha sido pisoteado, escupido, apuñalado, tiene moretones aún pero ha sanado no una varias veces a través de mi vida, sin embargo, me siento orgullosa de él porque todavía ama con toda su fuerza. Hoy brindo por ser capaz de sentir, de amar, por el privilegio de sentirme viva y que dure lo que tenga que durar. Mientras tanto… AQUÍ ESTARÉ. Tú, sólo tú me conoces más que yo misma. Kate “Los vacíos nunca se llenan, déjalos en paz, siempre hay “llenos” que necesitan más de tu atención, ellos te darán la mayor satisfacción, ver los vacíos como llenos.”- Yo “Que nos atrevamos a salir del cubo llamado SOCIEDAD y así logremos amar sin ataduras para ser… simplemente libres” – Yo mera. Es un quote de mi libro TUYA. -“Qué quisiera ser?” -“Dalí. Cuando tenía 4 años quería ser cocinero, a los 6, Napoleón y desde entonces mi ambición ha ido aumentando; ahora quiero ser Dalí y lo estoy consiguiendo.” Salvador Dalí Kate del Castillo. Disponível em: https://twitter.com/katedelcastillo/ status/287700906210885632 Acesso em 17 abr 2018. TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 33 en las lenguas que las formulan. Así las cosas, los rasgos y procesos de una variedad estándar no configuran un sistema, un todo exhaustivo y homogéneo, sino que surgen por contraste y debilitación de los rasgos y procesos considerados regionales, rurales, marginales, anormales, inapropiados, incorrectos, entre otras denominaciones posibles. A língua estándar refere-se, basicamente, à linguagem escrita. Quando falamos em linguagem oral, o termo mais adequado é a neutralidade. A neutralidade – ou a tentativa de alcançá-la – consiste na eliminação de gírias e expressões regionais na articulação oral do idioma. Esta é uma linguagem muito utilizada nos meios de comunicação internacional (por exemplo, nos canais de televisão internacionais, ou em produtos audiovisuais de exportação, como as séries e novelas). Cabe sinalizar que na linguagem oral é impossível haver um único espanhol neutro, tendo em vista a variedade dialetal existente neste idioma. No entanto, há esforços significativos para se tentar encontrar um meio-termo entre os regionalismos e as expressões linguísticas típicas de cada país. FIGURA 17 – PAÍSES DE LÍNGUA ESPANHOLA FONTE: Disponível em: <http://culturahispana2f.blogspot.com.br>. Acesso em: 20 set. 2017. Você sabia que existem diversas formas de falar o espanhol no mundo? Assim como na língua portuguesa, que possui variantes dentro de cada país e também nos demais países falantes deste idioma, no mundo hispânico cada país possui sua variante específica e dentro de cada variante existem outras variantes. A linguagem, viva e composta pelas distintas culturas que a conformam, se modifica a todo momento e caracteriza geograficamente os falantes do idioma. Isto significa dizer que o espanhol, como a terceira língua mais falada do mundo (com 500 milhões de falantes), pode ser ouvido de forma distinta de acordo com o país onde se está, havendo variantes distintas na Argentina, no Chile, no México, na Espanha e em outros países. O estudo dessas variantes estará ligado à Sociolinguística, um braço da Linguística Aplicada. NOTA UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 34 FIGURA 18 – GUSTAVE DORÉ: TORRE DE BABEL. UM DOS PRIMEIROS MITOS ASSOCIADOS AO SURGIMENTO DAS LÍNGUAS FONTE: Doré (2008) 4 A CONSTITUIÇÃO DAS LÍNGUAS NEOLATINAS De acordo com a Enciclopédia de Sistemas Escritos e Linguagens (Omniglot), na atualidade existem aproximadamente 6.703 línguas. Alguma vez você já questionou a razão da existência de tantos idiomas distintos? Este é um questionamento que há muito intriga a humanidade. A tentativa de neutralidade no âmbito oral pode ser percebida em três manifestações: a) no espanhol europeu, falado na Espanha; b) no espanhol rio- platense, falado na Argentina e no Uruguay; c) no espanhol pautado na variante mexicana, que se disseminou na América Central, nos Estados Unidos e em grande parte da América Latina. Estes três padrões de neutralidade se apresentam, sobretudo, em função de domínio geoestratégico em âmbito audiovisual (na tradução e dublagem de filmes, novelas e seriados). Os três são igualmente aceitos e, ao menos oficialmente, não há hierarquia instaurada entre eles. DICAS Você conhece o “Tu Babel”? Trata-se de uma plataforma colaborativa que serve para esclarecer as distintas gírias usadas em países hispanofalantes. Você pode consultar o termo como em qualquer outro dicionário. Vale a pena dar uma conferida! Acesse: <http:// www.tubabel.com/>. TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 35 Ao longo da história da humanidade tentou-se responder este questionamento de distintas formas. Há explicações míticas, bíblicas e científicas. Independentemente da explicação que se observe, sempre seremos direcionados para a história. O fato incontestável é que cada língua possui o seu próprio processo constitutivo e a compreensão do surgimento de cada uma delas está ligada aos estudos linguísticos de matriz diacrônica. Para que possamos compreender melhor o processo de surgimento da língua espanhola no subtópico seguinte, dediquemos um pouco de atenção a uma língua que certamente você já ouviu alguém falar sobre: o Latim. O latim é uma língua indoeuropeia (da Europa e Ásia meridional). Na Roma antiga era a língua oficial do Império Romano. Por qual razão para nós, falantes do português e do espanhol, é tão importante esta língua que já não mais se fala? A razão, apesar de estar ligada a uma historicidade complexa, em linhas gerais é simples: com a expansão do Império Romano pelo território europeu, o latim foi gradualmente sendo instituído como língua em lugares muito distantes do território da Roma antiga. Graças a esta expansão surgiram línguas descendentes do latim, as chamadas línguas romances. Essas línguas, na atualidade, são conhecidas como francês, espanhol, português, romeno, catalão, italiano, valenciano, galego, aragonês, entre outras. FIGURA 19 – IMPÉRIO ROMANO FONTE: Disponível em: <http://mihistoriauniversal.com/wp-content/uploads/ mapa-imperio-romano.jpg>. Acesso em: 20 set. 2017. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 36 Latim In principio creavit Deus caelum et terram. Português No princípio criou Deus o céu e a terra. Espanhol En el principio crió Dios los cielos y la tierra. Francês Dieu, au commencement, créa les cieux et la terre. Italiano Nel principio Iddio creò il cielo e la terra. Catalão Al principi, Déu va crear el cel i la terra. Galego No comezo, Deus creou o ceo e a terra. Romeno La început, Dumnezeu a creat cerul și pământul. Se você observar cada uma das palavras, verá uma relação muito forte entre elas, como no caso o “creavit” em latim, que se desdobrou em (criou, crió, créa, creò, crear, creou e creat), ou então a palavra Deus (desdobrada em Dieu, Dios,Iddio, Déu, Dumnezeu). É graças à linguística sociocomparativa que hoje existem hipóteses plausíveis sobre o surgimento das línguas. Gonçalves (2009, p. 9) menciona a existência de uma protolíngua, uma língua que teria originado todas as demais: Nas colônias romanas falavam-se variações dialetais do latim vulgar. São essas variações que possibilitaram o surgimento das línguas que mencionamos anteriormente. Veja o que diz o autor Jorge Fernández Jaén (2006, p. 15) sobre o latim vulgar: ¿Qué es el latín vulgar? El latín, al igual que todas las demás lenguas, tenía variedades lingüísticas relacionadas con factores dialectales (variedades diatópicas), con factores socioculturales (variedades diastráticas), con factores históricos y evolutivos (variedades diacrónicas) y con factores relacionados con los distintos registros expresivos (variedades diafásicas); pues bien, el latín vulgar (también llamado latín popular, latín familiar, latín cotidiano o latín nuevo) era la variante oral del latín, es decir, el latín que utilizaban los romanos (fueran cultos, semicultos o analfabetos) en la calle, con la familia y, en general, en los contextos relajados. Se trata, por tanto, de un latín que se aleja del latín clásico y normativo debido a la espontaneidad y viveza que le otorga su naturaleza oral y cotidiana. Esta variante diafásica de la lengua latina es de vital importancia puesto que es de ella (y no del latín culto de la literatura y los registros formales) de donde van a proceder las lenguas romances o románicas, y más en concreto del latín vulgar del período tardío. É justamente por esse motivo que, quando ouvimos alguém falar em algum desses idiomas, somos capazes de identificar palavras parecidas com o português. Dessa origem surgiu o mito de que o espanhol é uma língua fácil de se aprender, dada a proximidade com o português (recorde-se que na Península Ibérica Portugal e Espanha são países fronteiriços). Observe a mesma frase retirada de Gênesis 1:1, escrito em línguas neolatinas diferentes: TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 37 FIGURA 20 – A GRANDE FAMÍLIA LINGUÍSTICA FONTE: Gonçalves (2009) Ao longo, principalmente, do século XVIII, estudiosos europeus interessados em várias línguas e culturas começaram a perceber as similaridades muito claras entre palavras de línguas que já se sabia que eram aparentadas, como o grego e o latim, e línguas de regiões muito afastadas da Europa Ocidental, como o sânscrito, língua sagrada da antiga civilização dos Vedas, da Índia. Perplexos, os pesquisadores começaram a estabelecer relações entre essas línguas e a maioria das línguas faladas na Europa, e foram mapeando semelhanças que constituíam evidência forte demais para levantar a hipótese de que todas essas línguas teriam derivado de algum ancestral comum. Esta protolíngua seria a fonte primogênita de todas as demais línguas. Observe com atenção a figura elaborada por Gonçalves (2009): Além das palavras que herdamos do latim cuja raiz hoje compartilhamos com outras línguas romances, também se registra nas línguas portuguesa e espanhola uma gama infindável de expressões que possuem origem na cultura greco-romana. Como bem sabemos, o contexto de uso de uma língua está mediado por diversos fatores socioculturais. Como o latim é a fonte de onde se originam o português e o espanhol, é comum que muito do que falamos esteja ligado a esta língua, ainda que muitas vezes não saibamos disso. Leia atentamente a citação a seguir, retirada de um livro de Ana Maria Machado intitulado “Como e por que ler os clássicos universais desde cedo”. Nesta longa citação podemos complementar a ideia de que a linguagem é heteróclita e multifacetada. Você vai se surpreender com a quantidade de palavras do latim que utilizamos. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 38 Apesar de o texto se referir à língua portuguesa, as expressões latinas mencionadas por Machado também possuem sua versão em língua espanhola. NOTA A nossa linguagem está cheia de referências aos antigos mitos greco- romanos, de tanto que eles nos influenciaram. Quando dizemos que uma coisa é bacana, estamos fazendo uma alusão a Baco, o nome romano do deus do vinho. Se alguém recebe um presente de grego, isso é uma lembrança da guerra de Troia. Se lança o pomo da discórdia, também é. Cada referência dessas remonta a toda uma história. Falamos em ouvir o canto da sereia, em narcisismo, em complexo de Édipo, em caixa de Pandora, em calcanhar de Aquiles - e cada uma dessas expressões se refere a uma história grega diferente. Dizemos que uma coisa é uma verdadeira odisseia, que alguém está fazendo um esforço hercúleo, que o eco repete os sons - e com isso lembramos os personagens de Odisseus, Hércules ou a ninfa Eco. O oceano Atlântico lembra a Atlântida e o gigante Atlas, um vulcão era a chaminé da forja do deus Volcano, um labirinto era onde vivia o Minotauro, as olimpíadas prestam tributo aos deuses do Olimpo. Um desinfetante que se chame Ajax, uma revista de companhia aérea intitulada Ícaro, uma empresa de informática com a marca Medusa estão homenageando personagens mitológicos gregos - com muita pertinência, porque há na história de cada um deles uma explicação para a escolha desse símbolo. Uma foto erótica tem a ver com o deus Eros, um fenômeno psíquico recorda sua amada Psiquê, e qualquer coisa voluptuosa se refere à filha deles, Volúpia. A deusa do amor, Afrodite, é lembrada nos afrodisíacos - e com seu nome romano, Vênus, deixou sua marca nas doenças venéreas. As artes marciais têm esse nome porque seu patrono é Marte, o deus da Guerra. Uma coisa hermética é como se fosse guardada por Hermes, mensageiro dos deuses, que não podia entregar suas mensagens a quem não fosse o destinatário. Um cronômetro, uma cronologia e uma doença crônica aludem ao deus do tempo, Cronos - cujo nome romano, Saturno, batizou o dia de sábado em algumas línguas, como saturday, em inglês. Aliás, outros deuses greco-romanos também patrocinam diretamente outros dias da semana em outros idiomas: Marte (martes em espanhol, martedi em italiano, mardi em francês), Mercúrio (respectivamente miércoles, mercoledi, mercredt), Júpiter ou Jove (jueves, giovedi, jeudt), Vênus (viernes, venerdi, vendredt). O deus Janus, de duas caras, uma olhando para a frente e outra para trás, é homenageado pelo mês de janeiro, em que um ano começa ainda próximo das lembranças do que terminou. A lista seria interminável. Um delicioso catálogo do variadíssimo patrimônio que a mitologia clássica nos deixou. Uma mãe ou pai atento pode se divertir muito, revelando aos filhos as pistas dessa riqueza, brincando de uma espécie de caça ao tesouro cultural. Um professor criativo pode mobilizar sua turma durante muito tempo, procurando vestígios gregos e romanos no nosso dia a dia (MACHADO, 2002, p. 29). TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 39 5 A LÍNGUA ESPANHOLA E SUAS ORIGENS Tratar sobre a origem de uma língua é uma tarefa bastante complexa. No caso do espanhol, é preciso remontar à origem dos povos e das línguas faladas na Península Ibérica antes da colonização romana. Sabendo da complexidade do assunto e do caráter introdutório do presente material, nesta etapa partiremos da romanização da Península Ibérica como ponto de eclosão da língua espanhola. DICAS Se você deseja saber mais informações sobre os povos e as línguas que eram faladas na antiga Ibéria, não deixe de consultar o texto de Xose A. Padilla García intitulado "Escrituras y lenguas en la hispania prerromana". PADILLA GARCÍA, X. P. Escrituras y lenguas en la hispania prerromana. In.: História de la lengua española (livro digital) p. 3-14 Disponivel em: <http://www.cervantesvirtual.com/ portales/lengua/>. Como você aprendeu no subtópico anterior, foi a partir da fragmentação do latim vulgar que surgiram as chamadas línguas romances, entre elas o espanhol. A origem do espanhol modernoestá intimamente ligada a uma língua romance conhecida como "espanhol arcaico". De acordo com o autor Miguel Ángel Mora Sánches (2006, p. 19): Se entiende por «español arcaico» el conjunto de manifestaciones lingüísticas, em una lengua romance cercana al futuro castellano, que se producen en una parte del dominio de la Península Ibérica antes de la aparición de los primeros documentos escritos literarios (s. XII). Sus principales características van a ser dos: la escasez del corpus y su dispersión. De hecho, ha llegado a nosotros de forma muy fragmentada y, en gran parte, através de textos notariales. O registro oral do espanhol arcaico infelizmente não chegou até nós. Atualmente, temos acesso a documentos literários que nos possibilitam conhecer como se dava este espanhol arcaico. Há registros de jarchas (composições de origem árabe) e de obras de importância vital escritas no período medieval, como o El Cantar de Mio Cid (Anónimo), El Libro de Buen Amor (Arcipreste de Hita), La Celestina (Fernando de Rojas), El Conde Lucanor (Don Juan Manuel) e tantas outras. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 40 O espanhol arcaico era muito diferente do espanhol que nós conhecemos hoje. Os textos que chegaram até nós constituem um registro histórico cabal e demonstram um estágio da língua cuja compreensão, para nós, falantes no século XXI, compõe uma tarefa bastante árdua. Você recorda do fragmento que trouxemos da cantiga trovadoresca de Paio Soares de Taveirós, quando falamos sobre o estudo sincrônico da língua? Aquele exemplo data de um período em que a língua portuguesa e a língua galega ainda coexistiam como uma única expressão linguística. Observe agora um exemplo de espanhol arcaico através da observação do Cantar de Mio Cid, um dos primeiros textos literários em língua espanhola: Poema de Mio Cid em espanhol arcaico 1. De los sos ojos tan fuerte mientre lorando 3. tornava la cabeça y estava catando. 3. Vio puertas abiertas e uços sin cañados, 4. alcandaras vazias sin pielles e sin mantos 5. e sin falcones e sin adtores mudados. 6. Sospiro mio Cid ca mucho avie grandes cuidados. 7. Fbablo mio Çid bien e tan mesurado: 8. '¡Grado a ti, señor, padre que estas en alto! 9. ¡Esto me an buelto mios enemigos malos!' 10. Alli pienssan de aguijar, alli sueltan las riendas. 11. A la exida de Bivar ovieron la corneja diestra 12. y entrando a Burgos ovieron la siniestra 13. Meçio mio Çid los ombros y engrameo la tiesta: 14 ¡Albriçia, Albar Ffañez, ca echados somos de tierra! Agora, observe o mesmo texto adequado ao castelhano moderno: Cantar de Mio Cid em espanhol moderno 1. De los sus ojos tan fuertemente llorando, 2.Tornaba la cabeza y estábalos catando. 3. Vio puertas abiertas y postigos sin candados, 4.Alcándaras vacías, sin pieles y sin mantos, Segundo Sánchez (2006, p. 1), a “Jarcha es una palabra árabe que significa «salida» o «finida». Las jarchas son unas pequeñas cancioncillas romances - los más antiguos vestigios de la lírica popular en Europa. Estas cancioncillas están situadas al final de unos poemas árabes o hebreos (imitación estos últimos de los árabes) llamados moaxajas; género inventado en la Andalucía Musulmana”. NOTA TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 41 5. Y sin halcones y sin azores mudados. 6.Suspiró mío Cid pues tenía muy grandes cuidados. 7.Habló mío Cid, bien y tan mesurado: 8. ¡Gracias a ti, señor padre, que estás en alto! 9. ¡Esto me han vuelto mis enemigos malos! 10. Allí piensan aguijar, allí sueltan las riendas. 11. A la salida de Vivar, tuvieron la corneja diestra, 12. Y, entrando en Burgos, tuviéronla siniestra. 13. Meció mío Cid los hombros y movió la cabeza: 14. ¡Albricias, Álvar Fáñez, que echados somos de tierra! A distinção entre uma versão e outra é notável, você concorda? Observe a diacronicidade que o poema nos mostra, pois na prática a língua(gem) é um organismo vivo que está em processo constante de modificação, conforme a revelação da Linguística. Devido a sua geografia, por ser uma espécie de porta de entrada da África para a Europa, a Península Ibérica, por muito tempo foi ocupada por árabes. A presença árabe (em torno de 700 anos) se percebe, na contemporaneidade, na arquitetura e no aspecto genotípico da população de determinadas regiões da Espanha, como nos nativos da comunidade autônoma de Andalucía. Além disso, na língua espanhola a presença moura deixou marcas significativas, como uma herança de 4.000 palavras de origem árabe. De acordo com Santiago González, entre estas palavras, muitas dão nome a cidades espanholas, como La Mancha (la’a Ma-anxa, que significa ‘sin agua’), Algeciras (de Al Khadra ( ), ‘la isla verde’), Alcalá (do árabe al- qala`a ( ), ‘el castillo’), Henares (An-Nahar ( ), “el río”), assim como outras palavras de uso comum, como ‘faquir”, “almohada”, elixir”, “quilate” etc. DICAS Você sabia que existe um dicionário de palavras espanholas de origem árabe? Consulte: <http://www.arabespanol.org/andalus/palabras.htm>. Os diversos conflitos sociais e geoculturais pelos quais a língua espanhola passou configuram o que a língua se tornou hoje. A história da Ibéria – e mais tarde a da América hispânica – constituem a força motriz que possibilitou a mudança linguística e a afirmação da língua espanhola moderna enquanto tal. Neste capítulo, aprendemos que o latim, uma língua que pode ter surgido de uma poderosa protolíngua, deu origem às línguas neolatinas. Estas línguas, outrora dialetos, ressignificaram-se através de seus respectivos contextos geográficos e afirmaram-se como línguas romances. 42 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem distintas perspectivas de estudos da Linguística Teórica, como a Fonética, a Fonologia, a Sintaxe, a Morfologia, a Semântica, a Análise do Discurso e a Pragmática. • Os conceitos de língua estándar, linguagem neutra e as circunstâncias de uso destas são importantes no âmbito hispânico. • São importantes a noção de latim vulgar e a origem das línguas neolatinas, como o português, o espanhol, o francês, o romeno, o catalão, o galego e o italiano. • A hipótese de uma protolíngua teria dado origem ao grego clássico, ao latim, ao sânscrito e às línguas germânicas. • Existem expressões greco-latinas que ainda se mantêm vivas. • A origem da língua espanhola é rastreável. • O espanhol arcaico pode ser estudado através do Cantar de Mio Cid. • As palavras de origem árabe ainda se fazem presentes no espanhol moderno. 43 1 As línguas abaixo são consideradas línguas de origem latina, exceto: a) ( ) Galego b) ( ) Romeno c) ( ) Francês d) ( ) Inglês e) ( ) Catalão 2 Com base no que você estudou neste tópico, observe as alternativas que se apresentam: I - A língua estándar refere-se, basicamente, à linguagem escrita. Quando falamos em linguagem oral, o termo mais adequado é neutralidade. II - O latim é uma língua helênica (da Europa e Ásia meridional). III - O espanhol é uma língua que possui duas variantes: a peninsular e a portenha. IV - A semântica é a disciplina que se preocupa com o significado. V - Apesar da cultura árabe ser de importância inegável para a língua espanhola, não restaram na língua espanhola heranças linguísticas deste povo. Assinale a resposta certa: a) ( ) Apenas I e II estão corretas. b) ( ) Todas as alternativas estão incorretas. c) ( ) Apenas I e IV estão corretas. d) ( ) Apenas IV e V estão incorretas. e) ( ) I, II, III e IV estão corretas. AUTOATIVIDADE 44 45 TÓPICO 3 LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Olá! Chegamos ao último tópico da primeira unidade. Nos tópicos 1 e 2 conhecemos a Linguística Geral, com suas bases, seus conceitos e seus nomes mais significativos, e também a Linguística Teórica, com suas distintas perspectivas de estudos e desdobramentos. Para completar esta tríade, no Tópico 3 conheceremos a Linguística Aplicada. Ao fecharmos estaunidade introdutória, concomitantemente, abrimos uma porta para as unidades seguintes, visto que a Linguística Aplicada à Língua Espanhola é o nosso objeto de estudo e sobre ele estudaremos nas unidades 2 e 3 deste livro de estudos. Por essa razão, é muito importante que você estude com atenção este tópico. Ele vai apresentar a base do conhecimento que encontrará nas unidades seguintes. Você deve estar se questionando: se a Linguística Teórica se preocupa em entender como o idioma se organiza, buscando uma compreensão de cada uma das partes (fonemas, morfemas, orações, discursos), o que resta então para a Linguística Aplicada? Este é o nosso ponto de partida neste tópico: o objeto de estudo da Linguística Aplicada à Língua Espanhola. Sobre o que se debruça? Quais soluções propõe? Como atua? FIGURA 21 – A LINGUÍSTICA APLICADA NA ÁRVORE DAS CIÊNCIAS FONTE: Disponível em: <http://www.sala.org.br/index.php/estante/academico/61-a- lingueistica-aplicada-na-grande-area-da-linguagem>. Acesso em: 20 set. 2017. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 46 2 A LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA: HISTÓRIA DA DISCIPLINA E CONCEPÇÃO INICIAL De acordo com o Diccionario de términos clave de Español Lengua Extranjera, do Instituto Cervantes, a Linguística aplicada é um ramo da Linguística cuja meta é a aplicação das teorias, dos métodos e dos conhecimentos próprios da linguística para a resolução de problemas diversos, no que está implicado o uso da língua. Ainda de acordo com esta instituição cultural (s.d., s.p.), considerada a instância máxima no ensino e difusão da língua espanhola, a Linguística Aplicada “se interesa por las aplicaciones de la lingüística en otras áreas de la experiencia humana [...] la lingüística aplicada comprende de hecho disciplinas diversas, la mayoría de las cuales se constituyen como campos interdisciplinares del saber”. Em uma visão mais específica, Mota (2000, p. 73) afirma que: la linguística aplicada busca utilizar las técnicas y los hallazgos científicos de la lingüística teórica en el análisis o resolución de problemas de la vida diaria; su multidisciplinariedad creciente incorpora un accionar conjunto con campos como la psicología, la pedagogía, la neurología, la medicina, la psiquiatría, la música, la matemática, la antropología etc. Ao completar as unidades anteriores, você deve ter se perguntado o porquê de tantas segmentações e campos específicos de estudos no âmbito da linguística teórica (como a morfologia, a fonologia, a sintaxe, a pragmática etc.). Conforme você pode ver, o conhecimento produzido nessas áreas não fica isolado em compartimentos desconexos. A Linguística Aplicada lança mão dos estudos realizados nos mais diversos campos da Linguística Teórica para resolver problemas específicos. Nesse aspecto, o termo "aplicada" pode ser entendido em sua completude, visto que se aplica à linguística, à sociolinguística (língua e sociedade), à etnolinguística (língua e cultura), à neurolinguística (língua e cérebro), à pedagogia (língua e ensino-aprendizagem). Esta última aplicação constitui um dos solos mais fecundos da Linguística Aplicada à Língua Espanhola. Você já ouviu falar no Instituto Cervantes? Esta é uma instituição cultural tida como referência no âmbito da Língua Espanhola e da Cultura da Espanha e da América Hispânica. O Instituto Cervantes está vinculado ao Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha e possui sucursais em todos os continentes. NOTA TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 47 A esta altura você deve estar se perguntando: se os estudos linguísticos ganharam forma ainda no final do século XIX e começo do século XX, em que momento da história surgiu a linguística aplicada? Esta pergunta nos faz retornar ao século XX, em um dos momentos mais conturbados daquele período: a Segunda Guerra Mundial. Você recorda que mencionamos o fato de a linguística aplicada encontrar um solo fecundo no âmbito pedagógico e nas questões de ensino-aprendizagem? Foi justamente em um contexto de guerra, no qual se necessitava fazer-se entender e entender ao outro da forma mais clara possível, que os estudos da linguística aplicada ganharam força. A data geralmente aceita é o ano 1946. De acordo com o pesquisador Francisco Adolfo Marcos Marín (2016, p. 25), foi neste ano que a Universidade de Michigan ofereceu um curso com este rótulo: Dos profesores de esta universidad, Charles Fries y Robert Lado (que pasó después a la Universidad de Georgetown, en la capital federal), fueron los impulsores de estos estudios. En 1948 se empezó a publicar la primera revista especializada, Language Learning: A Quarterly Journal of Applied Linguistics. El Consejo de Europa apoyó financieramente los trabajos preparatorios entre 1962 y 1964, que concluyeron ese último año con la fundación de la Association Internationale de Linguistique Appliquée, y con la celebración de su primer congreso en la ciudad francesa de Nancy. Por esta razón se conoce a esta sociedad por las siglas francesas, AILA, frente al hábito de citar las asociaciones internacionales por su nombre inglés (International Association of Applied Linguistics, en este caso). FIGURA 22 – UNIVERSIDADE DE MICHIGAN NA DÉCADA DE 40 FONTE: Disponível em: <http://www.annarbor.com/news/a- retrospective-of-the-university-of-michigan-lawyers-club/>. Acesso em: 20 set. 2017. Conforme Marín (2016), após o surgimento nos Estados Unidos no final da década de 40, em 1957 fundou-se na Universidade de Edimburgo (Reino Unido) a primeira escola de Linguística Aplicada, e em 1959 o Center for Applied Linguistics (CAL), nos Estados Unidos. Foi esta escola que preconizou a ideia de "promover o estudo da linguagem e ajudar as pessoas a alcançar suas metas educativas, laborais e sociais por meio de uma comunicação mais eficaz" (tradução nossa). UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 48 No âmbito da Língua Espanhola, quando surgiu a Linguística Aplicada? Na Espanha, a Linguística Aplicada surgiu, pelo menos, quase 40 anos mais tarde, mais especificamente no dia 31 de maio de 1982. Foi nesta data que, segundo Marín (2016), se reuniram na Universidad de Granada vários professores universitários que deram os primeiros passos para a fundação da AESLA - Asociación Española de Linguística Aplicada. Evidente que a Linguística na Espanha era estudada e conhecida pela comunidade acadêmica. Esta data trata-se de uma formalização, conforme Marín (2016, p. 26), "el hecho mismo de esta reunión ya indica que la actividad existía previamente; pero tras ella se le puede dar una fecha". Em seus primórdios, o ponto de partida da Linguística Aplicada era o ensino de línguas segundas (ou estrangeiras) a indivíduos não nativos. De acordo com o texto de Marín, parte integrante do Vademécum para la formación de Profesores enseñar español como segunda lengua (l2)/lengua extranjera (LE) La necesidad de este tipo de enseñanza de las lenguas se había puesto de manifiesto durante la Segunda Guerra Mundial, cuando el ejército de Estados Unidos tuvo que desarrollar un sistema acelerado de enseñanza de lenguas, que hubo de mantener después para cubrir las necesidades de la posguerra. Pero el hecho que realmente cambió el panorama de la disciplina fue el gran auge cobrado por el inglés, que, entre 1965 y 1975, desplazó al francés en las preferencias como segunda lengua incluso en países como España, donde se invirtió una tradición secular (MARÍN, 2016, p. 25). Você sabia que o Vademécum é um compêndio que reúne textos de ordem teórica e prática sobre os temas de ensino e aprendizagem do espanhol como segunda língua ou como língua estrangeira? O livro é de importância significativa para o professor de Língua Espanhola em formação, pois fornece informações sobre questões basilares, como a epistemologia, o processo de aprendizagem, a competência comunicativa, o processo de ensino, ashabilidades comunicativas, entre outros. NOTA FONTE: Disponível em: <http://aulaintercultural.org/wp-content/uploads/ 2014/06/vademecum.jpg>. Acesso em: 20 set. 2017. Se nos seus primórdios a Linguística Aplicada se debruçava unicamente sobre o ensino de línguas, na atualidade este panorama se reconfigurou, apesar de ainda constituir um dos principais braços de força da disciplina. Esta reconfiguração abarca uma série de temas e problemas que expressam uma disciplina mais dinâmica e em constante intersecção com as mais distintas áreas do saber. TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 49 Do primeiro tópico até aqui você percebeu que uma ciência passa por diversos momentos, que vão desde o questionamento dos seus métodos até a apresentação de novas propostas. A Linguística Aplicada, tal como a conhecemos hoje, constitui um exemplo cabal do desenvolvimento científico dos estudos linguísticos ao longo do século XX e XXI. 3 PERSPECTIVA AMPLIADA DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA APLICADA O avanço da globalização no século XX e a Segunda Guerra Mundial foram dois acontecimentos que proporcionaram o desenvolvimento da Linguística Aplicada. Já no final dos anos 50, pouco mais de dez anos após o surgimento da disciplina, um novo campo tecnológico surgia e possibilitava novos horizontes: a computação. De acordo com Marín (2016, p. 26): desde finales de los años 50 y primeros 60 del pasado siglo, la lingüística aplicada se amplió para abarcar también lo relacionado con un nuevo campo,derivado igualmente de las exigencias de una comunidad internacional cada vez mejor comunicada: la traducción por ordenador, más conocida por las siglas inglesas MT (Machine Translation). FIGURA 23 – ENIAC, O PRIMEIRO COMPUTADOR FONTE: Disponível em: <https://tecnoblog.net/wp-contentuuploads/2011/ 02/785px-Eniac.jpg>. Acesso em: 20 set. 2017. Você concorda que a computação possa facilitar o processo de aprendizagem de idiomas? Muitas das ferramentas que conhecemos hoje, como o Duolingo, o Google translate e o Livemocha, possuem suas origens na metade do século XX, quando a computação, tal como a conhecemos hoje, ainda não existia e constituía apenas uma experiência com promessa de futuro. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 50 Somado ao advento da computação, o tema da globalização foi muito importante. Imagine como a linguística aplicada pode ter sido importante em um contexto de colonização, no qual era de importância vital para os colonizadores ensinarem às populações autóctonas suas línguas originais. Marín (2016, p. 26) menciona que, somada ao ensino científico das línguas e ao advento da tradução por computador, no âmbito da Linguística Aplicada "se unió muy pronto la más política de las aplicaciones de la sociolingüística, la planificación de las lenguas, consecuencia del desarrollo de lenguas en las naciones independientes y de la necesidad inicial de sustituir las lenguas de las naciones colonizadoras, en Asia, Oceanía y África, por lenguas vernáculas". FIGURA 24 – GLOBALIZAÇÃO E O MUNDO CONECTADO ATRAVÉS DO COMPUTADOR FONTE: Disopnível em: <https://www.namindonesia.com/blog>. Acesso em: 20 out. 2017. A tradução por computador, realizada através de ferramentas como tradutores por software ou on-line, possibilitou que se usasse cada vez mais o meio virtual como forma de ensino e aprendizagem de línguas. Marín (2016) relembra que este fenômeno em inglês é chamado de CALL (Computer Assisted Language Learning). De acordo com Michael Levy (1997, p. 1, tradução nossa), o CALL significa "a pesquisa e o estudo de aplicações de computador em ensino e aprendizagem de línguas". Se a Linguística Aplicada é uma disciplina que busca aplicar as teorias, os métodos e os conhecimentos próprios da linguística para a resolução de problemas diversos, como isso funcionaria no âmbito de uma perspectiva de ensino de línguas? Vamos pensar em uma ferramenta muito popular nos dias atuais: o Google Tradutor. Alguma vez você já usou este dispositivo? Se sim, saiba que, sem alguma das áreas de atuação da Linguística Aplicada (como a Lexiografia e a Planificação Linguística), teria sido praticamente impossível o desenvolvimento desta ferramenta. TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 51 FIGURA 25 – GOOGLE TRADUTOR FONTE: O autor Agora que já conhecemos o surgimento da Linguística, sua concepção inicial e o seu desenvolvimento – graças ao advento da globalização e da computação –, no subtópico seguinte conheceremos as distintas áreas de atuação da linguística aplicada, sem as quais seria impossível a criação de softwares de computador e ferramentas de tradução on-line. 4 ÁREAS DE ATUAÇÃO DA LINGUÍSTICA APLICADA Assim como a Linguística Teórica, a Linguística Aplicada também possui suas áreas de atuação. De acordo com o Instituto Cervantes (s.d.), na atualidade esta disciplina compreende um número bastante elevado de segmentos, que veremos na sequência. 4.1 LOGOPÉDIA A Logopédia é uma disciplina que trata de resolver quaisquer transtornos no uso da linguagem que porventura venham a afetar a voz, a pronúncia e a linguagem oral. Faz parte da Linguística clínica e está associada ao estudo das alterações da linguagem. No Brasil, também é conhecida como Fonoaudiologia. O profissional de Linguística Aplicada que opte por se orientar por este caminho, por exemplo, poderá realizar uma formação paralela em Fonoaudiologia ou participar de atividades investigativas ou laborais que envolvam esta área. 52 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA Javier Gutiérrez-Rexach (2016, p. 75), em sua Enciclopédia de Linguística Hispânica, adverte que “la formación linguística del profesor orientada a los trastornos del lenguaje es, en la mayoría de los casos, autoformativa; muy pocos se han formado a la vez en linguística y logopedia, por lo que en muchas ocasiones la aportación y relevancia de los conocimientos aplicados queda bastante diluída". Você já conheceu alguma pessoa com dislexia? De acordo com a Sociedade Brasileira de Dislexia (2007, p. 1), este transtorno de aprendizagem se caracteriza pela “dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração”. Este é um dos transtornos que, em conjunto com outras áreas, pode ser estudado e tratado pela Logopedia/Fonoaudiologia. NOTA FIGURA 26 – DISLEXIA FONTE: Disponível em: <https://ohsemmama.com/wp-content/ uploads/2016/03/2016-03-25-18.40.10.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. 4.2 PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA Lembra quando falamos sobre a língua estándar? Esta é uma preocupação da Planificação Linguística, que é um ramo da Sociolinguística. De acordo com o Instituto Cervantes (s.d., s.p.), o interesse dessa disciplina se centra nos usos linguísticos que "se consideran normativos y en la creación de un estándar". Seu funcionamento é imprescindível em regiões bilíngues e multilíngues, sobretudo em megalópoles que concentram índices relevantes de imigração. A Planificação Linguística anda de mãos dadas com outro ramo, a Política Linguística. Aguilera Martín (2003, p. 91) menciona que a Política linguística: estaría constituida por el conjunto de ideas, leyes, regulaciones y prácticas que se dirigen a producir cambios en los comportamientos lingüísticos de una sociedad o de un grupo social, mientras que la planificación lingüística haría referencia al conjunto de decisiones adoptadas por una autoridad, en principio gubernamental, para conseguir estos mismos resultados. TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 53 4.3 LEXICOGRAFIA Com qual frequência você utiliza dicionários de português ou de línguas estrangeiras? Muitas vezes não sabemos o significado específico de uma palavra, e é neste momento que a profissão de lexicógrafo é fundamental para que possamos esclarecer nossas dúvidas. A Lexicografia é a disciplina que se preocupa com as orientações teóricasque deverão ser aplicadas na criação de dicionários. O lexicógrafo trabalha diretamente com a palavra e também com princípios metodológicos importantes na organização de dicionários. Passam pelo eixo da profissão questões ligadas à inserção de termos modernos, atualização de termos existentes e estabelecimento de definições incorporadas a partir do uso. Você sabia que existe um dicionário criado exclusivamente para o ensino de língua espanhola para brasileiros? Trata-se de uma obra elaborada pela Universidad de Alcalá de Henares (Espanha) e é composta por 45 mil palavras. No contexto de aprendizagem da língua espanhola pode ser uma ferramenta funcional. NOTA DICAS Outra ferramenta importante é o Dicionário On-line da Real Academia Española. Trata-se de um recurso gratuito que pode ser acessado através do website: <www.rae.es>. 