Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Especialidades Clínicas e Cirúrgicas I Anomalias Congênitas do Recém-Nascido II · ESTENOSE HIPERTRÓFICA DE PILORO: - Hipertrofia adquirida da musculatura do piloro (camada circular). - Obstrução progressiva do esvaziamento gástrico. - Canal pilórico – estreito, longo ou espesso. · ETIOLOGIA: - Desconhecida. - Hiperacidez gástrica – espasmo pilórico – hipertrofia. - Liberação de gastrina. - Imaturidade das células miontéricas. - Deficiência da síntese de óxido nítrico (neurotransmissor que relaxa musculo liso). - Motilidade anormal. · EPIDEMIOLOGIA: - 2 a 3 para mil nascidos vivos. - 30% dos vômitos não biliosos em menores de 1 ano. - Primogênito. - 15% com história familiar. - Sexo masculino 1 para 4. - 7% com má formação associada – má rotação/uropatia obstrutiva/atresia de esôfago. · QUADRO CLÍNICO: - Vômitos alimentares – aspecto de leite coalhado e sem bile. - Inicia entre a 3 e 6ª semana de vida. - Vômito em jato após 30/60 minutos após a mamada. - Alcalose hipoclorêmica. - Perda de peso, desidratação, icterícia, constipação, distensão abdominal (às custas do estômago dilatado). · DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Muito difícil fazer diagnóstico diferencial pois parece refluxo gastroesofágico e intolerância alimentar. - Refluxo gastroesofágico. - Síndrome Androgenital perdedora de sal. A apresentação ocorre nos primeiros dias de vida com crise adrenal: depleção de volume, desidratação, hipotensão, hiponatremia e hiperpotassemia. - Hipertensão intracraniana. - Membrana pré-pilórica. - Atresia pilórica. · ALCALOSE HIPOCLORÊMICA E HIPOCALÊMICA: - Estomago secreta HCl, com os vômitos temos perda de HCl, Na e K; com isso as células parietais produzem mais HCl (H20 = H + OH). - Para cada H tem um OH que precisa ser tamponado. - OH + HCO3 – ocorre um aumento da concentração de bicarbonato, gera excesso de base e pH alcalino. - A perda de Cl, K e Na fazem com que o rim responda eliminando bicarbonato (diurese alcalina). - O rim reabsorve sódio e cloro – ocorre uma acidúria paradoxal. à HIPOCALEMIA: - Se o íon K abandona a célula, outros íons com igual carga elétrica terão de penetra-la. - Para cada 3 partes de K que saem da célula, entrarão 2 partes de Na e 1 de H. - Relação entre pH-K+ sérico: 0.1 pH – 0.6 mEq/l de potássio. - A célula ácida envia ordem para que o rim economize bases e elimine o H+. - O bicarbonato sanguíneo aumenta no extracelular e a urina sai ácida = alcalose metabólica hipocalêmica com urina paradoxalmente ácida. · EXAME FÍSICO: - Ondas peristálticas visíveis do quadrante superior esquerdo para o direito. - Palpação do piloro hipertrofiado – forma ovoide (de azeitona) no quadrante superior direito – aparece em 80 a 90% dos casos (difícil de palpar). - Técnica para palpação: Bebe não pode estar chorando – coloca uma luva no dedo e o deixa chupar o dedo para acalmar. SNG para esvaziar o estomago. 2 a 3 dedos da mão direita no QSD movimentando superior e inferior. · INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL: - Hemograma. - Plaquetas. - Eletrólitos – K, Na, Cl. - Urina 1. Crianças com ITU geralmente apresentam vômitos, pesquisar infecção para descartar essa hipótese. - Gasometria – alcalose hipoclorêmica e hipocalêmica. - Pesquisar infecção. · INVESTIGAÇÃO POR IMAGEM: è RX SIMPLES DE ABDOME: - Distensão gástrica. - Inexistência de bulbo duodenal cheio de ar. - Escassez ou ausência de ar no intestino delgado e no intestino grosso. - Aspecto normal. Figura 1: radiografia de abdome em incidência anteroposterior de um lactente com EHP. Evidência ausência de conteúdo gasoso em intestino delgado e grosso, além de ectasia gástrica com considerável nível hidroaéreo. è ULTRASSONOGRAFIA ABDOMINAL: - Padrão ouro. - Espessura da parede. - Diâmetro