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Beatriz Machado de Almeida Internato – 9º semestre 1 RELEVÂNCIA • 76.000 mortes por ano por conta das síndromes hipertensivas. • 209 mortes por dia. • Cerca de 9 mortes por hora. MORTALIDADE MATERNA A hipertensão representa 14% (OMS) / 21% (DATASUS) das causas de mortalidade materna no mundo. Tudo isso reflete a assistência ao pré-natal, ao parto e ao puerpério. DOENÇAS HIPERTENSIVAS ESPECÍFICAS DA GESTAÇÃO HAS CRÔNICA • É aquela paciente que já chega com diagnóstico de hipertensão crônica. • Paciente atendida na consulta de pré-natal com PAS >= 140 e/ou PAD >= 90 mmHg, medidas em duas ocasiões, com intervalo de tempo de, no mínimo, 4 horas. • Antes da 20º semana de gestação. HIPERTENSÃO GESTACIONAL • Diagnóstico retrospectivo avaliado pelo cartão da paciente (análise das pressões). • PAS >= 140 e/ou PAD >= 90mmHg, medidas em duas ocasiões diferentes, com intervalo de tempo de, no mínimo, 4 horas. • Após a 20º semana de gestação. Importante: na hipertensão gestacional não tem lesão de órgão alvo. PRÉ-ECLÂMPSIA/ECLÂMPSIA • PAS >= 140 e/ou PAD >90 mmHg, medidas em duas ocasiões diferentes, com intervalo de tempo de, no mínimo, 4 horas. • Após a 20º semana. • Proteinúria: • Pt/Cr (relação proteína/creatinina urinária) >= 0,3 • >= 300 mg/24 h (proteína na urina de 24 horas). • 1+ em fita (tem que esperar 4 horas sem ir ao banheiro). • COM e SEM critérios de gravidade. PRÉ-ECLÂMPSIA SOBREPOSTA A HAS CRÔNICA • Paciente diagnosticada anteriormente (até mesmo no pré natal) com hipertensão crônica. • PAS >= 140 e/ou PAD >90 mmHg, medidas em duas ocasiões diferentes, com intervalo de tempo de, no mínimo, 4 horas. • Proteinúria: ❖ Pt/Cr (relação proteína/creatinina urinária) >= 0,3 ❖ >= 300 mg/24 h (proteína na urina de 24 horas). ❖ 1+ em fita (tem que esperar 4 horas sem ir ao banheiro). ❖ COM e SEM critérios de gravidade. OU • Não precisa ter proteinúria, mas tem lesão de órgão alvo. Hipertensão na Gestação Beatriz Machado de Almeida Internato – 9º semestre 2 E SE NÃO TIVER PROTEINÚRIA? Se a paciente não tem proteinúria, mas tem PAS>=140 e/ou PAD>= 90mmHg, medidas em duas ocasiões diferentes, com intervalo de tempo de, no mínimo, 4 horas + critérios de gravidade (critérios de lesão de órgão alvo), ela tem pré-eclâmpsia. • Alterações das enzimas hepáticas. • Dor em QSD e epigástrio. • Edema/congestão pulmonar. • Plaquetopenia <100.000. Lembrete: as grávidas já tem as plaquetas mais baixas, então ... considerar plaquetopenia patológica quando <100.000. • Insuficiência renal/oligúria. • Hemólise. • Distúrbios visuais (escotomas cintilantes) e cefaleia grave (geralmente frontal – na testa). • PA >= 160X110mmHg. • RCIU (restrição de crescimento) /oligodramnia/doppler com fluxo venoso alterado. Lembrete: Os critérios de gravidade não são só critérios maternos, podendo ser critérios fetais. SÍNDROME HELLP • Hemolysis, Elevated Liver enzymes, Low Platelet Count = Hemólise, elevação das enzimas hepáticas e diminuição das plaquetas. PRÉ-ECLÂMPSIA FATORES DE RISCO • 1 fator de alto risco ou 2 fatores de risco médio. A partir do momento que a paciente é identificada como de risco para desenvolver pré-eclâmpsia, a profilaxia precisa ser instituída. ISSHP CRITÉRIOS DE ALTO RISCO: • Pré-eclâmpsia prévia. • Hipertensão crônica. • Gestação múltipla. • Diabetes pré-gestacional. • IMC materno >30. • SAAF/LES. • Reprodução assistida (fertilização in vitro). Quando se tem 1 fator de alto risco, a paciente já vai automaticamente pra profilaxia de pré-eclâmpsia. CRITÉRIOS DE MÉDIO RISCO: • Idade materna avançada. • História familiar de primeiro grau (mãe/irmã). • Curta duração do