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Alunos: Fabiana de Almeida Marques da Silva e João Paulo Machado de Queiroz Acinetobacter baumannii Classificação taxonômica: Domínio: Bacteria Filo: Proteobacteria Classe: Gammaproteobacteria Ordem: Pseudomonadales Família: Moraxellaceae Micromorfologia: Forma: Fase logarítmica: bacilos/ Fase estacionária:cocobacilos Arranjo: Dispostas frequentemente aos pares Reação tintorial: Gram negativo Estruturas celulares: Indicar e descrever as estruturas celulares e suas funções presentes na espécie em estudo: -Parede celular: Proporciona rigidez estrutural, dá forma à célula e constitui uma barreira física contra o ambiente externo. Previne contra a ruptura da célula quando em pressão osmótica. Composta por exopolissacáridos e LPS localizados na membrana externa da parede. -Membrana citoplasmática: Composta por fosfolipídios e proteínas e tem a função de produzir energia, secreção de moléculas (enzimas, toxinas) e biossíntese (lipídeos de membrana, peptideoglicano, LOS [Barreira pode ser importante em condições secas]) -Ribossomos: Tipo 70S. Responsáveis pela síntese proteica. São compostos de duas subunidades, cada qual consistindo de proteínas e de um tipo de RNA denominado ribossômico (RNAr) Flagelo: Não possui Pili: Pili Tipo I, o qual desempenha importante papel na aderência e formação de biofilmes de Gram negativos. Produz pili tipo IV funcional, e utiliza-o tanto para transformação natural como para motilidade ocasional. Diversos pesquisadores hipotetizaram que pili tipo IV poderiam ser responsáveis, em parte, pelo motilidade independente de flagelo em superfícies e que são essenciais para contrair e contribuem para a adesão das células hospedeiras. Fímbrias: Presença de fímbrias e a produção de proteínas associadas ao biofilme (BAP) contribuem para iniciar o processo de produção do biofilme, e posterior adesão da bactéria em determinadas superfícies. São de natureza proteica, compostas por subunidades repetitivas de uma proteína denominada genericamente de pilina. As fímbrias possuem, geralmente em sua extremidade, e algumas vezes ao longo da estrutura, proteínas distintas, denominadas adesinas, as quais mediam a adesão específica da célula bacteriana a diferentes substratos. Características abióticas ideais ao crescimento: TEMPERATURA Classificação: Mesófila Faixa gradiente entre 20ºC a 44ºC Temperatura ótima entre 30ºC e 35ºC PH Classificação: Neutrófila Faixa gradiente entre 4,5 e 9,5 (Bom crescimento 5,0 e 9,0) pH ótimo: 6,9 OXIGÊNIO Classificação: Aeróbias Desenvolve preferencialmente na presença de oxigênio, mas é capaz de realizar desnitrificação como um tipo de respiração que reduz as formas oxidadas de Nitrogênio em resposta à oxidação de um doador de elétrons como matéria orgânica. Requer uma concentração de oxigênio muito baixa inferior a 10% SALINIDADE Classificação: Halotolerantes Não apresenta uma tolerância excepcionalmente alta ao sal, mas está na faixa de muitas outras bactérias tolerantes ao sal. Pode crescer na presença de até 700mM de NaCl quando em meio complexo. COMPOSTOS TÓXICOS Resistente a metais: Resistentes a metais, antibióticos, detergentes e outros biocidas Bombas de efluxo ou produção de enzimas capazes de hidrolisar os antibióticos, preferencialmente os beta- lactâmicos. Incluindo β- lactamases de amplo espectro, aminoglicosídeos e fluoroquinolonas, Resistência aos antibióticos: imipenem e meropenem A. baumannii isolado de solo agrícola e sedimentos, solo contaminado por combustível e água de esgoto, mostraram resistência a diversos metais como Hg, Ag e As. Até o momento, seis mecanismos propostos de resistência ao metal pesado foram elucidados: (1) Liberação de íons metálicos por barreiras extracelulares como cápsula, parede celular e membrana plasmática. (2) Extrusão de íons metálicos através de bombas efluxo ou por difusão. (3) Sequestro intracelular de íons metálicos. (4) Sequestro extracelular de íons metálicos. (5) Biotransformação/desintoxicação de íons metálicos tóxicos. (6) Diminuição da sensibilidade dos alvos celulares aos íons metálicos. Em geral, os genes codificadores de resistência ao metal pesado são transportados em elementos genéticos móveis, como plasmídeos e transposons ou no DNA cromossômico Os mecanismos de ação dos biocidas são variados, de amplo espectro que incluem a lise e coagulação de componentes intracelulares, perturbação da homeostasia celular, ação sobre as membranas e a parede celular, inibição de enzimas, do transporte de elétrons, e da fosforilação oxidativa, interação com macromoléculas entre outros Características nutricionais e metabólicas: Fonte de carbono Classificação: Heterotróficas Certas cepas podem utilizar uma variedade de compostos orgânicos como fonte de carbono como hidrocarbonetos, ácidos alifáticos, açúcares pentoses, álcoois, aminoácidos e componentes aromáticos. Fonte de energia Classificação: Quimiorganotrófico (Quimioheterotrófico) Acetato, lactato ou Piruvato Fonte de nitrogênio e de outros nutrientes importantes Utilizam amônia ou nitrato como fonte de nitrogênio Vias metabólicas importantes: Via Entner-Doudoroff: é uma alternativa para o metabolismo de glicose. Envolve a fosforilação de açúcares de 6 carbonos (2- ceto-3-desoxi-6- fosfogliconato) e sua clivagem em compostos de 3 carbonos (piruvato+ gliceraldeído 3-fosfato). A oxidação da glicose no periplasma leva à formação de piruvato. Além disso, a presença de frutose-1,6-bifosfatase e frutose-1,6-bifosfato aldolase mostra que a bactéria em questão é capaz de catabolizar a frutose. Portanto, seria interessante investigar mais a capacidade desses e de outros açúcares de apoiar o crescimento dessa bactéria. Além disso, é uma bactéria que possui uma grande habilidade catabólica, sendo capaz de utilizar uma grande variedade de substâncias vegetais. É capaz de utilizar muitos ácidos aromáticos e ácidos aromáticos hidroxilados encontrados em plantas, incluindo benzoato, 4- hidroxi-benzoato, 4- hidroxi- cinamato e shikimato como fontes únicas de carbono. Estes compostos aromáticos são catabolizados através da via do beta-cetoadipato, produzindo substratos intermediários do Ciclo de Krebs. Via Folato - A via metabólica do folato é uma importante via, é necessária para a síntese do DNA. É exatamente nesta via que atuam as sulfonamidas, como por exemplo a sulfanilamida. Diferente dos humanos que conseguem adquirir a substância através da dieta, os microrganismos precisam sintetizar o seu próprio folato. Via da Pentose-Fostato - A via das pentoses-fosfato é uma via alternativa de oxidação de glicose-6- fosfato, que leva à produção de três compostos, a ribose-5- fosfato, CO2 e o NADPH. Respiração Aeróbia – Via glicolítica /Ciclo de Krebs/Cadeia respiratória Respiração aeróbica é