54 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 4.4 TERMINOLOGIA De acordo com o Diccionario de términos clave de ELE (s.d., s.p.) do Instituto Cervantes, a Terminologia "identifica y analiza los términos que se utilizan en las diversas áreas del saber, con el fin de hacer propuestas de estandarización". Você, certamente, já deve ter se encontrado em situações nas quais presenciou o uso de palavras que somente são usadas no âmbito de áreas específicas, como a Medicina (em uma consulta médica) ou o direito (em uma audiência). Estes termos técnicos constituem uma ocupação da Terminologia. Diferentemente da Lexicografia, que é um âmbito mais amplo e que se ocupa de todas as palavras encontradas em um dicionário, a Terminologia se preocupa unicamente com termos técnicos de áreas determinadas e não aceita definições inespecíficas. 4.5 TRADUÇÃO ASSISTIDA POR COMPUTADOR A principal função desta disciplina constitui o desenvolvimento de ferramentas virtuais que auxiliem o tradutor no processo de tradução. Você recorda quando abordamos anteriormente algumas perspectivas ampliadas de estudo da Linguística Aplicada? Na ocasião, mencionamos a importância das ferramentas on-line no processo de tradução e como são importantes, para a criação destas ferramentas, outras disciplinas da Linguística Aplicada, como a Lexicografia, a Planificação Linguística e a Terminologia. É no âmbito da Tradução assistida por computador que o conhecimento linguístico se encontra e possibilita a criação de linguagens de programação munidas por ricos bancos de dados. 4.6 FONÉTICA APLICADA Em algum momento da sua vida você possivelmente já utilizou aplicativos de celular capazes de executar funções através do reconhecimento de voz. O exemplo mais famoso é o aplicativo do Google, naturalmente presente em smartphones com o sistema Android. Ao falar no microfone palavras ou frases que você deseja buscar na web, prontamente o aplicativo realiza uma busca on-line com base no reconhecimento de voz. Esta é uma tecnologia possível graças ao avanço da fonética aplicada. Os profissionais que trabalham no âmbito desta disciplina, de acordo com o Instituto Cervantes (s.d., s.p.), “desarrollan herramientas para que la comunicación entre el hombre y las máquinas se pueda llevar a cabo mediante la voz”. Estes profissionais realizam análises acústicas e outros trabalhos técnicos ligados ao âmbito da fala e de softwares voltados para este fim. 4.7 LINGUÍSTICA FORENSE A Linguística Forense dedica-se a investigar o estudo da linguagem e a autoria de textos ou vozes com finalidades forenses. Esta área da Linguística Aplicada estrutura-se em várias áreas que vão desde a linguística, como auxílio à investigação policial, até à linguagem da lei, passando pela linguagem dos TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 55 tribunais, pela linguagem utilizada em contextos policiais, pelo multilinguismo e pelos direitos linguísticos, não esquecendo a linguagem como prova. No âmbito da Linguística Forense, destacam-se casos famosos, como o do estadunidense Ted Kaczynski, o Unabomber, condenado por envio de cartas-bomba. Outro caso relevante é o do britânico Derek Bentley, condenado à morte e inocentado 45 anos depois de provas linguísticas. No âmbito da língua espanhola o caso mais famoso é o de Óscar Sánchez, espanhol que ficou 20 meses na cadeia e que foi inocentado através de uma gravação telefônica. Na ocasião, um linguista forense identificou que o sotaque latino-americano detectado na gravação não correspondia ao acento linguístico de Sánchez. 4.8 ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA O ensino e a aprendizagem do espanhol são uma das principais áreas da Linguística Aplicada. Este âmbito recebe muita atenção por parte da academia e com frequência são realizados estudos sobre o tema, o que atualiza o repertório de material disponível sobre o assunto. Esta área da linguística aplicada se propõe a observar os processos de aquisição de língua estrangeira (LE) e língua materna (LM). Estudaremos estes conceitos na terceira unidade deste livro de estudos. Além do estudo de aquisição da LM e da LE, este ramo da linguística aplicada também se dedica ao desenvolvimento de materiais, à elaboração de provas de conhecimentos de línguas, à análise de erros, à elaboração curricular e também à formação em retórica e comunicação. 5 ESTUDO LINGUÍSTICO E ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA Conforme você vem aprendendo desde o início dos nossos estudos, os estudos linguísticos funcionam de forma interligada. Baralo (2014, p. 31) relembra que enquanto o objetivo da Linguística teórica é o conhecimento pelo próprio conhecimento, a meta última no âmbito da Linguística Aplicada é a proposta "de soluciones que resuelvan problemas materiales surgidos en torno al lenguaje y las lenguas, lo cual no significa que no haya investigación y teoría en el campo de la linguística aplicada". A grande protagonista no âmbito da Linguística Aplicada, conforme sinalizamos anteriormente, é a Didática da Língua. Esta disciplina é reconhecida, segundo Baralo (2014), desde o começo da Linguística Aplicada como uma disciplina que possui autonomia, ainda que esteja relacionada com outras disciplinas. Por qual razão estamos enfatizando a questão didática da Linguística Aplicada desde o tópico anterior? Para você, estudante do curso de Letras da UNIASSELVI, a aprendizagem deste enfoque de estudos linguísticos é o que mais será funcional como aluno e, futuramente, como professor de Espanhol como língua estrangeira. 56 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA FIGURA 27 – APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ATRAVÉS DE TECNOLOGIAS – UMA REALIDADE FONTE: Disponível em: <https://pxhere.com/en/photo/1280164>. Acesso em: 20 out. 2017. Antes de estudarmos como o ensino de língua espanhola ocorre na atualidade, veremos em que momento da história essa área da linguística aplicada passou a ganhar força no âmbito da disciplina. Baralo (2014) sinaliza que o ponto de eclosão da Didática da língua no âmbito da Linguística Aplicada teria surgido com Bloomfield (1942), cuja obra inspirou-se nos princípios do estruturalismo estadunidense e aplicada ao ensino das línguas estrangeiras através do método áudio-oral: Este modelo didáctico se basaba también en los princípios del aprendizaje conductista establecidos por Skinner, con lo que comienza en la segunda mitad del siglo XX una contribución sistemática no sólo de la lingüística, sino también de las teorías del aprendizaje en el ámbito de la enseñanza de las lenguas no nativas (BARALO, 2014, p. 31). Após esta experiência primeira, que se baseava em princípios gramaticais, normativos e de tradução, posteriormente refinou-se os métodos adotados e a Linguística encontrou solo produtivo no âmbito do ensino de línguas. Conforme Baralo (2014), isso ocorreu nas décadas de 50 e 60. Se o surgimento da Linguística Aplicada se deu em um dos contextos mais conturbados do século XX, durante a Segunda Guerra Mundial, a afirmação desta disciplina ocorreu em um momento igualmente tenso: a Guerra Fria. Observeo que diz Baralo sobre o começo da profissão de professor de língua estrangeira e os processos históricos pelos quais passou a Linguística Aplicada: La aplicación de los princípios teóricos de la lingüística y de la psicología a la enseñanza de lenguas en la década de los 50 y de los 60, en plena guerra fría, permitió acelerar y mejorar los domínios de las lenguas mediante una ejercitación sistemática, basada en la creación de hábitos lingüísticos nuevos para estructuras nuevas, tanto en lo fonológico, como en lo léxico y lo gramatical. Los resultados de los trabajos en los laboratórios audiolinguales fueron excelentes, dentro de los programas especializados de la armada norteamericana. Esta TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 57 colaboración en un campo concreto de aplicación - la enseñanza de lenguas - del estructuralismo y del conductismo, significó el comienzo de la Lingüística aplicada, el comienzo de la profesión de profesor de lenguas extranjeras y el comienzo de una estrecha interrelación más o menos feliz, más o menos directa, más o menos explícita, más o menos exitosa y aplicable, pero siempre fructífera y bidireccional (BARALO, 2014, p. 32). Depois da experiência nos anos 1950 e 1960, a Linguística Aplicada passou por um processo de meditação e desenvolvimento. Você lembra quando estudamos o modelo gerativo de Noam Chomsky? O modelo gerativista transformacional de Chomsky foi o responsável, no âmbito científico, pela crise do modelo audiolingual (no qual o aluno supostamente aprendia uma língua estrangeira através de estímulos e respostas). Mais adiante, nos anos 1970 e 1980 ocorre o que Baralo (2014, p. 32) distingue como "el verdadero nacimiento de la lingüística aplicada como ciencia relativamente independiende de la lingüística teórica, de la psicología y de la didáctica, pero al mismo tiempo como un área interdisciplinar que recoge modelos teóricos de todas ellas para aplicarlos a la enseñanza". A partir deste momento, a Linguística Aplicada segue o seu desenvolvimento e encontra confluências metodológicas a partir dos anos 1990. DICAS No Livro “Español y Portugués – Desenredando las lenguas”, a linguista María Josefina Israel Semino López aborda, entre outros temas, problemas de ensino-aprendizagem no âmbito da Linguística Aplicada. O livro utiliza uma linguagem didática e pode ser um importante aliado no estudo de aquisição do espanhol como Língua Estrangeira por parte de estudantes brasileiros. SEMINO, María Josefina Israel. Español y Portugués: desenredando las lenguas. Guía para profesores y alumnos brasileños. Rio Grande: Editora da FURG, 2007. 5.1 MARCO COMUM EUROPEU DE REFERÊNCIA PARA AS LÍNGUAS O ensino de língua espanhola na atualidade se dá em diversas esferas: na escola normal, em cursos de idiomas, através de professores particulares, em universidades e em instituições culturais de ensino da língua, como é o caso do Instituto Cervantes. 58 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA Considerando esta instituição como uma instância legitimada pelo governo espanhol, observemos com atenção a forma como esta entende o ensino de língua espanhola no mundo. Primeiramente, cabe referenciar que o plano curricular do Instituto Cervantes segue as diretrizes do Marco Comum Europeu de Referência para as Línguas. Lembra quando falamos em Planificação Linguística? O Marco Europeu é uma forma estándar criada na Suíça e que serve de base para a medição do nível de compreensão oral e escrita em uma língua específica. O Marco foi adotado pelos países europeus e pressupõe o desenvolvimento de habilidades como a compreensão, a fala e a escrita. Os níveis são: A1, A2 (básico) B1, B2 (independente) e C1 e C2 (competente). O Marco propõe que as pessoas que se ocupam da organização e do aprendizado de idiomas passem a basear seu trabalho em necessidades, motivações, característica e recursos dos estudantes. Essa sugestão pressupõe que o profissional tente responder a estas perguntas: • ¿Qué tienen que hacer los estudiantes mediante el uso de la lengua? • ¿Qué tienen que aprender para poder utilizar la lengua con el fin de conseguir esos fines? • ¿Qué les hace querer aprender? • ¿Qué tipo de personas son (edad, sexo, origen social y nivel educativo, etc.)? • ¿Qué conocimientos, destrezas y experiencias tienen sus profesores? • ¿Qué acceso tienen a manuales, obras de consulta (diccionarios, gramáticas, etc.), medios audiovisuales, ordenadores y programas informáticos? • ¿De cuánto tiempo disponen o cuánto están dispuestos a emplear? (MINISTÉRIO DE EDUCACIÓN, 2002, p.12). Ao sugerir estes questionamentos, o Marco Europeu propõe uma consciência de ensino que enxerga o estudante como sujeito social e não como receptáculo de informações sujeitado a estímulos e condicionado a respostas óbvias. Neste processo, é fundamental o entendimento de questões como a motivação do estudante em aprender o idioma, os objetivos pessoais de aprendizagem, a realidade sociocultural e financeira e também o acesso do aluno a materiais didáticos. Respondidos os questionamentos apresentados, a metodologia de trabalho adequar-se-á à realidade do estudante e possibilitará um processo de ensino e aprendizagem eficaz, respeitando os níveis comuns de competência. DICAS Você pode conhecer mais sobre o Marco Europeu em <http://cvc.cervantes. es/ensenanza/biblioteca_ele/marco/cvc_mer.pdf>. O documento apresenta orientações relativas ao aprendizado, ao ensino e à elaboração de métodos de avaliação. TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 59 QUADRO 2 – NÍVEIS COMUNS DE COMPETÊNCIAS EM ESCALA GLOBAL DE ACORDO COM O MARCO EUROPEU U su ar io c om pe te nt e C2 Es capaz de comprender con facilidad prácticamente todo lo que oye o lee. Sabe reconstruir la información y los argumentos procedentes de diversas fuentes, ya sean en lengua hablada o escrita, y presentarlos de manera coherente y resumida. Puede expresarse espontáneamente, con gran fluidez y con un grado de precisión que le permite diferenciar pequeños matices de significado incluso en situaciones de mayor complejidad. C1 Es capaz de comprender una amplia variedad de textos extensos y con cierto nivel de exigencia, así como reconocer en ellos sentidos implícitos. Sabe expresarse de forma fluida y espontánea sin muestras muy evidentes de esfuerzo para encontrar la expresión adecuada. Puede hacer un uso flexible y efectivo del idioma para fines sociales, académicos y profesionales. Puede producir textos claros, bien estructurados y detallados sobre temas de cierta complejidad, mostrando un uso correcto de los mecanismos de organización, articulación y cohesión del texto. U su ar io in de pe nd ie nt e B2 Es capaz de entender las ideas principales de textos complejos que traten de temas tanto concretos como abstractos, incluso si son de carácter técnico, siempre que estén dentro de su campo de especialización. Puede relacionarse con hablantes nativos con un grado suficiente de fluidez y naturalidad, de modo que la comunicación se realice sin esfuerzo por parte de los interlocutores. Puede producir textos claros y detallados sobre temas diversos, así como defender un punto de vista sobre temas generales, indicando los pros y los contras de las distintas opciones. B1 Es capaz de comprender los puntos principales de textos claros y en lengua estándar si tratan sobre cuestiones que le son conocidas, ya sea en situaciones de trabajo, de estudio o de ocio. Sabe desenvolverse en la mayor parte de las situaciones que pueden surgir durante un viaje por zonas donde se utiliza la lengua. Es capaz de producir textos sencillos y coherentes sobre temas que le son familiares o en los que tiene un interés personal. Puede describir experiencias, acontecimientos, deseos y aspiraciones, así como justificar brevemente sus opiniones o explicar susplanes. U su ar io b ás ic o A2 Es capaz de comprender frases y expresiones de uso frecuente relacionadas con áreas de experiencia que le son especialmente relevantes (información básica sobre sí mismo y su familia, compras, lugares de interés, ocupaciones, etc.). Sabe comunicarse a la hora de llevar a cabo tareas simples y cotidianas que no requieran más que intercambios sencillos y directos de información sobre cuestiones que le son conocidas o habituales. Sabe describir en términos sencillos aspectos de su pasado y su entorno, así como cuestiones relacionadas con sus necesidades inmediatas. A1 Es capaz de comprender y utilizar expresiones cotidianas de uso muy frecuente, así como, frases sencillas destinadas a satisfacer necesidades de tipo inmediato. Puede presentarse a sí mismo y a otros, pedir y dar información personal básica sobre su domicilio, sus pertenencias y las personas que conoce. Puede relacionarse de forma elemental siempre que su interlocutor hable despacio y con claridad y esté dispuesto a cooperar. FONTE: Ministério de Educación. Instituto Cervantes (2002, p. 26) O grande diferencial do enfoque adotado pelo Marco Europeu diz respeito à questão de ação. Todas as diretrizes padronizadas no Marco objetivam o processo de ensino e aprendizagem e a ação. Você consegue distinguir um modo tradicional de ensino de um modelo baseado em uma perspectica interativa? 60 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA O ensino de línguas mediado através de uma perspectiva tradicional pode envolver um estudo exaustivo de normas gramaticais, assim como listas de verbos e situações comunicativas hipotéticas. Em linhas gerais, este método ainda é aplicado em diversas escolas e cursos, pouco proveito pode oferecer ao aluno em relação à aprendizagem efetiva de uma língua estrangeira. Aprender um novo idioma, de acordo com o entendimento expresso pelo Marco Europeu, pressupõe que o falante esteja exposto a situações reais da língua. FIGURA 28 – A AÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM FONTE: Disponível em: <http://estaticos.educalab.es/intef/formacion/ materiales-formativos/Aplicaciones_educativas_para_alumnado_ con_problemas_de_aprendizaje/aplicaciones_educativas_para_ alumnado_de_integracin_tarda_al_sistema_educativo.html>. Acesso em: 20 out. 2017. A perspectiva centrada na Ação considera os usuários e estudantes de um idioma como "agentes sociais". De acordo com o Marco Europeu, a ideia de agentes sociais nos condiciona ao entendimento de que os membros de uma sociedade possuem tarefas que não propriamente têm a ver unicamente com o uso da língua. Estas tarefas são efetivadas em determinadas circunstâncias, como em uma situação formal (escola, trabalho) ou em uma situação informal (quando você compra um cachorro-quente na rua, por exemplo). Você já parou para pensar que ao falarmos com outras pessoas podemos incorporar no nosso paradigma expressões e palavras que antes não utilizávamos? Agora imagine isso aplicado ao âmbito de aprendizagem de uma língua estrangeira. Aprendemos em sociedade a utilizar a língua a nosso favor, muitas vezes para obter resultados específicos. Veja o que o Marco Europeu (2002, p. 9) diz a respeito desta perspectiva: TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 61 Aunque los actos de habla se dan en actividades de lengua, estas actividades forman parte de un contexto social más amplio, que por sí solo puede otorgarles pleno sentido. Hablamos de «tareas» en la medida en que las acciones las realizan uno o más individuos utilizando estratégicamente sus competencias específicas para conseguir un resultado concreto. El enfoque basado en la acción, por lo tanto, también tiene en cuenta los recursos cognitivos, emocionales y volitivos, así como toda la serie de capacidades específicas que un individuo aplica como agente social. O Marco Europeu entende ainda que, no que se refere ao uso e aprendizado de uma língua, toda a comunicação humana depende de um conhecimento compartilhado de mundo. É esta perspectiva de interação que embasa muitas das práticas de ensino de espanhol, conforme veremos no subitem seguinte. Você já participou de uma aula dinâmica de língua estrangeira? Uma metodologia de ensino e aprendizagem focada na ação, ao trabalhar aspectos da compreensão, fala e escrita, o faz através do uso de recursos didáticos como filmes, músicas, novelas, conversas com falantes nativos, diálogos entre os colegas, softwares e também leituras de livros significativos no âmbito da cultura hispânica. Neste aspecto, no processo de planejamento é fundamental que o profissional respeite a realidade do estudante e os objetivos individuais de aprendizagem. NOTA 5.2 ALGUMAS EXPERIÊNCIAS NO ENSINO DE ESPANHOL Como já sinalizamos anteriormente, a metodologia de ensino de espanhol deve levar em consideração a faixa etária do estudante e os aspectos subjetivos de cada aluno. Selecionamos alguns exemplos de experiências realizadas no âmbito virtual da Linguística Aplicada. A primeira delas, intitulada El Quijote, crisol didáctico para el encuentro de la lengua, la cultura y el discurso, propõe-se a ser uma ferramenta auxiliar do professor de Espanhol como Língua Estrangeira no processo de ensino e aprendizagem da língua e da cultura hispânica. A base deste material didático é a magnífica obra Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, publicada pela primeira vez em 1615. A leitura do livro, que na atualidade é praticamente o mais importante símbolo da língua e da literatura espanhola no mundo, a todo momento é incentivada através de tarefas e exercícios interativos. De acordo com o Instituto 62 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA Cervantes (2002, s.p.), criador do conteúdo, a obra "pretende ahondar en la interacción entre la lengua y la cultura, a través de la lectura del texto cervantino [...] mediante el análisis de seis unidades (cinco breves fragmentos y un capítulo de la primera parte del Quijote en su versión auténtica y no adaptada)" (web). A programação parte de uma perspectiva textual e condiciona o leitor à interação com a plataforma. Além disso, ainda adverte que nesta ferramenta também: se propone una explotación didáctica para construir en el aula de español tres competencias básicas: la competencia cultural, la competencia discursiva, y la competencia literaria. Para ello, se han diseñado tres secciones en cada unidad: en la Competencia docente I, Construir una lectura, se promueve una reflexión sobre el texto para hacer una lectura propia del mismo; en la Competencia docente II, Leer para enseñar, leemos el texto como profesores, analizando los contenidos discursivos, léxico-gramaticales, literarios y culturales con los que podemos familiarizar al estudiante a través de su lectura. Por último, en la Competencia docente III, Diseñar actividades, el profesor encontrará una secuencia didáctica de actividades para seis sesiones de trabajo, con los objetivos y las sugerencias necesarios para llevarlas a la clase de español (INSTITUTO CERVANTES, 2002, s.p.). DICAS Você pode acessar o website e encontrar mais informações a respeito diretamente na plataforma: <http://cvc.cervantes.es/ensenanza/quijote_aula/default.htm>. TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 63 FIGURA 29 – FERRAMENTA INTERATIVA CRIADA COM O PROPÓSITO DE “APROFUNDAR AS RELAÇÕES ENTRE A LÍNGUA, A LITERATURA E A CULTURA” FONTE: Disponível em: <http://cvc.cervantes.es/ensenanza/quijote_aula/default.htm>. Acesso em: 20 set. 2017. Outra plataforma desenvolvida para a web e voltada para o ensino de espanhol se chama Mi mundo en palabras. Trata-se de uma ferramenta destinada a crianças de sete a nove anos de idade. A programação se vale de elementos lúdicos – como desenhos e vozes infantis – e deve ser usada pela criança com o auxílio de professores, pais ou algum tutor. A plataformapropõe favorecer o aprendizado do léxico em espanhol através de atividades variadas, além de fomentar a autonomia no momento de aprender, assim como estimular a competência comunicativa neste idioma através de atividades de compreensão auditiva, de leitura e audiovisual. Estruturalmente, o material se divide em 10 módulos, vai desde o primeiro, no qual ocorre a apresentação do personagem Carlos, até o último módulo, que se passa em uma festa à fantasia. Ao longo dos módulos o estudante experiencia situações específicas ligadas ao uso da língua, como os finais de semana, a excursão à granja, um dia no parque, os desenhos, aula de ginástica, colégio e família. Assim como a ferramenta anterior, esta é uma ferramenta gratuita e segue as orientações do Marco Europeu. 64 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA FIGURA 30 – MI MUNDO EM PALAVRAS – APLICAÇÃO CRIADA PARA CRIANÇAS DE 7 A 9 ANOS QUE ESTEJAM APRENDENDO ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA FONTE: Disponível em: <http://cvc.cervantes.es/ensenanza/mimundo/default.htm>. Acesso em: 20 set. 2017. Outra ferramenta relevante no âmbito da Linguística Aplicada é a AVE (Aula Virtual de Español). Esta ferramenta destina-se a estudantes estrangeiros do idioma e contempla atividades e conteúdos voltados para todos os níveis A1-A2, B1-B2 y C1, orientados pelo Marco Comum Europeu de Referência para as Línguas e presentes na grade curricular do Instituto Cervantes. Entre estas tarefas, encontram-se conteúdos gratuitos voltados para temas recorrentes no uso da língua, como descrição física, pronúncia, comidas, horas, números, além de questões de cunho gramatical, como o pretérito indefinido, pretérito perfeito do indicativo, imperativo, verbos e outros. Todos os conteúdos estão divididos de acordo com o nível do estudante e podem ser acessados gratuitamente. Além disso, para cada conteúdo postado no website há uma "Ficha do professor" na qual existem orientações relativas ao conteúdo e à atividade em questão. DICAS A ferramenta AVE é atualizada periodicamente e pode ser acessada através do endereço <http://cvc.cervantes.es/ensenanza/actividades_ave/default.htm>. Ao entrar no website, o usuário poderá acessar a “Aveteca”, um banco de dados organizados através dos conteúdos e dos níveis dos estudantes. TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 65 Todas as ferramentas apresentadas, quando associadas a um planejamento estratégico de ensino da língua espanhola, podem ser recursos bastante válidos e aliados do professor. Estas experiências associam a Didática da língua, um dos pilares fundamentais da Linguística Aplicada, a um elemento que se encontra nos primórdios da disciplina: a informática. Juntos, reforçam a vocação interdisciplinar da Linguística Aplicada e possibilitam novos horizontes no âmbito desta jovem disciplina. DICAS Você sabia que é possível acessar gratuitamente todos os termos do Diccionário de términos clave de Español Lengua Extranjera? Basta acessar <http://cvc. cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/> e consultar o termo que você deseja. Trata-se de uma ferramenta útil ao profissional da área de língua espanhola e pode esclarecer inquietações importantes ligadas a esta disciplina. DICAS Além do dicionário, também é possível acessar uma biblioteca de textos teóricos voltados para a Didática do Espanhol. Todos os materiais são gratuitos e estão disponíveis para qualquer pessoa que tenha acesso à web. Basta acessar <http://cvc. cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/>. 6 AVALIAÇÕES E CERTIFICAÇÕES LINGUÍSTICAS No âmbito da Linguística Aplicada é comum a aplicação de testes a estrangeiros que buscam comprovar proficiência em um idioma específico. Cada idioma possui um ou mais exames voltados para este fim: Goethe-Zertifikat (alemão), HSK (mandarim), DELF (francês), DELI/CELI (italiano), TORFL (russo), PTIT (holandês), TOEFL (inglês), CELGA (grego), CELPEBRAS (português) e DELE/Celu (espanhol). A maioria dos testes respeita os níveis estabelecidos pelo Marco Europeu, que vão do A1 até o C2. Você já participou ou ouviu falar em alguma destas provas? Além dos exames oficiais que mencionamos (reconhecidos pela maioria das empresas e universidades estrangeiras), também existem as provas de proficiência em leitura. Estas, restritas ao âmbito universitário, geralmente trabalham unicamente com a competência de leitura e possuem validade de somente dois anos. Servem, em linhas gerais, para comprovação universitária. 66 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA Os estudantes, ao se apresentarem a vagas de mestrado e/ou doutorado, precisam comprovar que são proficientes em leitura de textos escritos em língua estrangeira. Cada critério é estipulado pelas próprias instituições universitárias e não possuem equivalência legal com os testes aplicados pelas instituições culturais, como o Instituto Cervantes, o Instituto Goethe ou a Aliança Francesa. No âmbito da língua espanhola, além das provas de proficiência aplicadas nas mais diversas universidades brasileiras, há também dois exames oficiais: o DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera) e o CELU (Certificado Español Lengua y Uso). FIGURA 31 – SEDE DO INSTITUTO CERVANTES EM MADRID, INSTITUIÇÃO APLICADORA DO DELE FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/8/8b/Edificio_de_las_Cari%C3%A1tides_-_Instituto_ Cervantes_-_01.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. 6.1 DIPLOMA DE ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA (DELE) O DELE é um título oficial que acredita o grau de competência e domínio da língua espanhola. Trata-se de uma prova elaborada e aplicada pelo Instituto Cervantes em nome do Ministério da Educação, Cultura e Esporte da Espanha. A prova, geralmente, é aplicada duas vezes ao ano e ocorre em cidades nas quais existem sedes ou representações oficiais do Instituto Cervantes. O prestígio da prova está ligado ao caráter oficial que o governo espanhol atribui ao teste e também a associação do Instituto Cervantes a órgãos como a ALTE (Asociación Europea de Entes Certificadores de la Competencia Lingüística), ao SICELE (Sistema Internacional de Certificación de Español como Lengua Extranjera) e ao EQUALIS (Asociación Europea para la Calidad de Servicios de Idiomas). Estas associações, assim como o prestígio da instituição que aplica a prova, fazem com que o teste seja reconhecido internacionalmente por autoridades educacionais, pelo ramo empresarial e também por câmaras do comércio. De acordo com o Instituto Cervantes, o DELE também é reconhecido pelo Ministério da Justiça da Espanha, TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 67 pelo Ministério da Saúde e também pela Administração geral do Estado e organismos públicos. Imagine a seguinte situação hipotética: você participou de um processo seletivo e ganhou uma bolsa de estudos para ficar um ano letivo na Espanha. Você é falante da língua portuguesa e, para poder comprovar que será capaz de compreender as aulas ministradas em língua espanhola, precisará fazê-lo através de um teste. O DELE seria o teste indicado. Uma vez inscrito, você seria testado em suas competências de leitura, compreensão e fala. Em todos os níveis exige-se o exercício das três competências fundamentais: leitura, compreensão e fala. O que muda, de uma prova para outra, é o nível de dificuldade, a junção de competências avaliadas na mesma prova e também a pontuação que se atribui para cada item avaliado. O aluno que tenha o desejo de se apresentar às provas deste instituto pode buscar um preparo oficial ou o treinamento à parte. ATENCAO Você sabia que é possível acessar as provas anteriores do DELE? Basta acessar <https://examenes.cervantes.es/es/dele/preparar-prueba> e selecionar o nível de prova que você deseja ter acesso. Não esqueça que é necessário ter um leitor de PDF instalado em seu computador e também um aplicativo capaz de reproduzir MP3 (para asprovas de competência auditiva). Durante as provas, requere-se ao falante estrangeiro que se expresse em língua espanhola de acordo com os enunciados. Na prova de nível C2 2013, por exemplo, solicitou-se que o aspirante escrevesse um e-mail. Na carta, que deveria ter de 100 a 120 palavras, o estudante deveria cumprimentar o remetente, responder pontualmente às perguntas que lhe foram feitas, enviar-lhe conselhos sobre o que a pessoa deveria fazer em sua casa (com base no e-mail apresentado) e despedir-se. Neste caso, solicitou-se competências ligadas ao uso formal da língua. Na prova de competência auditiva é solicitado que o estudante demonstre ser hábil na compreensão de inúmeras situações comunicativas do cotidiano. Nas provas realizadas ao longo dos anos surgiram comerciais de eletrônicos, comentários de ouvintes feitos em rádios espanholas, assim como outras situações recorrentes no uso e na compreensão da língua. Já no âmbito da competência de leitura, as questões são basicamente ligadas ao tema da interpretação textual. Vale ressaltar que, em todos os níveis, as provas são realizadas em língua espanhola. 68 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA FIGURA 32 – MODELO DE PROVA DE MÚLTIPLA ESCOLHA APLICADA NO NÍVEL B1 (INTERMEDIÁRIO) FONTE: Instituto Cervantes (s.d.) DICAS Você pode melhorar sua competência auditiva através de ferramentas on-line. A internet pode ser uma mina de ouro no que diz respeito ao acesso a materiais gratuitos. Uma forma muito útil de treinar a competência auditiva é através do Youtube (www.youtube.com).Lá, você pode encontrar canais específicos nos quais é possível acessar vídeos em conteúdo em língua espanhola (com a opção de colocar ou não legendas em português ou em espanhol). Um dos canais mais famosos é o TED em Español. Lá é possível encontrar diversas palestras sobre temas de interesse do usuário. Outro modo interessante é o uso de redes sociais, como o Facebook, onde é possível subscrever-se a páginas de países latino-americanos ou da Espanha. 6.2 CERTIFICADO DE ESPAÑOL LENGUA Y USO (CELU) O CELU - Certificado de Español Lengua y Uso é uma certificação oficial oferecida pelo Governo da Argentina. Diferentemente do DELE, o CELU contempla somente os níveis Intermediário e Avançado do Marco Europeu (B2 e C1). A proposta do CELU está centrada no uso da língua espanhola e nas capacidades de desenvoltura do falante da língua nas distintas situações comunicativas. De acordo com o Consórcio ELSE, responsável pela elaboração da prova, os níveis Intermediário e Avançado são entendidos da seguinte forma pela instituição organizadora: TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 69 Intermedio: Puede desenvolverse en español oral y escrito con cierta fluidez y naturalidad en situaciones familiares, sociales y de servicios aunque vacila en contextos desconocidos o ante la necesidad de matizar o precisar sus enunciados. Puede desempeñarse medianamente en los ámbitos laboral o académico con algunas dificultades en la precisión o en situaciones especiales. Comparable al Nivel B2 del MCER y al Advanced Low del ACTFL Avanzado: Se desempeña cómoda y espontáneamente en la lengua española oral y escrita en una amplia gama de situaciones familiares y sociales. Puede desempeñarse correcta y adecuadamente en el ámbito laboral y en el ámbito académico. Comparable al Nivel C1 del MCER y al Superior del ACTFL (Disponível em: <http:// www.celu.edu.ar/es/content/validez>. Acesso em: 10 out. 2017). O certificado CELU, assim como o DELE, não possui data de validade pré- estipulada. Isso significa que, uma vez realizada a prova e obtida a aprovação, o falante obtém uma certificação vitalícia. Você lembra quando mencionamos a situação hipotética do ganho de uma bolsa de estudos na Espanha e a necessidade da comprovação de habilidade comunicativa através do DELE? O mesmo pode ocorrer com o CELU em relação à Argentina. Esta é a única certificação reconhecida pelo governo daquele país. No âmbito da língua espanhola, são as únicas certificações oficiais. O CELU ampara- se em uma filosofia não propriamente centrada na ação, mas no uso da língua espanhola nos seus distintos contextos comunicativos. A prova ainda se isenta de exigir do falante o conhecimento de expressões regionalistas ou do domínio dos acentos linguísticos falados na Argentina. FIGURA 33 – CELU – CERTIFICADO DE ESPANOL DE LENGUA Y USO FONTE: Disponível em: <http://www.celu.edu.ar/>. Acesso em: 20 set. 2017. No Brasil, há aplicações do CELU em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Tocantins, na Bahia, em Pernambuco, no Ceará e no Amazonas. 70 UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA Você pode obter mais informações sobre os critérios deste certificado em <www.celu.edu.ar>. No website atualmente disponível é possível encontrar informações sobre os níveis, sobre as provas, assim como as sedes de aplicação credenciadas no Brasil e no exterior. NOTA 6.3 PROFICIÊNCIA EM LEITURA Outra forma de testar o conhecimento em língua estrangeira é através de provas de proficiência em leitura. Estas provas, geralmente com validade em todo o território nacional, possibilitam ao estudante de graduação e pós-graduação obter uma certificação oficial de instituição de nível superior reconhecida pelo Ministério da Educação do Brasil. Diferentemente do DELE e do CELU, estes certificados dificilmente são aceitos no exterior com os mesmos efeitos das provas aplicadas pelos governos da Espanha e da Argentina, visto que não testam as competências orais e escritas em língua estrangeira. Cada universidade brasileira adota seus próprios critérios na elaboração e correção de suas provas e os interessados podem se inscrever diretamente nos domínios de cada instituição de ensino. A Linguística Aplicada aos certificados de competência em língua estrangeira é uma área muito explorada no âmbito da didática de espanhol como língua estrangeira e movimenta diversos ramos profissionais no âmbito desta disciplina. 71 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A história da Linguística Aplicada e a concepção inicial de uso dessa disciplina ocorreram em um contexto histórico turbulento. • Os desdobramentos da Linguística Aplicada se desenvolveram na esfera de uma perspectiva ampliada, a computação. • As áreas de atuação da Linguística Aplicada e as problemáticas destas movimentaram a produção de conhecimento em cada uma das respectivas áreas. • O tema da didática da língua espanhola constitui uma abordagem importante no âmbito da Linguística Aplicada. • O Marco Europeu de Referência para as Línguas é vital para o ensino de espanhol como língua estrangeira. • As experiências digitais no ensino de espanhol como língua estrangeira, como "El Quijote en el aula", "Mi mundo en palabras" e o "AVA". • Os exames DELE e CELU, e as provas de proficiência em leitura como possibilidades de certificação linguística no âmbito do espanhol. 72 1 De acordo com as leituras realizadas na primeira parte do presente tópico, a Linguística Aplicada é: a) A parte da linguística que investiga os aspectos centrais das línguas vernáculas, dedicando-se a entender a estrutura de cada idioma e a caracterização do conhecimento linguístico dos falantes. É formada por outras disciplinas igualmente importantes, como a Morfologia, a Semântica, a Sintaxe e a Linguística Geral. b) A disciplina responsável por estudar questões ligadas a fatores psicolinguísticos e universais, ignorando aspectos de ordem fonológica. c) A disciplina que busca compreender como se produzem os sons da fala humana, assim como questões de ordem física no processo de enunciação destas palavras. d) A disciplina que busca utilizar as técnicas e os achados científicos da linguística teórica na resolução de problemas da vida diária. Está em constante articulação com todoo conhecimento produzido em outros domínios da linguística. 