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Apostila Microbiologia CURSO TÉCNICO DE ANÁLISES CLÍNICAS IMPACTO ESCOLA DE SAÚDE VERSÃO 2 Adrielli Alves Carneiro | Módulo III | 2019 PÁGINA 1 Sumário 1. Introdução à microbiologia 2. Histórico da Microbiologia 3. Micro-organismos e o meio ambiente 4. Importância comercial dos micro-organismos 5. Sub-grupos dos micro-organismos 6. Bactérias: 6.1. Morfologia 6.2. Estrutura 6.3. Nutrição e crescimento microbiano 6.4. Classificação nutricional dos organismos 6.5. Microscopia e confecção de esfregaço 6.5.1. Confecção do esfregaço 6.5.2. Coloração de Gram 6.5.3. Coloração de Ziehl-Neelsen 6.5.4. Outras colorações 6.6. Reprodução dos micro-organismos 6.7. Genética bacteriana 7. Meios de cultura 7.1. Principais meios de cultura utilizados nas análisesclínicas 7.2. Técnicas de semeadura e isolamento de micro-organismos 7.2.1. Semeadura em meios sólidos 7.2.2. Semeadura em meios líquidos 7.2.3. Semeadura em meios semi-sólidos 8. Métodos físicos e químicos de controle dos micro-organismos 9. Relação bactéria-hospedeiro 10. Métodos diagnósticos PÁGINA 2 10.1. Isolamento e identificação de bactérias 10.2. Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos 11. Infecções bacterianas 11.1. Infecções do trato genito-urinário 11.2. Infecções do trato gastro-intestinal 11.3. Infecções do trato respiratório 11.3.1. Tuberculose 11.4. Pele e anexos 11.5. Líquidos cavitários 11.6. Sepse 12. Vírus 12.1. Histórico e importância 12.2. Estrutura viral 12.3. Replicação viral 13. Fungos: 13.1. Estrutura e Morfologia 13.2. Reprodução dos fungos 13.3. Pesquisa e Cultura para fungos 13.4. Principais Doenças fúngicas PÁGINA 3 1. Introdução à microbiologia Segundo os termos mikros (pequeno), bios (vida) e logos (ciência) a microbiologia é definida como o estudo dos organismos vivos microscópicos, “invisíveis a olho nu”, relacionando-os pelo seu tamanho, com as principais doenças infecciosas do homem e de seus animais domésticos, suas características, importância comercial, etc. Essa definição engloba os grupos das bactérias, arqueas, fungos, protozoários e vírus. Os micro-organismos são encontrados em todos os ambientes, incluindo solo, água, ar e participam de todas as funções vitais. Embora não possam existir dúvidas de que bactérias e vírus sejam os patógenos mais numerosos e importantes, o estudo da microbiologia também está ligado à micologia e parasitologia. A diversidade microbiana, considerando-se os parâmetros de diversidade de espécies e diversidade genética, deve suplantar, e muito, a diversidade existente em todos os demais grupos de seres vivos. 2. Histórico da microbiologia Em 1665 Robert Hooke observou pela primeira vez pequenas celas na cortiça utilizando uma versão improvisada de um microscópio rudimentar o que deu início à Teoria Celular. Em 1673 Antonie van Leewenhoek observou micro-organismos vivos na água da chuva, nas suas próprias fezes e em raspado de seus dentes através de lentes de aumento que receberam o nome de “animálculos”. PÁGINA 4 Leewenhoek é considerado o pai da Microbiologia: “eu posso julgar por mim mesmo (apesar de limpar a minha boca, como já disse), que todas as pessoas que vivem na Holanda não são tantas quanto os animais vivos que eu carrego em minha própria boca hoje”. Após Van Leeuwenhoek descobrir o antes “invisível” mundo dos micro-organismos, a comunidade científica da época ficou interessada na origem dessas minúsculas coisas vivas. E durante a segunda metade do século XIX houve uma explosão de descobertas na microbiologia. De 1857 a 1914 é considerada a Idade de Ouro da Microbiologia e é durante esse período que Pasteur e Robert Koch estabelecem a Microbiologia como ciência após liderarem rápidos avanços na área com a descoberta de agentes etiológicos de muitas doenças, o papel da imunidade na prevenção e na cura das doenças, atividades químicas de micro-organismos, as melhorias nas técnicas de microscopia, cultivo de micro-organismos além do desenvolvimento de vacinas e técnicas cirúrgicas. Foi nessa época que um grupo de mercadores franceses pediu a Pasteur que descobrisse porque o vinho e a cerveja azedavam, além de solicitarem à ele um método que impedisse a deterioração dessas bebidas. Naquele tempo, muitos cientistas acreditavam que o ar convertia os açúcares desses fluidos em álcool, porém micro- organismos chamados de leveduras convertiam os açúcares em álcool na ausência de ar através do processo de fermentação e o azedamento e a deterioração eram causados por micro-organismos diferentes que na presença de ar, transformavam o álcool da bebida em vinagre (ácido acético). A solução de Pasteur para o problema da deterioração foi o aquecimento da cerveja e do vinho o suficiente para matar a maioria das bactérias que causavam o estrago. Assim descobriu-se o processo de Pasteurização. Nesse período foi demonstrada a relação entre a deterioração de alimentos e os micro-organismos, papel fundamental e primeiro elo de ligação entre a atividade dos micro-organismos e as modificações químicas nos PÁGINA 5 materiais orgânicos o que permitiu o estabelecimento da relação entre doenças e micróbios. Antes da época de Pasteur os tratamentos eficazes para muitas doenças foram descobertos por tentativa e erro. Porém com a descoberta do processo de fermentação pelas leveduras surgiu a Teoria do Germe da Doença onde os cientistas defendiam a possibilidade de que os micro-organismos pudessem ter relações similares com plantas e animais – especificamente, que os micro-organismos pudessem causar doenças. Porém essa era uma teoria difícil de aceitar. Em 1860 Joseph Lister aplicou a teoria do germe nos procedimentos médicos assim como Ignaz Semmelweis, que em 1840, demonstrou que os médicos, naquela época, não faziam assepsia das mãos e transmitiam infecções rotineiramente (febre em crianças recém-nascidas de uma paciente de obstetrícia para outra). Robert Koch, em 1876, propôs pela primeira vez uma prova de que as bactérias realmente causavam doenças, através da descoberta da causa do Carbúnculo ou antraz (Bacillus antracis) - doença que estava destruindo os rebanhos de gado e ovelhas na Europa. A partir desses achados, Koch estabeleceu uma série de procedimentos para relacionar diretamente um micróbio específico à uma doença específica. PÁGINA 6 Exceções ao postulado de Koch: 1) Nem todos os micro-organismos crescem em meios de cultura. Por exemplo: Treponema pallidum (sífilis), Mycobacterium leprae (lepra), Riquétsias e vírus, que multiplicam-se somente dentro das células; 2) Um conjunto de sinais e sintomas podem ser os mesmos em várias doenças, por exemplo nefrite (inflamação dos rins) que é causada por vários patógenos diferentes, sendo que todos geram os mesmos sinais e sintomas. 3) Um micro-organismo pode causar várias doenças. Mycobacterium tuberculosis (doenças dos pulmões, da pele, dos ossos e dos órgãos internos), Streptococcus pyogenes (dores de garganta, febre escarlatina, infecções de pele – erisipelas, e osteomielite - inflamação nos ossos). E nos anos seguintes começou uma nova fase na história da Microbiologia, os interesses estavam em estudar as causas das doenças e associá-las a micro-organismos, os microscópios foram se tornando mais acessíveis e foram descobertas formas de corar os micro-organismos com objetivo de torná-los visíveis. No Brasil, Carlos Chagas (1878-1934) foi o grande destaque, médico sanitarista, cientista e bacteriologista, responsável por descobrir o protozoário Trypanosoma cruzi e descrever a tripanossomíase americana, conhecida como doença de Chagas. Carlos Chagas descreveu completamente uma doença infecciosa: o patógeno, o vetor (Triatominae), os hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia. Na mesma época outro cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro, Oswaldo Cruz (1872-1917),tornou-se o pioneiro no estudo de doenças tropicais e da medicina experimental, em 1900 fundou o Instituto Soroterápico Nacional no Rio de Janeiro (RJ) - Instituto Oswaldo Cruz, instituição que até hoje possui grande respeito internacional. E em 1903 Oswaldo Cruz recebeu a missão de combater as três principais epidemias que assolavam o RJ: febre amarela, peste bubônica e varíola, sendo que em 1907 foi anunciada a erradicação da febre amarela. No campo da virologia, em 1892, Dmitri Iwanowski, mostrou que organismo que causava a doença do mosaico no tabaco era tão pequeno que podia passar através de filtros finos e somente em 1935 Wendell Stanley nomeou o vírus do mosaico do tabaco (TMV, de Tobacco mosaic virus). Outros vírus foram identificados e descobertos nesse período: 1901: Reed e colegas – Febre amarela; 1903: Remlinger e Riffat-Bey – Raiva; 1907: Asburn e Craig – Dengue; 1909: Flexner e Lewis – Poliomielite; 1915: Twort e 1917 d’Herelle – Bacteriófagos. Com o desenvolvimento do microscópio eletrônico (1940) foi possível estudar a estrutura dos vírus em detalhes. Após a confirmação que micro-organismos causavam doenças, começou-se a se perguntar, então, como controlá-los? Paul Ehrlich disparou o primeiro tiro na revolução da quimioterapia e especulou sobre uma “bala mágica” que pudesse combater e destruir o patógeno sem prejudicar o hospedeiro. Em 1910 ele começou a testar centenas de substâncias, e descobriu um PÁGINA 7 agente quimioterápico chamado de salvarsan, um derivado de arsênico, efetivo contra a sífilis. No final da década de 1930 pesquisadores desenvolveram outras drogas sintéticas que podiam destruir micro-organismos. A maioria dessas drogas eram derivadas de corantes que rotineiramente eram testadas em relação à atividade antimicrobiana pelos microbiologistas, que procuravam a “bala mágica”. Foi nesse período que as sulfonamidas (drogas derivadas da sulfa) foram sintetizadas. Importante no