relacionamento (<6m) antes da gravidez. • Primiparidade. • Primipaternidade. • Intervalo interpartal >5 anos. • Doença renal crônica. • Doença do tecido conjuntivo. São necessários 2 fatores de médio risco para instituir a profilaxia. NICE CRITÉRIOS DE ALTO RISCO: • Doença hipertensiva na gravidez anterior. • Doença renal crônica. • Doença autoimune, como SAAF e LES. • Diabetes tipo I e II. • Hipertensão crônica. CRITÉRIOS DE MÉDIO RISCO: • Primiparidade. • Idade >= 40 anos. • Intervalo interpartal >10 anos. • IMC >= 35 na primeira consulta. • História familiar de primeiro grau. • Gravidez múltipla. ACOG CRITÉRIOS DE ALTO RISCO: • História de PE, principalmente se critérios de gravidade. • Gestação múltipla. • Hipertensão crônica. • Diabetes tipo I e II. • Doença renal. • Doença autoimune (SAAF, LES). Beatriz Machado de Almeida Internato – 9º semestre 3 CRITÉRIOS DE MÉDIO RISCO: • Nuliparidade. • Obesidade (IMC >30). • História familiar de PE (mãe ou irmã). • Características sociodemográficas (afrodescendente, status socioeconômico baixo). • Idade >= 35 anos. • Fatores de risco pessoais (baixo peso ao nascer ou PIG, intervalo interpartal >10 anos). FISIOPATOLOGIA • Envolvimento de múltiplos fatores: maternos, fetais, placentários. • Em torno do final do primeiro trimestre até em torno de 18-20 semanas, numa gestação normal, as células trofoblásticas invadem a descídua, o miométrio, e penetram na camada muscular das arteríolas espiraladas, ocorrendo a destruição da camada muscular. Dessa forma, as artérias se tornam vasos de alta capacitância e baixa resistência, aumentando o fluxo sanguíneo, melhorando a perfusão local. • No entanto, na pré-eclâmpsia, nesse mesmo período (2º onda de invasão placentária), as células trofloblásticas invadem a descídua, mas não conseguem penetrar no endométrio, não ocorrendo destruição da camada muscular das artérias espiraladas. Dessa forma, as artérias se tornam vasos de baixa capacitância e alta resistência, ocorrendo a hipertensão. Com essas anormalidades da vasculatura placentária vai ocorrendo hipóxia e, consequentemente, isquemia útero-placentária crônica, levando a desfechos desfavoráveis, como por exemplo: • RCIU. • Oligodrâmnio. • DPP (descolamento prematuro de placenta). • Parto prematuro. • Óbito fetal. Além disso, essas anormalidades fazem com que haja liberação de fatores antiangiogênicos e inflamatórios na circulação materna. Com isso ocorre disfunção endotelial que leva a hipertensão arterial, coagulopatia e disfunção de órgãos-alvo. É nesse momento que ocorrem os critérios de gravidade citados anteriormente. RECAPITULANDO A pré-eclâmpsia gera situações críticas como eclâmpsia, crise/emergência hipertensiva e síndrome Hellp, que contribuem para a morbimortalidade materna e mortalidade perinatal. EMERGÊNCIA HIPERTENSIVAS NA GESTAÇÃO CRISE HIPERTENSIVA NA HAC EMERGÊNCIA: • PA> 160X110mmHg, com lesão aguda ou piora de lesão crônica de órgão-alvo. • Edema agudo de pulmão: + comum na gestante. • Lesão renal aguda. • Encefalopatia hipertensiva. Beatriz Machado de Almeida Internato – 9º semestre 4 URGÊNCIA: • PA >160X110mmHg, sem lesão de órgão-alvo. IMINÊNCIA DE ECLÂMPSIA/ECLÂMPSIA • Cefaleia frontal. • Escotomas cintilantes. • Epigastralgia. • Náuseas e vômitos. • Hiperreflexia. • Após esse estágio, a paciente pode evoluir para convulsão. CRISE HIPERTENSIVO NA HAC MEDIDAS GERAIS MOVer + ABC ❖ Monitorização. ❖ Oxigenação. ❖ Suporte venoso. ❖ Vias aéreas. ❖ Respiração. ❖ Circulação. • PA >= 160X110mmHg. HIDRALAZINA: • 5 mg, EV, a cada 15-20 minutos. • 1 mL (=20 mg) + 10 mL de água destilada = 1mg/mL → 5 ml, EV, lento, a cada 15-20 minutos. NIFEDIPINA: • 10mg, VO, de 30 