2 Observe as seguintes definições correspondentes a cada uma destas áreas linguísticas e atribua a condição de “V” (verdadeiro) ou “F” (falso). AUTOATIVIDADE Nome da Disciplina Descrição Verdadeiro ou falso? Terminologia Os profissionais que trabalham no âmbito desta disciplina, de acordo com o Instituto Cervantes, “desarrollan herramientas para que la comunicación entre el hombre y las máquinas se pueda llevar a cabo mediante la voz”. Estes profissionais realizam análises acústicas e outros trabalhos técnicos ligados ao âmbito da fala e de softwares voltados para este fim. Tradução Assistida por Computador O interesse dessa disciplina se centra nos usos linguísticos que "se consideran normativos y en la creación de un estándar". Seu funcionamento é imprescindível em regiões bilíngues e multilíngues, sobretudo em megalópoles que concentram índices relevantes de imigração. 73 Lexicógrafo É o profissional que trabalha diretamente com a palavra e também com princípios metodológicos importantes na organização de dicionários. Passam pelo eixo da profissão questões ligadas à inserção de termos modernos, atualização de termos existentes e estabelecimento de definições incorporadas a partir do uso. Fonética Aplicada É a disciplina que "identifica y analiza los términos que se utilizan en las diversas áreas del saber, con el fin de hacer propuestas de estandarización". Logopédia Faz parte da Linguística clínica e está associada ao estudo das alterações da linguagem. No Brasil, também é conhecida como Fonoaudiologia. O profissional da Linguística Aplicada que opte por se orientar por este caminho, por exemplo, poderá realizar uma formação paralela em Fonoaudiologia ou participar de atividades investigativas ou laborais que envolvam esta área. 74 75 UNIDADE 2 A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • diferenciar os conceitos de Aprendizagem e Aquisição de Língua Estrangeira; • conhecer as distintas abordagens no processo de ensino e aprendizagem do espanhol como Língua Estrangeira (LE), nomeadamente as perspecti- vas linguística, cognitiva, social, afetiva e interacional; • situar-se historicamente no processo de implantação da língua espanhola como língua estrangeira no Brasil; • reconhecer o cenário atual do ensino de espanhol no Brasil; • distinguir os conceitos de Língua estrangeira (LE) e Língua segunda (L2); • reconhecer os principais tipos de interferência linguística no espanhol fa- lado por brasileiros; • reconhecer a Análise de Erros e a Análise Contrastiva como ferramentas possíveis; • reconhecer os aspectos centrais da competência comunicativa, especialmente as subcompetências gramatical, sociolinguística, discursiva e estratégica. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO EN- SINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS TÓPICO 2 – ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍN- GUA E SUAS FINALIDADES TÓPICO 3 – O ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL TÓPICO 4 – O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL VISTO DE DENTRO: PERSPECTIVA DOCENTE E NOÇÃO DE ERRO TÓPICO 5 – ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS 76 77 TÓPICO 1 A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Olá, bem-vindo à Unidade 2! Na primeira unidade você conheceu as linguísticas geral, teórica e aplicada da língua espanhola. Na presente unidade centraremos o nosso foco na questão da aprendizagem da língua espanhola como língua estrangeira (LE). Ensinar uma língua estrangeira é uma tarefa que exige consciência de ensino por parte do professor. Por exemplo, quando nos deparamos com um grupo específico de alunos, devemos estabelecer objetivos de aprendizagem. Para alcançar estes objetivos, muitas vezes precisamos ter uma consciência estratégica do ensino da língua estrangeira: o que funciona com estudantes de uma determinada faixa etária? O que não funciona com grupos específicos? Quais os recursos e os métodos mais apropriados para pessoas com determinado perfil? O professor, como mediador de conhecimento, com frequência necessita visitar outras áreas do saber para enriquecer sua aula de língua estrangeira. A língua, este sistema instalado em nosso cérebro, funciona como um grande dispositivo no qual estão conectados todos os outros saberes. Criar uma proposta de atuação de acordo com o público-alvo é uma das etapas mais importantes para o professor. No presente tópico, vamos conhecer as perspectivas linguística, cognitiva, social, afetiva e interacional. Antes, distinguiremos o conceito de aprendizagem do conceito de aquisição. Ambos são de grande importância para a área dos estudos linguísticos e com frequência você os encontrará, seja em materiais instrucionais - como este que por ora você tem em mãos - ou em textos científicos. UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 78 FIGURA 34 – TIRINHA: RECURSO PARA AULA DE ESPANHOL LE FONTE: Disponível em: <http://espanolyohablo.blogspot.com.br/2013/07/ tiritas-de-mafalda.html>. Acesso em: 4 set. 2017. 2 CONCEITOS-CHAVE EM LINGUÍSTICA APLICADA No âmbito da linguística aplicada existe um repertório básico de conceitos que são considerados fundamentais para o estudo e entendimento desta disciplina. Nos subtópicos a seguir você conhecerá a distinção de cada um deles, visto que utilizaremos com frequência este vocabulário ao longo das páginas seguintes. 2.1 APRENDIZAGEM X AQUISIÇÃO DE E/LE Deste item em diante você encontrará diversas menções aos conceitos de "aquisição" e "aprendizagem" de língua estrangeira. São duas concepções que com frequência são objetos de estudo. Suas respectivas definições podem variar de acordo com o teórico que estamos seguindo e, por essa razão, é importante que assentemos um entendimento padrão no que diz respeito a cada um deles. De acordo com Schütz (2006, p. 1), "a distinção entre acquisition (aquisição) e learning (aprendizagem) é uma das hipóteses (a mais importante) estabelecidas pelo norte-americano Stephen Krashen em sua respeitada teoria sobre aprendizado de línguas estrangeiras". Nesta unidade, trataremos da aprendizagem de espanhol como língua estrangeira. No que você deve pensar quando falamos em aprendizagem de E/LE? A aprendizagem está associada ao ensino da língua estrangeira em um contexto de não imersão linguística. Por exemplo: a língua materna dos brasileiros é o português, então o espanhol formal aprendido no Brasil acontecerá basicamente em ambientes voltados para este fim (escolas e cursos de idiomas) e estará cercado da língua portuguesa por todos os lados (quando o falante for, por exemplo, na padaria, no cinema, no shopping, a língua que ele ouvirá será o português). Há ainda o caso dos autodidatas, que aprendem a língua através de recursos audiovisuais e situações artificiais de exposição. Estes casos, apesar de se configurarem como aprendizado informal, também se encontram no âmbito da aprendizagem de E/LE. TÓPICO 1 | A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS 79 De acordo com Schütz (2006, p. 2), a aprendizagem de uma língua estrangeira é "um processo progressivo e cumulativo, normalmente atrelado a um plano didático predeterminado, que inclui memorização de vocabulário e tem por objetivo proporcionar conhecimento metalinguístico". Nestes casos, os estudantes aprendem gramática, situações dialógicas que simulam o uso da língua em um contexto real, e falam também com um falante proficienteou nativo (o professor) e interagem com outros não falantes e aprendizes (colegas de aula). FIGURA 35 – SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM DE E/LE: CURSO DE IDIOMA FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/f/f8/Estudiantes_IETI_Clase.JPG>. Acesso em: 4 set. 2017. Se o aprendizado se dá em um contexto formal, no qual os alunos estão imersos em outro idioma que não a língua objeto, na aquisição o que ocorre é exatamente o contrário: o falante está socialmente exposto à língua estrangeira que está aprendendo. É o caso de imigrantes que se mudam para países falantes de um idioma estrangeiro e precisam aprender o idioma para alcançar as tarefas sociais mais básicas, como pedir um café ou solicitar uma informação. De acordo com Sobroza (2008, p. 2): A aquisição se dá numa situação de contato direto com a nova língua. Estando inserido em um sistema de signos, o seu uso ocorrerá naturalmente, como o que acontece na infância ao adquirir a língua materna. No processo de aquisição, o que interessa é a comunicação, tudo ocorre inconscientemente, é um processo subconsciente/intuitivo. A aquisição da língua estrangeira envolve as estruturas mentais, a personalidade, a influência de fatores externos. Não é um fenômeno uniforme e previsível, pois cada indivíduo é único, com diferenças em seu desenvolvimento. Imagine o caso de um adolescente brasileiro que precisa se mudar para Buenos Aires, capital da Argentina. Esta pessoa somente detém o conhecimento básico da língua espanhola. Ao chegar no país, cuja língua oficial é o espanhol, este falante nativo do português precisa aprender a se comunicar nas situações mais básicas possíveis, como uma criança que aprende a falar a própria língua. Lá ninguém fala nem entende o português. Através do contato com os colegas de escola ele conhece gírias próprias dos falantes daquele lugar e também entonações típicas UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 80 da variante rio-platense. No início encontrará grandes dificuldades, mas estas não o impedirão de avançar no aprendizado empírico do idioma. Como resultado de um processo natural, com o passar do tempo este falante perceberá uma melhora substancial ao falar o idioma com outras pessoas. Este é um caso típico de aquisição do espanhol como língua estrangeira, já que estamos tratando de um sujeito que já possui uma língua materna e adquire o espanhol após já falar um idioma. FIGURA 36 – APRENDIZAGEM X AQUISIÇÃO FONTE: O autor Se você ficou interessado em um estudo mais aprofundado sobre ambos conceitos, recomendamos a leitura do artigo intitulado “Aquisição natural X ensino formal”, de Ricardo Schütz. Ver. SCHÜTZ, Ricardo. Assimilação natural x ensino formal. Disponível em: <http://www.sk.com.br/sk-laxll.html>. NOTA 2.2 L2 E LE Estes são dois conceitos que você observará ao longo de todo o livro de estudos. O termo L2 refere-se à língua segunda. Já o termo LE diz respeito à língua estrangeira. O que difere um conceito do outro? No subtópico anterior, falamos sobre a aquisição versus o aprendizado da língua estrangeira. Certo? O caso da L2 ocorre justamente quando o falante está mergulhado em um ambiente de imersão e já possui uma língua materna (primeira). Kim Griffin (2005, p. 25) afirma que o termo língua segunda se considera "una lengua aprendida después de una primera lengua y mientras se reside en un país donde se emplea esta lengua como lengua de comunicación". É o caso típico de aquisição de uma língua dois, quando o falante se encontra em outro país e aprende a língua do lugar (recorde do exemplo que trouxemos anteriormente, de um adolescente que se muda para a Argentina e gradualmente aprende espanhol em um ambiente de imersão). Aprendizagem (ensino for- mal em ambiente no qual a língua não é ativa Aquisição (exposição direta à língua em um ambiente no qual é língua nativa) E/LE TÓPICO 1 | A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS 81 Se a L2 é a língua que se aprende em um contexto de imersão total, no que consistiria de fato a língua estrangeira? Seguindo novamente a orientação de Griffin, consideramos a língua estrangeira (LE) uma língua que se aprende também depois de ter uma língua formada, "pero en condiciones de aprendizaje [...] es la lengua que se aprende - generalmente con instrucción formal - en un país en el cual no se usa esta lengua como lengua de comunicación" (GRIFFIN, 2005, p. 25). Neste caso, é importante mencionar que o conceito de L2 está para o conceito de Aquisição assim como o conceito de LE está para o conceito de Aprendizagem. Se você tiver curiosidade para saber mais sobre ambos conceitos mencionados neste subtópico, aconselhamos fortemente que você observe o capítulo 1 do livro Linguística aplicada a la enseñanza del español como 2/L, de Kim Griffin. Ver: GRIFFIN, Kim. Linguística aplicada a la enseñanza del español como 2/L. Madrid: Arco Libros, 2005. NOTA 2.3 BILINGUISMO Pela lógica semântica, por bilíngue entende-se aquele que é capaz de falar duas (bi) línguas (língue). No entanto, dentro de uma perspectiva conceitual no âmbito da Linguística Aplicada, esta definição lógica acaba recebendo outros significados de acordo com diferentes teóricos da área. Para o fim de concisão e clareza, não entraremos no mérito de expor diversas definições de modo contrastivo. Seguindo a orientação de Griffin, adotamos a posição empregada pelo Diccionário Enciclopédico de las Ciencias del Lenguaje, de Ducrot e Todorov, que define como bilíngue aquele que é capaz de dominar duas línguas com níveis diferentes (podendo-se saber mais uma língua do que outra). Esta definição nos parece aceitável não por ser mais correta que as outras, mas por significar o rompimento com aportes empiricamente menos realistas, como algumas definições que caracterizam como bilíngue o falante que detém o domínio pleno de duas línguas, em níveis idênticos. UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 82 3 PERSPECTIVA SOCIOAFETIVA DE ENSINO DE E/LE De acordo com o Diccionario de términos clave de ELE, as estratégias socioafetivas entendem o processo de aprendizado como uma relação interdependente entre cognição, emoção e atitudes. Podem ser diversas as abordagens ligadas a uma perspectiva socioafetiva. A bibliografia tradicional de ensino de línguas estrangeiras por muito tempo negou a dimensão afetiva no processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira. Estes aportes priorizavam uma abordagem puramente cognitiva. De acordo com Quiñones (2014), o cenário passou a mudar nos anos 60 e 70 através de enfoques psicológicos que visavam contrapor-se a uma visão puramente cognitiva do ensino de línguas. Para entender a importância da estratégia socioafetiva, sugerimos que você realize um exame de consciência. Tente recordar as vezes em que o professor trabalhou em sala de aula algo que possuía valor emocional para você. Pode ter sido uma letra de música significativa, o poema de um autor que você gostava muito, uma brincadeira da infância ou simplesmente um assunto que muito lhe interessava. Você consegue perceber maior ou menor envolvimento com a aula em decorrência da sua simpatia com o material apresentado? FIGURA 37 – RAYUELA (JOGO DA AMARELINHA) – POSSIBILIDADE DE ESTRATÉGIA SOCIOAFETIVA NÃO FORMAL FONTE: Disponível em: <https://pxhere.com/en/photo/860942>. Acesso em: 5 set. 2017. O Instituto Cervantes aponta que diversas atividades podem ser realizadas no âmbito desta perspectiva, como a realização de atividades de "diverso tipo para superar inhibiciones y bloqueos en el uso de la nueva lengua" (Diccionario de términos clave de ELE, s.d., s.p.). Além disso, também se pode usar a cooperação com falantes nativos do idioma que se pretende aprender, "en prácticas de aprendizaje y uso de la nueva lengua desarrollar actitudes positivas antelas diferentes convenciones sociales entre la cultura propia y la de la nueva lengua" (id). Quiñones (2014) sinaliza que existem dois tipos de fatores envolvidos na estratégia socioafetiva: TÓPICO 1 | A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS 83 FIGURA 38 – FATORES INDIVIDUAIS/FATORES DE RELAÇÃO FONTE: Quiñones (2014) Com uma estratégia socioafetiva valoriza-se o campo empírico do estudante, utilizando a experiência pessoal deste como combustível no processo de motivação na aprendizagem de uma língua estrangeira. Além da elaboração de estratégias, cabe ao professor também reconhecer sinais de ansiedade nos alunos. Não há consenso entre teóricos da área sobre o tema, mas de acordo com Quiñones (2014), a maior parte dos pesquisadores concorda que a ansiedade é negativa e contraproducente no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira. Algumas estratégias podem ser adotadas a fim de diminuir a ansiedade em sala de aula, tais como: • Ayudar a los alumnos para que comprendan que los episodios de ansiedad pueden ser transitorios. • Fomentar la autoestima y la confianza en los alumnos. • Impulsar la asunción moderada de riesgos, asi como la tolerancia a la ambiguedad. • Reducir la competitividad. • Permitir que los alumnos empleen el idioma aun cuando la actuación no sea perfecta. • Animar a los alumnos a que se relajen de la música, la risa o los juegos. • Hacer exámenes razonables (ejercicios conocidos y no ambiguos). • Ayudar a los alumnos a que evalúen, de una forma realista, su proprio rendimiento. • Ofrecer recompensas significativas. • Realizar actividades variadas en estilos y en estrategias de aprendizaje. • Capacitar a los alumnos para que reconozcan los síntomas y las creencias ansiaticas. • Ayudar a los alumnos a que hablen consigo mismos de manera positiva (OXFORD, 2000, p. 85-86). Você pode conhecer exercícios elaborados com base em uma perspectiva socioafetiva no ensino de línguas estrangeiras. Consulte: QUIÑONES, María del Carmen Parra. Emociones y aprendizaje. La dimensión socio-afectiva en la ensenãnza de lenguas extranjeras. Universidad de Oviedo, julio de 2014. Disponível em: <https://tinyurl.com/ybdn8jbq>. NOTA UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 84 Para refletir sobre a perspectiva socioafetiva, convidamos você a fazer um exercício pessoal. Anote em seu caderno todos os aspectos ligados à cultura hispanofalante que lhe agradam. Obras literárias, autores, filmes, novelas, músicas, poesia, comida, países, lugares e hábitos culturais. Vale tudo! O exercício consiste em pensar-se como professor de si mesmo: como ensinar artigos neutros e definidos, por exemplo, através de uma música do Juanes? Pense pelo menos três conteúdos (artigos, numerais e cores) e pense formas de trabalhar cada um destes conteúdos através de algo que você gosta na cultura hispânica. AUTOATIVIDADE 4 PERSPECTIVA COGNITIVA E METACOGNITIVA As estratégias cognitivas são as técnicas que o estudante da língua adota para melhor aprender a língua objeto. Essas estratégias podem ser feitas com a devida orientação do professor ou então através de motivações inconscientes do próprio estudante. De acordo com o Diccionário de términos clave de ELE (s.d., s.p.), as estratégias cognitivas "mejoran la comprensión del lenguaje, su asimilación, su almacenamiento en la memoria, su recuperación y su posterior utilización". Você consegue lembrar que hábitos possui quando está diante de uma situação formal de ensino? O simples anotar com suas palavras o que entendeu, estabelecer relações e tentar “traduzir” o conhecimento compartilhado pelo professor já denota uma estratégia cognitiva empreendida pelo estudante. O ensino de língua estrangeira com base nesta perspectiva está interseccionado com a área da psicologia cognitiva, disciplina que tentará compreender como o nosso cérebro processa o conhecimento e as informações que lhe são apresentadas. FIGURA 39 – ESTRATÉGIAS COGNITIVAS COMUNS ADOTADAS PELO FALANTE FONTE: Diccionário de términos clave ELE (s.d.) TÓPICO 1 | A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS 85 FIGURA 40 – O CÉREBRO E O PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/1/18/Human_Brain_-1.jpg>. Acesso em: 5 set. 2017. Se as estratégias cognitivas são as táticas que o estudante adota para aprender, as estratégias metacognitivas se manifestam na consciência plena do uso destas técnicas. Neste nível o estudante já é capaz de observar-se a si próprio no sentido de avaliar o progresso do seu desenvolvimento na aprendizagem daquele idioma. Trata-se de um saber consciente no qual o aprendiz reconhece a função de cada exercício, utilizando ao seu favor os recursos disponíveis e objetivando fins específicos. Imagine um estudante de língua estrangeira que decide ouvir um diálogo de um filme e transcrever ao mesmo tempo tudo o que ouve. Esta seria uma estratégia metacognitiva que visa ao melhor entendimento das palavras em outro idioma. Os exemplos são infinitos, mas a adoção destes métodos pessoais sempre deve partir do estudante. Imagine que você deseja melhorar sua leitura oral em língua espanhola. Ao avaliar todas as possibilidades de melhora, decide que a forma mais indicada de atingir esta meta é ler textos em voz alta. Esta seria uma estratégia metacognitiva (a cognição a serviço da cognição) para melhorar a leitura oral. O cérebro humano é uma máquina incrível! Você já parou para pensar na infinidade de coisas que o cérebro humano é capaz de fazer? Ele possui bilhões de neurônios, controla o nosso corpo, administra o conhecimento linguístico, é capaz de resolver problemas empíricos e muito mais! Em 2016, publicou-se o mapa mais detalhado do cérebro humano já feito. De acordo com o jornal O Globo, atingiu-se um marco na neurociência com a publicação de estudo que identificou 360 áreas nos dois hemisférios cerebrais. Os responsáveis são cientistas da Washington University. Você pode acessar mais informações em: <https://tinyurl.com/y882e4fs>. NOTA UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 86 5 PERSPECTIVA INTERACIONAL As perspectivas interacionistas partem do princípio de que a interação e a aprendizagem são duas vias indissociáveis, visto que é a partir da primeira que se pode obter resultados significativos na segunda. Uma das principais correntes é a teoria do discurso. De acordo com Kim Griffin (2005, p. 44), a teoria do discurso tem o seu começo em princípio da década de 70, "cuando los estudios de la linguística aplicada se dirigen hacia la exploración de cómo los seres humanos se comunican entre sí y cómo aprenden a hacerlo en la L1 y en la L2". Nos domínios desta teoria é fundamental que se entenda o conceito de negociação do significado. Você lembra quando estudamos, na primeira unidade deste livro de estudos, a relação entre significante e significado para Saussure? Pois os estudos situados na teoria interacionista do discurso apresentam um entendimento singular no que diz respeito ao significado: "la idea es que tanto en la L1 como en la L2 los indivíduos aprendemos lengua porque participamos en un intercambio de mensajes significativos [...] nos comunicamos para lograr propósitos determinados... para lograr objetivos personales específicos" (GRIFFIN, 2005, p. 44). De acordo com Griffin (2005), em toda comunicação há a necessidade de negociar significado das intenções dos interlocutores, já que quando nos comunicamos com outra pessoa com frequência, transmitimos mensagens com informações parciais, incompreensíveis ou cometendo erros. Por essa razão, a fim de evitar problemas de entendimento, com frequência negociamos o significado. Quantas vezes você já precisou explicar para outra pessoa que o que estava dizendo não era exatamenteo que ela estava entendendo? No âmbito da língua materna, quando existe entre interlocutores um domínio mais ou menos igual da mesma língua e quando os falantes operam dentro dos mesmos parâmetros socioculturais, automatizamos a negociação de significado. Isso quer dizer que já sabemos o que o interlocutor pretende com sua fala, sem perguntar verbalmente o que se pretendeu dizer. De acordo com Griffin (2005, p. 45), isso ocorre quando passamos “de la niñez a la madurez”. É quando as intenções comunicativas já são explícitas e já entendemos o uso da língua para além do sentido literal. Contudo, quando falamos da negociação de significado no âmbito de uma segunda língua, o processo é relativamente diferente, já que o aprendizado de uma segunda língua respeita quatro etapas específicas, visto que os aprendizes precisam empregar meios de aprender uma nova língua através da comunicação. São estas etapas: fórmulas; estruturas verticais; padrões discursivos e desenvolvimento de personalidade própria em L2. TÓPICO 1 | A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS 87 FIGURA 41 – PESSOAS INTERAGINDO FONTE: Disponível em: <https://pxhere.com/en/photo/922366>. Acesso em: 7 set. 2017. De acordo com Griffin (2005, p. 46), as fórmulas são pequenos blocos comunicativos cujo sentido é facilmente reconhecível. Exemplo: expressões como "a lo mejor", "se lo dije", "lo siento", "echar de menos", "quisiera", "que tal?". Em relação às estruturas verticais, o falante deseja participar da comunicação, mas não possui "suficientes recursos como para aportar habla completamente espontánea y libre". São as expressões que o aprendiz presenciou serem usadas por um nativo e que posteriormente também utiliza. Nessa etapa, o falante não é capaz de se comunicar com fluência e então repete fragmentos já utilizados por falantes nativos com a intenção de expressar um significado específico. Já nos padrões discursivos o falante é capaz de exemplificar, enumerar, refutar, comparar, sintetizar e demonstrar ideias através da linguagem. Ainda lhe falta habilidade para realizar construções sintáticas maiores. O falante segue imitando o que já viu outros falantes fazer, mas o faz para além de estruturas prontas. Por último, e como etapa mais autônoma dentro deste processo de quatro fases, o desenvolvimento da própria personalidade no âmbito da língua estrangeira. Após conformar-se como falante através da experiência de outros falantes, o indivíduo já é capaz de usar as estruturas aprendidas a fim de formar ideias próprias, o que configura um grau de autonomia maior do que nas etapas anteriores. Você deve estar se perguntando como é possível aplicar a teoria interacionista em sala de aula, não é mesmo? De acordo com Griffin (2005), é possível fazê-lo através de cinco ajustes interativos: repetição, incitação (à participação), apresentação de perguntas-chave e mais comprovação de compreensão. Neste processo os professores devem controlar praticamente o tempo todo a vez de cada aluno falar, quem tem a palavra e como orientar o desenvolvimento da aula. Isso se dá através de temas e tarefas. UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 88 6 PERSPECTIVA SOCIAL Uma das principais vértebras da perspectiva social de ensino da língua estrangeira se centra na Sociolinguística, disciplina de importância angular nos estudos linguísticos. Conforme Fernández (1994), a Sociolinguística reforça a prioridade que se concede à língua oral sobre a escrita nos métodos de ensino de línguas estrangeiras, e incita que se incorpore "variables sociales a las investigaciones aplicadas que manejan informantes como fuentes proveedoras de datos" (p. 110). Isso significa dizer que a variação linguística (o quão varia o espanhol de uma região/país para outra) é importante no ensino de língua. Dentro dessa perspectiva, por exemplo, é importante que o estudante da língua espanhola saiba que existem formas distintas de pronunciar os fonemas da língua espanhola. Que uma palavra pode ser dita de uma forma no México e de outra notadamente diferente na Argentina ou no Uruguai. Essa perspectiva também está ligada à competência sociolinguística, conforme veremos adiante. FIGURA 42 – O TANGO – UMA EXPRESSÃO CULTURAL TIPICAMENTE ARGENTINA FONTE: Disponível em: <https://c1.staticflickrcom/3/2800/434 5161183_4cf633fd9b_b.jpg>. Acesso em: 7 set. 2017. Além da Sociolinguística, uma perspectiva orientada para o fator social também pode abarcar questões de cunho intercultural. As professoras Monica Azarias e Elda da Silva relatam experiência de ensino de espanhol na escola estadual Tobias Barreto. Segundo relato das professoras, implementou-se em sala de aula um projeto de imersão na cultura hispânica: "com o fito de trabalhar as habilidades linguísticas e os aspectos culturais de países que possuem a língua espanhola como oficial e, dessa maneira, aproximar os alunos da diversidade cultural dos falantes desse idioma" (AZARIAS; SILVA, 2016, p. 7). Temas como culinária, cinema e aspectos culturais de ordem diversa foram objetos de investigação pelos próprios discentes, sempre com o propósito de aprofundar questões de ordem cultural e até mesmo objetos característicos. De acordo com as professoras, em uma etapa posterior do trabalho desenvolveu-se a oralidade através da dramatização de filmes escolhidos pelos alunos. Além disso, em uma terceira etapa, tematizou-se festas típicas de países hispanofalantes: TÓPICO 1 | A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS 89 Ficou a critério do grupo escolher a festa, a partir do país que estava responsável desde a 1ª etapa. Os critérios pontuados como necessários para esse momento foram: ornamentação do local, de acordo com a festa escolhida, apresentação de toda a história e contextualização da festa, simulação da dança típica devidamente caracterizada por aqueles que fossem apresentar e apresentação de um prato típico usado na festa (AZARIAS; SILVA, 2016, p. 8-9). Este é um exemplo típico de uma abordagem completa da perspectiva social de ensino de espanhol como língua estrangeira. Cabe salientar ainda que em sala de aula uma perspectiva não exclui a outra, podendo-se conjugar uma abordagem afetiva com um aporte social, um aporte cognitivo com um interacional e vice-versa. Tudo dependerá do grupo com o qual se está trabalhando e também do objetivo do ensino de LE. Nesta unidade, você percebeu que ao ensinarmos uma LE é possível adotar uma abordagem interdisciplinar no processo ensino-aprendizagem. O professor, como mediador do processo, pode valer-se de áreas como a psicologia e a sociologia para alcançar o objetivo de ensinar espanhol como LE. DICAS Recomendamos que você assista à reportagem “Didácticas en la enseñanza de las lenguas extranjeras”, disponível no Youtube: <https://www.youtube.com/watch?v=T3Xd- v1jyYw>. Acesso em: 31 out. 2017. 90 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • Os conceitos de Aprendizagem X Aquisição de E/LE, L2 e LE e Bilinguísmo são de grande importância para o estudo da Linguística Aplicada. • Existe a perspectiva socioafetiva de ensino de E/LE. • As perspectivas cognitivas e metacognitivas são vitais para o processo de ensino-aprendizagem. • A perspectiva interacional é importante em um contexto de aprendizagem de E/LE. • A perspectiva social pode inspirar diversas experiências. 91 AUTOATIVIDADE 1 Observe as seguintes assertivas: I - A aquisição está associada ao ensino da língua estrangeira em um contexto de não imersão linguística. II - Na aprendizagem o falante está socialmente exposto à língua estrangeira que está aprendendo, em um ambiente de completa imersão linguística no qual necessita utilizar a língua estrangeira para realizar as atividades mais básicas, como pedir um café ou comprar um ingresso no cinema.III - As estratégias socioafetivas entendem o processo de aprendizado como uma relação interdependente entre cognição, emoção e atitudes. IV - As estratégias cognitivas são as técnicas que o estudante da língua adota para melhor aprender a língua objeto. Essas estratégias podem ser feitas com a devida orientação do professor ou então através de motivações inconscientes do próprio estudante. V - As perspectivas interacionistas partem do princípio de que a interação e a aprendizagem são duas vias indissociáveis, visto que é a partir da primeira que se pode obter resultados significativos na segunda. Agora, marque a alternativa correta: a) ( ) Todas as assertivas estão corretas. b) ( ) Somente estão corretas as assertivas I e II. c) ( ) Somente I, II e IV estão corretas. d) ( ) I e II estão incorretas. e) ( ) II, III e IV estão corretas. 92 93 TÓPICO 2 ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Como você já percebeu ao longo deste material instrucional, com frequência o professor de Espanhol se depara com desafios metodológicos no processo de ensino-aprendizagem da língua espanhola. Qual método é o mais adequado para determinado tipo de público? Qual a melhor maneira de colocar em prática? Como futuro professor de espanhol você deve estar atento às necessidades do alunado. Com frequência coincidirá com estudantes de perfis e idades diferentes, com propósitos distintos no que diz respeito ao interesse pelo aprendizado formal do idioma. As necessidades que levam o estudante a aprender determinada língua podem ser de ordem diversa, como o aprendizado para fins comerciais, para questões jurídicas, para escrita de textos acadêmicos neste idioma, para lidar com turistas, entre outros motivos possíveis. FIGURA 43 – ESPANHOL COM FINS ESPECÍFICOS FONTE: O autor Diferentemente do professor que aprende a língua espanhola para ensiná- la e tornar-se hábil em todas as competências (leitura, audição, expressão oral e escrita), o estudante que busca aprender o idioma com fins específicos geralmente possui ambições menos amplas e direcionadas para suas necessidades primárias. UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 94 2 O ENSINO DE ESPANHOL COM FINS DE TURISMO Uma das proposições reais mais recorrentes é o espanhol para turismo. Imagine que você estará ensinando espanhol para estudantes de Turismo que precisarão se comunicar com falantes nativos do espanhol. Este estudante possui um interesse prático por questões comunicativas e para ele interessa aprender a língua para temas como resolução de problemas, oferecimento de informações e adequação linguística aos distintos públicos com os quais virá a tratar (idoso, jovem, infantil, meia-idade etc.). De acordo com Moreno García e Tuts (2005), ao deparar-se com público interessado em aprender espanhol com o fim de turismo, o professor de Espanhol deve ter em mente uma série de parâmetros que irão configurar o perfil do público para o qual se está ensinando o idioma. Como estudante você já é capaz de perceber que em sala de aula o professor pode se deparar com um perfil de alunos semelhantes entre si (homogêneo) ou distintos (heterogêneo). É por essa razão que questões como a idade, a língua materna que fala, os conhecimentos prévios existentes, a capacidade de reação, o senso de humor, entre outros aspectos, são de suma importância para que compreendamos quem é o nosso estudante e assim possamos estabelecer uma metodologia de trabalho objetiva. Reproduzimos a seguir o quadro elaborado pelas autoras Concha Moreno García e Martina Tuts. Nesse quadro são expostas três colunas: na primeira, o perfil de quem estuda espanhol. Na segunda, as características adquiridas que deve reunir. Na terceira, o público com o qual este estudante se relaciona: QUADRO 3 – O ESPANHOL TURÍSTICO Quién estudia español turístico Características que debe reunir Público com el que se relaciona Edad Lengua materna Otros idiomas hablados Conocimientos prévios Otros interesses Capacidad de reacción Flexibilidad, cortesia y firmeza Crear un clima dinamizador y de cohesión de grupo Capacidad para transmitir tranquilidade (tono, vocabulario, giros linguísticos) Sentido del humor Gente joven. Personas jubiladas. Personas de muy diferente nível cultural Hombres y mujeres de negócios Público mixto, mestizo, minorias étnicas, personas discapacitadas, etcétera Famílias com niños y niñas FONTE: Moreno García e Tuts (2005, p. 1186) TÓPICO 2 | ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES 95 O público com o qual o seu aluno se relacionará como guia turístico será de importância vital para determinar o tipo de linguagem que utilizará. Por exemplo, não seria recomendável a utilização de gírias e formas muito informais de comunicação com um turista de idade avançada e perfil mais culto. Por outro lado, utilizar uma linguagem menos formal e mais descontraída pode ser vital para conquistar a simpatia de um turista de uma faixa etária menor, como estudantes de escolas ou outro público similar. O seu desempenho como professor entra justamente nestes aspectos: além de trabalhar a adequação discursiva, você também precisará abordar com o seu aluno uma diversidade considerável de situações comunicativas, tornando-o competente ao tratar com os diversos públicos que porventura venha a ter que lidar. Moreno García e Tuts (2005) relacionam os setores e as destrezas necessárias para o bom desempenho do guia turístico em cada um deles. Em hotéis, comércios, acompanhante de grupos, guia profissional e em congressos é necessário que o estudante desenvolva plenamente as competências auditiva e oral. Nestas situações será preciso ouvir os falantes da língua e estar apto para responder suas inquietações, atuando assim de forma dialógica ao envolver as duas competências (audição e expressão oral). Se o mesmo estudante tiver como propósito unicamente trabalhar em uma agência de viagem, além das competências auditiva e oral, ele também precisará desenvolver a competência leitora, pois é possível que precise ler e redatar textos em língua espanhola. A metodologia de trabalho é o principal parâmetro para o professor do aluno que busca aprender espanhol com propósito turístico. Centrar o foco de trabalho na comunicação é de extrema importância para que se obtenha os resultados esperados. Algumas abordagens são necessárias, tais como expor o aluno a situações de diálogos reais e permitir que o estudante conheça e reconheça as variantes e os distintos sotaques do espanhol falado no mundo (recorde da perspectiva social de ensino de língua espanhola). FIGURA 44 – TURISTAS EM VISITA AO VATICANO FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/5/50/Turistas_en_la_Plaza_de_San_Pedro.JPG>. Acesso em: 12 set. 2017. UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 96 Moreno García e Tuts (2005) afirmam ainda que o aluno de Turismo não se preocupa muito com os porquês da língua, mas sim com os instrumentos de atuação imediata. Fato incontestável é que o aluno obterá a fluidez linguística no dia a dia a partir do contato constante com os falantes nativos. Apesar disso, cabe ao professor elaborar sua própria estratégia de atuação metodológica para que o estudante possa dar os primeiros passos. As autoras sugerem que se perceba os conhecimentos prévios dos alunos (questões como região de onde vêm, seus costumes), que se utilize em sala de aula situações de dramatização (simulações teatrais), que se integre as destrezas (oral, escrita, auditiva) em atividades diversas, e que se trabalhe a gramática e o vocabulário. Ao trabalhar as competências oral e escrita é necessário ter em mente o tipo de situação comunicativa na qual se empregará dada competência. Observe, na citação a seguir, as destrezas necessárias para cada uma destas competências:La competencia oral para las siguientes funciones: - Saludar, acoger y despedir a los clientes. - Reaccionar ante actitudes agresivas o poco amigables. - Informar y aconsejar sobre posibles atividades. - Informar sobre precios, horarios, fechas. - Informar sobre situación de monumentos, hospitales, correos, etcétera. - Reaccionar ante protestas y transformar el posible conflicto. - Agradecer muestras de gratitud. - Transmitir mensajes telefónicos. - Describir hoteles, lugares. - Justificar la elección de ciudades / monumentos en la elaboración de un circuito cultural. - Convencer para vender / comprar / participar. - Argumentar a favor o en contra de una postura generalizada La competencia escrita a varios niveles: - Escritos breves - Rellenar fichas - Escribir notas - Escribir notas a partir de mensajes telefónicos - Escritos