cenário da microbiologia Alexander Fleming quase descartou algumas placas que tinham sido contaminadas por fungos em um experimento, porém ele percebeu que o fungo crescido, chamado Penicillium, causava uma inibição no crescimento microbiano, dando o nome a esse inibidor de penicilina. Entretanto, era muito difícil a purificação em quantidades suficientes desta substância, assim o acontecimento principal foi o isolamento da penicilina, feita por pesquisadores dos EUA a partir dos trabalhos de Alexander Fleming. A penicilina foi muito importante para reverter a primeira grande guerra em favor das tropas aliadas, já que as infecções nas feridas matavam muito mais que as balas. Assim, quem descobrisse um método de curar estas infecções ganharia a guerra. Este é apenas um exemplo do papel dos micro-organismos em determinar os caminhos de nossa história. Em 1939 Domagk descobriu o prontosil, derivado da sulfanilamida que iria se desdobrar na isoniazida, um agente eficaz contra a tuberculose. Mais tarde, Selman Walksman examinou solos de várias partes do mundo à procura de micro-organismos que inibissem o desenvolvimento de outros e em 1943 desenvolveu a estreptomicina (avanço importante no tratamento da tuberculose), a neomicina, o cloranfenicol e a clortetraciclina. A partir do fungo Cephalosporium acremonium - Giuseppe Brotzu observou a ausência de micro-organismos causadores de doença na água do mar que se misturava com água de esgoto e concluiu que deveria ter algum antibiótico ali. As cefalosporinas foi posteriormente purificada, e uma variedade de seus derivados está agora disponível para tratamento de doenças humanas. Atualmente nossos estudos baseiam-se em processos parecidos aos do século passado tornando-se um grande desafio para a próxima geração visto que a organização mundial da saúde (OMS) estima que a primeira causa de morte em 2050 será por infecções. 3. Os micro-organismos e o meio ambiente Os micro-organismos foram os primeiros seres vivos a colonizar a Terra. Estima-se que os primeiros micro-organismos surgiram há mais de 3,5 milhões de anos, em um período geológico em que a Terra passava por grandes transformações geológicas e químicas, e quando a atmosfera ainda não tinha oxigênio. A ação metabólica dos micro- PÁGINA 8 organismos resultou na formação atmosférica rica em oxigênio que conhecemos hoje, o que permitiu o surgimento e evolução de novas formas de vidas aeróbias, organismos multicelulares complexos, plantas e animais superiores. Hoje, micro-organismos podem ser encontrados em praticamente todos os ambientes do planeta, inclusive em locais cujas condições ambientais extrapolam os limites de tolerância de animais e plantas, graças à relativa simplicidade morfológica e grande diversidade genética e metabólica desses micro-organismos que permitiu essa adaptação à condições diversas, como baixas concentrações de água e nutrientes, extremos de temperatura, salinidade, pH e pressão, em fontes geotermais, lagos alcalinos, ambientes abissais marinhos, subsolo, no interior de rochas subterrâneas, em depósitos de petróleo, etc. O papel dos micro-organismos na manutenção dos processos biológicos ainda é pouco conhecido mas sabemos que em alguns processos ecológicos importantes eles são fundamentais, como por exemplo na fotossíntese oxigênica, ciclagem de matéria orgânica, ciclos biogeoquímicos, manutenção da fertilidade e estrutura dos solos, etc. Em contrapartida a necessidade de conhecimento sobre os micro-organismos causadores de doenças nos homens e animais fez com que a microbiologia médica se desenvolvesse em grau mais elevado. Após a Teoria do Germe da Doença e os Postulados de Koch o processo Infecção X Doença começou a ser estudado com maior profundidade. Sabe-se que os micro-organismos são ubíquos e capazes de se adaptarem a qualquer ambiente físico-químico, inclusive nos seres vivos, tornando os animais, as plantas e os seres humanos reservatórios de uma variedade de espécies bacterianas. A presença do micro-organismo permanente ou não no hospedeiro sem causar infecções ou nenhum outro dano é chamado de microbiota. No corpo humano a microbiota distribui-se pelas partes do corpo que estão em contato com o meio externo como por exemplo pele e mucosas, sendo que a colonização não ocorre de maneira homogênea nos diferentes sítios anatômicos, o que confere caracteristicas próprias aos micro-organismos presentes em cada sítio. PÁGINA 9 A microbiota pode ser dividida em dois grupos: 1. Microbiota transitória ou alóctone: compreende os micro-organismos que permanecem por pouco tempo no organismo sem estabelecer uma colonização significativo; 2. Microbiota residente ou autóctone: compreende os micro-organismos que colonizam o organismo em condições de simbiose com o hospedeiro, por período indeterminado, em situações normais. A microbiota residente possui papel importante na manutenção da integridade do hospedeiro quando em equilíbrio em um sítio específico, pois os micro-organismos oferecem barreiras de colonização por patógenos, produzem substâncias utilizáveis pelo hospedeiro (vitaminas, p.ex.), degradam produtos tóxicos, participam da modulação do sistema imune, etc. Porém a microbiota residente possui um caráter anfibiôntico podendo se tornar patogênica em situações específicas, como quando em contato com áreas não colonizadas e originariamente estéreis ou em desequilíbrio, seja pela própria composição da microbiota ou pelo sistema imune. A microbiota transitória pode ser constituída por micro-organismos potencialmente patogênicos ou não, encontrados em superfícies durante horas, dias ou mesmo semanas. Esses micro-organismos possuem pouca importância quando a microbiota residente está em equilibrio, porém em disbiose podem causar doença. Biomassa bacteriana no intestino 1,2kg (40 a 50% peso fecal) Peso médio ser humano: 70kg Nº células microbianas no TGI humano: 1014 300.000 a 1 milhão de espécies bacterianasPeso médio ser humano = 1017 vezes o peso de uma bactéria Nº células no corpo humano: 1013 PÁGINA 10 4. Importância comercial dos micro-organismos Sabe-se que os micro-organismos possuem vantagens e desvantagens: Causam doenças; Deterioram alimentos; São a base da cadeia alimentar; Degradam detritos; Participam de ciclos ecológicos e biogeoquímicos; Participam de diversos processos industriais; Na indústria, independentemente da área, os micro-organismos possuem papéis importantíssimos nos processos fazendo com que eles sejam economicamente essenciais. Na indústria alimentícia diversas são as aplicações, mas todas elas baseiam-se no fato dos micro-organismos causarem alterações benéficas ao alimento, ou seja, há micro- organismos que modificam as características originais do alimento de forma à transformá-lo em um novo alimento. O processo mais conhecido é o chamado de Fermentação. Neste grupo estão todos os micro-organismos utilizados na fabricação de Você sabe a diferença entre Prebióticos e Probióticos? Probióticos são micro-organismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Prebióticos são carboidratos não-digeríveis, que afetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação e/ou atividade de populações de bactérias desejáveis no intestino. Um produto referido como simbiótico é aquele no qual um probiótico e um prebiótico estão combinados. PÁGINA 11 alimentos fermentados, como por exemplo queijos, bebidas lácteas fermentadas, cervejas, vinhos, pães, picles, chucrute, azeitonas, etc. Podemos citar ainda muitos fungos que são comestíveis e utilizados diretamente na alimentação humana, como é o caso dos cogumelos (champignon e shitake) e os fungos que são adicionados aos queijos, por exemplo, roquefort e camembert, com objetivo de alterar o sabor. Na indústria química os micro-organismos são amplamente usados para a produção de produtos químicos, como butanol, etanol e ácido cítrico, e suplementos alimentares (aminoácidos) e enzimas, além de serem importantes agentes de biorremediação, ou seja, usados para remover ou reduzir a poluição ambiental. Sendo utilizados em processos de biocatálise, convertendo substâncias químicas em outras, com maior rapidez e menor custo que processos totalmente químicos. Outra aplicação é para produção de biocombustíveis e geração de energia. A utilização de micro-organismos é também aplicada pela indústria farmacêutica para obtenção de medicamentos que não são facilmente produzidos por síntese química. Nessa última aplicação, a química microbiana tem contribuído significativamente para a saúde da humanidade. A biotecnologia e os métodos de manipulação genética permitiram a geração de novos produtos microbianos, muitos dos quais não são produzidos naturalmente por micro-organismos, como por exemplo proteínas de mamíferos, novas vacinas, hormônios e enzimas. Um exemplo clássico é a produção da insulina recombinante humana. PÁGINA 12 5. Sub-grupos dos micro-organismos Os seres vivos foram divididos em dois grupos por Linnaeus (séc. XVIII): reinos Animal e Vegetal, sendo quem em 1866 Haeckel introduziu o reino Protista e somente em 1969 Whittaker dividiu os seres vivos, segundo suas características morfológicas e fisiológicas em 5 reinos: Monera: Procariotos Protista: Eucariotos unicelulares - Protozoários (sem parede celular) e Algas (com parede celular) Fungi: Eucariotos aclorofilados Plantae: Vegetais Animalia: Animais No entanto, a partir dos estudos de C. Woese (1977), passamos a dispor de um sistema de classificação baseado principalmente em aspectos evolutivos (filogenética), a partir da comparação das sequências de rRNA de diferentes organismos. Com esta nova proposta de classificação, os organismos são agora subdividos em 3 domínios (contendo os 5 reinos), empregando-se dados associados ao caráter evolutivo: Archaea: Procariotos