aquela que utiliza oxigênio como aceptor final. A anaeróbica, por sua vez, não utiliza essa substância. A grande maioria dos seres vivos realiza respiração aeróbica para produzir energia, entre eles algumas bactérias, protistas, fungos, plantas e animais. A respiração aeróbica pode ser dividida em três etapas básicas: glicólise, ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa. Vale destacar, no entanto, que a glicólise é uma fase anaeróbica, uma vez que não depende do oxigênio. Nos seres eucariontes, a glicólise ocorre no citosol, e as outras etapas ocorrem em uma organela denominada mitocôndria. Síntese de Ácidos Graxos - A síntese de ácidos graxos é iniciada com o que sobrou da glicólise e da formação do glicogênio, quando a demanda por ATP é baixa, a energia contida na acetil-CoA mitocondrial pode ser estocada como gordura pela síntese de ácidos graxos. Em humanos, essa biossíntese ocorreprincipalmente no fígado e glândulas mamárias e secundariamente nos adipócitos e rins. Método de isolamento e identificação: A Acinetobacter baumannii é o segundo não-fermentador mais frequente encontrado em laboratório clínico. As características pelas quais é possível fazer uma identificação presuntiva são as seguintes: - Aparecem como cocos ou cocobacilos na coloração de Gram. - Crescem bem em ágar MacConkey (as colônias podem exibir uma coloração levemente rosada, uma característica útil quando presente). -Não produzem citocromo oxidase. - Exibem rápida utilização de glicose, com produção de ácido. - Exibem rápida utilização de lactose a 10%, com produção de ácido. -São imóveis. - São resistentes à penicilina. O indício inicial consiste na observação de cocobacilos dispostos aos pares pelo método Gram preparado diretamente a partir de amostras clínicas. Quando crescem em ágar sangue as colônias não são pigmentadas o que pode ser uma característica para diferenciar de outros não fermentadores. Em ágar eosina-azul de metileno podem exibir cor azul intenso. Na rotina laboratorial a escolha do meio ideal para cultivo depende da amostra coletada e dos possíveis microrganismos presentes na amostra. Normalmente os meios mais utilizados e que apresentam bom crescimento seriam: Ágar sangue, ágar chocolate, ágar MacConkey, Meio Cled (geralmente utilizado quando a amostra é urina). Os processamentos e meios de transporte de amostra são variados e dependem do tipo de amostra a ser analisada. A primeira etapa consiste em semear a amostra em placa de Petri contendo o meio de cultura e preparação de lâmina para coloração de Gram. Descarregar o material num canto da placa; Flambar a alça( técnica quando a alça é metálica. Hoje em dia utiliza-se alça descartável) Esfriar a alça em um canto do ágar; Semear partindo da ponta da primeira semeadura. A cada mudança de direção flambar a alça e esfriá-la. Em caso de análise quantitativa a semeadura deve seguir a seguinte orientação: a) Inóculo Inicial b) Espalhamento O cultivo quantitativo baseia-se na semeadura de um volume conhecido de material e a contagem do número de UFC (unidades formadoras de colônia) obtidas após incubação. O próximo passo é a incubação a +/- 36,5oC em estufa. Em alguns testes pode ser necessário utilizar a temperatura de banho maria a 42oC para este microorganismo. Em geral a primeira leitura é feita em 24 horas e a segunda em 48 horas, quando necessário. Em seguida procede-se à leitura e alguns aspectos são fundamentais para se estabelecer o diagnóstico presuntivo como foi citado anteriormente. Observa-se o tamanho das colônias, a cor das colônias (relacionado ao meio utilizado e já foi caracterizado anteriormente para a Acinetobacter baumannii), a forma das colônias (a Acinetobacter baumannii apresenta-se com forma arredondada), consistência, cheiro e densidade(que não são características evidentes para esta bactéria) De acordo com tudo que foi observado anteriormente segue-se para a rotina específica para o microorganismo. Normalmente o ágar MacConkey é o mais utilizado para isolamento e identificação desta bactéria. Ele é um meio que possui cristal violeta que inibe o crescimento de Gram positivos especialmente enterococos e estafilococos. Além disso possui sais de bile que também inibe o crescimento de Gram positivos e seleciona Gram negativos. Por isso se diz que se trata de um meio seletivo para Gram negativos. A não observação de fermentação da lactose presente no meio também é um indicativo para se direcionar a um microorganismo não fermentador (como é o caso da nossa bactéria em estudo). A partir desta etapa segue-se para a identificação à partir de testes bioquímicos, sejam eles manuais, automáticos ou semiautomáticos, a depender da condição do laboratório em adquirir tais recursos. Juntamente com a identificação é feito também o antibiograma onde são testados discos de antibióticos e analisados sensibilidade e resistência de acordo com os halos de inibição de crescimento (geralmente em ágar Mueller Hinton). A Acinetobacter baumanni é um bacilo não fermentador, ou seja, incapaz de utilizar carboidrato como fonte de energia através de fermentação e sim por via oxidativa. A identificação destes microorganismos sempre foi um desafio para os laboratórios de rotina, mas em virtude da mudança comportamental desta bactéria, principalmente em ambientes hospitalares tem se tornado imprescindível nos últimos tempos. Os testes necessários para identificação dos bacilos não fermentadores são: Tubo de OFglicose (com vaselina) Tubo de OFglicose (sem vaselina) Tubo com lisina Tubo controle de aminoácidos Tubo ágar citrato Tubo ágar uréia Tubo com ágar esculina Tubo com TSI Tubo com gelatina Tubo com caldo NaCl 6,5% Disco de oxidase Disco de PYR Tubo com arginina Caldo TSB para motilidade em lâmina Caldo TSB crescimento 42oc Tubo de caldo indol Disco de polimixina Placa de MacConkey Placa de DNAse Leitura e interpretação das provas: Disco de oxidase: - Retirar 2-3 colônias com alça. - Esfregar sobre a fita ou disco teste; pode umedecer o papel com 1 gota de salina estéril. - A leitura é feita em 15 a 20 segundos. - A cor violeta forte aparece rapidamente. Após este intervalo, cores violeta-pálido são falso positivos. Tubo de OF glicose (com e sem vaselina): - Picar com agulha até o fundo do tubo. - Fermentador: dois tubos ficam amarelos (ácido) - Oxidativo: tubo sem vaselina amarelo, tubo com vaselina verde - Inerte ou alcalino: dois tubos não mudam de cor (inerte) ou o tubo sem vaselina fica azulado (alcalino). Aguardar, no mínimo, 72h para definir como inerte, pois pode ocorre a oxidação tardia ou lenta. Tubo com pedaço de filme e gelatina: - Inocular 2-3 colônias na salina. - Deixar o fragmento imerso. - Incubar 30oC, se negativo, aguardar no mínimo 72h. Se positivo, ocorre precipitado cinza no fundo do tubo. Placa