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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA À DISTÂNCIA QUÍMICA GERAL II ALEXANDRE ARAUJO DE SOUZA 2 APRESENTAÇÃO A disciplina Química Geral II aborda basicamente o Equilíbrio Químico. Trata-se de um dos assuntos mais importantes da Química, pois fornece ao químico a capacidade de prever as concentrações, no equilíbrio, de reagentes e produtos de uma reação química, bem como as concentrações das espécies químicas, presentes em solução, provenientes da dissociação de ácidos, bases, sais e misturas destes. A conexão entre a Termodinâmica e o Equilíbrio Químico é discutida. A Constante de Equilíbrio é apresentada como sendo a caracterização matemática da posição do Equilíbrio Químico. O princípio de Le Chatelier é discutido, mostrando como variações na temperatura, pressão e concentrações das espécies químicas afetam a posição do equilíbrio. Assim, ajustando apropriadamente as condições, o químico pode ter controle sobre a posição do Equilíbrio Químico. Os conceitos de ácido e base são discutidos através de suas definições mais usuais, tais como as de Arrhenius, de Bronsted-Lowry e de Lewis. Apresenta-se a definição de pH, uma das grandezas mais usadas em Química e Bioquímica, para caracterizar a acidez ou basicidade de uma solução. Introduz-se um método sistemático para calcular as concentrações de todas as espécies químicas presentes em uma solução aquosa, no equilíbrio. Esse método é baseado no princípio de que, para se determinar as concentrações de n espécies, são necessárias n equações. Essas equações são: a constante de equilíbrio, os balanços de massa e de carga e a condição de próton da solução aquosa. Resolve-se, então, um sistema de n equações e n incógnitas. Em princípio, pode-se resolver o sistema de equações exatamente. Entretanto, podem ser feitas aproximações que simplificam a resolução. Essas aproximações devem ser testadas ao final, verificando os resultados encontrados. Utilizando o método sistemático, discute-se o problema do cálculo do pH das soluções aquosas de ácidos e bases, fortes e fracas, bem como de uma solução tampão. Discute-se, também, o cálculo da solubilidade de sais em água pura, em soluções contendo íons comuns e agentes complexantes. 3 SUMÁRIO UNIDADE 1 Equilíbrio Químico A Constante de Equilíbrio Termodinâmica e Equilíbrio Químico Equilíbrio Heterogêneo O Princípio de Le Chatelier Exercícios da Unidade 1 UNIDADE 2 Ácidos e Bases Definição de Arrhenius Definição de Brønsted-Lowry Forças de Ácidos e Bases Definição de Lewis Exercícios da Unidade 2 UNIDADE 3 Equilíbrios de Ácidos e Bases em Solução Aquosa A dissociação iônica da Água O Conceito de pH Cálculo do pH de Ácidos e Bases Fortes em Solução Aquosa Cálculo do pH de Ácidos e Bases Fracas em Solução Aquosa Hidrólise de Sais Cálculo do pH de uma Solução-Tampão Cálculo do pH de Ácidos Polipróticos Exercícios da Unidade 3 4 UNIDADE 4 Equilíbrios de Solubilidade e de Íons Complexos em Solução Aquosa O Produto de Solubilidade Solubilidade de Sais em Água Pura Efeito do Íon Comum Separação de Íons por Precipitação Efeito da Acidez e de Agentes Complexantes Exercícios da Unidade 4 Bibliografia Recomendada Apêndice 5 UNIDADE 1 Equilíbrio Químico Objetivos da unidade: Definir a Constante de Equilíbrio Químico. Discutir a Relação entre a Termodinâmica e o Equilíbrio Químico. Discutir e Equilíbrio Químico em Sistemas Heterogêneos. Discutir o Princípio de Le Chatelier aplicado ao Equilíbrio Químico. 6 A Constante de Equilíbrio Uma das reações químicas mais importantes, do ponto de vista econômico, é a conversão dos gases nitrogênio, N2 e hidrogênio, H2 em gás amônia, NH3. � ��� + ���� → ��� A Figura 1.1 ilustra a variação das concentrações dos reagentes, N2 e H2, e do produto, NH3, com o tempo, em uma dada temperatura. É comum denotar-se a concentração de uma espécie química, em mol/L, colocando-a entre colchetes. Por exemplo, a concentração de nitrogênio, em mol/L, é denotada como [N2]. Figura 1.1. Variação das concentrações de reagentes e produto, com o tempo, para a reação de formação da amônia gasosa, em uma dada temperatura: � N2 + H2 → NH3. Legenda: [N2] = concentração de nitrogênio; [H2] = concentração de hidrogênio; [NH3] = concentração de amônia. Na Figura 1.1, verifica-se que as concentrações dos reagentes, N2 e H2 diminuem com o passar do tempo, enquanto que a concentração do produto, NH3 aumenta. Além disso, observa-se que, a partir de um determinado instante, todas as concentrações permanecem constantes. Essa é a situação de equilíbrio químico. O equilíbrio químico é a situação em as concentrações de todas as espécies químicas do sistema permanecem constantes, com o passar do tempo. No caso de uma reação química, isso ocorre porque, no equilíbrio químico, as velocidades das reações direta e inversa são iguais. Ou seja, reagentes e produtos estão sendo formados e consumidos, com a mesma velocidade. Por isso, o equilíbrio químico é um equilíbrio dinâmico. A reação 7 química em equilíbrio químico é denotada com duas meias setas, como indicado abaixo. � ��� + ���� ⇌ ��� Uma relação muito simples governa as proporções relativas entre reagentes e produtos, no equilíbrio químico. Essa relação é dada pela constante de equilíbrio. No caso de uma reação química genérica, aA + bB ⇌ cC + dD em um sistema fechado e homogêneo, no equilíbrio, a uma dada temperatura e pressão, a constante de equilíbrio, Kc em termos das concentrações em mol/L, é dada pela expressão abaixo. � = [�]�� [�]��� [�]��� [�]��� Na expressão acima para Kc, A e B são os reagentes, C e D são os produtos e a, b, c, d são os respectivos coeficientes estequiométricos. Os subscritos eq significam que as concentrações são aquelas obtidas no equilíbrio químico. Para a reação química de formação da amônia, a constante de equilíbrio, Kc é dada pela expressão abaixo. � = [���]��[��]�� � [��]�� Exemplo 1.1. Na reação de produção de amônia, N2 + 3H2 F 2NH3 à temperatura de 500 oC, obtiveram-se, no equilíbrio, as seguintes concentrações, em mol/L: [NH3]eq = 0,19802; [N2] = 1,0000; [H2] = 0,5000. Calcule a constante de equilíbrio Kc, nessa temperatura. Solução. �� = �,����� �,����!� �,"���! = �,����� �,�"�"" = #, $%#& Para sistemas gasosos, a constante de equilíbrio, Kp pode ser dada em termos das pressões parciais das espécies químicas, no equilíbrio. No caso da 8 reação de formação de amônia, a expressão para Kp é dada pela relação abaixo. �' = (���!�� (��!�� �� (��!�� �� Na expressão acima para Kp, temos que pN2 é a pressão parcial de nitrogênio, pH2 é a pressão parcial de hidrogênio e pNH3 é a pressão parcial de amônia. A soma das pressões parciais é a pressão total, p do sistema. p = pN2 + pH2 + pNH3 Existe uma relação entre Kc e Kp. Essa relação é simples, considerando gases ideais. Nesse caso, pV= nRT, onde V é o volume, n é a quantidade em mol, R é a Constante dos Gases e T é a temperatura termodinâmica, em Kelvin. Então, p = (n/V) RT = cRT, onde c é a concentração em mol/L. Substituindo a equação p = cRT, na expressão para Kp de uma reação química gasosa genérica, aA + bB F cC + dD, obtém-se a relação abaixo, onde ∆n = (c+d) – (a+b). �' = � )*!∆, Na equação acima, R é a Constante dos Gases cujo valor é dado abaixo. R = 0,08206 atm L/mol K Para a reação de formação de amônia, � �� + �� ⇌ ���, temos o seguinte valor para ∆n: ∆n = (1) – ( � �+ � �) = 1 – 2 = –1 Para a reação de formação de amônia, temos a seguinte relação. �' = � )*!–� Exemplo 1.2. Para o equilíbrio � �� + �� ⇌ ��� a 500 oC, obteve-se Kc = 0,5601.Admitindo que os gases sejam ideais, calcule a constante de equilíbrio Kp, nessa temperatura. Use o valor de R = 0,08206 atm L/mol K. Solução. T = (500 + 273,15 K) = 773,15 K ∆n = (1) – ( � �+ � �) = 1 – 2 = –1 9 �. = 0,5601 × 0,08206 × 773,15!9� = :, :;: × 	< Termodinâmica e Equilíbrio Químico Para uma reação genérica em fase gasosa, aA + bB F cC + dD temos que a variação da energia livre de Gibbs, ∆G da reação é dada pela expressão abaixo, ∆= = ∆=> + )*?@A' onde ∆Go é a energia de Gibbs padrão da reação, ou seja, a energia livre de Gibbs medida à pressão de 1 bar. (1 bar = 105 Pa ≈ 750 mmHg). Na equação acima, o valor de Qp é calculado de acordo com a expressão abaixo, onde as concentrações são tomadas fora do equilíbrio. A' = (���! � (��! (��!� No caso particular de a reação encontrar-se no equilíbrio, então Qp=Kp e ∆G=0. Logo, no equilíbrio químico vale a seguinte equação. ∆=> = −)*?@�' A última equação relaciona a Termodinâmica ao Equilíbrio Químico, pois relaciona ∆Go com Kp, ou seja, uma grandeza termodinâmica a uma grandeza de equilíbrio químico. Na equação acima, o valor da Constante dos Gases é dada abaixo. R = 8,314 J/mol K Exemplo 1.3. Para o equilíbrio � �� + �� ⇌ ���, a 25 oC, obteve-se Kp = 777,7. Calcule a energia livre de Gibbs padrão, ∆Go da reação, nessa temperatura. Utilize R = 8,314 J/mol K e 1 kJ = 1000 J. 10 Solução. T = (25 + 273,15) K = 298,15 K ∆C# = − D8,314 FG>HI × 298,15 KL × ?