Bacteria: Procariotos Eukarya: Eucariotos Acreditava-se que estes 3 domínios divergiram a partir de um ancestral comum. Provavelmente os micro-organismos eucarióticos atuaram como ancestrais dos PÁGINA 13 organismos multicelulares, enquanto as bactérias e archaeas correspondem a ramos que não evoluíram além do estágio microbiano. Os organismos do domínio Archaea são procariotos que, frequentemente são encontrados em ambientes cujas condições são bastante extremas (semelhantes às condições ambientais primordiais na Terra), sendo por isso, muitas vezes considerados como sendo “ancestrais” das bactérias. No entanto, hoje em dia considera-se as archaeas como um grupo “intermediário” entre procariotos e eucariotos. Muitos destes organismos são anaeróbios, vivendo em locais "inabitáveis" para os padrões humanos - fontes termais (com temperaturas acima de 100°C), águas com elevadíssimos teores de sal (até 5M de NaCl - limite de dissolução do NaCl), em solos e águas extremamente ácidos ou alcalinos (espécies que vivem em pH 0, outras em pH 10) e muitas são metanogênicas. Genericamente, podemos dizer que as Archaeas definem os limites da tolerância biológica às condições ambientais. Os organismos do domínio Bacteria ou Eubacteria correspondem a um enorme grupo de procariotos, anteriormente classificados como eubactérias, representadas pelos organismos patogênicos ao homem, e bactérias encontradas nas águas, solos, ambientes em geral. Dentre estas, temos as bactérias fotossintetizantes (cianobactérias) e outras quimiossintetizantes (E. coli), enquanto outras utilizam apenas substratos inorgânicos para seu desenvolvimento. Já o grupo Eukarya, no âmbito microbiológico, compreende as algas, protozoários e fungos (além das plantas e animais). As algas caracterizam-se por apresentarem clorofila (além de outros pigmentos), sendo encontradas basicamente nos solos e águas. Os protozoários correspondem a células eucarióticas, apigmentados, geralmente móveis e sem parede celular, nutrindo-se por ingestão e podendo ser saprófitas ou parasitas. Os PÁGINA 14 fungos são também células sem clorofila, apresentando parede celular, realizando metabolismo heterotrófico, nutrindo-se por absorção. Como mencionado anteriormente, os vírus são também assunto abordado em microbiologia, embora, formalmente, não exibam as características celulares, no sentido de não apresentarem metabolismo próprio, de conterem apenas um tipo de ácido nucléico, etc. Atualmente é conhecido o fato de que as bactérias estão atuando como seres multicelulares, ou seja, embora estas exibam a capacidade de sobreviver como uma célula única, realizando os processos metabólicos necessários à sua perpetuação, quando as bactérias encontram-se associadas, formando colônias, ou biofilmes (estruturas rígidas, adesivas, de natureza geralmente polissacarídica, que encontram-se fortemente ancoradas às superfícies, criando um ambiente protegido que possibilita o crescimento microbiano), estas passam a se comportar de forma social, exibindo divisão de tarefas e alterando seu perfil fisiológico de forma a apresentar uma cooperação que reflete-se em diferentes níveis metabólicos. Sabe-se que muitos genes de virulência são expressos somente quando a densidade populacional atinge um determinado ponto. Da mesma forma, a capacidade de captar DNA do meio externo, a bioluminescência, etc, envolvem a percepção da densidade populacional por parte das bactérias. Este tipo de mecanismo de comunicação é denominado “sensor de quorum” (quorum sensing) e vem sendo amplamente estudado nas mais diferentes áreas da Microbiologia, uma vez que foi descrito tanto para bactérias como para fungos. 6. Bactérias: 6.1 Morfologia: As bactérias são células procariontes, constituindo os menores seres vivos e os mais simples estruturalmente, embora complexos e diversificados do ponto de vista metabólico e bioquímico, conferindo capacidadede adaptação. As células bacterianas são caracterizadas morfologicamente pelo seu tamanho, forma e arranjo. Podem variar em tamanho de 0,3/0,8 micrometros até 10/25 micrometros, sendo atualmente descoberta uma bactéria que pode ser vista a olho nu (0,8mm). Quanto a forma e arranjo dividem-se em: Cocos: Formas esféricas que formam grupos homogêneos de células menores. o Diplococos: agrupados aos pares o Tétrades: agrupamentos de quatro cocos o Sarcinas: agrupamentos de oito cocos em forma cúbica o Estreptococos: agrupados em cadeia o Estafilococos: agrupados em grupos irregulares lembrando cachos de uvas Bacilos ou bastonetes: Formas cilíndricas ou de bastão, podendo ser longos ou delgados, pequenos e grossos, extremidade reta, afilada, convexa e arredondada. PÁGINA 15 o Diplobacilos: agrupados aos pares o Estreptobacilos: agrupados em cadeia o Paliçada: agrupados lado a lado como palitos de fósforo Helicoidais ou espiralados: Forma de espiral o Espirilos: possuem corpo rígido e se movem às custas de flagelos externos, dando uma ou mais voltas em torno do próprio eixo; o Espiroquetas: são flexíveis e locomovem-se provavelmente às custas de contrações do citoplasma, podendo dar várias voltas completas em torno do próprio eixo. Formas de transição: o Bacilos muito curtos ou Cocobacilos o Espirilos muito curtos ou Vibriões, assumindo formas de vírgula 6.2 Estrutura A célula bacteriana apresenta várias estruturas, sendo algumas delas presentes em determinadas espécies enquanto outras são essenciais e encontradas em todas as bactérias. Abaixo segue esquematizada uma célula bacteriana típica. PÁGINA 16 FLAGELOS São estruturas especiais de locomoção, constituídas pela proteína flagelina, que formam longos filamentos que partem do corpo da bactéria e se estendem externamente à parede celular. O flagelo propulsiona a bactéria por movimento rotatório (o método exato do movimento é desconhecido) e consome energia celular. Geralmente o comprimento do flagelo é superior ao da célula, porém o diâmetro é uma pequena fração do diâmetro celular. Essa é uma estrutura que pode não estar presente na bactéria. A maioria dos bacilos de importância médica apresentam flagelos. De acordo com o número e distribuição dos flagelos, as bactérias podem ser classificadas como: atríquias (sem flagelos); monotríquias (um único flagelo); anfitríquias (um flagelo em cada extremidade); lofotríquias (um tufo de flagelos em uma, ou ambas as extremidades) peritríquias (apresentando flagelos ao longo de todo o corpo bacteriano); FÍMBRIAS As fímbrias são estruturas filamentosas mais curtas e delicadas que os flagelos, semelhante a pelos, que se originam da membrana plasmática e são usados para fixação, e não para motilidade. São constituídas por uma proteína denominada pilina e estão relacionadas com a aderência às superfícies mucosas e com a troca de material genético durante a conjugação bacteriana, sendo essa última conhecida como pili ou fímbria sexual. PÁGINA 17 CÁPSULA Camada que circunda a célula bacteriana externamente à parede celular, de consistência viscosa e de natureza polissacarídica ou polipeptídica, podendo ser evidenciada por métodos especiais de coloração como a tinta nanquim. Possui como função proteção da célula bacteriana contra desidratação, fixação da bactéria em várias superfícies, e fuga de bacteriófagos por evitar a adsorção desses à célula bacteriana. Está diretamente relacionada à virulência da bactéria, pois confere resistência à fagocitose pelas células de defesa do corpo – em uma mesma espécie, amostras encapsuladas são mais virulentas que as não encapsuladas – aumentando a chance de infecção. Assim como a cápsula algumas bactérias podem apresentar outras substâncias poliméricas extracelulares com as mesmas funções, porém sem estrutura definida e de forma amorfa e dispersa. PAREDE CELULAR É uma estrutura rígida que recobre a membrana citoplasmática e dá forma às células, além de proteção, mantendo a pressão osmótica intrabacteriana e prevenindo expansão e eventual rompimento da célula. Funciona também como suporte de antígenos bacterianos. Sua composição é de peptideoglicanos – mucopeptídeo e mureína, porém estruturado de forma bem diferente em dois grandes grupos de bactérias: GRAM POSITIVAS e GRAM NEGATIVAS. Dividimos as bactérias em ambos os grupos devido ao comportamento de ambas perante a coloração de Gram, o que pode ser explicado pela diferença estrutural das paredes celulares de Gram positivas e Gram negativas, sendo o primeiro grupo mais simples do que o segundo. A parede celular das bactérias Gram positivas é formada em sua maior parte por peptideoglicano (45 a 50% da massa seca), o que torna a parede dessas bactérias mais espessa e rígida. PÁGINA 18 Possuem ácidos teicoicos em sua estrutura como fator de virulência e regulador iônico, sendo exclusivos de Gram positivas. A parede celular das bactérias Gram negativas é mais complexa apesar de apresentar uma camada de peptideoglicano menor do que a das Gram positivas, pois ela apresenta uma membrana externa envolvendo a camada de peptideoglicano que se situa no espaço periplasmático. A membrana externa serve como barreira seletiva controlando a passagem de algumas substâncias e causando efeitos tóxicos em animais infectados. Sua estrutura é formada por uma bicamada de fosfolipídios, semelhante à membrana plasmática, sendo a parte interna ancorada ao peptideoglicano e a parte externa impermeável de lipopolissacarídeo (LPS). PÁGINA 19 O LPS possui três segmentos ligados covalentemente: lipídio A, cerne de polissacarídio e antígeno O. A porção lipídica do LPS também pode ser chamada de endotoxina. Sua função é protetora para bactérias entéricas porém podem atuar como veneno, causando febre, diarreia, destruição de hemácias e um choque potencialmente fatal. A estrutura da parede celular implicará diretamente na coloração de