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Serviço social integrado

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Prévia do material em texto

Autora: Profa. Maria de Fátima Matos Cardoso 
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudela Nanias
Profa. Maria Francisca S. Vignoli
Serviço Social Integrado
Professora conteudista: Maria de Fátima Matos Cardoso
Natural Vitória da Conquista (BA) e residente em São Paluo (SP), é graduada em Serviço Social e mestre em 
Educação Interdisciplinar pela Faculdade Zona Leste de São Paulo, atual Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). 
Docente da graduação em Serviço Social da Universidade Paulista (UNIP) e coordenadora local de Serviço Social do 
campus Pinheiros, já ministrou aulas na Universidade de Guarulhos (UnG), no Centro Universitário das Faculdades 
Metropolitanas Unidas (UniFMU) e na Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS).
Atua como consultora social e educacional para instituições municipais e do terceiro setor. 
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
C268s Cardoso, Maria de Fátima Mattos 
Serviço social integrado / Maria de Fátima Mattos Cardoso. – 
São Paulo: Editora Sol, 2014.
 
104 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-106/14, ISSN 1517-9230.
1. Serviço social. 2. Realidade brasileira. 3. Globalização. I. Título.
CDU 364.46
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Andréia Gomes
 Amanda Casale
Sumário
Serviço Social Integrado
APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7
INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 CAPITALISMO, GLOBALIZAçãO ..................................................................................................................11
2 ESTADO, ESTADO-NAçãO E DESIGUALDADES SOCIAIS ................................................................... 23
3 DESIGUALDADES SOCIAIS ........................................................................................................................... 28
4 DESIGUALDADES SOCIAIS NA REALIDADE BRASILEIRA .................................................................. 34
Unidade II
5 REALIDADE BRASILEIRA, EXPRESSõES DA QUESTãO SOCIAL, DIREITOS SOCIAIS ............... 51
6 MUNDIALIZAçãO E FINANCEIRIZAçãO DO CAPITAL ........................................................................ 56
7 MUNDIALIZAçãO E PODER LOCAL ........................................................................................................... 61
8 SERVIçO SOCIAL NA REALIDADE BRASILEIRA .................................................................................... 79
7
APreSentAção
Este livro-texto tem como objetivo fazer uma breve imersão em alguns dos conhecimentos sobre 
a realidade regional e local, espaços territoriais ocupados e vivenciais que possibilitem análises dos 
fatores socioculturais, políticos e econômicos, que exijam intervenções técnicas reflexivas, críticas 
e propositivas, fomentadas no processo de aprendizagem do Serviço Social Integrado e capazes de 
estimular perspectivas profissionais que promovam estratégias para demandas sociais desafiadoras.
A disciplina Serviço Social Integrado faz parte do núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da 
vida social, do projeto pedagógico do curso de Serviço Social da Universidade Paulista (UNIP), o qual 
segue as recomendações das Diretrizes Curriculares Nacionais. 
O objetivo do curso é instrumentalizar os futuros assistentes sociais para conhecer as dimensões do 
ser social integrado à realidade local, identificar demandas e posicionar-se, adotando iniciativas ético-
políticas no cotidiano profissional.
Ao se tratar da situação contemporânea em Serviço Social, há que se contextualizar historicamente 
saberes e algumas das referências conceituais, como globalização, desigualdade e exclusão social, 
entre outras, de sorte que permitam dimensionar a realidade social em que inscreve sua intervenção 
e igualmente iluminar possíveis construções profissionais cotidianas impostas pelo projeto societário. 
Trata-se de analisar criticamente o Serviço Social no enfrentamento das diversas expressões da Questão 
Social1 na sociedade brasileira.
Quando se busca analisar a situação da desigualdade social na cena contemporânea, convém 
considerar aspectos multidimensionais e históricos desse fenômeno no mundo, incluindo noções de 
pobreza e suas facetas no processo de expansão capitalista.
 Para estabelecimento do nível de pobreza, é considerado como patamar mínimo o suprimento 
das necessidades fundamentais à manutenção da vida social, tendo em vista que, além das biológicas, 
a qualidade das relações sociais e da vida em sociedade também são igualmente importantes para o 
desenvolvimento das capacidades humanas.
A definição dos limites de pobreza baseia-se em índices definidos abaixo desses patamares. No 
entanto, os níveis para estabelecimento dos índices de pobreza levam em conta também processos 
políticos e culturais, como o exercício democrático de participação popular nas decisões orçamentárias 
quanto aos investimentos públicos na área social e a definição de prioridades programáticas locais para 
inserção de recursos culturais, sociais, econômicos e políticos. Quanto menor for a participação das 
pessoas e seus potenciais de decisão na vida em sociedade, em todos os níveis, maior será a exposição 
aos fatores que geram a pobreza.
1 Questão Social apreendida enquanto o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista 
que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se 
privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 2007).
8
Nessa análise do que pode ocasionar e expor pessoas a situações de pobreza, fazem parte também 
questões relacionais que levam em conta a singularidade dos sujeitos, o fortalecimento de suas 
organizações coletivas e comunitárias e suas expressões cotidianas, como, por exemplo, a ausência de 
oportunidades e escolhas que culminam em situações de violação de direitos.
O modo de produção capitalista gera desigualdades entre as classes sociais que se aprofundam 
ainda mais à medida que ocorrem processos acentuados de acumulação do capital e desequilíbrio na 
distribuição de renda, com redução do acesso a outros processos políticos de participação na vida das 
sociedades.
A composição dos espaços relacionais nesse mundo de trabalhadores e capitalistas integra diferentes 
sujeitos sociais, que figuram como empregadores, empresariado, Estado, associações da sociedade civil 
e trabalhadores, com intencionalidades e práticas diferentes na divisão social e técnica do trabalho 
que irão condicionar o caráter do trabalho realizado em relação aos objetivos de ganhos de capital, 
possibilidades e limites dos impactos no desenvolvimentoda sociedade. 
Fica evidente, nessa forma de análise, que o trabalho profissional articula-se em sua intervenção ao 
conjunto das relações e condições sociais do contexto em que se insere.
Introdução
Há estudos que apontam que o capitalismo surgiu na Europa, como fenômeno tipicamente inglês, 
dadas as condições favoráveis da Inglaterra de mão de obra abundante, esgotamento das atividades 
agrárias, disponibilidade e qualidade de recursos minerais no período e posição privilegiada de 
afastamento da região inglesa das regiões de conflitos (HOBSBAWM, 2003).
Esse cenário transformador já vinha ocorrendo no final de Idade Média, mas a partir do 
desenvolvimento inglês e de sua força comercial nas rotas marítimas, o movimento econômico e social 
ampliou-se pela Alemanha, França e Holanda, expandindo-se em seguida para os Estados Unidos 
(HOBSBAWM, 2003).
Originava-se um novo modo de produção, baseado na acumulação do capital, com fronteiras 
geográficas redimensionadas para alcançar novos mercados e o fortalecimento de atividades econômicas, 
sem precedentes na história da humanidade. 
Pode-se claramente visualizar que esse processo de desenvolvimento gerou profundas transformações 
sociais, culturais e econômicas, evidenciando a configuração da relação capital x trabalho e uma consequente 
divisão de classes sociais entre capitalistas (burgueses) e trabalhadores assalariados (proletários). 
Desse modo, pode-se perceber que, ao expandir-se, o desenvolvimento do capital fez aumentar a 
complexidade de suas proporções multifacetadas por todos os países que o adotaram como modelo de 
desenvolvimento, bem como os problemas sociais, marcando as regiões com profundas desigualdades 
sociais, que passam a caracterizar uma Questão Social (IAMAMOTO, 2007).
9
Segundo Antunes (2002), na década de 1980, os países de capitalismo avançado passaram 
por profundas transformações no mundo do trabalho. O autor explica que mudaram as formas de 
estruturação produtiva com o advento da revolução tecnológica, que introduz uma ampliação das 
formas de trabalho imaterial, exigindo trabalhadores “pensantes e produtores de saberes” (grifo nosso), 
capazes de desenvolver no mundo da tecnociência a produção de conhecimento como um elemento 
essencial da produção de bens e serviços. 
Para Antunes (2002, p. 9), ainda fazem parte desse período novas formas de representação sindical 
e política no mundo do trabalho, que foram tão intensas que se pode mesmo afirmar “que a classe 
trabalhadora viveu a mais intensa crise deste século, que atingiu não só a sua materialidade, mas teve 
profundas repercussões na sua subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes níveis, afetou a 
sua forma de ser”.
A internacionalização do capital, a globalização e a revolução tecnológica possibilitaram 
relações entre países, culturas e a transformação de novas formas de organização social e 
econômica, em escala inimaginável. Ao nos basearmos nesta breve análise sobre os efeitos do 
capitalismo nas sociedades, podemos deduzir os desafios e as complexidades para conceituar a 
pobreza, os processos que geram as desigualdades sociais, especialmente ao se levar em conta que 
não existe um enfoque absoluto, que vários são os pontos que nos levam a estabelecer níveis de 
pobreza, como aspectos nutricionais, econômicos, habitação, vestuário etc., capazes de assegurar 
uma vida humana com qualidade. 
