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Psicanálise e Filosofia sob a ótica de Joel Birman

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INSTITUTO PSICANALÍTICO AVIA MINAS GERAIS IPAVIAMG 
FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLÍNICA 
 
 
 
 
 
 
SANDRA CALAÇA DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
PSICANÁLISE E FILOSOFIA SOB ÓTICA DE JOEL BIRMAN 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA 
 2022 
Artigo apresentado no curso de 
formação em Psicanálise Clínica- 
IPAVIAMG, para obtenção de nota 
parcial em aprovação na unidade 9. 
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PSICANÁLISE E FILOSOFIA SOB ÓTICA DE JOEL BIRMAN 
 
 
RESUMO – O presente Artigo pretende correlacionar Filosofia e Psicanálise sob a 
ótica de Joel Birman. Abordando os fantasmas divergentes entre os discursos filosóficos 
e os discursos freudianos. Desde a fundação da psicanálise, quando Sigmund Freud 
circunscreveu algumas problemáticas teóricas que foram cruciais para a filosofia. Em 
busca de consolidar a Psicanálise como uma nova ciência, Freud oscilava entre duras 
críticas ao saber filosófico e o reconhecimento de sua importância na busca de respostas 
sobre racionalidade, saberes e conceituação das coisas. Sobretudo, apesar da negação 
freudiana, fica evidenciado neste estudo que a filosofia serviu de referência na 
construção da teoria psicanalítica. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Psicanálise. Filosofia. Freud. Joel Birman. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1 INTRODUÇÃO 
Filosofia é uma palavra grega, formada por filia (amor) e sofia (saber). Os 
historiadores da Filosofia dizem que o primeiro filósofo foi Tales, natural de Mileto, 
Grécia. Isso coloca a origem da Filosofia no final do século VII a.C. e início do século 
VI a.C. Já a Psicanalise é um ramo clínico teórico que se ocupa em explicar o 
funcionamento da mente humana, ajudando a tratar distúrbios mentais e neuroses. O 
objeto de estudo da psicanálise concentra-se na relação entre os desejos inconscientes e 
os comportamentos e sentimentos vividos pelas pessoas. 
Etimologicamente, o termo psicanálise é uma referência ao grego psyche, que 
literalmente significa “respiração” ou “sopro”, mas que possui um conceito mais 
complexo, relacionado com as ideias modernas do que seria o espírito, o ego e a alma 
das pessoas. 
A teoria da psicanálise, também conhecida por “teoria da alma”, foi criada pelo 
neurologista austríaco Sigmund Freud (1856 – 1939). De acordo com Freud, grande 
parte dos processos psíquicos da mente humana estão em estado de inconsciência, sendo 
estes dominados pelos desejos sexuais. 
Sendo assim, todos os desejos, lembranças e instintos reprimidos estariam 
guardados no inconsciente das pessoas e, através de métodos de associações, o 
psicanalista – profissional que pratica a psicanálise – conseguiria analisar e encontrar os 
motivos de determinadas neuroses ou a explicação de certos comportamentos peculiares 
dos seus analisandos. 
O presente estudo pretende correlacionar Filosofia e Psicanálise sob a ótica de 
Joel Birman. 
Joel Birman é um psiquiatra e psicoterapeuta brasileiro, descendente de 
imigrantes judeus romenos. Birman escreveu vários livros no Brasil e na França 
sobre psicanálise. Cursou mestrado em filosofia (PUC/RJ, 1976), doutorado em 
filosofia (USP, 1984) e pós-doutorado em psicanálise (Paris VII, 1996). Sendo, 
portanto, um profundo conhecedor de assuntos que abrangem tanto a Psicanálise quanto 
a Filosofia. 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Psiquiatra
https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicoterapeuta
https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil
https://pt.wikipedia.org/wiki/Psican%C3%A1lise
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2 DESENVOLVIMENTO 
Joel Birman, na obra Freud & a filosofia (2003), aborda os fantasmas 
divergentes entre os discursos filosóficos e os discursos freudianos. Desde a fundação 
da psicanálise, na passagem do século XIX para o século XX. 
A filosofia tem seus conceitos e propósitos que 
enfrentam questões formuladas por dúvidas 
humanas sobre determinados assuntos. Como a 
própria filosofia quase se define frente ao 
questionamento humano é a busca de respostas 
sobre a racionalidade, os saberes e a conceituação 
das coisas. A filosofia de uma disciplina como a 
filosofia da História não tende a buscar ou 
solucionar problemas históricos e, sim, alcançar 
conceitos que estruturam os pensamentos e tornar 
claro os fundamentos (BIRMAN,2003). 
A Psicanálise surge em meio aos estudos da 
medicina e da psiquiatria, da fisiologia e ainda 
filosofia, se tornando uma ciência cujo objetivo é o 
entendimento do próprio corpo, mas voltado a uma 
relação externa que gera o adoecimento psíquico. 
O surgimento dessa ciência, ocorreu durante o 
iluminismo, momento histórico de reorganização 
da razão humana envolvendo as áreas humanas 
não somente em aspectos sociais, mas econômicos, 
políticos, religiosos e morais (BIRMAN,2003) 
 