de DNAse: - Semear 2 a 3 colônias em “spot” (círculo de 1 cm de diâmetro). - Adicionar ácido clorídrico e aguardar 5 minutos. - Observar a presença de halo transparente em volta do inoculo positivo enquanto o restante do meio fica leitoso. - Se negativo, repetir o teste com leitura em 72h. Tubo com lisina, arginina, controle de aminoácidos: - Usar inóculo denso; pode adicionar 2 ml de vaselina líquida no tubo com lisina. - Comparar os tubos testes dos aminoácidos com o controle negativo. - Tubo controle negativo deve ficar azul esverdeado pálido e as provas positivas ficam de cor púrpura. - Se negativo, aguardar até 5 dias. Uréia: - Semear com agulha inóculo denso na superfície do meio. - A cor rosa forte aparece em todo o meio após 24 a 72 h de incubação; uma ligeira mudança de cor rósea no ápice, que não progride com maior tempo de incubação, é considerado negativo. Citrato: - Semear com agulha na superfície do meio. - A cor azul forte aparece no pico, e com maior incubação estende-se a todo o meio. Caldo TSB crescimento 42oC: - Semear 2 colônias no caldo. - Ocorre turbidez no meio ou é nítido o aumento da densidade bacteriana. - Ideal comparar com controle mantido a temperatura ambiente. Caldo TSB motilidade: - Semear 2 colônias no caldo. - Agitar o tubo e com uma pipeta com ponteira estéril ou alça bacteriológica estéril. - Retirar uma gota e depositar sobre uma lâmina. - Cobrir a gota com uma lamínula e levar ao microscópio. Observar com aumento de 400 vezes (ocular 10x e objetiva 40). - A presença de bactérias cruzando o campo em diferentes direções é significativo de motilidade positiva; movimentos vibratórios fracos = negativo (movimento browniano). Quando o movimento de todas as bactérias é numa mesma direção, provavelmente é o movimento do líquido entre a lâmina e a lamínula. - Verificar a motilidade em temperaturasde 37oC e 20oC (ambiente). Tubo com caldo NaCl 6,5%: - Semear 2 a 3 colônias no caldo. - A presença de turbidez e mudança de cor indicam crescimento. Tubo com ágar esculina: - Semear 2 a 3 colônias na superfície do meio. - Ocorre precipitado negro intenso nas provas positivas a partir de 6 horas de incubação até 48 h - Cor castanho escuro é prova negativa. Tubo de caldo indol: - Inocular 2 colônias no caldo. - Colocar 5 gotas de xilol e agitar bem o tubo. - Adicionar 5 gotas do reagente de Erlich ou Kovacs. - Observar a presença de anel púrpura-pálido ou intenso que revelam prova positiva. Disco de polimixina: - Fazer antibiograma em Mueller Hinton. - Colocar o disco. - Qualquer halo em torno do disco significa sensibilidade. Disco de PYR: - Colocar o disco sobre colônias de crescimento recente ou fazer suspensão densa. - Depositar 3 a 4 gotas sobre o disco de PYR. - Incubar durante 4 horas numa placa vazia com umidade. - Colocar o disco teste em contato com o crescimento bacteriano. - Colocá-lo sobre uma lâmina. - Depositar uma gota do reagente que acompanha o teste. - A presença de cor alaranjada é prova positiva; mantendo amarela é prova negativa. - Recomenda-se testar controles positivo e negativo. Placa de MacConkey: - Semear com alça 1 colônia isolada. - Crescimento deve ocorrer entre 1 e 3 dias. TSI: - Semear com agulha picando até o fundo do tubo e na superfície do ágar inclinado. - Fermentador: presença de cor amarela apenas na base ou no ápice e na base - Com ou sem H2S e gás: precipitado preto e bolhas. - Não fermentador: permanece vermelho (alcalino) no ápice e na base. TABELA DE IDENTIFICAÇÃO Dos BNFS (aqui vamos colocar apenas a bactéria em estudo) Tabela 1. Coco-bacilos ou cocos Gram negativo, Oxidase negativa e Motilidade negativa Microorganismo OF glicose Cresc. 42oC Citrato Gelatina Acinetobacter baumannii O + + Negativo Prova opcional: Hemólise: negativo TABELA DE CONSULTA PARA IDENTIFICAÇÃO DE NÃO FERMENTADORES: Oxidase e motilidade negativos: Microorganismo OXI MOT Morf. OF- G Cresc. a 42oC CIT MAL GEL HEM Acinetobacter baumannii Neg. Neg. cocobacilo O + + + Neg. Neg. Onde: OXI=oxidase; MOT=motilidade; Morf.= morfologia; OFG= meio de oxidação fermentação da glicose de Leifson; CIT= citrato; MAL= malonato; GEL=gelatina; HEM=hemólise em ágar sangue. Dados coletados do “Manual de Microbiologia Clínica para o controle de infecção em serviços de saúde” disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_microbiologia_completo.pdf “A definição do gênero se baseia nas suas características fenotípicas mas a identificação em nível de espécie é bastante complexa e esta proposta de identificação presuntiva muitas vezes não são suficientes para se discriminar as diferenciações entre as espécies. Assim, diferentes métodos moleculares têm sido propostos para uma melhor identificação das espécies de Acinetobacter. O método de hibridização de DNA inicialmente proposto para identificação e separação do gênero Acinetobacter em nível de espécie é muito trabalhoso e não tem sido muito utilizado. Atualmente estão sendo amplamente utilizados métodos baseados na Reação da polimerase em cadeia(PCR) com diferentes iniciadores( primers) capazes de amplificar regiões específicas de cada espécie. Entre estes métodos pode-se citar a análise da região 16S rRNA e o AFLP( Amplified Fragment Lenght Polymorphism) como os mais utilizados. A identificação da espécie Acinetobacter baumannii pode ser confirmada também com a identificação do gene blaOXA-51-like o qual é intrínseco à espécie. Uma técnica simples de Multiplex PCR pode identificar esse gene em conjunto com outros genes que codificam oxilinases.” Trecho retirado de tese de doutorado disponível no link: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/19112/000735912.pdf?sequence=1 A técnica Maldi Tof é capaz de fazer a identificação da espécie em menos de 1 hora mas requer equipamentos caros e requer uma boa avaliação adicional. A identificação de espécies com sistemas de identificação comercial manuais e semi automáticos continua problemática. Isso pode ser explicado em parte por seu conteúdo limitado de banco de dados, mas também porque os substratos usados para a identificação de espécies bacterianas não foram adaptados especificamente para identificar acinetobacter. Em particular, os três membros clinicamente relevantes do A. calcoaceticus-A. o complexo baumannii não pode ser separado pelos sistemas de identificação comercial atualmente disponíveis; de fato, A. baumannii, Acinetobacter genomic species 3 e Acinetobacter genomic species 13TU são uniformemente identificados como A. baumannii pelos sistemas de identificação mais amplamente usados. Informações podem ser vistas no link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2493088/ Características genéticas: O genoma de A. baumannii apresenta um tamanho de 3.48 a 4.22 Mb. De acordo com o artigo disponível no