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FÍSICA MODERNA Paul A. Tipler ex-Professor da Oakland University Ralph A. Llewellyn University of Central Florida Tradução e Revisão Técnica Ronaldo Sérgio de Biasi, Ph.D. Professor Emérito do Instituto Militar de Engenharia – IME SEXTA EDIÇÃO Este Material Suplementar contém ilustrações, leituras suplementares, revisão de conceitos clássicos que podem ser usados como apoio para o livro Física Moderna, Sexta Edição, 2014. Este material é de uso exclusivo de professores e estudantes que adquiriram o livro. Material Suplementar traduzido do material original: – Ilustrações da obra em formato de apresentação (acesso restrito a docentes); – Leituras Suplementares arquivos em formato (.pdf) contendo material de apoio às seções do livro-texto (acesso livre); – Revisão de Conceitos Clássicos arquivos em formato (.pdf) contendo material complementar às seções do livro-texto (acesso livre). MODERN PHYSICS, SIXTH EDITION First published in the United States by W. H. FREEMAN AND COMPANY, New York Copyright © 2012, 2008, 2003, 2000 by W. H. Freeman and Company All Rights Reserved. Publicado originalmente nos Estados Unidos por W. H. FREEMAN AND COMPANY, New York Copyright © 2012, 2008, 2003, 2000 by W. H. Freeman and Company Todos os Direitos Reservados. ISBN: 978-1-4292-5078-8 Reservados todos os direitos. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sob quaisquer formas ou por quaisquer meios, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação, ou por qualquer sistema de armazenagem e recuperação de informações sem permissão da Pearson Education, Inc. Edição em língua PORTUGUESA publicada por LTC — LIVROS TÉCNICOS E CIENTÍFICOS EDITORA LTDA. Copyright © 2014. Obra publicada pela LTC: FÍSICA MODERNA, Sexta Edição Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright © 2014 by LTC — Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda. Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Imagem de capa: Steven R. White, University of California, Irvine Editoração Eletrônica do material suplementar: | iv SUMÁRIO REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 1. Relatividade Clássica 1 2. A Velocidade da Luz 3 3. Condução de Calor – O Modelo Clássico 5 4. O Experimento de Millikan 7 5. O Experimento de Thomson 10 6. O Espectrômetro de Massa 12 7. Demonstração da Distribuição de Boltzmann 14 8. A Teoria Cinética dos Gases 18 9. Funções de Distribuição 22 10. Livre Caminho Médio 24 11. Teoria Clássica da Condução de Eletricidade 26 12. Medição de e/m Usando o Efeito Zeeman 28 13. Energia de uma Partícula em uma Órbita Elíptica 30 14. A Força de Lorentz 32 15. Franjas de Interferência 34 16. Modos de Oscilação 37 17. Regra de Seleção do Oscilador Harmônico 39 18. Cálculo de vrms Usando o Teorema da Equipartição 41 19. Notação Espectroscópica 42 20. Energia Potencial Eletrostática de uma Esfera Carregada 44 21. Pontos de Lagrange 45 22. Espalhamento da Luz das Estrelas 48 23. A Teoria de Einstein do Calor Específico 50 24. Radiação Multipolar 52 25. A Integral de Fourier 54 26. Pressão da Radiação 55 27. Momento Magnético 58 28. Defeitos da Teoria Clássica da Condução de Eletricidade 60 29. Massa Reduzida 61 30. Oscilador Harmônico 62 1 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 1 Relatividade Clássica Relatividade Clássica Galileu foi o primeiro a definir o conceito de aceleração quando, em seus estudos de corpos em queda, mostrou que a taxa da variação da velocidade era constante, o que sugeria que o movi- mento dos corpos em queda estava intimamente relacionado à variação da velocidade. Foi essa observação, entre outras, que Newton generalizou na segunda lei: RC-1 para a qual dv/dt = a é a aceleração de um corpo de massa m e F é a força a que o corpo está submetido. (Lembre-se de que as letras e símbolos impressos em negrito são vetores.) A primeira lei de Newton, a lei da inércia, também está implícita na Equação RC-1: a velocidade de um corpo que não está sujeito a nenhuma força não varia, ou seja, a aceleração do corpo é zero. Referenciais Uma questão importante no estudo das leis do movimento, que foi discutida por Newton e que o leitor talvez tenha estudado em um curso introdutório de física, é a dos referenciais em que essas leis são válidas. As leis de Newton são válidas apenas nos chamados referenciais inerciais, referenciais nos quais a lei da inércia pode ser aplicada. As leis de Newton não são válidas em referenciais acelerados, ou seja, os referenciais acelerados não são referenciais inerciais. As Figuras RC-1 e RC-2 ilustram a diferença entre referenciais inerciais e não inerciais. A Transformação de Galileu As leis de Newton representaram um grande avanço para a física, já que são as mesmas em todos os referenciais inerciais. Isso significa não só que não existe uma posição especial ou privi- legiada para medir o espaço e o tempo, mas também que não existe uma velocidade especial ou privilegiada para executar essas medidas. Se um observador em um referencial inercial S mede a velocidade de um corpo como u e um observador em um referencial S que se move com velocidade constante v no sentido positivo do eixo x em relação a S mede a velocidade do corpo como u, u = u v ou, em termos do sistema de coor- denadas da Figura RC-3, RC-2 x´ y´ z´ x´ x y´ y z´ z S S´ O´ O´ O a = 0 → v = 0 → v > 0 → v → S´ → a > 0 ϑ a → (c) x y z S O x´ x y´ y z´ z O´ O S´ a = 0 → v > 0 → v → S (b)(a) FIGURA RC-1 Um corpo de massa m suspenso por uma corda presa ao teto de um vagão de trem ilustra a relatividade da segunda lei de Newton, F = ma. As únicas forças que agem sobre o corpo são o peso mg e a tensão T da corda. (a) O vagão está parado no referencial S. Como a velocidade v e a aceleração a do vagão (ou seja, do sistema S) são nulas, os dois observadores veem o corpo pender verticalmente, com F = F = 0. (b) Se S está se movendo no sentido positivo do eixo x com v constante, os dois observadores veem o corpo pender verticalmente, mas se movendo com velocidade v no referencial S e em repouso no referencial S. Nos dois casos, F = F = 0. (c) Se S está se movendo no sentido positivo do eixo x com uma aceleração a 0, a corda faz um ângulo 0 com a vertical. Entretanto, ainda está em repouso (ou seja, em equilíbrio), do ponto de vista do observador em S, que “explica” o ângulo postulando a existência de uma pseudoforça Fp no sentido negativo do eixo x. 2 Revisão de Conceitos Clásssicos 1 Como ux = dx/dt, uy = dy/dt e uz = dz/dt, integrando as Equa- ções RC-2, as equações da transformação de velocidades de S para S, obtemos as Equações RC-3, as equações da transfor- mação de Galileu: RC-3 supondo que as origens de S e S coincidem no instante t = 0. Derivando as Equações RC-2, obtemos: RC-4 o que nos leva à conclusão de que a = a. Isso demonstra que F = ma = ma = F na Figura RC-1b, na Figura RC-3 e em todas as outras situações nas quais a velocidade relativa entre dois referenciais é constante. Se a velocidade relativa v entre dois referenciais é constante, dv/dt = 0 e, portanto, os observadores nos dois referenciais medem a mesma aceleração e concordam quanto aos resultados da aplicação da equação F = ma. Este resultado pode ser generalizado da seguinte forma: Todo referencial que se move com velocidade constante em relação a um referencial inercial também é um refe- rencial inercial. As leis de Newton são invariantes em todos os referenciais ligados por uma transformação de Galileu. A segunda das afirmações acima é o Princípio da Relativi- dade Newtoniana. Note que na formulação deste princípio está implícito que os relógios dos dois observadores marcam o mesmo tempo, ou seja, t = t. x´ y S Satélite Terra Órbita geoestacionária ω ω x z S´ y´ z´ FIGURA RC-2 Um satélite geoestacionário gira no plano do equador com uma velocidade angular orbital igual à velocidade angular derota- ção da Terra e, por esse motivo, se mantém indefinidamente sobre o mesmo ponto da superfície da Terra, ou seja, está em repouso em rela- ção à superfície da Terra. Um observador a bordo do satélite (no refe- rencial S) atribui a aceleração radial (centrípeta) do satélite à força de atração gravitacional da Terra, FG. Para um observador na superfície da Terra (no referencial S), porém, a = 0 e FG ma. Para explicar a inexistência de uma aceleração, o observador postula a existência de uma pseudoforça Fp = FG. x´ y´ v z´ S´S u´ u x y z O O´ N FIGURA RC-3 De acordo com o observador que está no cais (referen- cial S), a velocidade do barco a vela é u. Segundo o observador que está na lancha a motor (referencial S), que se move com velocidade constante v em relação a S, a velocidade do barco a vela é u. A inva- riância das equações de Newton exige que u = u v. EXEMPLO RC-1 Velocidade de um Barco em Relação a Outro Qual é a velocidade do barco a vela da Figura RC-3 do ponto de vista de um observador a bordo da lancha a motor? A lancha a motor está rumando para leste a 3,0 m/s em rela- ção ao cais. De acordo com o observador do cais, a veloci- dade do barco a vela é 1,5 m/s na direção nordeste. SOLUÇÃO 1. O módulo da velocidade u do barco a vela é dado por 2. As componentes de u são dadas pela Equação RC-2 com v = 3,0 m/s, ux = 1,5 cos 45o, uy = 0 e uz = 1,5 sen 45o. 3. Substituindo esses valores na equação de u, obtemos: 4. A direção de u em relação ao norte (eixo z) é dada por 5. Substituindo ux e uz por seus valores, obtemos Comentário: Note que os observadores em S e S obtêm valo- res diferentes para o módulo e a direção da velocidade do barco a vela. Quando passamos de um sistema inercial para outro, são as equações que se mantêm invariantes, não os valores das grandezas envolvidas. Como não existe um referencial inercial privilegiado, os dois resultados estão corretos! 