@ 777,7! = −16500 FG>H = −&%, $ MNOPQ Para calcular Kp a partir de ∆Go, utiliza-se a relação abaixo. �' = R9 ∆S T UV Exemplo 1.4. A 25 oC, tem-se o valor ∆Go= −16,5 kJ/mol, para o equilíbrio em fase gasosa � �� + �� ⇌ ���. Calcule o valor do Kp da reação nessa temperatura. Utilize o valor de R = 8,314 J/mol K e 1 kJ = 1000 J. Solução. T = (25 + 273,15) K = 298,15 K �. = R9 W�XYZZ[/]T^! D_, �` []T^aL× b_,�Ya = Rc,c"cd = eee, e Variação de Kp com a temperatura Considerando gases ideais, a constante de equilíbrio Kp varia com a temperatura, T de acordo com a relação abaixo lnh�'i = lnh�'i> − ∆� > ) j 1 * − 1 *>k onde Kp é a constante de equilíbrio na temperatura T e (Kp)o é a constante de equilíbrio na temperatura To. A grandeza ∆Ho é a entalpia padrão (a 1 bar) da reação. A equação acima é válida apenas sob a consideração de que o valor de ∆Ho não varia na faixa de temperaturas considerada. Exemplo 1.5. Para o equilíbrio � �� + �� ⇌ ���, tem-se o valor (Kp)o = 777,7 a 25 oC. Calcule o valor do Kp da reação, na temperatura de 500 oC. Utilize o valor de R = 8,314 J/mol K e 1 kJ = 1000 J. Dado: ∆Ho = − 45,94 kJ/mol. Solução. To = (25 + 273,15) K = 298,15 K T= (500 + 273,15) K = 773,15 K 11 lnh�'i = ln 777,7! − 9d"�d� [ ]T^! �,��d []T^ l × D �mm�,�" − ����,�"L = −4,72979 �. = R9d,m��m� = :, :;: × 	< Equilíbrio Heterogêneo Em uma reação química contendo reagentes e produtos em mais de uma fase distinta, o sistema é heterogêneo. Um exemplo é a decomposição do bicarbonato de sódio, NaHCO3 sólido resultando em carbonato de sódio, Na2CO3 sólido, gás carbônico, CO2 e vapor d’água, H2O. O equilíbrio de decomposição do NaHCO3 é representado pela equação abaixo, onde os estados físicos das substâncias são indicados: (s) = sólido; (g) = gás. 2�n��o� p! ⇌ �n��o� p! + �o� q! + ��o q! Rigorosamente, a constante de equilíbrio, Kc’ é dada pela equação abaixo. � r = [�n��o�][�o�][��o][�n��o�]� Entretanto, uma substância sólida (ou líquida) pura é caracterizada por uma densidade que não varia com o tamanho da amostra e não é afetada pelo curso de uma reação química. Portanto, as concentrações das espécies sólidas (ou líquidas) puras são praticamente constantes durante a reação química. Por isso, pode-se definir uma constante de equilíbrio Kc, em termos das concentrações das espécies gasosas apenas. Isto é feito pelo rearranjo da equação para K’c, conforme mostrado abaixo. � = � r[�n��o�]�[�n��o�] = [�o�][��o] � = [�o�][��o] Em termos das pressões parciais das espécies gasosas, teremos Kp. 12 �' = (�o� (��o A relação entre Kp e Kc, considerando gases ideais, é dada a partir da variação das quantidades das espécies gasosas, ∆n = (1+1)−0 = 2, pela equação abaixo. �' = � )*!� Exemplo 1.6. Para o equilíbrio ��o H! ⇌ ��o q!, calcule o valor de Kp e de Kc a 25 oC, sabendo que a pressão de vapor d’água é pH2O = 0,03129 atm, nessa temperatura. Utilize o valor de R = 0,08206 atm L/mol K. Solução. Kp = pH2O = 0,03129 T = (25 + 273,15 K) = 298,15 K ∆n = 1 – 0 = 1 �' = � )*!� ⇒ � = �' )*!9� �� = 0,03129 × 0,08206 × 298,15!9� = &, ;es × 	< O Princípio de Le Chatelier No Exemplo 1.5, observa-se que o valor da constante de equilíbrio diminui à medida que a temperatura aumenta. Isto ocorre em reações exotérmicas (∆H<0), ou seja, reações que ocorrem com liberação de calor. Assim, em reações exotérmicas, um aumento na temperatura desloca o equilíbrio químico no sentido da formação de mais reagentes. Este é apenas um exemplo do Princípio de Le Chatelier. O Princípio de Le Chatelier foi descoberto pelo químico francês Henry Louis Le Chatelier (1850-1936) e pode ser enunciado na forma dada abaixo. “Se um sistema químico em equilíbrio sofrer uma perturbação (variação na temperatura, na pressão, no volume, ou nas concentrações das espécies químicas), o equilíbrio químico desloca-se no sentido de contrariar a perturbação imposta e um novo equilíbrio é estabelecido.” O Princípio de Le Chatelier pode ser utilizado para prever em que condições (temperatura, pressão etc.) uma reação deverá ser realizada para 13 obter mais (ou menos) quantidades de produtos em uma reação química no equilíbrio. Efeito da variação da Temperatura O valor da constante de equilíbrio depende da temperatura. Portanto, as quantidades relativas de reagente e produtos, no equilíbrio químico, variam com a temperatura. Se um agente externo eleva a temperatura, isto significa que uma quantidade de calor fluiu para o meio reacional. Consideremos uma reação endotérmica (∆H>0), ou seja, aquela que ocorre com absorção de calor. Segundo o Princípio de Le Chatelier, uma elevação na temperatura, provocada por um agente externo, significa uma perturbação que deve ser contrariada pelo deslocamento do equilíbrio químico, no sentido de formar mais produtos, pois o consumo de calor pela reação química acarretará uma diminuição na temperatura. Por isso temos o resultado abaixo. “Para uma reação endotérmica (∆∆∆∆H>0), uma elevação na temperatura, provocada por um agente externo, deslocará o equilíbrio químico no sentido da formação de mais produtos.” Consideremos agora uma reação exotérmica (∆H<0), ou seja, aquela que ocorre com liberação de calor. Segundo o Princípio de Le Chatelier, uma diminuição na temperatura, provocada por um agente externo, significa uma perturbação que deve ser contrariada pelo deslocamento do equilíbrio químico, no sentido de formar mais produtos, pois a liberação de calor pela reação química acarretará uma elevação na temperatura. Assim, temos o resultado abaixo. “Para uma reação exotérmica (∆∆∆∆H<0), uma diminuição na temperatura, provocada por um agente externo, deslocará o equilíbrio químico no sentido da formação de mais produtos.” Exemplo 1.7. Considere os equilíbrios químicos abaixo, em fase gasosa, a 298,15 K. Devemos aquecer ou resfriar os sistemas abaixo, para obter mais quantidade de produto no equilíbrio. Justifique. (a) �� + � o� ⇌ �o�, ∆����> = +33,18 tu/vw? (b) � �� + �� ⇌ ���, ∆����> = −45,94 tu/vw? (c) 2� ⇌ �2, ∆����> = 0 Solução. (a) Devemos aquecer, pois a reação é endotérmica. 14 (b) Devemos resfriar, pois a reação é exotérmica. (c) A variação na temperatura não deslocao equilíbrio químico, pois a reação não é exotérmica, nem endotérmica. Efeito da variação das Concentrações Considere o seguinte equilíbrio químico. � ��� + ��x� ⇌ �x A constante de equilíbrio Kc para a reação acima é dada pela expressão abaixo. � = [�x]��[��]�� � [x�]�� � Pode-se observar que, uma adição de HI ao sistema reacional, por um agente externo, faz a concentração instantânea de HI, ou seja [HI], aumentar. Isso faz com que o valor instantâneo de Kc também aumente. De acordo com o Princípio de Le Chatelier, o sistema responderá de forma a contrariar essa perturbação. Assim, o equilíbrio se deslocará no sentido da formação de mais reagentes, de forma a restaurar o valor original de Kc. De forma semelhante, a remoção de reagentes faz com que o equilíbrio seja deslocado no sentido da formação de mais reagentes. Por outro lado, a adição de H2 ou I2 ao sistema, por um agente externo, provoca um deslocamento no sistema, no sentido de formar mais produto, HI. A remoção de HI, desloca o equilíbrio no sentido da formação de mais produto, HI. A Dessa forma, temos os resultados abaixo. (I) “A adição de reagentes, ou a remoção de produtos, por um agente externo, deslocará o equilíbrio químico no sentido da formação de mais produtos.” (II) “A adição de produtos, ou a remoção de reagentes, por um agente externo, deslocará o equilíbrio químico no sentido da formação de mais reagentes.” A Figura 1.2 ilustra o efeito da adição de H2, por um agente externo, no equilíbrio � �� + �� ⇌ ���. Observe que, no instante da adição de H2, a 15 concentração instantânea [H2] aumenta, enquanto que as demais concentrações permanecem inalteradas. Com o passar do tempo, as concentrações [H2] e [N2] diminuem, enquanto que a concentração [NH3] aumenta. No final, o equilíbrio é restabelecido de forma a aumentar a quantidade de produto, NH3 formado. Figura 1.2. Efeito da adição de H2, por um agente externo, no equilíbrio � �� + �� ⇌ ���. Neste caso, o equilíbrio é restabelecido de forma a aumentar a quantidade de produto, NH3 formado. Efeito da variação da Pressão e do Volume À temperatura constante, uma variação no volume de um sistema ocasiona a variação na pressão do mesmo. Assim, um aumento de pressão deve favorecer qualquer variação que leve a uma diminuição no volume do sistema. Nas reações em que todas as espécies químicas sejam sólidas ou líquidas, qualquer variação de pressão não acarretará variações marcantes de volume, visto que as fases sólida e líquida são bastante incompressíveis. Portanto, as variações de pressão afetam sistemas em que há espécies gasosas. No caso de reações químicas, pelo menos um reagente ou produto 16 deve ser gasoso, para que as variações de pressão tenham efeito na posição do equilíbrio químico. A pressão de um gás é causada pela colisão das moléculas nas paredes do recipiente que as contém. A pressão aumenta quando a temperatura aumenta, pois aumenta a energia cinética das moléculas. À temperatura constante, uma maior número de moléculas por unidade de volume, colidindo com as paredes do recipiente, provoca um aumento na pressão do sistema. Considere o equilíbrio químico abaixo. �� + 3�� ⇌ 2��� Se reduzirmos o volume do recipiente que contém as espécies químicas gasosas N2, H2 e NH3, a pressão irá aumentar. De acordo com o Princípio de Le Chatelier, o sistema reacional responderá de forma a contrariar essa perturbação, ou seja, de forma a reduzir a pressão. Isto resulta em uma diminuição no número de moléculas gasosas no equilíbrio. O equilíbrio químico acima mostra que há 2 moléculas de produto, 2NH3 para cada 4 moléculas de reagentes (1N2 + 3H2). Então, o sistema responderá deslocando o equilíbrio no sentido da formação de um menor número de moléculas, ou seja, no sentido da formação de produto, NH3. Portanto, temos o resultado abaixo. “À temperatura constante, a diminuição do volume, ou aumento da pressão, de um equilíbrio químico gasoso deslocará o equilíbrio no sentido da formação do menor número de moléculas de gás.” Efeito da Adição de um Gás Inerte Se um gás inerte (aquele que não participa da reação) for introduzido no meio reacional em equilíbrio químico, ele causará um aumento na pressão do sistema. Contudo, a posição do equilíbrio não será alterada, pois as concentrações, ou as pressões parciais dos gases reagentes não são alteradas pela adição do gás inerte. Efeito da Adição de um Catalisador 17 Um catalisador é uma substância que, adicionada em pequenas quantidades ao meio reacional, acelera a reação química. Ao final, o catalisador é regenerado à sua forma original. O efeito do catalisador dá-se pela diminuição da barreira energética (energia de ativação) que existe entre reagentes e produtos. Assim, o catalisador afeta a cinética de uma reação. Entretanto, a posição do equilíbrio químico permanece inalterada pela adição do catalisador. 