Freud circunscreveu algumas problemáticas teóricas que foram cruciais para a 
filosofia. O pai da Psicanálise geralmente manifestava certa ojeriza ao discurso 
filosófico. Desde então, houve uma interpelação recíproca entre as duas disciplinas. 
Freud não era filósofo e nem pretendia, com a 
constituição da psicanálise, formular algo que o 
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aproximasse do trabalho filosófico. Em um ensaio 
sobre visão de mundo de 1932, Freud opôs a 
psicanálise à filosofia. Pelos procedimentos 
presentes no discurso científico, a psicanálise se 
voltaria para a pesquisa de objetos circunscritos 
enquanto a filosofia pretendera captar sempre a 
totalidade do ser e do real (Birman, 2003). 
Nesse contexto, a filosofia do sujeito estaria sempre inscrita no campo da 
consciência e se enunciava no registro do eu, enquanto a psicanálise formulava o 
descentramento do sujeito. Justamente esta problemática delineou a interlocução entre 
psicanálise e filosofia. 
Freud mantinha reservas em relação ao discurso filosófico, suspeitava de sua 
veracidade. 
“Se a histeria era quase uma obra de arte e a neurose 
obsessiva quase uma religião, a filosofia seria então 
quase um delírio paranóico” (FREUD, 1913 apud 
BIRMAN, 2003, p. 9). Constata-se que a “obra de arte 
histérica” é como a criação e a sublimação, enquanto 
produção em seus contornos, já a neurose obsessiva 
com rituais sagrados e movimentos repetitivos e 
(obsessões e compulsões) e a filosofia sendo delírio, 
tratando-se de os pensamentos sobre as questões do 
mundo e as suas realizações. “Essa interlocução 
evidencia não apenas as diferentes concepções de 
Freud sobre o que seja efetivamente a filosofia, mas 
também como ele diferenciava a psicanálise da 
filosofia, nos diversos momentos teóricos”. (BIRMAN, 
2003, p. 13). Discernimento feito pelo pai da 
Psicanálise sobre a filosofia e a Psicanálise e as suas 
relações. O modo de ver as duas, contudo, as diferentes 
maneiras que ele via a filosofia. “Seu pensamento liga-
se diretamente ao filosófico pela problemática que a 
psicanálise colocou para a Filosofia”. (BIRMAN, 2003, 
p. 16). 
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Posteriormente, no desenvolver do seu trabalho, Freud pôde reparar e contrapor 
o que disse no início sobre a filosofia; as críticas e objeções deram lugar a posteriores 
comentários mais respeitosos e interpretativos. Em uma de suas cartas para Wilhelm 
Fliess, afirmou que estava finalmente realizando seu desejo de ser um filósofo com a 
invenção da psicanálise. 
Deste modo, Freud oscilava e se contradizia. Pois da mesma forma que Freud 
interpretava as leituras do discurso filosófico, a própria filosofia questionava o discurso 
freudiano. 
O discurso freudiano enunciou uma série de pressupostos e teses sobre a 
subjetividade, construindo então leituras sobre o psiquismo. Tudo isso se evidenciou na 
recepção do pensamento freudiano, constituindo uma história da subjetividade. Foi pela 
consideração disso, portanto, que a comunidade filosófica se manifestou em relação à 
psicanálise. 
Birman (2003), no capítulo negatividade e aceitação, postula que a invenção da 
psicanálise como saber se realizou pela formação da existência do inconsciente, como 
um outro registro psíquico, além do consciente.Esta descoberta de Freud revolucionou 