3 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 2 A Velocidade da Luz FIGURA VL-1 Os observadores em S e S medem forças elétricas iguais 2kq/y1 exercidas por um fio comprido com uma densi- dade uniforme de carga sobre uma carga pontual q situada a uma distância y1 = y1 do fio. Como, porém, o movimento do fio negativamente carregado equivale a uma corrente elétrica, o observador S mede uma força magnética adicional 0v2q/ 2y1 exercida pelo fio sobre a carga. Isso significa que as equa- ções de Maxwell não são invariantes em relação a uma trans- formação de Galileu. x´x y´y y1 q S v z´z S´ Por volta de 1860, James Clerk Maxwell descobriu que as leis experimentais da eletricidade e do magnetismo podiam ser con- densadas em um sistema de quatro equações matemáticas, hoje conhecidas como equações de Maxwell. Uma das consequências dessas equações era a possibilidade da existência de ondas ele- tromagnéticas. Foi reconhecido quase imediatamente, na verdade pelo próprio Maxwell, que as equações recém-descobertas não obedeciam ao Princípio da Relatividade Newtoniana, ou seja, que não eram invariantes em relação a uma transformação de Galileu. Este fato pode ser constatado observando a situação da Figura VL-1, que mostra um fio comprido com uma densidade uniforme de carga negativa e uma carga pontual q situada a uma distân- cia y1 do fio. O fio e a carga estão em repouso no referencial S. Um segundo referencial S se move em relação a S com veloci- dade constante v no sentido positivo do eixo x. Um observador em repouso no referencial S vê o fio e a carga se moverem com velocidade v no sentido negativo do eixo x. Como o movimento do fio faz com que apareça uma força magnética adicional, as forças que agem sobre a carga q são diferentes para os observa- dores S e S, o que significa que as equações de Maxwell não são invariantes em relação a uma transformação de Galileu. Por que alguém se preocuparia com o fato de que as leis de Maxwell do eletromagnetismo não são as mesmas em todos os referenciais inerciais, como acontece com as leis de Newton? Os cientistas da época provavelmente não teriam dado grande importância a essa diferença se as equações de Maxwell não previssem a existência de ondas eletromagnéticas com uma velo- cidade de propagação bem determinada, c = 1/(00)1/2 3,00 108 m/s. A excelente concordância entre este número e o valor experimental da velocidade da luz e entre as propriedades de polarização previstas para as ondas eletromagnéticas e as pro- priedades de polarização da luz foi considerada uma forte indi- cação de que a luz era uma onda eletromagnética. Sendo esse o caso, foi postulado no século XIX que a luz, como todas as outras ondas, se propagava em um meio material. Para explicar o modo como a luz se comportava, era preciso que esse meio, que recebeu o nome de éter, ocupasse todo o uni- verso, incluindo o interior da matéria. (A ideia do éter já havia sido proposta 2000 anos antes pelo filósofo grego Aristóteles.) O éter devia possuir propriedades curiosas, como a de ser extre- mamente rígido (para permitir a propagação de ondas transver- sais com alta velocidade) e ao mesmo tempo não oferecer uma resistência perceptível ao movimento dos planetas, que podia ser descrito com extrema precisão pelas leis de Newton. Uma das consequências da existência do éter era que uma onda lumi- nosa que se propagasse com velocidade c em relação ao éter deveria propagar-se, de acordo com a transformação de Galileu, com uma velocidade c = c + v em relação a um referencial que estivesse se movendo com uma velocidade v em relação ao éter. Isso, por sua vez, exigia que as equações de Maxwell tivessem uma forma diferente no referencial em movimento, para que a velocidade de propagação fosse c em vez de c. O referencial no qual o éter estava em repouso ocuparia assim uma posição privilegiada na teoria eletromagnética e seria possível observar experimentalmente a existência desse referencial. O problema do postulado do éter não estava no fato de que constituía um referencial privilegiado para as equações de Maxwell (Newton também tinha postulado um referencial pri- vilegiado para as leis da mecânica, o das “estrelas fixas”) e sim no fato de que, ao contrário do que acontecia com os meios de propagação dos outros tipos de onda (a água, o ar, os objetos sólidos), não havia nenhuma prova palpável da sua existência. Muitos experimentos foram propostos para demonstrar a pre- sença do éter, mas todos fracassaram. O experimento clássico de Fizeau para medir a velocidade da luz (Figura VL-2) é um bom exemplo dos problemas encon- 4 Revisão de Conceitos Clásssicos 2 Observador Espelho semitransparente Fonte luminosa Roda dentada Espelho L ω FIGURA VL-2 Fizeau mediu a velocidade da luz em 1849 fazendo passar um raio luminoso pelo espaço entre os dentes de uma roda dentada antes de atingir um espelho. Propagando- se com velocidade c, um raio luminoso levava 2L/c segundos para completar o percurso de ida e volta entre a roda dentada e o espelho. Se, durante esse tempo, a rotação da roda colo- cava um dente no caminho da luz, o observador não via a luz. Aumentando a velocidade angular da roda, porém, era possí- vel fazer com que um novo espaço entre os dentes da roda estivesse presente no momento do retorno do raio luminoso, fazendo com que o observador voltasse a ver a luz. experimentos para detectar o efeito do movimento da Terra sobre a velocidade de propagação da luz foram propostos, mas, em todos, com uma única exceção, o erro experimental, com os equipamentos disponíveis na época, seria muito maior que o efeito esperado. A exceção foi o experimento de Michelson e Morley. EXEMPLO VL-1 Velocidade Orbital da Terra Determine a velocidade orbital da Terra em relação a um referencial iner- cial em repouso em relação ao centro do Sol. O valor médio do raio da órbita da Terra é R = 1,496 108 km. SOLUÇÃO 1. A velocidade orbital média v pode ser expressa em termosda circunferência C da órbita e do tempo necessário para completar uma órbita: 2. A circunferência da órbita pode ser calculada a partir do valor médio do raio da órbita: 3. A Terra percorre uma distância igual a C em t = 1 ano = 3,16 107 s. A velocidade orbital média é, portanto, trados pelos cientistas que tentavam investigar as propriedades do éter. Como o tempo t que a luz leva para fazer um percurso de ida e volta entre a roda dentada e o espelho é 2L/c, a veloci- dade da luz seria dada por De acordo com a transformação de Galileu, o movimento da Terra em relação ao éter, com uma certa velocidade v (desco- nhecida), afetaria a medição da velocidade da luz em um expe- rimento como o de Fizeau. Se a Terra estivesse se movendo para a direita com velocidade v na Figura VL-2, a velocidade da luz em relação ao laboratório seria c = c – v no percurso de ida e c = c + v no percurso de volta. O tempo total gasto no percurso seria, portanto, VL-1 na qual o termo (1 v2/c2)1 foi substituído por uma expansão binomial (veja o Apêndice B2 do livro) e apenas os dois primei- ros termos foram considerados. Embora a velocidade da Terra em relação ao éter fosse desconhecida, era razoável supor que, em alguma época do ano, fosse pelo menos igual à velocidade orbital da Terra, cerca de 30 km/s. Nesse caso, o maior efeito observável seria da ordem de v2/c2 = (3 104/3 108) 2 = 108, ou seja, 1 parte em 108. Como o erro experimental do equipa- mento usado por Fizeau era 10.000 vezes maior que o efeito esperado, os cientistas chegaram à conclusão de que seria inútil tentar observá-lo em um experimento desse tipo. Muitos outros 5 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 3 Condução de Calor – O Modelo Clássico FIGURA CC-1 Ao percorrer uma distância λ, um elétron perde uma energia térmica igual a c∆T, sendo ∆T = (dT/dx)λx. A λ T + ∆T T x dx Os materiais que se comportam como bons condutores de ele- tricidade também são bons condutores de calor. De acordo com a teoria clássica, isso acontece porque o gás de elétrons é o prin- cipal responsável pela condução do calor em metais. O coefi- ciente de condução térmica K de um sólido é definido em termos do fluxo estacionário de energia térmica ao longo de uma barra na qual existe um gradiente de temperatura uniforme dT/dx. O fluxo de energia térmica JQ, definido como o fluxo de energia por unidade de área e por unidade de tempo, é dado por CC-1 A teoria cinética dos gases, discutida na Revisão de Conceitos Clássicos 8, permite determinar o valor de K em termos das pro- priedades clássicas do gás de elétrons. Considere um segmento de uma barra de metal (Figura CC-1). Se o calor específico de um elétron isolado é c, ao se mover da esquerda para a direita ao longo da barra, isto é, da região onde a temperatura é T + ∆T para uma região onde a temperatura é T, o elétron perde uma energia térmica igual a c∆T. A diferença de temperatura para uma distância igual ao livre caminho médio λ é dada por CC-2 na qual λx é a componente x de λ e τ é o tempo médio entre coli- sões. O fluxo de energia térmica é igual ao produto do fluxo de elétrons no sentido positivo do eixo x, nvx, pela variação de ener- gia térmica por elétron, c∆T: CC-3 Como, de acordo com o teorema da equipartição (veja a Leitura Suplementar 2, Capítulo 8 e a Revisão de Conceitos Clássicos 18), v2x v2/3, a Equação CC-3 pode ser escrita na forma J nv c dT dxq =- 1 3 2 τ CC-4 O calor específico por unidade de volume C é igual a nc. Como τ = λ/v, a Equação RCC19-4 se torna J Cv dT dxq =- 1 3 λ CC-5 que, combinada com a Equação CC-1, nos dá a seguinte equa- ção para a condutividade térmica: K Cv= 1 3 λ CC-6 O calor específico por unidade de volume C pode ser expresso em termos do calor específico molar a volume constante do gás de elétrons, CV, observando que nCV/NA = C CV no caso de um gás monoatômico, para o qual CV = 3R/2 = 3kNA/2 (veja a Seção 8-1). Assim, a