De acordo com Netto (2001, p. 48), “o contexto societário cria uma diversidade de expressões sócio-
humanas complexas e diferenciadas, de acordo com as condições de exploração produzidas pelo mundo 
do trabalho”. Para ele, tal situação implica o agravamento imediato da Questão Social, dado que amplia 
as desigualdades de classe com intensa vulnerabilidade social, política, econômica e cultural da classe 
trabalhadora.
Sobre esse contexto, Iamamoto (2007) assinala que, no caso brasileiro, o processo de desenvolvimento 
tem particularidades históricas, visto que o moderno se constrói por meio do arcaico, conservando as 
marcas tradicionais e, ao mesmo tempo, transformando outras de acordo com os ventos auspiciosos da 
globalização. 
Segundo a autora, esse movimento produz um ritmo específico que leva tanto o velho quanto 
o novo a se alterarem. Essa coexistência histórica faz que a Questão Social hoje se apresente com 
conservadorismo e mudanças radicais.
Os trabalhadores do capital e do Estado histórica e conjunturalmente buscam estratégias para 
enfrentamento da Questão Social, e é na organicidade desse enfrentamento, como uma divisão social e 
técnica do trabalho, que surge o Serviço Social. 
A construção do projeto profissional “resulta tanto da socialização da política conquistada pelas 
classes trabalhadoras quanto dos avanços de ordem teórico-metodológica, ética e política acumulados 
no universo do Serviço Social a partir dos anos de 1980” (IAMAMOTO, 2007, p. 8).
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Essas contradições historicamente contextualizadas apresentam à profissão algumas das 
expressões das forças sociais em correlação: tanto “o movimento do capital quanto os direitos, 
valores e princípios que fazem parte das conquistas e do ideário dos trabalhadores” (IAMAMOTO, 
2007, p. 11). As bases que promovem reflexões éticas e políticas dos agentes profissionais e 
conduzem à renovação da profissão são resultantes exatamente dessas forças contraditórias que 
integram a dinâmica dos processos sociais.
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Unidade I
1 CAPItAlISMo, GlobAlIzAção 
Análises sobre o capitalismo evidenciam as contribuições marxistas para entender os processos 
de formação e desenvolvimento do capital. Destaca-se, entre suas contribuições, demonstrar que o 
capitalismo revolucionou o modo de produção do artesanal para o industrial, promovendo mudança 
substancial quanto à atribuição do valor à mercadoria, que, no processo artesanal era calculado pelo 
tempo de trabalho individual e nas oficinas organizadas pelo capitalista, e depois passa a ser calculado 
pela média do trabalho coletivo, o que coloca um paradigma: “se existe na sociedade um tempo médio de 
produção de determinada mercadoria, os capitalistas individualmente devem se colocar na concorrência 
conforme este tempo médio” (HOBSBAWM, 2003, p. 21).
 
Com isso, segundo o autor, Marx quis dizer que o capitalista não tem liberdade para escolher o modo 
como deseja produzir e, para enfrentar a concorrência, precisa necessariamente produzir de acordo com 
a média do trabalho social, que é determinado pelo desenvolvimento das forças produtivas do período 
histórico em que se encontra produzindo e concorrendo. É nessa condição que se revela o verdadeiro 
movimento do capitalismo em todo o seu processo de desenvolvimento.
O capitalismo promove modificações estruturais ao criar a figura do trabalhador coletivo, que limita 
a individualidade de cada trabalhador e institui o processo cooperativo e a capacidade genérica dos 
modos de produção. Encerra-se aí uma contradição central do trabalho no capitalismo, quando se 
destaca a possibilidade do trabalho coletivo, que liberta o homem para produzir condições materiais de 
vida em larga escala, sem depender somente da natureza. 
Essa forma de transformação econômica separa os trabalhadores dos seus meios de produção e dá 
origem, inicialmente, à burguesia e à classe operária, e mais adiante à classe profissional ou tecnoburocrática.
O trabalho é uma atividade que emprega o uso da razão para determinados fins, tais como a produção 
de uso e transformação da natureza para suprir as necessidades humanas. 
É na relação entre o homem e a natureza que se evidenciam a formação de valores quanto ao 
uso social dos resultados produzidos ou como compartilhar a natureza transformada pela ação do 
homem. Dessa forma, pode-se entender que o trabalho concreto resulta na formação de valores, quesão próprios da condição de existência humana e que o desafiam em como desempenhar essa ação de 
forma livre e consciente.
Essa ação transformadora do homem leva à liberação de forças e qualidades da natureza, que são 
por ele apropriadas como fruto de seu trabalho e que o elevam a níveis que o fazem superar as próprias 
capacidades. Em outras palavras, ele transforma a natureza e se transforma nessa ação.
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Uma visão de trabalho, como explica Andrade Filho (1999, p. 440), modifica e dá sentido à vida 
humana:
[...] o trabalho é uma expressão fundante do homem. Pelo trabalho, o 
homem potencializa o caminho da humanização e projeta seu futuro em 
uma nova forma de sociabilidade. O autor investiga o trabalho como ação 
transformadora das realidades, em uma resposta aos desafios da natureza, 
relação dialética entre teoria e prática. Pelo trabalho, entende, “o homem 
se autoproduz, alterando sua visão de mundo e de si mesmo, do mundo 
econômico, político e social, com perspectivas éticas e direitos econômicos 
de humanização”. 
O capitalismo encerra ainda um elemento negativo, porque a própria materialidade do regime 
capitalista, que potencializa essa coletivização dos produtos do trabalho do homem, tem por objetivo 
a acumulação de capitais e a reprodução do sistema que a possibilita. A consolidação do capitalismo 
subordina tudo o mais no sistema ao processo de acumulação de capitais. 
Com esse processo de cooperação instituído, a motivação e a conexão dos trabalhos na produção 
de mercadorias são externas, é de domínio do capital e inacessível aos trabalhadores, os quais ainda 
fornecem gratuitamente a força coletiva gerada no processo de produção, pois o pagamento é dado 
apenas aos trabalhadores isolados. 
Andrade Filho (1999) refere que, segundo Marx, não é somente no interior da produção que a 
manufatura causa impactos significativos, a estruturação capitalista interfere também no sistema 
de produção como um todo e na sociedade em geral. Nesse caso, o desenvolvimento do capital irá 
ocorrer numa determinada região territorial, o que acarreta uma especialização espacial da produção 
com o estabelecimento de controle na oferta de matérias-primas, de recursos naturais disponíveis, 
dentre outros.
A lógica criada pelo sistema capitalista determina a formação de mão de obra operária não 
apenas para a finalidade da produção, mas define a lógica da divisão territorial. A aderência dos 
trabalhadores subordina-se de tal forma que, em determinadas regiões, se cria a demanda de certo 
tipo de trabalhador, diferente de outras demandas regionais, cuja base produtiva é diferenciada. 
Nesse contexto analítico, depreende-se que há semelhanças entre a divisão técnica do trabalho 
e a divisão social do trabalho. 
Outro ponto estrutural significativo do capitalismo é que gera no trabalhador uma dependência 
de que o capitalista compre sua mão de obra, como única possibilidade para realizar a sua força de 
trabalho. “Tem início nesse processo a relação de dupla expropriação do trabalhador: de um lado é 
expropriado de seus conhecimentos e ofícios anteriores; de outro lado, é expropriado da autonomia de 
trabalhar para si” (HOBSBAWM, 2003, p. 34).
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 Saiba mais
Para conhecer um pouco mais sobre as consequências da Revolução 
Industrial, assista ao filme Daens. Dir. Stijn Coninx. Bélgica, 132 minutos, 
1992. 
No caso da formação do trabalhador coletivo, a expropriação é ainda maior, pois todos os 
trabalhos parciais somados são revertidos para o capital, que ainda fica com a mais-valia2 expropriada 
individualmente, garantindo-lhe um duplo ganho.
Observa-se, no cenário contemporâneo, que esse processo de expropriação manifesta-se também 
nas produções baseadas na realidade da microeletrônica. Com relação a essas transformações, 
Hobsbawm (2003) destaca uma afirmação de Marx, de que as formas de produção, das relações de 
trabalho e a divisão social somente ocorrem quando decorrentes de revolução nos instrumentos 
de trabalho. Ao se analisar historicamente o desenvolvimento dos processos de produção, revela-
se porque as relações de trabalho no mundo contemporâneo se caracterizam pelo processo de 
acumulação flexível.
Entende-se por acumulação flexível o processo de formação dos trabalhadores numa flexibilização 
determinada pelo locus3 que cada um ocupa na cadeia produtiva. 
Essa flexibilização aparece aos olhos do senso comum com otimismo, porque sinaliza uma espécie 
de autonomia para os trabalhadores, que, em tese, podem decidir sobre suas relações formais com os 
processos de produção e com os agentes que os controlam. 
Trata-se de um discurso que implica o trabalhador para que assuma, por conta e risco próprios, uma 
relação mais densa e eficiente com o conhecimento, para que possa se “encaixar” em uma faixa mais 
ampla do mercado de trabalho, ou seja, manter-se empregável.
