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2017 Linguística apLicada à Língua EspanhoLa i Prof. Wellington Freire Machado Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof. Wellington Freire Machado Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 468.24 M149l Machado, Wellington Freire Linguística aplicada à língua espanhola / Wellington Freire Machado. Indaial: UNIASSELVI, 2017. 234 p. : il. ISBN 978-85-515-0117-7 1.Língua Espanhola. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Impresso por: III aprEsEntação Prezado acadêmico, primeiramente receba as boas-vindas ao Livro de Estudos de Linguística Aplicada à Língua Espanhola I. É com entusiasmo que compartilhamos este material planejado exclusivamente pensando em você, estudante do curso de Letras da UNIASSELVI. A criação desta obra instrucional baseou-se em princípios pedagógicos que visam não somente ao melhor aproveitamento da disciplina, mas também a sua autonomia no âmbito das questões aqui apresentadas. Antes de começarmos é importante que você saiba que a Linguística Aplicada à Língua Espanhola I é uma das disciplinas basilares do curso de Letras – Espanhol. O estudo desta matéria possibilita ao acadêmico um entendimento teórico-prático de temas que circundam a linguagem humana e a comunicação, algo inerente a todos nós. Ao estudar gradualmente este material você avançará em temas importantes, como a linguagem, os fenômenos linguísticos, o processo de ensino e aprendizagem, a aquisição da língua espanhola como língua estrangeira, o desenvolvimento das competências oral e escrita, o ensino de espanhol no Brasil e muito mais. O conhecimento adquirido nesta etapa fortalecerá a sua futura prática em sala de aula ao ensinar a língua espanhola, instrumentalizando-o a identificar impasses de ensino e aprendizagem e a traçar estratégias para o melhor aproveitamento dos seus alunos. Além disso, você se sentirá mais confiante em relação às questões ligadas à língua, à linguagem e aos parâmetros que refletem sobre o ensino de uma língua estrangeira. Desejamos a você um excelente estudo. Desbrave com prazer o incrível universo do curso de Letras da UNIASSELVI. Prof. Wellington Freire Machado IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA ............................................................................................... 1 TÓPICO 1 – UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA .................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 PARÂMETROS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DA LINGUÍSTICA ........................... 4 3 DICOTOMIAS SAUSSURIANAS E CONCEITOS IMPORTANTES ....................................... 9 3.1 LÍNGUA E FALA ............................................................................................................................. 9 3.2 SINCRONIA E DIACRONIA ......................................................................................................... 10 3.3 SINTAGMA E PARADIGMA......................................................................................................... 12 3.4 SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO (SIGNO LINGUÍSTICO) .................................................... 14 4 ESTRUTURALISMO E GERATIVISMO ......................................................................................... 16 5 FUNCIONALISMO: A TERCEIRA ONDA DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS ...................... 18 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 20 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 – LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA........................................... 23 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 23 2 PERSPECTIVAS DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA TEÓRICA ................................................... 24 3 AS LINGUAGENS ESCRITA E ORAL E SEUS PADRÕES ......................................................... 29 4 A CONSTITUIÇÃO DAS LÍNGUAS NEOLATINAS ................................................................... 34 5 A LÍNGUA ESPANHOLA E SUAS ORIGENS ............................................................................... 39 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 42 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 43 TÓPICO 3 – LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA ........................................... 45 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 45 2 A LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA: HISTÓRIA DA DISCIPLINA E CONCEPÇÃO INICIAL ......................................................................................... 46 3 PERSPECTIVA AMPLIADA DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA APLICADA .......................... 49 4 ÁREAS DE ATUAÇÃO DA LINGUÍSTICA APLICADA ............................................................. 51 4.1 LOGOPÉDIA .................................................................................................................................... 51 4.2 PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA .................................................................................................. 52 4.3 LEXICOGRAFIA .............................................................................................................................. 53 4.4 TERMINOLOGIA ............................................................................................................................ 54 4.5 TRADUÇÃO ASSISTIDA POR COMPUTADOR........................................................................ 54 4.6 FONÉTICA APLICADA ................................................................................................................. 54 4.7 LINGUÍSTICA FORENSE ...............................................................................................................54 4.8 ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA .............................................................................. 55 5 ESTUDO LINGUÍSTICO E ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA ............................................ 55 5.1 MARCO COMUM EUROPEU DE REFERÊNCIA PARA AS LÍNGUAS ................................ 57 5.2 ALGUMAS EXPERIÊNCIAS NO ENSINO DE ESPANHOL .................................................... 61 6 AVALIAÇÕES E CERTIFICAÇÕES LINGUÍSTICAS ................................................................... 65 6.1 DIPLOMA DE ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA (DELE) ..................................... 66 sumário VIII 6.2 CERTIFICADO DE ESPAÑOL LENGUA Y USO (CELU) .......................................................68 6.3 PROFICIÊNCIA EM LEITURA ....................................................................................................70 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................71 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................72 UNIDADE 2 – A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (LE) ................................................................................75 TÓPICO 1 – A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LE E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS ...................................................................................77 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................77 2 CONCEITOS-CHAVE EM LINGUÍSTICA APLICADA .............................................................78 2.1 APRENDIZAGEM X AQUISIÇÃO DE E/LE .............................................................................78 2.2 L2 E LE .............................................................................................................................................80 2.3 BILINGUISMO ..............................................................................................................................81 3 PERSPECTIVA SOCIOAFETIVA DE ENSINO DE E/LE ............................................................82 4 PERSPECTIVA COGNITIVA E METACOGNITIVA ..................................................................84 5 PERSPECTIVA INTERACIONAL ...................................................................................................86 6 PERSPECTIVA SOCIAL ....................................................................................................................88 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................90 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................91 TÓPICO 2 – ENSINAR ESPANHOL NO SÉCULO XXI: O ENSINO DA LÍNGUA E SUAS FINALIDADES ................................................................................................93 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................93 2 O ENSINO DE ESPANHOL COM FINS DE TURISMO ............................................................94 3 O ENSINO DE ESPANHOL COM FIM COMERCIAL ...............................................................99 4 O ENSINO DE ESPANHOL COM FINS JURÍDICOS ................................................................100 5 O ENSINO DE ESPANHOL A CRIANÇAS ..................................................................................102 6 ESPANHOL PARA FINS ACADÊMICOS .....................................................................................106 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................109 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................110 TÓPICO 3 – O ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL ........113 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113 2 O BRASIL E A LÍNGUA ESPANHOLA: UMA RELAÇÃO NADA NOVA ............................114 3 O APRENDIZADO FORMAL DE ESPANHOL NO BRASIL: DOS PRIMÓRDIOS À ATUALIDADE .................................................................................................................................116 4 OPÇÕES ALTERNATIVAS DE APRENDIZAGEM DA LÍNGUA NO BRASIL ....................119 5 PROBLEMA INICIAL DE BRASILEIROS APRENDENDO ESPANHOL ..............................120 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................123 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................124 TÓPICO 4 – O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL VISTO DE DENTRO: PERSPECTIVA DOCENTE E NOÇÃO DE ERRO....................................