condutividade térmica pode ser escrita na forma K nv k= 1 2 λ CC-7 6 Revisão de Conceitos Clásssicos 3 A razão entre a condutividade térmica K e a condutividade elé- trica σ é dada por K nv k ne m v m v k e k T ee e eσ λ λ π = = = / / 2 2 4 2 2 2 2 CC-8 na qual v foi substituída pelo seu valor, dado pela Equação 10-9. De acordo com a teoria clássica, portanto, a relação entre a condutividade térmica e a condutividade elétrica deveria ser proporcional à temperatura absoluta, e a constante de propor- cionalidade deveria ser a mesma para todos os metais. A relação expressa pela Equação CC-7 é conhecida como lei de Wieder- mann-Franz. A relação entre K e σT é chamada de número de Lorentz e representada pela letra L: CC-9 Como se pode ver na Tabela CC-1, L realmente varia muito pouco de metal para metal, embora os valores numéricos sejam maiores que os esperados. Por causa das aproximações envol- vidas neste modelo, não devemos esperar mais do que uma con- cordância de ordem de grandeza com os resultados experimen- tais. O verdadeiro teste do modelo está no fato de prever que, embora K e σ variem consideravelmente com a temperatura e de metal para metal, a razão K/σT praticamente não varia. A confirmação desta previsão foi muito importante para a história da teoria dos metais, pois ajudou a convencer os físicos de que Tabela CC-1 Número de Lorentz L = K/T, em unidade de 108 WΩ/K2, para vários metais a 0 °C e a 100 °C Metal 0°C 100°C Metal 0°C 100°C Ag 2,31 2,37 Pb 2,47 2,56 Au 2,35 2,40 Pt 2,51 2,60 Cd 2,42 2,43 Sn 2,52 2,49 Cu 2,23 2,33 W 3,04 3,20 Mo 2,61 2,79 Zn 2,31 2,33 os metais eram realmente formados por um gás de elétrons e uma rede de íons positivos. Exercícios 1. No modelo clássico de elétrons livres, o elétron perde ener- gia (em média) a cada colisão, já que a velocidade de deriva que adquiriu após última colisão é perdida. Para onde vai essa energia? 2. O número de Lorentz tende a diminuir em baixas tempera- turas. Por que isso acontece? 7 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 4 O Experimento de Millikan O experimento no qual Millikan mediu a carga do elétron é um dos poucos experimentos realmente cruciais da física e ao mesmo tempo um modelo de simplicidade. A Figura EM-1 mostra, de forma esquemática, o equipamento usado por Millikan. Na ausência de campo elétrico, a força para baixo é mg e a força para cima é bv. A equação de movimento da gota é: EM-1 na qual b é dado pela lei de Stokes: EM-2 em que é o coeficiente de viscosidade do fluido (ar) e a é o raio da gota. A velocidade terminal vd de uma gota que está des- cendo é (veja a Figura EM-2) EM-3 Quando um campo elétrico é aplicado, o movimento para cima de uma carga qn é dado por Assim, a velocidade terminal vs de uma gota que está subindo sob a ação de um campo elétrico é dada por EM-4 No experimento de Millikan, as velocidades terminais eram atin- gidas quase instantaneamente e as gotas se deslocavam de uma distância L para cima ou para baixo com velocidade constante. Combinando as Equações EM-3 e EM-4, temos: EM-5 na qual Td = L/vd é o tempo de descida e Ts = L/vs é o tempo de subida. FIGURA EM-1 Sistema usado por Millikan em seus experimentos. As gotas de óleo são formadas no atomizador e adquirem uma carga elétrica antes de entrarem na câmara através de um furo localizado na placa superior. A descida de uma gota por ação da gravidade e a subida por ação do campo elétrico que existe entre as placas de um capacitor podem ser observadas com o auxílio de um telescópio. A carga elétrica da gota é calculada a partir dos tempos de subida e descida. Para modificar a carga da gota, é usada uma fonte de raios X, que não aparece na figura. Fonte luminosa (+) (–) (+) (–) Atomizador Telescópio 8 Revisão de Conceitos Clásssicos 4 Quando a gota recebe uma carga adicional, a velocidade ter- minal se torna vs, que está relacionada à nova carga qn através da Equação EM-4:O aumento de carga é, portanto, EM-6 As velocidades vd, vs e vs são obtidas medindo o tempo neces- sário para que a gota percorra a distância L entre as placas do capacitor. Fazendo qn = ne e qn qn = ne, na qual n é a variação de n, as Equações EM-5 e EM-6 se tornam EM-7 e EM-8 Para calcular o valor de e a partir dos tempos de subida e des- cida, é preciso conhecer a massa da gota (ou o raio, já que a densidade do óleo é conhecida). O raio da gota pode ser obtido a partir da lei de Stokes, usando as Equações EM-2 e EM-3. Observe que os lados direitos das Equações EM-7 e EM-8 são iguais à mesma constante, embora ela seja desconhecida, já que contém o fator e cujo valor está sendo medido. A técnica, portanto, consistia em observar uma gota com um número des- conhecido de cargas, n, e medir o tempo de descida Td (com o campo elétrico desligado) e o tempo de subida Ts (com o campo elétrico ligado). Em seguida, para a mesma gota (e, portanto, a mesma massa m), o número de cargas era alterado para um valor desconhecido n n expondo a gota a uma fonte de raios X e os valores de Td e Ts eram novamente medidos. Este processo era repetido várias vezes até que a gota desaparecesse (ou o experimentador se cansasse). Em alguns experimentos, a mesma gota foi observada durante várias horas. O valor de e era deter- minado encontrando (basicamente por tentativa e erro) valores inteiros de n e n que tornassem os lados esquerdos das Equa- ções EM-7 e EM-8 iguais à mesma constante para todas as medi- das realizadas em uma mesma gota. De acordo com estes cálculos, que o leitor terá oportunidade de reproduzir ao resolver o problema abaixo usando dados autên- ticos para a sexta gota examinada por Millikan, o valor de e era 1,591 1019 C. O cientista executou experimentos do mesmo tipo em milhares de gotas, algumas feitas de isolantes como o óleo, outras de semicondutores como a glicerina, e outras de condutores como o mercúrio, obtendo sempre o mesmo resul- tado. O valor encontrado por ele foi aceito durante 20 anos, até que se descobriu que medidas de NA por difração de raios X for- neciam um valor de e ligeiramente maior. A discrepância foi atribuída ao valor do coeficiente de viscosidade usado por Millikan. Medidas mais precisas de forneceram um valor ligei- ramente maior, o que fez com que o valor de e obtido no expe- rimento de Millikan fosse corrigido para 1,601 1019 C, em boa concordância com os resultados obtidos por difração de raios X. Os “melhores” valores de e e outras constantes físicas são publicados periodicamente pelo International Council of Scientific Unions. O valor atualmente adotado para a carga do elétron é e = 1,602176565 10−19 C EM-9 com uma incerteza de 0,22 parte por bilhão. Como nos proble- mas propostos neste livro não é necessária uma precisão tão grande, usaremos o valor aproximado e = 1,602 10−19 C. Observe que, embora os cientistas tenham conseguido medir a carga elétrica do elétron, até hoje ninguém conseguiu explicar por que ela tem este valor e não outro qualquer. Problema EM-1. A tabela abaixo mostra parte dos dados colhidos por Millikan em seus experimentos para a gota de óleo número 6. (a) Calcule a velocidade terminal de descida vd a partir do tempo médio de descida e da distância coberta (10,21 mm). (b) Use a massa específica do óleo = 0,943 g/cm3 = 943 kg/m3, a viscosidade do ar = 1,824 × 105 N s/m2 e a aceleração da gravidade g = 9,81 m/s2 para calcular o raio a da gota de óleo a partir da lei de Stokes (Equação EM-2). (c) Alguns valores “corretos” de n e n, determinados por tentativa e erro, aparecem nas colunas 4 e 7, respectivamente. Determine os outros valores de n e n. (d) Calcule o valor de e a partir dos dados da tabela. FIGURA EM-2 Gota de óleo de massa m e carga e. Se a gota está des- cendo com a velocidade terminal, mg = bv. Gota Força ascensional bv Peso mg e O Experimento de Millikan 9 Tabela EM-1 Tempos de subida e descida de uma gota de óleo e números estimados de unidades de carga contidas na gota 1 2 3 4 5 6 7 8 Td Ts 1/Ts – 1/Ts 1/n(1/Ts – 1/Ts) (1/Td 1/Ts) 1/n(1/Td 1/Ts) n 1/n(1/Tg – 1/Tg) 11,848 80,708 0,09655 18 0,005366 11,890 22,366 0,03234 6 0,005390 0,12887 24 0,005371 11,908 22,390 11,904 22,368 11,882 140,566 0,03751 7 0,005358 0,09138 17 0,005375 11,906 79,600 0,005348 1 0,005348 0,09673 18 0,005374 11,838 34,748 0,01616 3 0,005387 0,11289 21 0,005376 11,816 34,762 10 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 5 O Experimento de Thomson Muitos estudos de descargas elétricas em gases foram feitos no século XIX. Os cientistas descobriram que os íons responsáveis pela condução da corrente elétrica em gases tinham a mesma carga elétrica que os íons responsáveis pela eletrólise nos expe- rimentos de Faraday. No ano seguinte ao do primeiro cálculo de Zeeman do valor de q/m para partículas atômicas, J. J. Thomson mediu o valor de q/m para os chamados raios catódicos e obser- vou que, se a carga das partículas contidas nesses raios fosse igual à carga mínima estimada por Stoney a partir da lei de Fara- day da eletrólise, a massa das partículas seria apenas uma pequena fração da massa de um átomo de hidrogênio. Thomson havia, na verdade, descoberto o elétron. O tubo de raios catódi- cos usado por Thomson (veja a Figura ET-1) é típico da época. Foi o precursor do tubo de imagem que, até recentemente, era usado em osciloscópios, aparelhos de radar, receptores de tele- visão e outras aplicações. Quando o gás no interior do tubo é excitado por uma descarga elétrica até emitir luz e a pressão é reduzida, o espaço em torno do catodo começa a escurecer. Se a pressão é reduzida ainda mais, a região escura aumenta de tamanho até atingir o vidro na outra extremidade do tubo, que começa a brilhar, mostrando que o vidro está absorvendo a ener- gia dos raios catódicos. Quando são colocados colimadores em A e B, a luz se restringe a um ponto bem definido do vidro, cuja