link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1820901/ o conteúdo patogênico deste microorganismo foi explorado usando uma combinação de sequenciamento de DNA e mutagênese insercional. O genoma foi sequenciado usando uma estratégia envolvendo pirosequenciamento de alta densidade, um novo método rápido de sequenciamento de alto rendimento. Excluindo as repetições de rDNA, o genoma montado é de 3.976.746 pares de bases (pb) e tem 3830 ORFs. Uma fração significativa dos ORFs (17,2%) está localizada em 28 supostas ilhas alienígenas, indicando que o genoma adquiriu uma grande quantidade de DNA estranho. Consistente com seu papel na patogênese, um número notável de ilhas (16) contém genes implicados na virulência, indicando que o organismo dedica uma parcela considerável de seus genes à patogênese. A maior ilha contém elementos homólogos ao aparelho de secreção Legionella/Coxiella Tipo IV. Os sistemas de secreção do tipo IV demonstraram ser importantes para a virulência em outros organismos e, portanto, provavelmente ajudarão a mediar a patogênese de A. baumannii. A mutagênese insercional gerou isolados avirulentos de A. baumannii e verificou que seis das ilhas contêm genes de virulência, incluindo duas novas ilhas contendo genes que não tinham homologia com outros nos bancos de dados. A abordagem de sequenciamento de DNA descrita neste estudo citado acima permite a rápida elucidação da sequência de DNA de qualquer microorganismo e, quando combinada com telas genéticas, pode identificar muitos genes novos importantes para a patogênese microbiana. “Estudos comparativos com 32 genomas completos de A. baumannii revelaram a presença de 12 regiões cromossômicas acessórias únicas no DSM30011, incluindo cinco genes relacionados a fagos abrangentes, cinco contendo genes de toxinas do sistema de secreção tipo 6 e um com um cluster CRISPRs/cas atípico. Nenhuma ilha de resistência antimicrobiana foi identificada no DSM30011 concordando com um fenótipo geral de suscetibilidade antimicrobiana, incluindo inibidores da síntese de folato. A resistência marginal à ampicilina do DSM30011 provavelmente derivou de genes cromossômicos do tipo ADC ampC e blaOXA-51. A busca por genes de vias catabólicas revelou vários clusters envolvidos na degradação das defesas vegetais, incluindo tecidos lenhosos e um locus atu não relatado anteriormente responsável pela degradação dos terpenos alifáticos, sugerindo assim que as plantas resinosas podem fornecer um nicho eficaz para este organismo. O DSM30011 também abrigou a maioria dos genes e mecanismos regulatórios ligados à persistência e virulência em espécies patogênicas de Acinetobacter. Esta cepa revelou, portanto, pistas importantes sobre a diversidade genômica, o potencial de virulência e as faixas de nicho da população de A. baumannii da era pré-antibiótica, e pode fornecer uma ferramenta útil para a nossa compreensãodos processos que levaram à evolução recente desta espécie em direção a um patógeno oportunista de humanos.” Este trecho pode ser encontrado em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5604120/ “A análise do genoma do DSM30011 revelou a maioria dos traços que foram associados à persistência e patogenicidade do Acinetobacter (Peleg etal. 2012;tabela 4e tabela suplementar S12, Material Suplementar online). Estes incluem: 1) Dois sistemas que provavelmente conferem a capacidade de suportar em diferentes nichos ambientais, como um T6SS e clusters gênicos associados, bem como um sistema CRISPRs-cas não relatado anteriormente nesta espécie; 2) genes de resistência contra antimicrobianos e outros compostos tóxicos, incluindo AmpC do tipo ADC e β-lactamases semelhantes a OXA-51 e diferentes bombas de efluxo; 3) sistemas que impulsionam a diversificação genômica, como diferentes polimerases propensas a erros e transformabilidade mediada por pilus Tipo IV; 4) genes que codificam mecanismos de virulência propostos para cepas clínicas Acb (tabela 4). Pelo contrário, o DSM30011 não possui todos os IRs, EIs, GIs e plasmídeos típicos de cepas clínicas de Acinetobacter. Isso sugere fortemente que esses elementos genéticos de forte significado adaptativo foram recentemente adquiridos por linhagens infecciosas A. baumannii, provavelmente de outras espécies bacterianas coexistentes no cenário clínico (Nigro e Hall 2011;Peleg etal. 2012;Antunes ettal. 2014). Isso apoia a noção de que as condições altamente seletivas do ambiente hospitalar têm sido cruciais tanto para o ajuste da expressão dos determinantes de patogenicidade quanto para a aquisição de características adicionais de resistência que transformaram esta espécie em um patógeno nosocomial (Antunes ettal. 2014). Também identificamos um locus catabólico não relatado anteriormente responsável pela degradação completa de monoterpenos acíclicos, além de outras vias catabólicas para muitas substâncias produzidas por plantas, incluindo tecidos lenhosos protetores (fig. 3D, tabelas suplementares S10 e S11, Material Suplementar on-line). As características acima, somadas à capacidade de suportar altas temperaturas, são compatíveis com um organismo que prospera em plantas resinosas do deserto, apoiando assim uma origem ambiental para o DSM30011 (Allen etal. 1944). A presença de características genômicas semelhantes em todas as cepas de A. baumannii analisadas sugere ainda que as plantas resinosas podem fornecer reservatórios ambientais para esta espécie. Por sua vez, abre a possibilidade de que certos insetos fitófagos se alimentem nessas plantas (Morales-Jiménez etal. 2009;Keeling etal. 2013;Vilanova etal. 2014) representam vetores para a disseminação de A. baumannii no ambiente. Mais estudos sobre outras cepas de A. baumannii de origem não clínica são certamente necessários para elucidar os processos que levaram à evolução recente desta espécie em direção a um patógeno oportunista de humanos.” Trecho retirado do artigo disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5604120/ “ISS E PRÓFAGOS MODIFICARAM EXTENSIVAMENTE O GENOMA DO NCIMB8209. A menor virulência exibida pela cepa NCIMB8209 em comparação com a do DSM30011 (veja acima) nos levou a analisar com mais detalhes seus genomas, com o objetivo de encontrar diferenças genéticas que possam explicar esses fenótipos distintos. Ao comparar os genomas acessórios do DSM30011 e NCIMB8209, algumas diferenças que valem a pena notar foram observadas neste último (Fig. 1) tais como: (i) a presença de sete IGs (Tabela 2), que será descrito ao longo do texto; (ii) a presença de cinco regiões que abrigam supostos prófagos (Tabela 1e Tabela S3), que também será descrito em detalhes abaixo; (iii) a notória ausência de um cluster genético CRISPR-cas comum ao DSM30011 e outras cepas de A. baumannii (11,48); (iv) a falta de ilhas de competição interbacteriana (ICI), como aquelas que codificam os componentes do sistema de secreção tipo 6 e/ou suas toxinas associadas (45); (v) diferenças significativas em relação ao número de SIs e composição entre essas duas cepas (veja abaixo).” Trecho retirado do artigo disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7392541/ onde pode explicar, por exemplo a presença de alguns profagos contribuindo para a transferência horizontal de genes entre cepas. Habitat de ocorrência: É amplamente distribuído na natureza. Eles podem sobreviver em várias superfícies (úmidas e secas) no ambiente hospitalar e, portanto, são uma importante fonte de infecção para pacientes frágeis. Algumas cepas são isoladas de alimentos, enquanto outras podem sobreviver em vários dispositivos médicos e até mesmo em pele humana saudável. Na água potável, Acinetobacter baumannii demonstrou acumular bactérias, e essas geralmente não formam agregados. As Acinetobacter spp. são principalmente saprófitas de vida livre e, embora tenham sido encontradas onipresentemente na natureza, os reservatórios ambientais precisos são desconhecidos. A. baumannii, A. pittii e A. calcoaceticus, habitam o solo e os ambientes aquáticos. Os organismos também foram isolados de ecossistemas de água doce; estações de tratamento de esgoto bruto e águas residuais e lodo ativado. A. baumannii também demonstrou sua capacidade de crescer com petróleo bruto. Geralmente considerado parte da flora normal da pele e mucosa da faringe, secreções respiratórias humanas, urina, reto e outras amostras clínicas. Eles são o único grupo de bactérias Gram-negativas que podem ser residentes naturais da pele humana com taxas de transporte de 42,5% em indivíduos saudáveis e até 75% em pacientes hospitalizados. Essa colonização assintomática permite sua disseminação dentro e entre hospitais. No ambiente hospitalar, foi isolado de tubos de ventilação, dispositivos de monitoramento de pressão arterial, umidificadores, lavatórios e da pele de profissionais de saúde, colchões, travesseiros e em todos os tipos de equipamentos de ventilação e situações úmidas, como pias e água da torneira. Alimentos hospitalares também podem ser uma fonte potencial de A. baumannii, já que diferentes Acinetobacter spp. foram recuperados de vegetais e frutas e têm sido implicados na deterioração de frango, carne, peixe e ovos, mesmo quando armazenados sob refrigeração ou após irradiação gama adequada. Acinetobacter baumannii também foi isolada de diferentes fontes animais, incluindo aves e peixes, e está entre as espécies implicadas em doenças animais. Eles também foram isolados de piolhos coletados de pessoas sem-teto. Papel ecológico: A Acinetobacter baumannii tem sido isolada de vários ambientes, como de solo contaminado com hidrocarbonetos em países que apresentam diferentes condições climáticas. Diversas amostras de Acinetobacter, incluindo A. baumannii, são capazes de degradar combustíveis à base de diesel. A. baumannii também foi isolado de vegetais coletados em supermercados, feiras livres e hortas privadas. Alguns Estudos alertam para a presença de A. baumannii em superfícies inanimadas que estão frequentemente em contato com humanos, como mesas em parques e console de jogos. A. baumannii também foi identificado em lama em criadouro de suínos no Reino Unido e em aquicultura (fazendas de peixes e camarões) no Sudeste Asiático. Ressalta-se que em todos os estudos citados, técnicas moleculares de identificação foram utilizadas. Esta capacidade de utilizar estes xenobióticos pode ser considerada de grande importância inclusive na utilização desta bactéria em estudos de desenvolvimento de biorremediação, uma vez que ela pode degradar, por exemplo, compostos que expostos ao meio ambiente possam levar à contaminação (o uso para degradação do petróleo, por exemplo e compostos inseticidas acumulados). Em relação à colonização por A. baumannii na comunidade, os dados são escassos. Um estudo realizado em Nova York por Zeana et al. (2003) demonstrouque 10,4% dos indivíduos saudáveis avaliados carreavam A. baumannii em suas mãos. Um estudo de prevalência conduzido com 102 soldados em treinamento nos Estados Unidos mostrou que 17% carreavam A. baumannii em sua pele (GRIFFITH et al., 2006). A relação da Acinetobacter baumannii com o hospedeiro pode ser comensal, como acontece por exemplo em comunidade, pois sabe-se que ela é ubíqua e pode estar presente em diversos habitats, inclusive na pele dos seres humanos sem provocar qualquer tipo de agressão, mas sua presença em ambientes hospitalares, sob pressão de diversos fatores, ela pode levar a casos de surtos e infecções em pacientes já debilitados e imunosssuprimidos, sendo considerado neste caso uma relação de parasitismo, onde somente o microorganismos se beneficia do hospedeiro. Neste cenário ela é considerada também um microorganismo oportunista. É possível ser detectada a presença desta bactéria no intestino de insetos, como cupins, por exemplo, que se alimentam de madeira(celulose), onde ocorre uma relação comensal e a bactéria utiliza de produtos da degradação da celulose digeridos pelo inseto e ela libera produtos de seu metabolismo que podem ser utilizados pelas células do hospedeiro, além disso este hospedeiro pode ser responsável por carrear a bactéria para diversos locais por onde ele circula. Dentre os fatores de virulência adaptados e que podem levar à infecção nos seres humanos podemos citar: Cápsula Análises bioquímicas e bioinformáticas prévias sugerem que A. baumannii não produz lipopolissacarídeos (LPS), mas sim lipooligossacarídeos (LOS). Em LOS é ausente a unidade de repetição de antígeno-O, ligado ao cerne oligossacarídeo, devido à falta do gene waaL, o qual permeia a ligação do antígeno-O (KENYON et al., 2013). Wright et al. (2014) identificaram que o domínio WaaL está associado tanto a genes que codificam as ligases do antígeno-O quanto com os genes pglL, envolvidos na glicosilação da proteína ligada ao antígeno-O. Porém a definição da função do gene contido neste domínio, somente com base no seu sequenciamento ainda não foi descrita. Polissacarídeos de superfície, como a cápsula, são reconhecidos há muito tempo como importantes fatores de virulência em bastonetes Gram negativos. No entanto, o conhecimento do papel do polissacarídeo capsular na patogênese da infecção por A. baumannii ainda é incipiente (RUSSO et al., 2010). Estudos em camundongos levaram à identificação de dois genes que são requeridos para a polimerização e montagem da cápsula. O primeiro, ptk, codifica uma proteína tirosina quinase (PTK) e, o segundo, epsA, codifica um polissacarídeo putativo que exporta uma proteína externa de membrana (EpsA) (CUTHBERTSON et al., 2009). Russo et al. (2010) consideraram que estes genes são requeridos para