Gram, que se baseia nas propriedades lipídicas da camada externa. É importante ressaltar que algumas bactérias possuem a composição química da parede celular diferente do descrito, outras nem apresentam parede celular. MEMBRANA CITOPLASMÁTICA É a estrutura responsável por separar o meio interno (citoplasma) do meio externo da célula. Sua composição é de cerca de 60% de proteínas imersas em uma bicamada de lipídeos (40%), sendo os fosfolipídeos os mais importantes. Funções da membrana plasmática: Transporte de solutos Produção de energia por transporte de elétrons e fosforilação oxidativa Biossíntese Duplicação do DNA Secreção Sua maior importância para a célula é a permeabilidade seletiva já que a membrana funciona como barreira osmótica impedindo a saída de água do interior da célula. Difere da membrana citoplasmática dos eucariotos por não apresentar esteroides em sua composição, ser sede de inúmeras enzimas do metabolismo respiratório, controlar a divisão celular através do mesossomo. PÁGINA 20 MESOSSOMOS São invaginações da membrana citoplasmática, podendo estar ligados próximos à membrana ou aprofundar-se no citoplasma. Possuem importante papel na respiração celular e na divisão celular. Os mesossomos profundos e centrais parecem estar ligados ao material nuclear da célula estando envolvidos na replicação de DNA e na divisão celular e os mesossomos laterais concentram as enzimas envolvidas no transporte de elétrons, conferindo maior atividade respiratória e fotossintética às células que os possuem. CITOPLASMA: O citoplasma é constituído por 80% de água, ácidos nucléicos, proteínas, carboidratos, compostos de baixo peso molecular, lipídios e íons inorgânicos, sendo o sítio das reações químicas. Podemos encontrar no citoplasma ribossomos que são responsáveis pela síntese protéica. São menores do que os ribossomos humanos (70S) e estão presentes em grande quantidade. Algumasbactérias podem apresentar grânulos de reserva, que são inclusões de acúmulo de substâncias constituídas de polímeros insolúveis (glicogênio, amido, lipídios, enxofre, polifosfato e óxido de ferro) que podem ser utilizados posteriormente pela bactéria. Outras bactérias, principalmente as que vivem flutuando em lagos, rios ou mares, apresentam vacúolos gasosos com membrana rígida formada por proteínas. NUCLEÓIDE: O DNA bacteriano, ou nucleóide procarioto, é constituído por uma única molécula dupla de fita circular de DNA. O cromossomo bacteriano não é envolto por membrana celular e não apresenta histonas, porém ele contém as informações necessárias à sobrevivência da célula e a replicação. PLASMÍDEOS: São elementos extracromossomais, moléculas menores de DNA que não codificam características essenciais mas podem conferir vantagens seletivas para as bactérias que os possuem, como por exemplo: genes de resistência à antibióticos, metais tóxicos, produção de toxinas, etc. PÁGINA 21 Os plasmídeos podem se autoduplicar independentemente da replicação cromossômica. ESPOROS BACTERIANOS Os esporos bacterianos ou endósporos são estruturas formadas por algumas espécies de bactérias Gram positivas quando o meio se torna carente de água ou nutrientes essenciais. Assim, a formação do esporo em procariotos é um tipo de diferenciação celular que ocorre como resposta a uma situação desfavorável do meio ambiente, e não uma forma de reprodução. Possuem pouca água no citoplasma, possuem parede celular muito espessa, são altamente refráteis e altamente resistentes a agentes físicos e químicos devido a sua capa impermeável composta por ácido dipicolínico. Sua função é a de proteger a célula vegetativa das adversidades do meio ambiente e sua formação leva em torno de 6 horas. Algumas espécies produtoras de esporos, frequentemente encontradas no solo e patogênicas, são: Clostridium botulinum, Clostridium perfringes, Clostridium tetani e Bacillus anthracis. O processo de formação do esporo é denominada esporogênese e pode ser verificada no esquema a seguir: PÁGINA 22 6.3 Nutrição e crescimento microbiano Nutrição em Gram positivos: sintetizam exo-enzimas, as quais são liberadas no meio clivando os nutrientes que são captados por proteínas transportadoras; Nutrição em Gram negativos: devido à presença da membrana externa de caráter hidrofóbico (LPS) apresentam um grande número de porinas que permitem a passagem de moléculas hidrofílicas de baixa massa molecular. Essas células apresentam no periplasma três tipos de proteínas: que atuam na degradação inicial dos nutrientes – hidrolases, que iniciam o transporte - proteínas de ligação e envolvidas nos processos de quimiotaxia – quimiorreceptores. Crescimento microbiano refere- se ao número de micro-organismos e não ao tamanho das células, logo, os micro-organismos em crescimento estão, na verdade, aumentando o seu número e se acumulando em colônias, que é um aglomerado de células que pode ser visualizado a olho nu. Quando uma bactéria é semeada em um meio apropriado, nas condições apropriadas, seu crescimento segue uma curva definida e característica, como a descrita abaixo. PÁGINA 23 As condições necessárias para o crescimento microbiano podem ser diferentes para cada espécie, porém, de modo geral, os fatores que influenciam no crescimento são divididos em químicos: água, fontes de carbono, nitrogênio, enxofre, fósforo, minerais, etc; e ambientais: temperatura, pH, pressão osmótica, oxigênio, etc. Os micro-organismos necessitam de um ambiente propício com todos os constituintes físicos e químicos necessários para o seu crescimento pois as substâncias ou elementos retirados do ambiente são utilizadas no anabolismo e catabolismo celular. Os fatores químicos podem ser macronutrientes e micronutrientes: Água: é o solvente universal, essencial a qualquer micro-organismo, embora as necessidades sejam variadas; Carbono: corresponde à base de todas as moléculas orgânicas. A maioria dos procariotos requer algum tipo de composto orgânico como fonte de carbono, o qual pode ser de diferente variedade (proteína, carboidrato, lipídeo ou gás carbônico); Nitrogênio: corresponde ao segundo elemento mais abundante nas células, compondo proteínas, ácidos nucléicos e peptideoglicano. Pode ocorrer sob a forma de compostos orgânicos ou inorgânicos. A sua utilização ocorre a partir da degradação de proteínas, ácidos nucléicos, bem como a partir de amônia e nitrato presentes na natureza; Fósforo: encontrado em compostos orgânicos (ácidos nucléicos) ou inorgânicos (fosfatos) sendo importante na composição do material genético e na formação da membrana plasmática (fosfolipídeos); Enxofre: compõem os aminoácidos cisteína e metionina, além de estar presente em vitaminas como a tiamina e biotina; Minerais: ferro, manganês, magnésio, cálcio, zinco, sódio, potássio, cobre, cloro, cobalto, molibdênio e selênio são cofatores de enzimas e componentes estruturais de algumas proteínas, por exemplo; Fatores orgânicos de crescimento: são compostos que os micro-organismos não são capazes de sintetizar, como vitaminas, aminoácidos essenciais, etc. Os fatores ambientais que influenciam o crescimento microbiano são: pH: a maioria das bactérias crescem dentro de pequenas variações de pH próximos a neutralidade (6,5 a 7,5). pH significa "potencial Hidrogeniônico", uma escala logarítmica que mede o grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma determinada solução. PÁGINA 24 Temperatura: cada bactéria apresenta uma temperatura ótima de crescimento, pois acima do limite ocorre desnaturação proteica e consequente morte celular, e temperaturas inferiores levam a desaceleração das atividades metabólicas; Pressão osmótica: a água presente dentro da célula bacteriana pode ser removida por elevações na pressão osmótica e caso ocorra a separação da membrana plasmática da parede celular o crescimento é inibido; PÁGINA 25 Oxigênio: pode ser inócuo, indispensável ou letal para a bactéria podendo classifica-las da seguinte forma: 6.4 Classificação nutricional dos organismos Todos os organismos podem ser classificados metabolicamente de acordo com o padrão nutricional, ou seja, sua fonte de energia e de carbono. PÁGINA 26 Formas de obtenção de energia: Fermentação: metabolismo no qual os compostos orgânicos são parcialmente degradados, é a menos eficiente; o Lática: ácido lático; o Alcoólica: etanol; o Aceto-butírica: ácido butírico e acetona; o Acética: ácido acético (vinagre); o Propiônica: ácido propiônico. Respiração: compostos orgânicos são totalmente degradados; o Aeróbica: o aceptor final de elétrons é o oxigênio, é a mais eficiente; o Anaeróbica: o aceptor final de elétrons não é o oxigênio (SO4, CO3, NO3, etc), é a mais vantajosa; 6.5 Microscopia e confecção de esfregaço As bactérias podem ser observadas de duas maneiras, com e sem coloração. Em uma observação sem coloração (a fresco, através de observação de suspensão bacteriana entre lâmina e lamínula, ou pela gota pendente), os micro-organismos são observados vivos. Geralmente, a observação a fresco é utilizada para visualização da motilidade e morfologia de bactérias espiraladas (que podem ficar distorcidas se fixadas), ou mesmo em outras bactérias, para observar alterações na divisão celular e formação de esporos. Neste caso, utiliza-se geralmente um microscópio de campo escuro, pois as bactérias ao microscópio de campo claro tendem a aparecer transparentes, sendo necessária, muitas vezes, a utilização de filtros de densidade neutra para diminuir a intensidade luminosa e facilitar a visualização. Por outro lado, em uma preparação com a utilização de corantes, os micro- organismos são corados, após serem mortos pelas interações químicas que muitas vezes podem ocorrer com auxílio de calor. Assim, quando utilizamos material fixado e corado,temos várias vantagens, pois além das células ficarem mais visíveis após a coloração, podemos transportar estas lâminas sem risco (pois o material está fixado), bem como diferenciar células de afinidades distintas aos corantes e de morfologia variada. Apesar de quimicamente distintas do meio que as rodeiam, as bactérias são quase incolores, não apresentando contraste suficiente, o que dificulta sua visualização. A diferença química entre as bactérias e o meio é que nos permite distingui-las por técnicas de coloração. Muitas vezes o corante não reage com o meio externo, tornando-as quando coradas, mais visíveis ao microscópio. Desta maneira poderemos observar suas formas fundamentais, dimensões e arranjos. A coloração apresenta ainda outras vantagens, pois com a utilização da objetiva de imersão na microscopia óptica teremos uma maior amplificação da imagem, além de nos permitir o estudo de estruturas da célula bacteriana como: parede celular, endósporos, flagelos e cápsula. PÁGINA 27 Em geral, as bactérias coram-se com os derivados de anilina (azul de metileno, fucsina, cristal violeta, etc.) que são corantes básicos (íon colorido = cátion) e que possuem afinidade pelo citoplasma destas células. Esta afinidade se deve ao fato do citoplasma bacteriano apresentar carga elétrica negativa, derivada, principalmente, dos radicais fosfatos dos ácidos nucléicos que aí se encontram. 