localização pode ser alterada se o tubo for submetido a um campo elétrico ou a um campo magnético. Em 1895, J. Perrin havia recolhido esses “raios catódicos” em um eletrômetro e consta- tado que possuíam uma carga elétrica negativa. A medição direta da razão e/m para o elétron, realizada por J. J. Thomson em 1897, pode ser considerada o início de nosso entendimento da estrutura do átomo. Quando um campo magnético uniforme de intensidade B é aplicado perpendicularmente à direção de movimento de partí- culas carregadas, as partículas passam a descrever uma trajetó- ria circular. O raio R da trajetória e o momento das partículas podem ser calculados com o auxílio da segunda lei de Newton, igualando a força magnética quB ao produto da massa pela ace- leração centrípeta u2/R: quB mu R R mu qB e p mu qBR= = = = 2 ⇒ ET-1 Hoje em dia, os cientistas usam rotineiramente o equivalente moderno do experimento de Thomson para medir o momento de partículas elementares. A Equação ET-1 é a versão não rela- tivística da Equação 2-37, obtida fazendo = 1. A sorte de Thomson, que, naturalmente, nada sabia a respeito dos efeitos relativísticos, foi que a velocidade u das partículas que compu- nham os seus “raios catódicos” (elétrons) era bem menor que a velocidade c da luz, com u/c << 0,2, o que permitia que a apro- ximação não relativística fosse usada com boa precisão (veja a Figura 2-2). Em seu primeiro experimento, Thomson determi- nou a velocidade das partículas medindo a carga total e a varia- ção de temperatura de um coletor submetido aos raios catódicos. No caso de N partículas, a carga total é Q = Ne e, a partir da variação de temperatura, é possível calcular a quantidade de energia absorvida pelo coletor, W, que, por sua vez, é igual à energia cinética dissipada pelas partículas, Nmu2/2. Combinando essas equações, obtemos: ET-2 No segundo experimento, que se tornou conhecido como expe- rimento de Thomson, o cientista ajustou um campo magnéticoFIGURA ET-1 Tubo usado por J. J. Thomson para medir e/m. Os elétrons emitidos pelo catodo C passam pelos colimadores A e B e excitam um ponto do vidro na outra extremidade do tubo. O feixe eletrônico pode ser defletido por um campo elétrico aplicado entre as placas D e E ou por um campo magnético perpendicular ao campo elétrico. A partir da deflexão sofrida pelos elétrons, que pode ser medida sobre a tela em uma escala graduada, é possível determinar o valor de e/m. [Fonte: J. J. Thomson, “Cathode Rays”, Philosophical Magazine (5), 44, 293 (1897).] C A B D E – + O Experimento de Thomson 11 B e um campo elétrico , mutuamente perpendiculares, para que a deflexão do feixe de partículas fosse nula. Isso permitiu a Thomson determinar a velocidade das partículas igualando o módulo da força magnética ao módulo da força elétrica: ET-3 Em seguida, Thomson desligou o campo magnético* e mediu a deflexão das partículas. Essa deflexão tem duas componentes (veja a Figura ET-2). Enquanto se encontram na região entre as placas, as partículas sofrem uma deflexão vertical, y1, dada por ET-4 na qual x1 é a distância horizontal percorrida na região entre as placas. Depois de deixar a região entre as placas, as partículas sofrem uma deflexão adicional y2 dada por ET-5 na qual x2 é a distância horizontal percorrida pelas partículas depois de deixarem a região entre as placas. A deflexão total, y1 y2, é proporcional a e/m. Combinando as Equações ET-3, ET-4 e ET-5 e notando que u = ux na ausência de deflexão, obtemos: ET-6 Observe que Thomson precisou apenas de um voltímetro, um amperímetro e uma régua para determinar o valor de e/m. Tam- FIGURA ET-2 Deflexão do feixe de elétrons no tubo de Thomson. As placas defletoras são D e E da Figura ET-1. A deflexão mostrada na figura acontece quando o campo magnético está desligado e a placa de cima é positiva. Thomson usou tensões contínuas de até 200 V entre D e E. Um campo magnético foi aplicado perpendicularmente ao plano da figura, no sentido para dentro do papel, com o objetivo de anular a deflexão do feixe, ux uy y1 y2 x2x1 ux θ Placas defletoras bém é interessante notar que o valor obtido no primeiro experi- mento, 2 1011 C/kg, está mais próximo do valor atualmente aceito de 1,76 1011 C/kg que o valor obtido no segundo, 0,7 1011 C/kg. Isso provavelmente se deve ao fato de que, ao analisar os resultados obtidos no segundo experimento, Thomson deixou de levar em conta a influência do campo magnético fora da região entre as placas defletoras. Apesar dessa falha, o segundo experi- mento apresenta a vantagem de poder ser reproduzido com mais facilidade e é considerado mais importante que o primeiro. Quando Thomson repetiu o experimento usando gases dife- rentes no interior do tubo e catodos feitos de diferentes metais, obteve o mesmo valor para e/m (dentro do erro experimental esperado), o que o levou a concluir que as mesmas partículas estavam presentes em todas as substâncias. A concordância dos resultados com os obtidos por Zeeman o levou à conclusão de que essas partículas (que Thomson chamava de corpúsculos e mais tarde Lorentz denominou elétrons) tinham uma unidade de carga negativa, uma massa aproximadamente 2000 vezes menor que a do átomo mais leve e eram parte integrante de todos os átomos. * O Problema 3-2 do livro apresenta uma variante do método na qual o campo elétrico é desligado e a deflexão causada pelo campo magné- tico é medida. (N.T.) 12 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 6 O Espectrômetro de Massa Um dos aparelhos usados atualmente para medir a relação q/m entre a carga e a massa de moléculas e átomos ionizados é o chamado espectrômetro de massa. Para isso, o instrumento mede o raio das órbitas circulares descritas por íons submetidos a uma diferença de potencial conhecida na presença de um campo mag- nético uniforme de valor conhecido. A Equação 3-2 relaciona o raio R da órbita de uma partícula na presença de um campo mag- nético B perpendicular à trajetória à massa m, velocidade u e carga q da partícula. A Figura ES-1 mostra o diagrama esquemático de um espectrômetro de massa. Íons produzidos por uma fonte são acelerados por um campo elétrico e entram em uma região na qual existe um campo magnético uniforme produzido por um eletroímã. Se os íons são acelerados a partir do repouso por uma diferença de potencial ∆V, a energia cinética, ao entrarem na região onde existe o campo magnético, é igual à queda de ener- gia potencial, q∆V: ES-1 Os íons descrevem uma semicircunferência de raio R dada pela Equação 3-2 antes de atingirem um filme fotográfico ou saírem por uma abertura estreita e atingirem um detector de íons no ponto P2, situado a uma distância 2R do ponto de entrada na região onde existe campo magnético. Eliminando a velocidade u das Equações 3-2 e ES-1 e explicitando q/m, obtemos: ES-2 No espectrômetro de massa original, inventado por F. W. Aston (um dos alunos de Thomson) em 1919, as diferenças de massa podiam ser medidas com uma precisão de aproximada- mente uma parte em 10.000. Mais tarde, para aumentar a pre- cisão, foi introduzido um seletor de velocidades, entre a fonte de íons e o eletroímã, que rejeita os íons cujas velocidades se encontram fora de uma certa faixa. Hoje em dia, os espectrô- metros de massa permitem medir as massas de átomos e molé- culas com uma precisão maior que uma parte em 109. O método normalmente usado consiste em medir as diferenças entre os raios das trajetórias descritas por massas-padrão e pelos íons de interesse, como ilustra o exemplo a seguir. FIGURA ES-1 Representação esquemática de um espectrômetro de massa. Os íons emitidos por uma fonte, positivamente carregados neste caso, são acelerados por uma diferença de potencial ∆V e entram, no ponto P1, em uma região na qual existe um campo magnético uniforme. Como indicam os pontos, o sentido do campo magnético B é para fora do papel. Os íons descrevem arcos de circunferência e são registrados em um filme fotográfico ou em um detector localizado no ponto P2. O raio da circunferência é proporcional à massa do íon. + + q P1 P2 Fonte de íons +– Campo B para fora da tela R u ∆V EXEMPLO ES-1 Medições com o Espectrômetro de Mas- sa Um íon de 58Ni, de carga +e e massa 9,62 × 1026 kg, é acelerado por uma diferença de potencial de 3 kV e entra em uma região na qual existe um campo magnético uniforme de 0,12 T. (a) Determine o raio da trajetória do íon. (b) Deter- mine a diferença entre os raios das trajetórias dos íons 58Ni e 60Ni. (Suponha que os dois íons têm a mesma carga e a rela- ção entre as massas é 58/60.) SOLUÇÃO 1. O raio da trajetória do íon pode ser calculado a partir da Equação ES-2: 2. Como neste caso q = +e, temos: O Espectrômetro de Massa 13 3. Para resolver o item (b), observe que, de acordo com a Equação ES-2, o raio da trajetória é proporcional à raiz quadrada da massa. Assim, para valores iguais de q, V e B, chamando de R1 o raio da trajetória do íon 58Ni e R2 o raio da trajetória do íon 60Ni, temos: 4. Usando o valor de R1 já calculado, temos: 5. A diferença ∆R entre os raios é, portanto, 14 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 7 Demonstração da Distribuição de Boltzmann Considere um sistema isolado, cuja energia total, portanto, per- manece constante, formado por um grande número de partículas iguais1 que podem trocar energia entre si e assim chegar ao equi- líbrio térmico. Para facilitar a demonstração, vamos supor que a energia E de cada partícula pode apenas assumir os valores 0, ∆E, 2∆E, 3∆E, ... Mais tarde, depois de chegarmos a uma expressão matemática para a distribuição, teremos a liberdade de fazer ∆E → 0 para que a energia E de cada partícula possa assumir qualquer valor. Simplesmente para tornar os cálculos praticáveis, vamos supor ainda que o sistema contém apenas seis partículas (o que certamente não pode ser considerado