os saberes antigos sobre o psiquismo até então instituídos pela psiquiatria e a psicologia. 
Freud atribui ao inconsciente três categorias 
distintas, quais sejam o Id, Ego e o Superego. 
Onde o id é a pulsação e o desejo de querer no 
imediato e no agora, o Superego direcionado a 
moral e a análise dos fatos. O ego é o equilíbrio 
existente entre desejos e os valores existentes no id 
e no superego, ou seja, o ser como exatamente ele 
é. (BIRMAN,2003) 
Freud temia que o discurso filosófico fosse um empecilho na comprovação da 
veracidade de sua ciência, daí a razão da mordacidade quase presente na crítica à 
filosofia. Então, ele começa a trilhar o percurso da psicanálise para torná-la aceita pela 
ciência. Pois precisava provar e comprovar que a psicanálise tivesse uma adequação e 
positividade no campo das demais ciências. 
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3 CONCLUSÃO 
Freud considerava a filosofia um obstáculo ao conhecimento científico. 
Justamente por isso, estabeleceu rígidas fronteiras entre o saber analítico (científico) e o 
saber filosófico. 
Sobretudo, a existência e validade da psicanálise são inegáveis. Entretanto, na 
obra freudiana, há enumeras citações de filósofos e escritores, com a função de apoiar a 
cunhagem de novos conceitos. Personagens nietzscheanas, de Shakespeare, e de outros 
dramaturgos, povoam a metapsicologia freudiana. Certas menções a passagens de livros 
de filósofos, como Platão e Schopenhauer, revelam-se também essenciais na feitura dos 
textos psicanalíticos. Na obra, Além do princípio do prazer (1920), Freud recorre 
ao Banquete de Platão e a Schopenhauer, para falar de Eros e de Thanatos. 
De acordo com Birman, embora Freud não fosse um filósofo, seu pensamento 
ligava-se diretamente ao discurso filosófico pela problemática que colocou para a 
filosofia. Afinal, as oscilações entre atração fatal e ojeriza temperam sempre o estilo de 
Freud em suas leituras teóricas. 
E mesmo que as críticas de filósofos não aceitem o inconsciente, a caixa-preta 
da pessoa, inevitavelmente devem reconhecer os limites da consciência. Para Freud, o 
inconsciente é um “reservatório” de sentimentos, pensamentos, impulsos 
e memórias que estão fora da percepção consciente. 
Apesar da negação explicita da influencia filosófica nas obras freudianas, a 
filosofia serviu de referência na construção da teoria psicanalítica. Considerando que a 
filosofia procura estudar a essência da humanidade e a realidade em que vivemos, refletindo 
sobre questões éticas, morais e políticas, bem como sobre os problemas atuais da sociedade. 
Sendo assim, se faz presente em tudo que constitui o sujeito, na subjetividade (dividida em 
duas ordens de funcionamento, relativas ao consciente e ao inconsciente, sendo 
essencialmente constituída pela sintaxe inconsciente). 
 
 
 
https://www.ecycle.com.br/memoria/
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REFERÊNCIAS 
BIRMAN, Joel. Freud & a filosofia. Zahar, 2003. 
IPAVIAMG Unidade 9 Formação em Psicanálise Clinica 2020 
BIRMAN, Joel. Sobre o sujeito no discurso freudiano. Rio de Janeiro: UERJ/IMS, 
1993. 
BIRMAN, Joel. Ser justo com a Psicanálise: ensaios de psicanálise e filosofia. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 2021.

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