6.5.1 Confecção do esfregaço Pode-se fazer o esfregaço diretamente do material biológico ou da colônia bacteriana. Um esfregaço consiste numa preparação seca de células microbianas numa lâmina de vidro. Primeiro é importante que as lâminas estejam limpas. Depois os micro- organismos devem ser espalhados na lâmina em determinada concentração de modo que fiquem adequadamente separados uns dos outros. É absolutamente essencial evitar esfregaços espessos, considera-se um bom esfregaço aquele que, quando seco, aparece como uma fina camada esbranquiçada, logo, deve ser pouco espesso e homogêneo. Deve ser feito em área de segurança biológica, a partir de um caldo preferencialmente, ou do material diluído em salina, espalhado com alça bacteriológica em lâmina de vidro limpa, desengordurada e seca. Esfregaços feitos a partir de meios de cultura líquidos ou sólidos implicam técnicas diferentes: meios de cultura líquidos: mergulha-se a alça na suspensão microbiana e coloca- se diretamente no centro da lâmina; depois espalha-se, com o mesmo instrumento, de modo a ocupar uma área de 1cm2. meios de cultura sólidos: coloca-se uma gota de água destilada ou salina estéril no centro da lâmina; retira-se com a alça uma pequena quantidade do inóculo, suspendendo-o e homogeneizando-o na gota; depois espalha-se a suspensão de uma forma idêntica à anteriormente descrita. Posteriormente, a lâmina deverá ser seca ao ar. A secagem é executada deixando a lâmina ao ar ou colocando-a na estufa. Pode colocar-se a lâmina sobre dois dedos da nossa mão que é mantida acima da chama do bico de Bunsen à distância que conseguirmos suportar a intensidade do calor. A secagem deve ser feita com calor moderado (37º C) para que a água seja evaporada lentamente e deste modo não ocorra destruição ou distorção morfológica das células microbianas da preparação. É importante uma boa secagem antes de se proceder à fixação. Na secagem de um esfregaço, não devemos assoprar sobre o esfregaço ou balançar a lâmina ao ar, pois outros micro-organismos podem contaminar sua amostra a ser avaliada. Após a secagem, a lâmina deverá ser fixada, antes de iniciarmos o processo de coloração. PÁGINA 28 A fixação evita que as células dos micro-organismos sejam lavadas e perdidas durante o processo de coloração. Além disto, a fixação permite a aderência das células à lâmina, matando os micro-organismos através da coagulação de seus protoplasmas, preservando suas estruturas na forma e posição originais. O calor é o método de fixação frequentemente utilizado. Para fixarmos, passamos a lâmina com o esfregaço voltado para cima, por três vezes através da chama. Evitar o superaquecimento testando a cada passada na chama a temperatura da lâmina no dorso da mão. Esta etapa é essencial pois se o esfregaço não está fixado ao vidro da lâmina ele vai ser removido durante a fase de coloração. A fixação pelo calor permite preservar a forma do micro-organismo, mas alguns componentes celulares podem ser danificados. Na fixação química (ex. etanol, formaldeído, glutaraldeído, etc.), geralmente, não há destruição da estrutura das células que ficam fixadas à lâmina. Durante o processo de fixação pelo calor (este deve ser mais forte do que na secagem) são inativadas as enzimas que podiam alterar a morfologia celular, endurecidas as estruturas celulares para que não se alterem durante a coloração e observação, dado que as proteínas microbianas coagulam e fixam-se à superfície da lâmina. Para que as células fiquem aderentes ao vidro segura-se a lâmina de um lado e fazem- se 2 a 3 passagens pela chama do bico de Bunsen. Agora o esfregaço está pronto para sofrer o processo de coloração. PÁGINA 29 É importante lembrar que o esfregaço deve estar concentrado na porção central da célula, pois caso contrário não será possível visualizá-lo no microscópio. Caso o material biológico venha coletado em swab a confecção do esfregaço deve ser feita de forma diferente. O swab deve ser rolado para frente e para trás na lâmina e não esfregado sobre a lâmina de forma a evitar a destruição das estruturas e formar uma fina camada do material sobre a lâmina. Na preparação de esfregaços de materiais espessos ou semi-sólidos, como por exemplo fezes, pode-se utilizar um swab, para auxiliar a espalhar o material de maneira homogênea sobre a lâmina. PÁGINA 30 A partir da lâmina pronta procede-se a coloração. São dois os processos que nos permitem corar as bactérias: COLORAÇÕES SIMPLES: nestas colorações utilizamos apenas um corante e ela baseia-se na diferença química existente entre as bactérias e o meio. Uma vez coradas, apresentam contraste, podendo ser visualizadas com mais clareza. Corantes mais frequentemente utilizados em colorações simples bacterianas : Tipo de Corante (Básico) Incubação Azul de metileno 1-2 minutos Cristal violeta 20-60 segundos Carbolfucsina 15-30 segundos COLORAÇÕES DIFERENCIAIS: nestes tipos de coloração utilizamos geralmente mais de um corante além de mordentes e do diferenciador. Baseia-se na diferença química existente nas diferentes estruturas celulares, consequentemente na reação diferencial de variadas bactérias e suas estruturas frente a um determinado corante. No geral, as colorações diferencias tem valor taxonômico e diagnóstico, são utilizadas para distinguir diferentes tipos de bactérias e suas estruturas. Dentre os métodos diferenciais existentes, aqueles que apresentam maior importância dentro de um Laboratório de Microbiologia são o método de Gram, o método de Ziehl-Neelsen e o método de Albert- Laybourn. Além disso, destaca-se ainda o método de Fontana-Tribondeau, que apesar de não ser diferencial, ainda é utilizado em alguns laboratórios, com certa frequência. Existem ainda os métodos de coloração pouco usados na rotina laboratorial, mas que podem ser úteis quando há necessidade de evidenciação de alguma estrutura específica, como a coloração de flagelos, esporos e cápsula. PÁGINA 31 6.5.2 Coloração de Gram Desenvolvida pelo médico dinamarquês Hans Christian Joachim Gram, em 1884. Tem como fundamento o fato de que as bactérias, quando coradas por derivados próximos da rosanilina (violeta genciana, cristal-violeta, metilvioleta, etc.) e depois tratadas pelo iodo (solução iodo-iodetada, conhecida como lugol), formam um composto de coloração escura roxa ou azul escuro. Este composto, nas bactérias Gram- positivas, é fortemente retido e não pode ser facilmente removível pelo tratamento posteriorcom o álcool, ao passo que nas Gram-negativas este composto é facilmente descorado pelo álcool. Muitas explicações já foram sugeridas na tentativa de elucidar o mecanismo da reação de Gram. As mais plausíveis dizem respeito à diferença na estrutura química da parede celular. Num primeiro momento, todas as bactérias (G+ e G-) absorvem igualmente o cristal violeta (corante básico que possui afinidade pelos seus citoplasmas, devido à carga elétrica negativa oriunda principalmente dos radicais fosfatos dos ácidos nucléicos). A seguir, o lugol reage com o cristal violeta formando o complexo iodo-cristal violeta (CV-I), que se fixa e cora a célula mais intensamente. Posteriormente, quando tratamos o esfregaço com álcool, as bactérias se comportam de maneira diferente: As bactérias Gram-positivas não se descoram facilmente pelo tratamento com o álcool. Isto se explica pelo fato dessas bactérias possuírem uma espessa parede celular (várias camadas de peptidioglicano), além de outros possíveis componentes, como: ácidos teicóicos, proteínas, polissacárides e etc. Estas substâncias não são solúveis em álcool, que parece atuar reduzindo a permeabilidade da parede, dificultando a extração (saída) do complexo CV-I (no citoplasma). A bactéria Gram-positiva permanece então com a coloração (coram-se em roxo) até o final. As bactérias Gram-negativas são descoradas pelo tratamento com o álcool. Estas bactérias possuem uma delgada camada de peptideoglicano (que não é suficiente para impedir a passagem do solvente) além de uma membrana externa rica em lipídios (lipoproteina, fosfolípides e lipídio “A” que participa do LPS). O álcool solubiliza (dissolve) estes lipídeos (muitas vezes dissolvendo membrana externa), o que contribui para um aumento da permeabilidade da parede, permitindo a remoção CV-I, descorando a célula. Finalmente, as bactérias descoradas pelo álcool, por não apresentarem contraste que permita sua visualização, são contra coradas pelo corante secundário, que é a fucsina (coram-se em