18 Exercícios da Unidade 1 1. O que é equilíbrio químico? Por que ele é denominado equilíbrio dinâmico? Dê exemplos para explicar sua resposta. 2. Escreva as expressões das constantes de equilíbrio, Kc e Kp para as reações químicas gasosas abaixo. (a) 2H2 + CO2 F CH3OH (b) H2 + ½ S2 F H2S (c) 4H2 + 2NO2 F N2 + 4H2O (d) 2N2O5 F O2 + 4NO2 3. Para a reação química gasosa PCl5 F PCl3 + Cl2, mediram-se as seguintes concentrações no equilíbrio químico, a T=298 K, em mol/L: [PCl5]=0,0023; [PCl3]=0,23; [Cl2]=0,055. Calcule o valores das constantes de equilíbrio Kc e Kp para essa reação. Dado: R = 0,08206 atm L/mol K. 4. Para a reação química gasosa 2NO2 F N2O4, o valor da constante de equilíbrio a T=373 K é Kp=0,065. Calcule a energia de Gibbs padrão, ∆Go da reação nessa temperatura. Dado: R = 8,314 J/mol K. 5. Para a reação química gasosa 2H2 + CO2 F CH3OH, o valor energia de Gibbs padrão a T=700 K é ∆Go=–13500 J/mol. Calcule a constante de equilíbrio Kp da reação nessa temperatura. Dado: R = 8,314 J/mol K. 6. Por que não se precisam incluir as concentrações das espécies sólidas e líquidas puras na expressão para a constante de equilíbrio, em uma reação química heterogênea? Dê exemplos. 7. O que diz o Princípio de Le Chatelier? Quais são suas aplicações? 8. Preveja como cada variação abaixo afetará a posição do equilíbrio para a reação química 2H2 + CO2 F H2O + CO. Dado: ∆H = –41 kJ. (a) Adição de CO2. (b) Adição de H2O. (c) Adição de um catalisador. (d) Aumento na temperatura. (e) Redução do volume do recipiente. 19 UNIDADE 2 Ácidos e Bases Objetivos da unidade: Apresentar a Definição de Arrhenius de Ácidos e Bases. Apresentar a Definição de Brønsted-Lowry de Ácidos e Bases. Discutir a Força de Ácidos e Bases. Apresentar a Definição de Lewis de Ácidos e Bases. 20 Definição de Ahrrenius O físico-químico sueco Svante Arrhenius (1859-1927) formulou a definição de ácidos e bases apresentada abaixo. • Acido é toda substância que, dissolvida em água, dissocia-se liberando íons hidrônio, H3O +. • Base é toda substância que, dissolvida em água, dissocia-se liberando íons hidroxila, OH–. Exemplos de ácidos, segundo Arrhenius são o ácido clorídrico (HCl) e o dióxido de carbono (CO2). Ambas as substâncias são gases que, quando dissolvidos em água, dissociam-se liberando um íon H3O+, conforme mostrado pelas equações abaixo. • HCl(g) + H2O(l) → H3O+(aq) + Cl–(aq) • CO2 (g) + H2O(l) ⇌ H2CO3 (aq) • H2CO3 (aq) + H2O(l) ⇌ H3O+(aq) + HCO3–(aq) Para efeito de simplificação, pode-se representar o íon hidrônio por H+, que é chamado próton. Assim, os ácidos de Arrhenius dissociam-se liberando prótons em água. As reações acima podem ser escritas na forma abaixo. • HCl(g) → H+(aq) + Cl–(aq) • CO2 (g) + H2O(l) ⇌ H2CO3 (aq) ⇌ H+(aq) + HCO3–(aq) Exemplos de bases, segundo Arrhenius sãoo hidróxido de sódio (NaOH) e a amônia (NH3). O hidróxido de sódio puro é sólido e a amônia pura é gasosa. Ambas as substâncias, quando dissolvidas em água, dissociam-se liberando um íon OH–, conforme mostrado pelas equações abaixo. • NaOH(s) + H2O(l) → Na+(aq) + OH–(aq) • NH3 (g) + H2O(l) ⇌ NH4OH(aq) ⇌ NH4+(aq) + OH–(aq) 21 Reação Ácido-Base Uma reação ácido-base, em água, processa-se fundamentalmente através da equação abaixo, denominada reação de neutralização. H3O+(aq) + OH–(aq) ⇌ 2H2O(l) ou H+(aq) + OH–(aq)⇌ H2O(l) Assim, de uma forma geral, ácidos e base de Arrhenius reagem em água, resultando em sal e água. Ácido + Base ⇌ Sal + H2O HCl + NaOH→ NaCl + H2O H2SO4 + 2NaOH→ Na2SO4 + H2O A definição de ácidos e bases de Ahrrenius é restrita a reações ácido- base que ocorrem em meio aquoso. Por isso, houve a necessidade de se formular outras definições mais gerais. Definição de Brønsted-Lowry O físico-químico dinamarquês Johannes Nicolaus Brønsted (1879–1947) e, independentemente, o físico-químico inglês Thomas Martin Lowry (1874– 1936) formularam uma definição de ácidos e bases que não depende do meio (solvente) utilizado. Assim, ácidos e bases são definidos mesmo na ausência de qualquer solvente. A definição de ácidos e bases de Brønsted-Lowry é apresentada abaixo. • Acido é toda espécie química capaz de doar um próton, H+. • Base é toda espécie química capaz de receber um próton, H+. 22 Um exemplo é a reação ácido-base entre os gases ácido clorídrico, HCl e amônia, NH3. Essa reação pode ocorrer no ar. O resultado é a formação do sal sólido cloreto de amônio, NH4Cl. Esse sal é formado pelo ânion cloreto, Cl– proveniente do ácido que doou um próton e pelo cátion amônio, NH4+ proveniente da base que recebeu um próton. HCl(g) + NH3 (g) ⇌ NH4+ + Cl– ácido base ácido conjugado base conjugada Em uma reação ácido-base de Brønsted-Lowry, formam-se ácidos e bases conjugados. Uma base conjugada é a espécie resultante depois que o ácido doa um próton. Um ácido conjugado é a espécie resultante depois que a base recebe um próton. No caso da reação acima, a perda de um próton do ácido HCl forma a base conjugada cloreto, Cl– e o recebimento de um próton pela base NH3 forma o ácido conjugado amônio, NH4+. Na reação inversa, o ácido conjugado amônio, NH4+ doa um próton para a base conjugada cloreto, Cl–, formando HCl e NH3. A reação abaixo é outro exemplo de reação ácido-base. Nesse caso, a H2O formada é, ao mesmo tempo, ácido conjugado e base conjugada. Por isso, a H2O é uma espécie denominada anfotérica. H3O+ + OH– ⇌ H2O + H2O ácido base ácido conjugado base conjugada Uma espécie anfotérica, como a H2O, pode atuar como ácido, ou como base. No primeiro exemplo, abaixo, a H2O atua como ácido, doando um próton, H+ para a base amônia, NH3, formando o ácido conjugado hidróxido, OH– e a base conjugada amônio, NH4+. H2O + NH3 ⇌ NH4+ + OH– ácido base ácido conjugado base conjugada No segundo exemplo, abaixo, a água atua como uma base, recebendo um próton, H+ do ácido acético, CH3COOH, formando o ácido conjugado hidroxônio, H3O+ e a base conjugada acetato, CH3COO–. 23 CH3COOH + H2O ⇌ H3O+ + CH3COO– ácido base ácido conjugado base conjugada Apesar de ser mais geral que a definição de Arrhenius, por não especificar o meio (solvente), a definição de Brønsted-Lowry é restrita à troca de um próton, H+. Por isso, houve a necessidade de se formular uma definição ainda mais geral para ácidos e bases. Uma definição bem mais geral, a definição de Lewis, será vista mais adiante. Forças de Ácidos e Bases Toda reação ácido-base de Brønsted-Lowry pode ser considerada como duas reações opostas, ou competitivas entre ácidos e bases. Quando HCl reage com H2O, o equilíbrio está completamente (100%) deslocado no sentido dos produtos, H3O+ e Cl–, conforme mostrado abaixo. HCl + H2O → H3O+ + Cl– ácido base ácido conjugado base conjugada Pela equação acima, pode-se comparar as forças relativas dos ácidos HCl e H3O+. Como o equilíbrio está completamente deslocado para a direita, então o ácido HCl é um melhor doador de próton, H+ que o ácido H3O+. Em outras palavras, o ácido HCl é mais forte que o ácido H3O+. Pela equação acima, também se pode comparar as forças relativas das bases H2O e Cl–. Como o equilíbrio está completamente deslocado para a direita, então a base H2O é um melhor aceitador de próton, H+ que a base Cl–. Em outras palavras, a base H2O é mais forte que a base Cl–. De uma forma mais geral, para estabelecer as forças relativas de ácidos e bases, comparam-se as posições dos equilíbrios químicos de várias reações ácido-base. O exemplo abaixo ilustra o método para comparar a força relativa entre dois ácidos, o ácido clorídrico, HCl e o ácido fluorídrico, HF. HCl + H2O → H3O+ + Cl– (100% dissociado) HF + H2O F H3O+ + F– (3% dissociado, em HF 1 mol/L) 24 Neste último exemplo, pode-se concluir que o ácido HCl é bem mais forte que o ácido HF, já que o HCl é um melhor doador de próton, H+ que o HF. Também se pode concluir que o F– é uma base bem mais forte que o Cl–, pois o F– é um aceitador de próton, H+ bem melhor que o Cl–. Pode-se dizer que: “para o ácido mais forte, sua base conjugada é a mais fraca”. O exemplo abaixo ilustra o método para comparar a força relativa entre duas bases, o íon amideto, NH2– e a amônia, NH3. NH2– + H2O → NH3 + OH– (100% dissociada) NH3 + H2O F NH4+ + OH– (0,4% dissociada, em NH3 1 mol/L) Neste último exemplo, pode-se concluir que o íon amideto, NH2– é uma base bem mais forte que a amônia, NH3, já que o NH2– é um melhor aceitador de próton, H+ que a NH3. Também se pode concluir que o íon amônio, NH4+ é um ácido mais forte que a amônia, NH3, pois o NH4+ é um doador de próton, H+ melhor que a NH3. Pode-se dizer que: “para a base mais forte, seu ácido conjugado é o mais fraco”. A Figura 2.1 mostra as relações entre as forças relativas de alguns pares de ácidos e bases conjugadas. 