um número “grande”!) eque a energia total Etotal do sistema é 8∆E. Os dois números foram escolhidos arbitrariamente, mas o segundo deve ser um múltiplo de ∆E. É também conveniente, a esta altura, introduzir os conceitos de macroestado e microestado. O termo “microestado” se refere a uma descrição do sistema na qual o estado de cada partícula que o com- põe é especificado. No caso de partículas clássicas, isso equivale a especificar a posição e o momento (e, portanto, a energia) de todas as partículas; no caso da mecânica quântica, como é discutido no Capítulo 8, isso equivale a especificar um conjunto completo de números quânticos para cada partícula. O macroestado de um sis- tema é uma descrição menos detalhada, na qual apenas o número de partículas que possuem a mesma energia é especificado. Como as partículas podem trocar energia entre si, todos os macroestados possíveis, isto é, todas as divisões possíveis da energia total Etotal = 8∆E pelas seis partículas, podem ocorrer. No caso que estamos examinando, existem 20 macroestados, os estados 1 a 20 que aparecem na Tabela DB-1. O macroestado 1, por exemplo, possui cinco partículas com E = 0 e uma com E = 8∆E; o estado 2, quatro partículas com E = 0, uma com E = ∆E e uma com E = 7∆E; e assim por diante. Observe que existem seis formas diferentes de conseguir a distribuição de energias que caracteriza o estado 1, já que qualquer das seis par- tículas pode ser colocada no estado de energia 8∆E enquanto as outras cinco ocupam o estado de energia zero. Cada uma dessas disposições é diferente das outras porque as partículas clássi- cas de um microestado, embora tenham as mesmas proprieda- des, podem ser distinguidas pela posição e pelo momento e, portanto, pela energia que possuem. As diferentes disposições das cinco partículas que ocupam o estado E = 0 não podem ser distinguidas porque as cinco partículas têm a mesma energia. O número de microestados de um macroestado é igual ao número de disposições distintas de partículas para este macroestado. Não é difícil calcular o número de microestados. No caso de seis partículas, de acordo com a análise combinatória, existem 6! diferentes disposições (o nome técnico é permutações) possíveis para um macroestado de 6 partículas. (No caso de N partículas, naturalmente, o número de permutações é N!.) Entretanto, como as partículas de mesma energia não podem ser distinguidas, devemos levar em conta este fato, dividindo o número total de permutações pelo número de permutações para cada nível de energia. Assim, no caso geral de N partículas, o número de micro- estados é dado por: na qual n0, n1, ... ni é o número de partículas no estado E0, E1, ... Ei. Em nosso exemplo, o macroestado 1 é caracterizado pela existência de cinco partículas no estado E = 0 e, portanto, é pre- ciso dividir as 6! permutações das seis partículas pelas 5! per- mutações das cinco partículas que ocupam o mesmo estado para obter o número N de disposições distintas, ou microestados, do macroestado 1. Como 6!/5! = 6, este é o número de microesta- dos que aparece na primeira linha da Tabela DB-1. O Exemplo DB-1 ilustra o cálculo do número de microestados para o macro- estado 6 do sistema que estamos usando. EXEMPLO DB-1 Número de Microestados Calcule o número de microestados, ou seja, de disposições distintas, para o macroestado 6 da Tabela DB-1. SOLUÇÃO O número total de disposições possíveis de seis partículas é 6!; entretanto, o estado de energia E = 0 contém três partículas Demonstração da Distribuição de Boltzmann 15 e, portanto, 3! disposições não distintas, e o estado de energia E = ∆E contém duas partículas e, portanto, 2! disposições não distintas. Assim, o número total de microestados é DB-1 [o ponto E = 0, n(E) = 2,31 foi omitido]; a curva é uma função exponencial da forma DB-2 na qual B e Ec são constantes. Quando diminuímos o valor de ∆E mantendo constante a energia total, o número de pontos a serem plotados aumenta. Para ∆E → 0, E se torna uma variável contí- nua e n(E) passa a ser uma função contínua. Se também aumen- tamos o número de partículas para que o resultado se torne esta- tisticamente significativo, os pontos caem exatamente sobre a curva da Figura DB-1, ou seja, a Equação DB-2 é a função que descreve corretamente a distribuição clássica de energias de um sistema de partículas. Não seria fácil provar este fato estendendo a um grande número de partículas e energias os cálculos anterio- res, realizados para um sistema de apenas seis partículas e Etotal = 8∆E. Felizmente, como foi mostrado por Eisberg e Resnick,2 existe um método muito mais simples, mas sutil, de mostrar que a fun- ção dada pela Equação DB-2 é a função correta. Quando uma partícula ganha energia em consequência de uma interação, outras partículas devem perder energia, já que a energia total do sistema é constante. Exceto por essa restrição, as partículas são independentes umas das outras e, em particu- lar, como mostra a Tabela DB-1, não existe nada que impeça duas ou mais partículas de ocuparem o mesmo estado. Consi- dere duas partículas do sistema. Suponha que a probabilidade de que uma das partículas esteja no estado de energia E1 é f(E1). Como a função de distribuição é a mesma para todas as partí- culas (já que as partículas são iguais), a probabilidade de que a segunda partícula esteja no estado E2 é dada por f(E2). Se as par- tículas são independentes, as duas probabilidades também são independentes. Em consequência, de acordo com a teoria das probabilidades, a probabilidade de que os dois eventos ocorram, ou seja, de que uma das partículas esteja no estado E1 e a outra no estado E2, é o produto das duas probabilidades, f(E1)f(E2). (O mesmo raciocínio se aplica à probabilidade de obter cara em duas jogadas sucessivas de cara ou coroa. A probabilidade de obter cara é 1/2 em cada jogada; como as jogadas são indepen- dentes, a probabilidade de obter cara duas vezes seguidas é 1/2 1/2 = 1/4.) Considere agora todos os macroestados desse sistema nos quais a soma das energias das duas partículas, E1 + E2, é a mesma que no exemplo anterior, mas a distribuição de energias entre as duas partículas é diferente.3 Como a energia é constante, nes- ses macroestados as outras partículas do sistema têm a mesma energia Erestante = Etotal − (E1 E2). Assim, o número de modos de compartilhar a energia restante pelas partículas restantes é o mesmo em todos esses macroestados. Isso significa que a pro- babilidade dos microestados nos quais a energia E1 E2 é com- partilhada pelas duas partículas de uma certa forma só pode diferir da probabilidade dos microestados nos quais a energia E1 E2 é compartilhada de outra forma se as diferentes formas pelas quais a energia E1 E2 pode ser compartilhada ocorrerem com diferentes probabilidades. Entretanto, já supusemos que todos os microestados são igualmente prováveis; assim, devemos concluir que todos os microestados nos quais a energia E1 E2 é compartilhada de forma diferente entre as duas partículas são igualmente prováveis. Nesse caso, a probabilidade de que esses microestados ocorram deve ser uma certa função da soma E1 E2, que vamos chamar de h(E1 E2), e não das energias indivi- duais E1 e E2. A divisão original, com uma das partículas com energia E1 e a outra com energia E2, é uma das possíveis divi- sões e, portanto, a probabilidade de que ocorra é h(E1 + E2). FIGURA DB-1 Gráfico de n(E) em função de E. Os pontos são os dados que aparecem na última linha da Tabela DB-1 [o ponto E = 0, n(E) = 2,31 foi omitido]; a curva é uma função exponencial da forma n(E) = BeE/Ec, sendo que as constantes B e Ec foram ajustadas para a melhor concordância possível com os dados. 1 2 0 3 4 0 E n (E ) ∆E 2∆E 3∆E 4∆E 5∆E 6∆E 7∆E 8∆E Se fizermos agora a hipótese, bastante razoável, de que todos os microestados são igualmente prováveis, a probabilidade Pj de que o sistema se encontre em um macroestado j será propor- cionalao número de microestados desse macroestado. No nosso caso, existem 1287 microestados e, portanto, a probabilidade Pj de que o sistema se encontre em um dos 20 macroestados é igual ao número de microestados da coluna da direita da Tabela DB- 1 dividido por 1287. Estamos agora próximos de obter a forma aproximada da distribuição de Boltzmann. Supondo que a dis- tribuição de partículas no equilíbrio térmico seja a mais prová- vel, temos apenas que calcular o número provável de partículas, n(Ei), para os nove estados de energias E0 = 0, E1 = ∆E, ..., E8 = 8∆E. Considere o estado E0 = 0. Para o macroestado 1, a proba- bilidade de ocorrência, P1, é 6/1287 e existem cinco partículas no estado E0 = 0; assim, o macroestado 1 contribui com 5 6/1287 = 0,023 partícula do total para E0 = 0. As contribuições dos outros 19 macroestados para o estado E0 = 0 podem ser cal- culadas de forma semelhante; o total para os 20 macroestados é n(0) = 2,31 partículas, o que significa que, em média, 2,31 das seis partículas terão uma energia E = 0. No caso geral, os valo- res de n(Ei) são dados por DB-1a na qual gi é o peso estatístico do estado i e f(Ei) é a probabili- dade de que uma partícula tenha energia Ei. Além disso, natu- ralmente, DB-1b A última linha da Tabela DB-1 mostra o resultado dos cálculos para todas as energias possíveis. Observe que, como seria de se esperar, a soma dos valores de n(Ei) é 6. A Figura DB-1 mostra um gráfico de n(E) em função de E. Os pontos são os valores que aparecem na última linha da Tabela 16 Revisão de Conceitos Clásssicos 7 Tabela DB-1 Estados e números prováveis de partículas para seis partículas com energia total 8∆E Número de partículas com energia igual a i∆E Macroestado j 0 E 2E 3E 4E 5E 6E 7E 8E Número de microestados 1 5 0 0 0 0 0 0 0 1 6 2 4 1 0 0 0 0 0 1 0 30 3 4 0 1 0 0 0 1 0 0 30 4 4 0 0 1 0 1 0 0 0 30 5 4 0 0 0 2 0 0 0 0 15 6 3 2 0 0 0 0 1 0 