Nesse processo, tanto a tecnologia de produção quanto o capital adquirem uma mobilidade crescente 
e acelerada pela possibilidade de fragmentação da cadeia produtiva. A fragmentação da produção 
possibilita que um mesmo produto possa ser desenvolvido em vários locais diferentes, e dessa forma 
somente a mão de obra tornou-se o fator não móvel, permitindo a incorporação do low-wage (mão de 
obra barata) na lógica global.
Mandel (apud IAMAMOTO, 2007) explica que, nas últimas três décadas, na América Latina o 
capitalismo e nossas sociedades impactaram-se com transformações históricas.
2 Segundo seu autor, Marx, é a diferença entre o valor da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de 
produção e do valor do trabalho, que seria a base do lucro no sistema capitalista (IAMAMOTO & CARVALHO,1982).
3 Locus significa lugar, em latim, e pode ser usado em diversos sentidos e para várias áreas.
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O trabalho é uma atividade que emprega o uso da razão para 
determinados fins, como a produção de uso e a transformação da natureza 
para suprir as necessidades humanas. 
Sobre a crise histórica do capitalismo, as pesquisas destacam que, no final da Primeira Guerra 
Mundial, a indústria dos Estados Unidos era responsável por quase 50% da produção mundial. O país 
criou um novo estilo de vida: o american way of life, caracterizado pelo grande aumento na aquisição 
de automóveis, de eletrodomésticos e toda sorte de produtos industrializados. 
Os países europeus, nesse período, voltaram a se organizar e a desenvolver sua estrutura 
produtiva pela redução de importações de produtos americanos. Em oposição, os Estados Unidos 
aceleraram o crescimento e o ritmo de produção industrial e agrícola. Países como Inglaterra, 
França e Alemanha modernizaram-se rapidamente e inovaram seus métodos industriais, 
colaborando para aumentar o desequilíbrio entre o excesso de mercadorias produzidas e o 
escasso poder aquisitivo dos consumidores. Configurava-se, assim, uma conjuntura econômica 
de superprodução capitalista.
Denominado de crack da Bolsa de Valores de Nova York, ocorreu a crise de superprodução, 
com ápice no dia 29 de outubro de 1929. As ações das grandes empresas sofreram uma queda 
vertiginosa, perdendo quase todo seu valor financeiro, forçando-as a reduzir o ritmo de suas 
produções. Em função disso, ocorreu um processo de demissão em massa que somou 15 milhões 
de desempregados. 
A Crise de 1929 e a depressão subsequente geraram uma relativa desarticulação da economia 
mundial, que foi considerada uma das consequências mais significativas e que estimulou a abertura 
de novas possibilidades de desenvolvimento para os países da região que já tinham alcançado certo 
patamar. Esses países elaboraram projetos de desenvolvimento voltados para o mercado interno e para 
a industrialização via substituição deimportações. 
 lembrete
É na relação entre o homem e a natureza que se evidenciam a formação 
de valores, quanto ao uso social dos resultados produzidos, ou como 
compartilhar a natureza transformada pela ação do homem. 
Na fase do pós-guerra, os países apresentavam imensas dificuldades para reorganização da 
economia, como, por exemplo, não se colocavam na época estratégias voltadas para as exportações e 
para promover o desenvolvimento, devido ao enfrentamento de diversos obstáculos, em particular no 
tocante ao financiamento externo.
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Marcada pela Grande Depressão, a década de 1930 registrou a regressão das atividades econômicas 
em quase todos os países do mundo capitalista e o desemprego atingiu taxas elevadíssimas. Segundo 
Hobsbawm (1995), a queda acentuada dos preços dos produtos primários impactou as regiões menos 
desenvolvidas, que em muitos casos já enfrentavam problemas de superprodução desde a década 
anterior, que também sofreram com a depressão. 
A queda acentuada dos fluxos de capital, de mercadorias e da força de trabalho rompeu com a 
tendência de contínua integração da economia mundial. De acordo com pesquisas apresentadas na 
International Money and the Macroeconomic Policies of Developing Countries, de 16 a 19 de dezembro 
de 2002, em Muttukadu, Tamil Nadu, na Índia, observou-se na América Latina uma onda de moratórias 
das dívidas externas. 
Esse processo, denominado desarticulação da economia mundial, embora relativo, abriu espaço para 
a busca de saídas nacionais para a crise, obrigando a maioria dos governos e países a experimentar 
políticas alternativas às tradicionais da econômica neoclássica. Nessa década de 1930, os Estados 
passaram a intervir cada vez mais na economia, procurando regular os mercados e estimular a atividade 
econômica. 
Criou-se um forte protecionismo por parte de um número crescente de países para combater as 
desvalorizações competitivas de moedas, os controles de câmbio e as importações, as restrições à livre 
circulação de capitais e de força de trabalho, o comércio bilateral e a crise mundial, direcionando as 
economias para o mercado interno, exportando mais e importando menos (HOBSBAWM, 1995).
Os países adotaram diferentes estratégias de desenvolvimento, condicionadas pelos resultados das 
lutas e dos impasses políticos e sociais de cada um. No caso do Brasil, a Revolução de 1930 deslocou 
a burguesia cafeeira, rompeu com o bloco hegemônico e conferiu ao Estado maior autonomia para 
responder rapidamente à crise e para conduzir um projeto calcado na industrialização e no mercado 
interno, que amadureceu paulatinamente e ganhou contornos mais nítidos no Estado Novo.
O cenário de transformações econômicas evidenciado a partir do Estado Novo destaca-se para 
os anos seguintes com a adoção de várias medidas, entre as quais a legislação trabalhista, visando 
à regulação das relações entre capital e trabalho, à criação de inúmeros organismos de fomento e 
regulação de setores específicos da economia, à implantação da grande siderurgia e incipientes 
tentativas de planejamento econômico entre 1939 e 1943, por meio do Plano de Obras Públicas e do 
Reaparelhamento da Defesa Nacional e do Plano de Obras e Equipamentos, centrados na expansão 
da infraestrutura e na indústria de base, que buscava a racionalização do serviço público, referido na 
Constituição de 1937 e nas medidas protecionistas. 
Esse cenário de expansão e transformações econômicas, na realidade brasileira do Estado Novo, 
favorecia o surgimento de projetos nacionalistas e desenvolvimentistas que, sob a hegemonia dos 
EUA, participaram da reorganização da economia mundial com base em fortes economias nacionais 
e nos países desenvolvidos contribuíram para o florescimento do Estado de bem-estar social. Segundo 
Hobsbawm (1995), foi dessa forma que o grande capital financeiro internacional, enfraquecido pela 
depressão, teve que se adaptar à nova situação.
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A Crise de 1929 é considerada o pior e o mais longo período de recessão 
econômica do século XX.
Esse contexto não contemplava a América Latina até a segunda metade dos anos 1950, dado que os 
projetos voltados para a industrialização focavam o mercado interno, ainda que usufruindo do capital 
estrangeiro, que causava o endividamento das nações latinas. Esses projetos de desenvolvimento, que se 
associavam ao capital estrangeiro e/ou visando à autonomia, proliferaram nas décadas de 1930 e 1970 
e se desmoronaram, na sua maioria, a partir dos anos 1980. 
Eram enormes as dificuldades para alcançar o desenvolvimento econômico, social, político e 
cultural, a partir das diversas e diferentes tentativas dos países da América Latina, comprometendo 
a formação de uma sociedade capitalista global. O sucesso parcial da industrialização, assegurando 
índices significativos de crescimento e do desenvolvimento tecnológico, com melhoria do nível de vida 
das populações, não garantiu o alcance para uma sociedade globalizada. 
Ao contrário, desencadeou grandes dificuldades para o enfrentamento dos graves problemas de 
desigualdade social, pobreza, numa demonstração da incapacidade dessas nações para completar os 
processos de industrialização, que dependia basicamente de financiamento interno da acumulação de 
capital e maior ação na economia. 
O excesso de intervenção estatal na economia preocupava as classes dominantes, ainda que 
considerando as necessidades de proteção para o setor industrial em forma de créditos para 
dar continuidade ao crescimento. Os capitalistas também ficavam atentos às mobilizações 
dos operários e suas intervenções na vida política, que volta e meia geravam momentos de 
crise e embates, especialmente nos casos em que essas mobilizações unificavam-se com 
ações populares, fragilizando, no entender das classes dominantes, os projetos nacionais de 
desenvolvimento. 
A década de 1950 marca o fortalecimento dos grandes oligopólios e empreendimentos financeiros, 
o que seria um dos fatores da crise da ordem econômica internacional estabelecida em Bretton Woods4 
na década de 1970 e a retomada do processo de internacionalização do capital, com forte expansão das 
empresas multinacionais em regiões de periferia.
4 Quando a guerra aproximava-se do fim, a Conferência de Bretton Woods foi o ápice de dois anos e meio de 
planejamento da reconstrução pós-guerra pelos Tesouros dos EUA e do Reino Unido. Representantes estadunidenses 
estudaram com os colegas britânicos a reconstituição do que tinha estado faltando entre as duas guerras mundiais: 
um sistema internacional de pagamentos que permitisse que o comércio fosse efetuado sem o medo de desvalorizações 
monetárias repentinas ou flutuações selvagens das taxas de câmbio — problemas que praticamente paralisaram o 
capitalismo mundial durante a Grande Depressão (MAGNOLI, 2008).