em 30 minutos. • Máximo: 50mg em 1 hora. • Alvo: PA <140X90mmHg. • É necessário que a paciente esteja responsiva e com o nível de consciência preservado. MANEJO NA CRISE HIPERTENSIVA EDEMA AGUDO DE PULMÃO • É o mais comum na gestante. ❖ Morfina:deve entrar em desuso, pois há prolongamento de internação em leito de UTI, taxas de admissão, taxas de ventilação mecânica e taxas de mortalidade. ❖ Oxigênio: Suporte ventilatório. Quando sat <90%. ❖ Nitrato: Controle pressórico. Nitroglicerina ou Nitroprussiato de sódio (parcimônia; cuidado com intoxicação por cianeto – danoso ao feto). ❖ Furosemida: Diminuição da volemia → conforto. ❖ Sentado: Conforto respiratório. Nesses casos de paciente com hipertensão crônica, se faz uso de sulfato de magnésio? Em uma crise hipertensiva na gravidez, sempre que PAS >=160 e/ou PAD >= 110mmHg, sendo urgência ou emergência hipertensiva, com ou sem sintomas, se tiver iminência de eclâmpsia, crise hipertensiva ou hipertensão severa, o sulfato de magnésio sempre está em primeiro lugar, seguido de anti-hipertensivo. Mesmo que não tenha nenhuma sintomatologia, mas esteja diante de uma crise hipertensiva ou hipertensão severa, o sulfato de magnésio também vem sempre em primeiro lugar, seguido de anti- hipertensivo. Primeira droga: Sulfato de magnésio. IMINÊNCIA DE ECLÂMPSIA • Cefaleia grave (66%). • Alterações visuais (27%). • Náuseas e vômitos. • Dor em QSD e epigastralgia (25%). • Hiperrreflexia. Cerca de 25% das pacientes são assintomáticas! ECLÂMPSIA • Eclâmpsia é a manifestação convulsiva das Doenças Hipertensivas da Gestação e está entre as manifestações mais graves da doença. • É uma das principais causas de mortalidade materna e perinatal. Beatriz Machado de Almeida Internato – 9º semestre 5 Questão: (USP-2016)> Mulher, 28 anos, primigesta, sem comorbidades, realizado pré-natal em UBS, com ganho de peso de 13Kg durante a gravidez, foi encaminhada ao PS, na 34º semana de gestação, com queixa há cerca de 6 horas de cefaleia e dor no estômago. Referia escotomas, PA = 160X110 mmHg, AU (altura uterina) = 33cm, BCF (batimentos cardiofetais) = 152 bpm, DU (dinâmica uterina) = ausente. Apresentou crise tônico-clônico generalizada ao ingressar na unidade. Qual a conduta (cuidados) a ser tomada para esta paciente neste momento? a) ABC + MOVer. b) Hidralazina. c) Sulfato de magnésio. d) Metildopa. Explicação: na presença de um paciente crítico, a primeira coisa a se fazer é a estabilização. Qual droga utilizar primeiro? a) Hidralazina (controle da PA). b) Sulfato de magnésio (magnesioterapia). MANJETO DA ECLÂMPSIA • ABC + MOVer. 1. Posicionamento em decúbito lateral esquerdo. 2. O2 suplementar 6-10l/min (Alvo: Sat O2 > 95%). 3. Magnesioterapia. 4. Controle da PA: hidralazina ou nifedipino. 5. Sondagem vesical de demora. 6. Avaliação da vitalidade feral. MAGNESIOTERAPIA: Até quando manter o sulfato de magnésio? Até 24 horas após o parto ou até 24 horas após a última crise tônico-clônica. CUIDADOS COM O USO DO MGSO4: • Sinais de intoxicação por MgSO4: ❖ Perda de reflexo patelar --- 10mEq/l. ❖ Depressão respiratória --- 15 mEq/l. ❖ Parada cardíaca --- 30 mEq/l. • Suspender MgSo4: ❖ Reflexos tendinosos ausentes. ❖ Frequência respiratória <= 16. ❖ Diurese <= 25ml/h: por isso a importância da sondagem vesical de demora. Gluconato de cálcio 10%, 10 ml, IV, em 2-3 minutos. Em casos de suspeita de intoxicação ou intoxicação confirmada, é necessária a aplicação do gluconato. CONTROLE DA PA NA PRÉ-ECLÂMPSIA OU NAS COMPLICAÇÕES DA PRÉ-ECLÂMPSIA HIDRALAZINA: • 5 mg, EV, a cada 15-20 minutos. • 1 mL (=20 mg) + 10 mL de água destilada = 1mg/mL → 5 ml, EV, lento, a cada 15-20 minutos. NIFEDIPINA: • 