25 F o rç a d o á c id o a u m e n ta → ÁCIDO BASE F o rç a d a b as e a u m e n ta → HClO4 HCl HNO3 ClO4 – Cl– NO3 – H3O + H2O HF HNO2 F– NO2 – CH3COOH CH3COO – HOCl OCl– NH4 + NH3 H2O OH – NH3 NH2 – ÁCIDO BASE Figura 2.1. Relações entre as forças relativas de pares de ácidos e bases conjugadas. Os ácidos HClO4, HCl e HNO3 são fortes e estão 100% dissociados em água. Os ácidos HF, HNO2 e HOCl são fracos, estão parcialmente dissociados e existem em equilíbrio HXFH+ + X–. A base NH2– está 100% reagida com a H2O. De forma geral, a posição do equilíbrio químico em uma reação ácido- base de Brønsted-Lowry situa-se na direção do ácido e da base mais fracos, conforme mostrado abaixo. ácido forte (HA) + base forte (B) → ácido fraco (HB+) + base fraca (B–) Se, por exemplo, um ácido forte como o ácido nítrico, HNO3 for adicionado a uma base forte como a amônia, NH3, a reação prosseguirá até se completar 100%. HNO3 + NH3 → NH4+ + NO3– 26 Por outro lado, de um ácido fraco como o ácido acético, CH3COOH for adicionado a uma base fraca como o íon cloreto, Cl–, praticamente nenhuma reação será observada. CH3COOH + Cl– → não reagem Solvente Nivelador e Solvente Diferenciador Quando se compara a força de ácidos, como fizemos para HCl e HF, comparamos a extensão do equilíbrio, usando a mesma base como referência. Usando a água, H2O como base, vimos que o HCl é um ácido mais forte que o HF. Para esses ácidos, a H2O é um solvente diferenciador. Esses mesmos ácidos, em amônia líquida, NH3 estão completamente dissociados, conforme mostrado abaixo. Neste caso, não se pode discernir entre as forças relativas desses ácidos e a NH3 é um solvente nivelador.HCl + NH3 → NH4+ + Cl– (100% dissociado) HF + NH3 → NH4+ + F– (100% dissociado) Os ácidos HClO4, HCl e HNO3 são fortes e estão 100% dissociados em água, H2O, conforme mostrado abaixo. Neste caso, não se pode discernir entre as forças relativas desses ácidos Para estes ácidos, a H2O é um solvente nivelador. HClO4 + H2O → H3O+ + ClO4– (100% dissociado) HCl + H2O → H3O+ + Cl– (100% dissociado) HNO3 + H2O → H3O+ + NO3– (100% dissociado) Se o ácido acético, CH3COOH puro for usado como solvente, os ácidos HClO4, HCl e HNO3 são fracos e estão parcialmente dissociados, conforme mostrado abaixo. Constata-se que, em ácido acético, a força desses ácidos aumenta na seguinte ordem: HNO3 < HCl < HClO4. Para estes ácidos, o ácido acético é um solvente diferenciador. HClO4 + CH3COOH F CH3COOH2+ + ClO4– (parcialmente dissociado) HCl + CH3COOH F CH3COOH2+ + Cl– (parcialmente dissociado) HNO3 + CH3COOH F CH3COOH2+ + NO3– (parcialmente dissociado) 27 Bases fortes, como os íons óxido, O–2, amideto, NH2 – e hidreto, H– reagem completamente (100%) com a água, H2O, formando hidróxido, OH –, conforme mostrado abaixo. Estas três bases são tão fortes que são completamente protonadas por um ácido fraco como a H2O. A água é um solvente nivelador para estas bases. O2– + H2O → OH– + OH– (100% dissociado) NH2– + H2O → NH3 + OH– (100% dissociado) H– + H2O → H2 + OH– (100% dissociado) A amônia, NH3 é parcialmente protonada em água, H2O. Entretanto, a amônia, NH3 é completamente (100%) protonada em ácido acético, CH3COOH puro. Pode-se dizer que a amônia é uma base fraca em água, mas é uma base forte em ácido acético. NH3 + H2O F NH4+ + OH– (0,4% dissociada, em NH3 1 mol/L) NH3 + CH3COOH F NH4+ + CH3COO– (100% dissociada) 28 Definição de Lewis O físico-químico norte americano Gilbert Newton Lewis (1875–1946) formulou uma definição de ácidos e bases que não depende do meio (solvente) utilizado, nem da especificação da troca de um próton, H+. A definição de ácidos e bases de Lewis é apresentada abaixo. • Acido é toda espécie química capaz de aceitar um par de elétrons. • Base é toda espécie química capaz de doar um par de elétrons. Um exemplo é a reação do trimetilborano, (CH3)3B com a amônia, NH3. A amônia possui um par de elétrons livres no átomo de nitrogênio (representado por dois pontos), podendo atuar como uma base de Lewis, doando o par de elétrons. O trimetilborano possui um orbital p vazio no átomo de boro, podendo atuar como um ácido de Lewis, recebendo um par de elétrons. A reação ácido- base, de formação do aduto (CH3)3B–NH3, é mostrada abaixo. A ligação química entre os átomos de boro e de nitrogênio (representada por um traço) consiste no compartilhamento do par de elétrons que originalmente pertencia à amônia. (CH3)3B + :NH3 ⇌ (CH3)3B–NH3 ácido base aduto De forma semelhante, a reação entre os íons H+ e OH– consiste em uma reação ácido base, onde a hidroxila, OH– doa um par de elétrons para o próton, H+, formando água, H–OH, ou seja, H2O. H+ + :OH– ⇌ H–OH ácido base água Outro exemplo de reação ácido-base de Lewis é a reação entre um óxido metálico, como Na2O com um óxido não metálico, como SO3. Um óxido metálico, como Na2O possui caráter básico, reagindo com água, H2O para produzir hidróxido, conforme mostrado abaixo. Na2O + H2O → NaOH Um óxido não metálico, como SO3 possui caráter ácido, reagindo com água, H2O para formar ácido, conforme mostrado abaixo. 29 SO3 + H2O → H2SO4 A reação direta entre Na2O e SO3 é uma reação ácido-base, onde o íon óxido, O2– do Na2O atua como base de Lewis, doando um par de elétrons para o ácido de Lewis SO3, conforme mostrado abaixo. O2– + SO3 → SO4– base ácido íon sulfato A reação acima pode ser representada na forma abaixo. Na2O + SO3 → Na2SO4 A reação direta entre Na2O e SO3 é ilustra a limitação da definição de Brønsted-Lowry, uma vez que não há nenhuma transferência de prótons, H+. A reação entre Na2O e SO3 em água, H2O é essencialmente a mesma reação ácido-base acima e pode ser escrita na forma abaixo. NaOH + H2SO4 → Na2SO4 + 2H2O Segundo a definição de Brønsted-Lowry, a reação ácido-base do HCl com a H2O é considerada como a transferência do próton, H+ do HCl para a H2O. HCl + H2O → H3O+ + Cl– Do ponto de vista da definição de Lewis, essa mesma reação é considerada como o deslocamento de uma base (a mais fraca), no caso o íon cloreto, Cl–, por outra base (mais forte), no caso a água, H2O. Dessa forma, a H2O atua como base de Lewis, doando um par de elétrons para o H+ do HCl, deslocando (“expulsando”) o íon Cl– do HCl. Aqui se considera como ácido de Lewis, o íon H+, ao invés da molécula inteira, HCl. Considerando sua definição, uma base de Lewis é uma substância que, em suas reações, procura um núcleo (espécie deficiente em elétrons), para compartilhar seu par de elétrons. Por isso, uma base de Lewis é também denominada nucleófilo. Uma reação na qual uma base de Lewis (mais forte) 30 desloca outra base (mais fraca) é denominada de reação de deslocamento nucleofílico. Há reações ácido-base onde um ácido de Lewis desloca outro ácido. Um exemplo é dado abaixo. AlCl3 + COCl2 → AlCl4– + COCl+ A espécie AlCl3 é deficiente em elétrons e atua como ácido de Lewis, recebendo um par de elétrons. A espécie COCl2 pode ser vista como Cl– COCl+. Assim, a parte da molécula COCl2 que atua como base de Lewis, doando um par de elétrons é o Cl–. Na reação acima, o ácido de Lewis AlCl3 recebe um par de elétrons da base de Lewis Cl– e desloca (“expulsa”) o ácido mais fraco COCl+. A reação de deslocamento pode ser representada na forma abaixo. Cl3Al +[:Cl– COCl+]→ [Cl3Al –Cl]– + COCl+ Considerando sua definição, um ácido de Lewis é uma substância que, em suas reações, procura uma espécie que tenha pares de elétrons, com a qual possa se ligar. Por isso, um ácido de Lewis é também denominado eletrófilo. Uma reação na qual um ácido de Lewis (mais forte) desloca outro ácido (mais fraco) é denominada de reação de deslocamento eletrofílico. Pode-se comparar as forças de ácidos e bases de Lewis, verificando a tendência que possuem de formar uma ligação covalente. Após ser formada a ligação covalente, a densidade eletrônica da base é atraída para o átomo deficiente em elétrons do ácido. Assim, uma base forte é aquela que possui um átomo cuja densidade eletrônica é bastante polarizável (deformável). Dessa forma, espera-se que a espécie (CH3)2P seja uma base de Lewis mais forte que a espécie (CH3)2N, tendo em vista que o átomo de fósforo, P é maior e mais polarizável que o átomo de nitrogênio, N. Comparando as espécies (CH3)2O e (CF3)2O, conclui-se que a (CF3)2O é a base mais fraca devido ao fato do flúor, F ser mais eletronegativo que o hidrogênio, H, atraindo mais fortemente a densidade eletrônica do oxigênio, O. Por isso, a densidade eletrônica do oxigênio, O é mais facilmente doada pela espécie (CH3)2O. Em átomos pequenos, a atração dos elétrons pelo núcleo atômico é maior. Como o átomo de bromo, Br é maior que o átomo de cloro, Cl, espera-se que o BCl3 seja um ácido de Lewis mais fraco que o BBr3. Da forma semelhante, íons com carga positiva mais elevada tendem a atrair mais fortemente seus elétrons, tornando o ácido de Lewis mais forte. Por isso, espera-se que, entre os íons Cr+2 e Cr+3, o íon Cr+3 seja o ácido mais forte. 