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Essas transformações redesenharam a divisão internacional do trabalho e colocaram novas questões 
para os projetos nacionais de desenvolvimento, que estavam com sérios problemas de financiamento 
interno e externo. 
A ideia baseava-se na entrada das empresas multinacionais para atuar nos mercados internos das 
nações, interferindo fortemente no crescimento da mão de obra barata e no esgotamento dos recursos 
naturais, em abundância na época. 
A autonomia nacional passava a depender de como os projetos de desenvolvimento das nações se 
apropriavam de modo dependente desse capital estrangeiro. No Brasil, esse era o caso de Getúlio Vargas, 
que esperava industrializar o Brasil e garantir sua soberania, com papel de destaque na América Latina, 
contando para isso com apoio político, financeiro e tecnológico norte-americano.
Nos anos 1960, observa-se a ampliaçãoda produção e da capacidade produtiva em escala mundial, 
causada pela entrada de produtos japoneses e alemães no mercado mundial e também devido ao avanço 
das industrializações tardias em países periféricos. 
As lutas sindicais pressionavam para manter os lucros nos mesmos patamares e forçavam a elevação dos 
salários, o que afetou inclusive a economia norte-americana, que também era pressionada pela elevação dos 
gastos decorrentes da Guerra do Vietnã, da Guerra Fria e dos investimentos sociais destinados a responder à 
onda de contestação social que varreu o país na segunda metade dos anos 1960. 
No mesmo período, décadas de 1960 e de 1970, observa-se crescente contestação social, 
caracterizada pela ascensão das forças de esquerda e dos movimentos sociais, que pareciam estar sendo 
tomados pelo nacionalismo, pelo fundamentalismo e pela esquerda, motivando a formação de uma 
cultura anticapitalista. Surgiram também, nessa época, movimentos em defesa de várias causas, como o 
feminista, o negro, o ambientalista e o ecológico, em contraponto a outros movimentos burocratizados 
tradicionais de esquerda. 
Dessa forma, para se compreender a crise do padrão de acumulação desenvolvimentista e as novas 
estratégias de desenvolvimento e inserção na economia mundial, é necessário contextualizar a nova 
fase do capitalismo iniciada no final da década de 1970, denominada por Chesnais (1996, p. 43) “de 
mundialização do capital, compreendida como um aprofundamento do processo de internacionalização 
do capital, cujo traço principal é a hegemonia do capital financeiro”. 
Na visão de Antunes (2002, p. 27), essa crise capitalista do pós-1970 teve seis principais razões:
Primeira, uma queda da taxa de lucro decorrente do aumento do preço da 
força de trabalho conquistado, principalmente pela intensificação das lutas 
sociais dos anos 60. Segunda, o esgotamento do padrão de acumulação 
taylorista/fordista de produção. Terceira, a hipertrofia da esfera financeira 
que ganhava relativa autonomia frente aos capitais produtivos. Quarta, 
a maior concentração de capitais graças às fusões entre as empresas 
monopolistas. Quinta, a crise do Welfare State (Estado de bem-estar social) e 
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de seus mecanismos de funcionamento, acarretando a crise fiscal do Estado 
capitalista e a necessidade de retração dos gastos públicos e sua transferência 
para o capital privado. Sexta, incremento acentuado das privatizações, 
tendência generalizada às desregulamentações e à flexibilização dos 
processos produtivos, dos mercados e da força de trabalho. Todas estas 
razões apontadas pelo autor consolidam mundialmente o projeto de 
sociabilidade capitalista neoliberal, que pode ser entendido dialeticamente 
como resultado e resultante do processo de reestruturação, e, portanto, de 
resposta à crise do capital como relação social global.
Os capitalistas individuais enfrentaram uma concorrência que exigiu mecanismos que não são 
essencialmente econômicos e técnicos (de reestruturação produtiva), mas de criação de nova plataforma 
ou parque industrial e uma complexa estruturação política e ideológica capaz de transformar o 
comportamento de empresas e todo o conjunto da sociedade.
Essa nova lógica de mercado, de divisão do capital, passou a condicionar as demais formas de 
movimentação econômica, configurações de dependência distintas das fases de desenvolvimento 
anteriores. Observa-se, nos anos 1980, intenso crescimento dos mercados de capitais, de câmbio e de 
títulos em escala global. 
Mais uma vez, a liderança dos Estados Unidos na constituição desse mercado financeiro, tornando o 
dólar uma moeda-chave desse mercado, e a transnacionalização do sistema financeiro constituem peça 
fundamental na sustentação do mercado financeiro global, marcada, por sua vez, pela instabilidade e 
pela rapidez de seus fluxos. 
A financeirização do capital passa a ocorrer na busca de fundos, resultados de curtíssimo prazo a 
qualquer preço, num processo especulativo que aumenta ainda mais nos momentos de grande liquidez 
na economia mundial, como no início da década de 1990. Algumas das formas de especulação desse 
capital financeiro ocorrem, por exemplo, com o petróleo, commodites5, ações, títulos, moedas e expansão 
imobiliária em diversos países. 
Os países latino-americanos continuaram enfrentando intensas crises de endividamento externo e 
inflacionária, com enormes dificuldades de se inserir na dinâmica dessa nova ordem e deixam de lado as 
estratégias desenvolvimentistas, passando a assumir as políticas recomendadas pelo chamado Consenso 
de Washington. 
Essa expressão, Consenso de Washington, também conhecida como neoliberalismo, foi cunhada em 
1989 pelo economista inglês John Williamson, ex-funcionário do Banco Mundial e do Fundo Monetário 
5 Commodities (significa mercadoria em inglês), principalmente minérios e gêneros agrícolas, que são produzidos 
em larga escala e comercializados em nível mundial. As commodities são negociadas em bolsas mercadorias, portanto 
seus preços são definidos em nível global pelo mercado internacional. O Brasil é um grande produtor e exportador de 
commodities (ANTUNES, 2002).
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Internacional (FMI), com intenção de indicar políticas adotadas pelos Estados Unidos em relação aos 
países da América Latina. Algumas de suas características, segundo Chesnais (1996), são:
• abertura da economia por meio da liberalização financeira e comercial e da eliminação de barreiras 
aos investimentos estrangeiros;
• amplas privatizações;
• redução de subsídios e gastos sociais por parte dos governos;
• desregulamentação do mercado de trabalho, para permitir novas formas de contratação que 
reduzissem os custos das empresas.
Vinculavam-se ao Consenso de Washington algumas imposições referentes a negociações das 
dívidas externas dos países latino-americanos, por meio do modelo do Fundo Monetário Internacional 
(FMI) e do Banco Mundial, para todo o planeta.
A ideia neoliberal baseia-se no funcionamento da economia com livre mercado, em que a presença 
do Estado inibe o setor privado e breca o desenvolvimento.
Esse processo de globalização expande a tendência de abertura comercial e financeira das economias 
nacionais, numa onda de inovações tecnológicas, de reestruturação dos processos produtivos, de 
intensificação dos fluxos de capitais e da realocação espacial de inúmeros setores industriais para países 
periféricos, sobretudo para o Leste Asiático. 
A adoção do modelo neoliberal de paralisar o setor industrial e estimular o setor primário de 
exportações de produtos agrícolas e minerais, com destaque para o papel da China nesse cenário, 
conduz a retomada do crescimento e a criação de políticas sociais mais abrangentes. Surge, assim, um 
novo dinamismo para a acumulação de capital no Leste Asiático, enquanto o restante dos países com 
menor desenvolvimento passou por fases mais lentas de crescimento e maiores crises sociais. 
Nessa época, eclode uma diversidade de ideologias e projetos políticos de como o Estado deveria 
responder aos ditames desse novo modelo de desenvolvimento capitalistas. O processo de descentralização 
aparece como uma estratégia em contraponto ao alto grau de rigidez e centralidade do modelo anterior. 
Os governos são cada vez mais exigidos a equilibrar a coerência das grandes infraestruturas econômicas 
com as desigualdades regionais e a inserção de seus países na economia mundial, com investimentos 
tecnológicos de grande prazo. 
Para Harvey (2000), tem início uma urbanização com características de planejamento diferenciadas, 
baseada na metropolização, aqui no Brasil conhecida como municipalização, com conteúdo social, 
cultural e processos de vida cotidiana pautados em padrões de sociabilidades diversos de períodos 
históricos anteriores.
As transformações somentepermitem análises ao se decifrar estruturas institucionais, atores, 
determinadas estratégias locais e termos para tomada de decisões políticas. O curso de internacionalização 
do capital e a mundialização da produção motivaram governos locais a adotarem estratégias para maior 
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participação de atores na vida urbana, com projetos de gestão e desenvolvimento de renda, com caráter 
de fortalecimento da economia regional por meio de incentivos fiscais e outros subsídios que marcaram 
a década de 1980.
As funções do Estado ampliam-se também para a implementação de programas ativos a fim de 
atrair investimentos privados para essas iniciativas locais, visando ao aumento do desempenho 
macroeconômico dessas localidades.