rosa). É importante sempre utilizar culturas jovens para não haver falsos negativos => Gram- labilidade PÁGINA 32 PÁGINA 33 Limitações da coloração de Gram: É inestimável o auxílio efetivo da coloração de Gram no diagnóstico microbiológico, entretanto em algumas situações é contra indicada a sua utilização, como por exemplo, na pesquisa de estruturas bacterianas como cápsulas e esporos, ou na pesquisa de micobactérias e fungos filamentosos. Alguns micro-organismos Gram positivos em cultivos superiores a vinte e quatro horas podem se apresentar Gram negativos. Micro- organismos que sofreram ação de determinados antimicrobianos podem apresentar-se falsamente Gram negativos; a recíproca não é verdadeira. Convém lembrar que a maioria das interpretações equívocas de esfregaços corados pelo Gram devem-se a falhas na preparação da lâmina, como um esfregaço demasiado espesso, excessiva fixação pelo calor, ou descoloração insuficiente ou prolongada. O achado de micro-organismos vermelhos próximos a elementos celulares corados fortemente como Gram positivos em uma parte mais espessa do esfregaço, confirma que se tratam de organismos Gram negativos e que não são bactérias Gram positivas descoradas em excesso. Cuidados importantes: Inspecionar diariamente os corantes, os quais devem ser estocados a temperatura ambiente em local sem variações bruscas de temperatura, a fim de se evitar precipitação, e ao abrigo da luz; Comparar os resultados finais da morfologia PÁGINA 34 pelo Gram com a cultura, caso resultados diferentes do esperado forem obtidos, revisar tanto a coloração quanto a cultura. OBS: Nem todos os micro-organismos corados pelo Gram podem ser cultiváveis. Lâminas de referência são úteis para comparação e treinamento. 6.5.3 Coloração de Ziehl-Neelsen Desenvolvida pelo bacteriologista Franz Ziehl e pelo patologista alemão Friedrich Carl Adolf Neelsen, em 1882, baseia-se na propriedade de poucos gêneros bacterianos de resistirem ao descoramento com uma solução de álcool-ácido, após tratamento pela fucsina fenicada aquecida, permanecendo coradas de vermelho, diferentemente das outras bactérias, que, por não possuírem esta propriedade, tomam a cor do corante de fundo, normalmente feita com azul de metileno ou ácido pícrico saturado. A álcool- ácido-resistência está relacionada à existência na parede celular destas bactérias de lipídeos fortemente ligados como o ácido micólico, que provocam hidrofobicidade, dificultando a penetração de corantes aquosos, a ação dos mordentes e dos diferenciadores. O estudo das micobactérias apresenta grande importância em medicina humana e animal. No gênero Mycobacterium incluem-se os agentes da tuberculose humana (M. tuberculosis) e bovina (M. bovis) e da lepra (M. leprae), além de outras espécies, algumas saprófitas e outras oportunistas. São bactérias com forma de bastonetes, não esporuladas e aeróbias estritas, o que explica a predileção delas em causar doenças no pulmão, que não são coradas com facilidade, não são Gram positivas nem Gram negativas. Estas bactérias apresentam grande resistência à ação dos agentes químicos (detergentes, ácidos e álcalis), o que permite o seu isolamento em material contaminado com outros PÁGINA 35 micro-organismos. As micobactérias possuem crescimento lento, mesmo em condições ótimas (18 horas), e exigem meios de cultura complexos para seu crescimento, que ocorre a partir de 12 a 15 dias para visualização de poucas colônias (as culturas devem ser mantidas em observação de 6 a 8 semanas para diagnóstico definitivo). Antes da semeadura do material, se contaminado, deve-se proceder à descontaminação, para a qual existem vários métodos. Um dos métodos mais utilizados para diagnóstico de tuberculose é a bacterioscopia do escarro pela coloração de Ziehl-Neelsen, que é um método simples, denominado pesquisa de BAAR (Bacilo álcool-ácido resistente). Assim, o resultado do BAAR positivo num escarro implica na ideia de que se trata do M. tuberculosis, e, associado aos sinais e sintomas do paciente, este resultado tem grande margem de segurança, mas não deve ser encarado como valor absoluto, visto que outras bactérias do mesmo gênero coram- se pelo BAAR da mesma forma. Além do escarro, outros materiais biológicos podem ser usados para o diagnóstico da tuberculose pulmonar (lavado brônquico, lavado gástrico, “swab” de laringe) e de outros órgãos (urina, líquor, peças de biópsia, etc). Os BAAR apresentam-se como bastonetes finos, corados em vermelho, sobre fundo corado em azul. O resultado do exame de escarro corado pelo Ziehl-Neelsen pode ser dado conforme a seguinte tabela do Serviço Nacional de Tuberculose. RESULTADO INTERPRETAÇÃO Negativo Ausência de BAAR em 100 campos microscópicos Exame a ser repetido 1 a 2 BAAR em 100 campos microscópicos Positivo (+) Menos de 10 BAAR em 100 campos microscópicos Positivo (++) 1 a 10 BAAR em 10 campos microscópicos Positivo (+++) 11 a 100 BAAR em 10 campos microscópicos Positivo (++++) Mais de 100 BAAR em 10 campos microscópicos A partir de esfregaços em lâminas, homogêneo, delgado e fixado, deve-se cobrir o esfregaço com solução de fucsina de Ziehl, deixar agir por 5 a 10 minutos, aquecendo com chama branda (evitar a fervura), até desprendimento de vapores (essa etapa pode ser realizada em banho-maria, todavia, o tempo de aquecimento dobra para até 20 minutos). Lavar em água corrente e descorar com solução de álcool-ácido clorídrico a 1%. Cobrir o esfregaço com azul de metileno, por aproximadamente 30 segundos, lavar, deixar secar e examinar a lâmina ao microscópio com a objetiva de imersão. 6.5.4 Outras colorações a. Coloração de Fontana Tribondeau: Método desenvolvido em 1920 mas não é um método de coloração verdadeiro. Na realidade, trata-se de uma técnica de impregnação pela prata usada para auxiliar a visualização de bactérias espiraladas, as quais, geralmente,são muito finas e se coram de forma insuficiente pelo Gram (ex.: Leptospira interrogans e treponemas). A partir desta técnica, as espiroquetas aparecem em cor marrom-escura ou negra, sobre um PÁGINA 36 fundo amarelo-castanho ou marrom claro. Atualmente, os laboratórios têm utilizado mais a microscopia de campo escuro a fresco para visualizá-las, ou os métodos de imunoflorescência. A partir de esfregaços em lâminas homogêneo, delgado e fixado, cobrir o esfregaço com a solução fixadora (renová-la 3x, por 30 segundos), cobrir com solução mordente, aquecendo a lâmina até emitir vapores. Aguardar 30 segundos e lavar em água corrente. Tratar pela solução impregnadora de prata (nitrato de prata amoniacal), aquecendo ligeiramente a lâmina até a emissão de vapores, deixando agir por 30 segundos (a preparação toma a cor marrom). Secar ao ar e examinar a lâmina ao microscópio com a objetiva de imersão. PÁGINA 37 b. Coloração de Albert-Laybourn: Foi sugerida inicialmente por Henry Albert, em 1920, e modificada por Ross Laybourn, em 1924. Baseia-se no fato de algumas bactérias apresentarem corpúsculos citoplasmáticos localizados nas regiões polares (corpúsculos metacromáticos, ou corpúsculos de Babes Ernst, ou também chamadas de granulações de volutina), que se coram pelo Lugol forte (de cor marrom), se evidenciando, em contraste com o corpo bacilar, que se cora em verde-azulado pela solução de Laybourn. Tais características são observadas nas corinebactérias e sua presença é associada aos sintomas clínicos característicos da difteria, o que possibilita um diagnóstico presuntivo da doença, pela microscopia ótica. O método é auxiliar no diagnóstico da difteria, já que geralmente é clínico, mas a pesquisa de bacilos metacromáticos cuidadosamente coletados a partir da face anterior da pseudomembrana pode ser um importante auxiliar diagnóstico. O cultivo de corinebactérias é possível, mas seu uso clínico é bastante reduzido. O exame direto de esfregaço de naso e orofaringe é padrão ouro para triagem de infecção pelo Corynebacterium diphtheriae. Sugere positividade a presença de bacilos Gram-positivos pleomorfos, em grande número (predominância), com morfologia e distribuição características. À coloração de Albert Laybourn, presença de grânulos metacromáticos no citoplasma de bacilos, além da morfologia e distribuição característica (em paliçada, letras chinesas). Tais achados sugerem bacilo diftérico e devem ser comunicados imediatamente ao médico. A difteria, que também pode ser chamada de crupe, é uma doença infecciosa transmitida de pessoa para pessoa por meio das vias respiratórias ou através de contato físico. As bactérias formam placas amareladas que se alojam nas amígdalas, laringe, faringe, nariz e até mesmo na conjuntiva e na pele. Em casos severos da difteria, inchaços no pescoço aumentando os gânglios linfáticos podem ocorrer causando dificuldade para respirar ou bloquear totalmente a respiração, levando o paciente à morte. A doença pode ser prevenida com a vacinação. A difteria afeta mais crianças do que adultos. Apesar de ser mais comum nos mais jovens, a mortalidade da doença afeta de 5 a 10% das crianças e 20% adultos com mais de 40 anos de idade. A transmissão é feita através de gotículas de secreção respiratória, com espirros, tosse ou até mesmo durante conversas, e também pode ocorrer através do consumo de leite cru. Com período de incubação médio de 3 a 5 dias, a pessoa infectada pode transmitir a doença por até 15 dias após o primeiro contato. Após o tratamento, a bactéria pode ficar inativa no corpo por 6 meses ou mais. As pessoas mais suscetíveis à doença são aquelas que estão com a imunidade baixa, vivem em condições de superlotação ou insalubres, vão à cidades em que a difteria é endêmica, e que não receberam a vacina. PÁGINA 38 A partir de esfregaços em lâminas homogêneo, delgado e fixado, cobrir o esfregaço por 3 a 5 minutos, com a solução de