0 60 7 3 0 2 0 1 0 0 0 0 60 8 3 0 1 2 0 0 0 0 0 60 9 3 1 1 0 0 1 0 0 0 120 10 3 1 0 1 1 0 0 0 0 120 11 2 0 4 0 0 0 0 0 0 15 12* 2 2 0 2 0 0 0 0 0 90 13* 2 1 2 1 0 0 0 0 0 180 14* 2 2 1 0 1 0 0 0 0 180 15 2 3 0 0 0 1 0 0 0 60 16 1 4 0 0 1 0 0 0 0 30 17 1 3 1 1 0 0 0 0 0 120 18 1 2 3 0 0 0 0 0 0 60 19 0 4 2 0 0 0 0 0 0 15 20 0 5 0 1 0 0 0 0 0 6 n(Ei) 2,31 1,54 0,98 0,59 0,33 0,16 0,07 0,02 0,005 1287 Como vimos, a probabilidade dessa divisão em particular é dada por f(E1)f(E2). Assim, temos: De acordo com esta equação, a função probabilidade f(E) que procuramos deve ter a seguinte propriedade: o produto dos valo- res da função para dois valores diferentes da energia deve depen- der apenas da soma desses valores. A única função matemática com esta propriedade é a função exponencial.4 Essa função pode ser escrita na forma DB-3 em que A e Ec são constantes.5 Como n(Ei), o número provável de partículas com energia Ei, é proporcional a f(Ei), existe uma justificativa teórica para modelar n(Ei) usando uma função expo- nencial, como foi feito na Figura DB-1. Boltzmann usou o cálculo variacional para fazer uma demons- tração muito mais geral da Equação DB-3, o que lhe permitiu mostrar que o valor da constante Ec, independentemente da natu- reza das partículas, é dado por DB-4 na qual k = 1,381 1023 J/K é a constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta. Substituindo Ec na Equação DB-3 pelo seu valor, dado pela Equação DB-4, obtemos a distribuição de Boltzmann fB, usada para calcular a probabilidade de que um estado de energia E esteja ocupado a uma temperatura T: DB-5 Se o sistema de seis partículas iguais que usamos como exemplo é um sistema quântico e as partículas são bósons (áto- mos de hélio, por exemplo), os microestados que foram asso- ciados a cada macroestado não podem ser considerados esta- dos distintos; em consequência, o número de microestados da Tabela DB-1 diminui de 1287 para apenas 20, um para cada macroestado. Supondo que esses estados são igualmente pro- váveis, o número médio de partículas em cada estado pode ser facilmente calculado a partir dos dados da Tabela DB-1. Assim, por exemplo, para o estado E = 0, a contribuição do estado 1 é dada por número de partículas no estado1 com Número de es E = 0 ttados = 5 20 Demonstração da Distribuição de Boltzmann 17 Tabela DB-2 Estados e números prováveis de partículas para seis bósons com energia total 8∆E Energia do estado 0 E 2E 3E 4E 5E 6E 7E 8E nBE(E) 2,45 1,55 0,90 0,45 0,30 0,15 0,10 0,05 0,05 nFD(E) 2,00 1,67 1,00 1,00 0,33 0 0 0 0 e o número médio de partículas nBE(0) no estado de energia E = 0 é, portanto, A Tabela DB-2 mostra o número médio de partículas nBE(E) nos vários estados, calculado do mesmo modo que no exemplo ante- rior. Note que o número total de partículas é 6, como seria de se esperar. Por outro lado, se o sistema de seis partículas é um sistema quântico e as partículas são férmions (elétrons, por exemplo), o princípio de exclusão impede que um estado seja ocupado por mais de duas partículas, uma com o spin para cima e outra com o spin para baixo. Como o princípio de exclusão se aplica a todas as partículas que, como os elétrons, têm spin fracionário, como prótons, nêutrons, múons e quarks, a limitação também se aplica a essas partículas. Examinando a Tabela DB-1, vemos que ape- nas os três estados assinalados com asteriscos (12, 13 e 14) res- peitam essa limitação. Assim, as partículas que obedecem ao princípio de exclusão podem ocupar apenas esses três estados. Supondo novamente que todos os estados são igualmente pro- váveis, o número médio de partículas nFD(E) para cada estado pode ser calculado a partir dos dados da Tabela DB-1. Assim, por exemplo, o número médio de partículas no estado E = 0, nFD(0), é dado por n E FD ( )0 0 = =número de partículas com Número de estaddos = + + = 2 2 2 3 2 A linha de baixo da Tabela DB-2 mostra os valores de nFD(E) para todos os estados de um sistema de seis férmions de energia total 8∆E. Notas 1. Usamos o termo partículas apenas para dar um exemplo. Os objetos envolvidos podem ser moléculas, grãos de pó ou molas, contanto que sejam iguais e possuam alguma forma de energia. 2. Veja Eisberg, R. e R. Resnick, Quantum Physics of Atoms, Molecules, Solids, Nuclei and Particles, 2d ed., Wiley, New York, 1985, Appendix C-4. 3. Tomando as partículas da Tabela DB-1 como exemplo, supo- nha que E1 + E2 = 5∆E. Nesse caso, os macroestados 4, 8, 9, 10, 13, 14, 15, 16 e 17 são aqueles nos quais duas partículas têm uma energia total igual a 5∆E, embora as energias das partículas sejam diferentes. 4. Lembre-se de que eaeb = e(a+b). 5. Este argumento se aplica tanto a uma exponencial negativa como a uma exponencial positiva; entretanto, a exponencial positiva pode ser descartada, pois, nesse caso, a probabili- dade de que uma partícula tivesse uma energia infinita seria infinita, o que está em desacordo com as observações expe- rimentais. 18 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 8 A Teoria Cinética dos Gases Não conhecemos os movimentos iniciais de todos os átomos que compõem um sistema macroscópico; mesmo que essa infor- mação estivesse disponível, não existem computadores com capacidade suficiente para aplicar as equações de movimento a todos esses átomos. Por isso, recorremos a métodos estatísticos para determinar os valores teóricos das propriedades observá- veis dos sistemas macroscópicos. Na verdade, muitas dessas propriedades, como pressão, temperatura, calor específico e con- dutividade térmica, fazem sentido apenas em sistemas que envol- vem um grande número de partículas, já que representam pro- priedades médias das partículas. Nas medições experimentais dessas grandezas, o que importa é a resposta do sistema e não a das partículas que o compõem. Já que estamos falando do assunto, vale a pena notar que a complexidade dos sistemas macroscópicos é mais que uma questão de números; a interação das partículas pode resultar em um comportamentototalmente imprevisto. Assim, por exemplo, se considerarmos um sistema constituído por átomos iguais de um gás nobre, como o hélio ou o neônio, que interagem apenas fracamente através da força eletromagnética, esta informação microscópica não permite pre- ver que, abaixo de uma certa temperatura, o gás se transformará em líquido; entretanto, é exatamente o que acontece. Neste ensaio vamos mostrar que a aplicação das leis da mecâ- nica aos componentes microscópicos de um sistema macroscó- pico, aliada ao uso de métodos estatísticos, permite prever cer- tos aspectos do comportamento do sistema que são comprovados pelos resultados experimentais. Se o leitor conhece bem a teo- ria cinética dos gases, pode omitir esta RCC. Caso, porém, tenha visto o assunto apenas de passagem em um curso de física ou química, vale a pena dedicar alguns minutos a este ensaio, espe- cialmente se pretende consultar a RCC 7, Demonstração da Distribuição de Boltzmann. Nesse caso, também é aconselhável dar uma olhada na RCC 9, Funções de Distribuição. Hipóteses Básicas da Teoria A teoria cinética dos gases tenta descrever as propriedades macroscópicas dos gases em termos da imagem microscópica de um gás como um conjunto de partículas em movimento. A pressão exercida por um gás sobre as paredes do recipiente que o contém é um exemplo de propriedade que pode ser facilmente calculada pela teoria cinética dos gases. O gás exerce uma pres- são sobre as paredes do recipiente porque a colisão das molé- culas do gás com as paredes do recipiente transfere momento para as paredes, e a variação total de momento por segundo é igual à força exercida pelo gás sobre as paredes. Vamos tomar como ponto de partida as seguintes hipóteses: 1. O gás é constituído por um número grande N de moléculas iguais, separadas por uma distância muito maior que o diâ- metro das moléculas. Como é discutido na Seção 8-2 do livro, está implícito que, embora as partículas sejam iguais, é pos- sível distingui-las. 2. As moléculas colidem elasticamente umas com as outras e com as paredes do recipiente e não interagem a distância, isto é, não exercem nenhuma força a não ser no momento das colisões. 3. Na ausência de forças externas (com exceção da força da gravidade, que é considerada desprezível), não existe uma posição privilegiada para as moléculas no interior do reci- piente e não existe uma direção privilegiada para o vetor velocidade. A Teoria Cinética dos Gases Na discussão que se segue, vamos ignorar as colisões das molécu- las entre si. Isso não afeta os resultados dos nossos cálculos, já que, como o momento é conservado, as colisões das moléculas umas com as outras não têm influência sobre o momento total em qual- quer direção do espaço. Seja m a massa de uma molécula. Supondo que o eixo x é perpendicular à parede da Figura TC-1a, a compo- nente x do momento de uma molécula é mvx antes de se chocar com a parede e mvx após a colisão. Na colisão com uma parede, portanto, o momento da molécula sofre uma variação total de 2mvx. A variação total do momento de todas as moléculas em um inter- valo de tempo ∆t é 2mvx vezes o número de moléculas que se cho- cam com a parede nesse intervalo de tempo. Considere o gás no interior de um recipiente cilíndrico de volume V e bases de área A, como o que aparece na Figura TC-1b. Seja Ni o número de moléculas de gás cuja componente x da velocidade é vxi e seja vxi∆t a distância entre as bases do cilin- dro, considerando que ∆t é um intervalo de tempo escolhido arbitrariamente. No intervalo de tempo ∆t, as moléculas cuja componente x da velocidade é vxi percorrem uma distância ao A Teoria Cinética dos Gases 19 longo do eixo x igual a vxi∆t; assim, metade das Ni moléculas, aquelas cuja componente x da velocidade é vxi, colide com a base da esquerda; a outra metade colide com a base da direita. Usando