31 Exercícios da Unidade 2 1. Explique porque a definição de ácidos e bases de Brønsted-Lowry é mais geral que a definição de Arrhenius. Dê exemplos para explicar. 2. Explique porque a definição de ácidos e bases de Lewis é mais geral que a definição de Brønsted-Lowry. Dê exemplos para explicar. 3. Classifique as substâncias abaixo como ácido ou base de Arrhenius, escrevendo as respectivas reações com água para justificara resposta. (a) CO2 (b) K2O (c) SO3 (d) CaO (e) HIO3 (f) Sr(OH)2 (g) H2O (h) NH3 (i) H2S (j) NO2 4. Identifique os pares ácido-base conjugados nas reações abaixo. (a) CH3COO– + H2O F CH3COOH + OH– (b) HF + NH3 F NH4+ + F– (c) HNO3 + H2SO4 F H3SO4+ + NO3– (d) NH2– + N2H4 F NH3 + N2H3– (e) NH2OH + HCl F NH3OH+ + Cl– (f) Al(H2O)6+3 + OH– F Al(H2O)5OH+2 + H2O 5. O que é uma espécie anfotérica? Explique, com exemplos, por que a H2O é uma espécie anfotérica. 6. Como se comparam as forças relativas de ácidos e bases, segundo a definição de Brønsted-Lowry? Dê exemplos. 7. Usando a Figura 2.1, classifique as reações abaixo em ordem crescente de tendência de se completarem. (a) NH3 + H2O F NH4+ + OH– (b) HClO4 + NH2– F NH3 + ClO4– (c) NH2– + H2O F HNO2 + OH– (d) NH3 + ClO4– F NH2– + HCl 8. Explique o que é solvente nivelador e solvente diferenciador. Dê exemplos. 9. Decida qual é a base de Lewis mais forte em cada caso. Justifique sua resposta. (a) NH3 ou NF3. (b) (CH3)3S ou (CH3)3O 32 10. Decida qual é o ácido de Lewis mais forte em cada caso. Justifique sua resposta. (a) AlCl3 ou BCl3 (b) Fe+2 ou Fe+3 11. Defina os termos abaixo, dando exemplos. (a) Nucleófilo. (b) Eletrófilo. (c) Reação de deslocamento nucleofílico. (d) Reação de deslocamento eletrofílico. 12. Identifique o ácido e a base de Lewis na reação ácido-base abaixo. Classifique-a como deslocamento nucleofílico ou eletrofílico. 2PCl5 → PCl4+⋅PCl6– 33 UNIDADE 3 Equilíbrios de Ácidos e Bases em Solução Aquosa Objetivos da unidade: Discutir a dissociação iônica da água. Apresentar o conceito de pH. Calcular o pH de Ácidos e Bases Fortes em Solução Aquosa Calcular o pH de Ácidos e Bases Fracas em Solução Aquosa Discutir a Hidrólise de Sais Calcular o pH de uma Solução-Tampão Calcular o pH de Ácidos Polipróticos 34 A Dissociação Iônica da Água A água pura dissocia-se reversivelmente em íons hidroxônio, H3O+ e hidroxila, OH–. A reação que explica essa dissociação é a transferência de um próton, H+ entre duas moléculas de água, H2O. O subscrito (l) significa estado líquido. O subscrito (aq) significa aquoso, ou seja, que a espécie está solvatada por moléculas do solvente, H2O. H2O(l) + H2O(l) ⇌ H3O+(aq) + OH–(aq) Para efeito de simplificação, a dissociação da água pode ser representada da forma apresentada abaixo. H2O(l) ⇌ H+(aq) + OH–(aq) No equilíbrio, o produto das concentrações de H+ e de OH– é uma constante de equilíbrio denominada produto iônico da água, Kw. [�y][o�9] = �z À temperatura de 25 oC, o valor de Kw é dado abaixo. �z = 1,00 × 109�d (25 oC) Para manter a neutralidade elétrica da água pura, o número de cátions deve ser igual ao número de ânions. Isto se chama balanço de carga e é representado pela equação abaixo. [�y] = [o�9] (Balanço de carga, água pura) Substituindo a equação do balanço de carga, na equação do produto iônico da água, obtemos a concentração de �y na água pura, a 25 oC. [�y][{|9] = [�y][|y] = [�y]� = 1,00 × 109�d [�y] = }1,00 × 109�d 35 [�y] = 1,00 × 109m mol/L então [o�9] = 1,00 × 109m mol/L Em água pura, a 25 oC, as concentrações de H+ e de OH– são iguais a 1,00 × 10–7. É um valor bastante pequeno. O Conceito de pH O pH é uma medida da acidez ou da basicidade de uma solução aquosa. Rigorosamente, o pH de uma solução aquosa é dado pelo negativo do logaritmo, na base 10, da atividade dos íons H+ em solução, conforme mostrado pela equação abaixo. (� = −?w~�� n��! A atividade é uma grandeza termodinâmica. Ela é a “concentração efetiva” de uma espécie química, considerando as interações intermoleculares. Substâncias puras possuem atividade igual à unidade, ou seja, a=1. Em soluções diluídas, a atividade e a concentração em mol/L podem ser aproximadas, ou seja, n�� = [�y]. Por isso, considerando soluções diluídas, a expressão para o pH pode ser escrita na forma dada abaixo. (� = −?w~��[�y] (solução diluída) O pH da água pura Podemos calcular o valor do pH da água pura. A 25 oC, temos que [�y] = 1,00 × 109m mol/L. Logo, o valor do pH é dado abaixo. (� = −?w~�� 1,00 × 109m! .| = e, ## (água pura, 25 oC) 36 Para soluções aquosas diluídas, a 25 oC, valem as seguintes afirmações. • Soluções com valor de pH=7,00 são neutras. • Soluções com valor de pH<7,00 são ácidas. • Soluções com valor de pH>7,00 são básicas. A medida do pH O pH pode ser medido usando um eletrodo íon-seletivo que responda, de acordo com a equação de Nernst, à atividade dos íons H+ em solução. O pH é normalmente medido usando um eletrodo de vidro, conectado a um milivoltímetro com uma grande impedância de entrada. Neste caso, mede-se a diferença de potencial, ou força eletromotriz, E entre o eletrodo de vidro e um eletrodo de referência, normalmente um eletrodo de calomelano, ou um eletrodo de prata/cloreto de prata. É feita concomitantemente a medida da temperatura da solução, utilizando um sensor de temperatura. A Equação de Nernst é dada abaixo, onde E = potencial medido com o eletrodo de vidro; Eo = potencial padrão do eletrodo de vidro; R=8,3145 J/mol K (constante dos gases); n = número de elétrons transferidos (neste caso, n=1); F=96485 C/mol (constante de Faraday); T = temperatura termodinâmica da solução (em Kelvin). A constante numérica é uma aproximação para o logaritmo natural de 10, ou seja, ln10 ≈ 2,303. � = �> + 2,303 )*@� ?w~�� n��! Como (� = ?w~�� n��!, pode-se rearranjar a equação de Nernst para se obter a equação abaixo, que permite medir experimentalmente o pH de uma solução, a partir da medida do potencial de eletrodo, E além da temperatura, T da solução e considerando n=1. (� = �> − �!2,303 D)*� L pOH e pKw Da mesma forma que foi definido o pH, pode-se definir o pOH e o pKw, para soluções diluídas, nas formas abaixo. 37 (o� = −?w~��[o�9] (�z = −?w~��[�z] A equação para Kw pode ser reescrita na forma logarítmica dada abaixo. [�y][o�9] = �z −log�� [�y][o�9]! = −log�� �z! − log��[�y]! + −?w~��[o�9]! = −log�� �z! (� + (o� = (�z A 25 oC, o valor de pKw é dado abaixo. (�z = 14,00 (25 oC) Vimos que para a água pura a 25 oC, pH = 7,00. Portanto, podemos calcular o pOH nessas condições. (o� = 14,00 − (� (o� = 14,00 − 7,00 (o� = 7,00 Cálculo do pH de Ácidos e Bases Fortes em Solução Aquosa Eletrólito é uma substância que, quando dissolvida em solução aquosa, dissocia-se em íons. A extensão na qual um eletrólito está dissociado é descrita pelos temos forte e fraco. Um eletrólito forte é aquele que está completamente dissociado em íons. Um eletrólito fraco é aquele que está parcialmente dissociado em íons. Quando se trata de ácidos e bases, empregamos os termos ácido forte/fraco e base forte/fraca. Exemplos são dados abaixo. 38 • ��? → �y + �?9 (ácido clorídrico, ácido forte) • ����oo� ⇌ �y + ����oo9 (ácido acético, ácido fraco) • �no� → �ny + o�9 (hidróxido de sódio, base forte) • ��� + ��o ⇌ ��dy + o�9 (amônia, base fraca) A Tabela 3.1 mostra alguns ácidos e bases fortes que consideraremos. Tabela 3.1. Ácidos e Bases Fortes. Completamente dissociados em concentrações menores que 1 mol/L Ácido Base HCl LiOH HBr NaOH HI KOH HClO4 RbOH HNO3 CsOH H2SO4 (*) Completamente dissociados em concentrações menores que 0,01 mol/L Ácido Base HIO3 Sr(OH)2 (**) Ba(OH)2 (**) TlOH (*) Dissocia como H2SO4 → H+ + HSO4– (**) Dissocia como Sr(OH)2 → Sr+2 + 2OH– pH de um ácido forte. Suponha que queiramos calcular o pH de uma solução aquosa de um ácido forte, como HCl, por exemplo. Vamos assumir que a concentração analítica do HCl em solução seja 1,50×10–7 mol/L. Essa é a concentração de HCl que foi adicionado à solução. Ouseja, adicionou-se 1,50×10–7 mol de HCl em 1 L de solução aquosa. Pede-se para calcular o pH de uma solução aquosa de HCl 1,50×10–7 mol/L, a 25 oC. O procedimento para o cálculo é o seguinte. 39 1. Escrevemos todas as dissociações em água. ��? → �y + �?9 ��o ⇌ �y + o�9 2. Os íons Cl– vêm apenas da dissociação do HCl. Da mesma forma, os íons OH– vêm apenas da dissociação da H2O. Entretanto, os íons H+ vêm tanto da dissociação do HCl, quanto da dissociação da H2O. Dessa forma, temos os seguintes balanços de massa. [�Q9] = &, $# × 	e OPQ/� [�y]��H = [�?9] [�y]� � = [o�9] [�y] = [�y]� � + [�y]��H 3. A partir das equações acima, pode-se escrever a equação abaixo, substituindo na última equação, as duas equações anteriores. A equação abaixo é denominada balanço de carga, já que a solução é eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. [�y] = [o�9] + [�?9] 4. Substituindo o valor da concentração de Cl– na última equação, obtêm- se a condição de próton do sistema, dada abaixo. [�y] = [o�9] + 1,50 × 109m 5. A última equação contém duas incógnitas. Para encontrar seus valores, levamos em consideração o produto iônico da água a 25 oC. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d 6. Substituímos a condição de próton, no produto iônico da água. 40 [o�9] = [�y] − 1,50 × 109m [�y] [�y] − 1,50 × 109m! = 1,00 × 109�d [|y]; − &, $# × 	e[|y] − &, ## × 	&� = # 7. Resolvendo a última equação do segundo grau em H+, obtemos duas raízes. [�y] = − −1,50 × 109m! ± } −1,50 × 109m!