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FICHAMENTO CONVERSANDO SOBRE ÉTICA E SOCIEDADE A obra Conversando sobre ética e sociedade, escrita pelos autores Jung Mo Sung e Josué Cândido da Silva, traça uma análise sobre como a ética está presente em diversos ambitos de nossa vida em sociedade e que esta nunca deixou de ser um tema recorrente e presente. Entretanto, quando colocada em pauta às reflexões teóricas, observa-se que a mesma se mantém restrita apenas ao espaço acadêmico. Assim, os autores apontam a necessidade de uma mudança na ética e em todas suas áreas atuantes. A principio a ética é apresentada como uma reflexão teórica, que tem como objetivo analisar e criticar os princípios que regem o meio social. Apesar de ser considerada uma prática antiga, ressalta-se sua tamanha importância até os tempos atuais. A ética surge em razão dos seres humanos agirem de maneira instintiva, aceitando os costumes e valores determinados pela sociedade sem discutirem sobre sua conduta e como a mesma afetará em sua vida. Ademais, é descrito como a moral é inserida na vida social, através da criação de normas a serem seguidas com base nos valores e costumes expostos pelo grupo social. Entende-se que, quando todos os indivíduos agem dentro de um padrão a ser seguido dependendo da aceitação do meio social do qual está inserido, deixa de atentar-se para a moralidade de suas ações, sem questionar-se se há necessidade de mudança acerca das mesmas. Dessa forma, a ética propõe que haja uma reflexão crítica acerca da conduta e princípios estabelecidos e determinados pelo sistema moral. Todavia, se faz ciente que os seres humanos não nascem pré-programados, assim, agem na maioria das vezes movidos pelos grupos sociais em que estão inseridos. Isso se dá pelo fato de que o individuo está em constante processo de construção de seu ser, e em contato com essa realidade surge às responsabilidades e consequências sofridas por suas atitudes. Desse modo, essa responsabilidade provoca efeitos distintos em cada individuo, podendo assim, soar assustadora para muitos, que como forma de amenizar a insegurança, se prendem a ideia de predestinação ou apenas reproduzem as normas definidas pela sociedade, sem se questionarem sobre o que é certo ou não a se fazer. Sung e Silva ressaltam a importância de fazer uma análise sobre si mesmo e questionar-se sobre sua postura, visto que nossos atos podem gerar consequências não só para nós, mas também para aqueles que nos cercam, isto é, o coletivo. Entende-se então que devemos prezar por ações conscientes e bem intencionadas, pois estas nos impulsionam a construirmos um futuro melhor que o presente, visando assim o desenvolvimento pessoal e do grupo social. Destaca-se no decorrer da obra que por sermos seres humanos temos a necessidade afetiva e material de estarmos inseridos em grupos, isto é, precisamos manter as relações sociais de em prol da sobrevivência digna e mutua, dado que é certamente impossível que alguém consiga viver de forma totalmente isolada. Em virtude da convivência, devemos entender que apesar de termos direitos, estes não são absolutos e assim precisamos respeitar o direito dos outros para que se possa conviver em harmonia, pois “[...] quando a sociedade entra em crise, todos os seus membros acabam sentindo o efeito.” (SUNG, SILVA, 2009, p. 49). Outro ponto frisado na obra é a presença dos aspectos culturais como importante mecanismo na formação do ser humano. A cultura é considerada a segunda natureza do homem, a junção de toda a atividade do ser humano, como a linguagem da qual usamos para nos comunicarmos ou as leis e normas que regulam a convivência em sociedade. Seguindo essa perspectiva, percebe-se que a cultura condiciona os seres humanos a seguir os mesmos costumes e tradições de maneira quase instintiva, na maioria das vezes, passada de geração em geração. Quando se há interiorização da cultura, o ser busca sentido para a sua vida a partir dessa cultura e passa a enxergar sua realidade como somente uma aquela que também é vista pelo grupo do qual faz parte. Assim, a cultura torna-se objetiva, adquirindo um aspecto coercitivo no qual se implica que as normas, os valores e os significados estabelecidos por ela devem ser seguidos, sendo que os indivíduos que destoam desse comportamento passam a ser considerados anormais e por diversas vezes são condenados, como citado por Jung Mo Sung do decorrer dos parágrafos, “Aquele que ‘desvia’ da normalidade da