no corte transversal. - Comprimento do m. piloro no corte longitudinal. - Espessura do m. pilórico > 4 mm. - Diâmetro transverso do piloro > 14 mm. - Comprimento do canal pilórico > 17mm. Os 3 acima são confirmatórios de estenose hipertrófica de piloro. à SINAL DO ALVO: - Corresponde ao anel hipoecóico do músculo pilórico atrofiado em torno da mucosa ecogênica centralmente localizada. É obtido em tomada transversa ao piloro. à SINAL DO DUPLO TRILHO E SINAL DO CORDÃO: - Obtidos quando pequenas quantidades de liquido podem ser vistas aprisionadas entre as dobras da mucosa ecogênica redundante (imagem da esquerda) à SINAL DO MAMILO MUCOSO: - Protrusão de mucosa pilórica redundante em direção ao antro gástrico (imagem da direita). è RAIO-X CONTRASTADO: - Alongamento e estreitamento persistentes do canal pilórico (2 a 4 cm de comprimento). à SINAL DO OMRBO: - Impressão convexa da musculatura pilórica na porção distal do antro gástrico preenchido por bário. Devido ao ângulo ascendente da contratura muscular pilórica, a porção superior do antro distal está mais comprimida que a inferior (imagem da esquerda). Figura 3: sinal do ombro – impressão convexa na musculatura pilórica no antro gástrico. Nota-se um “ombro” superior mais proeminente que o inferior (pontas de setas brncas). Sinal do mamilo pilórico: evaginação em forma de mamilo imediatamente adjacente ao “ombro” superior da musculatura pilórica hipertrofiada (contorno de ponta de seta). à SINAL DO MAMILO PILÓRICO: - Corresponde a uma evaginação com aspecto mamiliforme, observada entre a porção distal da pequena curvatura e o pseudotumor pilórico comprimindo o antro (ombro anterior), consequente à peristalse antral que cessa nesse ponto (imagem da direita). à SINAL DO COLAR OU CORDÃO: - Passagem de pequena coluna (raia) de bário pelo canal pilórico, sem peristalse e constantemente estreitado, curvado discretamente em sentido cefálico à SINAL DO BICO: - Forma-se quando o meio de contraste entra no canal pilórico proximal concentricamente estreitado, formando um "bico cônico" central entre os "ombros" da musculatura hipertrofiada, cujo ápice direciona-se para o canal pilórico. à SINAL DO DUPLO/TRIPLO TRILHO: - Ocorre quando a compressão do piloro alongado provoca retenção de bário entre as dobras de mucosa redundante, sendo visualizado como dois ou mais "trilhos", em vez de um único lúmen. à SINAL DE KIRKLIN OU DO COGUMELO/GUARDA-CHUVA: - Corresponde a uma endentação convexa na base do bulbo duodenal, causada pela musculatura pilórica hipertrofiada, determinando um aspecto de guarda-chuva ou cogumelo ao bulbo. É observado em cerca de 50% dos pacientes e sua presença depende da passagem do meio de contraste suficiente para preencher o bulbo duodenal à SINAL DA LAGARTA: - Formado por ondas peristálticas sincrônicas, vigorosas, visualizadas seqüencialmente ao longo do estômago, que recebem a denominação de "caterpillar sign", em analogia a uma lagarta em movimento. · TRATAMENTO: è CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS: - SNG. - Decúbito elevado. - Acesso venoso. - Correção de distúrbio eletrolítico. - NÃO É URGÊNCIA. è TRATAMENTO CIRÚRGICO: - Pilorotomia a Fredet Ramsted. · ATRESIA DE DUODENO: - Obstrução completa do lúmen duodenal quase sempre no nível da ampola de Vater. - Estenose: obstrução parcial com pequena passagem entre os segmentos comprometidos. · EPIDEMIOLOGIA: - 1 a cada 5 ou 10 mil nascidos vivos. - Sexo feminino. - Prematuro ou PIGs. - 80% após ampola de Vater. - 50% com anomalias associadas. · DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL: - Associação com síndrome de Down. - Avaliação cromossômica. - Polidrâmnio. - Sinal da dupla bolha. Bolha de ar no estômago e no duodeno – não vê ar em nenhum outro lugar. è ANOMALIAS CONGÊNITAS ASSOCIADAS: - Trissomia do 21. - Gastrointestinais (atresia de esôfago, má rotação, AAR – anomalias anorretais, atresia jejunal, Meckel). - Cardiovascular. - Geniturinária. · CLASSIFICAÇÃO: è TIPO I: - Diafragma ou membrana de mucosa ou submucosa. - Pode ser membrana completa, membrana com pequeno orifício central ou membrana tipo biruta. - A camada muscular está intacta nestes casos. A porção do duodeno próxima a atresia está dilatada e a porção distal está estreitada. è TIPO II: - Fundos cegos são conectados por cordão fibroso e o mesentério está intacto. è TIPO III: - Não há cordão fibroso conectando oscotos que são separados por alguma distância. - O mesentério está ausente em defeito em forma de V. · QUADRO CLÍNICO: - Atresias – vômitos nas primeiras 24h. - Estenoses – vômitos em 24 a 48h. - Resíduo gástrico maior que 30ml. - Distensão gástrica. - Icterícia. - Polidrâmnio. - Prematuridade/PIG (40 a 50%). · INVESTIGAÇÃO: è RAIO-X DE ABDOME: - Sinal da dupla bolha. è RAIO-X DE ABDOME CONTRASTADO: O estudo contrastado não fornece informação adicional alguma e há risco potencial de aspiração de bário. Tal estudo mostra opacificação apenas do estômago e do duodeno. · TRATAMENTO: - SNG. - Estabilizar RN. - Cirúrgico. Para fazer a sutura dos cotos que não se conversam, se faz em forma de diamante. Assim eles não se fecham quando cicatrizados. · ATRESIA JEJUNO ILEAIS: - Obstrução congênita incompleta do lúmen de algum segmento jejuno ileal. - Estenose: obstrução congênita intrínseca incompleta de algum segmento ileal. Provocam a síndrome do intestino curto devido as várias ressecções. · EPIDEMIOLOGIA: - 1 a cada 3 a 5 mil nascidos vivos. - 95% são atresias. - 5% são estenoses. è LOCALIZAÇÃO: - 36% no íleo distal. - 31% no jejuno proximal. - 20% no jejuno distal. - 13% no íleo proximal. è DIAGNÓSTICO ANTENATAL/ PRÉ-NATAL: - Segmentos intestinais dilatados proximais ao sítio de atresia. - Polidrâmnio. - Após 24 semanas. è ANOMALIAS ASSOCIADAS: - 27% com vicio de rotação/volvo/ileomeconeal/gastrosquise. - 5% com atresia de colón/esôfago/AAR. - 6% com peritonite meconeal. - 12% com fibrose cística. · CLASSIFICAÇÃO: à Tipo I: diafragma intraluminal em contiguidade com as camadas musculares dos segmentos distal e proximal. à Tipo II: atresia com um segmento em forma de cordão fibroso entre as extremidades em fundo cego do intestino. à Tipo IIIa: atresia com completa separação das extremidades em fundo cego associada a defeito ("gap") mesentérico em forma de V. à Tipo IIIb: atresia com extenso defeito mesentérico. O intestino distal enrola-se em torno dos vasos mesentéricos, dando um aspecto em "casca de maçã". Este segmento distal é curto e de pequeno calibre. à Tipo IV: atresia múltipla do intestino delgado. No tipo IV é necessário juntar todos os cotos, caso contrário não sobra intestino viável. · QUADRO CLÍNICO: - Prematuridade/PIG. - Vomitos biliosos nas primeiras 24h de vida. - Artéria umbilical única. - Polidrâmnio. - Icterícia. - Distensão abdominal. - Constipação. · INVESTIGAÇÃO: è RAIO-X SIMPLES: - Múltiplos níveis hidroaéreos (imagens da esquerda) è ENEMA OPACO CONTRASTADO: - Megacólon (imagem da direita). Se observa o cólon fino, e se o cólon está fino significa que não está sendo usado, não chegou ar, então tem obstrução em algum lugar. · TRATAMENTO: · ENTEROCOLITE NECROSANTE: -Mecanismo de isquemia e reperfusão devido a uma infecção que leva a necrose. -Multifatorial. -Atinge todo o TGI – principalmente intestino delgado e cólon. -Necrose parcial ou completa da parede intestina. -Com ou sem perfuração franca. · ETIOPATOGENIA: -Prematuridade - único fator comprovado. Pematuridade é fator de risco pois o intestino é imaturo, e as barreiras não estão 100% formadas, sendo mais fácil a infecção. -Alimentação por fórmula. -Eventos hipóxicos