� − 4 ∙ 1 ∙ −1,00 × 109�d!2 ∙ 1 [�y] = 1,50 × 109m2 ± 1 2 }6,25 × 109�d [�y] = 7,50 × 109� ± 1,25 × 109m [�y] = 2,00 × 109m ou [�y] = −5,00 × 109� 8. Desconsideramos a segunda raiz, pois não tem significado físico- químico. Portanto, a concentração encontrada é dada abaixo. [|y] = ;, ## × 	e OPQ/� 9. A concentração [o�9] pode ser obtida da equação do produto iônico da água. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d [o�9] = 1,00 × 109�d[�y] = 1,00 × 109�d 2,00 × 109m [{|9] = $, ## × 	: OPQ/� 10. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 2,00 × 109m! 41 .| = %, e# Aproximações (ácido forte). Há três casos a considerar: 1. Quando a concentração analítica, C do ácido forte for suficientemente alta (C ≥ 1,00×10–6 mol/L), pode-se desprezar a concentração [OH–] e aproximar a condição de próton da seguinte forma. [�y] = [o�9] + � [�y] ≅ � 2. Em concentrações analíticas, C de ácido forte próximas de 10–7 mol/L (1,00×10–8 mol/L § C < 1,00×10–6 mol/L), não se deve fazer nenhuma aproximação e a equação de segundo grau deve ser resolvida. 3. Quando a concentração analítica, C do ácido forte for suficientemente baixa (C < 1,00×10–8 mol/L), pode-se desprezar a concentração analítica, C na condição de próton, a qual é aproximada da seguinte forma. [�y] = [o�9] + � [�y] ≅ [o�9] [�y] ≅ 1,00 × 109mvw?/� pH de uma base forte. Suponha que queiramos calcular o pH de uma solução aquosa de uma base forte, como Ba(OH)2, por exemplo. Vamos assumir que a concentração analítica do Ba(OH)2 em solução seja 1,50×10–7 mol/L. Essa é a concentração de Ba(OH)2 que foi adicionado à solução. Ou seja, adicionou-se 1,50×10–7 mol de Ba(OH)2 em 1 L de solução aquosa. Pede-se para calcular o pH de uma 42 solução aquosa de Ba(OH)2 1,50×10–7 mol/L, a 25 oC. O procedimento para o cálculo é o seguinte. 1. Escrevemos todas as dissociações em água. �n o�!� → �ny� + 2o�9 ��o ⇌ �y + o�9 2. Os íons Ba+2 vêm apenas da dissociação do Ba(OH)2. Da mesma forma, os íons H+ vêm apenas da dissociação da H2O. Entretanto, os íons OH- vêm tanto da dissociação do Ba(OH)2, quanto da dissociação da H2O. Dessa forma, temos os seguintes balanços de massa. [��y;] = &, $# × 	e OPQ/� �o�9]�� ��! = 2[�ny�� [o�9]� � = [�y] [o�9] = [o�9]� � + [o�9]�� ��! 3. A partir das equações acima, pode-se escrever a equação abaixo, substituindo na última equação, as duas equações anteriores. A equação abaixo é denominada balanço de carga, já que a solução é eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. [o�9] = [�y] + 2[�ny�] 4. Substituindo o valor da concentração de Ba+2 na última equação, obtêm- se a condição de próton do sistema, dada abaixo. [o�9] = [�y] + 3,00 × 109m 5. A última equação contém duas incógnitas. Para encontrar seus valores, levamos em consideração o produto iônico da água a 25 oC. 43 [�y][o�9] = 1,00 × 109�d 6. Substituímos a condição de próton, no produto iônico da água. [�y] = [o�9] − 3,00 × 109m [o�9] − 3,00 × 109m![o�9] = 1,00 × 109�d [{|9]; − <, ## × 	e[{|9] − &, ## × 	&� = # 7. Resolvendo a última equação do segundo grau em H+, obtemos duas raízes. [o�9] = − −3,00 × 109m! ± } −3,00 × 109m!� − 4 ∙ 1 ∙ −1,00 × 109�d!2 ∙ 1 [o�9] = 3,00 × 109m2 ± 1 2 }1,30 × 109�� [o�9] = 1,50 × 109m ± 1,803 × 109m [o�9] = 3,30 × 109m ou [o�9] = −3,03 × 109� 8. Desconsideramos a segunda raiz, pois não tem significado físico- químico. Portanto, a concentração encontrada é dada abaixo. [{|9] = <, <# × 	e OPQ/� 9. A concentração [o�9] pode ser obtida da equação do produto iônico da água. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d [�y] = 1,00 × 109�d[o�9] = 1,00 × 109�d 3,30 × 109m [|y] = <, #< × 	: OPQ/� 44 10. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 3,03 × 109�! .| = e, $; Aproximações. (base forte) Há três casos a considerar: 1. Quando a concentração analítica, C da base forte for suficientemente alta (C ≥ 1,00×10–6 mol/L), pode-se desprezar a concentração [H+] e aproximar a condição de próton da seguinte forma. [o�9] = [�y] + � [o�9] ≅ � 2. Em concentrações analíticas, C de base forte próximas de 10–7 mol/L (1,00×10–8 mol/L § C < 1,00×10–6 mol/L), não se deve fazer nenhuma aproximação e a equação de segundo grau deve ser resolvida. 3. Quando a concentração analítica, C da base forte for suficientemente baixa (C < 1,00×10–8 mol/L), pode-se desprezar a concentração analítica, C na condição de próton, a qual é aproximada da seguinte forma. [o�9] = [�y] + � [o�9] ≅ [�y] [o�9] ≅ 1,00 × 109mvw?/� 45 Cálculo do pH de Ácidos e Bases Fracas em Solução Aquosa Um ácido ou uma base fraca está apenas parcialmente dissociada, em solução. As equações das constantes de equilíbrio de um ácido fraco, Ka e de uma base fraca, Kb são exemplificadas abaixo para o ácido acético e para a amônia. Os valores são dados a 25 oC. ����oo� ⇌ �y + ����oo9, �� = [��][�� ���W][�� ����] = 1,75 × 109" ��� + ��o ⇌ ��dy + o�9, �� = ����̀�[��W][�� ] = 1,75 × 109" pH de um ácido fraco. Suponha que queiramos calcular o pH de uma solução aquosa de um ácido fraco, como o ácido acético, CH3COOH, por exemplo. Vamos assumir que a concentração analítica do CH3COOH em solução seja 0,010 mol/L. Essa é a concentração de CH3COOH que foi adicionado à solução. Ou seja, adicionou-se 0,010 mol de CH3COOH em 1 L de solução aquosa. Pede-se para calcular o pH de uma solução aquosa de CH3COOH 0,010 mol/L, a 25 oC. O procedimento para o cálculo é o seguinte. 1. Escrevemos todas as dissociações em água. ����oo� ⇌ �y + ����oo9 ��o ⇌ �y + o�9 2. Os íons CH3COO– vêm da dissociação parcial do CH3COOH. Dessa forma, temos o seguinte balanço de massa. [����oo�] + [����oo9] = 0,010 vw?/� 3. Podemos escrever o balanço de carga, já que a solução é eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. 46 [�y] = [o�9] + [����oo9] 4. A equação da constante de equilíbrio para o ácido acético pode ser escrita na forma abaixo. [�y][����oo9] = ��[����oo�] 5. Por fim, escrevemos o produto iônico da água a 25oC. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d 6. As quatro últimas equações formam um sistema de equações com quatro incógnitas. A resolução exata desse sistema leva a uma equação do quarto grau em [H+]. Para evitar esse problema, pode-se aproximar a equação do balanço de massa, desprezando a concentração [CH3COO–]. A aproximação é mostrada abaixo. [����oo�] + [����oo9] = 0,010 vw?/� [�|<�{{|] ≅ #, #&# OPQ/� 7. Também podemos aproximar a equação do balanço de carga, desprezando a concentração [OH–]. A aproximação é mostrada abaixo. [�y] = [o�9] + [����oo9] [�y] ≅ [����oo9] 8. Utilizando as duas aproximações, na equação de Ka, obtemos o seguinte. [�y][����oo9] = ��[����oo�] [�y][�y] = 1,75 × 109"! 0,010! [�y]� = 1,75 × 109m [�y] = }1,75 × 109m 47 [|y] = �, &: × 	� OPQ/� [�y] ≅ [����oo9] [�|<�{{9] = �, &: × 	� OPQ/� 9. A concentração [o�9] pode ser obtida da equação do produto iônico da água. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d [o�9] = 1,00 × 109�d[�y] = 1,00 × 109�d 4,18 × 109d [{|9] = ;, <s × 	&& OPQ/� 10. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 4,18 × 109d! .| = <, <: Teste das aproximações Podemos testar cada aproximação efetuada. A aproximação feita no balanço de massa. [����oo�] + [����oo9] = 0,010 vw?/� 0,010 + 4,18 × 109d = 0,010 vw?/� A diferença entre os dois lados da equação é 4,18 × 10–4. Essa é igual à diferença relativa percentual calculada abaixo. 48 ���P ��Q����P& = ��, &: × &# 9� #, #& � × &##% = �, &: % A aproximação feita no balanço de carga. [�y] = [o�9] + [����oo9] 4,18 × 109d = 2,39 × 109�� + 4,18 × 109d A diferença entre os dois lados da equação é 2,39 × 10–11. Essa é igual à diferença relativa percentual calculada abaixo. ���P ��Q����P; = �;, <s × &# 9&& �, &: × 	� � × &##% = $, e; × 	%! % Assumindo, arbitrariamente, que desejamos um erro relativo menor ou igual a 5%, ambas as aproximações efetuadas são justificadas. Caso uma das aproximações não seja justificada, então ela não pode ser efetuada. Nesse caso, pode-se ter que resolver uma equação do segundo grau em [H+]. pH de uma base fraca. Suponha que queiramos calcular o pH de uma solução aquosa de uma base fraca, como a amônia, NH3, por exemplo. Vamos assumir que a concentração analítica da NH3 em solução seja 0,0010 mol/L. Essa é a concentração de NH3 que foi adicionado à solução. Ou seja, adicionou-se 0,0010 mol de NH3 em 1 L de solução aquosa. Pede-se para calcular o pH de uma solução aquosa de NH3 0,010 mol/L, a 25 oC. O procedimento para o cálculo é o seguinte. 1. Escrevemos todas as dissociações em água. ��� + ��o ⇌ ��dy + o�9 ��o ⇌ �y + o�9 49 2. Os íons NH4+ vêm da dissociação parcial da NH3. Dessa forma, temos o seguinte balanço de massa. [���] + [��dy] = 0,0010 vw?/� 3. Podemos escrever o balanço de carga, já que a solução é eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. [o�9] = [�y] + [��dy] 4. A equação da constante de equilíbrio para a amônia pode ser escrita na forma abaixo. [o�9][��dy] = ��[���] 5. Por fim, escrevemos o produto iônico da água a 25 oC. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d 6. As quatro últimas equações formam um sistema de equações com quatro incógnitas. A resolução exata desse sistema leva a uma equação do quarto grau em [OH−]. Para evitar esse problema, pode-se aproximar a equação do balanço de massa, desprezando a concentração [NH4+]. A aproximação é mostrada abaixo. [���] + [��dy] = 0,0010 vw?