cultura estabelecida sofre não somente a sanção subjetiva da ‘culpa moral’, mas também a possibilidade do terror da loucura.” (SUNG, SILVA, 2009, p. 30). Em suma, as sociedades que possuem culturas rigidamente estabelecidas tendem a estranhar o diferente e julga-lo instantaneamente como errado. É considerado diferente tudo que pelo simples fato de existir coloca em debate a validade absoluta da cultura vigente, revelando a existência de uma realidade distinta. O contato com o diferente pode causar insegurança para aqueles que se sentem seguros dentro do padrão imposto pela cultura. O autor revela que esse fenômeno pode ocorrer de duas formas: “O contato com o diferente pode se dar de duas formas. A mais comum é com alguém do interior do grupo que não internaliza perfeitamente a ordem estabelecida e se exterioriza, isto é, atua no mundo criando respostas e soluções, de modo diferente e contraditório que o estabelecido (mudança paradigmática). Nestes casos, a sociedade cria mecanismos de repressão contra os “diferentes”, que vão desde admoestações até prisões, banimento e morte. A outra forma de contato com os diferentes se dá no encontro com etnias e culturas distintas [...] A reação mais comum na história é o povo mais poderoso (econômica e militarmente) considerar os diferentes como inferiores.” (p.31-32). Ademais, ao falar sobre sociedades, reconhece-se que as sociedades antigas acatavam a tradição como objetivo central e assim, se recusavam a aceitar as novidades. A economia e a ética eram consideradas temas completamente distintos e não deveriam ser procuradas conscientemente. Em contraponto, a sociedade moderna há uma divisão entre a moral e a economia, evidenciada com o mito do progresso, que trata a conservação da tradição como algo totalmente negativo. O mito defende que não há limites para as ações humanas, incentivando os indivíduos em uma busca desenfreada por um objetivo de acumulação infinita. Como citado na obra essa teoria defende que todas as ações são feitas em nome do progresso, e em seu nome tudo é justificado, uma ideia que contradiz todos os valores éticos. Conforme explicado no texto: “Quando a acumulação da riqueza passa a ser o objetivo maior de um grupo social, a lógica econômica passa a ser o centro da vida e o principal critério de discernimento para as questões morais. (SUNG, SILVA, 2009,p. 56) Conclui-se que a busca excessiva pelo progresso com fins econômicos é contrária aos valores defendidos pela ética, este corrompe o individuo de forma a pensar somente em seu próprio beneficio, provocando uma grava divisão social entre as classes, onde somente os consumidores ativos do capitalismo são beneficiados. Adiante, a obra expõe uma evidente influência da política no comportamento ético no meio social. Com o desenvolvimento do capitalismo a sociedade desviou-se da ética e foi corrompida pelas disseminações de ideais individualistas em favor da elite. Em virtude de tal fato, é notável que a política atual visa os meios, não os fins. Com o avanço político e econômico e seus efeitos sob a sociedade, outro tema que tem garantido destaque é a Ecologia, todavia não por motivos certos. Apesar de o ser humano ter a natureza como lar e fazer parte da mesma, a sociedade tem se mostrado cada vez mais negligente em respeito a sua preservação, sem sequer levar em conta que também sofrera. Esta maneira de individualista de pensamento leva o individuo a margem da ruína, uma vez que,ao não se importar com as questões ecológicas, gerando assim diversos problemas, tais como a poluição, chuvas ácidas, pelo efeito estufa e muitos outros fenômenos ligados à degradação ambiental. “A exigência de ética que vimos no campo da economia, da política e da ecologia também se faz presente nas relações de gênero. O que significa que as mudanças exigidas não se reduzem ao campo social e público, mas também chegam ao âmbito privado nas relações interpessoais e da família.” (p.105). Por fim, ao realizar a leitura da obra, é notável a necessidade de mudanças e transformações individuais e coletivas em diversas áreas da sociedade, pois, ao cuidar e buscar o bem comum, preservar a garantia de seus direitos e livrar-se do que é imposto pela coerção social, haverá harmonia e respeito, bem como dito por Sung e Silva “Nós nos humanizamos quando humanizamos o mundo”. SUNG, J.; SILVA; J. Conversando sobre ética e sociedade. 16. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009. Fichamento por: Pamela Alencar.