largos. - Redactar faxes / e-mails / cartas de petición de servicios - Contestar cartas de reclamaciones - Redactar cartas de reclamaciones - Elaboración de contenidos - Programas para grupos - Circuitos culturales - Incentivos - Congresos - Informes (MORENO GARCÍA; TUTS, 2005, p. 1200-1201). Ao ensinarmos o espanhol com um propósito específico é possível que não se consiga desenvolver no aluno plenamente todas as habilidades em um curto período de tempo. Isso pode ocorrer em decorrência de fatores de ordem diversa, TÓPICO 2 | ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES 97 como rendimento baixo, dificuldades de aprendizagem ou pouca exposição do aluno à língua. Nestes casos, é preciso que se restabeleça um novo itinerário de estudo ou se desdobre o curso em módulos posteriores. Outro caso possível é o ensino de espanhol para pessoas interessadas a aprender o idioma com o propósito de viajar para países hispanofalantes. Estes casos, de forma igual com o mencionado anteriormente, também irão requerer estratégia e metodologia de trabalho personalizadas. DICAS Se você deseja ler um estudo aprofundado sobre o assunto, recomendamos que procure o seguinte artigo: MORENO GARCÍA, Concha; TUTS, Martina. La enseñanza del español del turismo. In.: LOBATO, J. S.; GARGALLO. I. S. (Org). VADEMÉCUM Para la formación de professores: Enseñar espãnol como segunda lengua (L2)/lengua extranjera (LE). Alcobendas: Sociedad General Española de Librerías, 2005. AUTOATIVIDADE Imagine uma situação hipotética na qual você foi contratado para dar aulas em um curso de espanhol para turismo. O público-alvo é de estudantes do curso de Tecnólogo em Turismo da UNIASSELVI. Você já conhece a turma, já ministrou as primeiras aulas e sabe que são estudantes que se situam na faixa etária de 18 a 28 anos. Você precisa ensiná-los a fazer um itinerário cultural em língua espanhola. Trata-se da grande noite dos museus, com visitas in loco a museus da cidade de Madrid ao longo de um dia. Escreva uma reflexão de no máximo dez linhas, sobre como você acredita que uma atividade dessa natureza poderia ser realizada. Nesta atividade não existe resposta certa. Trata-se de uma reflexão docente. O importante é que você seja capaz de discorrer sobre como, enquanto professor, organizaria essa atividade: através de filmes sobre os museus? Levando textos a respeito dos respectivos lugares? Trabalhando a habilidade oral? Tente ser criativo! Apresentamos como texto motivador um fragmento textual de uma matéria veiculada sobre o assunto. La Noche de los Museos 2017 Con motivo del Día Internacional del Museo que se celebra el 18 de mayo con un montón de actividades y que este año tiene como lema 'Museos e historias controvertidas: decir lo indecible en los museos', las principales pinacotecas de la ciudad organizan además una noche especial con ampliación de sus horarios hasta la medianoche y con lecturas, charlas, talleres y visitas UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 98 guiadas. ¡Y todo gratis! Así, el sábado 20 de mayo se celebra de nuevo esta Noche de los Museos, una iniciativa del Consejo de Europa en la que 4.000 museos de 40 países diferentes abrirán sus puertas hasta la madrugada. Para no perdernos entre la amplia oferta que encontraréis en Madrid, hemos seleccionado las actividades más destacadas de la programación. Museo Thyssen-Bornemisza Además de abrir de forma gratuita su colección permanente desde las 19 h hasta la una de la madrugada, podéis disfrutar de una instalación situada en el jardín del museo que os permitirá ‘entrar’ en algunos cuadros como ‘Retrato de familia’, de Frans Hals, ‘El sueño’, de Franz Marc o ‘Habitación de hotel’, de Edward Hopper, y fotografiaros inmersos en ellos. La instalación estará abierta desde el jueves 18, Día Internacional de los Museos. Museo del Prado La pinacoteca más importante de España se une a la Noche de los Museos abriendo las puertas de su exposición temporal desde las 20.30 h hasta la una de la madrugada (el último pase será a las 0.30 h). Así, podréis disfrutar de la muestra ‘Tesoros de la Hispanic Society’, que surge fruto del acuerdo entre el Museo del Prado y la Hispanic Society of América de Nueva York y que está formada por cerca de 200 obras procedentes de la asociación fundada en 1904 por Archer Milton Huntington, un apasionado coleccionista y estudioso del arte hispánico. CaixaForum Por su parte, el CaixaForum abre sus puertas hasta la medianoche y podéis ver sus exposiciones de forma gratuita desde las 19 h hasta las 24 h. En la actualidad acoge las muestras ‘Arte y cine. 120 años de intercambios’, sobre la relación entre cine y el resto de disciplinas, el talento de Ramón Casas y su ‘Modernidad anhelada’ y la reivindicativa ‘Tierra de sueños’. Las tres merecen mucho la pena. FONTE: Disponível em: <https://www.timeout.es/madrid/es/arte/la-noche-de-los- museos-2017>. Acesso em: 13 set. 2017. REFLEXÃO: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ TÓPICO 2 | ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES 99 3 O ENSINO DE ESPANHOL COM FIM COMERCIAL O ensino de espanhol dirigido a questões comerciais ou de negócios é um dos diversos segmentos de ensino da língua espanhola voltado para fins específicos. De acordo com Tomás Puch (2005), constitui uma tarefa completamente possível estudar aspectos específicos da linguagem comercial concomitantemente ao aprendizado da língua espanhola. Ao final de um curso com ambos propósitos seria possível "alcanzar un nivel razonable de dominio de las estructuras linguisticas y del lenguaje comercial" (PUCH, 2005, p. 1149). Um curso realizado com este propósito priorizaria conhecimentos específicos de língua ao associar gramática a situações comerciais ou funções específicas. De modo igual ao espanhol voltado para o Turismo, tendo a estrutura do curso uma orientação pragmática (por exemplo, o espanhol para atendentes no comércio) ou um aporte mais completo que contemple negociações comerciais, viagens, planilhas, decisões, acordos comerciais, interação social, estruturas tecnológicas etc. FIGURA 45 – REUNIÃO DE NEGÓCIOS E USO DO ESPANHOL FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-2568603/?no_ redirect>. Acesso em: 13 set. 2017. A segunda opção, mais completa e ampla no que tange aos seus fins, poderia qualificar o estudante em uma sériede situações de uso formal da língua espanhola. Tomas Puch é professor da Escola Oficial de Idiomas de Madrid e elaborou um projeto de curso dividido em três módulos. De acordo com o autor, o curso "abarcaría tres grandes campos temáticos de la actividad empresarial y estaría basado fundamentalmente en el estudio del funcionamiento de las empresas e instituciones financieras, así como de la legislación ad hoc, mediante ejemplos prácticos y utilización de documentos reales" (PUCH, 2005, p. 1150). Além disso, cada um dos três níveis se desenvolveria ao longo de 120 horas/aula. Você já parou para pensar o quão rico e complexo pode ser o estudo de uma língua? O professor, na condição de mediador do conhecimento, muitas vezes precisa aprender para ensinar. A criação de um curso dessa natureza requereria do docente o mínimo de conhecimento relativo à área do comércio. Isso não significa que o professor necessita deter conhecimentos técnicos sobre o comércio e a economia, mas sim conhecer situações reais vividas pelos profissionais da área. Neste sentido, além de uma pesquisa criteriosa, também valeria recorrer à ajuda de conhecidos ou amigos com experiência no tema e capazes de fornecer o mínimo de informação confiável. UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 100 No curso mencionado anteriormente, o professor José Maria Tomás Puch dividiu a ementa em três unidades: a) conteúdos de nível inicial (12 tópicos); b) conteúdos de nível intermediário (12 tópicos); c) conteúdos de nível superior (com três temas: recursos humanos, técnicas de mercado e economia da empresa). O grande diferencial da proposta elaborada pelo professor está basicamente na relação estabelecida entre os eixos situação-função-língua: a situação de trabalho, a função da dita situação: para que serve e o conteúdo linguístico que será desenvolvido na atividade. Além disso, dentro da proposta apresentada por Tomás Puch, também se contemplam exercícios de natureza oral, auditiva e escrita. Como você percebeu, trata-se de uma proposta mais generalista voltada para questões amplas e passível de adaptação. Cada perfil de aluno requererá um planejamento estratégico específico, e é neste momento em que profissionalmente é testada a habilidade do professor em equilibrar questões reais (características do alunado), sociais (propósitos do ensino), linguísticas (conteúdos a se trabalhar de acordo com cada situação) e didáticas (como fazer). Tudo isso reforça a importância do profissional das Letras, considerando que a este se instiga diariamente a mais completa capacidade em estudar, pesquisar e planejar a execução do seu plano de ação. DICAS Se você quer saber mais sobre o assunto, recomendamos que leia dois artigos que se debruçam sobre o tema: “Español para negócios”, publicação veiculada no editorial Don Quijote e disponível em: <http://www.donquijote.org/cultura/espana/lenguajes/el- espanol-en-el-mundo-de-los-negocios> e também o texto “El español: una lengua viva. Informe 2013”, veiculada na página oficial do Instituto Cervantes e disponível em: <https:// cvc.cervantes.es/lengua/anuario/anuario_13/i_cervantes/p01.htm>. Ambos textos foram consultados no dia 13 de setembro de 2017 e nesta data os links estavam ativos. 4 O ENSINO DE ESPANHOL COM FINS JURÍDICOS Por envolver jargões jurídicos e expressões próprias da área do Direito, o espanhol jurídico é uma vertente menos recorrente entre os propósitos específicos de ensino-aprendizagem do espanhol para estrangeiros. No entanto, justamente por seu caráter singular, esta proposta sinaliza para um docente linguisticamente hábil o trato com questões ligadas a esta área. TÓPICO 2 | ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES 101 Assim como o profissional que ensina espanhol para o Turismo, não é necessário ter formação em Direito para ensinar a língua espanhola direcionada a esta área. O profissional que, em algum momento de sua carreira, venha a se dedicar ao tema, necessita realizar um amplo trabalho de pesquisa sobre o assunto, observando questões linguísticas e específicas da área. Já em relação ao aluno, pressupõe-se um nível de espanhol intermediário (B1 na classificação do Marco Comum Europeu de Referência para as Línguas), pois nesta etapa o falante já é capaz de reconhecer estruturas complexas, assim como produzir textos simples e coerentes sobre temas de seu conhecimento. De acordo com Morales Pastor (2005), o docente deverá possuir um bom treinamento em questões de ordem gramatical, como o domínio pleno do futuro perfeito do subjuntivo (el que resultare), do presente do subjuntivo (que se oficie), uso da voz passiva (el imputado es detenido), imperativo impessoal (téngase por desistido), entre outros tópicos gramaticais necessários para a expressão adequada nas mais distintas situações jurídicas. DICAS Você sabia que existe um livro específico sobre o espanhol jurídico? Um dos livros mais importantes da área se intitula “Diccionario del Español Jurídico” e é uma publicação veiculada pela Real Academia Española. MUÑOZ MACHADO. Santiago. Diccionario del Español Jurídico. Barcelona: Espasa Libros, 2016. Outro texto referencial é uma publicação assinada pelo prof. Hernando de Larramendi, da Universidad de Alcalá, e está disponível em: “Propuesta de estructuración y clasificación del léxico jurídico para su enseñanza em E/LE”. Ver: HERNANDO DE LARRAMENDI. M. Propuesta de estructuración y clasificación del léxico jurídico para su enseñanza em E/LE. Disponível em: <www.ub.es/filhis/culturele/larramen.html>. UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 102 DICAS Outra dica importante para elaborar aulas é o acesso ao website <www. derecho.org>. De acordo com a professora Margarita Hernando de Larramendi (2001, p. 2), o professor pode acessar um manancial de informações na referida página web e lá criar exercícios tais como “selección múltiple, verdadero/falso, comparación, intrusos, definiciones, clasificaciones (jerarquía, campo semántico, hiperónimos, sinónimos, antónimos, lengua común o específica etc.), juicio terminológico de palabras compuestas, memorización, huecos, relaciones de términos y definiciones, reflexión, inferencia, predicción, reconocimiento de regularidades, transformación, sustitución etc”. FIGURA 46 – VOCABULÁRIO JURÍDICO PARA FALANTES ESTRANGEIROS DO ESPANHOL FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-9017/?no_redirect>. Acesso em: 13 set. 2017. Morales Pastor (2005) acrescenta, por fim, que o espanhol jurídico possui alguns elementos caracterizadores, como a pretensão de objetividade e neutralidade. As especificidades da área tornam por exigir um trabalho reforçado em questões morfossintáticas (as formas do presente, passado e futuro) e léxico-semânticas, como os prefixos (ab, abintestato; ad/a, agravar; per, perpetrar...) e os sufixos latinos que criam adjetivos (-ico, jurídico; -ivo, ejecutivo; -ento, fraudulento...). 5 O ENSINO DE ESPANHOL A CRIANÇAS Com a expansão das plataformas digitais e com o acesso cada vez mais cedo a conteúdos multilíngues, nota-se uma considerável expansão de cursos de Espanhol voltados para crianças. Diferentemente das modalidades Turismo, Comercial e Jurídico, este tipo direcionado de curso se configura com a presença constante de atividades práticas, lúdicas e motivadoras. Com frequência, estes cursos possuem uma durabilidade maior, visto que a competência comunicativa da criança que estuda Espanho/LE pode ser desenvolvida gradualmente, de forma paralela ao estudo e compreensão da língua materna. TÓPICO 2 | ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES 103 De acordo com Isidoro Pisonero del Amo (2005, p. 1279), reconhecido estudioso do ensino de espanhol para crianças e professor do Colégio Europeu de Madrid, a realidade em sala de aula de uma turma voltada para o ensino de crianças costuma ser bastante variada:“uma variedade de capacidades, grados de motivación, niveles socioculturales e interesses del alumnado; una diversidade notable de professorado em cuanto a preparación técnica, grado de motivación, implicación y participación”. É considerando esta pluralidade de aspectos que o papel do professor deve ir além da mediação e da facilitação de acesso ao conhecimento. Neste nível, no qual a criança está começando a aprender um novo idioma, é necessário que o docente tenha uma consciência pedagógica de ensino da língua estrangeira. Isso significa dizer que o professor deve saber aplicar estratégias pedagógicas que priorizem uma abordagem lúdica: situações informais de uso da língua, jogos interativos, brincadeiras, desenhos, atividades dirigidas, entre outros. De acordo com Pisonero del Amo (2005, p. 1281), o professor deve priorizar atividades comunicativas e tarefas reais ou simuladas. São produtivas as atividades que: sean motivadoras por su interés y rentabilidad, que actúen como estímulo y refuerzo de aprendizaje; de modo recurrente, revisen y consoliden eI aprendizaje, ya que a esta edad se aprende y se olvida con facilidad, por lo que la importancia de la recurrencia es mayor, si cabe, que con alumnos de otras edades; requieran movilidad física y trabajo en parejas o en grupo; incluyan eI juego simbólico y eI componente lúdico, instrumentos facilitadores de aprendizaje y factores de motivación y estímulo de la creatividad a lo largo de todo este proceso. Um exemplo de atividade integradora pode ser uma proposta de excursão à montanha. No exemplo dado pelo professor Pisonero del Amo, propõe-se que os alunos escolham dez itens que levariam na mala, associando os nomes aos desenhos. UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 104 FIGURA 47 – PROPOSTA DE ATIVIDADE LÚDICA FONTE: Pisonero del Amo (2005, p. 1281) Além disso, também é recomendado que se centre nos conhecimentos prévios do aluno, assim como nas três propostas didáticas que vimos anteriormente. O que a turma de crianças, pré-adolescentes ou adolescentes já sabe sobre a língua espanhola? O que conhecem? Um grupo de pré-adolescentes, por exemplo, pode gostar de novelas originalmente gravadas em espanhol, como Chiquititas e Rebelde. Outro grupo pode conhecer e ter curiosidade pelo seriado El chavo del Ocho ou cantores famosos como Shakira, Maluma ou Juanes. Em contrapartida, é possível que existam alunos que não tenham referências prévias da língua espanhola ou tenham conhecimentos singulares, como o acesso a youtubers hispanofalantes ou vlogers. Você já parou para pensar o quanto uma aula de língua estrangeira para crianças pode ser produtiva? Em um curso voltado para crianças o professor pode abrir asas à imaginação e trazer para a sala de aula recursos que em outras modalidades dirigidas soariam pouco convencionais, como o uso de acessórios como glitter, argila, perucas, fantasias, bem como o uso de outros recursos possíveis, como dramatizações, conteúdo audiovisual etc. Você recorda quando abordamos a perspectiva socioafetiva de ensino de língua espanhola e mencionamos a experiência das professoras Monica Azarias e Elda da Silva na Escola Estadual Tobias Barreto? Este é um exemplo bastante coerente no que diz respeito ao planejamento. Ao conhecer a turma, é recomendado que o professor de língua estrangeira elabore um mapeamento a fim de conhecer melhor o grupo com o qual se está trabalhando. É a aula zero, TÓPICO 2 | ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES 105 ponto de encontro que definirá os caminhos que o professor delineará através do planejamento docente. No âmbito de uma aula de língua estrangeira voltada para crianças, a principal meta é desenvolver a competência comunicativa. Por competência comunicativa entende-se um grande leque que contempla outras subcompetências, a gramatical, sociolinguística, estratégica e discursiva. Veremos atentamente no que consiste cada uma dessas competências no Tópico 5. Por ora, observe o seguinte esquema, no qual cada uma das subcompetências compõe um grande guarda-chuva: FIGURA 48 – A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA FONTE: Adaptado de Canale e Swain (1980 Apud PISONERO DEL AMO, 2005, p. 1281) Cannale e Swain (1980 apud PISONERO DEL AMO, 2005, p. 1281) entendem cada uma das quatro subcompetências como: Gramatical (capacidad de usar los signos linguisticos conforme a las reglas de combinación), discursiva (capacidad de adecuar los diferentes tipos de discurso a la situación comunicativa específica y de utilizar los recursos que dan cohesión y coherencia a los textos escritos u orales), estragégica (capacidad de reajustar el curso de la comunicación resolviendo los problemas o deficientas comunicativos en cualquiera de las otras subcompetencias), sociocultural (familiaridade com los usos sociales y pautas culturales que enmarcan la comunicación). Atividades como a da Figura 47 (excursão à montanha) poderiam estimular, por exemplo, a competência estratégica e gramatical do estudante. Outra possibilidade de atividade intitula-se "Visita à cidade encantada". Nesta atividade o professor Pisonero del Amo apresenta uma proposta na qual o estudante precisa articular as quatro competências (gramatical, discursiva e sociolinguística e estratégica). No jogo, é apresentado o desenho de uma cidade com nome de ruas e lugares como circo, igreja etc. Ao falante, brinda-se duas opções: “Opción A: Dile a tu compañero/a dónde te encuentra y los movimientos que vas haciendo para llegar a tu lugar elegido; pregúntale a qué lugar has llegado. Gramatical Sociolinguística Discursiva Estratégica UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 106 / Opción B: Dile a tu compañero/ a dónde te encuentras y pregúntale qué debes hacer para llegar al lugar que desees” (PISONERO DEL AMO, 2005, p. 1287). Conforme você pode perceber, a consciência prévia das competências a serem desenvolvidas na criança pode ser um grande determinante na construção de uma metodologia de trabalho. Cabe ao professor a incumbência de buscar os materiais didáticos que o auxiliem na elaboração das aulas e na avaliação a posteriori dos resultados obtidos. DICAS Para encontrar atividades e dicas de como elaborar as aulas, recomendamos que o estudante busque as seguintes obras dedicadas ao asssunto: • Pascalle 1, 2 e 3: Método de Español para Niños. Sociedad Española General de Librerías (2008). • ¡Hola! Español para niños. São Paulo: Santillana Español, 2002. • SALINAS CARVAJAL, Gladis; MARTÍN, Enrique. Español para niños: bienvenidos. São Paulo: FTD, 2000. • GONZALEZ, Elena; HORTELANO, M. Luisa. La pandilla 2: curso de español para niños y niña: libro del alumno + cuaderno de actividades. Madrid: Edelsa, 2004. 6 ESPANHOL PARA FINS ACADÊMICOS As aulas de espanhol concebidas para fins acadêmicos se destinam predominantemente ao público universitário. Trata-se de um trabalho que concentra forças em tarefas de expressão escrita e compreensão auditiva. Para um melhor aproveitamento e uma durabilidade menos exaustiva do curso é recomendável que o estudante já conheça a língua, ainda que em níveis iniciais. De acordo com Vázquez (2005), é recomendado que o estudante se situe entre os níveis B1 e B2 do Marco Comum Europeu de Referência. No entanto, é possível acompanhar o desenvolvimento desde uma etapa inicial, estando os resultados condicionados ao rendimento e ao interesse do alunado pela língua. No Brasil, com o surgimento nos últimos dez anos de programas como o Ciência sem Fronteiras e o PDSE-CAPES, o interesse por esta modalidade de fim específico aumentou consideravelmente. O público interessado geralmente são estudantes de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado) que viajam para estudar em universidades espanholas ou latino-americanas. O grande desafio do professor que se dedica a esta modalidade está em estruturar um plano de estudosque foque exaustivamente na produção textual, congregando elementos como leitura, produção de texto e vocabulário. Nesse sentido, é aconselhável o uso de gêneros textuais e textos acadêmicos da área de interesse do estudante. TÓPICO 2 | ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES 107 Você sabia que existem plataformas voltadas para a publicação de artigos acadêmicos em diversos idiomas? São pesquisadores dos mais diversos lugares do mundo que compartilham seus artigos para o público interessado. As plataformas mais conhecidas são três: Researchgate (www.researchgate.com), Academia.edu (www.academia.edu) e Google Acadêmico (scholar.google.com). Cada uma destas plataformas possui mecanismos de busca refinados e através deles você pode acessar o conteúdo de acordo com o tema que deseja. Para o professor de Espanhol, para fins acadêmicos, o acesso a estas páginas pode constituir um valioso recurso na busca de material para as aulas. NOTA De acordo com Vázquez (2005), é salutar que se estabeleça uma análise de necessidades para que se contemple uma estruturação adequada do curso às necessidades do aluno. Nesse processo, são importantes questões como: - ¿Por qué se ha elegido el curso de EFA? - ¿En que contextos utilizarán la lengua? - ¿Qué se debe aprender además de lo que se sabe? - ¿De qué competencias estratégicas se dispone? - ¿De cuánto tiempo se dispone? - ¿Qué experiencias se han realizado en la propria universidad y en el extranjero? - ¿Qué instrumentos están a disposición? (manuales, apuntes fotocopiados, etcétera) (VÁZQUEZ, 2005, p. 1132). De acordo com a autora, um curso com esta natureza deve tornar o aluno capaz de escutar, participar de uma discussão, expor suas ideias publicamente, ler e escrever. Estas habilidades, para além de uma necessidade específica do EFA, são indispensáveis para o desempenho do acadêmico também em seu país de origem no exercício de sua língua materna. Na maioria das vezes, esta correlação desobriga o professor de trabalhar conteúdos extralinguísticos e normativos (como a explicação da diferença entre determinados tipos de trabalhos acadêmicos, como artigos, dissertações, teses, resenhas etc.). UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 108 DICAS Recomendamos que você assista à exposição: Instituto Cervantes at Harvard (FAS): Taller de enseñanza de lenguas extranjeras, ministrada por José Ignacio Callén Patiño. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GL3j5oUndT4>. Acesso em: 31 out. 2017. 109 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem pelo menos cinco finalidades do espanhol voltadas para motivos específicos (EFE). • A elaboração de planos de aula de espanhol com fins de turismo pressupõe um mapeamento geral sobre quem é o alunado, sobre as características que deve reunir e sobre o público-alvo (em potencial) com o qual se relacionará. • O EFE, para fins comerciais, é uma das possibilidades que exigirá o preparo do aluno para questões como recursos humanos, técnicas de mercado e economia da empresa. • As questões de cunho morfossintático, léxico-semântico e os prefixos e os sufixos latinos são indispensáveis nas aulas de espanhol para fins jurídicos. • O espanhol voltado para crianças possui uma ênfase distinta das outras modalidades do EFE, nesta modalidade é necessária a presença constante de atividades práticas, lúdicas e motivadoras. • O espanhol para fins acadêmicos é uma das formas mais recorrentes de EFE e que existem ferramentas de auxílio indispensáveis ao professor. 110 AUTOATIVIDADE 1 Observe as seguintes assertivas: I - Diferentemente das modalidades Turismo, Comercial e Jurídico, em um curso de espanhol para crianças não devem ser trabalhadas atividades práticas, lúdicas e motivadoras. II - O espanhol para fins jurídicos requer um trabalho adequado no que diz respeito à gramática. III - Um curso de espanhol para fins jurídicos não deve conter atividades de interpretação, pois somente o conhecimento gramatical é importante nessa modalidade. IV - A experiência de professores que se dedicaram a aulas de espanhol para turismo revela que nesta modalidade o aluno não se preocupa muito com os porquês da língua, mas sim com os instrumentos de atuação imediata. V - Quando elaboramos um curso de espanhol para fins específicos (EFE) é importante sabermos que não existem estruturas prontas e aplicáveis a determinado tipo de público, mas sim recomendações baseadas na experiência alheia que podem vir a ser aceitas pelo professor ou não. Agora, marque a alternativa correta: a) ( ) Estão corretas as alternativas I, II, III e IV. b) ( ) Estão corretas as alternativas II, IV e V. c) ( ) Estão corretas as alternativas II, III e V. d) ( ) Estão corretas as alternativas II, IV e III. e) ( ) Estão corretas as alternativas I, II e III. 2 Em relação ao ensino de espanhol para crianças, é correto afirmar que: a) Nesta etapa devem ser trabalhados apenas conteúdos não lúdicos. b) Deve-se desenvolver enfaticamente a competência oral sobre as demais competências. c) Não é possível ensinar uma segunda língua para crianças. d) A competência comunicativa da criança que estuda Espanhol/LE pode ser desenvolvida gradualmente, de forma paralela ao estudo e compreensão da língua materna (correta). e) Não existem graus de motivação possíveis para o ensino de espanhol para crianças. 111 3 Em relação ao ensino de Espanhol com fins comerciais, marque a assertiva correta: a) O espanhol para fins comerciais não habilita o estudante a falar espanhol. b) Os cursos de espanhol com fins comerciais se voltam exclusivamente para questões de matriz financeira (matemática, lógica etc.) c) O conhecimento da língua espanhola não pode ser adquirido através de atividades voltadas para fins específicos. d) É completamente possível estudar aspectos específicos da linguagem comercial concomitantemente ao aprendizado da língua espanhola. e) Não é possível estudar o espanhol com fins comerciais como uma perspectiva complementar ao aprendizado formal. 112 113 TÓPICO 3 O ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Em decorrência de sua posição geográfica e de sua construção cultural, o Brasil é um solo fértil para o ensino de espanhol. Considerado um grande gigante, o país possui mais de 200 milhões de habitantes, conforme estimativas de 2017 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Não foram poucos os momentos históricos em que a língua portuguesa e a língua espanhola estiveram entrelaçadas (tanto na construção sociocultural da língua portuguesa como no contexto latino-americano). Essa relação, refletida em âmbito comercial, imigratório e geocultural, se presentifica no ensino formal e informal da língua espanhola em terras brasileiras. Mudam os tempos, as políticas públicas e também as motivações, mas o interesse pelo idioma de Cervantes – falado por aproximadamente 558 milhões de pessoas no mundo – segue constante no horizonte de aprendizagem dos brasileiros. É bem verdade que o interesse pelo ensino formal de espanhol é significativamente menor se comparado à procura pela língua inglesa. No entanto, os processos que entrelaçam os brasileiros com a língua de Castilha se encontram no DNA sociocultural dos nativos dos estados que compartilham a fronteira com países como Uruguai, Argentina, Paraguay, Bolívia, Peru, Venezuela e Colômbia. FIGURA 49 – ESPANHOL NO BRASIL FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/9/97/Spain-Brazil_Flag.svg>. Acesso em: 12 set. 2017. 114 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) No presente tópico, estudaremos o processo político-cultural de surgimento da língua espanhola no Brasil. Percorreremos um itinerário de questões culturais e de políticas públicas educacionais criadas para a difusão e o ensino formal deste idioma no território nacional.Além disso, também serão abordadas questões mapeadoras do cenário atual, assim como expectativas futuras. Relatos de aprendizagem e problemas de natureza linguística serão importantes para compreendermos os principais problemas encontrados pelos brasileiros na aprendizagem deste idioma. DICAS Sobre os dados relativos ao número de habitantes no Brasil, você pode consultar o documento oficial em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_de_Populacao/ Estimativas_2017/estimativa_dou_2017.pdf>. Relativo ao informe "El Español, una lengua viva", você pode consultar em: <http://www.cervantes.es/imagenes/File/prensa/El%20 espaol%20una%20lengua%20viva.pdf>. 2 O BRASIL E A LÍNGUA ESPANHOLA: UMA RELAÇÃO NADA NOVA Você recorda quando estudamos, na Unidade 1, sobre a constituição das línguas neolatinas? Naquele capítulo descobrimos que o português e o espanhol são línguas originárias da Península Ibérica e que surgiram do latim. Dada aproximação histórico-cultural e geográfica, nos primórdios já conectava indiretamente os falantes de ambas as línguas. Na atualidade, em decorrência da política colonialista de Portugal e Espanha no passado, o Brasil e os demais países da América Latina compartilham o status de vizinhança similar ao já vivido pelos países da Península Ibérica. De acordo com Moreno Fernández (2005), historicamente se pode rastrear a presença do espanhol no Brasil já nas viagens exploratórias de Cristóvão Colombo em suas andanças pela América do Sul. Outros fatores relevantes, como o Tratado de Tordesilhas ou o período em que o Brasil pertenceu à Coroa Espanhola também poderiam ser enunciados. No entanto, de acordo com o autor (p. 17), nada mais foi tão importante quanto "los últimos cien años a causa de la inmigración". No passado, a imigração foi um dos grandes aproximadores de ambos idiomas, considerando a imigração espanhola ocorrida nos séculos XIX e XX. Naquela época, muitas famílias imigraram ao país para trabalhar em plantações de café e em granjas espalhadas pelo Sudeste e Sul. No entanto, séculos depois, há descendentes de espanhóis espalhados por todo o território nacional. De acordo com Moreno Fernández (2005, p. 17-18), duas causas coincidiram para que houvesse este fluxo imigratório naquele tempo: TÓPICO 3 | O ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL 115 El flujo migratório desde España fue consecuencia de las graves crisis económicas padecidas desde mediados del siglo XIX, con especial incidencia en las regiones menos prósperas e industrializadas, como Galicia y Andalucía, hecho que vino a coincidir con la necesidad de sustituir en Brasil la población esclava por una mano de obra barata, principalmente en los cafetales. El destino de la mayor parte de estos inmigrantes fueron los territorios del sur y del sudeste, lo cual, unido a la vecindad de los países hispanos, contribuyó a que el español adquierese una presencia apreciable y a convertirlo, sobre todo en las regiones meridionales, en una lengua cercana y familiar, si bien no necesariamente usada, en todo tipo de relaciones. Se no passado detectou-se um fluxo significativo de hispanofalantes para o Brasil e uma presença marcada na língua espanhola em determinados setores da sociedade, na atualidade a língua se presentifica no território nacional através do interesse de brasileiros pelo idioma (por motivos de globalização, interesses acadêmicos, comércio, viagens e outros) e também pelo contato com pessoas de outros países. De acordo com "Sondagem do Consumidor - Intenção de Viagem", pesquisa ordenada pelo Ministério do Turismo (2017), nunca se viajou tanto pelo Brasil como na atualidade. Ao viajar, seja para outros estados ou para países vizinhos, a chance de encontrarmos algum falante da língua espanhola é altíssima. Você já encontrou algum hispanofalante em viagens? O Brasil é uma rota turística muito buscada por cidadãos de países do Mercosul, sobretudo as regiões Sul, Sudeste e Nordeste. FIGURA 50 – IMIGRANTES DESEMBARCANDO NO PORTO DE SANTOS EM 1907 FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/ b1/Naviodeimigrantes.gif>. Acesso em: 4 set. 2017. 116 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) A TrackageBlog elaborou uma lista com as razões pelas quais os brasileiros viajam cada vez mais na atualidade. Entre as motivações, além da facilidade de deslocamento, de pagamento e de informação, também se encontram plataformas de economia compartilhada que ajudam a entender como estas ferramentas auxiliam em uma viagem. Veja a lista completa em: <https://trackage.com.br/blog/dicas/nunca-viajou-brasil/>. NOTA Além disso, com a acentuação da crise política na Venezuela em 2016 e 2017, milhares de venezuelanos cruzaram a fronteira para o Brasil, buscando oportunidades de trabalho e renda. De acordo com a EBC (2016), o fluxo intenso de venezuelanos em Roraima fez com que o Estado decretasse Emergência em Saúde Pública em dois municípios. De acordo com dados, estima-se que nos últimos dois anos 30 mil pessoas tenham cruzado a fronteira e vindo para Roraima. Os municípios que mais recebem pessoas oriundas da Venezuela são Pacaraima e Boa Vista. São pessoas de classe média de diversas áreas instrucionais e profissões: médicos, engenheiros, contadores e advogados, pedreiros, pintores, bioquímicos, professores e outros. Há um número considerável de espanhóis vivendo em terras brasileiras. De acordo com Moreno Fernández (2005, p. 18), "actualmente el número de españoles censados en los consulados de España en todo Brasil supera la cifra de los 120 000 (fuente: Consulado General de España en São Paulo)". Desse modo, além dos descendentes de imigrantes, da visita de turistas oriundos de países de língua espanhola, da presença de espanhóis nativos e de outros hispanoamericanos em território nacional (como mexicanos, colombianos, venezuelanos, argentinos, uruguaios, bolivianos e outros), há também outras variáveis que confirmam a presença deste idioma no Brasil, entre elas uma das mais consolidadas: o ensino formal de língua espanhola em território nacional. 3 O APRENDIZADO FORMAL DE ESPANHOL NO BRASIL: DOS PRIMÓRDIOS À ATUALIDADE O ensino de espanhol no Brasil não constitui uma novidade, apesar de ter se detectado um aumento significativo na demanda pelo ensino formal desta língua ao longo dos anos 2000, o que resultou na criação de uma lei específica. O ensino formal deste idioma remonta ao final dos anos noventa, quando da publicação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394/1996, que regulamenta o ensino formal de línguas estrangeiras em território nacional. Anteriormente, detectou-se tentativas de implementação da língua nos anos 40, 50 e 70, havendo grande resistência por parte do poder público. Os diversos períodos conturbados pelos quais o país passou ao longo do século XX não foram produtivos para o ensino-aprendizagem formal da língua espanhola. TÓPICO 3 | O ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL 117 Se você cursou o Ensino Fundamental e Médio anterior aos anos 2000, possivelmente não tenha memória de aprendizagem na escola da língua espanhola. Tudo passou a mudar com a LDB nº 9.394/1996, que estabelecia o lugar das línguas estrangeiras nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. A esta altura não se brindava um lugar obrigatório ao espanhol, mas se estabelecia que dever-se-ia ensinar pelo menos uma língua estrangeira moderna "como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição" (art 35 §3). Após a LDB nº 9.394/1996 houve a predominância do ensino da língua inglesa como língua obrigatória. Na prática, o espanhol ocupou o lugar reservado à disciplina optativa. A Lei nº 11.161/2005 surgiu como uma grande conquista para o público interessado no ensino de língua espanhola na escola pública. Através desta lei, implementada no governo do então presidente LuizInácio Lula da Silva, regulamentou-se a oferta de Espanhol em escolas de Ensino Fundamental e Médio, sendo obrigatória a oferta para turmas de Ensino Médio e facultativa a inclusão da língua nos currículos de Ensino Fundamental de 5ª à 8ª série. A implementação dessa lei deveria ocorrer gradativamente até o ano de 2010, prazo dado para que todos os centros educacionais se adequassem: Eu PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º O ensino da língua espanhola, de oferta obrigatória pela escola e de matrícula facultativa para o aluno, será implantado, gradativamente, nos currículos plenos do Ensino Médio. § 1º O processo de implantação deverá estar concluído no prazo de cinco anos, a partir da implantação desta lei. § 2º É facultada a inclusão da língua espanhola nos currículos plenos do Ensino Fundamental de 5a à 8a série. Art. 2º A oferta da língua espanhola pelas redes públicas de ensino deverá ser feita no horário regular de aula dos alunos. Art. 3º Os sistemas públicos de ensino implantarão Centros de Ensino de Língua Estrangeira, cuja programação incluirá, necessariamente, a oferta de língua espanhola. Art. 4º A rede privada poderá tornar disponível esta oferta por meio de diferentes estratégias que incluam desde aulas convencionais no horário normal dos alunos até a matrícula em cursos e Centros de Estudos de Língua Moderna. Art. 5º Os Conselhos Estaduais de Educação e do Distrito Federal emitirão as normas necessárias à execução desta lei, de acordo com as condições e peculiaridades de cada unidade federada. 