/� [�|<] ≅ #, ##&# OPQ/� 7. Também podemos aproximar a equação do balanço de carga, desprezando a concentração [H+]. A aproximação é mostrada abaixo. [o�9] = [�y] + [��dy] [o�9] ≅ [��dy] 50 8. Utilizando as duas aproximações, na equação de Kb, obtemos o seguinte. [o�9][��dy] = ��[���] [o�9][o�9] = 1,75 × 109"! 0,0010! [o�9]� = 1,75 × 109� [o�9] = }1,75 × 109� [{|_] = &, <; × 	� OPQ/� [o�9] ≅ [��dy] [�|�y] = &, <; × 	� OPQ/� 9. A concentração [�y] pode ser obtida da equação do produto iônico da água. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d [�y] = 1,00 × 109�d[o�9] = 1,00 × 109�d 1,32 × 109d [|y] = e, $: × 	&& OPQ/� 10. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 7,58 × 109��! .| = &#, &; Teste das aproximações Podemos testar cada aproximação efetuada. A aproximação feita no balanço de massa. 51 [���] + [��dy] = 0,0010 vw?/� 0,0010 + 1,32 × 109d = 0,0010 vw?/� A diferença entre os dois lados da equação é 1,32 × 10–4. Essa é igual à diferença relativa percentual calculada abaixo. ���P ��Q����P& = �&, <; × &# 9� #, ##& � × &##% = &<, � % A aproximação feita no balanço de carga. [o�9] = [�y] + [��dy] 1,32 × 109d = 7,58 × 109�� + 1,32 × 109d A diferença entre os dois lados da equação é 2,39 × 10–11. Essa é igual à diferença relativa percentual calculada abaixo. ���P ��Q����P; = �e, $: × &# 9&& &, <; × 	� � × &##% = $, e� × 	e! % Assumindo, arbitrariamente, que desejamos um erro relativo menor ou igual a 5%, apenas a aproximação no balanço de carga é justificada. Neste caso, resolve-se novamente o problema, sem fazer a aproximação no balanço de massa (etapa 6). Assim, refazemos o problema a partir da etapa 8. 8. Utilizando apenas a aproximação no balanço de carga (etapa 7), na equação de Kb, obtemos o seguinte. [o�9][��dy] = ��[���] [o�9][o�9] = 1,75 × 109"! 0,0010 − [o�9]! [o�9]� + 1,75 × 109"[o�9] − 1,75 × 109� = 0 52 [o�9] = −1,75 × 109"! ± } 1,75 × 109"!� − 4 ∙ 1 ∙ −1,75 × 109�!2 ∙ 1 [{|_] = &, ;� × 	� OPQ/� ou [o�_] = −1,41 × 109d vw?/� [o�9] ≅ [��dy] [�|�y] = &, ;� × 	� OPQ/� [���] = [o� 9][��dy]�� = 1,24 × 109d! 1,24 × 109d!1,75 × 109" [�|<] = :, es × 	� OPQ/� 9. A concentração [�y] pode ser obtida da equação do produto iônico da água. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d [�y] = 1,00 × 109�d[o�9] = 1,00 × 109�d 1,24 × 109d [|y] = :, #% × 	&& OPQ/� 10. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 8,06 × 109��! .| = &#, #s Teste da aproximação A aproximação feita no balanço de carga (a única aproximação feita). 53 [o�9] = [�y] + [��dy] 1,24 × 109d = 8,06 × 109�� + 1,24 × 109d A diferença entre os dois lados da equação é 8,06 × 10–11. Essa é igual à diferença relativa percentual calculada abaixo. ���P ��Q����P; = �:, #% × &# 9&& &, ;� × 	� � × &##% = %, $# × 	$! % Hidrólise de Sais Um sal cujo cátion vem de uma base forte e cujo ânion vem de um ácido forte, tal como NaCl, não sofre hidrólise e o pH de sua solução é 7. Exemplo. Calcule o pH de uma solução aquosa de NaCl 0,01 mol/L. 1. Escrevemos todas as dissociações em água. �n�? → �ny + �?9 ��o ⇌ �y + o�9 2. Os íons Na+ e Cl– vêm apenas da dissociação do NaCl. Da mesma forma, os íons H+ e OH– vêm apenas da dissociação da H2O. Dessa forma, temos os seguintes balanços de massa. [��y] = #, #& OPQ/� [�Q9] = #, #& OPQ/� [�y] = [o�9] 3. A equação abaixo é denominada balanço de carga, já que a solução é eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. 54 [�y] + [�ny] = [o�9] + [�?9] 4. Substituindo o valor das concentrações [Na+] e [Cl–] na última equação, obtêm-se a condição de próton do sistema, dada abaixo. [�y] + 0,01 = [o�9] + 0,01 [�y] = [o�9] 5. A última equação contém duas incógnitas. Para encontrar seus valores, levamos em consideração o produto iônico da água a 25 oC. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d 6. Substituímos a condição de próton, no produto iônico da água. [�y]� = 1,00 × 109�d [�y] = }1,00 × 109�d [|y] = &, ## × 	e OPQ/� [{|9] = &, ## × 	e OPQ/� 7. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 1,00 ×109m! .| = e, ## Um sal cujo cátion vem de uma base fraca, ou cujo ânion vem de um ácido fraco sofre hidrólise. No primeiro caso, o pH é menor que 7 e a solução é básica. No segundo caso, o pH é maior que 7 e a solução é ácida. 55 pH de um sal de base fraca. Exemplo. Calcule o pH de uma solução aquosa de NH4Cl 0,01 mol/L. 1. Escrevemos todas as dissociações em água. ��d�? → ��dy + �?9 ��dy + ��o ⇌ ��� + ��oy (hidrólise) ��o + ��o ⇌ ��oy + o�9 2. Temos os seguintes balanços de massa, para o Cl– e para as espécies contendo nitrogênio. [�Q9] = #, #& OPQ/� [���] + [��dy] = 0,01 3. A equação abaixo é denominada balanço de carga, já que a solução é eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. [��dy]+[�y] = [�?9] + [o�9] [��dy]+[�y] = 0,01 + [o�9] 4. Subtraindo a equação do balanço de carga da equação do balanço de massa para o nitrogênio, obtemos a condição de próton do sistema. [���] + [��dy]! − [��dy]+[�y]! = 0,01 − 0,01 + [o�9]! [���] − [�y] = [o�9] [�y] = [o�9] + [���] 5. Dividindo a equação do produto iônico da água pela equação da constante de dissociação da NH3, obtém-se a constante de hidrólise, Kh do NH4Cl. 56 [�y][o�9] [o�−][��4+][��3] = �z� = �¡ [�y][���][��dy] = �z�� = �¡ �¡ = 1,00 × 10 9�d 1,75 × 109" = 5,71 × 109�� 6. Aproximamos o balanço de massa para o nitrogênio, desprezando a concentração [NH3] e aproximamos a condição de próton, desprezando a concentração [OH–]. [���] + [��dy] = 0,01 [�|�y] ≈ #, #& OPQ/� [�y] = [o�9] + [���] [�y] ≈ [���] 7. Colocamos as aproximações na equação para a constante de hidrólise. [�y][���][��dy] = 5,71 × 10 9�� [�y][�y] 0,01! = 5,71 × 109�� [�y]� = 5,71 × 109�� [�y] = }5,71 × 109�� [|y] = ;, <s × 	% OPQ/� [�y] ≈ [���] [�|<] = ;, <s × 	% OPQ/� [�y][o�9] = 1,00 × 109�d 57 [o�9] = 1,00 × 109�d[�y] = 1,00 × 109�d 2,39 × 10−6 [{|9] = �, &: × 	s 8. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 2,39 × 109c! .| = $, %; Teste das aproximações A aproximação feita no balanço de massa. [���] + [��dy] = 0,01 2,39 × 109c + 0,010 = 0,010 A diferença entre os dois lados da equação é 2,39 × 10–6. Essa é igual à diferença relativa percentual calculada abaixo. ���P ��Q����P& = �;, <s × &# 9% #, #& � × &##% = #, #; % A aproximação feita no balanço de carga. [�y] = [o�9] + [���] 2,39 × 109c = 4,18 × 109� + 2,39 × 109c A diferença entre os dois lados da equação é 4,18 × 10–9. Essa é igual à diferença relativa percentual calculada abaixo. 58 ���P ��Q����P; = ��, &: × &# 9s ;, <s × 	%� × &##% = #, &e! % Assumindo, arbitrariamente, que desejamos um erro relativo menor ou igual a 5%, ambas as aproximações efetuadas são justificadas. pH de um sal de ácido fraco. Exemplo. Calcule o pH de uma solução aquosa de NaCH3COO 0,01 mol/L. 1. Escrevemos todas as dissociações em água. �n����oo → �ny + ����oo9 ����oo9 + ��o ⇌ ����oo� + o�9 (hidrólise) ��o ⇌ �y + o�9 2. Temos os seguintes balanços de massa, para o Cl– e para as espécies contendo nitrogênio. [��y] = #, #& OPQ/� [����oo�] + [����oo9] = 0,01 3. A equação abaixo é denominada balanço de carga, já que a solução é eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. [�ny]+[�y] = [����oo9] + [o�9] 0,01 + [�y] = [����oo9] + [o�9] 4. Subtraindo a equação do balanço de carga da equação do balanço de massa para o acetato, obtemos a condição de próton do sistema. [����oo�] + [����oo9]! − [����oo9] + [o�9]! = 0,01 − 0,01 + [�y]! 59 [����oo�] − [o�9] = [�y] [o�9] = [�y] + [����oo�] 5. Dividindo a equação do produto iônico da água pela equação da constante de dissociação do CH3COOH, obtém-se a constante de hidrólise, Kh do NaCH3COO. [�y][o�9] [�+][����oo9][����oo�] = �z�n = �¡ [o�9][����oo�][����oo9] = �z�� = �¡ �¡ = 1,00 × 10 9�d 1,75 × 109" = 5,71 × 109�� 6. Aproximamos o balanço de massa para o nitrogênio, desprezando a concentração [CH3COOH] e aproximamos a condição de próton, desprezando a concentração [H+]. [����oo�] + [����oo9] = 0,01 [�|<�{{9] ≈ #, #& OPQ/� [o�9] = [�y] + [����oo�] [o�9] ≈ [����oo�] 7. Colocamos as aproximações na equação para a constante de hidrólise. [o�9][����oo�][����oo9] = 5,71 × 109�� [o�9][o�9] 0,01! = 5,71 × 109�� [o�9]� = 5,71 × 109�� [o�9] = }5,71 × 109�� [{|9] = ;, <s × 	% OPQ/� 60 [o�9] ≈ [����oo�] [�|<�{{|] = ;, <s × 	% OPQ/� [�y][o�9] = 1,00 × 109�d [�y] = 1,00 × 109�d[o�9] = 1,00 × 109�d 2,39 × 10−6 [|y] = �, &: × 	s OPQ/� 8. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 4,18 × 109�! .