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 2 A NOÇÃO DE ERRO EM LINGUÍSTICA APLICADA .............................................................126 3 A INTERFERÊNCIA LINGUÍSTICA RELATADA POR PROFESSORES DE ALUNOS BRASILEIROS ..................................................................................................................128 4 DETECTADO O ERRO, COMO CORRIGIR O ALUNO? ..........................................................130 IX RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................134 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................135 TÓPICO 5 – ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: BASE TEÓRICA PARA COMPREENSÃO DE PROCESSOS EMPÍRICOS ...................................................137 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137 2 A INTERLÍNGUA COMO CAMINHO PERCORRIDO PELO FALANTE NÃO NATIVO .137 3 ANÁLISE CONTRASTIVA: UM DOS PRIMEIROS MÉTODOS ............................................142 4 ANÁLISE DE ERROS .........................................................................................................................144 5 COMPETÊNCIA COMUNICATIVA ..............................................................................................145 5.1 SUBCOMPETÊNCIA GRAMATICAL ........................................................................................145 5.2 SUBCOMPETÊNCIA SOCIOLINGUÍSTICA .............................................................................146 5.3 SUBCOMPETÊNCIA DISCURSIVA ...........................................................................................149 5.4 SUBCOMPETÊNCIA ESTRATÉGICA ........................................................................................150 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................152 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................153 UNIDADE 3 – AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE E A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA .......................................................................155 TÓPICO 1 – A AQUISIÇÃO DA LE ...................................................................................................1571 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157 2 A AQUISIÇÃO DO ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: LINHAS GERAIS ...157 3 DIFERENÇA DA AQUISIÇÃO DA LE E DA LM ........................................................................161 4 MOTIVAÇÕES PESSOAIS QUE FACILITAM O PROCESSO .................................................164 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................166 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................167 TÓPICO 2 – TEORIAS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS ...............................................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 CONDUTIVISMO REFUTADO ......................................................................................................170 3 TEORIAS AMBIENTALISTAS ........................................................................................................173 3.1 O FENÔMENO DA ACULTURAÇÃO .......................................................................................174 3.2 DESNATIVIZAÇÃO ......................................................................................................................176 3.3 ACOMODAÇÃO ...........................................................................................................................177 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 TÓPICO 3 – A QUESTÃO DO BILINGUISMO ..............................................................................181 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................181 2 BILINGUISMO SOCIAL...................................................................................................................182 3 BILINGUISMO INDIVIDUAL ........................................................................................................184 4 DIGLOSSIA .........................................................................................................................................185 5 ALTERNÂNCIA DE CÓDIGO .........................................................................................................188 6 O BOM APRENDIZ DE LÍNGUA ...................................................................................................192 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................195 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................196 TÓPICO 4 – A COMPETÊNCIA ORAL E ESCRITA DA LÍNGUA ESPANHOLA COMO LE .........................................................................................................................197 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................197 2 A PRÁTICA ORAL NO ÂMBITO INDIVIDUAL E INSTRUTIVO .........................................198 X 3 A COMPETÊNCIA ESCRITA E A REDAÇÃO DE TEXTOS .....................................................201 4 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE LÍNGUA ESTRANGEIRA ..........203 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................206 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................207 TÓPICO 5 – QUESTÕES IMPORTANTES NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE L2: A INFORMAÇÃO TRANSFORMADA EM CONHECIMENTO.........................209 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................209 2 INPUT/ADUCTO .................................................................................................................................210 2.1 HIPÓTESE DO INPUT COMPREENSÍVEL ...............................................................................214 2.2 HIPÓTESE DO FILTRO AFETIVO E A MOTIVAÇÃO ............................................................215 2.3 HIPÓTESE DO MONITOR ...........................................................................................................219 2.4 HIPÓTESE DA ORDEM NATURAL ..........................................................................................221 3 INTAKE/EDUCTO ...............................................................................................................................222 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................224 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................225 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................227 1 UNIDADE 1 LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • distinguir as concepções de Língua, Linguagem, Fala e Linguística; • entender o processo constitutivo e o propósito da Linguística Geral, da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada da Língua Espanhola en- quanto ciências; • situar-se teoricamente nas bases que alicerçam o conhecimento linguístico moderno, reconhecendo e aplicando conceitos como sincronia, diacronia, sintagma, paradigma e signo linguístico; • conhecer os principais estudos da Linguística como ciência da linguagem humana; • orientar-se historicamente na constituição da língua espanhola; • identificar a linguagem e seus padrões; • reconhecer as perspectivas de estudo da língua espanhola; • relacionar os estudos linguísticos a temas voltados ao ensino de língua es- panhola. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA TÓPICO 2 – LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA TÓPICO 3 – PERSPECTIVAS DE ATUAÇÃO NA LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 1 INTRODUÇÃO No presente tópico, vamos abordar os conceitos de língua, linguagem, fala e linguística. Estes conceitos são considerados vitais para o entendimento que construiremos ao longo de todo o livro. Ao assentarmos esta base estaremos aptos para avançar em direção a questões específicas, afunilando progressivamente rumo ao nosso destino: a linguística aplicada ao ensino do espanhol. Antes de começar, gostaria de lançar um questionamento a você. Alguma vez já refletiu sobre a importância da língua no desenvolvimento da humanidade? Já parou para pensar como seria difícil a vida sem um sistema linguístico-comunicativo eficaz? No filme “A Guerra do Fogo”, de 1981, os autores recriaram um período da pré-história anterior ao uso da língua, no qual os hominídeos se expressavam através de uma linguagem especial em que prevaleciam elementos como o corpo, as expressões faciais, os movimentos repetitivos e os grunhidos. Todos estes de importância vital para o contato em uma realidade na qual a comunicação, tal como se conhece hoje, simplesmente não existia. É fato conhecidoque na história da humanidade a linguagem é uma das capacidades humanas que mais exerceu fascínio nos povos de diversas culturas. De acordo com Margarida Petter, em estudo publicado no livro “Introdução à Linguística”, os primeiros estudos da língua remontam ao século IV a.C., sendo o interesse pela língua perceptível através de "mitos, lendas, cantos, rituais ou por trabalhos eruditos que buscam conhecer essa capacidade humana" (2003, p. 6). No desenvolvimento deste tópico abordaremos o surgimento da Linguística moderna como disciplina e também a importância de Ferdinand de Saussure (1857-1913) para os estudos linguísticos do século XIX até a contemporaneidade. Como você já deve ter percebido, toda ciência humana possui referentes (obras fundadoras e pessoas que se destacaram) que são indispensáveis para o conhecimento que se produz posteriormente. Ao entendermos o papel de Saussure no âmbito dos estudos linguísticos, logo estaremos aptos para passar à etapa seguinte: as vertentes que surgiram após este momento inicial. Neste caso, observaremos o surgimento de duas correntes importantes na história dos estudos linguísticos, o Estruturalismo e o Funcionalismo. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 4 No campo do cinema, a linguagem é um tema que exerce grande fascínio. Um exemplo recente é o filme "A Chegada" (2016), do diretor Denis Villeneuve. De acordo com a Revista Época, em matéria publicada em 2 de desembro 2016, a trama "usa o aprendizado de um idioma extraterrestre para provar que as palavras podem moldar nossa visão de mundo". Com essa ideia, encontrada na hipótese linguística de Sapir- Whorf, os autores mesclam ficção científica com teorias linguísticas e constroem uma interessante obra ficcional. Veja mais em: <http:// epoca.globo.com/cultura/noticia/2016/12/o-filme-chegada-mostra- como-linguagem-influencia-nossos-pensamentos.html>. DICAS Divulgação do filme “A Chegada” 2 PARÂMETROS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DA LINGUÍSTICA Para estudarmos os parâmetros que fundamentam o estudo da Linguística, primeiramente estabeleceremos um itinerário de viagem que compreende paradas essenciais, tais como: a) Contexto histórico e conceito de Linguística. b) Quem foi Ferdinand de Saussure? c) Qual a diferença entre os termos Língua, Fala, Linguagem e Linguística? A Linguística, como disciplina acadêmica, não surgiu antes do século XIX. Ferdinand de Saussure, autor da obra de referência “Curso de Linguística Geral” (1916), afirma que esta ciência, que se constitui em torno dos fatos da língua, passou por pelo menos três fases sucessivas antes de reconhecer "o seu verdadeiro e único objeto" (SAUSSURE, 2006, p. 7). FIGURA 1 – LINGUAGEM HUMANA FONTE: Disponível em: <https://www.comaudi.com/wp-content/ uploads/2017/03/p%C3%A9rdida-auditiva-669x272.png>. Acesso em: 6 out. 2017. TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 5 Veremos quais foram as três fases pelas quais a linguagem passou antes de chegarmos ao que hoje se entende por Linguística: A primeira fase foi a Gramática. Esta disciplina, de acordo com Saussure (2006, p. 7), visa "unicamente a formular regras para distinguir as formas corretas das incorretas; é uma disciplina normativa, muito afastada da pura observação e cujo ponto de vista é forçosamente estreito". Você provavelmente já consultou gramáticas normativas para esclarecer dúvidas relativas ao uso das regras estabelecidas pela gramática tradicional. A gramática tradicional, tal como a conhecemos hoje, com frequência é objeto de crítica da Linguística Contemporânea. Nos próximos tópicos entenderemos o porquê disso. A segunda fase foi a Filologia. Saussure (2006, p. 7) ressalta que a Filologia não se preocupava unicamente com a língua como objeto, mas sim visava interpretar, fixar e comentar os textos, levando em consideração e ocupando-se da "história literária, dos costumes e das instituições". A terceira fase, de acordo com Saussure (2006, p. 9), começou quando se descobriu que as línguas podiam ser comparadas, o que deu origem ao que Saussure chama de "Filologia Comparativa" ou "Gramática Comparada". Os estudos comparativos vieram por meio da mão de nomes significativos, como Max Müller, G. Curtius e August Schleichter. Apesar de significar um avanço ao possuir "o mérito incontestável de abrir um campo novo e fecundo", esta escola não chegou a constituir a verdadeira ciência linguística, pois "jamais se preocupou em determinar a natureza do seu objeto de estudo" (SAUSSURE, 2006, p. 9). Ao ensinar a Linguística – e provavelmente sequer desconfiar que postumamente se transformaria no primeiro grande nome referencial desta disciplina –, Saussure (2006) afirma que a Linguística nasceu dos estudos das línguas românicas com as línguas germânicas: "Os estudos românicos, inaugurados por Diez – sua Gramática das Línguas Românicas data de 1836-1838 –, contribuíram particularmente para aproximar a Linguística do seu verdadeiro objeto” (SAUSSURE, 2006, p. 11). Se a Gramática trata das regras da língua e a Filologia trata da interpretação, do que, afinal, trata a Linguística e qual a sua tarefa? Saussure responde a esta pergunta de modo categórico. Leia com atenção a citação a seguir, pois ela define com clareza o pensamento de Saussure em relação ao tema: A matéria da Linguística é constituída inicialmente por todas as manifestações da linguagem humana, quer se trate de povos selvagens ou de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássicas ou de decadência, considerando-se em cada período não só a linguagem correta e a "bela linguagem", mas todas as formas de expressão. Isso não é tudo: como a linguagem escapa as mais das vezes à observação, o linguista deverá ter em conta os textos escritos, pois somente eles lhe farão conhecer os idiomas passados ou distantes: A tarefa da linguística será: UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 6 a) fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, o que quer dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstituir, na medida do possível, as línguas-mães de cada família; b) procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e universal, em todas as línguas, e deduzir as leis gerais às quais se possam referir os fenômenos peculiares da história; c) delimitar-se e definir-se a si própria (SAUSSURE, 2006, p. 13, grifo nosso). Você recorda dos filmes “A Guerra do Fogo” e “A Chegada”, que mencionamos nas páginas anteriores? São obras ficcionais que expressam a vitalidade da linguagem humana no processo de comunicação e, por essa razão, importantes para a Linguística, visto que abordam a linguagem a partir de perspectivas que vão além das regras e da interpretação por si mesmas. São situações mediadas pelo contexto e pelas condições (como no filme A Guerra do Fogo), e também por hipóteses ficcionalmente verossímeis (como no filme A Chegada). NOTA Nesse momento você já deve ter percebido que o nome de Ferdinand de Saussure aparece diversas vezes neste texto introdutório e possivelmente deve estar se perguntando a razão disso. Afinal, é normal que você esteja curioso para saber quem foi Saussure. FIGURA 2 – FERDINAND DE SAUSSURE (1857-1913) FONTE: Disponível em: <https://www.leme.pt/biografias/s/ saussure.jpg>. Acesso em: 22 out. 2017. Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra no dia 26 de novembro de 1857. Segundo Luis Casteleiro Oliveros (2000, p. 17), desde muito jovem dedicou- se ao estudo das ciências. Ao mudar-se para Leipzig, em 1876, cidade que a esta altura se constituía como a capital dos estudos linguísticos, Saussure teve como professor ninguém menos que Jorge Curtius (1820-1885), um dos primeiros TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 7 gramáticos comparativos que o autor cita na terceira fase antecessora aos estudos linguísticos. Saussure não deixou livros publicados sobre linguística e o que temos hoje é resultado dos esforços empreendidospor seus ex-alunos que, após sua morte, converteram as anotações de aula em obras póstumas. É graças a Saussure que hoje entendemos uma série de dicotomias linguísticas (oposições), todas de importância inegável para o entendimento da Linguística. As principais dicotomias saussurianas são: sincronia e diacronia, língua e fala, significante e significado, sintagma e paradigma. Estudaremos cada uma dessas definições no Subtópico 3 desta unidade. O Curso de Linguística Geral (1916), de Ferdinand de Saussure, é uma obra fundamental para o estudo da linguística moderna, pois congrega importantes apanhados e conceitos até hoje úteis para a disciplina. O livro não foi publicado por Saussure em vida e trata-se de uma obra póstuma editada por Charles Bally e Albert Sechehaye, com base nos cursos oferecidos por Saussure na Université de Genève no começo do século XX. NOTA Primeira edição do “Curso de Linguística Geral” Agora que já sabemos o que é a Linguística, do que ela se ocupa, o que a antecedeu e já sabemos também quem é a principal referência primária no âmbito moderno desta disciplina, que tal diferenciarmos os conceitos de Língua, Linguagem, Fala e Linguística? QUADRO 1 – DEFINIÇÕES DE LÍNGUA, LINGUAGEM, FALA E LINGUÍSTICA Língua A língua é um grande sistema constituído por regras. De acordo com Margarida Petter (2003, p. 10), a língua é "um sistema de signos" - "um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente dentro de um todo”. É a “parte social da linguagem", exterior ao indivíduo; não pode ser modificada pelo falante e obedece às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade". Em uma visão complementar, José Luiz Fiorin (2003, p. 3) afirma que “as línguas não são nomenclaturas, mas formas de categorizar o mundo”. Linguagem Se a língua é a “parte social da linguagem”, a linguagem está relacionada à individualidade. Petter (2003, p. 9) relembra que Saussure considerou a linguagem "heteróclita e multifacetada", pois abrange vários domínios; “é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social”. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 8 Fala Ato enunciativo. É individual e, segundo Petter (2006, p. 10), resulta das "combinações feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua; expressa-se pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários à produção dessas combinações". Linguística Contemporaneamente, o objeto de estudos da linguística é tripartido em Língua, Linguagem e Fala. De acordo com Petter (2003, p. 10), “A distinção linguagem/ língua/fala situa o objeto da Linguística para Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da linguagem em duas partes: uma que investiga a língua e outra que analisa a fala. As duas partes são inseparáveis, visto que são interdependentes: a língua é condição para se produzir a fala, mas não há língua sem o exercício da fala. Há necessidade, portanto, de duas Linguísticas: a Linguística da língua e a Linguística da fala. Saussure focalizou em seu trabalho a Linguística da língua, "produto social depositado no cérebro de cada um", sistema supraindividual que a sociedade impõe ao falante”. Segundo o Dicionário Houaiss (s.d., s.p.) da Língua Portuguesa, Heteróclito é tudo aquilo que “se afasta, se desvia das regras e das normas estabelecidas”. NOTA Vamos visualizar? Observe o diagrama que elaboramos para você. FIGURA 3 – DIAGRAMA DE LÍNGUA, LINGUAGEM, FALA E LINGUÍSTICA * Social (comum a todos) * Organizada (possui regras) * Individual e Social * Heteróclita e Multifacetada (várias formas de expressão). Individual (utiliza o código da língua + mecanismos psicofísicos) Ciência cujo objeto de estudo é a tríade Língua, Linguagem e Fala. FONTE: Adaptado de Saussure (2006) e Fiorin (2003) FONTE: O autor Língua Linguagem Fala Linguística TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 9 3 DICOTOMIAS SAUSSURIANAS E CONCEITOS IMPORTANTES Ao falarmos sobre o legado de Ferdinand de Saussure, com frequência nos deparamos com o conceito de dicotomias saussurianas, mas o que significa o termo "Dicotomia?". Consultamos dois dicionários para tentar entender melhor este conceito. O primeiro deles é o Dicionário Aurélio (s.d., s.p.), para esta publicação, a dicotomia é uma “divisão lógica de um conceito em dois outros conceitos, em geral contrários, que lhe esgotam a extensão”. Para o Dicionário Michaelis (s.d., s.p.), o termo "dicotomia" consiste em uma "classificação em que se divide cada coisa ou cada proposição em duas". Na verdade, ambas as definições se complementam, expressando-se de modo diferente. Vale lembrar que o termo dicotomia não é usado somente no âmbito dos estudos linguísticos, mas também por outras áreas. Para a Teologia, por exemplo, o corpo e a alma constituem a dicotomia mais importante. Para o Direito, o público e o privado. Na filosofia oriental, Taoísmo, a dicotomia mais importante é o símbolo do Yin-Yang. O Yin representa e energia feminina (Lua), ao passo que o Yang representa a masculina (Sol). FIGURA 4 – O YIN-YANG FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/thumb/1/17/Yin_yang.svg/1200px- Yin_yang.svg.png>. Acesso em: 20 out. 2017. No âmbito da Linguística, as dicotomias saussurianas mais conhecidas são quatro: língua e fala, sincronia e diacronia, sintagma e paradigma e significante e significado. Entender como funcionam as dicotomias saussurianas permitirá que você pense elementos que são fundamentais para a linguística teórica. Vamos nessa? O tema Língua e Fala você conheceu brevemente no Subtópico 2, quando distinguimos os conceitos de Língua, Linguagem, Fala e Linguística. É importante mencionar que estes dois conceitos constituem uma dicotomia para Saussure. Enquanto a língua é um sistema de regras de uso coletivo, a fala é um ato individual de enunciação que concretiza a língua. A existência de uma está ligada à existência da outra. Nesse caso, a fala existe como realização da língua. A língua e a fala também são conhecidas em linguística como langue e parole. 3.1 LÍNGUA E FALA UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 10 Linguagem FalaLíngua Enquanto a língua está depositada no cérebro de todos, a fala compreende, de acordo com Saussure (2006), combinações individuais (que dependem da vontade do falante) e atos de fonação voluntários, que são necessários para a execução dessas combinações. É exatamente essa relação entre uma e outra que convertem o tema língua-fala em uma dicotomia, visto que são extremidades que se correlacionam e existem em função uma da outra. 3.2 SINCRONIA E DIACRONIA Os conceitos de sincronia e diacronia são de importância vital para os estudos linguísticos. Saussure estabeleceu dois tipos de linguísticas: a linguística sincrônica e a linguística diacrônica. A sincrônica se ocupa de um recorte temporal (por exemplo, a língua no século XV). Já a linguística diacrônica se ocupa com as transformações da língua através do tempo (a língua nos séculos XV, XVI, XVII, XVIII...). Segundo Pietroforte (2005, p. 102), o significado das palavras sincronia e diacronia está ligado à origem na língua grega: "Diacronia, do grego dia "através" e chrónos "tempo", quer dizer "através do tempo", e sincronia, do grego syn "juntamente" e chrónos "tempo", significa "ao mesmo tempo". Observe a seguinte imagem: Ao discorrer sobre o tema, Saussure (2006, p. 27) afirma que o estudo da linguagem comporta duas partes: “uma, essencial, tem por objeto a língua, que é social em sua essência e independente do indivíduo; esse estudo é unicamente psíquico; outra, secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale dizer, a fala, inclusive a fonação e é psico-física”. TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 11 FIGURA 5 – SINCRONIA E DIACRONIA FONTE: O autor Na Figura 5 percebemos os séculos dispostos temporalmente (as linhas horizontais).O estudo do momento da língua em um destes séculos constitui o que chamamos de Sincronia. Por outro lado, ao compararmos a língua através do tempo, estamos realizando uma perspectiva dentro da linguística diacrônica. Um estudo diacrônico poderia se preocupar, por exemplo, com a evolução do pronome "você". Se buscarmos nos primórdios da língua portuguesa encontraremos a forma "vossa mercê". Com o passar do tempo adotou-se o "vosmecê". Posteriormente, "vancê" e atualmente "você". Hoje, no século XXI, há registros orais em que os falantes da língua utilizam somente a forma "Cê". FIGURA 6 – DIACRONIA FONTE: O autor Agora, imagine a seguinte situação: você está cursando a disciplina de Literatura da Língua Portuguesa e em algum momento o professor pede para que você leia uma cantiga de amor do período trovadoresco, ainda no tempo em que o português não existia tal como o conhecemos hoje. Observe a Cantiga da Ribeirinha, atribuída a Paio Soares de Taveirós: UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 12 FIGURA 7 – SINCRONIA FONTE: O autor O poema, que data do período de formação da língua portuguesa, possui um vocabulário que nos permite compreender melhor o estágio da língua naquele tempo específico. Por exemplo, a palavra "mentre" (verso 2) possui o mesmo significado de simultaneidade da palavra "enquanto" do português atual. O "Semelha" (verso 12) significa "parecer", ou dá indícios de que se desdobrou na palavra "semelhança". Um estudo diacrônico não se preocuparia em comparar (ver como essa palavra se modificou até chegar no estágio atual), mas compreender a língua tal como ela se apresentava no período estudado. Por exemplo: no século XII, o vocábulo “mentre” possuía a carga semântica de simultaneidade. A Cantiga da Ribeirinha é considerada o primeiro texto literário na língua galaico- portuguesa. O registro pertence a um período chamado “Trovadorismo” (literatura oral) e sua data é incerta, havendo divergências se a ocorrência remonta ao ano 1889, 1198, ou 1200. NOTA 3.3 SINTAGMA E PARADIGMA Imagine a seguinte situação: Você precisa muito dizer algo a alguém, mas desiste de falar por não saber como fazer, pois acredita que o assunto é sério demais para falar sem pensar. Você então decide se recolher e pensar melhor nas TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 13 palavras que vai utilizar. É necessário ser suave diante da situação. Ao recolher- se você buscou e escolheu as palavras disponíveis no seu paradigma, como se elas estivessem disponíveis em um compartimento do seu cérebro. Ao finalmente decidir falar, você trouxe as seguintes palavras escolhidas para o seu sintagma: A dicotomia paradigma e sintagma é vital quando pensamos nos processos língua, linguagem e fala. Mais uma vez, é preciso evocar as formas horizontais e verticais para compreender como se dá essa relação. É através do paradigma que se torna possível fazer as escolhas (eixo vertical). São estas escolhas que se combinam em um Sintagma (eixo horizontal). Segundo Petroforte (2005, p. 116), “O paradigma não é qualquer associação de signos pelo som e pelos sentidos, mas uma série de elementos linguísticos suscetíveis de figurar no mesmo ponto do enunciado, se o sentido for outro”. Vamos entender na prática? Paradigma Sintagma Observe a seguinte frase: O Brasil é o melhor país do mundo. A todo momento o falante da língua escolhe palavras na hora de falar. Estas palavras estão no que, linguisticamente, entendemos por paradigma. São as possibilidades que a língua oferece para expressar o que queremos. Esta escolha se dá em oposição a tantas outras formas possíveis. Desse modo, repare agora as outras formas possíveis de combinação no exemplo dado. O Canadá é o melhor país do mundo. O Japão é o melhor país do mundo. O Equador é o melhor país do mundo. Cada escolha pressupõe a seleção de outras combinações possíveis de acordo com a língua. Por exemplo, se a frase se referisse a países como “”Itália”, “Suíça” ou “Alemanha”, o artigo masculino “O” mudaria para o artigo feminino “A”. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 14 A Itália é o melhor país do mundo. A Suíça é o melhor país do mundo. A Alemanha é o melhor país do mundo. É importante lembrar que as combinações não são aleatórias e não podem transgredir o sistema da língua. Por exemplo: Jamais poder-se-ia dizer “Brasil O é melhor país mundo DO”. Por outro lado, outros elementos do sintagma poderiam ser substituídos por outros termos. Por exemplo, a palavra “melhor” concorre com a palavra “pior”. A palavra “mundo” concorre com a palavra “continente”. Perceba o que Petroforte (2005, p. 116-117) diz a respeito deste tema: No sintagma não se combinam quaisquer elementos aleatoriamente. A combinação no sintagma obedece a um padrão definido pelo sistema. Assim, por exemplo, podem-se combinar um artigo e um nome e, nesse caso, o artigo deve sempre preceder o nome. Em português, é possível a combinação o irmão, mas não a combinação irmão o. Por essa razão, não se deve confundir paradigma com língua e sintagma com fala. Tanto um quanto outro pertencem ao sistema, aquele por estabelecer os elementos que podem figurar num dado ponto da cadeia falada e este por obedecer a um padrão rígido de combinação. Sintagma: Horizontal – onde se combinam os elementos escolhidos no paradigma. Paradigma: Vertical – são as possibilidades de escolha que possui o falante da língua. NOTA 3.4 SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO (SIGNO LINGUÍSTICO) Até aqui conhecemos dicotomias importantes para os estudos linguísticos, como as dualidades sincronia-diacronia e sintagma-paradigma. Vamos pensar agora no signo linguístico. Você provavelmente já deve ter questionado a razão de certas coisas possuírem o nome que têm. Por exemplo, haveria alguma relação lógica entre a palavra que designa “cavalo” com o conceito equino ao qual se associa? Sabemos que este animal possui nomes diferentes em outras línguas, como caballo (espanhol), horse (inglês), pferd (alemão), cheval (francês) ou cal (romeno) e com frequência nos perguntamos: os nomes nestes idiomas são associados ao conceito por alguma razão natural ou socialmente decidiu-se nomeá-los assim sem justificativa alguma? Para entender isso é importante levar em consideração dois conceitos que vamos estudar nos parágrafos seguintes: significante (imagem acústica) e significado (conceito). TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 15 O signo linguístico é um conceito que abrange a dicotomia significante e significado. Segundo Saussure (2006, p. 80), o signo linguístico “une não uma coisa e uma palavra”, mas sim “um conceito e uma imagem acústica". A imagem acústica não é um som material, mas a “impressão psíquica desse som”. FIGURA 8 - O SIGNO LINGUÍSTICO BIPARTIDO EM CONCEITO E IMAGEM ACÚSTICA FONTE: Saussure (2006) Saussure (2006) relembra que as palavras da língua (significante) são imagens acústicas para nós. O signo linguístico, portanto, é a combinação do conceito (ordem semântica) com a imagem acústica (ordem fonológica). Segundo Ernani Viotti (2003, p. 21): “Ao impor uma formatação à massa amorfa do pensamento, a língua cria o significado, que é um conceito. Ao impor uma formatação à massa amorfa fônica/ gestual, a língua cria o significante, que é uma imagem acústica (no caso das línguas orais) ou ótica (no caso das línguas de sinais)”. Sobre o questionamento que lançamos no primeiro parágrafo, sobre a relação entre o nome e o conceito ser algo natural ou convencionado, Saussure afirma que o signo linguístico é arbitrário. Isto significa dizer que não há uma relação óbvia entre o significante (imagem acústica) e o significado (conceito). Não há um motivo que justifique. O autor cita o exemplo do signo mar: “a ideia de "mar" não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons /m-a-r/ que lhe serve de significante; poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, nãoimporta qual” (SAUSSURE, 2006, p. 81-82). Nesse sentido, o significante /mar/ poderia estar associado a outro conceito qualquer. Não há uma relação óbvia entre eles. É nesse sentido que o signo linguístico é arbitrário (não tem regras). Significante: a palavra – grafia e som (imagem acústica) no caso das línguas orais ou os gestos, no caso das línguas de sinais. Significado: O conceito ao qual nos remete o significante. NOTA Conceito Imagem acústica UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 16 4 ESTRUTURALISMO E GERATIVISMO No âmbito acadêmico existem correntes que defendem entendimentos próprios em relação a determinados fenômenos ou objetos de estudo. A visão sobre um conceito, por exemplo, pode ter definições distintas de acordo com a linha de estudos “A” ou “B”. Nos estudos linguísticos, a primeira referência que temos se chama Estruturalismo. O estruturalismo é uma corrente de estudos linguísticos que, muitas vezes, confunde-se com o surgimento da linguística moderna, já que surgiu na esteira das ideias de Saussure. O autor suíço defendia que a língua se assemelhava a um jogo de xadrez no qual o que interessa são as regras que determinarão o movimento das peças. Não por acaso, em seu “Curso de Linguística Geral” Saussure afirmou que a língua é um sistema cujas partes “podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica” (SAUSSURE, 2006, p. 102). Isso significa dizer que cada elemento possui um papel funcional ao integrar o grande todo. Interessa, então, pensar um elemento em relação ao outro, e não na função independente de cada um. O exemplo do jogo de xadrez é uma analogia coerente com essa ideia: recorde que cada peça do jogo (rei, rainha, cavalo, bispo, torre e peão) possui movimentos predeterminados por regras que embasam o jogo. FIGURA 9 – JOGO DE XADREZ: CADA PEÇA É MOVIDA POR REGRAS PREDETERMINADAS FONTE: Disponível em: <https://www.ibusiness.de/cgi-bin/resize/ upload/bilder/334866jg.jpg?maxheight=900&maxwidth=1600>. Acesso em: 20 out. 2017. Recentemente, você foi apresentado às dicotomias de Saussure e percebeu que o entendimento delas nos condiciona a uma compreensão sistemática da língua. Certamente, recordará que para Saussure a LÍNGUA era o principal objeto de estudo da Linguística. Dentro dessa perspectiva, os estruturalistas entendem a língua como forma (estrutura), e por isso são conhecidos – em um sentido mais amplo – também como formalistas. Além do estruturalismo, na metade do século XX registrou-se o surgimento de outra importante teoria de base formalista: o gerativismo chomskyano. TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 17 FIGURA 10 – NOAM CHOMSKY FONTE: Disponível em: <https://upload. wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bb/ Noam_Chomsky%2C_2004.jpg/1200px-Noam_ Chomsky%2C_2004.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. Fato incontestável é que por quase meio século o estruturalismo dominou os estudos linguísticos até o surgimento do gerativismo, em 1957, com a publicação da obra “Estruturas Sintáticas”. Noam Chomsky, o precursor desta corrente, nasceu na Filadélfia (Estados Unidos da América) em 1928. Entre tantas das suas contribuições científicas, a mais representativa para os estudos linguísticos é a Sintaxe Gerativa. Se para Saussure a linguística deveria descrever os elementos fundamentais do sistema linguístico, para Chomsky (2004) a linguística deveria explicar o caráter gerativo das línguas naturais. Na verdade, Chomsky não nega a relevância do descritivismo característico do estruturalismo, mas entende que qualquer falante da língua pode gerar uma infinita quantidade de sentenças. Segundo Eni Orlandi (1986, p. 37), Chomsky propõe “uma teoria a que chama de gramática e centra seu estudo na sintaxe. Esta, segundo ele, constitui um nível autônomo, central para a explicação da linguagem. A finalidade dessa gramática não é ditar normas, mas dar conta de todas (e apenas) as frases gramaticais, isto é, que pertencem à língua". Ainda hoje o Gerativismo inspira importantes estudos no âmbito dos estudos linguísticos. Você recorda das análises sintáticas que fazia no Ensino Médio na disciplina de Língua Portuguesa? Muito do que hoje se entende por sintaxe se deve aos estudos gerativistas da década de cinquenta e aos seus desdobramentos. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 18 FIGURA 11 – ANÁLISE SINTÁTICA FONTE: Chomsky (2004) Para o Gerativismo importa a forma, a língua como sistema. Nesse sentido, tanto o Estruturalismo como o Gerativismo são teorias que encontram afinidades significativas uma na outra. E são justamente essas afinidades que possibilitarão a crítica e, por conseguinte, o surgimento de uma terceira onda nos estudos linguísticos: os estudos de base funcionalista. Agora, já não mais apenas a Língua, mas também os aspectos de mudança e variação como parte da grande Língua. 5 FUNCIONALISMO: A TERCEIRA ONDA DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS Observamos, até o presente ponto, duas correntes focadas na forma (o Estruturalismo e o Gerativismo). Foi em contraposição às ideias defendidas por ambas as teorias que, na década de setenta, surgiu o que hoje conhecemos por Funcionalismo linguístico, apesar de anteriormente já existirem registros esparsos do que mais tarde surgiu como uma teoria linguística. De acordo com Fiorin (2003, p. 22), "a gramática funcional leva em consideração o uso das expressões linguísticas na interação verbal; inclui na análise da estrutura gramatical toda a situação comunicativa: o propósito do evento da fala, os participantes e o contexto discursivo". O Funcionalismo está ligado ao Círculo Linguístico de Praga, local onde foram gerados importantes estudos para o desenvolvimento desta corrente. As teses de Praga são nove teses que englobam estudos que se dedicam ao estudo da língua, sempre utilizando por base o estudo do tcheco e das línguas eslavas. Fiorin (2003, p. 23) afirma que os desdobramentos que o Funcionalismo apresenta na atualidade "concordam com o fato de que a língua é, antes de tudo, instrumento de interação social, usado para estabelecer relações comunicativas entre os usuários". Isso significa dizer que, para os funcionalistas, é na parole (fala) que se encontra o grande fenômeno linguístico de interesse dos seguidores desta corrente de estudos. TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA 19 Você se lembra da hipótese linguística de Sapir-Whorf que mencionamos ao falar sobre o filme “A Chegada”? Eduard Sapir é um dos linguistas referenciais para o funcionalismo linguístico. Foi ele quem, com Benjamin Lee Whorf, postulou a hipótese linguística de que o pensamento humano é moldado pela linguagem e pela cultura. NOTA FIGURA 12 – EDUARD SAPIR FONTE: Disponível em: <http://linguisticanthropology.org/wp- content/uploads/2014/06/et0924b.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017. Você recordará que para o Estruturalismo havia a dicotomia Língua e Fala (Langue e Parole). Já para o Funcionalismo não há essa divisão, visto que esta corrente enxerga a Língua e a Fala como uma mesma entidade. O bloco funcionalista nos estudos linguísticos se preocupa com questões ligadas à língua (sistema), à linguagem (formas de manifestação desse sistema) e à fala (manifestação individual do falante). São os estudos funcionalistas que permitem, por exemplo, que se diga que o objeto da linguística hoje é a Língua, a Linguagem e a Fala, tal como a definição que apresentamos nos pressupostos fundamentais para o estudo da linguística nesta unidade. 20 Neste tópico, você aprendeu que: • Existe uma série de parâmetros básicos para o estudo da Linguística. • O marco de fundação da Linguística moderna foi fundado na figura de Ferdinand de Saussure. • Existem delimitações conceituais dos termos Língua, Fala, Linguagem e Linguística. • Existiram três fases pelas quais passaram os estudos linguísticos. • As dicotomias saussurianas de língua e fala, sincronia e diacronia, sintagma e paradigmae significante e significado são importantes para o estudo da linguística. • As principais correntes linguísticas do século XX. RESUMO DO TÓPICO 1 21 1 Marque a questão incorreta: a) A Diacronia se ocupa com a língua através de um recorte, ao passo que a Sincronia se preocupa com as transformações da língua através do tempo. b) O paradigma é o âmbito das possibilidades, já o sintagma é a realização das escolhas paradigmáticas. c) O significante se constitui por uma imagem acústica e o significado constitui o conceito ao qual se atrela o significante. d) A linguagem é heteróclita e a língua é organizada. e) No sintagma não se combinam quaisquer elementos aleatoriamente. 2 Considere as seguintes afirmações: I - Enquanto a língua é um sistema de regras de uso coletivo, a fala é um ato individual de enunciação que concretiza a língua. II - A Linguagem é heteróclita e multifacetada. III - A Filologia constitui a terceira fase que antecedeu a Linguística como disciplina moderna. IV - A Gramática trata das regras da língua. V - O Curso de Linguística Geral é uma obra póstuma, encontrada nos pertences pessoais de Saussure e publicada posteriormente por dois ex-alunos do mestre. Assinale a alternativa correta: a) ( ) I, II, III, e V estão corretas. b) ( ) V e II estão incorretas. c) ( ) III e V estão incorretas. d) ( ) Somente a V é correta. e) ( ) Todas as alternativas estão incorretas. AUTOATIVIDADE 22 23 TÓPICO 2 LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1, você foi introduzido aos estudos linguísticos. Aprendeu conceitos importantes, conheceu autores notórios e descobriu que existem teorias linguísticas que são fundamentais para o conhecimento desta disciplina. Agora, munido dessas informações, você está apto para adentrar no Tópico 2, no qual discorreremos sobre o que se entende por Linguística Teórica da Língua Espanhola no âmbito científico. Neste aprendizado, possivelmente você deve estar se questionando: se a linguística geral engloba as perspectivas sincrônica e diacrônica, qual perspectiva abarcará a linguística teórica? A linguística teórica se propõe a entender como o idioma se organiza, tentando compreender minimamente cada uma das partes (fonemas, morfemas, orações, discursos) que o conformam como tal. Hernández de Mota (2000, p. 60) afirma que: La lingüística teórica o descriptiva se encarga de definir la forma como un idioma está organizado (estructura gramatical) descubriendo las unidades que lo conforman y determinando su posible combinación para expresar diversos significados; también investiga la utilidad y el nivel jerárquico de cada uno de sus elementos, ej. los sonidos se unen para formar morfemas; una palabra forma parte de una frase; una frase es elemento constitutivo de una oración y, a su vez, las oraciones se conectan entre sí para formar unidades complejas denominadas discursos. Compreender como se organiza a linguística teórica em língua espanhola é importante para que entendamos como o estudo dessa disciplina pode ser funcional no processo de ensino e aprendizagem da língua espanhola, quando podemos lançar mão de subsídios e ferramentas para melhor compreender o idioma que visamos aprender. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 24 FIGURA 13 – RAMOS DA LINGUÍSTICA FONTE: Mota (2000) Fonética No âmbito da linguística teórica, a Fonética é a disciplina que vai se ocupar de como se pronunciam os sons que formam parte da linguagem humana. De acordo com Mota (2000, p. 62), a Fonética "Describe cómo es producido cada sonido fisiológicamente: qué órganos vocales entran en juego, de dónde proviene y cómo se conduce el aire empleado en su producción y otras características importantes". Isto significa dizer que a Fonética se preocupa com a articulação das palavras no aparelho fonador. Já vimos que o signo é composto pelo significante e pelo significado. A Fonética se preocupa justamente com a parte significante, jamais com o significado. Você também já deve ter percebido que ao aprendermos uma nova língua, com frequência nos deparamos com sons que não existem ou que estão em desuso no português. Um exemplo clássico é o /r/ em espanhol. Você recorda o som que este /r/ faz no começo de palavras como “Ratón” “Ritmo” e “Ruta”? Observe a figura a seguir: 2 PERSPECTIVAS DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA TEÓRICA A linguística teórica se divide basicamente em áreas de especialização: a fonética, a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a análise do discurso, a pragmática e a semântica. Cada uma dessas áreas se ocupa de aspectos específicos da linguagem. Você recorda que no Tópico 1 vimos que a linguagem é definida como multifacetada (possui várias faces) e que também abrange vários domínios, sendo então "física, fisiológica e psíquica"? (PETTER, 2003, p. 9). É no âmago destes desdobramentos que se dividem as áreas de especialização da linguística teórica. Teórica Linguística Aplicada Análise discursiva Sintaxe Fonética Pragmática