isquêmicos. -Reperfusão, oxigenação. -Colonização e invasão bacterina. -Barreira mucosa intestinal. -Papel do óxido nítrico. -Fatores de genéticos. · QUADRO CLÍNICO: -10 primeiros dias de nascimento. -Súbito ou insidioso. -Sinais e sintomas – podem ser inespecíficos (sepse). -Hematoquezia (50%). -Retenção gástrica/vômitos (70%). -Hiperemia de parede abdominal (25%). -Sensibilidade abdominal (70%). -Letargia. -Instabilidade térmica. -Apneia recorrente. -Perfusão periférica deficiente. -Choque. INSIDIOSA ABRUPTA Pré-termo Termo Evolui de 1 a 2 dias Deterioração catastrófica Intolerância alimentar Descompensasão respiratória Mudança no padrão das fezes Choque/acidose Distensão abdominal intermitente Distensão abdominal acentuada Sangue oculto nas fezes Hemocultura + · INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA: -História. -Exame físico. -USG de abdome. --> RX de abdome: -Distensão de alças intestinais. -Edema de parede das alças. -Ascite. -Alça intestinal fixa sem peristalse (em RX seriado). -Pneumoperitônio. Para visualizar em pacientes deitados, faz um RX com a criança na cama, coloca a placa na lateral do corpo e o RX na incidência horizontal. -Pneumatose intestinal (submucosa intestinal) - 40 a 90% dos casos. Ar entre a camada muscular e serosa. As duas se destacam devido a necrose/gangrena. É possível visualizar o ar entre elas no RX. -Presença de gás na veia porta – 10 a 20%, Radiografias mostram dilatação de alças e pneumatose intestinal na radiografia A. Na radiografia B ocorre a pneumatose intestinal. - A: Radiografia simples de abdome em decúbito dorsal com raios verticais demonstrando distensão de alças intestinais, pneumatose intestinal, ar no sistema porta e pneumoperitônio (cabeças de setas). - B: Radiografia simples realizada em decúbito dorsal com raios horizontais comprovando extenso pneumoperitônio, visível entre a parede abdominal anterior e as alças intestinais (cabeças de setas). Sinal de Rigler presente (visualização da parede das alças intestinais). - C: Radiografia de RN pré-termo, efetuada em decúbito dorsal com raios verticais, indicando distensão generalizada de alças intestinais e presença de pneumatose (setas) em segmentos dos intestinos grosso e delgado. A. Radiografia simples de abdome em decúbito dorsal com raios verticais demonstrando pneumatose no intestino grosso (setas). B. Radiografia simples de abdome em decúbito dorsal com raios verticais de RN pré-termo mostrando pneumatose intestinal (setas pretas) e ar no sistema porta (seta branca). --> USG: - Pneumatose intestinal. -Gás no sistema porta. -Ascite. Também avalia o fluxo sanguineo da porta. · TRATAMENTO CONSERVADOR: -Dieta zero. -Descompressão gástrica. -Reposição de fluidos IV. -Suporte vasoativo (dopamina). -Correção de anemia. -Correção de acidose. -Tratamento com ATB de amplo espectro (anaeróbios). ==> CIRÚRGICO RELATIVA: -Massa abdominal fixa. -Celulite de parede abdominal. -Alça fixa presente no RX. -Pneumatose em 4 quadrantes. -Portograma aéreo. ==> CIRÚRGICO: -Pneumoperitônio. Sempre é cirúrgico pois indica perfuração de alça. -Pneumatose. · COMPLICAÇÔES: -Estenose intestinal pós-cicatricial. -Fístula. -Abcesso. -ECN recorrente. -Síndrome do intestino curto. -Síndrome desabsortiva. -Colestase. ==> DRENAGEM PERITONEAL: -A beira do leito. -Bebê crítico. -Peso < 1kg. -Instabilidade hemodinâmica. -ECN perfurada. · PROGNÓSTICO: -Bom a longo prazo. -Pior quando há: bacteremia, baixa idade gestacional, sequelas gastrointestinais (10 a 30%). · PREVENÇÂO: -Alimentação com leite materno assim que possível é a medida preventiva mais eficiente, reduzindo em quase 70% os riscos de enterocolite necrosante. -Suplementação de IgA, com arginina, corticosteroides, antibióticos e probióticos. -Lavagem/limpeza das mãos (álcool 70).
Compartilhar