Essa reestruturação elevou a níveis inimagináveis as taxas de desemprego, diante de novas formas 
de organização do processo de produção. Por sua vez, a classe trabalhadora vivenciou consequências 
profundas na cultura, na consciência de classe e nas formas de organização com o enfraquecimento 
dos sindicatos, que passaram a contribuir para a mudança da correlação de forças a favor da grande 
burguesia mundializada e para a hegemonia do capital financeiro. 
Alguns representantes organizados da classe dos trabalhadores radicalizaram, devido à perda da 
capacidade de analisar concretamente as situações e de criar propostas consistentes, causando a 
desorganização e o afastamento dos trabalhadores das esferas sindicais. 
O Estado de bem-estar social dos países em desenvolvimento, que mantinha domínio sobre as grandes 
economias, sofreu desmontes, para que fosse possível sustentar a valorização do capital financeiro, 
sobretudo por meio da ampliação da dívida pública.
Ressalta-se que, principalmente no pós-década de 1970, o capitalismo vinha tentando dar respostas 
a sua crise. Uma contradição interminável e imanente à lógica do capital o levou a passar por momentos 
de crise, segundo Marx (HOBSBAWM, 2003). 
O aumento do capital constante, obtido por meio de maquinário que substituiu a força de trabalho 
(capital variável), provoca a queda da taxa de lucro. E, para escapar da sempre presente tendência à 
crise (queda da taxa de lucro), o capital dá respostas por meio da reestruturação. Em outras palavras, 
o processo de reestruturação do capital nada mais é do que uma ofensiva do capital para aumentar a 
produtividade do trabalho e atingir outros níveis de lucratividade. 
Em resposta a essa longa crise, o capitalismo internacionalizou a produção e os mercados, 
aprofundando o desenvolvimento desigual e combinado entre as nações, entre classes e grupos sociais 
e nas relações dialéticas entre imperialismo e dependência, promovendo “ajustes estruturais”6 por parte 
6 Trata-se de um conjunto de condicionalidades econômicas, financeiras, políticas e ideológicas exigidas, propostas 
e requeridas pelas agências financeiras multilaterais, produzidas e ancoradas nas proposições dos países cêntricos do 
capitalismo mundial: EUA, Itália, Alemanha, Inglaterra, Canadá, França e Japão. O ajustamento estrutural ganhou força 
sistêmica principalmente a partir do início dos anos 1980, período em que se agravou o endividamento externo dos países, 
particularmente dos periféricos e endividados. Desse modo, o receituário de reformas condicionadas pelas instituições 
multilaterais (agentes destacados do capitalismo) como o Banco Mundial/BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução 
e Desenvolvimento, o FMI – Fundo Monetário Internacional e o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, para que 
houvesse anuência para a formalização de empréstimos em qualquer área, passou a exigir um conjunto de reformas como 
a estatal, educacional, trabalhista, previdenciária, fiscal etc. (ANTUNES, 2002).
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dos estados nacionais. Segundo Antunes (2002), esses ajustes estimularam livremente a especulação 
do capital financeiro, sem regulamentações e com foco para assegurar a lucratividade dos grandes 
conglomerados multinacionais, o que exige um Estado forte.
O termo globalização relaciona-se agora a um fenômeno econômico que apresenta a imagem de 
uma única economia, de um único interesse. Em seu nome, “a movimentação internacional dos capitais 
é liberada, o setor público produtivo é privatizado ou desmantelado e a política monetária prioriza a 
estabilidade dos preços em detrimento do crescimento econômico” (SINGER, 2000, p. 15).
Esse processo chamado globalização econômica acentuou mais fortemente mecanismos ideológico-
políticos e econômicos inovadores, adotados pelo capital para aumentar sua produção e manter o 
controle sobre a organização dos trabalhadores. 
A terceirização, a flexibilização, a informalidade, a busca por mão de obra barata, o controle de 
qualidade constituem-se em novas estratégias para aumentar o lucro e simultaneamente contribuíram 
para o aumento da precarização, da exploração do trabalho e do trabalhador brasileiro.
Como já vimos, a flexibilização e a adoção de novos instrumentos de trabalho, como as tecnologias, 
microinformática, dispensam a mão de obra, especialmente não qualificada, para esse novo cenário 
tecnológico e implementam os mecanismos de aumento das exportações em vários setores. Essa 
agilidade e o aumento do volume de produção facilitam de modo expressivo o atendimento das 
demandas externas. 
 lembrete
Para Harvey (2000), a urbanização no Brasil, é conhecida como 
municipalização, com conteúdo social, cultural e processos de vida cotidiana 
pautados em padrões de sociabilidades diversos de períodos anteriores.
Segundo Frigotto (2000, p. 43), 
[...] os grandes líderes da produção global, como é caso da indústria 
automobilística, tradicionalmente desconcentrada, atualmente têm sua 
produção concentrada em apenas cinco fabricantes com cerca de 40% da 
produção mundial, demonstrando que os países que assumiram o controle 
da primeira fase da internacionalização do capital, entre 1450-1850, ainda 
mantêm a liderança da produção mundial. 
Tal análise reforça o caráter especulativo do capital, independentemente do tempo histórico e do 
contexto territorial em que se desenvolva. Segundo o autor, os investimentos realizados pelos grandes 
capitais rapidamente se fetichizam (ato de atribuir, simbolicamente, a indivíduos, parte do corpo e 
objetos, propriedades de outros objetos e diferentes significados) para todos os contextos sociais neste 
mundo globalizado e impactam no desmonte das conquistas civilizatórias dos trabalhadores, nas 
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relações sociais, alcançando seu ápice na “hegemonia do capital que rende juros – denominado por 
Marx de capital fetiche – e obscurece o universo dos trabalhadores que produzem a riqueza e vivenciam 
a alienação como destituição, sofrimento e rebeldia” (ANTUNES, 2002, p. 34).
A globalização recria e intensifica a Questão Social, que tem sua origem no modo de produção 
capitalista e, apesar das crises e das constantes transformações, mantém inalterada a sua base 
exploratória sobre o trabalhador, exigindo reinvenção nas formas de intervenção político-social, cultural 
e econômica nesse processo.
Segundo Gorz (apud SINGER, 2000, p. 128), há registros de que mudanças ocorridas no mundo do 
trabalho “deixaram, há muito tempo, de fazer parte da liberdade do homem ou da sua identificação com 
sua atividade e passaram para o reino da necessidade”. 
Nessa reflexão, surge o neoproletário. Este desenvolve um trabalho que pertence ao aparelho de 
produção social, o qual o gerencia, determina suas formas de operacionalização e o mantém externo 
aos indivíduos com os quais se articula.
Esse cenário globalizado cria a ilusão de que não existirão mais trabalhadores, pois os computadores 
e os softwares dispensariam, em tese, a mãode obra. Sobre esse suposto fim do trabalho, Frigotto (2000, 
p. 295) afirma que:
o grau de extração da mais-valia continua voraz e o que se libera não é o 
tempo livre, mas tempo de desemprego, de trabalho precário e de aumento 
de sobrantes. “Na tese do mercado autorregulado há consumidores 
soberanos que livremente tomam suas decisões otimizadas. Na perspectiva 
do pós-modernismo, no limite, cada um é sua teoria, é sua utopia é seu 
projeto histórico.” 
A produção mundial nessa escala é fragmentada e acentua a competição entre as grandes 
empresas e os líderes desse mercado globalizado, exigindo maiores investimentos, com o objetivo 
de manter ou adquirir lideranças tecnológicas e restringir as lideranças nos processos decisórios da 
produção mundial.
Corporações oligopolizadas (diz respeito a oligopólio, ou seja, várias empresas se juntam para 
monopolizar determinado setor da economia; monopolizar quer dizer ter total controle sobre tal coisa) 
destacam-se nesse cenário globalizado, como as montadoras de automóveis, de extração, de refino e 
distribuição de petróleo e de comunicação, com seus investimentos espalhados pelos cinco continentes. 
Assim, concentram a maioria dos estoques dos investimentos globais diretos e dos fluxos de pagamentos 
internacionais. 
Dessa forma, constituem-se a formação de oligopólios, que vão influir nas transformações da 
economia mundial para uma escala globalizada, conhecida também como mundialização do capital. 
Essas mudanças influem ainda nas transições de governos e nas conformações das organizações dos 
Estados capitalistas.
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Sobre as origens e formas de compreensão do Estado, é válido analisar as reflexões que Norberto 
Bobbio (1987) faz sobre as perspectivas de Weber, ressaltando que é somente na civilização ocidental, 
com o capitalismo racional e fenômenos culturais com certa universalidade, que se cria em valor e 
significado um Estado como uma “entidade política, com uma ‘Constituição’ racionalmente redigida, 
um Direito racionalmente ordenado e uma administração orientada por regras racionais, as leis, e 
administrado por funcionários especializados” (BOBBIO, 1987, p. 129). 
Tomando por base essa perspectiva weberiana, o Estado adquire um sentido estrito, como entidade 
política, com atributos desenvolvidos precariamente no Ocidente antes do século XVIII. Trata-se de um 
Estado em sentido lato, caracterizado como uma entidade de poder e/ou dominação presente em outros 
lugares e épocas. 