Albert-Layborn. Escorrer (sem lavar) e cobrir com solução Lugol forte, por aproximadamente 2 minutos. Examinar a lâmina ao microscópio com a objetiva de imersão. c. Coloração para esporos com verde malaquita (Wirtz- Conklin) A descoberta dos endósporos bacterianos data de 1838, tendo sido descritos por Ehrenberg como sendo corpos refratários à coloração, formados no interior de células bacterianas. Estudos, feitos de modo independente por Cohn e Koch em 1876, demonstraram a resistência destas estruturas a temperaturas elevadas (100°C) e a sua germinação sob condições diferentes das que tinham permitido a sua formação. Koch, em 1888, descreveu os principais acontecimentos envolvidos na esporulação e germinação de Bacillus anthracis. Define-se como espessamento da membrana celular, com uma forma rígida, que pode ser esférica ou alongada no interior do qual a célula é capaz de resistir ao processo de perda de água (desidratação) e altas temperaturas ou a congelamentos, ficando no estado de dormência por tempo indeterminado. Durante o tempo de dormência esse organismo se divide uma ou mais vezes. Quando o ambiente torna-se novamente favorável o esporo se rompe liberando novos indivíduos. Assim, considera-se o esporo ou endósporo bacteriano uma célula de parede espessa formada no interior de algumas bactérias. É muito resistente ao calor, à dessecação e outros agentes químicos e físicos, sendo capaz de permanecer em estado latente por longos períodos e, em seguida, germinar, dando origem a uma nova célula vegetativa. Os esporos são difíceis de serem corados, pois os corantes geralmente não atravessam a parede do esporo a não ser que seja utilizado o calor. A parede do esporo é relativamente impermeável, porém os corantes podem atravessá-la mediante o aquecimento da preparação. A seguir, a mesma impermeabilidade serve para evitar a descoloração do esporo pelo tratamento com álcool, suficiente para descorar as células vegetativas, que podem ser finalmente contracoradas. Comumente, os esporos são corados com verde de malaquita ou carbolfucsina. A exposição prolongada ao corante verde malaquita, associado ao aquecimento, permite a penetração do corante e a coloração do esporo por um verde intenso. Como contraste (contracorante), utiliza-se a safranina, que cora outras estruturas em vermelho, facilitando a diferenciação dos esporos. PÁGINA 39 6.6 . Reprodução dos micro-organismos: As bactérias se multiplicam por: Cissiparidade, Fissão ou Divisão Binária, um processo devido à formação de septos na região do mesossomo, que se dirigem da superfície para o interior da célula, dividindo a bactéria em duas células filhas. A fissão é precedida pela replicação do DNA, que se processa de modo semi- conservativo, e cada célula filha recebe uma cópia do cromossomo da célula mãe. O período de divisão celular depende do tempo de geração de cada bactéria, que é o tempo necessário para uma célula se dividir em duas, por exemplo a E.coli possui um tempo de geração de 20 minutos, enquanto o M.tuberculosis 24 horas e o M.leprae 11 dias. É considerado um processo natural de clonificação, onde não há amplificação da variabilidade genética. É considerada reprodução assexuada. 6.7 . Genética bacteriana: Os elementos celulares envolvidos na genética bacteriana são o nucleóide ou cromossomo bacteriano, o DNA extracromossomal, pili ou fímbria sexual, mesossomo e ribossomos. Cromossomo ou Nucleóide: constituído por uma única molécula de DNA fita dupla, circular e não delimitado por membrana nuclear. Contém todas as informações necessárias à sobrevivência da célula e é capaz de auto- duplicação. Não contém íntrons e seus genes podem ser transferidos associados a plasmídeos, transposons e bacteriófagos. DNA extracromossomal: PÁGINA 40 o Plasmídeos: segmentos de DNA fita dupla circulares; ocorrem principalmente em Gram negativos; codificam genes não essenciais e muitas vezes podem mediar resistência múltipla a drogas;Possuem alta taxa de transferência de uma célula para outra e podem transferir genes próprios, cromossômicos e transposons. o Transposons: segmentos de DNA fita dupla, com extremidades repetidas e invertidas que codificam caracteres não essenciais; não auto-duplicam e são altamente móveis dentro do genoma. Tranferem-se ligados a plamídios e cromossomo. o Integrons: menores que os transposons; segmentos de DNA fita dupla; não auto-duplicam; capturam genes de resistência a drogas do citoplasma. Pili ou Fímbria sexual: aparato envolvido na conjugação bacteriana; Mesossomo: ligado ao material nuclear e está envolvido na replicação do DNA e na divisão celular; Ribossomos: cerca de 15.000 por célula, sendo cerca de 80% na forma de polirribossomos (ligados ao RNA mensageiro) Flux0 da informação genética: Genoma: sequência completa de DNA, sendo algumas não convertidas em produtos funcionais, enquanto outras sequências de nucleotídeos, denominadas Gene, são expressas em um produto funcional, ou seja, molécula de RNA e proteína. PÁGINA 41 Variabilidade genética: As bactérias podem apresentar variações que conduzem à formação de clones com propriedades distintas do clone “selvagem” original. A variação se dá através de mutação ou recombinação. Na mutação há alteração das bases nitrogenadas do DNA o que pode modificar o produto (proteína). Sendo que essas alterações podem ser neutras, desvantajosas ou benéficas. Ocorre naturalmente na divisão celular durante a replicação do cromossomo bacteriano. É um processo aleatório e vertical, já que é passada para as células filhas. A recombinação envolve a transferência genética entre duas células onde há ganho de material genético exógeno, sendo horizontal. Ocorre durante os processos de conjugação, transformação ou transdução. Transformação: há captação de fragmentos de DNA do meio ambiente após morte celular e pode ocorrer inter-espécies e entre espécies diferentes. PÁGINA 42 Conjugação: há transferência de DNA de uma bactéria para outra que envolve o contato entre as duas células. A célula portadora dos plasmídeos é denominada F+, doadora, enquanto a célula desprovida de tais plamídeos é denominada F-, receptoras. O tubo de conjugação é denominado pili sexual, e é por ele que ocorre o contato entre as células. A transferência é unilateral e após a conjugação ambas as células passam a ser F+. Transdução: há transferência de DNA mediada por vírus – bacteriófago. PÁGINA 43 7. Meios de cultura: Para cultivar micro-organismos em sistemas artificiais deve-se obedecer a requisitos básicos, como a utilização de um meio com aporte nutricional adequado para aquele micro-organismo, além de condições físico-químicas adequadas para o seu desenvolvimento. Para isso utiliza-se meios de cultura que são misturas de compostos nutrientes necessários ao crescimento microbiano. O meio de cultura deve atender as exigências nutricionais específicas do grupo, do gênero, ou da espécie que se deseja cultivar. Algumas bactérias crescem em qualquer meio de cultura, outras necessitam de meios especiais e existem bactérias que não são capazes de crescer em nenhum meio de cultura já desenvolvido. Um meio de cultura deve conter: Água em quantidade necessária ao micro-organismo em estudo; Substâncias nutritivas em quantidade adequada: fontes de energia, carbono, enxofre, nitrogênio, fósforo, sais, íons e fatores de crescimento; Condições físico-químicas adequadas: temperatura, pH, pressão osmótica e atmosfera de incubação. Todos os meios de cultura utilizados em microbiologia devem estar livres de contaminação, ou seja, devem ser esterilizados. Quanto ao estado físico, os meios de cultura podem ser líquidos, sólidos (1,5% de ágar p/v) e semi-sólidos (0,5 a 0,75% de ágar p/v), sendo o ágar um polissacarídeo obtido a partir de algas que funciona como agente solidificante. Não tem função nutritiva e seu ponto de fusão é de 95°C. Os meios de cultura podem ser divididos em: Meios de triagem: meios utilizados para separar bactérias da mesma família. PÁGINA 44 Meios de enriquecimento: aumentam a possibilidade de crescimento da espécie desejada, quando a mesma se encontra em pequeno número, pois substâncias de enriquecimento (soro, ovo, extrato de levedura) são adicionados ao meio. Meios complexos: possuem componentes essenciais ao crescimento da maioria dos micro-organismos quimioheterotróficos. A composição não é exatamente conhecida pois possuem substâncias como extrato de levedura (ricos em compostos vitamínicos do tipo B), peptonas, etc. Meios seletivos: inibem o desenvolvimento de determinados micro- organismos devido à ação de substâncias inibitórias (antibióticos, corantes, etc) favorecendo o crescimento dos micro-organismos de interesse. Meios seletivo-indicadores: são utilizados par o isolamento e identificação presuntiva de micro-organismos. Meios redutores: são utilizados para o crescimento de bactérias anaeróbias obrigatórias pois possuem substâncias capazes de reduzir o meio eliminando o oxigênio. Meios quimicamente definidos ou sintéticos: meio no qual a composição química é exatamente conhecida, geralmente utilizado para o cultivo de bactérias quimioheterotróficas mais exigentes. 