118 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) Art. 6º A União, no âmbito da política nacional de educação, estimulará e apoiará os sistemas estaduais e do Distrito Federal na execução desta lei. Art. 7º Esta lei entra em vigor na data da sua publicação. Brasília, 5 de agosto de 2005; 184º da Independência e 117º da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11161 htm>. Acesso em: 24 out. 2017. Fato incontestável é que esta disciplina gozou de grande prestígio no âmbito do ensino formal e viveu o seu apogeu entre 2005 e 2015, quando então a Lei nº 11.161/2005 foi revogada pelo presidente Michel Temer através da Lei nº 13.415, de 2017. Esta lei acrescenta à LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996, o artigo 35-A, que desobriga as escolas de Ensino Médio de ensinar espanhol como língua estrangeira, relegando a língua ao caráter optativo que ocupava anteriormente à lei de 2005: "§ 4º Os currículos do Ensino Médio incluirão, obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino" (Lei nº 13.405/2017, art.3, §4). De acordo com a Nova Reforma do Ensino Médio, o inglês passa a ser a única língua obrigatória do 6º ano do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. De acordo com o item 10 da Reforma, o governo explica a razão de entender o inglês como única língua obrigatória e de reimplementar na atualidade um entendimento de ensino de língua estrangeira de 20 anos atrás: E a língua inglesa? Por que foi escolhida como obrigatória? Anteriormente, a LDB não trazia a língua inglesa como estudo obrigatório. A reforma torna o inglês obrigatório desde o 6º ano do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Os sistemas de ensino poderão ofertar outras línguas estrangeiras se assim desejarem, preferencialmente o espanhol. A língua inglesa é a mais disseminada e a mais ensinada no mundo inteiro. Você pode acessar o website oficial do Novo Ensino Médio e acessar um questinário com 29 dúvidas respondidas pelo governo. O endereço é: <http://portal.mec. gov.br/component/content/article?id=40361>. NOTA TÓPICO 3 | O ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL 119 QUADRO 4 – LEIS QUE REGULAMENTAM O ENSINO FORMAL DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL ANO 1996 2005 2017 LEI 9.394/1996 (o espanhol como disciplina optativa) 11.161/2005 (o espanhol como disciplina obrigatória para o Ensino Médio ) 13.405/2017 (anula a lei de 2005 que torna obrigatória e retoma o caráter optativo da lei de 1996) FONTE: O autor 4 OPÇÕES ALTERNATIVAS DE APRENDIZAGEM DA LÍNGUA NO BRASIL Se na atualidade o ensino de língua espanhola na escola ocupa um papel de relevância secundária quando comparada à língua inglesa, nos cursos de idioma ainda se identifica uma oferta razoável. De mais fácil acesso que o alemão, o francês e o italiano, atualmente o espanhol é a segunda língua com mais ofertas de ensino em cursos de idiomas espalhados pelo Brasil. São diversos os cursos, desde os gratuitos até os particulares, e cada qual se configura dentro de propostas metodológicas inspiradas na filosofia da empresa na qual se aprende. Além de cursos, também existe a oferta de cursos universitários no âmbito desse idioma, que proporcionam uma formação completa no preparo do aluno para a atividade docente ou no preparo do aluno para exercer atividades como bacharel (tradutor, revisor, intérprete). São universidades públicas e particulares, muitas delas com profissionais altamente qualificados. Além dessas opções, existem cursos de extensão oferecidos por faculdades e universidades. Geralmente, são cursos que especificam previamente o público para o qual se destinam, podendo ser dirigidos a um público-alvo universitário ou não. Você recorda quando abordamos o EFE - Espanhol para fins específicos? Cursos de extensão com carga-horária de 60 a 120 horas podem ser excelentes oportunidades para se estudar a língua com um fim específico. Com frequência são oferecidos cursos de Espanhol para segmentos como o turismo, o comércio, os negócios, para a escrita acadêmica e outros. Existem alternativas, como o Centro de Estudo de Línguas, que oferece cursos gratuitamente para estudantes de escolas públicas. Infelizmente não são todos os estados brasileiros que oferecem esta alternativa. Tomemos como exemplo o Estado de São Paulo, no website relativo ao curso, os programas apresentam à comunidade as opções de línguas disponibilizadas, assim como informações relativas ao processo de inscrição e ao público-alvo. 120 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) Programa da Educação proporciona ensino de até seis idiomas para alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Oferecer aos alunos matriculados em escolas da rede estadual a oportunidade de aprender novos idiomas é o objetivo do Centro de Estudo de Línguas (CEL). Em todo o Estado de São Paulo, mais de 200 unidades disponibilizam cursos de inglês, espanhol, francês, alemão, italiano e japonês, conforme a demanda de cada região. Além do estudo da língua estrangeira, os estudantes ampliam sua formação cultural, explorando nas aulas os costumes de outros países. A oferta dos cursos atende a uma necessidade do mercado de trabalho, aumentando as chances de inserção profissional para os alunos. O acesso aos cursos é gratuito. Podem se inscrever alunos do Ensino Fundamental, Ensino Médio ou Educação de Jovens e Adultos (EJA). FIGURA 51 – PÁGINA INICIAL DO CENTRO DE ESTUDO DE LÍNGUAS DE SÃO PAULO FONTE: Disponível em: <http://www.educacao.sp.gov.br/centro-estudo-linguas>. Acesso em: 20 out. 2017. 5 PROBLEMA INICIAL DE BRASILEIROS APRENDENDO ESPANHOL Por ser um dos idiomas mais próximos da língua portuguesa - juntamente com o galego e o mirandês -, o espanhol possui muitas palavras e estruturas em comum com o nosso idioma, conforme vimos na Unidade 1. Essa proximidade, que poderia servir como agente facilitador do processo de ensino- aprendizagem, muitas vezes se converte em um grande entrave no aprendizado de espanhol por brasileiros. Alguma vez você já teve dificuldade em pronunciar algumapalavra em espanhol? Um som específico? Uma sucessão de palavras com sons que lhe são estranhos? Ou ao pronunciar uma palavra que não existe por influência do português? Muitas pessoas podem encontrar problemas para repetir, por exemplo, trava-línguas como o famoso "la jarra chica se rajó" ou então outras estruturas mais simples. TÓPICO 3 | O ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL 121 Os problemas de brasileiros falando espanhol podem ser de ordem fonológica e/ou de escolha vocabular, e muitas vezes estes problemas se registram de forma constante na tentativa de aprendizado da língua, se constituindo, não com rara frequência, em grandes entraves que devem ser detectados e trabalhados de forma estratégica. Um dos problemas iniciais que mais se apresentam são os falsos cognatos (palavras do português idênticas ou muito parecidas com as que existem em espanhol, mas que possuem significados completamente distintos). Também chamamos estas palavras de "falsos amigos" no âmbito de sala de aula. FIGURA 52 – DÚVIDAS INICIAIS E ERROS ROTINEIROS AO FALAR ESPANHOL FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-687560/?no_ redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. Observe uma lista básica de falsos cognatos: Palavra Tradução Vaso Copo Copa Taça Crianza Criação Acordar Lembrar Balcón Sacada Brinco Pulo Cana Cabelo branco Asignatura Matéria/disciplina Alejado Longe/distante Acreditar Creditar Asistir Frequentar Cajón Gaveta Cancelar Pagar Cigarro Charuto Concierto Show Contestar Responder Ano Ânus Acera Calçada Apellido Sobrenome Rojo Vermelho Sobrenombre Codinome/Apelido Diseño Projeto 122 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) Embarazo Gravidez Corvo Curvo Experto Especialista Fecha Data Gracioso Engraçado Guitarra Violão Novela Romance [livro] Jamón Presunto Hoy Hoje Pasta Macarrão Pastel Bolo Padre Pai Pelo Cabelo Polvo Pó Pluma Caneta Estas palavras, muitas delas idênticas às palavras do português, com frequência confundem não somente os estudantes que estão começando a aprender o idioma, mas também pessoas que já detêm um nível básico. Fato incontestável é que a interferência linguística e equívocos de natureza vocabular são muito frequentes em falantes do português. Não são poucos os estudos acadêmicos que mostram um padrão repetitivo de interferências nas mais distintas situações comunicativas. Equívocos desta natureza são considerados comuns, dada a proximidade entre ambas línguas. Nestes casos, somente o estudo constante do idioma e o avanço, através de atividades de leitura, compreensão auditiva e dialógica é que o estudante poderá deixar de ver os falsos cognatos como armadilhas e passar a empregá-los com a acepção correta em língua espanhola. DICAS Recomendamos que você assista à palestra "Cómo aprender una lengua y contribuir a la sociedad | Luis von Ahn" disponbilizada pelo projeto TED en Español em: <https://www.youtube.com/watch?v=lt7yZB92McM>. Acesso em: 31 out. 2017. Tapas Petisco Sítio Lugar Taller Oficina, Atelier Oficina Escritório Latir Bater [coração] Largo Comprido Garrafa Jarro Débil Fraco Cola Fila Cerca Perto Cena Janta Beca Bolsa de estudos Almohada Travesseiro Aceitar Lubrificar 123 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O surgimento da língua espanhola no Brasil respeitou um processo sociocultural. • Existem razões diversas que mantêm a língua presente em praticamente todo o território nacional, como a imigração venezuelana, a cultura dos estados de fronteira com países hispanofalantes, as viagens de lazer e a presença significativa de espanhóis e de políticas do governo da Espanha. • Há um histórico de implementação do ensino formal da língua espanhola no Brasil. • Existe a LDB nº 9.394/1996, que relega à língua espanhola um caráter secundário em escolas. • A Lei nº 11.161/2005 regulamentou o ensino de Espanhol em escolas de Ensino Fundamental e Médio. • A Lei nº 13.415/2017 desobrigou o ensino da língua espanhola em escolas públicas ao revogar completamente a Lei nº 11.161/2005. • Existem opções alternativas de aprendizagem do espanhol no Brasil, sendo estas: os cursos de idiomas, as universidades, as faculdades e os Centros de Estudo de Línguas, estes últimos disponíveis gratuitamente em determinados estados da nação. • Os falsos cognatos constituem um problema recorrente para quem está começando a aprender a língua. 124 1 Observe as assertivas a seguir: I - A imigração espanhola ocorrida nos séculos XIX e XX possibilitou uma presença marcante da língua espanhola no Brasil. II - Através da Lei nº 11.161/2005 regulamentou-se a oferta de Espanhol em escolas de Ensino Fundamental e Médio, sendo obrigatória a oferta para turmas de Ensino Médio e facultativa a inclusão da língua nos currículos de Ensino Fundamental de 5ª à 8ª série. III - A LDB nº 9.394/1996 tornou obrigatório o ensino de espanhol em escolas públicas. IV - A Nova Reforma do Ensino Médio de 2017 tornou obrigatório somente o ensino de língua inglesa nas escolas. Agora, responda a alternativa correta: a) ( ) Todas as assertivas estão corretas. b) ( ) Somente a V está correta. c) ( ) Somente a I está incorreta. d) ( ) I, III e V estão corretas. e) ( ) I, II e IV estão corretas. 2 Identifique o bloco de palavras que não constituem falsos cognatos: a) Jamón, Hoy, Pasta, Pastel, Padre, Pelo, Polvo, Pluma, Tapas, Sítio, Taller, Oficina, Latir. b) Vaso, Copa, Crianza, Acordar, Balcón, Brinco, Largo, Garrafa, Débil, Cola, Cerca, Cena, Beca, Almohada, Aceitar. c) Guitarra, Novela, Jamón, Hoy, Pasta, Pastel, Padre, Pelo, Crianza, Acordar, Balcón, Brinco, Taller, Oficina, Latir. d) Casa, Barco, Nombre, Azul, Comida, Regla, Luz, Bonito, Llegar, Rostro, Nombre, Bello, Oscuro, Limpio, Besar. e) Borracha, Borrar, Botiquin, Brega, Brinco, Cachorros, Cachear, Cadera, Cena, Cola, Chico, Chocho, Chulo, Cinta. AUTOATIVIDADE 125 TÓPICO 4 O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL VISTO DE DENTRO: PERSPECTIVA DOCENTE E NOÇÃO DE ERRO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Ao aprendermos uma língua estrangeira é muito comum que durante o processo de aprendizagem enfrentemos problemas. Tratam-se de problemas frequentes que podem ser de ordem variada, passando por equívocos de ordem semântica, como os falsos cognatos, conforme vimos no tópico anterior, até chegar nas estruturas linguísticas mais complexas. A interferência linguística é um dos principais problemas que se apresentam na rotina de ensino e aprendizagem de professores e alunos brasileiros. Com frequência, conectivos, preposições, artigos e verbos se convertem em verdadeiros entraves, registrando-se como repetições constantes que com frequência geram transtornos no falante e até mesmo desânimo. FIGURA 53 – O ERRO FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-2681508/?no_ redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. Neste tópico, vamos conhecer os principais problemas encontrados em sala de aula. O diferencial é que recorreremos aos relatos apresentados por professores de Espanhol que vivenciam diariamente em sala de aula o processo de ensinar espanhol como língua estrangeira para brasileiros. São problemas de ordem diversa que nos ajudarão a compreender os problemas em potencial que nos esperam em sala de aula. 126 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 2 A NOÇÃO DE ERRO EM LINGUÍSTICA APLICADA Conforme já sinalizado anteriormente, a proximidade do português com o espanhol pode ser uma via bastante perigosa que condiciona o falante em direção ao erro. Quantas vezes você, estudante de Letras, já percebeu estar cometendo um erro ao falar espanhol? Ao começarmos a aprender uma língua estrangeira, muitas vezes não temos ideia dos diversos desafios que se farão presentes ao longo da trajetória. Nesse sentido, cabe salientar a inegável importância da Linguística Aplicada, disciplina que nos auxilia a compreender a origem de determinados errose nos ajuda a pensar em estratégias que podemos empregar para obter um melhor aproveitamento nesta caminhada. Quando dominamos o conhecimento produzido nesta área do saber, estamos aptos para nos ajudar e também aos nossos futuros estudantes. O que a Linguística Aplicada entende por erro, afinal? Os erros mais recorrentes possuem origem etiológica (ocorrem por causa de alguma coisa) ou linguística (adição, supressão e invenção de palavras ou morfemas que não existem). Nos baseamos nas observações de Barbieri Durão (2005) para compreender estes dois tipos de fenômenos. Os erros de matriz etiológica, de acordo com a perspectiva de Richards (1973), podem ocorrer por causa de interferência ou por motivos interlinguísticos, sendo estes erros: • de interferencia: cuando reflejan el uso de elementos de la LM en la LE; • intralinguisticos o intralinguales: cuando reflejan problemas de aprendizaje de reglas de la propria LE. De acuerdo con Yoneyama y Sano (apud Ueda, 1994: 159-160), los errores intralinguisticos pueden ser: • de simplificación: error que se debe a la no utilización de reglas gramaticales; • de generalización: error que se debe a la aplicación de reglas en casos de excepción; • inducido: error que surge cuando el estudiante se equivoca por partir de una orientación equivocada o parcial ofrecida por el profesor o por el manual de texto; • de producción excesiva: error que consiste en la recurrencia de una determinada forma o expresión en un mismo contexto (RICHARDS, 1973 apud BARBIERI DURÃO, 2005, p. 133). Já os erros de aspectos linguísticos, de acordo com Vázquez (1998 apud BARBIERI DURÃO, 2005) podem se dar devido à adição (quando se acrescentam fonemas ou palavras redundantes ou inadequadas ao contexto), por omissão (quando se suprime morfemas ou palavras imprescindíveis), por falsa colocação (quando se colocam os constituintes da frase em uma ordem sintagmática incorreta), por justaposição (quando se unem duas frases ou dois termos léxicos sem ter em conta os nexos exigidos pela sintaxe) e por falsa seleção (quando se escolhem palavras ou morfemas incorretos em um determinado contexto). São erros recorrentes e alguns deles podem ser detectados com maior frequência em um determinado grupo que outros. TÓPICO 4 | O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL VISTO DE DENTRO: PERSPECTIVA DOCENTE E NOÇÃO DE ERRO 127 FIGURA 54 – OS ERROS E AS DÚVIDAS AO FALAR FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-605592/?no_ redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. Caderno e Fuentes (1998) apresentam exemplos significativos para cada um dos tipos de erros linguísticos mencionados por Barbieri Durão. Observe que os erros de adição acontecem quando o falante acrescenta unidades onde não tem. Estes erros de adição podem acontecer por uso de preposições a/de em frases de infinitivo "Es proibido de fumar" / "intentan a recuperar" e também pelo uso redundante do artigo indeterminado "una otra cosa un otro problema". Os erros por omissão simplesmente ocultam unidades que deveriam estar presentes na construção frasal, mas não estão. O símbolo "*" identifica o lugar vazio onde o falante não acrescentou o artigo obrigatório precedente ao substantivo: "el fin * noche" / "* mujeres tienen muchos problemas" / "porque * dinero no es todo en la vida". Já os erros por concordância, gênero e número são os que confundem estas três categorias de forma aleatória: "los pantalones corta" / "la coche". A inadequação semântica ocorre sempre e quando o falante utilizar uma palavra de uma forma inadequada. A construção existe gramaticalmente, mas não é usada pelos falantes da língua, como os casos de "Los políticos *hablan* que las pensiones son estables". Você recorda quando estudamos Saussure na Unidade 1 e mencionamos que em uma frase as combinações não são aleatórias e que não podem transgredir o sistema da língua? Construções como "Mulher A é bonita" constituiriam transgressões ao sistema estabelecido? Quando falamos em erro por colocação falsa nos referimos a contruções dessa natureza: são construções que invertem a posição do verbo com o artigo, do sujeito com o verbo, e assim por diante. Observe o exemplo que as pesquisadoras Caderno e Fuentes (1998) apresentam: "Y finalmente *tengo no dinero", neste caso o falante realizou a inversão do verbo "tengo" com o advérbio de negação "não". 128 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 3 A INTERFERÊNCIA LINGUÍSTICA RELATADA POR PROFESSORES DE ALUNOS BRASILEIROS Um dos principais problemas detectados por professores que ensinam espanhol para brasileiros é o emprego de artigos definidos antes de pronomes. O indivíduo que conhece o básico da língua espanhola sabe que não se utiliza artigo definido (El, La) antes de nome próprio. De acordo com Barbieri Durão (2005), trata-se de um pressuposto, visto que se entende que os nomes próprios de pessoas estão objetivamente claros por si próprios, não necessitando ser especificados pelo uso do artigo definido. No entanto, na linguagem informal – na língua falada no dia a dia – o artigo definido somente é utilizado antes do nome próprio quando o falante nutre profundo desprezo pelo indivíduo ao qual está se referindo: "Anteceder nombres proprios del género masculino de artículo definido, además de infrigir una regla gramatical, supone desprecio hacia la persona, una vez que ese uso es normal con los apodos (el manco, el cabezón etc.)" (BARBIERI DURÃO, 2005, p.135). Sem saber disso, com frequência estudantes brasileiros acrescentam o artigo definido antes do nome próprio, o que configura um erro motivado por interferência linguística. La Marcela trabaja toda la noche El Pablo conoció mi família ayer. Erros dessa natureza constituem erros de interferência. A professora Barbieri Durão (2005) aponta que estes erros acontecem porque estruturas similares são usuais na língua portuguesa e não constituem um erro. É como se o cérebro do falante entendesse que as regras que valem para a língua portuguesa também podem ser aplicadas na língua espanhola. Você concorda que este erro acontece, principalmente, porque ambas as línguas disfrutam de um status de similaridade bastante notável? FIGURA 55 – “EL ERROR” – CAUSAS ETIOLÓGICAS E LINGUÍSTICAS FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p- 159320/?no_redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. Imagine uma conversa em que os falantes utilizam muitos falsos cognatos juntamente com erros etiológicos de interferência linguística, como no caso exemplificado em que alguém afirma que "La Marcela trabaja toda la noche". Seria um caso típico de prática do "Portunhol". Você já ouviu falar no “Portunhol”? TÓPICO 4 | O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL VISTO DE DENTRO: PERSPECTIVA DOCENTE E NOÇÃO DE ERRO 129 Popularmente, diz-se que alguém fala “portunhol” quando um falante mistura ambas as línguas ao tentar falar espanhol ou português. É um fenômeno bastante comum, do qual aspira fugir qualquer estudante que se proponha a estudar a sério o idioma. Os problemas de interferências são numerosamente notáveis. Barbieri Durão (2005) menciona ainda os casos em que o falante acrescenta o artigo definido antes do nome geográfico: En Español, los nombres geográficos, por regla general, no llevan artículo, a no ser que: 1. integre ese nombre, como por ejemplo en La Coruña, La Hababa, El Tajo (el río Tajo), El Manzanares (el río Manzanares), el Amazonas (el río Amazonas), Los Pirineos (los montes Pirineos) etc. Sin embargo, en la IL de brasileños es muy frecuente construcciones en las que el artículo aparece ante nombres de países y ciudades, como en: Ej.: La España es un país muy interesante. -> España es un país muy interesante. Este caso, assim como o anterior, também é um caso de interferência linguística, já que em português esta estrutura seria completamente correta: "A Espanha é um país muito interessante". Outro caso de interferência destacada pelo professor é o uso de artigo antesde possessivos, como no exemplo que dá: "La mi casa es grande". Juliana Moysés, estudante de Letras da USP, analisou os erros mais comuns cometidos por falantes do português brasileiro em curso de graduação. Em seu trabalho de conclusão de curso, Moysés (2014) relata que percebeu uma infinitude de problemas ligados a sinais de pontuação. Com frequência, estudantes suprimiam o ponto de exclamação ou interrogação que deve aparecer no início de frases. Um dos casos relatados é o exemplo "Ojalá tu madre le aconcejes bien!" (MOYSÉS, 2014, p. 19), quando o correto deveria ser "¡Ojalá tu madre te aconseje bien!". Além da supressão, também se detectou o emprego incorreto do sinal interrogativo, como em "¿Patrícia, cómo fue la experiencia del intercambio?" (o correto neste caso seria "Patrícia, ¿cómo fue la experiencia del intercambio?"). Moysés relata que também são rotineiros problemas de acentuação ("jovenes", "pajaros" no lugar da forma correta "jóvenes", "pájaros"), separação e união de palavras ("Talvez" por "tal vez"), confusão com fonemas ("Me pedió" por "Me pidió") e confusão de grafema por um mesmo fonema (como em "¿Quales eran los estilos musicales más frecuentes en Cordoba?" no lugar de "¿Cuáles eran los estilos musicales más frecuentes en Córdoba?"). 130 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) DICAS Recomendamos que você leia o artigo "La interferencia como causa de errores de brasileños aprendices de español", de autoria de Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão. BARBIERI DURÃO. Adja B. A. La interferencia como causa de errores de brasileños aprendices de español. In: SEDYCIAS. João. O ensino de espanhol no Brasil: passado, presente, futuro. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. 4 DETECTADO O ERRO, COMO CORRIGIR O ALUNO? Uma vez detectado(s) o(s) problema(s), o professor observa as diversas possibilidades que possui de permitir o progresso do aluno e a eliminação do erro. Neste momento, é preciso ter uma consciência pedagógica, visto que atitudes irrefletidas por parte do docente podem gerar bloqueios no aluno e entraves em seu aprendizado. A motivação em prol do aproveitamento máximo do aluno deve ser, sobretudo, a força motriz que conecta o docente ao discente. Tendo em vista a delicadeza do tema ligado ao aspecto da correção, Caderno e Fuentes (1998, p. 5) apresentam possibilidades que visam o melhor aproveitamento do estudante, de modo que a correção de erros seja "presentada al alumno como método de aprendizaje que proporciona una segunda oportunidad de aprender una materia dada o de fijar un mecanismo". A primeira forma de correção de erros orais, de acordo com as autoras, deve ser a correção imediata: La corrección inmediata de los errores orales supone la interrupción del acto de habla e implica la repetición instantánea de la forma correcta dada por el profesor. Es el método elegido mayoritariamente por los estudiantes de niveles medios y bajos como el más efectivo. Proporciona al alumno consciencia inmediata de sus fallos. En caso de que no se llevara a cabo esta corrección, el alumno va a repetir el error cometido porque no sabe que es incorrecto. No hay explicación del fallo y se corre el riesgo de no asimilación por parte del alumno. El estudiante aplica la corrección al ejemplo concreto pero lo Cada tipo de erro de interferência pode ser justificado de acordo com o uso na língua materna (LM) do falante. Como já afirmamos em uma etapa anterior, estes erros acontecem porque, ao falar a língua estrangeira, o falante utiliza as estruturas de sua própria língua materna. E o professor, como reage em meio a isso tudo? Qual o método mais adequado para corrigir o aluno sem gerar bloqueio? Observe o tópico seguinte. TÓPICO 4 | O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL VISTO DE DENTRO: PERSPECTIVA DOCENTE E NOÇÃO DE ERRO 131 más probable es que repita el error en posteriores ocasiones. Si la corrección es sistemática dificulta la comunicación y la expresión completa de las ideas y puede llegar a crear en el alumno un "miedo al error" que limite su participación activa y reduzca su competencia (CADERNO; FUENTES, 1998, p. 5). As autoras agregam que a forma mais aceita entre professores de E/LE de melhorar este método é a realização de uma compilação dos erros cometidos ao longo da exposição oral do aluno e propor ao estudante ou ao grupo de alunos uma revisão, que pode ser conduzida pelo professor, que pode ser orientada de uns alunos a outros, ou simplesmente feita com o auxílio de uma gramática ou de um dicionário. FIGURA 56 – O PROFESSOR DE E/LE E O MÉTODO TRADICIONAL DE CORREÇÃO FONTE: O autor Acrescenta-se, ainda, à proposta de ambas professoras, a questão do tom: o professor deve corrigir o estudante da forma mais profissional possível, evitando afirmações dúbias ou outras colocações que não orientem o alunado ao entendimento do propósito único de que a correção é um recurso utilizado para o bem do grupo e jamais como forma de exposição ou ridicularização dos estudantes. A intervenção feita dessa forma se aplica, de acordo com as autoras, de forma mais efetiva aos alunos que estão começando a aprender o idioma. A correção em níveis avançados pode se dar de modo a posteriori: em momentos posteriores à aula. 132 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) FIGURA 57 – O ERRO DO ALUNO E A ABORDAGEM DOCENTE FONTE: Disponível em: <https:c1 staticflickrcom/9/8023/765 82 98768_e4c2c2635e_b.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. Já a correção de textos escritos se dá através da via tradicional, na qual o professor indica textualmente o local onde o estudante cometeu o erro. De acordo com Caderno e Fuentes (2008, p. 6), também é indicado que se criem sinais para que o aluno entenda a natureza de um erro, conforme explicam: "La propuesta básica para la corrección del error escrito, entonces, es la creación de una clave en la que indiquemos, por medio de signos convencionales y colores, la clase de error cometido por el alumno: semántico, morfológico, sintáctico o cualquier otra categoría cuya consideración sea pertinente para nuestro método de evaluación”. As autoras defendem, também, que a correção seja entendida como uma terapia de erros e jamais como um método punitivo. Não se corrige para culpar ou sinalizar incapacidades, não se corrige por não gostar do aluno ou por qualquer outra razão que não a objetivação do avanço do estudante: Si el alumno percibe la corrección como un método de aprendizaje, probablemente la corrección, sea cual sea el método escogido, será efectiva, pero si el estudiante la percibe como un castigo a sus faltas el resultado será el contrario del deseado, ya que habremos creado un "miedo al error" que conducirá a la aplicación de los ya señalados mecanismos de omisión y simplificación, en detrimento de la calidad de la producción, e incluso a largo plazo la reducción de intervenciones del estudiante en el aula y en casos graves el abandono del aprendizaje. Es fundamental que el alumno cuente con una motivación al enfrentarse a la lengua que le lleve a un "propósito de enmienda" ante sus faltas. El profesor trabajará entonces como apoyo a la hora de solventar los problemas que presente al alumno la corrección de los errores, pero no se verá obligado a actuar como "policía". En caso de que el estudiante carezca de esta motivación la labor del docente se verá dificultada y en algunos casos resultará inútil (CADERNO; FUENTES, 2008, p. 7). Por fim, a missão-última do professor é conduzir o aluno ao processo de autocorreção, de modo que ele mesmo seja capaz de detectar os próprios erros. Nesse sentido, são recomendáveis alternativas criativas no processo de correção. Caderno e Fuentes (2008) sugerem cinco possibilidades de criativa correção: TÓPICO 4 | O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL VISTO DE DENTRO: PERSPECTIVA DOCENTE E NOÇÃO DE ERRO 133 FIGURA 58 – POSSIBILIDADES DE CRIATIVA CORREÇÃO FONTE: Adaptadode Caderno e Fuentes (2008, p. 6-9) Cabe sinalizar que as formas de corrigir serão estabelecidas, em última instância, pelo professor quando este já conhecer o grupo com o qual está trabalhando. As sugestões apresentadas nesta unidade tratam-se de experimentos trazidos à comunidade científica graças à colaboração generosa de professores em sala de aula. São acertos e erros alheios que possibilitam que geremos nossas próprias metodologias de correção, adequando, sempre que necessário, nossos objetivos enquanto professores ao público-alvo com o qual estamos lidando. DICAS Recomendamos que você leia o artigo “El Error y su correción”, de Sonia Espiñeira Caderno e Laura Caneda Fuentes. Através deste valioso texto você poderá conhecer detalhadamente cada uma das abordagens mencionadas neste tópico. Acesse o enlace diretamente no website do Instituto Cervantes: <https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ ele/asele/pdf/09/09_0476.pdf>. Acesso em: 25 out. 2017. Assista também ao documentário: “Maestros: El lado positivo de modificar al otro desde el error”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3rwLqkWDxpI>. Acesso em: 31 out. 2017. 134 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • A noção de erro é importante no estudo da Linguística Aplicada. • Os erros podem ocorrer por razões etiológicas ou linguísticas. • Os erros de matriz etiológica podem ocorrer por causa de interferência ou por motivos intralinguísticos. • São de ordem diversa os tipos de erros relatados por professores de alunos brasileiros. • Professores de E/LE já testaram diversas perspectivas de correção de erros. 135 1 Com base no estudo deste tópico, marque a alternativa incorreta: a) As formas de correção, como o prêmio ao não erro, a apresentação dos erros privisíveis, os painéis, a correção com o humor e a gramática de erros constituem estratégias alternativas ao modo tradicional. b) Para um melhor aproveitamento didático, o professor deve corrigir o aluno com afirmações dúbias ou outras colocações que orientem o alunado ao entendimento do propósito único de que a correção é um recurso utilizado para o bem do grupo e jamais como forma de exposição ou ridicularização dos estudantes. c) Cada tipo de erro de interferência linguística pode ser justificado de acordo com o uso na língua materna (LM) do falante. d) O acréscimo de artigo definido antes de nome próprio em espanhol é um exemplo cabal de interferência linguística do português. e) A inadequação semântica ocorre sempre e quando o falante utilizar uma palavra de uma forma inadequada. 2 Observe o seguinte caso hipotético: Na primeira semana de aula de um curso de Espanhol básico, um estudante pronunciou a construção linguística "Lo homem que trabaja mucho non puede ganar diñeiro". Na condição de professor, como você corrigiria este aluno e qual explicação lhe daria ao pontualizar o erro? Escreva uma reflexão de 5 a 10 linhas justificando sua resposta. Não há uma resposta correta. Oriente sua resposta de acordo com o conteúdo da presente unidade. AUTOATIVIDADE 1 2 3 4 5 6 7 8 136 3 Identifique o erro de pontuação: a) ¿Quién le ha llamado? b) ¡Buenos días, Julia! ¿Cómo estás? c) ¿Te gusta ir al cine? d) ¿Gabriel, sacaste el dinero de ayer? e) ¿Tienes alguna duda? 137 TÓPICO 5 ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Nos tópicos anteriores, você conheceu diversos pontos importantes em Linguística Aplicada, como os conceitos que são relevantes para esta disciplina, as perspectivas possíveis de ensino da língua espanhola e as finalidades mais recorrentes no ensino de Espanhol. Além disso, também observou relatos de experiências de professores brasileiros e a sucessão de problemas com os quais os docentes se deparam em sala de aula. Neste processo de construção você foi apresentado à noção de erro em Linguística Aplicada e entendeu como funciona parte das interferências mais recorrentes, assim como as possibilidades de correção didaticamente aceitáveis. No Tópico 5, você conhecerá a base teórica que subsidia grande parte das percepções de erro vistas nos tópicos anteriores. Conforme você deve ter percebido, a Linguística Aplicada ao ensino de línguas é uma disciplina que se constrói através da experiência interativa cotidiana. A observação e a detecção de problemas ocorrem graças a uma base teórica empiricamente possível. É o caso de aparatos teóricos como a Interlíngua e a Análise de Erros. São acepções propostas por estudiosos do tema e baseadas em processos detectados na esfera de atuação dos sujeitos falantes. Conforme avançarmos, você perceberá que quando compreendemos o desenvolvimento do aprendiz desde uma perspectiva científica, menos hermético (difícil) se tornará o trabalho do professor que se dedica a sanar problemas desta natureza em sala de aula. No presente tópico, vamos conhecerem melhor cada uma das abordagens teóricas que são importantes para a Linguística Aplicada. 2 A INTERLÍNGUA COMO CAMINHO PERCORRIDO PELO FALANTE NÃO NATIVO A Interlíngua é um conceito proposto pelo linguista Larry Selinker em 1972. De acordo com o Diccionário de Español como Lengua Extranjera On-line, do Instituto Cervantes, entende-se por Interlíngua o "sistema lingüístico del estudiante de una segunda lengua o lengua extranjera en cada uno de los estadios sucesivos de adquisición por los que pasa en su proceso de aprendizaje". O prefixo "inter" expressa a ideia de passagem de uma língua a outra. Kim Griffin (2005) 138 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) afirma que a palavra "interlengua" é bastante adequada, visto que ela transparece que o aprendiz da língua 2 "entra en un território en el cual está entre lenguas, ni totalmente en una ni totalmente en otra" (GRIFIN, 2005, p. 91). Este caminho de transição entre uma língua e outra constitui justamente as etapas pelas quais passa o falante que está aprendendo o idioma. FIGURA 59 – LARRY SELINKER FONTE: Disponível em: <https://lsa.umich.edu/linguistics/ people/faculty/professors-emeriti/lselinke/_jcr_content/ profileImage.transform/profile_portrait/image.