um fenótipo positivo para cápsula e descreveram um papel essencial da cápsula na patogênese da infecção por A. baumannii, demonstrando que a cápsula K1 de AB307-0294 é uma importante protectina. Esse dado sugere que proteínas conservadas, as quais contribuem para um fenótipo capsulado, são potenciais alvos para drogas. Fímbrias A. baumannii é capaz de formar estruturas de superfícies, como pili (DE BREIJ et al., 2009). Em A. baumannii ATCC 19606, crescido em ágar, dois tipos de pili foram descritos: o pilus curto (5-140 nm) (LEE et al., 2006) e o pilus longo (140 -1000nm) (DE BREIJ et al., 2009). O pili de A. baumannii desempenha importante papel na adesão à superfícies inertes ou vivas e na formação do biofilme bacteriano (HOMENTA et al., 2014). Uma das mais comuns estruturas protéicas que ornamentam a superfície externa de patógenos é o pili Tipo I, o qual desempenha importante papel na aderência de Gram negativos. Quatro clusters de genes que codificam este pili foram identificados em A. baumannii, os quais incluem o cluster csu. Os clusters dos genes ortológos aos genes fimbriais (A1S_1507_1510) são bem conservados dentre as sete linhagens virulentas de A. baumannii investigadas no estudo de Eijkelkamp et al. (2014). Interessantemente, este cluster parece ser downregulated na cepa ATCC 17978 sob condições limitantes de ferro. Estudo de Rumbo-Feal et al. (2013) ao examinar a expressão de genes em biofilme versus células planctônicas em linhagens ATCC 17978 demonstrou que A1S_1507 é altamente upregulated em células em biofilme quando comparados às células planctônicas como aquelas dos genes csu. Além disso, o pili do tipo I parece desempenhar algum papel na aderência e formação de biofilmes de A. baumannii. Porém, a exata contribuição destes três clusters em diferentes condições requer análises mais detalhadas (EIJKELKAMP et al., 2014). Em estudo de Marti et al. (2011), o crescimento apresentado em película mostrou diferentes proteínas associadas à formação dos pili: duas chaperonas associadas ao sistema de formação de pili e um pilus putativo do tipo III. Tomaras et al. (2003) caracterizaram o operon csu, uma chaperona-usher organizadora da formação dos pili que tem sido associada à formação de biofilme em superfícies abióticas. Marti et al. (2011) demonstraram que este tipo de pili também está presente em películas formadas por A. baumannii; além das proteínas chaperonas CsuC, a proteína de membrana externa CsuD foi, também, identificada. De acordo com Tomaras et al. (2003) a formação de biofilme em interfaces sólido-líquido tem sido associada, quase sempre, ao pilus csu. No entanto, Marti et al. (2011) descreveram que, na película formada por A. baumannii em interface ar-líquido, diferentes tipos de pili são requeridos, não somente para promover a adesão bacteriana, mas, também, para manter toda a estrutura suspensa na superfície do meio líquido. Esta múltipla expressão de diferentes sistemas de formação de pili requeridos para a adesão bacteriana pode também contribuir para a persistência particular de A. baumannii em instituições de cuidados à saúde (MARTI et al., 2011). Segundo Harding et al. (2013), A. baumannii produz pili tipo IV funcional, e utiliza-o tanto para transformação natural como para motilidade ocasional. Diversos pesquisadores hipotetizaram que pili tipo IV poderiam ser responsáveis, em parte, pelo motilidade independente de flagelo em superfícies, exibida por vários isolados clínicos de A. baumannii. Harding et al. (2013) demonstraram ainda que a motilidade em superfícies não foi dependente dos produtos dos genes pilA, pilD, pilT, e por correlação, pelo pili tipo IV, uma vez que é produto da codificação desses genes. Formação de biofilme Cabral et al. (2011) definem biofilmes como coleções de micro-organismos caracterizados por células irreversivelmente aderidas a um substrato e embedidas por uma matriz de substâncias poliméricas extra-celulares, como os exopolissacarídeos (EPS), proteínas, ácidos nucléicos e outras substâncias. De acordo com estes autores, a formação de biofilme é frequente em amostras clínicas de A. baumannii e é um requerimento importante para a colonização crônica de tecidos humanos e persistência em implantes médicos. As células de A. baumannii quando em biofilme, comparadas com células planctônicas, mostraram uma maior organização no metabolismo de aminoácidos e ácidos graxos, motilidade, transporte ativo, metilação de DNA, aquisição de ferro, regulação transcricional e quorum sensing. 1621 genes são super expressados em biofilmes, incluindo 55 genes que são exclusivamente expressos por A. baumannii sésseis (RUMBO-FEAL et al., 2013). Os determinantes de virulência de A.baumannii incluem CsuA/BABCDE chaperona envolvida na formação de biofilme, regulada por um sistema de dois componentes (BfmS/BfmR) (TOMARAS et al., 2003; TOMARAS et al., 2008; DEBREIJ et al., 2009), a proteína de membrana externa OmpA (CHOI et al., 2005), outra proteína de membrana externa de 854 kDa, com alta similaridade a proteína associada à formação de biofilme (Bap)(LOHEFEM et al., 2008), os auto-indutoresde sintase AbaI, parte do sistema quorum sensing (NIU et al., 2008) e o operon pgaABCD responsável pela produção de poly-β-1,6-Nacetilglucosamina (PNAG) (CHOI et al., 2009). O processo de formação de biofilme em diversas bactérias é mediado por vias de quorum-sensing. Segundo Chow et al. (2014), em A. baumannii o biofilme é formado através da ativação de uma rede de quorum-sensing LuxI/LuxR que envolve uma abaI sintase e um receptor aba. Apesar de várias formas de lactonas N-acil-homoserina (AHLs) terem sido encontradas em várias espécies de Acinetobacter spp., estudo de Bhargava et al. (2010) demonstrou que a lactona 3-hidroxi-dodecanoil-L-hemoserina (3- OH-C12-HSL) é a principal molécula sinalizadora no quorum-sensing produzida por A. baumannii. Neste sentido, o uso de análogos de AHL para inibir as vias de quorum- sensing tem provado ser uma estratégia válida para a atenuação da formação de biofilme por este micro-organismo. Esta estratégia de anti-virulência é terapeuticamente atrativa desde que utiliza como alvo a virulência da bactéria e minimiza o risco de seleção de cepas resistentes (CHOW et al., 2014). De acordo com Tomaras et al. (2003) a inativação do csuE, que codifica uma adesina terminal, resulta na abolição da produção de pili e da formação de biofilme. Esta observação sugere que o operon csuE/BABCDE, que medeia a formação dos pili, desempenha papel crucial no início da formação do biofilme, por permitir a adesão de células bacterianas e iniciar a formação de microcolônias que precedem o completo desenvolvimento das estruturas do biofilme. A expressão deste operon é regulada por um sistema de dois componentes, composto por uma