Em análises compartilhadas por Marx e Weber, que são de perspectivas opostas, o Estado é 
antediluviano (que significa “antes do dilúvio”, referindo-se ao antigo dilúvio bíblico, usado para 
descrever qualquer coisa pré-histórica; o tempo antes das civilizações deixarem registros históricos). 
A revolução capitalista consiste num processo de transformação histórica, porque as ações sociais 
deixaram de ser conduzidas pela tradição e pela religião para serem conduzidas pelo Estado e pela 
principal instituição econômica por este regulada – o mercado.
A natureza desse modo de desenvolvimento capitalista produz um crescente interesse em novos 
mercados e em novas formas de acumulação do capital, independente das dimensões territoriais e 
políticas que o adotam. 
2 eStAdo, eStAdo-nAção e deSIGuAldAdeS SoCIAIS
No pós-guerra, surgem novos interesses e expectativas criados entre os profissionais da classe média, 
e a classe operária já compreendia que o Estado podia desenvolver ações a seu favor. 
Dessa forma, originam-se as nações e os Estados-nação. Bresser-Pereira (2008) esclarece que, para 
cada Estado-nação ou Estado nacional, existe uma nação ou uma sociedade civil, um Estado e um 
território. Tanto a nação quanto a sociedade civil são a sociedade politicamente organizada enquanto 
agente político dotado de crenças e valores. 
Tais transformações produzem nessas novas conformações sociais movimentos em torno da luta por 
direitos humanos, defesa de princípios democráticos e de cidadania.
Segundo Bresser-Pereira, o Estado-nação surge do processo político da revolução capitalista, e assim 
é denominado porque agrega a ideia de Estado como elemento fundante, com a concepção de nação e 
sua relação com a sociedade civil, ou como ele próprio afirma:
A Revolução Capitalista, no plano econômico, deu origem ao capital e às 
demais instituições econômicas fundamentais do sistema – o mercado, o 
trabalho assalariado, os lucros e o desenvolvimento econômico decorrente da 
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acumulação de capital combinada com o progresso. No plano social, surgem 
as três novas classes sociais: a burguesia, os trabalhadores assalariados e, em 
uma segunda fase, a classe profissional. No plano político, além do estado, 
surgem a nação e a sociedade civil e definem-se, sucessivamente, os grandes 
objetivos políticos e as respectivas ideologias: a liberdade e o liberalismo, a 
autonomia nacional e o nacionalismo, o desenvolvimento econômico e a 
racionalidade instrumental ou eficientismo, a justiça social e o socialismo e 
a proteção da natureza e o ambientalismo (BRESSER PEREIRA, 2008, p. 26).
A nação é a sociedade que compartilha um destino comum e procura reunir condições para 
organizar e manter um Estado, tendo como principais objetivos a segurança ou autonomia nacional e 
o desenvolvimento econômico.
O Estado-nação permite conceber a ideia de “comunidade”, em que se identificam as diferenças, 
semelhanças e desigualdades internas (de gênero, de classe, de religião etc.) entre as pessoas de uma 
mesma comunidade e em relação a nações diferentes, muitas vezes originando, com base na defesa 
dos interesses considerados fundamentais para a comunidade, preconceitos e radicalismos que geram 
conflitos, guerras e embates políticos e econômicos. 
Bresser-Pereira (2008, p. 28) afirma que:
A sociedade civil é a sociedade politicamente organizada que se motiva 
principalmente pela garantia dos direitos civis e dos direitos sociais. O 
Estado, por sua vez, é o sistema constitucional-legal e a organização que o 
garante; é a organização ou aparelho formado de políticos e burocratas e 
militares que tem o poder de legislar e tributar, e a própria ordem jurídica 
que é fruto dessa atividade.
O Estado nessa perspectiva configura-se como uma instituição abrangente usada pela nação para 
promover seus objetivos políticos, como instrumento da ação coletiva da nação ou da sociedade civil.
Em suas reflexões sobre o Estado, Pereira (2009) diz que são recentes estudos sobre a relação Estado 
e sociedade, em que o Estado é dotado de obrigações positivas que o impelem a exercer regulações 
sociais por meio de políticas. 
Segundo a autora, ao se considerar a questão da liberdade, essa regulação do Estado é, no mínimo, 
contraditória, embora necessária, e, quanto à igualdade, não é diferente essa ingerência do Estado, 
quando se tratar da substantiva que contemple a todos e de fato dê condições de pleno acesso às 
políticas e ações desse Estado social. 
Mesmo se considerando que liberdade e igualdade substantiva sejam conquistadas no pleno exercício 
democrático, é necessário que o Estado regule com ações positivas para que setores da sociedade civil 
se fortaleçam no equilíbrio do jogo democrático de participação e acesso, minimizando os efeitos do 
capital e das lutas de classe, em favor, claro, das classes mais impactadas com a desigualdade.
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Ainda segundo Pereira (2009), a busca do bem-comum por parte do Estado fundamenta-se numa 
naturalização das desigualdades sociais e da pobreza, quando imprime à execução das políticas sociais 
um caráter residual e superficial que não passa nem perto das questões sistêmicas e estruturais e, claro, 
sem provocar alterações nadistribuição desigual de renda. Em qualquer sociedade, há desigualdades 
sociais, por se tratar de um componente estrutural inevitável, e as políticas sociais constituem apenas 
um dos elementos, dentre outros, para sua redução.
Nessa perspectiva, as políticas sociais são criadas para solucionar problemas gerados pelas 
desigualdades, mas a ideia é que, se a fórmula usada para distribuição original de renda favorece mais 
a uns que outros, logicamente, as políticas sociais, ao serem planejadas e executadas, devem também 
alcançar mais àqueles que têm menos acesso a essa renda originalmente distribuída.
Contudo, essa redistribuição, por si, não é suficiente para promover equilíbrio estrutural no processo 
de distribuição de renda, porque não promove transformações na esfera produtiva nem na lógica 
de mercado, que enquanto sistema econômico se mantém inalterado e constantemente gerador de 
desigualdades. 
 lembrete
As nações e os Estados-nação, segundo Bresser-Pereira (2008), formam-
se de uma nação ou uma sociedade civil politicamente organizada, enquanto 
agente político dotado de crenças e valores que passam a representar-se 
num Estado e num território.
Então, o caráter de redistribuição tem em sua essência o efeito de mero deslocador de recursos, que 
no final se opera em caráter de repasse reorganizador de custos para o mesmo sistema e fazendo uso 
das sobras que não comprometam a estrutura do sistema produtivo.
A tributação permanece inalterada, sendo atribuída a todos que fazem parte da cadeia produtiva, 
inclusive os menos favorecidos, e o acesso às políticas sociais culminam por se traduzir na ação 
redistributiva do Estado em elemento dispendioso e um risco para a hegemonia do capital. 
Para Pereira (2009), explica-se esse protagonismo estatal por meio das aplicações de medidas sociais 
por parte do Estado em situações para a reposição de perdas moralmente injustificadas. Investindo 
assim, o Estado exercita poderes conferidos pela sociedade para garantir direitos sociais. Historicamente 
o Estado sempre interveio politicamente para atender demandas e necessidades produzidas na esfera 
do trabalho e geradas pelo capital.
É certo que transformações econômicas, sociais e políticas promovidas pelo avanço industrial criaram 
condições objetivas para o comprometimento do Estado com problemas resultantes das desigualdades 
sociais. Depreende-se dessa análise que os problemas se tornaram tão grandes e complexos que já não 
seria possível que as relações livres do mercado e de instituições tradicionais pudessem controlar e criar 
estratégias para resolvê-los.
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 observação
O advento do capitalismo no mundo radicaliza nos modos de 
produção, na divisão social e técnica do trabalho, nos intensos processos 
de desigualdades sociais e na divisão social de classes – trabalhadores e 
capitalistas.
A partir da metade do século XX, o sistema capitalista fortaleceu-se ainda mais, com a difusão maciça 
da tecnologia da informação nas atividades econômicas, que imprimiram a esse sistema características 
e impulsos sem precedentes na história da humanidade. 
O desenvolvimento e a difusão da informática possibilitaram a adoção de novas estratégias 
de produção e distribuição das atividades das corporações produtivas. A partir da introdução da 
informática, as unidades de produção puderam ser reformuladas, transformando as empresas integradas 
verticalmente em um modelo das networks7, redes de relacionamentos e de produção, que incorporam 
diferentes empresas em um mesmo projeto global.
Therborn mostra-nos que a história global e os processos nacionais são os mais importantes, 
especialmente porque diferenciam Estados fortes de Estados débeis. Para o autor:
Enquanto a história, reproduzida pelos fluxos de comércio, de capital e de 
migração, acumulou a desigualdade econômica, o fluxo de conhecimento, 
sobretudo o médico, favoreceu uma maior igualdade, observando-se 
também novas transformações no sentido dos fluxos globais e seus efeitos 
distributivos (THERBORN, 2001, p. 122).
Numa visão contemporânea, Therborn (2001) explica que a globalização não desfez o fortalecimento 
secular do Estado-nação do século XX, e a importância das relações interestatais significa que a cidadania 
é uma das mais importantes instituições mundiais de desigualdade. Por outro lado, há Estados que 
abrigam dentro de suas fronteiras quase tanta desigualdade econômica quanto a existente no mundo.