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. É justamente nesta "fronteira" que aparece grande parte dos erros de matriz etiológica ou linguística. Imagine que um falante do português de 30 anos muda-se para um país de língua espanhola e precisa aprender o idioma a partir do nível básico. A Interlíngua constituirá a ligação entre a percepção do idioma estrangeiro, a associação com os conhecimentos prévios do falante e as hipóteses entre o significado. Griffin (2005, p. 91) detalha como este processo se dá: La tesis central alrededor de la cual gira el proceso es que para progresar en la adquisición de lenguas, el individuo percibe lengua (em principio incompreensible) de su entorno, lo asocia con sus conocimientos (la estructura cognitiva), y genera hipotesis sobre los significados y usos. Después, ensaya estas hipótesis de manera activa (usando la lengua) o pasiva (observando cómo se usa la lengua) y según su retroalimentación (compreensión o incompreensión) producida por los ensayos, acepta o rechaza las hipótesis. En el caso de aceptarla, pasa a formar parte de sus conocimientos; en caso de rechazarla, vuelve atrás y empieza el mismo proceso de nuevo. Claro está que todo este proceso se lleva a cabo, por lo menos al principio, sin que el aprendiz se dé cuenta. TÓPICO 5 | ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS 139 FIGURA 60 – A INTERLÍNGUA FONTE: O autor Nos domínios da Interlíngua existem estratégias que os aprendizes empregam para atingir a língua objeto. Selinker aponta cinco estratégias. A primeira delas é a transferência. De acordo com Griffin (2005), uma das estratégias mais comuns utilizadas pelos falantes é a tradução literal: "se toman prestadas palabras, estructuras, fragmentos de discursos, fraseso cualquier otro aspecto linguistico que los puede ayudar a generar hipótesis" (GRIFFIN, 2005, p. 92). Além da transferência há também a sobregeneralização de regras. Neste caso específico, o falante aplica as regras de uma língua em outra. Trata-se de um erro de natureza intralinguística (recorde-se do tópico anterior), no qual o falante universaliza as regras de sua língua materna e aplica-as ao falar a língua segunda. A transferência de instrução ocorre quando o falante já possui uma explicação formal das regras da língua (aula) e ainda assim emprega a estrutura de sua língua materna. Por fim, as duas últimas categorias são as estratégias de aprendizagem e as estratégias de comunicação. Você recorda quando abordamos as perspectivas de ensino de língua estrangeira? Se não lembra, releia o Tópico 1 da presente unidade: "A abordagem interdisciplinar no processo ensino-aprendizagem do Espanhol como LE e suas diferentes perspectivas". Algumas das perspectivas apresentadas constituíam-se basicamente em estratégias empregadas pelo próprio falante (como a perspectiva metacognitiva). Às estratégias de natureza cognitiva e metacognitiva se refere Selinker (1972). Griffin (2005) sinaliza que as estratégias de aprendizagem empregadas pelo falante na Interlíngua podem se dar de variadas formas: Progresar en la interlengua requiere aprendizaje de muchos tipos. Si miramos los ocho tipos de aprendizaje que identificó Gagné (1965), vemos que hacen falta todos para aprender una seguna lengua: a) respuestas a señales b) respuestas a estímulos c) cadena de respuestas a estímulos d) asociaciones verbales e) discriminación múltiple f) aprendizaje de conceptos g) aprendizaje de princípios g) resolución de problemas El aprendiz desarrolla estas estrategias para poder procesar el "imput" almacenándolo en la memoria para recuperarlo en el momento oportuno para hacerse entender en situaciones comunicativas (GRIFFIN, 2005, p. 92). Língua Materna (LM) Interlíngua Língua Estrangeira (LE) 140 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) FIGURA 61 – A INTERAÇÃO COM O FALANTE NATIVO COMO VIA DE PROGRESSO NA INTERLÍNGUA FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-97976/?no_redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. Se as estratégias de aprendizagem dão conta da relação do falante aprendiz com a língua que deseja aprender, as estratégias de comunicação constituem a prática: é o momento em que o falante apresenta estratégias para se comunicar com o outro. Estas estratégias acontecem para que o falante possa entrar em comunicação com outros falantes, manter a comunicação, resolver os problemas de comunicação e sair da comunicação. Griffin (2005, p. 93) afirma que as estratégias podem ser "conscientes o semi-conscientes y siempre funcionan para resolver problemas que surgen cuando no se transmiten bien los mensajes". A Interlíngua é uma espécie de "sistema linguístico aproximativo", uma espécie de "gramática mental que el aprendiz de una lengua va construyendo en el proceso de adquisición de la misma" (ROSA TORRAS, 1994, p. 49). Em algum momento você já pensou como uma criança começa a falar sua própria língua materna? Existem diversas proposições que tentam dar conta desse processo e a mais relevante no contexto da Interlíngua é a hypothesis-testing (testando a hipótese). De acordo com Rosa Torras (1994), para esta teoria a criança gradualmente forma hipóteses relativas às transformações necessárias para transformar o conhecimento inato que tem dos princípios gramaticais universais (os que estão presentes em todas as línguas), nas formas superficiais próprias da língua que está aprendendo. A autora afirma que "este proceso conlleva la formulación, verificación y modificación de hipótesis hasta llegar a adquirir el modelo linguístico del adulto" (ROSA TORRAS, 1994, p. 50). São as notáveis inadequações que as crianças cometem ao se expressar em sua língua materna e as abandonam ao longo do tempo, quando se dão conta de que essas construções não são usadas pelos outros falantes (por isso são hipóteses-testes - a criança articula livremente, como em um jogo). TÓPICO 5 | ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS 141 FIGURA 62 – A PERCEPÇÃO E O USO DA LÍNGUA ATRAVÉS DE HIPÓTESES FONTE: Disponível em: <https://static.pexels.com/photos/272786/ pexels-photo-272786.jpeg>. Acesso em: 20 out. 2017. O falante aprendiz de uma língua estrangeira opera de forma similar. De acordo com esta hipótese, de modo igual à criança, o falante também pode formular "de forma consciente o inconsciente, hipótesis sobre las reglas de la L2 con el fin de confirmarlas o abandonarlas y, en este último caso, sustituirlas por hipótesis nuevas" (ROSA TORRAS, 1994, p. 50). O parâmetro central sempre será a relação que este falante-aprendiz estabelece com os falantes nativos ou mais experientes que ele. Semino Lopez (2007) afirma que a Interlíngua constitui uma etapa obrigatória de aprendizagem e que se definiria como um sistema linguístico interiorizado, "que evoluciona tornándose cada vez más complejo y sobre el cual el aprendiz posee intuiciones; sistema que es tanto diferente de la lengua materna como de la lengua meta y que no puede ser considerado na mezcla de ambas, ya que posee reglas que le son proprias" (SEMINO LOPEZ, 2007, p. 45). De acordo com o Instituto Cervantes (s.d., s.p.), a Interlíngua se caracteriza pelos seguintes aspectos: • Ser un sistema individual, propio de cada aprendiente • Mediar entre el sistema de la lengua materna y el de la lengua meta del alumno • Ser autónomo, regirse por sus propias reglas • Ser sistemático y, a su vez, variable; sistemático, por cuanto posee un conjunto coherente de reglas; y variable, por cuanto esas reglas no son constantes en algunos fenómenos • Ser permeable al aducto, y, por tanto, capaz de experimentar sucesivas reestructuraciones para dar paso al siguiente estadio • Estar en constante evolución, puesto que está constituido por etapas sucesivas de aproximación a la lengua meta. Como você pode perceber, a evolução é a palavra-chave que caracteriza a Interlíngua. A Interlíngua consiste em "moverse de un monolingüismo a un multilingüismo atravesando etapas en las cuales el aprendiz incorpora nuevos conocimientos mediante un proceso de hacer y confirmar hipótesis al mismo tiempo que analiza la información percibida (GRIFFIN, 2005, p. 101). O falante percorre um longo caminho desde o princípio em que decide aprender uma língua estrangeira. Este caminho respeita etapas que ora podem significar mais ou menos dificultosas para cada indivíduo. O professor que tem consciência 142 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) destes processos conscientes e semiconscientes pode auxiliar melhor o aluno no objetivo de aprender a língua estrangeira, reforçando aspectos significativos e preparando conscientemente estratégias docentes. FIGURA 63 – A MUDANÇA DE ESTÁGIO NO ÂMBITO DA INTERLÍNGUA: UM CAMINHO DE FLUXO CONTÍNUO FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-945255/?no_ redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. Cabe mencionar, por último, um fenômeno muito comum na Interlíngua: a fossilização. Trata-se de um fenômeno linguístico responsável pela estagnação do falante em alguma etapa específica da Interlíngua. De acordo com o Diccionario de términos clave de ELE, este fenômeno faz com que o falante mantenha em sua interlíngua, de modo inconsciente e permanente, os traços pertencentes à sua língua materna, os quais se relacionam com a gramática, com a pronúncia, com o léxico, com o discurso e com outros aspectos comunicativos. Imagine que uma pessoa sabe que quando queremos falar a palavra "sugestão", em espanhol devemos utilizar o termo "sugerencia". No entanto, o saber não impede que o falante enuncie a palavra "sugestión" no lugar de "sugerencia". Este é um exemplo cabal de fossilização. Problemas destanatureza são completamente possíveis e com frequência impedem o aprendiz de alcançar o nível de expressão linguística de falantes nativos. 3 ANÁLISE CONTRASTIVA: UM DOS PRIMEIROS MÉTODOS A análise contrastiva é uma das correntes mais antigas da linguística e vigorou por muito tempo na elaboração de métodos didáticos. Esta abordagem acreditava que todos os erros podiam ser previsíveis de acordo com uma comparação entre a língua materna e a língua estrangeira pretendida pelo aprendiz. Semino Lopez (2007) explica que no século passado os linguistas Ch. Fries (1945), U. Weinreich (1953) e R. Lado (1957) desenvolveram a metodologia hoje conhecida como Análise Contrastiva (AC). De acordo com a autora, os três científicos se fundaram no pressuposto de que "los materiales didácticos están basados en la comparación entre la lengua nativa y la lengua extranjera y que es en este cotejo que está la llave para la facilidad o la dificultad en el aprendizaje de lenguas extranjeras" (SEMINO LOPEZ, 2007, p. 39). TÓPICO 5 | ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS 143 É como se a partir do conhecimento prévio de duas línguas o linguista pudesse prever quais estruturas da língua estrangeira poderiam oferecer ou não dificuldades na aprendizagem do idioma. O Diccionário de términos claves de ELE (s.d.) afirma que o estruturalismo é a base desta teoria e que esta respeitava os seguintes passos: a) descrição formal das línguas em questão; b) seleção das áreas objeto de comparação; c) comparação entre as diferenças e semelhanças; d) previsão dos possíveis erros. O Diccionário de términos claves de ELE (s.d., s.p.) acrescenta ainda que: El análisis contrastivo nace de la preocupación por encontrar una explicación teórica de los errores y del interés didáctico por prevenirlos. (...) Pese a que en un principio pareció resolver los problemas de la enseñanza de idiomas, pues proponía una metodología cuyo objetivo era evitar los errores, en los años 70 entró en declive por diversos motivos: las investigaciones empíricas realizadas para validar las hipótesis demostraban que la interferencia de la lengua materna no explicaba la mayoría de los errores de los aprendientes. Las propuestas de las nuevas corrientes en Lingüística, Psicolingüística y Sociolingüística ponían serios reparos a los planteamientos del análisis contrastivo y los métodos de enseñanza que se apoyaban en esta metodología no conseguían evitar los errores. A la vista de estos resultados, la corriente de investigación análisis de errores se presentó como alternativa a este enfoque. FIGURA 64 – URIEL WEINREICH – UM DOS FUNDADORES DA ANÁLISE CONTRASTIVA FONTE: Disponível em: <https://uwelingo.files.wordpress. com/2014/08/03xl.jpg?w=1000>. Acesso em: 20 out. 2017. Considerando as pontas frágeis deste método, Semino Lopez (2007) afirma que as interferências da língua materna constituem a maioria dos erros dos aprendizes (girando em torno de 3% a 33% da totalidade de erros de cometidos) e que também os métodos de ensino que se apoiam na análise contrastiva não conseguem evitar os erros. A partir deste viés, entende-se o porquê desta corrente ter sido suplantada, no âmbito linguístico, por outra corrente, a Análise de Erros. 144 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) 4 ANÁLISE DE ERROS A análise de erros é uma proposta que, de acordo com Semino Lopez (2007), aproxima-se substancialmente à vertente branda da Análise Contrastiva, que não pretendia prever todos os erros, mas "identificar que los errores eran resultado de la interferencia de la lengua materna en la segunda lengua" (SEMINO LOPEZ, 2007, p. 42). Este método pretendia conhecer as causas dos erros e as estratégias empreendidas pelos falantes no processo de aprendizagem de uma língua meta, não partia da comparação da língua meta com a língua materna – tal como a Análise contrastiva –, mas sim das realizações do falante no âmbio da língua meta. FIGURA 65 – ANÁLISE DE ERROS: O CERTO E O ERRADO FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p171712992/? no_redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. Você concorda que pode ser mais objetivo se basear no que o falante disse e não no que ele poderia dizer? Estas são as duas principais linhas distintivas que separam ambas teorias: enquanto na primeira teoria toma-se como ponto de partida os erros falados pelo aprendiz, na segunda teoria importa a previsão ao comparar (contrastar) as duas línguas em questão, e assim prever as facilidades e as debilidades. Outras características definem o modus operandi da análise de erros. Corder (1981) afirma que além de identificar os erros em seu contexto, este método também pretende classificar e descrever os erros, explicar a origem de cada um deles e avaliar a gravidade de cada erro, buscando então uma possível solução com vistas a corrigi-lo. De acordo com Semino Lopez (2007, p. 44), existem críticas pontuais ao método de Análise de Erros: El Análisis de Errores se le ha criticado que hubiera estudiado sólo lo que los aprendices hacían mal, pero no lo que hacian bien y se le ha cuestionado la idea (más o menos explícita) de que cada error tendría uno y un sólo origen (Schachter y Celce-Murcia, 1977), además de que no diera cuenta de todas las parcelas conflictivas encontradas en L2. Fato incontestável é que, diferentemente da Análise Contrastiva, a Análise de Erros segue sendo um método bastante utilizado por linguistas que pretendem estudar as produções de falantes não nativos. A profª. Josefina Israel Semino Lopez, experiente professora de Linguística Aplicada da Língua Espanhola, defende que os procedimentos deste método seguem vigentes na análise da produção de falantes não nativos e que a corrente "ha ampliado su interés a nuevos problemas linguisticos" (SEMINO LOPEZ, 2007, p. 44). TÓPICO 5 | ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS 145 5 COMPETÊNCIA COMUNICATIVA No Tópico 2, intitulado O ensino de Espanhol e suas finalidades, observamos brevemente a existência do conceito de competência comunicativa. Segundo Marta Baralo (1999), o termo competência comunicativa e a conceituação deste se devem a D. Hymes (1971): Hemos, pues, de proporcionar explicaciones del hecho de que un niño normal adquiera el conocimiento de las oraciones, no solamente como gramaticales, sino también como apropriadas. Este niño adquiere la competencia relacionado con cuándo hablar, cuándo no y de qué, con quién, dónde, en qué forma (HYMES, 1971, p. 34 apud BARALO, 1999, p. 31). Apesar de Hymes nomear e oferecer uma primeira acepção do conceito, foi através de M. Canale (1983) que, após diversas reformulações do conceito inicial de Hymes, se obteve partição do conceito de competência em quatro subcompetências: gramatical, sociolinguística, discursiva e estratégica. De acordo com Baralo (1999), o uso do conceito de competência comunicativa no princípio dos anos setenta significou um redirecionamento na orientação do ensino de línguas estrangeiras. 5.1 SUBCOMPETÊNCIA GRAMATICAL De acordo com Baralo (1999), a subcompetência gramatical pressupõe o domínio do código linguístico em todos os planos de descrição linguística, "en los subsistemas fonético-fonológico-ortográfico, morfissintáctico y léxico-semántico" (BARALO, 1999, p. 32). É quando o falante da língua já internalizou as regras e já não comete erros de natureza primária. FIGURA 66 – A GRAMÁTICA EM SALA DE AULA DE E/LE: UM DOS MÉTODOS MAIS ANTIGOS FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-389907/?no_ redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. 146 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) Esta é uma das competências que mais se trabalha nas aulas de Espanhol como língua estrangeira. Na atualidade não são poucos os cursos de idioma que baseiam seus planos de ensino em uma abordagem puramente gramatical. De acordo com o Diccionario de términosclave de ELE: La competencia gramatical (también llamada competencia lingüística) es la capacidad de una persona para producir enunciados gramaticales en una lengua, es decir, enunciados que respeten las reglas de la gramática de dicha lengua en todos sus niveles (vocabulario, formación de palabras y oraciones, pronunciación y semántica). Se define como el conocimiento implícito que un hablante posee sobre su propia lengua, el cual le permite no sólo codificar mensajes que respeten las reglas de la gramática, sino también comprenderlos y emitir juicios sobre su gramaticalidad. El concepto de competencia gramatical fue propuesto por N. Chomsky en la obra Estructuras sintácticas (1957), y constituye un concepto fundamental en la tradición de la llamada Gramática Generativa, que se propone como fin último hacer explícito el conocimiento implícito sobre la propia lengua que tienen los hablantes. Sin embargo, desde otras disciplinas lingüísticas que atienden a aspectos relacionados con la lengua en uso se ha puesto en entredicho que el mero conocimiento de la gramática de una lengua permita usarla siempre de manera adecuada. D. Hymes, en sus trabajos de sociolingüística y de etnografía de la comunicación, propuso hacia los años 70 del siglo XX el concepto de competencia comunicativa como una capacidad de alcance más amplio que permite a un hablante comportarse comunicativamente de forma adecuada, para lo cual no debe poseer únicamente un dominio sobre las reglas gramaticales de buena formación de oraciones sino también sobre las reglas que determinan el uso de la lengua en la producción de enunciados adecuados en el contexto discursivo. (Disponível em: <https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/dicciona rio/competenciagramatical.htm>. Acesso em: 20 out. 2017). Quantas vezes você já percebeu equívocos ligados à sua competência gramatical? Com frequência, falantes de uma língua materna cometem erros ligados à concordância, gênero e número. Quando o assunto é língua estrangeira, estes erros se presentificam com uma certa frequência em determinada etapa. Mais uma vez a exposição ao idioma, a interação e até mesmo o estudo gramatical podem ser vias que, se conjugadas com planejamento e responsabilidade, podem ser uma estratégia notória rumo ao desenvolvimento de uma competência gramatical. 5.2 SUBCOMPETÊNCIA SOCIOLINGUÍSTICA A subcompetência sociolinguística é uma habilidade ligada ao âmbito sociocultural no qual o falante está inserido: "implica un conjunto de saberes - saber hacer y saber estar - que intervienen en todo acto de comunicación: saber lo que es proprio del universo cultural de la comunidad en la que nos encontramos" (BARALO, 1999, p. 35). TÓPICO 5 | ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS 147 Para que se desenvolva esta competência é preciso inter-relacionar a língua, a cultura e a sociedade. A língua não pode ser entendida como uma parte desconectada do contexto no qual se está praticando. Por exemplo: um estrangeiro que aprende espanhol no Paraguay deverá saber que os falantes nativos desse país são bilingues e possuem o guarany como língua segunda. Esta condição permitirá que existam expressões típicas daquele lugar oriundas do idioma indígena. O falante estrangeiro, então, entenderá que muitas das gírias faladas em espanhol no Paraguay não serão compreendidas em outros países, como a Venezuela ou a Costa Rica, por exemplo: La lengua forma parte del sistema cultural y adquiere significado proprio como expectativa de comportamientos compartidos, como conjunto de técnicas de comunicación y estructuras linguísticas que son parte del conocimiento social transmitido a través de procesos linguísticos de socialización. La cultura, por tanto, supone un proceso de interacción de los seres humanos, de significados compartidos, tendente a la configuración de sistemas simbólicos (LOBATO, 1999, p. 7 apud BARALO, 1999 p. 35). FIGURA 67 – PAÍSES QUE FALAM ESPANHOL NO MUNDO FONTE: Disponível em: <https://www.saberespractico.com/wp-content/themes/ imagination/espanol-mapa.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. Observe que cada país do mapa possui seus próprios processos de construção cultural. A Argentina é um país que recebeu centenas de milhares de imigrantes italianos. O México possui centenas de línguas indígenas, de modo que a grande maioria dos falantes destas línguas são bilíngues e se comunicam em suas línguas nativas e também em espanhol. O Paraguay possui uma forte influência da cultura Guarany, de modo que uma porcentagem predominante da população é capaz de se comunicar em guarany e em espanhol. Já a Espanha, país composto por comunidades autônomas (cada uma com suas línguas próprias), possui outras línguas espanholas além do castelhano (conhecido no mundo inteiro como o espanhol): a língua basca, a língua galega, a língua catalã, a língua valenciana, a língua aragonesa, a língua asturiana. 148 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) A competência sociolinguística do falante pressupõe o conhecimento de questões de ordem sociocultural, como as particularidades do local onde se está falando: "En el proceso de aprendizaje de una nueva lengua resultará imprescindible conocer y compartir las normas de comportamiento social de la cultura en la que esta lengua ejerce vehículo de comunicación" (BARALO, 1999, p. 35). Para além disso, são importantes conhecimentos, como a estrutura da cidade onde se está, os hábitos gastronômicos da população, as formas como os nativos se cumprimentam, os principais temas que dividem os cidadãos do lugar (visão política, futebol e conflitos internos de natureza variada): Hablamos de competencia cultural para referirnos [...] a un conocimiento operativo ligado a hábitos, objetos de campo, posiciones de esos objetos, saberes, creencias y presuposiciones, del que disponen los miembros de una cultura y subrayamos que todo ese conocimiento se estructura y organiza en torno al discurso. El discurso es una serie de continuas decisiones en función de lo ya dicho, de lo consabido, de lo presupuesto, de los objetivos y estratégias de los hablantes, donde el interlocutor tiene que elegir entre varias opciones. Pues bien, buena parte, una gran parte del instrumental que tiene que manejar el interlocutor es cultural. (MIQUEL, 1999, p. 35 apud BARALO, 1999, p. 36). FIGURA 68 – MARIACHIS MEXICANOS: EXPRESSÃO DA CULTURA LOCAL FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-250933/?no_ redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. Na atualidade, com frequência percebe-se uma presença marcada da cultura na metodologia do ensino de espanhol como língua estrangeira. Você recorda do exemplo que trouxemos das professoras Monica Azarias e Elda da Silva? Na experiência relatada por ambas percebemos uma forte preocupação das professoras em mostrar aos alunos a pluralidade sociocultural do mundo hispanofalante. Em um dos relatos as professoras mencionam que os alunos prepararam comidas típicas de um país estudado em sala de aula. Este é um exemplo bastante significativo no que tange à preocupação do docente com o desenvolvimento da competência sociocultural do aluno. Ao ocupar-se de questões dessa natureza, o professor ensina que a língua é um sistema vivo e mantém-se assim graças à interação entre as pessoas falantes. TÓPICO 5 | ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS 149 5.3 SUBCOMPETÊNCIA DISCURSIVA A subcompetência é a capacidade que o falante tem de articular os possíveis efeitos da língua nas mais distintas situações de comunicação. De acordo com Baralo (1999), estas situações podem se presentificar no discurso oral ou discurso escrito, sendo o falante capaz de elaborar narrações, fazer ensaios, descrever acontecimentos, elaborar anedotas, entre outras situações. FIGURA 69 – SUBCOMPETÊNCIA DISCURSIVA FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-1453068/?no_redirect>. Acesso em: 20 out. 2017. Neste aspecto, para além da construção gramatical e da consciência sociolinguística, nesta etapa o falante é capaz de produzir efeitos: a) Cohesión: implica el modo en que las frases y oraciones se unen, por ejemplo, mediante el uso de pronombres, conectores, conjunciones, signos de pontuación, etc. b) Coherencia: hace referencia a la relación entre significados dentro de un texto, es decir, si el discurso contiene los datos relevantes, si hay exceso de información, si existen afirmaciones contradictorias, si la información guarda un orden lógico en su presentación, si cada párrafo desarrolla una idea distinta, etc. c) Adecuación: entre otras cosas se tiene en cuenta que el registro utilizado sea el adecuado de acuerdo con la situación comunicativa, el estatus del interlocutor, la relación hablante-oyente, etc. d) Correción: en relación con el uso del código en todos los planos de la descripción pragmalingüística (BARALO, 1999, p. 37). A competência discursiva sinaliza para um domínio satisfatório das habilidades e estratégias adotadas pelo falante. De acordo com o Instituto Cervantes, o Marco Común Europeo de Referencia para las Lenguas estabelece quatro critérios para a avaliação da competência discursiva: a) a flexibilidade ante as circunstâncias em que se desenvolve a comunicação; b) o controle da vez de falar (na interação oral); c) o desenvolvimento temático; d) a coerência e a coesão dos textos (orais e escritos) que o falante produz. 150 UNIDADE 2 | A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) FIGURA 70 – SUBCOMPETÊNCIA ESTRATÉGICA FONTE: Disponível em: <http://www.publicdomainpictures.net/ pictures/140000/velka/public-speaking-hand-gestures-6.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. Diferentemente das outras competências, esta competência consiste em uma dupla habilidade de: "por un lado agilizar el proceso de aprendizaje con las estrategias adecuadas y, por otro, ser capaz de compensar las dificultades que puedan surgir durante el curso de la comunicación con el empleo de estrategias ad hoc" (BARALO, 1999, p. 38). A autora entende que as estratégias de aprendizagem estão orientadas para o processo, ao passo que as estratégias de comunicação estão orientadas ao produto. Você recorda quando trabalhamos as estratégias de aprendizagem empregadas pelo falante? Este é o tipo de estratégia que pode se dar das mais diversas formas, através da memorização, das análises, da associação de imagens e sons etc. Não iremos nos deter nesta etapa, pois já discorremos anteriormente sobre as estratégias metacognitivas. Se as estratégias de aprendizagem são empregadas pelo falante para aprender a língua, as estratégias comunicativas funcionam como dispositivos que resolvem problemas na comunicação com outras pessoas. As estratégias de comunicação pressupõem "planes conscientes establecidos por el que aprende segundas lenguas para resolver problemas en la comunicación" (FAERCH; KASPER, 1983 apud BARALO, 1999, p. 43). 5.4 SUBCOMPETÊNCIA ESTRATÉGICA A competência estratégica pressupõe o domínio de dois tipos de capacidades. De acordo com o Diccionario de términos clave de ELE (s.d., s.p.): La competencia estratégica es una de las competencias que intervienen en el uso efectivo de la lengua por parte de una persona. Hace referencia a la capacidad de servirse de recursos verbales y no verbales con el objeto tanto de favorecer la efectividad en la comunicación como de compensar fallos que puedan producirse en ella, derivados de lagunas en el conocimiento que se tiene de la lengua o bien de otras condiciones que limitan la comunicación. TÓPICO 5 | ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS 151 DICAS Recomendamos que você assista ao video "¿Cómo aprende nuestro cerebro un lenguaje?". Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OwZ8HwCsaz8>.Acesso em: 31 out. 2017. Suponhamos que o falante estrangeiro necessite explicar a um falante nativo o significado de uma palavra com um contexto completamente distinto do que o falante nativo conhece. Um falante estrangeiro com a competência estratégica desenvolvida tomaria consciência de estar vivenciando um problema comunicativo e, a partir desta consciência, pensaria em formas de elucidar o seu ponto de vista diante do outro falante, de modo a explicar a acepção segunda da palavra e assim ressolver o impasse comunicativo. Vale lembrar que na América Latina uma única palavra pode ter sentidos distintos em cada país distinto. 152 RESUMO DO TÓPICO 5 Neste tópico, você aprendeu que: • A Interlíngua atua como um caminho entre a Língua Materna e a Língua Meta. • A Análise Contrativa é um método que busca prever as distintas dificuldades no aprendizado de determinada língua. • A Análise de Erros constitui uma proposta que visou superar o modus operandi da Análise Contrastiva. • Competência Comunicativa se complementa a outras distintas competências, nomeadamente a gramatical, a sociolinguística, a discursiva e a estratégica. 153 1 Observe as assertivas a seguir: I - A análise de erros é uma proposta que se aproxima substancialmente à vertente radical da Análise Contrastiva, que não pretendia prever todos os erros, mas identificar que os erros eram resultado da interferência da língua materna na segunda língua. II - A Análise Contrastiva parte do princípio de que com o conhecimento prévio de duas línguas o linguista pode prever quais estruturas da língua estrangeira podem oferecer ou não dificuldades na aprendizagem do idioma. III - A Fossilização permite que o falante transite livremente entre as distintas etapas da Interlíngua. IV - A Interlíngua constitui uma etapa obrigatória de aprendizagem, um sistema linguístico interiorizado que evolui tornando-se cada vez mais complexo e diferente da língua materna e da língua meta, não podendo ser considerado uma mistura de ambas. V - A transferência constitui uma estratégia na qual o falante toma emprestadas palavras, estruturas, fragmentos de discursos, frases ou qualquer outro tipo de aspecto linguístico que o ajudem a gerar a hipótese. Agora, assinale a alternativa que contém a resposta correta. a) ( ) Estão corretas I, III e V. b) ( ) Estão incorretas II, IV e I. c) ( ) Estão corretas II, IV e V. d) ( ) Estão incorretas V, I e II. e) ( ) Todas estão corretas. 2 Na Interlíngua, qual das estratégias a seguir não constitui uma das operações que os aprendizes utilizam para chegar nas hipóteses? a) Transferência b) Estratégias de comunicação e aprendizagem c) Fossilização d) Transferência de instrução e) Sobregeneralização de regras 3 Observe as seguintes colocações: AUTOATIVIDADE 154 I - As estratégias de aprendizagem constituem o meio que o falante encontra de colocar em prática seus conhecimentos no âmbito comunicativo. II - No âmbito da Interlíngua entende-se que o aprendiz do idioma, de forma igual a uma criança, emprega hipóteses-teste no processo de aprendizagem. III - A transferência de instrução ocorre quando o falante já possui uma explicação formal das regras da língua (aula) e ainda assim emprega a estrutura de sua língua materna. IV - A Interlíngua é um sistema individual, próprio de cada falante. V - Ao empregar as estratégias de comunicação, o falante adquire formas cognoscíveis de alcançar o conhecimento sobre a língua. Marque a alternativa correta: a) ( ) Todas as assertivas estão corretas. b) ( ) Todas as assertivas estão incorretas. c) ( ) Somente I e V estão incorretas. d) ( ) Estão incorretas V e III. e) ( ) Estão incorretas I e IV. 155 UNIDADE 3 AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • entender como funciona o processo de aquisição da língua espanhola como LE; • situar-se nas perspectivas que distinguem a aquisição de Língua Estran- geira (LE) e Língua Materna(LM); • entender como as competências oral e escrita podem se desenvolver no âmbito do E/LE; • conhecer os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira; • entender as competências oral e escrita da língua espanhola como LE e sua função social; • conhecer as possibilidades de pesquisa no âmbito de aquisição de línguas estrangeiras; • identificar os aspectos que ligam a aquisição da primeira língua e as lín- guas sucessivas. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você en- contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A AQUISIÇÃO DA LE TÓPICO 2 – TEORIAS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS TÓPICO 3 – A QUESTÃO DO BILINGUISMO TÓPICO 4 – A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA DA LÍNGUA ESPA- NHOLA COMO LE TÓPICO 5 – QUESTÕES IMPORTANTES NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE L2: A INFORMAÇÃO TRANSFORMADA EM CONHECI- MENTO 156 157 TÓPICO 1 A AQUISIÇÃO DA LE UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Na unidade anterior, estudamos as diferenças entre os conceitos de Aprendizagem e Aquisição. Você recorda no que consiste cada um destes conceitos? Na ocasião, mencionamos que a aprendizagem estava ligada a um ambiente no qual a língua não é nativa (o caso de pessoas que aprendem espanhol em escolas no Brasil, por exemplo). Já em relação ao conceito de aquisição, vimos que esta concepção diz respeito à exposição direta que o aprendiz vem a ter em um ambiente no qual está rodeado pela língua (quando alguém viaja ou se muda para um país estrangeiro). Na presente unidade, estudaremos o tema da aquisição da língua espanhola como LE com ênfase nas questões ligadas à competência oral e escrita. Neste tópico, além de discutir a questão da aquisição do espanhol como LE (assunto que estará presente em toda a unidade), também dedicaremos atenção à questão da diferença entre a aquisição da língua materna e a aquisição da língua estrangeira. Os processos respeitam as mesmas etapas? Tratam-se de variáveis que se modificam de acordo com as circunstâncias ou com a bagagem do falante? Conforme estudamos a Linguística Aplicada, estas questões centrais surgem e clamam por entendimento. Além disso, também estudaremos a temática da motivação. 2 A AQUISIÇÃO DO ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: LINHAS GERAIS A aquisição de uma língua estrangeira é um tema amplamente debatido e estudado por especialistas da área. Através de diversos estudos, percebeu-se que os distintos graus de dificuldade variam de acordo com a língua materna do falante. Ao aprender espanhol, por exemplo, um falante do chinês pode encontrar dificuldades facilmente superáveis ou sequer existentes para um falante nativo do português. Para que entendamos como isso funciona, tente recordar se em algum momento de sua vida pôde presenciar algum estrangeiro falando português. Caso a resposta seja positiva, certamente dar-se-á conta de que falantes de distintos países possuem traços marcados e dificuldades próprias (como a dificuldade para pronunciar o som da letra "R", a empregabilidade de pronomes pessoais, a não articulação dos sons /ʒ/ (j), /z/ (z), /ɐ̃/ (ã) e /ɔ/ (Ó), por exemplo). No âmbito da língua espanhola também se percebem essas dificuldades, visto que cada falante nativo possui já um sistema linguístico materno e também um aparelho fonador UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 158 habituado à pronúncia dos fonemas naquele idioma. Isso quer dizer que falantes de línguas diferentes podem ter dificuldades diferentes na aquisição de uma mesma língua estrangeira. Você recorda quando falamos, na Unidade 1, sobre a hipótese linguística de uma protolíngua que teria dado origem às línguas descendentes do itálico, do helênico, do céltico, do balto-eslávico, do índico, do albanês, do armênico e do germânico? É justamente a proximidade dessas línguas na árvore genealógica das línguas que pode justificar maior ou menor constância de erros específicos no âmbito da interlíngua. Imaginemos duas línguas-irmãs: o holandês e o alemão. No âmbito da aquisição do alemão, provavelmente as dificuldades apresentadas por um holandês sejam de natureza completamente diferente das apresentadas por um sueco. Em sua pesquisa de pós-doutorado, em 2005, a prof. Eunice Ribeiro Henriques, da Universidade Estadual de Campinas, estudou as distintas etapas de aprendizagem e dificuldades distintas pelas quais passam os falantes do português, do inglês e do japonês ao aprender espanhol. O resultado desta pesquisa comprova que a estrutura linguística de cada língua (e o status de similaridade, o quão se parece com o espanhol) é determinante para o progresso do falante, que pode ocorrer em etapas mais curtas ou em etapas mais longas. Observe com atenção quando a autora discorre a respeito do percurso pelo qual devem percorrer os falantes do português, do inglês e do japonês no processo de aquisição do espanhol como língua estrangeira: Existem línguas distantes do espanhol, de distância média e próximas. Em relação ao espanhol, as línguas mais próximas são as românicas, sendo que o português é considerado uma língua-irmã. Entre as línguas de distância média, existem, por exemplo, o inglês e o alemão, e entre as línguas distantes, estão as orientais, como o japonês. O falante de português e o do inglês, por exemplo, não terão dificuldade nenhuma com a ordem do espanhol, que é igual nas três línguas (sujeito + verbo + objeto). Mas o falante do japonês terá de seguir um percurso mais longo. Consideremos, por exemplo, a seguinte sentença, em espanhol: "Me gusta mucho la comida japonesa". Em japonês, a tradução literal seria "Japonês comida muito gusto" ("*Japonês comida mucho [me] gusta), ou seja, a ordem é sujeito, objeto, verbo. Além disso, o adjetivo vem antes do substantivo; não há distinção entre os gêneros e nem preposições. As categorias dos verbos não incluem a noção de pessoas e número, como em português e espanhol ("somos", "éramos" etc."). Também existem as noções de concordância nominal e verbal. Para dizer uma frase simples como essa, o falante de japonês, aprendiz de espanhol, tem de inverter a ordem das palavras. O falante do inglês, por outro lado, só precisa fazer algumas alterações na ordem das palavras (colocar o adjetivo depois do substantivo, o advérbio depois do verbo principal, o pronome antes do verbo e acrescentar o artigo definido que, nesse caso, na sua língua, não existiria; [...] (HENRIQUES, 2005, p. 149). A pesquisa da professora Eunice ajuda-nos a compreender melhor as etapas pelas quais passa um aprendiz de uma língua estrangeira. Os resultados servem TÓPICO 1 | A AQUISIÇÃO DA LE 159 tanto para o processo de aquisição em contexto natural como para o processo de aprendizagem em ambiente formal. Observe atentamente as conclusões às quais chegou a pesquisadora a respeito das etapas que cada falante passa até encontrar a verdadeira estrutura reconhecida por outros falantes do espanhol: Falante do português Falante do inglês Falante do japonês Yo gusto mucho de comida japonesa. Gusta … japonés comida mucho Japonés … comida … gusta. Gosto mucho de la comida japonesa. Gusta … comida japonés mucho Japonés ... comida … mucho gusta. Me gusta mucho la comida japonesa Me gusta … comida japonés mucho Mucho … gusta…comida … japonés. Me gusta mucho comida japonesa. Gusta … mucho … comida … japonés Me gusta mucho la comida japonesa. Me … gusta mucho … comida japonés. Me gusta mucho … comida japonesa. Me gusta mucho la comida japonesa. FONTE: Henriques (2005) Além de apontar para uma vantagem dos falantes do português sobre falantes de outros idiomas em relação ao aprendizado do espanhol, a pesquisa oferece ao professor de Espanhol como língua estrangeira uma série de dados relevantes relativos ao processo de aquisição e aprendizagem de espanhol como língua estrangeira. FIGURA 71 – A AQUISIÇÃO DE ESPANHOL COMO LE E AS VIAGENS FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-50893/?no_redirect>.Acesso em: 1º out. 2017. QUADRO 5 – ETAPAS DA AQUISIÇÃO DA FALA UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 160 Outras pesquisas publicadas no âmbito da Linguística Aplicada alcançam resultados complementares aos mencionados acima. De acordo com a teoria de Stephen Krashen (1983), a aquisição de uma língua constitui um processo cognitivo gerado em função da observação do entorno natural. Baralo (2003) afirma que no cérebro do falante há uma espécie de "caixa preta" e que os estudiosos do tema, assim como a autora do estudo mencionado anteriormente, justamente tentam entender o que acontece dentro dela. A caixa preta seria a parte do cérebro "que procesa y usa los datos lingüísticos que percibe y