quinase codificada por bfmS e uma resposta regulatória codificada por bfmR. É interessante observar que a função deste sistema regulatório não é restrita à iniciação do biofilme, mas, também, na morfologia celular. De igual interesse é o fato de que a composição do meio de cultura e a interação das células com as superfícies abióticas desempenham um papel significativo quando o sistema BfmRS não é expresso (TOMARAS et al., 2008). Juntas, estas observações alicerçam a importância dos sinais extracelulares não somente na iniciação e desenvolvimento do biofilme, mas, também, na morfologia das células que irão interagir com superfícies abióticas. Gaddy et al. (2009) demonstram que A. baumannii 19606 se adere e forma biofilme em células epiteliais alveolares humanas e em filamentos de Candida albicans, mas não em células leveduriformes. De acordo com os autores, este processo não requer a expressão do operon CsuA/BABCDE, já que um derivado isogênico com um rompimento na região codificadora do csuE mostrou o mesmo fenótipo de biofilme da espécie parental. Tal fato se contrasta com observações descritas previamente, pelas quais a expressão deste gene e a subsequente montagem dos pili são passos essenciais para a formação do biofilme em poliestireno. Igualmente contrastante é a observação de que o mutante csuE de A. baumannii é capaz de aderir às células epiteliais do trato respiratório humano (DE BREIJ et al., 2009; LONGO et al., 2014). Dados disponíveis na literatura mostram que a proteína de membrana externa ompA, uma porina trimérica de 38kDa atua como um poro de difusão de 1,3nm, que desempenha papel de adesão de A. baumannii em plásticos e também na interação do micro-organismo com células epiteliais humanas e filamentos de Candida albicans (CHOI et al., 2008; GADDY et al., 2009, LONGO et al., 2014). A adesina bacteriana Bap, expressa na superfície celular e conservada entre diferentes isolados clínicos, foi primeiramente demonstrada por Loehfelm et al. (2008) em A. baumannii sendo envolvida na adesão intracelular, garantindo a maturação do biofilme em diferentes substratos (LOEHFELM et al., 2008; GOH et al., 2013). Análises por microscopia eletrônica demonstraram que Bap é requerido para a estrutura tridimensional e para a formação de canais de água em superfícies como polipropileno, poliestireno e titânio (BROSSARD e CAMPAGNARI, 2012). Nwugo et al. (2012) relataram que etanol pode afetar a formação de biofilme em superfícies abióticas. De fato, a produção de proteínas e o anabolismo de carboidratos parece aumentar na presença de etanol, aumentando assim o conteúdo de carboidratos do biofilme, e, consequentemente, a formação de biofilme e a diminuição da motilidade bacteriana. A habilidade de A. baumannii crescer como biofilme em superfícies abióticas desempenha um importante papel em doenças infecciosas nosocomiais, devido à colonização de equipamentos hospitalares e artigos médicos, como cateteres urinários, cateteres venosos centrais e tubos endotraqueais. (DONLAN, 2001; TRAUTNER e DAROUICHE, 2004; DJERIBI et al., 2012; LONGO et al., 2014). Indução de apoptose em células epiteliais Apoptose é um dos diversos tipos de morte celular programada (MCP) e é caracterizada por uma série de alterações morfológicas, incluindo a condensação do núcleo (pyknosis) e fragmentação (karyorrhexis), assim como a formação de bolhas na membrana plasmática, a qual leva a formação de corpos apoptóticos (MARIÑO et al., 2014). Apoptose é acompanhada por uma sequência de mudanças das características bioquímicas, incluindo a permeabilização da membrana externa mitocondrial (PMEM), ativação de caspases efetoras como caspase 3, caspase 6 e caspase 7, e a ativação de hidrolases catabólicas que degradam a maioria das macromoléculas da célula, incluindo o DNA. Uma importante alteração que ocorre durante o processo apoptótico é a externalização da fosfatidilserina. A fosfatidilserina, componente dos fosfolipídeos da membrana celular no interior da membrana plasmática, redistribui-se e externaliza- se para fora da membrana nos estágios iniciais do apoptose. Para a detecção de fosfatidilserina na superfície das células, a anexina A5 pode ser utilizada como um ligante marcador. A anexina A5 (peso molecular de 35kD) é uma proteína endógena humana que consiste em 319 aminoácidos, pertencente à uma grande família de ligante de cálcio e fosolípides e pode ter um papel regulador endógeno em vários processos fisiopatológico. Tal molécula se liga fortemente e especificamente a resíduos de fosfatidilserina. Há evidências de que anexina A5 está relacionada à citotoxicidade, mas sua função específica ainda precisa ser elucidada (ZHANG et al., 2011; JEONG et al., 2014). O iodeto de propídeo (IP) é largamente utilizado em conjunto com anexina A5 para determinar se as células são viáveis, apoptóticas ou necróticas, através de diferenças apresentadas na integridade e permeabilidade da membrana celular. A habilidade de IP entrar na célula depende da permeabilidade da membrana; IP não penetra em células vivas ou nos estágios iniciais de apoptose devido à presença de membrana plasmática intacta. Nos estágios tardios do apoptose e em células necróticas, a integridade das membranas plasmática e nuclear diminui, permitindo ao IP alcançar os ácidos nucléicos e intercalar-se a eles, emitindo fluorescência (RIEGER et al., 2011). Estas características morfológicas e bioquímicas facilitam a detecção de apoptose, apesar do fato de células que morrem in vivo são geralmente engolfadas e degradadas por células saudáveis antes de adquirirem um fenótipo apoptótico completo, o que significa que a incidência de apoptose é frequentemente subestimada (GALLUZZI et al., 2009). Vesículas Uma grande variedade de espécies bacterianas Gram negativas mostra habilidade de secretar vesículas da membrana externa (OMVs) durante o crescimento bacteriano (JIN et al., 2011). De acordo Kuehn et al. (2005), as OMVs são nanovesículas esféricas com um diâmetro médio de 20-200 nm e são compostas por LPS, proteínas, lipídeos e DNA ou RNA. Além disso, OMVs produzidas por bactérias Gram negativas patogênicas abrigam toxinas e fatores de virulência específicos, incluindo as toxinas termolábeis de E. coli enterotoxigênica(ETEC), a toxina Shiga de E.coli O157:H7, a toxina citoletal de Campylobacter jejuni e a proteína Cif de Pseudomonas aeruginosa (JIN et al., 2011). Sobre a transferência de fatores de virulência às células hospedeiras, as OMVs desempenham uma importante função na patogênese bacteriana, sem a interação direta entre patógenos e células hospedeiras. Em estudos preliminares, Lee et al. (2001) determinaram que as moléculas bacterianas secretadas por A. baumannii eram diretamente responsáveis pela morte da célula do hospedeiro. Dentre a