Na análise de Therborn (2001), o cenário da globalização traduz-se em novas configurações de 
desigualdade porque permitem que o Estado-nação, em nome da expansão do capital internacional, 
7 A palavra de origem inglesa networking vem da união das palavras “net”, que significa “rede”; e “working”, que 
significa “trabalhando”. A pequena palavra quer dizer nada mais nada menos do que ter uma rede de contatos em que pessoas 
possam dar referências boas sobre você. Conforme Darling (2007), trata-se da lista de pessoas com as quais você já manteve 
contatos, além das pessoas que lhe foram indicadas por outras pessoas. É conhecer pessoas de ambientes que você não 
frequenta e fazer espontaneamente alguma coisa por elas, é fazer sempre contatos com as pessoas que ficam conhecendo e 
em cada lugar trocar algumas palavras com mais pessoas. O autor expressa bem o fato de manter bons contatos com outras 
pessoas, e principalmente manter relações de livre e espontânea vontade a fim de atingir objetivos.
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passe a integrar o chamado desenvolvimento global, adotando processos culturais, econômicos 
e políticos que controlam o pleno exercício da cidadania e das instituições de participação 
democrática.
Ainda para Therborn (2001), a globalização pode ter qualquer sentido e se explica a partir de duas 
referências: comunicação e cognição. O conceito de globalização deveria indicar a existência de algo 
novo no mundo. Desde o final da década de 1980, segundo o autor, esse conceito surge em pelo menos 
cinco discursos centrais: 
O econômico, que se refere a novos padrões de comércio, investimento, 
produção e empreendimento. O sociopolítico, concentrando-se no papel 
cada vez menor do estado e de um tipo de organização social a ele 
associada. Um tipo de protesto sociocrítico, como uma nova forma que 
assume as forças adversas: o inimigo da justiça social e de valores culturais 
particulares. O discurso cultural, dos estudos antropológicos e culturais, que 
apresenta a globalização como fluxos, encontros e hibridismo culturais. E 
a responsabilidade social, em que a globalização é parte de um discurso 
ecológico e de preocupações ambientais planetárias. A globalização 
pode ser percebida, predominante, fundamental e basicamente, como 
sendo econômica, cultural ou ecológica ou, como irredutível, possível e 
contraditoriamente multifacetada (THERBORN, 2001, p. 125).
A globalização apresenta um caráter multidimensional, composto por variáveis sociais que influem 
na estruturação social, na divisão do trabalho, na gestão dos direitos, na regulação da distribuição de 
bens e valores sociais, na universalização das oportunidades e riscos e nas transformações culturais, com 
maior disseminação de conhecimentos, constituição de valores, normas, entre outros.
 lembrete
É necessário que o Estado regule com ações positivas para que setores 
da sociedade civil se fortaleçam no equilíbrio do jogo democrático de 
participação e acesso, minimizando os efeitos do capital e das lutas de 
classes, em favor, claro, das classes mais impactadas com a desigualdade.
Segundo Therborn (2001), fruto da internacionalização do capital, as dimensões da globalização 
geram novos processos de desigualdade e impulsionam a ampliação das instituições democráticas, com 
defesa ambiental multifronteiras e disseminação de conhecimento com comunicação universal,que, no 
entanto, são inviabilizados em razão de serem incompreensíveis e inacessíveis aos sujeitos organizados 
ou isolados, que também não conseguem se apropriar dos bens produzidos por esses novos modos de 
produção do capital.
No processo de globalização, os movimentos da sociedade civil organizada são dicotomizados devido 
ora ao dimensionamento de uma pretensa universalidade que inviabiliza o diálogo ampliado e uma 
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consensualidade em esferas decisórias, ora pela individualização que igualmente destitui a legitimidade 
de acesso no bojo das dimensões globalizadas.
Exatamente quando se configuram os processos de organização da sociedade civil para defender 
seus interesses enquanto nação, ante à correlação de forças na relação com o estado/capital, é que o 
Serviço Social na contemporaneidade procura intervir, atuando nas manifestações mais intensas da 
Questão Social (IAMAMOTO, 2007).
A partir dessa perspectiva do Estado como promotor do bem comum, por meio das políticas sociais 
como meio de reequilibrar e reduzir as desigualdades, é que se tem a gênese do Serviço Social, na 
perspectiva filantrópica com que se instituem as ações sociais. 
 observação
Historicamente, o Estado sempre interveio politicamente para atender 
demandas e necessidades produzidas na esfera do trabalho e geradas pelo 
capital.
Ao se planejar e executar as políticas sociais abarcadas pelo Estado, com caráter redistributivo, 
paliativo e corretivo frente às desigualdades geradas pelo sistema capitalista, observa-se que 
historicamente os assistentes sociais desenvolvem estruturalmente críticas e radicalização de seu papel 
mediador, adotando atitudes no projeto político profissional contemporâneo de defensores do bem-
estar social, do combate aos processos constituidores da pobreza e suas manifestações e ainda da 
transformação dos instrumentos operativos do Estado, que são deficientes e reduzem a perspectiva 
da distribuição de renda a uma gama de ações filantrópicas, estigmatizantes e inibidoras de iniciativas 
críticas politicamente. 
3 deSIGuAldAdeS SoCIAIS
Segundo o Relatório do Banco Mundial do ano 2000, a pobreza se caracteriza por ausência de 
recursos e renda para assegurar a cobertura de necessidades essenciais, incluindo educação e saúde, 
também pela falta de legitimidade e participação política nas instituições estatais e nos processos sociais 
organizados e pela exposição das pessoas a riscos, sem potenciais para o enfrentamento, provocando 
violações de direitos e vulnerabilidades.
Para Sposati (1997), há uma relatividade na forma de conceber a pobreza, haja vista a diversidade de 
hábitos, valores e costumes nas sociedades. A autora ressalta que os processos globalizados imprimem 
um tom comum, igualando as diversas formas de pobreza. E esclarece que é possível adotar indicadores 
para estimar os variados graus de pobreza e estabelecer medidas quantitativas comparativas para obter 
os padrões mínimos de uma dada sociedade.
Torna-se desafiador diante de realidades sociais diferenciadas serem atribuídos significados que 
contemplem sentidos comuns sobre pobreza, por exemplo, e que possam esclarecer de uma ou mais 
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formas determinados assuntos ou situações, preservando a integridade das dimensões socioculturais de 
uma dada sociedade.
Contudo, é certo que condições genéticas que impõem exigências básicas de vida e outras questões 
relacionais singulares de sociabilidade, que ocorrem em qualquer lugar ou contexto, perpassam as 
diferenças entre sociedades, países e evidenciam processos de desigualdades sociais que são semelhantes 
e se configuram de idênticas formas por resultarem do sistema capitalista.
Segundo Sposati (1997, p. 11), 
[...] pobreza é em qualquer lugar do mundo entendida como privação 
ou ausência das necessidades básicas, podendo mudar a intensidade da 
privação como ausência total de recursos que impeçam o ser inclusive de 
se alimentar: condição primeira para sua sobrevivência. O que denotaria um 
estado de indigência. De outras formas se daria na privação de condições 
materiais e acesso mínimo às políticas de saúde, educação, saneamento, 
habitação etc. [...]
Para fazer frente ao estado de privações, pesquisadores e organismos internacionais empenham-
se historicamente para decifrar as estruturas das desigualdades sociais, que não afetam um país em 
particular e exigem que os Estados criem estratégias em forma de políticas públicas para o enfrentamento 
da pobreza conforme ela se apresente numa dada realidade. 
Recorrendo a Pereira (2009), quando analisa dados sobre as necessidades humanas, Sposati 
destaca pesquisas que ressaltam como essenciais uma alimentação nutritiva, o consumo de água 
potável e a ingestão de no mínimo 3.000 calorias diárias (homem) e 2.000 (mulher). A habitação 
deve proteger de climas adversos, contar com saneamento básico e planejamento face à densidade 
populacional local. 
Nessa análise de Pereira (2009), consta também que todas as pessoas devem ter oportunidade de 
trabalho criativo, com ambiente de qualidade, jornadas justas, segurança para a saúde e rendimento 
compatível com a satisfação do trabalho.
Fazem parte dessas referências às necessidades humanas de um ambiente ecologicamente saudável, 
atenção à saúde integral, acesso à educação de qualidade, com ênfase para a infância e adolescência, 
estímulo à proteção das relações primárias significativas, como a convivência familiar e social e, em 
especial, a valorização de autonomia para que as pessoas sejam capazes de escolher e avaliar informações 
para agir, criticar e, quando necessário, mudar as regras e práticas da cultura da qual fazem parte 
(PEREIRA, 2009).
Robert Castel, um dos mais notórios pesquisadores contemporâneos, desenvolveu análises sobre 
a realidade socioeconômica e política francesa, seu país de origem, que permitiram aprofundar 
conhecimentos acerca da pobreza e da desigualdade social, denominada por ele de “desfiliação”.
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Desde a década de 1960, segundo Castel (1998), o trabalhador adquire um status que lhe permite 
acessar elementos subjetivos de sua função social e um conjunto objetivo de proteções sociais, ampliadas 
durante o século XX.