que produce en sus respuestas" (BARALO, 2003, p. 2). Em estudo publicado por Contreras Aedo e Ferreira Cabrera (2013), os autores observam a aquisição linguística do E/LE de falantes nativos do inglês, do francês e do alemão. De acordo com as amostras, estes falantes demonstraram problemas específicos e dificuldades no processo de aquisição do pretérito indefinido/imperfeito do modo indicativo e do presente do subjuntivo. De acordo com Krashen (1977), para que assimilemos uma língua estrangeira, necessitamos desenvolver as quatro habilidades comunicativas: a expressão oral, a compreensão auditiva, e também as capacidades de ler e escrever no idioma estrangeiro. DICAS Se você ficou interessado em conhecer mais a respeito de problemas específicos na aquisição de E/LE por parte de aprendizes de nacionalidades diferentes, recomendamos que você observe os seguintes textos publicados sobre o assunto: Falantes do chinês: YULIANG, Sun. La adquisición del aspecto en español por hablantes de chino mandarín. Dissertação de mestrado. Disponível em: <https://openaccess.leidenuniv.nl/ handle/1887/35205>. Acesso em: 25 set. 2017. Falantes do inglês, francês e alemão: CONTRERAS AEDO, Carlos; FERREIRA CABRERA, Anita. Orden de adquisición en Español como lengua extranjera: modalidad subjuntiva. Lit. linguíst. n. 28 Santiago 2013. Disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0716-58112013000200014>. Acesso em: 25 set. 2017. Falantes do português: BRISOLARA, Luciene Bassols. La interferencia del sistema consonántico portugués en el uso del español. Disponível em: <http://bit.ly/2wFsnJ3>. Acesso em: 25 set. 2017. ANDES DE LIMA, Egisvanda I. A. Algunos puntos importantes para el estudio de la adquisición/aprendizaje de E/LE por hablantes de portugués. Disponível em: <http://bit. ly/2y7WMmP>. Acesso em: 25 set. 2017. TÓPICO 1 | A AQUISIÇÃO DA LE 161 3 DIFERENÇA DA AQUISIÇÃO DA LE E DA LM Com o desenvolvimento da Linguística Aplicada enquanto disciplina, diversos estudos visaram o processo de aquisição de línguas, sejam elas maternas ou estrangeiras. De acordo com Baralo (1999), todas as línguas que um falante aprende após a sua língua materna (LM) serão consideradas língua segunda (L2) ou língua estrangeira (LE). A respeito dos termos L2 e LE, o autor ainda esclarece que ambos termos não se tratam do mesmo tema, ainda que possam ser usados como sinônimos em determinados contextos. Na Unidade 2 conhecemos as acepções de L2 e LE. Neste momento, para que compreendamos as nuances implicadas na aquisição de uma Língua Materna (LM) e de uma Língua Estrangeira (LE), é preciso que se retome a natureza dos conceitos com os quais lidaremos a seguir. Observe atentamente o caso hipotético apresentado por Marta Baralo (1999, p. 22-23): Estos dos términos no se refieren a la misma cosa, aunque a veces puedan usarse como sinónimos. En los trabajos de investigación de adquisición de lenguas, suele llamarse L2 a la lengua que se aprende en comunidades que disponen de dos sistemas lingüísticos en contactos, sea en situación de bilingüismo o de diglosia. Con L2 nos referimos a una lengua que se adquiere en un contexto natural, no sólo institucional, sin grandes esfuerzos de estudio, de forma parecida a como se ha adquirido la LM en muchos aspectos - claro que nunca será igual el proceso, por que cuando se adquiere la L2 ya se posee el conocimiento y la experiencia de la L1. En el caso de un niño catalán, que crece en una familia de habla catalana, y luego aprende el español, lo habla con sus compañeros, lo estudia y lo practica en algunas horas del colegio, podemos decir con toda claridad que el catalán es su LM y el castellano su L2. Si este mismo niño estudia inglés en el instituto, durante unas horas semanales, sólo en ese contexto institucional, tenderemos a considerar que su inglés es una LE. Ahora bien, si son muchas las horas en que interactúa en inglés - en un colégio bilingüe, por ejemplo - y pasa algunas vacaciones en una ciudad de habla inglesa, nuestro sujeto habrá adquirido una cierta competencia comunicativa en inglés que nos llevará a considerarla otra L2, más que una LE. FIGURA 72 – CRIANÇA EM IMERSÃO LINGUÍSTICA E MEDIAÇÃO DE UM ADULTO FONTE: Disponível em: <https://media.defense.gov/2012/ Aug/08/2000126523/670/394/0/120806-F-GK203-045.JPG>. Acesso em: 1º out. 2017. UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 162 Cognitivamente, o processo de aquisição de uma língua materna é diferente do processo de aquisição de uma língua estrangeira. As condições de aprendizagem são naturalmente distintas e os fatores de ordem particular constituem aspectos relevantes no processo de aquisição da LM e da LE. Um dos primeiros aspectos diz respeito ao fato de que a aquisição de uma língua estrangeira já pressupõe a existência de uma língua materna no cérebro do falante. Imagine que uma criança, ao aprender a língua falada pela comunidade falante na qual nasceu, não possui nenhuma outra estrutura verbal presente em seu cérebro. O processo de aprendizagem, no decorrer de seu desenvolvimento gradual, se constrói à medida que a criança observa gestos, tons de voz elevados, associações de "sim" e "não", o uso dos verbos etc. O conhecimento, neste estágio, se dá através da exposição natural e sem o adendo do objetivo consciente da aprendizagem. Já a aquisição de uma língua estrangeira se pauta no objetivo, da observação atenta e na realização de processos conscientes. Baralo (1999) afirma que o processo de apropriação da língua é bastante distinto entre os dois casos. Importam, segundo a autora, "las variables de edad (niño, adolescente, adulto), y de contexto (natural, formal)" (BARALO, 1999, p. 23). O tema da idade é muito importante neste aspecto. No âmbito de pesquisa há diversas crenças que circundam a questão da idade, muitas fundamentadas em hipóteses ou testes restritos ou então repassadas de forma inconsciente no âmbito de circulação de pesquisadores da linguística. Algumas dessas crenças, por exemplo, afirmam que há um período crítico para aquisição de língua e que as crianças teriam a capacidade de aprender uma língua com alto aproveitamento, ao passo que um adulto jamais conseguiria alcançar o mesmo proveito no aprendizado de uma língua estrangeira. Baralo (1999, p. 24) menciona outras crenças tradicionais, como o fato de haver um período crítico: Se ha hablado hasta el cansancio de la existencia de un período crítico, situado alrededor de la pubertad, de que alguna manera cierra las posibilidades de adquirir otra lengua (Lenneberg, 1966). Algunos investigadores han llegado a la conclusión de que, al menos ciertos aspectos de conocimiento lingüístico, como la sintaxis y la fonología, son casi imposibles de adquirir después de ese período crítico y han mostrado casos de niños aislados, en condiciones externas, que no fueron capaces de adquirir un dominio de la LM semejante al de todo hablante nativo, cuando fueron integrados en una comunidad idiomática después de la pubertad; Los datos que no han llegado, siempre según alguna versión poco científica casi de guionista de cine, no permiten sacar conclusiones definitivas porqueno han sido recogidos ni documentados de forma sistemática. Apesar de algumas destas colocações mencionadas por Baralo não estarem completamente equivocadas, acredita-se que metodologicamente não dão conta de representar com exatidão uma questão biológica capaz de atravessar a todas as pessoas. São fenômenos plausíveis em um dado tempo e espaço alcançado pela pesquisa. De acordo com a linguista espanhola, é possível sim um adulto alcançar um domínio excelente de uma LE. TÓPICO 1 | A AQUISIÇÃO DA LE 163 Você conhece alguém que tenha aprendido uma língua estrangeira depois de adulto e fale com notável fluência? É algo perfeitamente possível. O que a Linguística Aplicada busca entender é a razão de certas pessoas alcançarem certos níveis de fluência e outras pessoas não. Sabe-se, com certeza, que imperam fatores de ordem cognitiva sobre razões paralelas. No entanto, considerando o caráter vivo da língua e as diversas nuances que conformam a aquisição de uma segunda língua, o tema da idade pode ser relevante se considerarmos condições de exposição específicas, como elencaremos a seguir. FIGURA 73 – O BILINGUISMO FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-2567915/?no_ redirect>. Acesso em: 25 set. 2017. Uma das condições mais discutidas é o bilinguismo. Baralo (1999) afirma que uma criança pode alcançar muito mais sucesso no aprendizado de uma língua em uma situação de bilinguismo do que em uma situação de imersão linguística. Isso acontece porque o núcleo familiar se deslocou por completo e se integrou a uma comunidade falante. Você conhece cursos de idiomas que possibilitam viagens de imersões linguísticas? Não são poucas as propostas de viagens a países estrangeiros ou até mesmo a hotéis dentro do Brasil nos quais é proibido falar português durante a imersão. Essas tentativas de imersão acontecem justamente para simular uma situação de imersão linguística no idioma. Apesar de possuir validade e ser um recurso utilizável, se comparado a uma mudança de país e uma exposição completa à segunda língua, a criança obterá muito mais êxito. También el adulto puede conseguir un grado de éxito casi nativo, siempre que se den de forma positiva otras variables importantes, tales como la percepción de la distancia social de la comunidad, la integración a un grupo social de prestigio para el que aprende, la oportunidad de usar la lengua para intercambios satisfactorios sociales [...] (BARALO, 1999, p. 24). UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 164 4 MOTIVAÇÕES PESSOAIS QUE FACILITAM O PROCESSO Para compreender como adultos obtêm êxito na aquisição de uma língua estrangeira é preciso dedicar atenção a alguns fatores que estão imbricados neste processo. O principal desses fatores gira em torno da Motivação. O que conecta o adulto ao conhecimento da língua que está aprendendo? O que o motiva enquanto ser humano a buscar compreender melhor a língua-alvo? Para que se alcance o sucesso almejado é preciso, além de uma grande exposição voluntária e involuntária à língua, um significativo interesse por questões relacionadas ao idioma, que instigue o falante a avançar gradualmente no desbravamento das informações. Como en todo aprendizaje, la motivación determina que se produzca realmente una apropiación del conocimiento o que ese conocimiento no se arraigue. Si el interés y la necesidad por adquirir una lengua nueva son fuertes, el proceso de adquisición de la LE seguirá pasos certeros y avanzará gradualmente. Si, por el contrario, no existe una motivación verdadera, lo que se aprende se quedará en la memoria a corto plazo y desaparecerá fácilmente (BARALO, 1999, p. 31). FIGURA 74 – FUTEBOL: UMA MOTIVAÇÃO MUITO COMUM FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/a/ab/Leo_Messi_v_Granada_2014.jpg>. Acesso em: 2 out. 2017. A diferença entre uma criança que aprende uma língua estrangeira e um adulto é que para a criança o propósito de aprendê-la não constitui um problema a ser resolvido, já que a aquisição ocorre de modo natural. É quando a criança se comunica de forma instintiva, a fim de cumprir uma "necesidad básica" (BARALO, 1999, p. 31). Você já parou para pensar como funciona o cérebro de uma criança bilíngue? No Brasil, existem casos bastante interessantes em estados como Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Devido à colonização europeia dos séculos XIX e XX, em muitas localidades são recorrentes os casos em que as pessoas aprendem em casa outra língua que não o português. Ainda hoje, no século XXI, é possível encontrar grupos de falantes do alemão, por exemplo. São pessoas que aprendem o alemão como língua materna e o português como segunda língua TÓPICO 1 | A AQUISIÇÃO DA LE 165 através do contato social. É um caso típico de bilinguismo, em que desde muito cedo a pessoa aprende a falar duas línguas, sem qualquer motivação ligada à predileção de gostos, mas sim de necessidades comunicativas. En el aprendizaje de una LE, la motivación y el interés están estrechamente relacionados con la percepción de la distancia social y psicológica del aprendiente de una LE, con respecto a los otros miembros nativos de esa comunidad idiomática, y a sus necesidades, objetivas y subjetivas, de integración en la sociedad de la lengua meta. Cuanto mayor sea la distancia social entre los dos grupos, mayor será la dificultad del no nativo para adquirir la nueva lengua si la relación de la sociedad que le habla es de dominación, en cuestiones políticas, culturales, técnicas y/o económicas, sobre la comunidad de la LM del aprendiente (BARALO, 1999, p. 31). Por fim, cabe sinalizar que as motivações pessoais de um falante em processo de aquisição de uma segunda língua funcionam como válvulas de retroalimentação, sempre acrescentando conhecimento ao falante e desdobrando novos saberes ao que o falante já conhece da língua. 166 Neste tópico, você aprendeu que: • No processo de aquisição existem etapas pelas quais passam os falantes de diferentes línguas maternas. • É possível distinguir as diferenças nos processos de aquisição da LE e da LM. • Motivações de ordens diversas podem conectar o aprendiz ao conhecimento da LE. • Para a criança bilíngue a aprendizagem de uma língua estrangeira não constitui um problema consciente, diferentemente do adulto. RESUMO DO TÓPICO 1 167 1 Com base no que você estudou no presente tópico, observe as seguintes assertivas: I - Para Baralo (1999), os termos L2 e LE tratam do mesmo tema, ainda que não sejam usados como sinônimos em determinados contextos. II - A LE é a língua que o falante menos domina em relação à língua materna e à língua segunda. III - Cognitivamente o processo de aquisição de uma língua materna é diferente do processo de aquisição de uma língua estrangeira. IV - Uma criança pode alcançar muito mais sucesso no aprendizado de uma língua em uma situação de bilinguismo do que em uma situação de imersão linguística. V - A motivação é um substrato externo e não é relevante no processo de aquisição de línguas segundas. Estão corretas: a) ( ) Todas as alternativas estão corretas. b) ( ) Apenas I, II, IV e V estão corretas. c) ( ) Estão corretas I e V. d) ( ) Estão corretas II, III, IV e V. e) ( ) Estão corretas II, III e IV. 2 Marque a alternativa correta: a) A estrutura linguística de cada língua (e o status de similaridade) é determinante para o progresso do falante, que pode ocorrer em etapas mais curtas ou em etapas maiores. b) De acordo com a teoria de Stephen Krashen (1983), a aquisição de uma língua constitui um processo puramente social gerado em função da observação do entorno natural. c) A caixa preta no cérebro do falante, mencionada por Baralo (2003), constitui- se como um dispositivo cuja função não pode ser especificada. d) De acordo com Krashen (1977), para que assimilemos uma língua estrangeira necessitamos desenvolver duas habilidades comunicativas: a expressãooral e a compreensão auditiva. e) A aquisição de uma língua estrangeira não pressupõe a existência de uma língua materna no cérebro do falante. AUTOATIVIDADE 168 169 TÓPICO 2 TEORIAS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO O campo dos estudos científicos é uma área de produção constante na qual as pesquisas e a produção de conhecimento nunca param. As teorias surgem em virtude deste movimento, considerado extremamente positivo para a compreensão dos mais diversos fenômenos. Dada a pluralidade de pesquisadores, a diversidade de contextos experienciais, de percepções e de métodos, é possível dizer que não existem teorias incorretas. Enquanto acadêmico, você verá inúmeras teorias que poderão responder aos seus questionamentos ou não. Uma teoria gerada em função da observação de um determinado meio pode vir a ser útil para nós ou pode funcionar somente no meio no qual foi concebida. São entendimentos muito importantes quando nos tornamos estudiosos de um determinado assunto. A partir dessa consciência, entendemos que teorias não são estruturas modulares capazes de serem adaptadas a todos os contextos e portadoras de uma verdade universal, mas sim uma representação de um processo de observação científica, pautada em metodologias e objetivos previamente delimitados. No âmbito da Linguística Aplicada, muitas teorias são consideradas superadas na medida em que outras teorias se propõem a contemplar questões outrora não contempladas. Trata-se de um processo de refutação natural que não visa desmerecer o trabalho de pesquisadores de outrora, mas sim complementar com aportes mais amplos, de modo a preencher possíveis lacunas anteriormente observadas. No presente tópico, vamos conhecer as teorias de aquisição da linguagem mais importantes no âmbito dos estudos linguísticos. 170 UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 2 CONDUTIVISMO REFUTADO O condutivismo refutado é uma teoria nativista que surgiu através de uma refutação e é considerado uma teoria nativista. De acordo com Kim Griffin (2005), as teorias nativistas são aquelas que contemplam a Aquisição de Segundas Línguas (ASL), tomando como base as características das línguas e a sua natureza sistemática. As teorias nativistas (ou mentalistas) possuem sua origem nas reações de Chomsky ao Condutivismo de Skinner (1957), principal nome de uma corrente psicológica chamada Behaviorismo. O Behaviorismo (também conhecido por Condutivismo) é uma corrente psicológica que possui dois grandes nomes como referência: J. B. Watson (1878-1958) e B. F. Skinner (1904-1990). Segundo a Real Academia Española (2017, p. 1), o Behaviorismo é uma "Orientación metodológica que estudia el comportamiento en términos de estímulo y respuesta sin tener en cuenta la consciencia, que es considerada un epifenómeno". NOTA Um dos experimentos mais importantes para os behavioristas é um experimento realizado por P. Pavlov sobre o reflexo condicionado em cães. Um estímulo através do som de uma campainha, que inicialmente não suscitava a vontade de salivar no cão, foi repetidamente seguido de um oferecimento de alimento. Após repetir essa dinâmica algumas vezes, o cão respondia ao apitar da campainha com uma intensa produção de saliva, ainda que o som não fosse seguido de alimento algum. Este tipo de experimento se chama condicionamento clássico e muitos behavioristas utilizaram este método em seus experimentos. Posteriormente a isso, os behavioristas complementaram o chamado "condicional instrumental". Skinner pensou em uma jaula na qual o cão, para alcançar a comida, aprendia a apertar uma barra. Este modelo contribuiu com essa corrente teórica, sobretudo no que tange às variações inerentes ao processo de aprendizagem. Você pode ler mais sobre o Behaviorismo em: GALIMBERTI. Umberto. Diccionario de Psicologia. Buenos Aires: Siglo XXI, 2002. NOTA Seguindo os preceitos teóricos e os experimentos levados a fio por importantes nomes desta teoria, os condutivistas acreditavam que todo o comportamento ocorria devido a estímulos. A mente reagiria, para esses teóricos, de modo mais ou menos involuntário aos estímulos lançados. A figura a seguir retrata o experimento de Pavlov que embasou esta crença. TÓPICO 2 | TEORIAS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS 171 FIGURA 75 – O CÃO, A COMIDA E A SALIVA FONTE: Disponível em: <http://www.all-about-psychology.com/ images/pavlovs-dog.jpg>. Acesso em: 5 out. 2017. Esta teoria acredita que quando conhecemos os estímulos, o comportamento será previsível. Sendo o aprendizado de línguas uma questão comportamental e o comportamento um aspecto de vital importância para os behavioristas, acreditava-se que a aquisição de línguas também estava ligada a estímulos externos, podendo-se prever resultados específicos nos falantes (a aquisição do idioma) através de um fomento externo (a informação linguística cercando o indivíduo). Ao comentar sobre esta teoria, Griffin (2005) menciona que por muito tempo acreditou-se que os condutivistas possuíam razão: Las observaciones sobre cómo la gente aprendía lenguas (primeras y segundas), fácilmente hacían pensar que los conductivistas tenían razón. El individuo percibe lengua en su entorno, y la imita. Cuanto más muestras de lengua perciba, más imita y, poco a poco, la imitación se convierte en lengua propia del individuo. Parecía ser un proceso provocado por estímulos externos que mediante constante exposición a ese estímulo, se convertía en conocimientos gracias a la repetición habitual. Cuando se observaba el aprendizaje de la segunda lengua, parecía aún más cierto. De hecho, la teoría duró más tiempo aplicada a la segunda lengua que a la primera (GRIFFIN, 2005, p. 34). Apesar de mostrar-se coerente durante algum tempo, estudiosos detectaram uma falha bastante significativa na teoria condutivista. Foi no ano de 1959 que Noam Chomsky rebateu um dos pontos mais frágeis da teoria defendida por Skinner. Quando as crianças aprendem sua primeira língua, elas não imitam fidedignamente tudo o que ouvem. A fala de uma criança aprendiz constitui uma tentativa de falar, com equívocos pontuais. De acordo com o estudo Review of verbal behavior, de Chomsky, os equívocos cometidos por crianças ao aprender a falar são completamente previsíveis. De acordo com a refutação de Chomsky, os erros cometidos por uma criança não são aleatórios e possuem um fundamento linguístico-mental, que respeita a natureza da linguagem e também as estruturas cognitivas: "Un niño que se equivoca diciendo <yo no sabo>, no ha oído tal frase antes, por lo tanto no está imitando como reacción a un estímulo que haya percibido anteriormente. Está <creando> con la lengua según sus conocimientos no explícitos de la lengua" (GRIFFIN, 2005, p. 35). Estes erros transcendem as particularidades do aprendizado de uma língua materna e podem ocorrer no processo de aquisição de qualquer língua. 172 UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA FIGURA 76 – SKINNER E CHOMSKY – EMBATE DE TITÃS FONTE: Disponível em: <https://cdn.pensador.com/img/authors/ no/am/noam-chomsky-l.jpg>; <https://aqdesenvlinguagem.files. wordpress.com/2011/06/bfskinner.jpg>. Acesso em: 5 out. 2017. Imagine o caso dos verbos irregulares do português. Todos nós, adultos já alfabetizados e hábeis no uso da língua portuguesa, sabemos que quando conjugado na primeira pessoa do singular, o verbo “medir” se transforma em "meço". Imagine que uma criança que esteja aprendendo o português como língua materna não saiba desta particularidade do verbo "medir". Com frequência esta criança pode dizer eu "medo", já que pela lógica da língua esta seria a configuração da palavra, caso o verbo “medir” não fosse irregular. Chomsky (2010) defende que toda criança nasce com uma capacidade inata de aprender a língua. De acordo com Griffin (2005, p. 35), esta capacidade seria como uma espécie de "procesador mental o dispositivo preparadopara recibir información externa y asociarla con una estructura gramatical interna". O dispositivo mencionado por Griffin possui quatro capacidades que nos permitem perceber a língua e associá-la aos conceitos gramaticais. A primeira capacidade é a de distinguir a fala de outros sons. Por exemplo: uma criança sabe distinguir quando alguém está falando de quando uma vaca está mugindo, um gato miando ou o motor de um carro roncando. A segunda capacidade constitui uma espécie de organização na qual a criança pode categorizar determinados fenômenos para usar posteriormente. São categorizados mentalmente os nomes dos objetos, e as noções de tempo e espaço. A terceira capacidade é uma espécie de sentido prático no qual a criança sabe o que se pode fazer e o que não se pode fazer em um sistema linguístico. A respeito desta capacidade, é importante frisar o exemplo do verbo "medir". Quando uma criança diz intuitivamente "eu não medo", na verdade ela sabe (ainda que de forma não consciente) que se pode formar a primeira pessoa do singular de um verbo acrescentando um "-o" à raiz. A quarta e última capacidade consiste na habilidade em avaliar constantemente o sistema linguístico para construir o sistema da forma mais simples com os dados encontrados. Griffin (2005, p. 36) explica: TÓPICO 2 | TEORIAS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS 173 El principio de economía aplicado a la lengua es lo que nos permite comunicar con eficacia. Si utilizáramos todos los recursos lingüísticos en todo momento nos bloquearíamos, ya que habría sobrecarga de datos para llevar a cabo una tarea comunicativa requerida. Por lo tanto hacemos una continua labor de evaluar lo que necesitamos del sistema lingüístico para poder seleccionar solamente lo necesario para comunicar con eficiencia. A proposta de refutação da teoria condutivista é importante porque parte de uma base linguística e permite que se compreenda que a aquisição de uma língua não ocorre somente através do estímulo e da resposta. Os dados que a criança recebe do seu entorno natural podem ser relacionados com um sistema linguístico universal. Você pode testar a aplicabilidade desta teoria em casa ou com pessoas próximas. Você tem filhos em fase de aquisição da língua materna ou conhece crianças que estão aprendendo a falar? Se sim, observe pessoalmente o processo de aquisição da linguagem destes pequenos e estabeleça relações com a teoria de Chomsky. 3 TEORIAS AMBIENTALISTAS A aculturação faz parte do âmbito das teorias ambientalistas. Se as teorias nativistas pendem para uma perspectiva cognitiva de aquisição de segunda língua, as teorias ambientalistas se debruçam sobre a questão da influência social sobre o indivíduo. Os ambientalistas propõem como base as relações sociais e os tipos de comunicação possíveis. Kim Griffin ressalta que esta vertente teórica surgiu em função da observação dos indivíduos que são obrigados a entrar em processo de aquisição. Um exemplo cabal de caso estudado pelas teorias ambientalistas são os comerciantes marroquinos que recebem todo ano milhares de turistas espanhóis. Nesses indivíduos não haveria outra motivação no aprendizado da língua espanhola senão pela necessidade de poder se comunicar com os turistas hispanofalantes e assim vender ou negociar seus produtos. Griffin (2005) menciona o termo pidgin para referir-se a este fenômeno. O pidgin é um termo que vem da língua inglesa. De acordo com Griffin (2005, p. 16), o pidgin é uma "alteración del inglés business, negocios, asuntos. El pidgin es una lengua híbrida nacida del contacto entre el inglés y algunas lenguas del extremo oriente al calor de las relaciones comerciales entre distintas comunidades". O pidgin é o resultado da aquisição parcial de uma segunda língua, com fortes influências da língua materna do falante. É quando o falante utiliza a L2 exclusivamente para um fim específico. NOTA 174 UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA FIGURA 77 – COMERCIANTE MARROQUINO NA CIDADE DE MARRAKECH – SITUAÇÃO IDEAL PARA OCORRÊNCIA DO PIDGIN FONTE: Disponível em: <https://pxhere.com/en/photo/943026>. Acesso em: 5 out. 2017. 3.1 O FENÔMENO DA ACULTURAÇÃO A aculturação, enquanto teoria de Aquisição de Segundas Línguas (ASL), é uma teoria ambientalista (de tantas outras que existem) e foi concebida por Schummann em 1978. A teoria aborda o processo pelo qual passa uma pessoa durante a adaptação em uma nova cultura. Para esta teoria, a aquisição de uma segunda língua constitui um verdadeiro choque cultural. A aquisição de uma língua, segundo a teoria proposta por Schumann, seria apenas um aspecto da aculturação, havendo assim uma correlação direta entre o nível de domínio da língua alcançado e o grau de aculturação. Griffin sinaliza que "para poder aprender una segunda lengua es imprescindible asimilar valores y comportamientos culturales de la comunidad que utiliza esta lengua" (GRIFFIN, 2005, p. 38). Tomemos como exemplo os latino-americanos de origem indígena que se mudaram para os Estados Unidos no boom do American way of life. O aprendizado do inglês estava, para essas pessoas, complementarmente ligado ao processo de incorporação do estilo de vida americano. Griffin sinaliza ainda que, para poder calcular as possibilidades de aculturação, primeiro é necessário calcular a distância que existe entre o grupo de origem do aprendiz e o grupo da comunidade de fala da segunda língua. De acordo com a autora, a distância pode ser real (social) ou percebida (psicológica), podendo então ser pequena ou grande. TÓPICO 2 | TEORIAS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS 175 O American Way of Life é o estilo de vida americano, difundido no mundo inteiro. O termo teria sido cunhado nos anos 20. Filosoficamente, é vendido como uma proposta de bem-estar e estilo livre de viver. No entanto, a proposta consistia em propagar no mundo o consumismo com o intuito de alavancar a economia estadunidense, promovendo marcas como a Coca-Cola, o McDonald's, os filmes de Hollywood e a indústria do tabaco. NOTA FONTE: Disponível em: <http://www.klickeducacao.com.br/ conteudo/pagina/0,6313,POR-1307-10082-,00.html>. Acesso em: 5 out. 2017. Na sequência, observe os fatores que determinam as distâncias sociais e psicológicas na teoria da aculturação: QUADRO 6 – FATORES QUE DETERMINAM DISTÂNCIAS SOCIAIS E PSICOLÓGICAS NA TEORIA DA ACULTURAÇÃO 1. Si los miembros de los dos grupos son y se ven como iguales y si el uso/aprendizaje de la lengua es positivo o negativo. 2. Si los miembros de los dos grupos quieren la integración de los aprendices. 3. Si los miembros de los dos grupos desean que los aprendices de L2 compartan elementos sociales. 4. Si los aprendices de L2 forman parte de un grupo pequeño y no cohesivo. 5. Si la cultura de los aprendices de L2 es congruente con la cultura en la que pretenden integrarse (no chocan, aunque no compartan). 6. Si existe una actitud positiva entre los dos grupos. 7. Si los aprendices de L2 piensan permanecer cierto tiempo en la cultura de la L2. FONTE: Griffin (2005) 176 UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA FIGURA 78 – HOMEM MEXICANO-AMERICANO EM PASSEATA NOS EUA FONTE: Disponível em: <https://c1.staticflickr com/1/55/121402044_9982d33921_b.jpg>. Acesso em: 5 out. 2017. O ponto principal desta teoria gira em torno da razão do grau de aculturação influenciar tanto na aquisição. Ao buscar integrar-se na cultura do outro, o falante estará exposto a mais situações comunicativas (atos de fala, vocabulário diversificado, gírias etc.). Ao receber estas informações, o falante armazenará em sua memória o uso delas e as utilizará em momentos adequados. Por outro lado, Griffin (2005) menciona que se as distâncias psicológicas ou sociais do falante forem muito grandes e este não for capaz de se integrar na cultura do outro, ele se atentará somente ao básico e não processará nada mais que os dados absolutamente necessáriospara sobreviver. 3.2 DESNATIVIZAÇÃO A desnativização é uma teoria que eleva o entendimento da aculturação a um nível além. Andersen (1983), o autor dessa teoria, propõe um enfoque que mescla questões de socialização com cognição. O autor defende que um grau elevado de aculturação pode fazer com que o indivíduo se afaste dos comportamentos, dos hábitos e também de tudo o que exista relativo à sua própria cultura, absorvendo por completo a cultura do outro e assim "desnativizando-se". Para além de uma questão linguística – que neste caso pressupõe um domínio excelente da segunda língua –, também é acrescido um fator social e psicológico na constituição deste processo. Para desnativizarse, el aprendiz debe adaptarse y reajustar sus comportamientos y pensamientos de acuerdo con los "otros". Se mueve él hacia otras normas culturales para poder llevarlo a cabo. El resultado es que se aproxima más a las formas lingüísticas proprias del otro grupo sin interferencia de su L1. La persona que no se desnativiza solamente asimila la nueva información, pero siempre dentro del marco L1 de sus comportamientos y pensamientos originales. Quiere decirse que mantiene independencia de las normas del otro grupo y suele ocurrir cuando tiene insuficiente acceso (en frecuencia y duración) a aquellas normas. El resultado es que se mantiene una constante interferencia de la L1 y, por consecuencia, formas idiosincráticas de la L2 (GRIFFIN, 2005, p. 42). TÓPICO 2 | TEORIAS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS 177 Como você pode perceber, cada uma das teorias já elencadas foi criada com base na observação de fenômenos específicos: crianças aprendendo a língua materna; crianças aprendendo uma língua estrangeira; indivíduos em situação de bilinguismo, sujeitos que aprenderam uma língua segunda por motivos de trabalho ou sobrevivência; pessoas que mudaram de país e mergulharam em uma nova cultura, mas mantiveram suas raízes presentes, e também pessoas que permitiram que a língua e a cultura segunda suplantassem completamente suas origens. 3.3 ACOMODAÇÃO Conforme estudamos, as teorias ambientalistas são aquelas que levam em consideração os fatores socioculturais de interação e o papel destas variáveis na aquisição de uma segunda língua. A teoria da acomodação é uma teoria situada no âmbito das teorias ambientalistas, assim como a aculturação e a desnativização. O principal teórico desta corrente é Giles (1977), que defende que o que importa não é como dois grupos falantes se veem entre si, mas sim como o indivíduo vê a si em relação com o seu grupo. De acordo com Griffin (2005, p. 43), trata-se da "percepción de una persona con respecto a su propio grupo sociocultural por un lado, y con respecto a las personas de otro grupo por otro". O centro desta pesquisa se debruça sobre a questão do quão motivado se pode sentir um indivíduo por tomar distância do seu grupo de língua materna. Giles (1977) sinaliza que os sujeitos em comunicação em uma L2 marcam sua identidade de modo mais ou menos consciente, quando utilizam formas linguísticas. Seguindo a vontade de se integrar, um falante busca imitar os modelos nativos com o objetivo de interagir com os grupos falantes deste modelo. Por exemplo, um brasileiro de origem hispânica que se mude para a Comunidade Autônoma da Galícia, na Espanha, e que não domina o espanhol falado naquele país. Este falante se identifica com o país por possuir raízes hispânicas, no entanto, ao interagir com nativos, decide adotar expressões linguísticas utilizadas por eles, como dizer "hostia" (quando está enojado), "adiós, venga" (quando se despede), "un bico" (quando manda um beijo), "rapaza" (quando se refere a uma mulher jovem) etc. As situações de acomodação, apesar de constituírem um caso singular, podem ser bastante recorrentes em situações de deslocamento geográfico. Isso pode ocorrer por razões de ordem diversa, sendo importante nuances como o prestígio da L2 e o desejo do falante se sentir integrado em uma determinada comunidade linguística. NOTA 178 UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA FIGURA 79 – RUA EM SANTIAGO DE COMPOSTELA - ESPANHA FONTE: Acervo do autor No quadro seguinte, podemos perceber a relação entre o grau e identificação do aprendiz com o seu grupo de língua materna (L1) e o nível de motivação por aprender uma segunda língua (L2): QUADRO 7 – IDENTIFICAÇÃO ÉTNICA E MOTIVAÇÃO RELACIONADA COM A AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUAS (ASL) Alta motivación Baja motivación 1) Identificación con próprio grupo Poca Mucha 2) Comparación inter-étnica Favorable Desfavorable 3) Percepción de vitalidade etno-lingüística Poca Mucha 4) Percepción de limites de próprio grupo Blandos / abiertos Duros / cerrados 5) Identificación con otras categorias sociales Mucha Poca FONTE: Griffin (2005) De acordo com Griffin (2005), se um indivíduo mantém fortes laços de identificação com seu grupo sociocultural ou étnico, o sujeito manifestará menos motivação no momento de aprender uma língua segunda (é o caso de pessoas ultranacionalistas). Griffin (2005) ainda menciona que Giles estabelece as noções de fronteiras “duras” e “brandas”. As fronteiras duras são aquelas que um indivíduo é incapaz de transpassar com facilidade. Já as brandas permitem que o indivíduo se acomode em um grupo diferente do seu. 179 Neste tópico, você aprendeu que: • Chomsky possibilitou um importante debate quando rebateu o Behaviorismo de Skinner. • As teorias ambientalistas observam a questão da influência social sobre o indivíduo. • A Aculturação é uma teoria que se debruça sobre a situação pela qual passa uma pessoa durante a adaptação em uma nova cultura. • A Desnativização é uma teoria cujo enfoque se centra em uma mescla de questões de socialização com cognição. • Giles (1977), autor que fundamenta a teoria da acomodação, defende que o que importa não é como dois grupos falantes se veem entre si, mas sim como o indivíduo vê a si próprio em relação ao seu grupo. RESUMO DO TÓPICO 2 180 AUTOATIVIDADE 1 Assinale a teoria que não constitui uma das Teorias da Aquisição da Linguagem estudadas: a) ( ) Condutivismo refutado b) ( ) Acomodação c) ( ) Desnativização d) ( ) Aculturação e) ( ) Estruturalismo 2 Observe as seguintes assertivas: I - As teorias ambientalistas se debruçam sobre a questão da influência social sobre o indivíduo. II - O pidgin é amostra pura da língua estrangeira. III - A aculturação anula todas as referências anteriores no cérebro do falante. IV - A aculturação é um fenômeno surgido em função do American Way of Life. V - A desnativização é uma teoria surgida em função do condutivismo rebatido. Agora, marque a alternativa correta: a) ( ) Apenas V. b) ( ) Todas estão corretas. c) ( ) Apenas a assertiva I é correta. d) ( ) I e III estão corretas. e) ( ) I, II e IV estão corretas. 181 TÓPICO 3 A QUESTÃO DO BILINGUISMO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO O conceito de bilinguismo foi introduzido na Unidade 2. Você recorda a descrição que expressava melhor o nosso entendimento em relação a este termo? Na ocasião, mencionamos que a melhor definição de "Bilinguismo" havia sido empregada pelo Diccionário Enciclopédico de las Ciencias del Lenguaje, de Ducrot e Todorov, que define como bilíngue todo sujeito que é capaz de dominar duas línguas com níveis diferentes (podendo-se saber mais de uma língua do que outra). No presente tópico, aprofundaremos algumas questões relativas ao termo, estudando conceitos como "bilinguismo individual", "bilinguismo social", "diglossia", "alternância de código" e também discorreremos sobre a questão do bom aprendente de línguas. Cada uma dessas abordagens será importante para nos situar no âmbito da aquisição do espanhol como língua estrangeira. FIGURA 80 – O PARADIGMA MENTAL DO FALANTE NO MOMENTO DA FALA: EM QUAL LÍNGUA SE EXPRESSAR? FONTE: Disponível em: <http://www.sinembargo.mx/wp-content/ uploads/2015/11/Persona-pensando-1.jpg>.Acesso em: 13 out. 2017. O bilinguismo, enquanto uma capacidade do sujeito de se comunicar de forma independente e eficaz, há muito constitui um foco de interesse da linguística aplicada, sobretudo no âmbito da língua espanhola. Sendo o castelhano (espanhol) uma língua que passou a coexistir com outras já faladas nas comunidades autônomas da Península Ibérica (como o catalão, o galego, o euskera, o valenciano e outras), a Espanha é o local de onde vem uma grande parcela dos estudos de caso no mundo hispânico. UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 182 Em 2016 ocorreu, na cidade de Alicante (Espanha), um dos congressos mais importantes dedicado exclusivamente ao assunto e organizado pela Sociedad Española de Didáctica de la Lengua y la Literatura: XVI CONGRESO INTERNACIONAL DE LA SOCIEDAD ESPAÑOLA DE DIDÁCTICA DE LA LENGUA Y LA LITERATURA. No evento foram debatidos diversos assuntos relativos à didática de língua e literatura em contextos bilíngues. DICAS Você pode acessar gratuitamente o livro com os anais do evento disponibilizado pela organização. O download poderá ser feito através do acesso ao seguinte website: <https://web.ua.es/es/sedll/publicacion/publicacion.htm>. São 1.056 páginas de material de altíssima qualidade. Contextos experienciais e pesquisas inéditas sobre o assunto. 