Outras Psicolinguística Sociolinguística Neurolinguística Linguística matemática Linguística computacional Morfologia Fonologia TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 25 FIGURA 14 – APARELHO FONADOR FONTE: Disponível em: <http://blogdelinguistica.blogspot.com.br>. Acesso em: 7 ago. 2017. Lábio superior Dentes superiores Dentes inferiores Lábio inferior Cordas vocais Fossas nasais Palato Abóbada palatina Véu palatino Alvéolos Língua Laringe Epiglote Faringe Úvulacanal respiratório Ao pronunciarmos estas palavras pronunciamos um /r/ vibrante. Para conseguir alcançá-lo precisamos elevar a língua até os alvéolos, vibrando-a (localize os alvéolos na figura). Esta é a particularidade deste som. Ao pronunciar as palavras em língua espanhola é importante que saibamos como fazê-lo e é justamente neste aspecto que o conhecimento da Fonética da língua espanhola pode ser uma ferramenta de grande auxílio no processo. No exemplo dado, mencionamos o caso da letra /r/ (que de acordo com a fonética possui duas possibilidades de pronúncia). Tanto a produção de vogais como as consoantes poderão ser descritas pela Fonética. Fonologia Se a Fonética se preocupa com a acústica, com os sons que o nosso aparelho fonador é capaz de fazer para pronunciar o aspecto significante do signo, a Fonologia se preocupa com a função e a organização do sistema sonoro da língua. Como você pode perceber, são áreas irmãs no âmbito dos estudos linguísticos. Ao se preocupar com a funcionalidade da fala, a Fonologia se preocupa com questões de diferenciação entre os fonemas no processo de produção de sentido, como no caso dos pares mínimos. Mota (2000) relembra que, ao se comparar os pares mínimos, «muro / duro», «mudo / dudo» y «mimo / mido», logo se comprova que os sons de /m/ e /d/ são fonemas diferenciados, pois a existência deles é capaz de modificar completamente o sentido e a função de uma palavra. Outra função da fonologia é pensar a estrutura silábica de uma língua, conforme exemplifica Mota (2000, p. 63) ao comparar a estrutura silábica do maia (Consoante+vogal+consoante) com o espanhol (consoante+vogal): “los patrones que forman (estructura silábica), por ejemplo, en los idiomas mayas predomina la secuencia de sonidos consonante+vocal+consonante (CVe) como en hin-q'ab' (mi mano en qanjob'aL) y en el español la combinación consonante+vocal (CV) como en «si-lla»”. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 26 Na atualidade, mais de seis milhões de pessoas falam o maia. Sua maior ocorrência se dá na América Central e parte da América do Norte (sul do México), especialmente em países como Guatemala, México e Belize. É uma das línguas indígenas mais antigas de que se tem notícia e seus primórdios antecedem o período pré-colombiano (descoberta da América). NOTA Sintaxe Você recorda que quando falamos sobre o gerativismo de Noam Chosmky mencionamos aexistência de uma sintaxe gerativa? Dentro daquela perspectiva importava a forma. A Sintaxe é o ramo da linguística teórica que vai se preocupar com as regras que permitem que se combine as palavras de forma linear, ou, como afirma Mota (2000, p. 64), "de manera que se formen unidades mayores de significado tales como frases y oraciones; la posibilidad de combinación es infinita". É a língua em seu aspecto horizontal, é a realização que se dá no sintagma. Observe a seguinte frase em espanhol: FIGURA 15 – ANÁLISE SINTÁTICA No exemplo dado percebe-se a função de cada um dos elementos da frase “El periodista escribió um artículo para el periódico”. A Sintaxe, então, ocupa- se de compreender a relação estabelecida entre cada um desses elementos. Esta relação se dá em função de regras previamente estabelecidas. FONTE: Mota (2000) El periodista escribió un artículo para el periódico artículo substantivo artículo substantivo artículo substantivo frase nominalverbo frase nominalpreposición frase preposicional frase verbalfrase nominal Oración El periodista escribió un artículo para el periódico. TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 27 Morfologia Se a Sintaxe se preocupa com a organização das palavras no sintagma, a morfologia se preocupa com a estrutura das palavras como unidades. Esta disciplina estudará a constituição das palavras através das unidades mínimas de significado (morfemas). A classificação dos morfemas se dá por morfemas independentes e morfemas dependentes. Os morfemas independentes possuem significado por si só sem necessitar que se unam com outro morfema (ocorre em palavras como: aunque, pero, desde, ella, él, azul, árbol, leche). Já os morfemas dependentes são aqueles que precisarão unir-se a outros para constituir um significado. Os morfemas derivacionais prefixais, ou prefixos, se colocam antes da raiz (ou radical), modificando seu significado original. Um exemplo de prefixo em língua espanhola são as unidades "An" e "A". Ambos sinalizam negação ou anomalia: analfabeto; amorfo. Além dos prefixos (que vêm antes), há também os sufixos (que vêm depois). O sufixo "Filia", por exemplo, significa aficção por algo que está representado pela palavra raiz. É o caso de "bibliofilia" (aficção por livros) e "francofilia" (aficção pela língua francesa). Cabe salientar, contudo, que o âmbito dos estudos morfológicos constitui uma disciplina bastante completa. Os exemplos de morfemas que você acabou de ver constituem uma partícula mínima do que pode vir a ser estudado nessa disciplina. Semântica No âmbito linguístico, a Semântica estudará o significado das palavras. Em espanhol, também é conhecida pelos nomes de onomasiología, semología, semasiología y sematología (RAIMONDO, 1991, p. 251 apud Mota, 2000). O que importa entender é que a semântica se preocupará com a acepção individual ou não de palavras, frases, morfemas e orações. Entre outras atribuições, a Semântica preocupa-se com: La construcción de definiciones para los vocablos de un idioma (léxico), con base en rasgos que le son característicos (semas), ej. Mujer: especie: +humano; sexo: +femenino; edad: [+adolescente, +joven, +adulto, + anciano]; número: [+individual, + colectivo]. Mujer: Ser humano de género femenino, pudiéndose asignar este término desde la etapa de la pubertad hasta la vejez, dependiendo de la cultura, para denotar una persona en particular (<<Esa mujer es interesante») o un grupo colectivo (<<La mujer y su papel en la sociedad»). En algunos contextos, durante la etapa de la infancia y la niñez la palabra es empleada con fines de identificación de género (<<Fue una mujercita» -la bebé que nació-) (RAIMONDO, 1991, p. 251 apud MOTA, 2000, p. 66). UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 28 Se pensarmos em comparação com a sintaxe, que se preocupa com a estrutura da língua e como ela se realiza no sintagma, a semântica vai se preocupar com o significado da realização sintagmática. Muitas vezes, você já deve ter se preocupado com o significado de uma palavra ou de uma frase específica. Em linhas gerais, essa é uma preocupação de ordem semântica. Nos domínios da linguística teórica esta é uma área de grande importância, visto que observa a língua no âmbito da sua realização. Análise do Discurso Se a Semântica se preocupa com o significado de unidades menores (como palavras, frases e orações), a análise do discurso vai se debruçar sobre as unidades maiores que a oração, como os parágrafos, os textos e os discursos. De acordo com Mota (2000), este ramo dos estudos linguísticos vai se preocupar com aspectos como o conteúdo, a coesão, a coerência, os referentes linguísticos e a temática. Foi o filósofo francês Michel Pêcheux (1938-1983) um dos grandes baluartes da análise do discurso francês. Entre as principais obras do autor, destaca-se "Análise Automática do Discurso" (1969), “O discurso: estrutura ou acontecimento” (1983) e “Semântica e discurso: uma crítica da afirmação do óbvio” (1975). FIGURA 16 – MICHEL PECHEUX (1938-1983): UM DOS GRANDES EXPOENTES DA ANÁLISE DO DISCURSO FONTE: Disponível em: <http://www.labeurb.unicamp.br/portal/ UserFiles/Image/Michel1.JPG>. Acesso em: 24 out. 2017. Pragmática A Pragmática se centra, fundamentalmente, no uso que as pessoas dão ao seu idioma em contextos distintos. Este uso pode estar mediado por uma intenção definida. É o usar a língua para a produção de efeitos e geração de significados específicos. São importantes vários elementos, tais como: • El efecto de lo que se dice o escribe en los demás. • La función del contexto, del conocimiento previo y de las experiencias socioculturales en la expresión y la interpretación. Tannen (2000) menciona que en la India, las normas de cortesía sugieren que si alguien expresa admiración o gusto por algo que lleva su interlocutor, TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 29 se espera que lo admirado le sea obsequiado; en América, la intención al expresar admiración conlleva únicamente agrado y nada más. • «La forma como se establece, se mantiene y se modifica la relación entre interlocutores» o participantes en el acto comunicativo (RAIMONDO, 1991, p. 174 apud MOTA, 2000, p. 72). Para pensar na importância da Pragmática, pensemos em uma figura de linguagem chamada ironia. Ao fazer um exame de memória, você seria capaz de lembrar quantas vezes já se valeu deste recurso para comentar algo? Ou então, quantas vezes alguém já utilizou esta figura com você? Se você não for adepto a este uso, talvez consiga recordar quantas vezes utilizou. Contudo, há muitas pessoas que usam a ironia com muita frequência. Se você for uma delas, certamente não conseguirá contar quantas vezes já a utilizou. O exercício da ironia em um discurso é uma função cabalmente analisada pela Pragmática. 