| = :, <: Teste das aproximações A aproximação feita no balanço de massa. [����oo�] + [����oo9] = 0,01 2,39 × 109c + 0,010 = 0,010 A diferença entre os dois lados da equação é 2,39 × 10–6. Essa é igual à diferença relativa percentual calculada abaixo. ���P ��Q����P& = �;, <s × &# 9% #, #& � × &##% = #, #; % A aproximação feita no balanço de carga. [o�9] = [�y] + [����oo�] 2,39 × 109c = 4,18 × 109� + 2,39 × 109c 61 A diferença entre os dois lados da equação é 4,18 × 10–9. Essa é igual à diferença relativa percentual calculada abaixo. ���P ��Q����P; = ��, &: × &# 9s ;, <s × 	%� × &##% = #, &e! % Assumindo, arbitrariamente, que desejamos um erro relativo menor ou igual a 5%, ambas as aproximações efetuadas são justificadas. Cálculo do pH de uma Solução-Tampão Uma solução-tampão é aquela que mantém o seu pH constante, mesmo após a adição de ácidos e bases. Ela é normalmente formada por uma mistura de um ácido fraco com um sal de ácido fraco, tal como CH3COOH/NaCH3COO, ou por uma mistura de uma base fraca com um sal de base fraca, tal como NH3/NH4Cl. pH de um tampão CH3COOH/NaCH3COO Calcule o pH da mistura CH3COOH 0,010 mol/L / NaCH3COO 0,010 mol/L. 1. Escrevemos todas as dissociações em água. �n����oo → �ny + ����oo9 ����oo� ⇌ �y+ ����oo9 ��o ⇌ �y + o�9 2. Temos os seguintes balanços de massa. [��y] = #, #&# OPQ/� [����oo�] + [����oo9] = 0,010 + 0,010 = 0,020 62 3. A equação abaixo é denominada balanço de carga, já que a solução é eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. [�ny]+[�y] = [����oo9] + [o�9] 0,010 + [�y] = [����oo9] + [o�9] 4. Adicionando as equações do balanço de carga e do balanço de massa para o acetato, obtemos a condição de próton do sistema. [����oo�] + [����oo9]! + 0,010 + [�y]! = 0,020 + [����oo9] + [o�9]! [�y] + [����oo�] = [o�9] + 0,010 5. Aproximamos a condição de próton, desprezando as concentrações [H+] e [OH–]. Depois obtemos a concentração [CH3COO–] do balanço de massa para o acetato. [�y] + [����oo�] = [o�9] + 0,010 [�|<�{{|] ≈ #, #&# OPQ/� [����oo�] + [����oo9] = 0,020 0,010 + [����oo9] = 0,020 [�|<�{{9] = #, #&# OPQ/� 6. Colocamos as aproximações na equação para a constante de dissociação do ácido acético. [�y][����oo9][����oo�] = 1,75 × 109" [�y] 0,01! 0,01! = 1,75 × 109" [|y] = &, e$ × 	$ OPQ/� [�y][o�9] = 1,00 × 109�d 63 [o�9] = 1,00 × 109�d[�y] = 1,00 × 109�d 1,75 × 10−5 [{|9] = $, e& × 	&# OPQ/� 7. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 1,75 × 109"! .| = �, e% pH de um tampão NH3/NH4Cl Calcule o pH da mistura NH3 0,01 mol/L / NH4Cl 0,01 mol/L. 1. Escrevemos todas as dissociações em água. ��d�? → ��dy + �?9 ��� + ��o ⇌ ��dy + o�9 ��o ⇌ �y + o�9 2. Temos os seguintes balanços de massa. [�Q9] = #, #& OPQ/� [���] + [��dy] = 0,01 + 0,01 = 0,02 3. A equação abaixo é denominada balanço de carga, já que a soluçãoé eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. [��dy]+[�y] = [�?9] + [o�9] [��dy]+[�y] = 0,01 + [o�9] 64 4. Adicionando as equações do balanço de carga e do balanço de massa para a amônia, obtemos a condição de próton do sistema. 0,01 + [o�9]! + [���] + [��dy]! = 0,02 + [��dy]+[�y]! [o�9] + [���] = [�y] + 0,01 5. Aproximamos a condição de próton, desprezando as concentrações [H+] e [OH–]. Depois obtemos a concentração [NH4+] do balanço de massa para a amônia. [o�9] + [���] = [�y] + 0,01 [�|<] ≈ #, #&OPQ/� [���] + [��dy] = 0,02 [�|�y] = #, #& OPQ/� 6. Colocamos as aproximações na equação para a constante de dissociação da amônia. [o�9][���][��dy] = 1,75 × 10 9" [o�9] 0,01! 0,01! = 1,75 × 109" [{|9] = &, e$ × 	$ OPQ/� [�y][o�9] = 1,00 × 109�d [�y] = 1,00 × 109�d[�y] = 1,00 × 109�d 1,75 × 10−5 [|y] = $, e& × 	&# 7. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 5,71 × 109��! 65 .| = s, ;� Variação do pH de uma Solução Tampão Como já foi dito, uma solução-tampão é aquela que mantém o seu pH constante, mesmo após a adição de ácidos e bases. O exemplo abaixo mostra a pequena variação no pH de uma solução-tampão, após a adição de uma quantidade de ácido forte. Calcule o pH quando uma solução de HCl 0,001 mol/L for adicionado à solução tampão constituída pela mistura CH3COOH 0,010 mol/L / NaCH3COO 0,010 mol/L. 1. Escrevemos todas as dissociações em água. ��? → �y + �?9 �n����oo → �ny + ����oo9 ����oo� ⇌ �y+ ����oo9 ��o ⇌ �y + o�9 2. Temos os seguintes balanços de massa. [��y] = #, #&# OPQ/� [�Q9] = #, ##& OPQ/� [����oo�] + [����oo9] = 0,010 + 0,010 = 0,020 3. O balanço de carga é dado abaixo. [�ny]+[�y] = [�?9] + [����oo9] + [o�9] 0,010 + [�y] = 0,001 + [����oo9] + [o�9] 0,009 + [�y] = [����oo9] + [o�9] 4. Adicionando o balanço de massa para o acetato ao balanço de carga, obtemos a condição de próton do sistema. [����oo�] + [����oo9]! + 0,009 + [�y]! = 0,020 + [����oo9] + [o�9]! 66 [�y] + [����oo�] = [o�9] + 0,011 5. Aproximamos a condição de próton, desprezando as concentrações [H+] e [OH–]. Depois obtemos a concentração [CH3COO–] do balanço de massa para o acetato. [�y] + [����oo�] = [o�9] + 0,011 [�|<�{{|] ≈ #, #&& OPQ/� [����oo�] + [����oo9] = 0,020 0,011 + [����oo9] = 0,020 [�|<�{{9] = #, ##s OPQ/� 6. Colocamos as aproximações na equação para a constante de dissociação do ácido acético. [�y][����oo9][����oo�] = 1,75 × 109" [�y] 0,009! 0,011! = 1,75 × 109" [|y] = ;, &� × 	$ OPQ/� [�y][o�9] = 1,00 × 109�d [o�9] = 1,00 × 109�d[�y] = 1,00 × 109�d 2,14 × 10−5 [{|9] = �, %e × 	&# OPQ/� 7. O pH é calculado, na forma mostrada abaixo. (� = −log�� 2,14 × 109"! .| = �, %e 67 8. A variação de pH é calculada, abaixo. ∆(� = 4,67 − 4,76 ∆.| = −#. #s A adição do HCl fez o pH da solução tampão variar em apenas 0.09 unidades. A mesma quantidade de HCl, adicionada em água pura, faz o pH diminuir de 7,00 para 3,00, ocasionando uma variação de ∆pH=4,00. Portanto, a solução-tampão faz um bom trabalho de manter o pH constante. Índice de Tampão Conforme foi visto anteriormente, a adição de ácido (ou base) forte a uma solução-tampão faz o pH variar bem pouco. O índice de tampão, β é a grandeza que indica qual a quantidade de ácido (ou base) forte, necessária para variar o pH em um determinado valor. Considere que uma quantidade dCa de um ácido forte, ou uma quantidade dCb de uma base forte, foi adicionada a um volume de 1 L de solução-tampão. Se a variação ocasionada no pH for representada por dpH, então o índice de tampão, β é definido de acordo com as equações abaixo. ¤ = − ¥��¥(� ¤ = ¥��¥(� O sinal negativo que aparece na primeira equação porque o pH da solução diminui pela adição de ácido forte. Na segunda equação, o sinal é positivo porque o pH da solução aumenta pela adição de base forte. Assim, o valor de β será sempre um número positivo. O valor do índice de tampão, β para um tampão do tipo HA/A– pode ser encontrado a partir do pH do tampão, do Ka do ácido fraco HA , do valor de Kw e da soma das concentrações [HA]+[A–]=C do balanço de massa, usando a equação abaixo. Essa equação não será deduzida neste texto. 68 ¤ = 2,303 � �z[�y] + [�y] + ���[�y] �� + [�y]!�� O exemplo abaixo ilustra o cálculo de β, bem como sua utilização na determinação da variação do pH de uma solução-tampão. Usando o índice de tampão, β calcule a variação no pH quando uma solução de HCl 0,001 mol/L for adicionado à solução tampão constituída pela mistura CH3COOH 0,010 mol/L / NaCH3COO 0,010 mol/L. Já foi calculado, para esse sistema tampão, o valor pH=4,76 que corresponde à concentração [H+]=1,75×10–5 mol/L. Pelo balanço de massa, tem-se que [CH3COOH]+[CH3COO–] = C = 0,020 mol/L. Temos também os valores das constantes Ka=1,75×10–5 e Kw=1,00×10–14. Com esses valores, calcula-se β. ¤ = 2,303 �1,00 × 109�d1,75 × 109" + 1,75 × 109" + 0,020 1,75 × 109"!1,75 × 109" 1,75 × 109" + 1,75 × 109"!� � ¤ = 2,303 5,71 × 109�� + 1,75 × 109" + 0,005! ¦ = #. #&&% Através da definição de β, considerando a quantidade de ácido adicionada dCa ≈ ∆Ca = 0,001 mol/L, calcula-se a variação dpH ≈ ∆pH. ¤ = − ¥��¥(� 0,0116 = − 0,001∆(� ∆(� = − 0,0010,0116 ∆.| = −#. #s 69 Cálculo do pH de Ácidos polipróticos Até agora, foram considerados ácidos que dissociavam apenas um próton, H+. Ácidos que dissociam em dois ou mais prótons são denominados polipróticos.Exemplos de ácidos polipróticos são o ácido sulfídrico, H2S e o ácido fosfórico, H3PO4. As dissociações e as expressões para as constantes de equilíbrio são dadas abaixo. Os valores das constantes de equilíbrio são dadas a 25 oC. ��§ ⇌ �y + �§9 [�y][�§9] = ���[��§] ��� = 1,00 × 109m �§9 ⇌ �y + §9� [�y][§9�] = ���[�§9] ��� = 1,20 × 109�� ��¨od ⇌ �y + ��¨od9 [�y][��¨od9] = ���[��¨od] ��� = 5,89 × 109� ��¨od9 ⇌ �y + �¨od9� [�y][�¨od9�] = ���[��¨od9] ��� = 6,17 × 109� �¨od9� ⇌ �y + ¨od9� [�y][¨od9�] = ���[�¨od9�] ��� = 4,79 × 109�� pH de uma solução de H2S Vamos calcular o pH de uma solução aquosa de H2S de concentração analítica 0,010 mol/L, a 25 oC. 1. Consideremos as dissociações em água e as constantes de equilíbrio Ka1, Ka2 e Kw, dadas anteriormente. ��§ ⇌ �y + �§9 �§9 ⇌ �y + §9� ��o ⇌ �y + o�9 2. Os íons HS– e S–2 vêm da dissociação do H2S. Portanto, temos o seguinte balanço de massa, para as espécies que tem enxofre. [��§] + [�§9] + [§9�] = 0,010 70 3. Podemos escrever o balanço de carga, já que a solução é eletricamente neutra e o número de cargas positivas deve ser igual ao número de cargas negativas. Como o íon S–2 tem carga –2, o fator 2 tem de ser colocado antes da concentração [S–2] no balanço de carga. [�y] = [o�9] + [�§9] + 2[§9�] 4. O valor de Ka2 é pequeno e muito menor que o valor de Ka1. Portanto podemos desprezar as concentração [HS–] e [S–2] no balanço de massa. [|;©] ≈ #, #&# OPQ/� 5. Desprezamos as concentrações [OH–] e [S–2] no balanço de carga. [�y] ≈ [�§9] 6. Usando as duas aproximações na equação para Ka1, obtemos as concentrações [H+] e [HS–]. [�y][�§9] = ���[��§] [�y][�y] = 1.00 × 109m 0,010! [�y]� = 1.00 × 109� [�y] = }1.00 × 109� [|y] = <. &% × 	$ OPQ/� [|©9] = <. &% × 	$ OPQ/� 7. O pH pode ser calculado, conforme mostrado abaixo. (� = −log�� 3.16 × 109"! .| = �, $# 8. Usando a expressão para Ka2, encontramos a concentração [S–2]. 71 [�y][§9�] = ���[�§9] [§9�] = ��� [©9;] = &. ;# × 	&< 9. Calculamos a concentração [OH–]. [�y][o�9] = 1,00 × 109�d [o�9] = 1,00 × 109�d[�y] = 1,00 × 109�d 1,75 × 10−5 [{|9] = $, e& × 	&# OPQ/� Teste das aproximações A aproximação
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