a base da esquerda como exemplo, o número de molé- culas que colidem com a base durante o intervalo de tempo ∆t é igual a 0,5 (número de moléculas por unidade de volume) (volume), ou O impulso exercido pela base sobre as moléculas é igual à varia- ção total de momento das moléculas, que, por sua vez, é igual a (número de moléculas que colidem com a base) 2mvxi: TC-1 Este resultado também é igual ao impulso exercido pelas molé- culas sobre a base. Para calcular a força média exercida pelas moléculas sobre a base, basta dividir o impulso pelo intervalo de tempo ∆t. A pressão é igual à força média dividida pela área A. A pressão exercida pelas moléculas é, portanto, dada por Para determinar a pressão total, é preciso calcular o somatório das pressões para todos os valores negativos da componente x da velocidade, vxi: Podemos escrever este somatório em termos do valor médio de v2x, definido da seguinte forma: na qual N = Ni é o número total de moléculas. Assim, a pres- são sobre uma das bases do cilindro é dada por TC-2 Como não existe uma direção privilegiada para o movimento das moléculas, (v2x)med deve ser igual a (v2y)med e a (v2z)med. Como o quadrado da velocidade é dado por temos: Podemos, portanto, escrever uma equação para a pressão em termos da média do quadrado da velocidade ou da energia ciné- tica média: TC-3 na qual N/V é o número de moléculas por unidade de volume. Este resultado mostra que, de acordo com a teoria cinética dos gases, a pressão exercida por um gás é proporcional ao número de moléculas por unidade de volume e à energia cinética média das moléculas. Chamando de E – k – a energia cinética média das moléculas, temos: TC-4 Para verificar se esta previsão está de acordo com os resultados experimentais, vamos comparar a Equação TC-4 com a lei dos gases perfeitos, TC-5 x y zPz Pz Py Py Px = +mvx Px = –mvx Área A Parede P P vxi ∆t (a) (b) FIGURA TC-1 (a) Quando uma molécula de momento p colide elasticamente com uma parede, a componente x do momento, px, troca de sinal e as componentes y e z continuam as mesmas. O momento da molécula varia de 2mvx. (b) Moléculas de gás em um recipiente cilíndrico. Se o eixo x é paralelo à superfície cilíndrica, apenas as moléculas que colidem com uma das bases do cilindro sofrem uma troca de sinal da componente x do momento, px. Uma molécula que parte da extremidade direita com uma componente da velocidade vxi ao longo do eixo x colide com a base da esquerda após um intervalo de tempo ∆t = h/vxi, na qual h é a altura do cilindro. 20 Revisão de Conceitos Clásssicos 8 Tabela TC-1 CV de alguns gases a 15°C e 1 atm Gás CV(cal/mol-grau) CV/R Ar 2,98 1,50 He 2,98 1,50 CO 4,94 2,49 H2 4,87 2,45 HCl 5,11 2,57 N2 4,93 2,49 NO 5,00 2,51 O2 5,04 2,54 Cl2 5,93 2,98 CO2 6,75 3,40 CS2 9,77 4,92 H2S 6,08 3,06 N2O 6,81 3,42 SO2 7,49 3,76 R = 1,987 cal/mol-grau Fonte: J. R. Partington e W. G. Shilling, The Specific Heats of Gases (London: Ernest Benn, Ltd., 1924). uma relação empírica na qual n, o número de mols do sistema, é igual ao número total de moléculas dividido pelo número de Avogadro NA, e R é a chamada constante dos gases perfeitos, TC-6 Em termos de n e NA, a Equação TC-4 pode ser escrita na forma TC-7 na qual NAE – k – é a energia cinética média por mol. Assim, para que a Equação TC-4 esteja de acordo com a equação dos gases ideais, Equação TC-5, é preciso que TC-8 Para verificar se a Equação TC-8 é razoável, considere o calor espe- cífico molar a volume constante, CV, que é definido pela equação na qual ∆Q é a quantidade de calor fornecida a 1 mol da substân- cia e ∆T é o aumento de temperatura resultante. De acordo com a primeira lei da termodinâmica, como nenhum trabalho é reali- zado quando o volume se mantém constante, o calor fornecido é igual à variação de energia interna U da substância. Assim, Supondo que a energia interna total é igual à energia cinética de translação, temos, de acordo com a Equação TC-8, e, portanto Este valor concorda muito bem com medidasrealizadas em gases monoatômicos como o argônio e o hélio (veja a Tabela TC-1). A concordância é notável, considerando que a teoria se baseia em um modelo microscópico bastante simplificado, e foi um dos primeiros sucessos da física estatística. No caso de outros gases, o calor específico molar medido experimentalmente é maior que 3R/2, o que sugere que parte do calor fornecido à substância se converte em outras formas de energia interna que não a energia cinética de translação, como a energia de rotação ou vibração das moléculas. A Equação TC-8 leva a outra previsão extremamente inte- ressante, que se torna mais fácil de visualizar quando a energia cinética média das moléculas é escrita na forma TC-9 na qual k = R/NA é a chamada constante de Boltzmann, TC-10 De acordo com a Equação TC-9, a temperatura absoluta é uma medida da energia cinética média de translação das moléculas. (Incluímos a expressão “de translação” porque uma molécula pode ter outras formas de energia cinética, como a energia ciné- tica de rotação e a energia cinética de vibração. Apenas a ener- gia cinética de translação aparece no cálculo da pressão exercida sobre as paredes de um recipiente.) A energia cinética de trans- lação total de n mols de um gás com N moléculas é dada por A energia cinética de translação é, portanto, igual a 3kT/2 por molécula ou 3RT/2 por mol. À temperatura ambiente, T = 300 K, o valor do produto kT é Assim, a energia cinética média de translação das moléculas de um gás à temperatura ambiente é apenas alguns centésimos de elétron-volt. Uma Aplicação da Teoria Cinética dos Gases Uma consequência interessante da Equação TC-8 diz respeito à velocidade das moléculas de um gás. Não esperamos que todas as moléculas de um gás tenham a mesma velocidade. A distri- A Teoria Cinética dos Gases 21 buição das velocidades das moléculas é discutida na Seção 8-1 do livro; entretanto, mesmo sem conhecer a distribuição, pode- mos calcular a média do quadrado da velocidade, (v2)med, e a velocidade média quadrática, vrms = [(v2)med]1/2. Temos: TC-11 na qual M é a massa molecular. Assim, TC-12 Não é difícil estimar a ordem de grandeza da velocidade das moléculas se nos lembrarmos de que a velocidade do som em um gás é dada por na qual é a razão entre o calor específico a pressão constante e o calor específico a volume constante. (No caso do ar, = CP/ CV = 1,4.) Assim, a velocidade média quadrática das moléculas de um gás é da mesma ordem de grandeza que a velocidade do som no gás. SOLUÇÃO M = 28 g/mol = 28 103 kg/mol. Para T = 300 K: Para T = 273 K: Assim, a velocidade média quadrática das moléculas de nitro- gênio do ar (e a velocidade do som) é cerca de 5% menor nos dias frios do que nos dias quentes. EXEMPLO TC-1 Velocidade Média Quadrática das Molé- culas de N2 Calcule a velocidade média quadrática das molé- culas de nitrogênio para T = 300 K e para T = 273 K. Exercícios 1. Por que podemos ignorar as colisões das moléculas com a superfície lateral do recipiente ao calcularmos a pressão exer- cida nas bases do cilindro? 2. Qual é a relação entre E – k – para moléculas de He e E – k – para moléculas de Kr nas CNTP? 3. Qual é a relação entre vrms para moléculas de H2 e vrms para moléculas de O2 nas CNTP? 4. Qual é a relação entre a velocidade do som no He e a velo- cidade do som no N2? 22 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 9 Funções de Distribuição Quando calculamos a pressão de um gás na RCC 8, A Teoria Cinética dos Gases, obtivemos informações interessantes a res- peito da velocidade média quadrática e da energia média das molé- culas de um gás, mas não ficamos sabendo praticamente nada a respeito da distribuição da velocidade das moléculas. Funções de distribuição aparecem frequentemente no Capítulo 8 e em capí- tulos posteriores. Neste ensaio, vamos discutir as funções de dis- tribuição em geral a partir de alguns exemplos simples. Suponha que um professor submeta N alunos a uma prova na qual a nota máxima é 25 pontos. Para avaliar a qualidade da prova e o desempenho dos alunos, o professor pode calcular a nota média, mas esse parâmetro, isoladamente, não diz muito a respeito do resultado da prova. Por exemplo: uma prova na qual os N alunos fizeram 12,5 pontos não pode ser considerada equi- valente a uma prova na qual N/2 alunos fizeram 25 pontos e N/2 alunos fizeram 0 ponto, embora a média nos dois casos seja a mesma. Uma descrição mais completa consiste em anotar o número ni de alunos que fizeram si pontos para todas as notas si entre 0 e 25. Outra possibilidade é dividir ni pelo número total de alunos, N, e calcular a fração fi = ni/N de alunos que fizeram si pontos na prova. Tanto ni como fi (que são funções da variável s) recebem o nome de funções de distribuição. A distribuição fi é um pouco mais fácil de usar. A probabilidade de que um dos N alunos, escolhido ao acaso, tenha recebido a nota si é igual ao número de alunos que receberam essa nota, ni = Nfi, dividido pelo número total N; assim, a probabilidade é igual à função de distribuição fi. Note que e como temos: FD-1 A Equação FD-1 é chamada de condição de normalização. A Figura FD-1 mostra uma possível função de distribuição para uma prova na qual a nota máxima é 25. Para calcular a nota média, basta somar as notas e dividir o resultado por N. Como cada nota si foi obtida por ni = Nfi alu- nos, temos: FD-2 Vamos tomar a Equação FD-2 como definição da nota média, s–. A média de uma função qualquer, g(s), pode ser definida por uma equação análoga: FD-3 Costuma-se usar também a média quadrática: Outra grandeza usada para descrever as distribuições estatís- ticas é o desvio-padrão, representado pela letra grega e defi- nido através da equação FD-4 Note que ( )s s f s f s f s s f s si i i i i i i i i 2 2 1 2 1 2 22∑ ∑ ∑ ∑= + = e, portanto, σ = s s2 2( ) FD-5 O desvio-padrão