7.1. Principais meios de cultura utilizados nas análises clínicas Ágar chocolate: é amplamente utilizado para o cultivo de micro-organismos exigentes, embora cresçam neste meio quase todos os tipos de micro- organismos. À base do meio, é adicionado sangue de cavalo, carneiro ou coelho em temperatura alta, o que faz com que as hemácias lisem, liberando hemina e hematina, compostos fundamentais para o crescimento dos micro-organismos fastidiosos. Por ser um meio rico, o crescimento a partir de materiais biológicos em geral costuma ser abundante. Utilizado para semeadura de Líquor e repiques de hemocultura. Ágar Thayer-martin chocolate: é um meio rico e superior a outros meios de cultivo destinados para o isolamento de Neisseria gonorrhoeae e Neisseria PÁGINA 45 meningitidis , pois contém em sua fórmula antibióticos que inibem o crescimento de Neisserias saprófitas e outras bactérias, quando em amostras colhidas de sítios contaminados. Ágar SS – Salmonella e Shigella: possui componentes (sais de bile, verde brilhante e citrato de sódio) que inibem micro-organismos Gram positivos. A incorporação de lactose ao meio permite diferenciar se o micro-organismo é lactose positiva (colônias de cor rosa), e bactérias que não fermentam a lactose formam colônias transparentes. Permitem ainda a detecção de H²S evidenciado por formação de colônias de cor negra no centro. Utilizado para coproculturas. Caldo selenito: tem propriedades que inibem coliformes e outras espécies da flora intestinal como estreptococos. Utilizado para o enriquecimento e isolamento de Salmonella spp. e Shigella spp. em amostras de fezes. Caldo tioglicolato: dá suporte para o crescimento de vários micro-organismos. O potencial de oxidação e redução baixo do meio neutraliza efeitos antibacterianos de algumas espécies. A resazurina e o azul de metileno são indicadores da posição de oxidação de aeróbios. Usado para o cultivo de micro-organismos aeróbios, microaerófilos e anaeróbios de diversos materiais. Ágar Mac Conkey: Possui cristal violeta que inibe o crescimento de micro- organismos Gram positivos especialmente enterococos e estafilococos. Utilizado para isolar bacilos Gram negativos (enterobactérias e não fermentadores) e verificar a fermentação ou não da lactose. Ágar sangue: usando uma base rica, oferece ótimas condições de crescimento a maioria dos micro-organismos. A conservação dos eritrócitos íntegros favorecem a formação de halos de hemólise nítidos, úteis para a diferenciação de Streptococcus spp. e Staphylococcus spp. Por ser um meio rico, o crescimento a partir de materiais biológicosem geral costuma ser abundante. Ágar cled ou brolacim: Usado para isolamento e quantificação de micro- organismos presentes em amostras urina. A deficiência de eletrólitos inibe o véu de cepas de Proteus. Organismos que fermentam lactose baixam o pH e mudam a cor do meio de verde para amarelo, podendo assim verificar se o micro- organismo é lactose negativa ou positiva; Caldo BHI (Brain and heart infusion): é um meio derivado de nutrientes de cérebro e coração, peptona e dextrose. Meio para cultivo de estreptococcos, pneumococos, meningococos, enterobactérias, não fermentadores, leveduras e fungos. Pode ser utilizado na preparação do inóculo para teste de susceptibilidade aos antimicrobianos, para realização de teste de coagulase em tubo, para teste de crescimento bacteriano a 42 e 44°C e para teste de motilidade em lâmina. Caldo Todd: é usado para o cultivo de Streptococcus agalactiae ( beta - hemolíticos do grupo B ). Possui em sua composição peptonas para um bom crescimento, dextrose para estimulação da produção de hemolisina e tampões, e antibióticos gentamicina e ácido nalidixico para favorecer o isolamento de amostras com microbiota mista. Ágar Sal Manitol ou 7,5: é um meio de cultura muito usado para o isolamento de Staphylococcus aureus de amostras biológicas como urina, secreções, feridas e exsudatos. A degradação do manitol com a produção de ácido muda a cor do PÁGINA 46 meio de rosado a amarelo. Devido ao seu alto conteúdo de cloreto de sódio, pode-se fazer uma inoculação maciça da amostra em estudo. Lowestein-Jensen: a base do meio é constituída por ovos integrais, o que permite amplo crescimento das micobactérias e o crescimento é satisfatório para o teste de niacina (que é positivo para Mycobacterium tuberculosis). Para materiais biológicos de sítios contaminados, fazer descontaminação prévia. Ágar Mycosel: a Cicloheximida, um dos componentes do meio, serve para selecionar dermatófitos, e o cloranfenicol inibe o crescimento de bactérias e alguns fungos filamentosos. Utilizado para o isolamento de fungos patogênicos, principalmente dermatófitos, a partir de material de investigação contaminado. Ágar Sabourand: meio com nutrientes que favorece o crescimento de diversos fungos leveduriformes e filamentosos, particularmente associados a infecções superficiais. Ágar Mueller-Hinton: Ágar padronizado por Kirby e Bauer e pelo NCCLS que oferece condições de crescimento das principais bactérias. Utililizado para a realização do teste de avaliação da resistência aos antimicrobianos pelos métodos de difusão em disco e E-test para enterobactérias, não fermentadores, Staphylococcus, Enterococcus sp. 7.2 Técnicas de semeadura e isolamentos de micro- organismos: Uma cultura pura corresponde a uma cultura contendo um único tipo de organismo isolado, o que é importante e o objetivo durante a análise, visto que permite o estudo dos micro-organismos isoladamente, separando-os de outros. Porém, quando amostras de fezes, escarro, pus, solo, água ou alimentos são semeadas em meios de cultivo, uma grande variedade de bactérias irá se desenvolver, originando vários tipos de colônias, que normalmente apresentam características morfológicas diferentes, permitindo distinguir os micro-organismos. Para isolarmos um micro-organismo deve-se separá-lo dos outros que se encontram no mesmo material e para isso utilizamos de técnicas de semeadura, que é o plantio de um micro-organismo em um meio de cultura a partir de um material qualquer, e repique, que é a transferência de um micro-organismo de um meio de cultura crescido para outro. A finalidade do isolamento é a identificação do micro-organismo, pois a simples observação de caracteres morfológicos não é suficiente para a identificação e classificação dos micro-organismos. Para isto lançamos mão da analise de uma série de características destes, como: características bioquímicas, sorológicas, de patogenicidade, etc, que vão depender do micro-organismo que se pretende identificar. PÁGINA 47 7.2.1 Semeadura em meios sólidos: Em tubos de ensaio: Meio inclinado por esgotamento de alça: técnica utilizada para obtenção de crescimento bacteriano e/ou para observação de propriedades bioquímicas da bactéria. A semeadura é, geralmente, feita da base do meio de cultura para a extremidade do mesmo. Pode ser denominada de estriamento. Meio inclinado: pode-se realizar a semeadura da base para a extremidade do meio de cultura de forma uniforme, sem estriar. Esta técnica é realizada para que haja crescimento bacteriano, bem como pode-se utilizá-la para observar funções metabólicas de algumas bactérias. Em picada: esta técnica é utilizada para que se possa observar funções metabólicas de alguns micro-organismos. No tubo à esquerda observa-se o momento da picada com o auxílio de uma agulha de semeadura inserida verticalmente até o fundo, e à direita observa-se o resultado da picada propriamente dita. PÁGINA 48 Em placas de Petri: Semeadura em superfície: o material a ser semeado deverá conter poucos micro- organismos porque o inóculo (porção da amostra a ser semeada que consta na alça ou agulha) para o isolamento deve ser leve. Lembrar que cada colônia formada na superfície de um meio sólido é originada de um ou alguns micro- organismos. Quanto maior o número, menor a possibilidade de isolamento e maior a probabilidade de crescimento confluente. Quando o inóculo for obtido a partir de material sólido deve-se diluir em salina estéril ou utilizar a técnica de esgotamento adequada. Estrias múltiplas para isolamento: consiste em espalhar o material com o auxílio da alça bacteriológica fazendo estrias sucessivas até o esgotamento do material, de modo a obter-se um perfeito isolamento das bactérias existentes na amostra. Quando material é muito denso, a alça deverá ser flambada. A técnica é a seguinte: a alça deslizará sobre a superfície do meio de cultura sobre a região onde há um inóculo bacteriano e logo depois com movimentos de zig-zag em vários sentidos sem sobrepor os deslizes de forma a esgotar o material e isolar o micro-organismo. Espalhamento em placa: consiste em espalhar o material, em geral uma suspensão bacteriana, com o auxílio de um swab (obtenção de tapete uniforme de crescimento microbiano) ou alça de Drigalski (obtenção de colônias isoladas após diluição), fazendo a semeadura por toda a superfície da placa de Petri. Deve-se ter o cuidado para que toda a superfície da placa seja semeada evitando PÁGINA 49 regiões sem semeadura. Recomenda-se fazer o procedimento com swab em três ou quatro direções distintas rodando a placa. Em profundidade ou Incorporação: técnica consiste em adicionar 1mL de suspensão bacteriana que esteja em análise a 20mL de um meio de cultura fundido e resfriado, com posterior homogeneização com movimentos circulares. Pode ser utilizada para quantificar micro-organismos. Também denominada Pour-Plate. 7.2.2 Semeadura em meios líquidos: Difusão: técnica que consiste em acrescentar o micro-organismo através da alça ou agulha de platina em meios líquidos. Tem como principal finalidade a observação de propriedades bioquímicas através de testes microbiológicos, bem como poderá ser utilizada para o favorecimento do crescimento bacteriano, quando é realizada em meios que possibilitem o enriquecimento. PÁGINA 50 7.2.3 Semeadura em meios semi-sólidos: Em picada: esta técnica é utilizada para que se possam observar funções metabólicas ou características físicas, como motilidade, de alguns micro- organismos. As culturas bacterianas podem ser mantidas refrigeradas para sua estocagem por curtos períodos, porém existem métodos para longo período: Congelamento em baixas temperaturas: as culturas são colocadas em um líquido de suspensão e congeladas rapidamente nas temperaturas entre -50 e -90°C. Estas culturas permanecem
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