10mg, VO, de 30 em 30 minutos. • Máximo: 50mg em 1 hora. • Alvo: PA <150X100mmHg (diferente das pacientes com hipertensão crônica). EXAMES COMPLEMENTARES ROTINA DHEG • Hemograma: trombocitopenia < 100.000/mm³. Grave: <50.000/mm³. • Transaminases: >70U/L ou o dobro da linha de base. • Bilirrubinas e LDH: Hemólise: bilirrubina indireta > 1,2mg%; LDH > 600U/L. • Razão proteína/creatinina urinárias: >= 0,3. • Creatinina >= 1,1 mg/dL. • Ácido úrico > 6,5. Relação com prognóstico fetal. • Ureia: valor de referência do laboratório. Síndrome HELLP: Hemólise + elevação das enzimas hepáticas + plaquetopenia. Beatriz Machado de Almeida Internato – 9º semestre 6 CRISES RECORRENTES • Dose adicional ---------- 2g MgSO4. Manutenção 2g/hora. Se ainda assim continuar ... • Fenitoína ---- 1.250 mg + 250 ml SF 0,9%, IV, 50 mg/min. Manutenção: 100 mg, 8/8h, IV. Interconsulta com neurologista (>2 recorrências) + exames de imagem: avaliação de lesões cerebrais. QUANDO REALIZAR O PARTO? ECLÂMPSIA • Interrupção após estabilização!!! Em até 24 horas. • Importante: Eclâmpsia é contraindicação absoluta para conduta expectante. O tratamento definitivo da eclâmpsia é o PARTO! PRÉ-ECLÂMPSIA COM CRITÉRIOS DE GRAVIDADE Nas pacientes com pré-eclâmpsia sem critérios de gravidade ou uma hipertensão gestacional, a data do parto é a partir de 37 semanas. Nas pacientes com critérios de gravidade, a data do parto pode ser: DETERIORAÇÃO CLÍNICA MATERNA • Instabilidade hemodinâmica materna. • HAS grave sem resposta ao tratamento. • Edema pulmonar. • Insuficiência renal progressiva. • Descolamento prematuro de placenta. • Trombocitopenia progressiva. • Coagulopatia. • Eclâmpsia. • HELLP. DETERIORAÇÃO CLÍNICO FETAL • PBF (perfil biofísico) alterado. • RCIU (p<3). • Oligodramnia. • Doppler com alteração do fluxo venoso. • Óbito fetal. Deterioração clínica materna ou deterioração clínica fetal = PARTO!!! INTERRUPÇÃO APÓS ESTABILIZAÇÃO VIA DE PARTO: Considerar IG, Bishop, dinâmica uterina, vitalidade e apresentação fetal. • Parto vaginal: se condição materno-fetal adequada e colo favorável ao parto até 24 horas (evitar induções prolongadas). • Parto cesáreo: opção razoável quando IG < 32 a 34 semanas e colo desfavorável. PREVENÇÃO DA PRÉ-ECLÂMPSIA RECOMENDAR CASO HAJA FATORES DE RISCO • AAS 75mg – 100mg/dia. Utilizar a noite. • Cálcio (carbonato de cálcio): 1g – 2,5g/dia. SÍNDROME HELLP • 50-60% das mortes por eclâmpsia tinham HELLP associada. • Não é muito comum, mas quando ocorre, é extremamente letal. • Internamento hospitalar para vigilância materno- fetal. • Avaliação da condição materna e fetal: ❖ Exames laboratoriais a cada 6 horas. ❖ USG com dopplerfluxometria, PBF e CTG. Após 28 semana. CONDUTAS • Terapia anti-hipertensiva. • Magnesioterapia. • Uso de fluídos e hemoderivados. • Uso de dexametasona. USO DE FLUÍDOS E HEMODERIVADOS: Plaquetas: Beatriz Machado de Almeida Internato – 9º semestre 7 • Plaquetopenia + sangramento ativo. • Prevenção de sangramento excessivo durante o parto → se plaquetas < 20.000. • Se cesárea eletiva: transfusão para obter alvo de plaquetas >50.000. Cada unidade de plaquetas transfudidas produz aumento de 5-10.000 na contagem de plaquetas. USO DE DEXAMETASONA: • Controversa na literatura. • Indicação: pacientes com síndrome HELLP classe I (plaquetopenia <= 50.000). • Como usar: dexametasona 10 mg, EV, a cada 12 horas até o parto, e mantida no pós parto. Após recuperação laboratorial, mais 4 doses adicionais de 5 mg a cada 12 horas. INTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO FLUXOGRAMA Material baseado no curso de EMERGÊNCIAS OBSTÉTRICAS – FMB- UFBA.
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