é uma medida da dispersão dos valores si em relação à média. Na maioria das distribuições, existem poucos valores cuja diferença em relação a s– é maior que algumas vezes . No caso da distribuição normal ou gaussiana, muito comum na teoria de erros, a diferença entre aproximadamente dois ter- ços dos valores e a média é menor que . A Figura FD-2 mostra uma distribuição normal. Funções de Distribuição 23 Se um aluno é escolhido ao acaso e alguém tem que adivi- nhar qual foi a nota que o aluno tirou, o melhor palpite é a nota obtida pelo maior número de alunos, também conhecida como nota mais provável e representada pelo símbolo sm. Para a dis- tribuição da Figura FD-1, sm = 16 e s – = 14,17. A nota média quadrática srms = s 2 1 2( ) / é 14,9 e o desvio-padrão é 4,6. Note que 66% das notas estão no intervalo s– < si < s – = 14,17 4,6 < si < 14,17 4,6 = 9,57 < si < 18,77. Considere agora o caso de uma distribuição contínua. Supo- nha que estamos interessados em conhecer a distribuição de alturas de uma população. Para um número finito N de pessoas, o número de indivíduos com exatamente 1,70 m provavelmente é zero. Se a altura for medida com precisão, existirá um grande número de alturas possíveis, e a probabilidade de que a altura de um indivíduo corresponda exatamente a um dado valor será muito pequena. Faz muito mais sentido dividir as alturas em intervalos ∆h (∆h = 0,05 m, por exemplo) e anotar o número de pessoas cujas alturas estão em cada um desses intervalos. O número, naturalmente, depende da largura do intervalo. Defini- mos a função distribuição f(h) como o número de pessoas cuja altura está em um dado intervalo dividido pelo número total de pessoas e pela largura do intervalo. Assim, no caso de N pes- soas, o número de pessoas cujas alturas estão no intervalo entre h e h + ∆h é Nf(h)∆h. A Figura FD-3 mostra uma possível dis- tribuição de alturas. A fração de indivíduos cuja altura está em um dado intervalo é dada pelo produto f(h)∆h, que correspondeà área de um retângulo de altura f(h) e largura ∆h. Como a área total representa a soma de todas as frações, deve ser igual a 1. Se N é muito grande, podemos escolher um valor pequeno para ∆h, caso em que a variação de f(h) de um intervalo para o seguinte é pequena. No limite N → , ∆h → 0, o histograma que repre- senta f(h) em função de h se aproxima de uma curva contínua. Em muitos casos importantes, o número de amostras N é extre- mamente grande e o tamanho do intervalo, ∆h, é limitado ape- nas pela precisão das medidas. As funções de distribuição f(h) são frequentemente consideradas contínuas, os intervalos são escritos como incrementos infinitesimais dh e os somatórios são substituídos por integrais. No exemplo que estamos conside- rando, se f(h) é considerada uma função contínua, a altura média, que no caso de uma função contínua seria escrita na forma h, é dada por1 FD-6 e a condição de normalização, que expressa o fato de que a soma de todas as frações deve ser igual a 1, se torna FD-7 As funções de distribuição são usadas nos Capítulos 6 e 7, na RCC 7, Demonstração da Distribuição de Boltzmann, e em várias Leituras Suplementares. FIGURA FD-1 Distribuição das notas obtidas por 200 alunos em uma prova na qual a nota máxima é 25 pontos; ni é o número e fi = ni/N é a fração de alunos que receberam a nota si. A nota média s – e a nota média quadrática srms estão indicadas. A região sombreada corresponde às notas que se afastam da média menos de 1 desvio-padrão. 8 6 12 16 20 14 10 18 22 4 0,04 0,06 0,08 0,10 0,02 2 155 10 20 25 Nota si srms = 14,9 ni fi s = 14,17 – FIGURA FD-2 Distribuição normal. A curva é simétrica em relação ao valor médio x–, que é também o valor mais provável. Sessenta e oito por cento da área sob a curva corresponde a valores que se afastam da média menos de um desvio-padrão. A curva descreve adequadamente a distribuição de erros aleatórios em muitos experimentos. x – σ x + σ f (x ) xx– –– FIGURA FD-3 Uma possível distribuição de alturas. A fração do número de alturas entre h e h + ∆h é proporcional à área da região sombreada. Como se vê na figura, o histograma pode ser aproximado por uma curva contínua. h + ∆h f (h ) h h 1Os limites de integração dependem da variável considerada. No caso que estamos considerando, h varia de 0 a . Neste livro, os limites são às vezes omitidos quando a faixa de valores possíveis da variável está implícita. 24 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 10 Livre Caminho Médio Por causa da agitação térmica, os elétrons de condução de um metal se movem com uma velocidade média v. Embora, da mesma forma como acontece com as moléculas de um gás, exista uma distribuição de velocidades no entorno da média, vamos supor, para facilitar os cálculos, que todos os elétrons se movem com a mesma velocidade v. Se um campo elétrico E é apli- cado, todos os elétrons adquirem uma velocidade adicional vd, conhecida como velocidade de deriva, na direção oposta à do campo. A energia cinética assim adquirida logo é perdida em colisões inelásticas com íons da rede, mas os elétrons voltam a ser acelerados pelo campo elétrico. Seja o tempo médio que um elétron, escolhido ao acaso, leva para sofrer uma colisão. Como as colisões são aleatórias, este tempo não depende do tempo transcorrido depois que um elétron sofreu a última coli- são. Se examinarmos um grande número de elétrons imediata- mente após terem sofrido uma colisão, o intervalo de tempo médio até que uma nova colisão ocorra é . Assim, o parâmetro , conhecido como tempo de colisão ou tempo de relaxação, não só é o tempo médio entre colisões, mas também o tempo médio transcorrido desde a última colisão para um elétron esco- lhido ao acaso. A velocidade de deriva vd é a velocidade média de um elétron escolhido ao acaso, já que a média da velocidade térmica é nula. Como a aceleração é a = eE/me, na qual E é o campo elétrico, e a velocidade média imediatamente após uma colisão é zero, a velocidade de um elétron que está prestes a sofrer uma nova colisão é v() = a = eE/me e a velocidade de deriva é dada por v v e E md e = = ( )τ τ 2 2 LC-1 A distância média que um elétron percorre entre duas colisões é chamada de livre caminho médio e representada pelo símbolo . O livre caminho médio é igual ao produto da velocidade média v pelo tempo médio entre colisões (veja a Figura LC-1): = v LC-2 Em termos do livre caminho médio, a velocidade de deriva pode ser escrita na forma v eE m vd e = λ 2 〈 〉 LC-3 Combinando esta equação com a Equação CE-7 (veja a RCC 11, Teoria Clássica da Condução de Eletricidade), obtemos: I NeAv Ne E m vd e = = 2 2 λ 〈 〉 LC-4 e j I A Ne E m ve = = 2 2 λ 〈 〉 LC-5 Comparando as Equações LC-4 e LC-5 com a Equação CE-6, podemos escrever: ρ λ σ ρ λ = = = 2 1 22 2m v Ne Ne m v e e 〈 〉 〈 〉 e LC-6 Existe uma relação entre o livre caminho médio e o tamanho dos íons da rede cristalina. Considere um elétron que esteja se movendo com velocidade v por entre os íons da rede (Figura FIGURA LC-1 Trajetória de um elétron no interior de um fio. Superposta à velocidade térmica, cuja direção é aleatória, existe uma pequena velo- cidade de deriva vd na direção da força elétrica eE. O livre caminho médio , o tempo médio entre colisões e a velocidade média v estão relacionados através da equação = v. λ = 〈v 〉τ vd τ Livre Caminho Médio 25 LC-2). Como depende da energia térmica do material, a veloci- dade do elétron quase não é afetada por colisões. Supondo que o elétron se comporta como uma carga pontual, haverá uma colisão com um íon da rede se o elétron passar pelo íon a uma distância do centro do íon igual ou menor que r, o raio iônico. Em um intervalo de tempo t, o elétron percorre uma distância vt e colide com todos os íons situados no interior de um tubo cilíndrico de volume r2vt que envolve a trajetória do elétron. (Como depois de cada colisão a direção do movimento do elé- tron muda aleatoriamente, a trajetória é em zigue-zague, como na Figura LC-2.) O número de íons nesse volume (e, portanto, o número de colisões no intervalo de tempo t) é nar2vt, em que na é o número de íons por unidade de volume. O livre caminho vt r vElétron Íon de raio r Área = πr 2 FIGURA LC-2 Modelo de um elétron se movendo na rede cristalina de um mate- rial. O elétron, que é considerado uma carga pontual, colide com um íon da rede cristalina se passar pelo íon a uma distância menor que r, o raio iônico. Em um intervalo de tempo t, o elétron colide com todos os íons situados em um tubo cilíndrico de volume r2vt, conside- rando que v é a velocidade do elétron. EXEMPLO LC-1 Livre Caminho Médio e Tempo de Rela- xação dos Elétrons Estime o livre caminho médio e o tempo de relaxação dos elétrons do cobre. O número de íons de cobre por unidade de volume é 8,47 1022 íons/cm3 e o raio do íon de cobre é 0,1 nm. SOLUÇÃO 1. A relação entre o livre caminho médio dos elétrons, a con- centração de íons de cobre e o raio dos íons de cobre é dada pela Equação LC-7: 2. Substituindo na e r por seus valores na equação de , obte- mos: 3. De acordo com a Equação LC-1, temos: 4. Substituindo pelo valor calculado no item (2) e v pelo valor dado pela Equação LC-1, obtemos: médio é igual à distância percorrida pelo elétron dividida pelo número de colisões: LC-7 26 REVISÃO DE CONCEITOS CLÁSSICOS 11 Teoria Clássica da Condução de Eletricidade No modelo de Drude, mencionado na Seção 10-2 do livro, um metal é imaginado como um arranjo tridimensional de átomos ou íons com um grande número de elétrons livres para vagar por todo o material. No cobre, por exemplo, existe aproximadamente um elétron livre para cada átomo. A concentração de elétrons livres pode ser medida com o auxílio do efeito Hall (veja a Seção 10-6). Na ausência de um campo elétrico, os elétrons livres se movem no interior
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