2 BILINGUISMO SOCIAL O conceito de bilinguismo social está relacionado à existência de duas línguas em um único território. Este fenômeno possui motivações de ordens social e individual. O bilinguismo ligado a questões territoriais é uma das formas mais comuns de bilinguismo, dadas as questões históricas responsáveis pela circulação e interação entre pessoas de origens distintas, como o colonialismo, os processos migratórios (conforme estudamos na Unidade 2), a unificação de diversos territórios por motivos políticos e também as zonas de fronteiras. Segundo o Instituto Cervantes (s.d.), calcula-se que atualmente metade da população mundial seja bilíngue funcional em decorrência dos fatores sócio-históricos. O bilinguismo funcional é uma modalidade de bilinguismo na qual o falante utiliza a língua de acordo com o acontecimento comunicativo no qual é envolvido (por exemplo, quando alguém lhe pede uma informação em língua estrangeira e o falante é plenamente capaz de se comunicar, ou então quando necessita realizar transações comerciais, como no fenômeno pidgin, conforme vimos anteriormente). TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO BILINGUISMO 183 Em sua respeitada obra intitulada Bilingüismo y contacto de lenguas (1986), os autores Appel e Muysken (1986) estabelecem três situações possíveis de bilinguismo social. Uma delas ocorre quando existem, em dois territórios, duas comunidades monolíngues (no caso de uma população colonizadora e o povo colonizado). A segunda é quando praticamente toda a população é bilíngue. De acordo com os autores, esta circunstância é bastante comum em algumas localidades da Índia e da África. O último tipo de situação ocorre quando há um grupo monolíngue, o qual geralmente é dominante, e outro minoritário bilíngue. Um exemplo desses casos é o caso do inglês em relação à língua galesa. Quando se pensa em bilinguismo, é necessário levar em conta que as línguas faladas tendem a ser utilizadas em contextos diferentes e para usos sociais distintos. Devido a isso, com frequência as línguas se cruzam e os falantes interagem de forma natural. Você já parou para pensar como o bilinguismo social é uma realidade presente na vida de milhares de pessoas? No Brasil, a língua oficial dos brasileiros é o português e, exceto em localidades muito específicas – conforme mencionamos anteriormente, como em algumas localidades do Sul do Brasil –, a língua falada socialmente é o português. No entanto, ao viajarmos para outros países, percebemos que o bilinguismo geográfico é mais habitual do que imaginamos. Os moradores dos países do norte da Europa, por exemplo, geralmente falam suas línguas maternas (sueco, dinamarquês, finlandês) e também o inglês como segunda língua. No entanto, cabe sinalizar que cada região possui suas particularidades específicas, que ocorrem em decorrência do processo histórico e sociocultural pelo qual a região passou ao longo do tempo. FIGURA 81 – CANADÁ – UM PAÍS DE BILÍNGUES FONTE: Disponível em: <http://www.worldatlas.com/upload/f9/ fe/16/3809855101-a38e6f2082-z.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2017. O bilinguismo presente em parte dos países do norte da Europa, como a Suécia, Finlândia e Noruega, geralmente faz parte do que se entende por dimensão educativa. Os moradores dessas regiões são ensinados e estimulados a se comunicar em uma segunda língua. Esta espécie de "bilinguismo adicional" tem como principal Motivações sociais Motivações individuais Bilinguismo social UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 184 objetivo capacitar os falantes a obter uma competência comunicativa e cultural em duas línguas. De acordo com o Instituto Cervantes (s.d.), esse parâmetro é entendido como um "modelo pluralista". A segunda língua, no caso dos países mencionados, com frequência funciona como um agente facilitador do contato entre habitantes dos países vizinhos, visto que cada qual possui seu próprio idioma. Ao contrário desse modelo educativo, há também o bilinguismo substrativo, ou assimilacionista, no qual há uma notável busca por fazer com que o aluno se comunique somente na segunda língua. Este modelo, de acordo com o Instituto Cervantes, torna por fazer com que se esmaeçam as referências que o aluno possui de sua língua primeira e também de sua cultura. Na Espanha, por exemplo, há muito se reclama no âmbito das comunidades autônomas de uma predominância selvagem do castelhano sobre outras línguas locais. Há, também, reclamações relativas à cultura que se vende ao mundo como espanhola (como touradas, dança flamenca etc.), assim como a supressão de nuances locais em detrimento das características culturais típicas de Castilha e Andalucía. 3 BILINGUISMO INDIVIDUAL Ao longo do tempo, as perspectivas tradicionais entendiam o bilinguismo somente como um fenômeno exclusivo de pessoas que possuíam um domínio nativo de duas línguas. Com o passar do tempo, refletiu-se muito sobre este aspecto e outras vertentes passaram a entender o bilinguismo também a partir de uma ótica individual, ou seja, a reconhecer como bilíngues pessoas que aprenderam uma segunda língua depois de ter passado pela infância. Você recorda quando falamos sobre a abordagem de U. Weinreich (1952), para quem o bilíngue constituía um indivíduo capaz de usar duas línguas de forma alternada? De fato, na esteira desse entendimento, muitos outros teóricos passaram a admitir o bilíngue como a pessoa suficientemente hábil no exercício da competência comunicativa de outro idioma além da sua língua materna. De acordo com o Instituto Cervantes (s.d.), são cinco as formas mais populares de bilinguismo: O bilinguismo equilibrado ocorre quando o falante possui uma competência alta e muito parecida em ambas línguas que fala. Ele é capaz de utilizar os dois idiomas em circunstâncias igualmente diversas. O bilinguismo produtivo constitui uma capacidade do indivíduo de falar, escrever, escutar e ler em ambas línguas. O bilinguismo receptivo implica nas habilidades de escutar e ler em sua segunda língua. No entanto, o sujeito não é capaz de falar e tampouco escrever na L2. Já TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO BILINGUISMO 185 as modalidades de bilinguismo fluido, pouco fluido e dependente constituem etapas nas quais o sujeito expressa o grau de dependência que o falante possui em relação à sua língua materna. Por fim, o bilinguismo funcional é uma forma que se distingue bastante das outras quatro, pois nesta modalidade a pessoa é capaz de usar muito bem os dois idiomas, não importando o contexto no qual ela esteja inserida. Não há, também, interrupção da fluidez em qualquer umdos idiomas. Nesta modalidade, diferentemente do bilinguismo equilibrado (na qual o falante possui uma competência alta e parecida em ambas línguas), o falante possui um alto nível de conhecimento e competência em ambos idiomas em que se comunica. FIGURA 82 – O CÉREBRO DO BILÍNGUE FONTE: Disponível em: <http://www.liveandlearn.mx/wp-content/ uploads/2015/09/beneficios-bilingue-cerebro.jpg>. Acesso em: 5 out. 2017. 4 DIGLOSSIA A Diglossia é um termo cunhado por C. Ferguson em 1959. De acordo com o Instituto Cervantes (s.d.), a diglossia ocorre quando uma comunidade linguística utiliza duas variedades de uma língua (diglossia em sentido estrito) ou duas línguas diferentes (diglossia em sentido amplo) em âmbitos específicos e para funções sociais distintas. Diferentemente do bilinguismo, que é um conceito que busca dar conta da versatilidade do falante em se comunicar em dois idiomas distintos, a diglossia é um conceito que visa dar conta das características sociais de um dado local. Este conceito busca entender também o tema da função social de determinada língua em uma comunidade específica. Un ejemplo de diglosia en sentido estricto es el que se da en los países arabófonos, donde se reserva el árabe clásico ('al-fusha) para usos religiosos y oficiales, mientras que las distintas variedades del árabe coloquial (aljamía) se utilizan en la comunicación familiar y cotidiana. En el otro extremo, un ejemplo de poliglosia (en sentido amplio) puede encontrarse en Tanzania, país en el que el inglés se utiliza para la política, el comercio y la universidad; el suahelí o swahili, para la comunicación entre los distintos grupos del país; y las diferentes lenguas vernáculas, en la comunicación local y familiar (Diccionario de términos clave de ELE, s.d., s.p.). UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 186 De acordo com Ferguson (1959), pode haver uma série de fenômenos. O primeiro fenômeno diz respeito à função. Suponhamos que exista uma variante alta (A) e uma variante baixa (B). Cada uma delas é usada somente em certos âmbitos e domínios específicos: a variedade A se usa em situações formais e a B em contextos informais. Outro fenômeno é a noção de prestígio. A comunidade acredita que a variedade A é mais importante e bonita do que a variedade B. Outro fenômeno ocorre quando a variante B (de menor prestígio) é considerada língua materna, mas a variante A se aprende em contextos formais, sendo estes escolares e acadêmicos. O fenômeno relativo ao sistema gramatical ocorre quando a variante A possui categorias gramaticais que são inexistentes na variante B. O fenômeno relativo ao léxico indica que a variante A possui um léxico considerado culto, ao passo que a variante B carece de status similar. Por conseguinte, a variante B possui um manancial de expressões próprias do âmbito familiar e também da cultura popular. A estandarização, outro dos fenômenos possíveis elencados por Ferguson, ocorre quando a variante A, por ter maior prestígio, possui um número considerável de gramáticas, dicionários e normas ortográficas que normatizam o processo de aquisição e o acesso. Em um extremo oposto, a variante B não possui nada similar. Em decorrência disso, naturalmente a variante A possui uma tradição literária consolidada, algo que não ocorre na variante B. O último fenômeno diz respeito à estabilidade. As funções de diglossia podem durar por muitos séculos e incluir a aparição de variações que mesclam ambas as línguas (A e B). Este é um caso bastante curioso, dado que o uso de duas línguas por séculos ocasiona um interessante processo de fusão. No Brasil, em algumas regiões fronteiriças, como em Rivera (lado uruguaio) e Santana do Livramento (lado brasileiro), no Estado do Rio Grande do Sul. Observe com atenção a seguinte letra de música em que podemos perceber como funciona esta mescla entre as línguas: Du nôsso yeito (Chito de Mello) Por la mistura de las cultura donde natura tuvo su rol Nació la fama de esta amalgama que alguno llama de portuñol. Es un dialecto pluscuamperfecto con un efecto bien popular y es que en River }bis varias maneras }bis la bagacera }bis tiene de hablar }bis Alguien se manda pa' la Saranda dando una banda por esnobar. Mientras el viento sopla lamento de asentamientos irregular. Temos riqueza muita molea mas a pobreza causa dolor. TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO BILINGUISMO 187 Por eso cara no es cosa rara estar de cara nesta región Y es vieja dica que de La Bica quem bebe fica por adopción. Aquí se chia ou se assobia y en una fria no es bueno entrar. Los poderosos }bis son cavernosos }bis y el peligro }bis puede bailar }bis Como una herida que un niño pida plata o comida na plaza Flor. Bueno bagazo aquele abrazo digo de paso hay que luchar. Y es lo que canta esta garganta y no adelanta me criticar. Soy fisurado nel misturado hablar mezclado pa' mí es mu-mu No es que me gavo }3x ni que me alabo }3x pero me lavo }3x nel DPU, }3x A música de Chito de Mello fala sobre o "yeito" (jeito) de viver na fronteira do Brasil. Como você pode perceber, além de uma predominância de palavras do português e do castelhano, também são detectáveis palavras que constituem uma mescla de ambas línguas. Trata-se de um fenômeno linguístico bastante interessante que nos permite compreender a última categoria descrita por Ferguson, quando o autor menciona que a coexistência de dois idiomas por alguns séculos torna por fundir ambas línguas e assim fazer surgir uma nova variante. FIGURA 83 – DIGLOSSIA, UM FENÔMENO POSSÍVEL FONTE: Disponível em: <http://culturesconnection.com/wp- content/uploads/2014/10/5-raisons-proposer-cours-de-langue- entreprise-@Andrew-Rich.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2017. De acordo com o Instituto Cervantes (s.d.), há, ainda, uma visão ampliada do conceito de Diglossia. Trata-se de um entendimento surgido no âmbito da sociologia da linguagem e seu principal autor é J. Fishman (1972). Para o estudioso, UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 188 a diglossia abarca todas as situações nas quais existe distribuição funcional de duas variantes linguísticas, sejam dialetos, socioletos, registros de uma única língua ou também duas línguas distintas: Concebida de este modo, la diglosia amplia comprende un continuum de situaciones que van desde los supuestos en los que se usan lenguas diferentes (bilingüismo superpuesto) hasta los casos de mera variación estilística. Sin embargo, esta concepción amplia no ha estado exenta de críticas, porque, en esos términos, todas las sociedades son diglósicas y el concepto comprende entonces fenómenos de muy diferente naturaleza (Diccionario de términos clave de ELE, s.d., s.p.). Você já viajou para algum lugar no qual havia o uso de diglossia? Além da experiência de fronteira no Brasil, conforme vimos o caso de Santana do Livramento e Rivera, também é possível encontrar diglossia no Paraguai (onde o guarani é uma língua amplamente difundida e falada por uma grande maioria da população paraguaia), no México (onde existe um número altíssimo de línguas indígenas coexistindo com o espanhol) e na Espanha (onde existem diversas línguas e variantes faladas nas comunidades autônomas). Evidentemente estes são exemplos pontuais e mais próximos da realidade experiencial de um brasileiro. Devido à alta probabilidade de ocorrer em distintos contextos, este fenômeno é bastante comum em comunidades anglofalantes, hispanofalantes, árabes, judias e asiáticas. DICAS Você pode ouvir a música no Youtube através do link: <https://www.youtube. com/watch?v=tod62psd6QU>. A alternância de código constitui um recurso em que o falante utiliza duas ou mais línguas em um discurso. São variadas as motivações que o levam 5 ALTERNÂNCIA DE CÓDIGO Chito de Mello - Du Noso Yéito (Rivera/Santana do Livramento - ROU/BRA, 2010 TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO BILINGUISMO 189 FIGURA 84 – A ALTERNÂNCIADE CÓDIGO FONTE: Disponível em: <https://morelosfundacionunam.files. wordpress.com/2015/08/cerebro_02.jpg>. Acesso em: 13 out. 2017. No processo de observação deste fenômeno se utilizam dois termos: matrix language (para referir-se à língua que serve de base) e embedded language (para se referir às outras línguas ou dialetos que são inseridos no discurso do falante). De acordo com o Diccionario de términos clave de ELE, existem algumas características formais que embasam o processo de alternância de código. A alternância de código afeta os níveis léxicos e gramaticais. Diferentemente do último processo de diglossia que estudamos (recorde-se do exemplo da música de Chito de Mello), não se altera a estrutura morfissintática das línguas que estão sendo utilizadas. Neste caso, construções como "yeito" não ocorrem. Além disso, é natural que se mude o código em meio a uma frase quando coincidem os elementos em ambas línguas, como na construção "En el fondo siempre fui un freak". A transição entre um ou outro código geralmente ocorre com uma certa fluidez, sem a detecção de pausas, seguindo-se o ritmo e a entonação. O Diccionario de términos clave de E/LE (s.d., s.p.) traz: La alternancia de código, como hemos dicho, viene motivada por múltiples circunstancias y cumple una amplia gama de funciones en la comunicación. He aquí algunas de ellas: • indicar un cambio de tema o de actividad; • seleccionar un destinatario de entre un grupo de oyentes; • imitar, introducir un toque de humor; • crear un juego de palabras; • citar (estilo directo o indirecto); • hacer un comentario marginal; • matizar o enfatizar; • mantener un secreto con alguno(s) de los oyentes; a alternar entre uma e outra. De acordo com o Instituto Cervantes (s.d., s.p.), este é "un fenómeno natural y común entre individuos bilingües, cuya competencia pragmática les permite escoger (incluso de un modo inconsciente) entre uno u otro código, según el interlocutor, la situación, el tema o el propósito de la interacción". Este fenômeno vem sendo estudado ao longo do tempo, sobretudo porque pressupõe um domínio satisfatório das línguas utilizadas no processo interativo. UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 190 • practicar una lengua determinada; • alardear de un buen nivel en la lengua en cuestión; • En ocasiones se cambia de código, sencillamente, porque no existe (o no se conoce) un término, una expresión, un refrán equivalente en la lengua base. A alternância de código, efetivamente, possui um caráter intencional e é produzida com fins de gerar um efeito no interlocutor. Existem algumas situações de uso de uma língua segunda que não constituem propriamente a alternância de código. São algumas situações nas quais o falante obtém um "empréstimo" linguístico no qual utiliza palavras estrangeiras, geralmente quando estas não possuem uma tradução para o idioma no qual está falando. É o caso de muitas palavras que vêm do âmbito informático, por exemplo, layout e templates. Estes casos não constituem exemplos cabais de alternância de código, visto que se tratam mais de uma condição imposta pelo uso de uma tecnologia estrangeira do que por uma opção do falante. Para entender melhor como funciona a alternância de código com fins de produção de efeitos no interlocutor, sugerimos que você leia atentamente a letra da música "Yendo a la casa de Damián". Você pode também a ouvir no Youtube enquanto lê. O link consta no UNI NOTA que se encontra abaixo da letra da música. Observe atentamente as expressões marcadas em negrito. Yendo a la casa de Damián – Cuarteto de Nós Yendo un weekend a lo de Damián Tenía urgencia de hablar con el man Caminé porque pinché mi van Vi una mina de la que soy fan Una que sale por el canal Sony En una serie que está con un pony Y en mi casa del barrio Marconi Siempre la veo tomandowme un Johnny La saludé pero me hechó fly Porque el programa era en MTV Hacía un spot de Carefree Y un jingle de los jeans Lee Le dije "A mi me gusta el rock" Pero quedó en estado de shock Cuando escribí en una hoja de block Que era más fea que el señor Spock Y que se rellena el soutien Con corned beef y chou mien Y a pesar de que usa Channelle Toma un cóctel con nafta de Shell El security se puso heavy Era malo pero usaba Levy's Y me tiró desde la limousine En el ojo un vaso con gin Con mi gargajo en la cara de George Se subió con las chicas a un Porsche Se pensaba que era un tipo VIP Masticando una papa chip Como empezó a hacer un strip Y quedaba solo en slip Me clavó en el ojo un clip Dijo: "en tu tumba va a decir RIP" Ah, ah, yendo a la casa de Damián Ah, ah, camino por el bulevar Ah, ah, yendo a la casa de Damián No se si es que ya no veo o que ya no entiendo Por qué me cuesta tanto llegar Era happy hour en el cabaret Era fashion y tenía moquette Como un pub cool y con pool El dueño es de Liverpool Y después de un breve impass Entré a ver un show con free pass De un master que tocaba jazz A pesar de tener un bypass TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO BILINGUISMO 191 Ah, ah, yendo a la casa de Damián Ah, ah, camino por el boulevard Ah, ah, yendo a la casa de Damián No se si es que ya no veo o que ya no entiendo Por qué me cuesta tanto llegar Cruzando la calle quedé de flash Cuando vi dos niñas fumando hash Escuchaban trash y The Clash Jugando a quién tomaba más splash Y como una vez en un vernisage Me dio un ataque de soumenage Cuando dijeron "Por diez pesos cash Hacemos juntos los tres un menage" De los nervios me vino un tic En el fondo siempre fui un freak Les di fuego con yesquero Bic Pero me pareció poco chick Que transaran por una crush Por un nerd de medias de plush Que les pintó los labios con rouge Yo le escupí su t-shirt de Bush Vino a hablarme uno medio gay Yo ponía stop y el ponía play Le gustaba el Big Mac y Tupac Vendía crack y tomaba Prozac Y gritó escupiendo un snack "El master hace playback" Lo destriparon como hacía Jack Sin poder terminar su cognac Pero cayeron desde un penthouse En mi ojo un teclado y un mouse Ciego y perdido por el stress Peor que en un secuestro express Yo que en inglés solo se decir 'yes' Pensé en el libro de Herman Hesse 'Soy un loser como un boyscout' Y de la vida me declaré out Ah, ah, yendo a la casa de Damián Ah, ah, camino por el boulevard Ah, ah, yendo a la casa de Damián No se si es que ya no veo Ah, ah Ah, ah Ah, ah, yendo a la casa de Damián No se si es que ya no veo o que ya no entiendo Por qué me cuesta tanto llegar DICAS Você pode ouvir a música no Youtube através do link: <https://www.youtube. com/watch?v=rBFlODC3ef4>. Cuarteto de Nos - YENDO A LA CASA DE DAMIAN UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 192 A música, parte integrante do album Yendo a la casa de Damián, da banda de rock uruguaio Cuarteto de Nós, constitui um interessante exemplo em que o letrista alterna o código linguístico para obter efeitos de natureza diversa: para produzir o efeito de rima (Me saludé pero me hechó FLU / Porque el programa era en la MTV / Hacía un spot de Carefree) e também para a produção de sentido, trazendo à tona indiretamente a quantidade de estrangeirismos utilizada em um contexto social hispanofalante. Outro fator interessante é que na canção, além da língua espanhola e da língua inglesa, também são utilizadas expressões em francês (como vernisage, soumenage, chick, rouge, cabaret). Como você pode perceber, o processo de alternância de código pode se dar em circunstâncias diversas. A música da banda Cuarteto de Nós dá conta de dois ou mais aspectos possíveis. Sugerimos que você reflita sobre as circunstâncias nas quais precisou alternar o código e se expressar em uma língua estrangeira. Caso isso ainda não tenha acontecido, tente recordar se em algum momento você presenciou a ocorrência deste fenômeno linguístico. Observe um exemplo bastanteinteressante do multilinguismo. No vídeo que recomendamos a seguir você encontrará recortes de entrevistas dadas pela cantora colombiana Shakira em que ela fala em cinco idiomas diferentes: espanhol, inglês, português, francês e italiano. NOTA Shakira Hablando en 5 idiomas FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=p_ S94TaFwqk> ou <http://bit.ly/2cOWCEi>. Acesso em: 5 out. 2017. 6 O BOM APRENDIZ DE LÍNGUA Ao longo de sua formação, você já deve ter encontrado diversos mitos a respeito da aprendizagem de línguas. No âmbito dos estudos de aprendizagem e aquisição, com frequência se utiliza o termo "bom aprendiz" para descrever o estudante que alcança melhores frutos resultantes de seus esforços em TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO BILINGUISMO 193 aprender uma segunda língua. No âmbito do ensino-aprendizagem não se trata simplesmente de frequentar as aulas e realizar as tarefas ensinadas pelo professor. Já na esfera da aquisição (imersão), não basta simplesmente buscar uma exposição temporalmente mais ampla a diversas situações linguísticas. O ponto principal que dá conta do termo "bom aprendiz" se situa no âmbito do aproveitamento. Como o aprendiz gerencia o aprendizado que recebe e capitaliza da melhor forma possível para o seu proveito pessoal? El término fue acuñado en un proyecto de investigación al que daba nombre (The Good Language Learner), llevado a cabo en los años 1974- 75 por un grupo de expertos del Centro de Lenguas Modernas del OISE en Toronto, Canadá. Con este proyecto se pretendía comprobar qué uso hacían los estudiantes de las estrategias de aprendizaje. H. H. Stern, uno de los investigadores, ofreció como primer resultado una lista de diez estrategias que aplicaban los buenos aprendientes: de planificación, de acción, de empatía, de atención a la forma, de atención al sentido, de experimentación, de práctica, de comunicación, de monitorización y de internalización. (Diccionario de términos clave de E/LE, s.d., s.p.). FIGURA 85 – O BOM APRENDIZ DE LÍNGUA FONTE: Disponível em: <http://www.sophimania.pe/media/ images/2015/julio/idiomas_home.jpg>. Acesso em: 13 out. 2017. De acordo com R. Ellis (1985), em sua obra intitulada Entendendo a aquisição de segundas línguas, um bom aprendiz de uma língua: a) responde positivamente à dinâmica de grupo nas situações de aprendizagem e não fomenta sentimentos como a ansiedade; b) aproveita todas as ocasiões em que é possível praticar a língua que está aprendendo; c) explora ao máximo todas as ocasiões que lhe apresentam para praticar a compreensão do discurso em língua estrangeira; d) complementa o aprendizado recebido buscando contatar outros falantes da língua estrangeira, e anotando, por exemplo, as palavras que passou a conhecer a partir desse contato; e) possui uma notável capacidade de análise para perceber e categorizar os traços linguísticos da língua estrangeira, assim como a perceber os próprios erros que comete; f) possui motivos para aprender uma língua estrangeira (as motivações, que estudamos no tópico anterior); g) desenvolve com motivação as tarefas que lhe são apresentadas; h) está disposto a correr riscos, sem medo de passar vergonha por falar incorreto; i) é capaz de se adaptar a diferentes situações de aprendizagem (uma aula ao ar livre, imersão linguística, ensino formal, táticas inovadoras etc.). UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 194 Há de acrescentar, ainda, que esta é uma área de estudos que envolve diversas perspectivas (sociológicas, psicológicas, didáticas) e não se resume a uma lista de características a serem incorporadas. Conforme viemos discorrendo desde o princípio deste livro de estudos, a Linguística Aplicada ao ensino de línguas não busca criar modelos facilmente exequíveis, tais como receitas, mas sim possibilitar que se produzam estudos focados na tentativa de entendimentos psicobiológicos, cognitivos, sociológicos, didáticos e afetivos. Ainda discorrendo a respeito do termo "bom aprendiz", o Diccionario de términos clave de E/LE (s.d., s.p.) afirma o seguinte: La línea de investigación que estudia el comportamiento del buen aprendiente y las estrategias que aplica a su estudio de la lengua se ha revelado particularmente fecunda en su relación con la didáctica. En especial, en el campo de las estrategias de aprendizaje se han publicado numerosas obras en las que se intenta aplicar a la enseñanza los resultados de la investigación. De ese modo, ser un buen aprendiente de lenguas se convierte en una meta para todos los alumnos; con ella se añade a los tradicionales objetivos de un currículo, que se relacionaban con el conocimiento y uso de la lengua, uno nuevo, relacionado con el aprendizaje: la mejora de las habilidades y destrezas de aprendizaje de segundas lenguas. Você recorda quando abordamos o tema das estratégias metacognitivas na segunda unidade deste livro de estudos? Acadêmico! Recorde que no Tópico 1 da Unidade 2 afirmamos que as estratégias cognitivas são as técnicas que o estudante da língua adota para melhor aprender a língua objeto. NOTA Pois bem, o bom aprendiz é o estudante que melhor consegue capitalizar o conhecimento através das estratégias cognitivas que adota. Ao adotar estratégias cognitivas que funcionam (geram resultado), o estudante – a esta altura já um "bom aprendiz" – toma consciência dos efeitos de determinadas estratégias e passa a executá-las de forma consciente, que é o que a Linguística Aplicada entende como execução de estratégias metacognitivas. 195 Neste tópico, você aprendeu que: • O bilinguismo social está relacionado à existência de duas línguas em um único território. • Existe o bilinguismo individual, para além de situações comuns de aquisição. • O fenômeno Diglossia possui diversas especificidades. • A alternância de código é um fenômeno natural em indivíduos bilíngues. • A Linguística Aplicada busca entender a questão do bom aprendiz de línguas. RESUMO DO TÓPICO 3 196 AUTOATIVIDADE 1 Observe as seguintes assertivas: I - O conceito de bilinguismo social está relacionado à existência de duas línguas em um único território. II - O bilinguismo social pressupõe motivos sociais e individuais. III - O bilinguismo adicional tem como principal objetivo capacitar os falantes a obter uma competência comunicativa e cultural em duas línguas. IV - Na atualidade, entende-se como bilíngue o sujeito que domina perfeitamente duas línguas. V - O bilinguismo equilibrado ocorre quando o falante possui uma competência muito baixa em ambas línguas que fala. Estão corretas: a) ( ) I, II e V b) ( ) IV, II e V c) ( ) I, II e V d) ( ) III e IV e) ( ) I, II, III e IV 2 As formas de bilinguismo, de acordo com o Instituto Cervantes (s.d.), são: a) Equilibrado, Receptivo, Funcional, Fluido, Pouco Fluido e Independente. b) Receptivo, Produtivo, Funcional, Fluido, Pouco Fluido e Dependente. c) Equilibrado, Receptivo, Produtivo, Funcional, Fluido, Pouco Fluido e Dependente. d) Equilibrado, Receptivo, Produtivo, Funcional, Fluido, Pouco Fluido e Independente. e) Equilibrado, Receptivo, Funcional, Fluido, Muito Fluido e Independente. 197 TÓPICO 4 A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Tendo em vista o tema da aquisição de segundas línguas e a importância das competências oral e escrita neste processo, no presente tópico observaremos não somente o que dizem os teóricos da Linguística Aplicada sobre ambas as competências, mas abordaremos as possibilidades de trabalho destas no possível contexto experiencial de cada estudante da UNIASSELVI, seja o acadêmico um aprendiz da língua espanhola ou um professor que já esteja exercendo a profissão em sala de aula. FIGURA 86 – OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/- OjvBU1644-k/VqpthsxRN_I/AAAAAAAAAEY/vpEPfiHHjtM/ s1600/pcn.jpg>. Acesso em: 15 out. 2017. Nesse sentido, optamos por deixarpara encerrar o presente livro de estudos com questões que, para além de oferecer uma visão centrada na Linguística Aplicada da Língua Espanhola, também possibilitam um novo olhar sobre o trabalho da Língua Espanhola em sala de aula. Além do estudo sistemático das competências oral e escrita, também buscaremos entender a função social do desenvolvimento de ambas, lançando um olhar sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira. UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 198 2 A PRÁTICA ORAL NO ÂMBITO INDIVIDUAL E INSTRUTIVO De acordo com o Diccionario de términos clave de E/LE (s.d.), a competência oral é uma das competências mais difíceis no processo de aquisição de uma língua estrangeira. Devido ao seu caráter complexo (que envolve questões cognitivas/ percepcionais), muitos estudiosos situados no âmbito de aquisição de segundas línguas dedicaram-se com afinco à observação do tema. Em que pese o progresso científico, o avanço da disciplina e os descobrimentos inéditos da neurociência, ainda pairam muitas dúvidas em relação a este entendimento. Conforme você observou ao longo desta unidade, não são poucas as teorias de aquisição de segundas línguas e tampouco as hipóteses que visam entender como funciona este processo, como os importantes estudos feitos por Krashen e também por estudiosos posteriores. Fato incontestável é que a prática oral, com vistas ao desenvolvimento da competência oral, é um dos maiores desafios do professor de Espanhol como língua estrangeira. De acordo com o Instituto Cervantes (s.d., s.p.): Por práctica oral se entiende el conjunto de actividades de aprendizaje llevadas a cabo en un proceso instructivo con el fin de desarrollar la competencia comunicativa en su vertiente oral. Generalmente, cada actividad de práctica oral está orientada hacia unos aspectos concretos y persigue unos objetivos específicos, tales como: acrecentar la corrección o la fluidez, consolidar la gramática, ampliar el vocabulario, afinar la precisión léxica-semántica, perfeccionar la pronunciación, desarrollar actitudes de tolerancia etc. Ao longo do tempo, com o surgimento das teorias como o Condutivismo e o Estruturalismo, foram criados diversos métodos para desenvolver a oralidade na aula de Espanhol como língua estrangeira. Com vistas a estimular a competência comunicativa oral, alguns destes métodos mostraram-se falhos, com acertos e sem uma garantia uniforme de eficácia. As atividades com o objetivo de desenvolver a oralidade com frequência não se restringem ao espaço da sala de aula. A dinâmica depende, entre outros fatores, diretamente da metodologia estabelecida pelo professor. Existem registros de atividades realizadas, por exemplo, em laboratórios de línguas, com softwares elaborados para este fim, e também através da interação com nativos. Entre outros objetivos importantes, o desenvolvimento da autoconfiança, da autocorreção, do (re)conhecimento de um novo vocabulário linguístico e também da assimilação de novas ideias costumam ser alguns dos principais objetivos estabelecidos por professores de Espanhol. Sobre a divisão entre tarefas gramaticais e o desenvolvimento da oralidade na aula de língua espanhola, o Instituto Cervantes (s.d., s.p.) adverte que: Atendiendo a las diferencias tan notables entre unos y otros modelos didácticos, en ocasiones se plantea una dicotomía entre el estudio de la lengua escrita, con un énfasis especial en la gramática, y la práctica oral, centrada principalmente en las conversaciones cotidianas. Sin embargo, lo cierto es que esas dos opciones originariamente antagónicas han logrado reconciliarse, y en la actualidad generalmente TÓPICO 4 | A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE 199 ya no se entienden como mutuamente excluyentes, sino justamente como complementarias, ya que reflejan y combinan las dos vertientes del lenguaje humano: la lengua oral y la lengua escrita. Es cierto que determinados aprendientes, ya sea por motivos personales, educativos, profesionales, etc. sólo muestran interés por una de las dos; sin embargo, la mayoría aspira a un cierto dominio de ambas, de modo que entre sus expectativas se halla la práctica oral. De todos modos, las actividades lingüísticas relacionadas con la lengua oral suelen combinarse con las relacionadas con la lengua escrita, p. ej., unos amigos leen el diario y a continuación comentan alguna noticia; es lo que se llama integración de destrezas. Com base na pluralidade de pesquisas realizadas no âmbito da Linguística Aplicada, acredita-se que a postura fundamental para desenvolver a competência oral encontra-se no limiar entre o processo de ensino e o de aquisição, não havendo uma soberania de um processo sobre o outro, mas sim um caráter de complementariedade. Tendo em vista esta perspectiva, considera-se necessário o uso de ferramentas com vistas a auxiliar o aprendiz de Espanhol como segunda língua. Observe as seguintes ferramentas de interação real que podem ser utilizadas no âmbito individual de aquisição: FIGURA 87 – SPEAKY FONTE: Disponível em: <http://speaky-blog.com/wp- content/uploads/2017/03/filters-1-e1488464864187- 521x1024.png>. Acesso em: 15 out. 2017. Uma das ferramentas possíveis é a plataforma Speaky. Esta é uma plataforma disponível para Windows, Android e iOS. Através dela é possível interagir com falantes nativos de diversos idiomas, tudo através da plataforma. Você estabelece contato com a pessoa que deseja e interage diretamente com ela. Vale mencionar que durante o cadastro lhe é facultado mencionar o nível no qual você se encaixa na língua que deseja aprender, assim como o seu domínio nos idiomas que já fala. Trata-se de uma ferramenta funcional, de interação real e que pode possibilitar situações comunicativas reais de aquisição linguística. UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA 200 FIGURA 88 – LINGBE – PRÁTICA LINGUAGEM LIVRE FONTE: Disponível em: <https://play.google.com/store/apps/ details?id=com.lingbe.app>. Acesso em: 15 out. 2017. O Lingbe é um aplicativo da mesma natureza que o Speaky e também pode ajudar o falante a desenvolver a competência comunicativa oral através da interação com pessoas reais. Ambos sistemas são gratuitos, mas podem cobrar por serviços adicionais que venham a ser contratados pelo usuário. Desde um ponto de vista estratégico, são possibilidades complementares que podem servir de auxílio, na medida em que o aprendiz estará em contato com falantes nativos. Quando o trabalho ocorre no âmbito de sala de aula, consideremos as seguintes sugestões que podem vir a ser adotadas pelo professor para mediar o estímulo ao desenvolvimento da competência oral do aluno. Cassany, Luna y Sanz (1994 apud Diccionario de términos clave de ELE, s.d., s.p.) propõem quatro critérios para a classificação das atividades de expressão oral: Según la técnica: diálogos dirigidos (para practicar determinadas formas y funciones lingüísticas), juegos teatrales, juegos lingüísticos (p. ej., adivinanzas), trabajos en equipo etc. Según el tipo de respuesta: ejercicios de repetición mecánica, lluvia de ideas, actuación a partir de instrucciones (p. ej., recetas de cocina), debate para solucionar un problema, actividades de vacío de información etc. Según los recursos materiales: textos escritos (p. ej., completar una historia), sonido (p. ej., cantar una canción), imagen (p. ej.,. ordenar las viñetas de una historieta), objetos (p. ej., adivinar objetos a partir del tacto, del olor…) etc. TÓPICO 4 | A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE 201 Comunicaciones específicas: exposición de un tema preparado de antemano, improvisación (p. ej., descripción de un objeto tomado al azar), conversación telefónica, lectura en voz alta, debates sobre temas de actualidad etc. O Instituto Cervantes recomenda que em função do nível dos alunos e dos objetivos