A teoria econômica keynesiana de pleno emprego, assegurado pela noção de uma sociedade 
salarial, não alcançou sua plena realização, embora tenha alimentado a noção subjetiva de direito 
ao trabalho e estimulado legislações que reduziram a níveis aceitáveis algumas arbitrariedades por 
parte dos empregadores. Os trabalhadores tiveram expansão de direitos trabalhistas sem, efetivamente, 
estabilizar-se no mercado de trabalho.
Para Castel (1998), o trabalho assalariado funciona como um elemento de coesão e integração 
social, na perspectiva durkheimiana da organicidade social, que, segundo ele, se estabelece a partir da 
complementariedade das funções desempenhadas pelos indivíduos em relações sociais. Nesse caso, o 
trabalho seria o complemento motor da integração social. 
 lembrete
É possível adotar indicadores para estimar os variados graus de pobreza 
e estabelecer medidas quantitativas comparativas a fim de obter os padrões 
mínimos de uma dada sociedade.
A “desfiliação” traduz-se na falta de lugares na divisão social dos trabalhos, a não ocupação ou o 
aproveitamento das funções do trabalhador ficam despregados da estrutura social, sem condições para 
acesso aos elementos orgânicos da sociedade, permanecendo numa mobilidade incômoda ao sistema.
A essa perda da fonte de coesão do tecido social, o trabalho, que impede o caráter integrador, 
Castell (1998) denomina “nova Questão Social”, por se tratar de um fenômeno associado às 
consequentes mudanças no mercado de trabalho. Para o autor, desde 1970, evidencia-seo 
aumento de desemprego em massa e a instabilidade, sem desenvolvimento de formas de proteção 
social capazes de gerar postos de trabalho e manutenção das condições dos assalariados. Insiste o 
autor que a marca dessa “nova Questão Social” é a “remercantilização” da força de trabalho, com 
precariedade do trabalho e generalização do desemprego, na perspectiva contínua da aleatoriedade, 
com situações que podem substituir o “contrato de trabalho por tempo indeterminado” por 
“contratos de trabalho por tempo determinado”, por contratos de “trabalho de tempo parcial” e 
outras formas de emprego, por exemplo. 
[...] é difícil estabelecer uma separação nítida entre a precariedade e a 
vulnerabilidade, pois são configurações que se realimentam e têm origem no 
coração dos processos econômicos e não nas margens deste, ou seja, não em 
características ou qualidades específicas que cercam o cidadão vulnerável 
ou em situação de precariedade. O potencial de precarização contido na 
diminuição do peso do contrato de trabalho por tempo indeterminado 
é o que nos possibilita “compreender os processos que alimentam a 
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vulnerabilidade social e produzem, no final do percurso, o desemprego e a 
desfiliação” (CASTEL, 1998, p. 87).
Na lógica do capitalismo globalizado, a empresa, para ser competitiva, deve efetivar o que o autor 
chama de “gestão em fluxo tenso”, gerir capacidade de produção de acordo com a demanda e contratar 
no mesmo movimento, o que gera a flexibilização da contratação e do uso da força de trabalho.
O resultado é a “desfiliação” de uma imensa maioria de trabalhadores que são vulnerabilizados (o 
sistema os desqualifica, os mantém não aptos às exigências da produção; ao mesmo tempo, demanda 
qualificações que poucos possuem e mantém a todos suspensos pelo fio do fluxo de demanda quem 
advém do mercado), assim se caracteriza a máxima mercantilização da força de trabalho.
Castel (1997, p. 24) explica que a “nova Questão Social” é marcada por três processos que se 
interligam: 
a) a “desestabilização dos estáveis” (ou seja, a ameaça de desintegração 
de parcelas da classe operária que se achavam solidamente integradas 
e dos assalariados de classe média); 
b) a “instalação da precariedade” (através do crescimento do desemprego 
contínuo e recorrente e da mudança na lógica de oferta dos postos de 
trabalho, que são agora cada vez mais temporários; e 
c) o déficit de lugares (que é, por sua vez, determinado pelo crescimento 
do desemprego e da precarização e significa que, simplesmente, há 
uma ausência ou uma falta de “lugares ocupáveis na estrutura social”, 
que possam trazer ao agente social perspectivas de integração devido 
exatamente à utilidade social do que está realizando).
Para o autor, a “desfiliação” equivaleria à condição caracterizada pela “ausência de inscrição do 
sujeito em estruturas portadoras de sentido”, não é um excluído porque não vive uma situação de 
“ausência completa de vínculos”; não está fora da sociedade, mas distante do centro de coesão.
Nessa análise de Castel (1998), existem dois elementos de coesão da sociedade – o econômico e 
o social. O econômico, associado ao emprego estável, várias modalidades de trabalho e desemprego, 
e o social ou interacional, relacionado aos laços sociais de pertencimento e aceitação, vinculados à 
vizinhança, parentalidade, territorialidade habitada, que impactado pelas dificuldades do mercado de 
trabalho pode se inibir e promover a “desfiliação”. 
Segundo Castel (1998, p. 27), há quatro tipos de “zonas” nas quais os indivíduos podem estar 
distribuídos da seguinte forma:
A primeira corresponde à “integração”. Nesta, o agente social possui as 
garantias de um trabalho permanente e ainda está imiscuído em relações 
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sociais sólidas. Na segunda, a zona da “vulnerabilidade”, o indivíduo 
atravessa uma situação na qual é ameaçado pela precariedade do trabalho 
e tem seus laços sociais enfraquecidos. Na terceira, que seria a “zona da 
assistência”, é a esfera pública que evita o desligamento do indivíduo 
atingido pela precarização e pelo enfraquecimento dos laços familiares. Por 
último, a zona de desfiliação é ocupada por aqueles que não somente estão 
em desemprego, mas que também perderam as relações que haviam sido 
produzidas no mundo do trabalho, no bairro, na vizinhança próxima etc.
Essa posição teórica desenvolvida por Castel (1998) não é exclusiva para pesquisadores que 
corroboram essa reflexão, ao considerar que o atendimento das necessidades humanas físicas 
(alimentação, habitação, vestuário, mobiliário etc.) e sociais (saneamento, transporte, saúde, trabalho, 
educação, cultura, cidadania etc.) deve fundamentar as propostas de desenvolvimento geral de uma 
nação, econômica e socialmente, permitindo conciliar as diferentes dimensões das necessidades 
humanas e não se ater à lógica do mercado (JACCOUD, 2009).
A autora Sawaia (1999), ao explanar sobre a exclusão social, destaca outros autores e referências, 
além de Castel, que analisam sob outros ângulos a temática. Para Paugam (2003), a “desqualificação”, 
entendida como um processo relacionando fracassos e sucessos na integração e constituindo um 
produto da construção social que passa pelo emprego e que causa a desintegração social.
Segundo a autora, Gaujelac e Leonetti referem-se à “desinserção” sem relacioná-la à pobreza, mas 
exaltando o valor simbólico, por exemplo, na esfera emprego e vínculo social. Em outras palavras, a 
identidade social de um desempregado o coloca “fora de norma”, sem utilidade social.
Em suas análises, Pereira (2009) comenta que consta da literatura brasileira que o autor Cristóvão 
Buarque retomou o termo “apartação social”, entendido originariamente como separação do gado, e o 
explicou como se tratando da separação uns dos outros não apenas como desigual, mas também não 
semelhante, impossibilitado por força do sistema de consumir, adquirir bens, trabalhar, usar serviços 
e ser reconhecido como do gênero humano, o que consiste numa intolerância social. Essa forma de 
reflexão sobre a exclusão social a associa ao sentido de privação de ação e representação, vinculando-a 
estruturalmente ao eixo democrático e ao exercício da cidadania.
A lógica estigmatizante impregna as ações do Estado ao assumir a criação de políticas sociais com o 
objetivo de equilibrar a distribuição de renda no sistema capitalista e torna essas ações reforçadoras do 
processo de exclusão, porque transformam direitos em benefícios, atrelados a uma cultura de favor, de 
assujeitamento obediente, conformista, que submete ao apadrinhamento ou tutela, com uma postura 
de gratidão pelo merecimento em momentos em que a necessidade de sobrevivência humana se revela.
No caso brasileiro, existe uma cultura de constrangimento e humilhação em relação aos segmentos 
que se encontram na linha de exclusão. Esse segmento evita por todos os meios valer-se do direito de 
participar do equilíbrio na balança da distribuição de renda porque crê que, assumir a defesa desse 
direito, significa identificar-se como não participante efetivo do processo econômico do país e que, de 
certa forma, constitui um peso para a sociedade. 
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Significa que lutar para ter acesso a direito ao trabalho, à renda e aos recursos fundamentais para 
a sobrevivência equivale a fazer parte do segmento mais vulnerável da sociedade e se identificar na 
lógica de que é excluído da sociedade, porque somente aos excluídos se aplicam as iniciativas de 
complementação de renda e prestação de serviços sociais.
As estratégias de desenvolvimento econômico e social adotadas pelas nações não reconhecem que 
alguns segmentos sociais não foram considerados na lógica de acesso igualitário e,

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