variedade de moléculas bacterianas, a proteína de membrana externa de A. baumannii (AbOmpA) foi identificada como um potencial fator de virulência que induz a morte das células do hospedeiro através de alvos mitocondriais e nucleares (CHOI et al., 2008). Entretanto, a secreção e transporte de AbOmpA às células hospedeiras permanecem obscuros. Kwon et al. (2009) demonstraram, ainda, que a amostra clínica de A. baumannii DU202 secretou OMVs no espaço extracelular, durante o crescimento in vitro. Além disso, diversos fatores de virulência foram identificados nas vesículas de A. baumanii DU202, sugerindo que teriam o papel de transportar fatores de virulência para a célula hospedeira. Em estudo de Jin et al. (2011), foram avaliados os diferentes efeitos das OMVs de A. baumannii nas células hospedeiras, particularmente a secreção de vesículas pela bactéria durante a infecção in vivo, o transporte de fatores de virulência às células hospedeiras e a subsequente toxicidade. As OMVs de A. baumannii respresentam um veículo para a transferência de moléculas bacterianas às células hospedeiras e, também, apresentam um potencial fator de virulência AbOmpA enriquecido nas vesículas, o qual contribui diretamente para a morte da célula hospedeira. Resistência a antimicrobianos Diferentes definições para bactérias multidroga-resistente (MDR), extensamente resistente a drogas (XDR) e panresistente a drogas (PDR) estão sendo usados na literatura médica para caracterizar os diferentes perfis de resistência encontrados nas bactérias resistentes a antibacterianos, identificadas em instituições de cuidados à saúde. Em 2012, um grupo de profissionais se reuniu, baseados em uma iniciativa da European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) e do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), para criar uma terminologia padrão internacional a fim de descrever os perfis de resistência em Staphylococcus aureus, Enterococcus spp., Enterobacteriaceae (outras além de Salmonella e Shigella), Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter spp., todas bactérias frequentemente responsáveis por IRAS e com baixa sensibilidade aos antimicrobianos. Categorias de antimicrobianos epidemiologicamente importantes foram construídos para cada bactéria. Listas destas categorias propostas para testes de susceptibilidade a antimicrobianos foram criadas utilizando os pontos de corte e documentos do Clinical Laboratory Standards Institute (CLSI), do European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing (EUCAST) e do United States Food and Drug Administration (FDA). MDR foi definido como não-susceptibilidade adquirida a pelo menos um agente em três ou mais classes de antimicrobianos; XDR foi definido como não- susceptibilidade a pelo menos um agente em todos de cada categoria, com exceção de duas ou menos categorias de antimicrobianos (ex: isolados bacterianos que permanecem susceptíveis a todos os agentes de uma ou duas categorias) e PDR foi definido como não- susceptibilidade a todos os agentes em todas as categorias de antimicrobianos (MAGIORAKOS et al., 2012). Uma das principais características que favore a sobrevivência prolongada de A. baumannii e sua disseminação em instituições de cuidados à saúde é sua habilidade de regular sua resistência intrínseca a antimicrobianos e adquirir mecanismos externos, de outros micro-organismos. Fournier et al. (2006) descreveram estas características quando sequenciaram e analisaram o genoma de A. baumannii na França. Eles reportaram uma ilha de resistência de 86kB denominada AbaR1. Esta ilha tem 88 janelas de leitura aberta, sendo 82 delas transferidas de outros micro-organismos, incluindo Pseudomonas spp., Salmonella spp e Escherichia coli. Infelizmente, mas não surpreendentemente, devido às ilhas de resistência, isolados MDR, têm se tornado relativamente comum. Análises epidemiológicas sobre resistência de A. baumannii nos Estados Unidos mostrou que os níveis de incidência aumentaram significativamente na última década, de 32,1% em 1999 para 51% em 2010 (THE SURVEILLANCE NETWORK USA, 2012). Os mais recentes relatórios do Fórum Global de Riscos Econômicos Mundiais listou a resistência aos antimicrobianos como um dos maiores desafios para a saúde humana. É estimado que na Europa, 25.000 pessoas morrem a cada ano como resultado de doenças infecciosas causadas por micro-organismos MDR e acarreta um custo para a União Europeía de mais de 1,5 bilhões de euros anualmente (BLAIR et al., 2015). Entre 2000 e 2010, o consumo de antimicrobianos aumentou em 36%. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul representam mais de 76% deste aumento (VAN BOECKEL et al., 2014). Espécies de Acinetobacter apresentam uma grande variedade de mecanismos de resistência enzimáticos e baseados em alterações na membrana plasmática, os quais podem ser regulados positivamente sob pressão seletiva. As classes de antimicrobianos que ainda apresentam alguma atividade, com variações, incluem algumas fluoroquinolonas (ex. ciprofloxacina), aminoglicosídeos (ex.gentamicina, tobramicina e amicacina), carbapenêmicos (imipenem, doripenem e meropenem), polimixinas (polimixina B e colistina), tetraciclinas (tigeciclina e minociclina), sulfametoxazol- trimetropim e sulbactam (disponível em combinação com ampicilina). Infelizmente, a resistência adquirida tem sido relatada para todos estes antimicrobianos, através de mecanismos enzimáticos de resistência mediados por plasmídeos (carbapenemases do tipo OXA, metalobetalactamases, enzimas modificadoras de aminoglicosídeos e metilases ribossomais de rRNA 16S), alteração do alvo de ação de antimicrobianos (topoisomerases, proteínas robossomais e lipopolissacarídeos, o que confere resistência a fluoroquinolonas, aminoglicosídeos e colistina, respectivamente), perda de proteínas externas de membrana e regulação de bombas de efluxo que podem conferir resistência a betalactâmicos, fluoroquinolonas, aminoglicosídeos e tigeciclina (FIGURA 2) (ABBOTT e PELEG, 2014). A Figura 2 apresenta uma visão geral dos principais mecanismos de resistência intrínseca. O exemplo demonstra um antibiótico β-lactâmico que tem como alvo a proteína ligadora de penicilina (PBP). O antibiótico A pode entrar na célula via porinas na membrana, alcançar o alvo e inibir a síntese de peptideoglicano. O antibiótico B também poderá entrar na célula bacteriana via porina, mas ao contrário do antibiótico A, é eficientemente removido por efluxo. Antibiótico C não é capaz de cruzar a membrana externa e assim não tem acesso ao alvo. Este texto foi copiado e adaptado do artigo disponível no link: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS- AP8NS5/1/disserta__o_de_mestrado_rafaela_oliveira_fran_a.pdf
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