3 AS LINGUAGENS ESCRITA E ORAL E SEUS PADRÕES No primeiro tópico, você aprendeu que a Língua é um grande sistema organizado e que constitui a parte social da linguagem. Já no segundo tópico, conheceu as diversas formas de se estudar essa língua. Nesta etapa, chegou o momento de compreendermos um conceito que é indispensável quando queremos ensinar ou aprender uma língua estrangeira: a norma estándar. Você já deve ter percebido que a linguagem, por ser multifacetada, pode ser adequada a diversas situações comunicativas. Esta adaptabilidade se percebe, por exemplo, quando você precisa se dirigir ao reitor da universidade onde estuda ou a alguma autoridade. De acordo com a norma, no trato com essas pessoas é indispensável que utilizemos uma linguagem formal, mediada por pronomes de tratamentos (como Vossa Senhoria, Excelentíssimo, no caso do português), assim como outras palavras e expressões específicas. Em língua espanhola, essa forma de se comunicar é orientada pelo que se entende por norma estándar (padrão). O tratamentoformal difere, por exemplo, do modo como nos comunicamos com pessoas com as quais temos intimidade (familiares, conhecidos e amigos íntimos). De acordo com Mota (2000, p. 40): Las normas definen lo que es y no es permitido con uno u otro grupo; algunas comunidades optan por un lenguaje coloquial para con los familiares mientras otros/ especialmente en relación a los padres, prefieren el uso de un tono formal. Las normas sociales determinan cómo debe la gente expresarse según la intención (saludar, agradecer, pedir, amenazar etc.), la audiencia (tipo de oyente o lector), el lugar, el medio de comunicación etc. A linguagem escrita, em língua espanhola, é normatizada por entidades como a Real Academia Española e pela Associação de Academias de Língua Espanhola. Este padrão de linguagem escrita se impõe frente às variações sociais e locais, em uma tentativa de unificar o idioma no plano textual, respeitando as particularidades de cada situação comunicativa. UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 30 Nos exemplos a seguir selecionamos dois tipos de cartas redigidas para autoridades. O texto 1 trata de uma carta escrita pelo presidente do governo espanhol Mariano Rajoy e dirigida ao presidente do governo da Catalunha. Já no texto 2 se reproduz uma carta escrita por uma criança de oito anos e destinada ao presidente da Bolívia, Evo Morales. Carta do presidente do governo da Espanha (Mariano Rajoy) ao presidente do governo da Catalunha. E S P A N H A Texto 1: Estimado President: Contesto la carta que me ha remitido, a la que adjunta el acuerdo aprobado por el Gobierno de la Generalitat de Cataluña, mediante el cual se solicita al gobierno español el inicio de negociaciones sobre los términos y las condiciones para la celebración de un referéndum en Cataluña, así como la Moción 122/XI aprobada por el pleno del Parlament de Cataluña el pasado 18 de mayo. Como usted sabe, mi voluntad de dialogar y de llegar acuerdos con la Generalitat de Cataluña, como con cualquier otro gobierno autonómico, es plena y sincera. Esta disposición al diálogo y a la cooperación entre administraciones ha quedado de manifiesto a lo largo de estos años, en los que hemos llegado a numerosos acuerdos y prestado toda nuestra colaboración a la Generalitat. Son muchos los ámbitos en los que dicha colaboración ha redundado en beneficio de los ciudadanos de Cataluña. He tenido ocasión de reiterarle, tanto en público como en privado, las obligaciones constitucionales que comporta tanto mi cargo como el suyo. La primera de ellas, ineludible para mí, es la defensa del orden constitucional. A nadie se le oculta que la propuesta política a la que se me invita consiste en pactar con el gobierno que usted preside, la forma de vulnerar el núcleo esencial de la Constitución española. (…) Como gobernante y representante del Estado, le invito a recuperar los planteamientos que, lejos de generar desencuentro y frustración, se ajusten al común marco de convivencia y respondan a las necesidades reales de los catalanes, y desde esa posición, logremos encontrar espacios de acuerdo en beneficio de todos. Mariano Rajoy Brey Presidente del Gobierno Fonte: http://www.lamoncloa.gob.es/presidente/actividades Paginas/2017/250517rajoycataluna.aspx TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA 31 Texto da atriz Kate del Castillo sobre a existência M É X I C O Texto 2: Es increíble la manera en que me mira, como resguardando, aceptándome con todo y mis noches de nostalgia, mis días de tristeza, mis despertares bañada en llanto, mis noches de lujuria, mis tardes filosóficas, mis borracheras en soledad hasta quedarme dormida. Me mira sin juzgar. Aquí en este lugar que decidí llamar mi hogar, HOME. Mi único YO, donde floto, donde me vuelvo niña y a madrazos me he vuelto mujer, donde soy simplemente YO. Nada se mueve, nada existe sin que yo lo decida…lo he hecho mío. Un espacio. Un vacío que llené de mí a base de lágrimas, rechazo, lucha, alegrías, amor y desamor, crecimiento y madurez, cómo duele madurar, duele crecer, cabrón duele. Su mirada me penetra y sonrío. Hasta lo más difícil que es ir en contra de mi misma, me ha costado mi hogar, home. Dejar, deshacerme, desligarme de…lo que creí era mío. Yo sé que nada me pertenece, que cuando muera, me iré sin maletas, sólo recuerdos y lo poco que quedará de mí, que será mucho pues…satisfacciones, tanto amor, tantas risas, tanto reconocimiento que tal vez no merecía, pero eso sí, plena, satisfecha y feliz me iré porque habré hecho y deshecho. Me habrán amado profundamente; he sido una mujer muy amada lo sé y tengo muy mala memoria pero de eso sí me acuerdo y para siempre, me han amado. Desde siempre me han amado. Más de lo que yo he amado tal vez y no es que no haya amado con todo lo que soy, apasionada y profundamente, es que … apenas me di cuenta. Estoy aprendiendo a amar. Su mirada me da consuelo. Nunca me he sentido tan vacía y tan feliz. Nunca me he sentido tan feliz pero tan vacía. Como sea da igual. Me doy las gracias a MÍ. Sólo a mí; por haber querido ser quien no era, como Dalí, mi ambición ha ido en aumento, ahora quiero ser KATE y lo estoy consiguiendo. La cultura, el poder, el conocimiento, la política, Hollywood, premios, no me darán una mejor tumba. Ser feliz será lo único que me dará a mí y a mis seres queridos paz cuando me vaya. Le entregaré cuentas al señor cuando me pregunte si fui feliz porque a eso me mandó no? Y tal vez mis cuentas se lean algo así: LA PASÉ DE LA FREGADA,SIEMPRE QUISE MÁS Y MÁS, A LO TARUGO ME PUSE INTENSÍSIMA, ESPERÉ MÁS DE LA GENTE,ME ENOJÉ POR TONTERÍAS,ME CALLÉ CUANDO NO DEBÍ,ODIÉ, ENVIDIÉ,ME TRAICIONÉ, MALDIJE, JUZGUÉ … … pero también me apasioné como desquiciada, me encabroné, me agarré a madrazos por amor, tuve pasión por mi profesión, defendí mi familia con los dientes, enloquecí de amor, tuve amistades que me sostuvieron las miles de veces que caí destrozada, viví intensamente, me lastimaron en lo más profundo, lastimé yo aún más, sentí morirme. Pero señor, no me arrepiento de un sólo momento, de una sola decisión porque por más estúpidas que fueron, salieron de mis entrañas, de mi par de ovarios, de mi corazón, de mi cabeza … de mí pues. Lucho y me hago más fuerte. FORTALEZA. Vivo y me hago más vulnerable. VULNERABILIDAD. Siento su mirada, sin ver, puro amor, amor puro. El “saber” me preocupaba tanto de chavita, quería dejar claro que no era tonta, era quien no quería ser y peor aún, quien no era ni seré. La vida es un instante de verdad, me da tristeza reconocerlo. Sólo quiero atenderme, sólo así podré superar UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA 32 No primeiro texto, percebemos uma manifestação cabal do uso da norma culta – ou do espanhol dito estándar -, no qual o autor respeita o padrão da linguagem escrita e se dirige formalmente a outra autoridade. Já no segundo texto, percebe-se a ausência significativa de sinais de pontuação. No entanto, coexistente com a não pontuação (se considerarmos que o texto supostamente foi escrito por uma criança de oito anos – o que é questionável), percebe-se uma notável tentativa de adequação linguística no que diz respeito ao destinatário. Ao longo da explanação, em nenhum momento a autora refere-se ao presidente de seu país de outra forma senão como “Señor Presidente” ou “Distinguidísimo Señor Presidente”, o que – neste aspecto – se compatibiliza com a norma estándar. Ambos os exemplos explicitam uma faceta do padrão da linguagem escrita normatizada pela Real Academia Española: um que se escreve por completo dentro da norma e outro que almeja alcançar este padrão. De acordo com Demonte (2005, p. 3): El estándar es, además de la supravariante de prestigio, el conjunto “borroso” de rasgos y procesos fonéticos, morfológicos, sintácticos y léxicos que se describirían en parte en algunas gramáticas normativas, la idea de que
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