Irmãos Siameses Caso prático com a decisão

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FACULDADE SOLIDÁRIA DO OESTE PAULISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caso Prático. Teoria Geral do Processo.
 
A.M. 
Turma: Direito 4° Semestre. 
 
 
 
 Professorª: Me. Samira Monayari Bertão. 
 
 
Presidente Prudente- SP 
2021
 
CASO PRÁTICO.
Você com certeza já ouviu falar alguma vez na vida sobre gêmeos siameses. A gemeralidade imperfeita, condição rara que acontece uma vez em cada 100 mil nascimentos, ocorre quando há um erro na divisão celular após o 12º dia da concepção em embriões de gêmeos de um único óvulo de espermatozoide. Alfred e Peterson nasceram conectados a parte inferior do corpo. Cada um possui coração e estômagos próprios, mas o tema da discórdia acabou sendo o pênis que eles possuem apenas um. E o fato de possuírem apenas um pênis acabou se tornando um caso de justiça. Peter falou da seguinte forma na mídia: “meu irmão (Alfred) se masturba regularmente usando o nosso pênis e eu vejo isso como uma agressão sexual”. Durante a acusação ele afirma que por causa do vício de seu irmão Alfred, desenvolveu insônia e trauma, por ter se tornado uma vítima de estupro. “Eu não durmo porque estou com medo de que mais uma vez ele comece a me tocar”. Alfred em sua defesa diz que não faz nada de errado e tem o direito de se masturbar. Ele diz que faz isso quando Peter está dormindo, por saber que ele é contra e por não querer incomodá-lo. O advogado de Alfred diz que esse caso é muito importante porque se trata do direito a própria sexualidade, de todos os gêmeos siameses. Os irmãos tornam-se partes distintas na controvérsia. E Peter está processando criminalmente seu irmão Alfred por ser vítima de estupro e também pleiteando indenização por danos morais na Vara Cível por ferir com sua intimidade. Especialistas estimam que decidir o caso seja tão difícil, tanto do ponto de vista jurídico, quanto medicinal. Diante desse caso, você como juiz agiria como?
SENTENÇA 
Processo nº 0000000000 
Classe Assunto: Indenização Moral 
Requerente: Peter 
Requerido: Alfred 
Juiz(a) de Direito: Dr(a) A.Muniz. 
Vistos. 
Peter, ajuizou ação de indenização por danos morais em face de Alfred alegando em síntese que: Alfred e Peterson nasceram conectados a parte inferior do corpo. Cada um possui coração e estômagos próprios, mas possuem apenas um pênis. E o fato de possuírem apenas um pênis acabou se tornando um caso de justiça. Alega o Autor que o Réu se masturba regularmente usando o pênis em comum e vê naquele ato uma agressão sexual. Afirma que por causa do vício do Réu, desenvolveu insônia e trauma, por ter se tornado uma vítima de estupro. Por fim alega que não dorme mais porque está com medo de que mais uma vez o Réu comece a tocar e tem a sensação que é nele que o Réu Toca.
 O Réu contestou argumentando que não faz nada de errado e tem o direito de se masturbar. Que pratica o ato quando Peter está dormindo, por saber que o Autor é contra e por não querer incomodá-lo. Afirma por fim que se trata do direito a própria sexualidade.
Houve Réplica. 
É o relatório. 
Fundamento e decido 
Sem maiores delongas passo ao julgamento da causa já no estado em que se encontram os autos. 
A ação é procedente. 
Ao que se vê, vem ocorrendo um mal-estar oriundo da pratica sexual realizada pelo Requerido, haja vista que, o ato do Requerido viola o direito do Autor quanto de sua dignidade, honra e personalidade. 
Nesse sentido, temos que temos a previsão de que todas as pessoas são capazes de direitos e deveres na ordem civil (art. 1º), seguido do 2º artigo que aponta um marco inicial da personalidade civil: 
“A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. ” 
Nesse contexto, é importante ressaltar que são direitos essenciais à dignidade e integridade e, independem da capacidade civil da pessoa. Por isso, protegem tudo o que lhe é próprio, honra, vida, liberdade, privacidade, intimidade, entre outros. 
Os direitos da personalidade são genericamente expressos em nossa Constituição Federal no artigo 5º. 
Dentre os tópicos abordados no código civil, temos a proteção à integridade do corpo da pessoa, da imagem, da inviolabilidade da vida privada, a proibição da divulgação de escritos, da transmissão da palavra ou a publicação, exposição e utilização da imagem da pessoa. 
Logo, o Direito da personalidade são aqueles que preservam a individualidade de cada pessoa. São classificados pela doutrina em três grupos: direito à integridade física, à integridade psíquica e à integridade moral. 
A maneira como um indivíduo se expressa, suas principais caraterísticas e como o indivíduo constrói o seu pensamento, são elementos que ajudam a definir a sua personalidade, sua forma de se expressar no mundo. 
Assim, podemos concluir que cada indivíduo tem a sua personalidade e características que o diferenciam dos demais. 
Temos ainda que personalidade é tudo aquilo que determina a individualidade de uma pessoa moral, segundo a percepção alheia; qualidade essencial e exclusiva de uma pessoa; aquilo que a distingue de todas as outras; caráter, identidade, originalidade.
Segundo o sentido jurídico personalidade é ligada a ideia de pessoa, do latim persona. Por isso, Sílvio de Salvo Venosa menciona: 
“A personalidade não é exatamente um direito; é um conceito básico sobre o qual se apoiam os direitos e constituem o mínimo necessário da substância da própria personalidade. ” 
Direitos da personalidade são direitos civis que preservam a individualidade de cada pessoa. 
A doutrina classifica os direitos da personalidade em três grupos: 
1. Direitos à integridade física: corpo, cadáver, alimentos, doação de órgãos, condenação a tortura, saúde, abandono de incapaz etc; 
2. Direitos à integridade psíquica: privacidade, sigilo, sociabilidade, liberdade etc; 
3. Direitos à integridade moral: honra, intimidade, privacidade, propriedade intelectual (direitos de invenção, direitos de autor), entre outros. 
Contudo, a definição não é exaustiva, pois tem um número ilimitado de hipóteses, como diz Roxana Cardoso Brasileiro Borges:
(…) “ são direitos em expansão. Com a evolução legislativa e com o desenvolvimento do conhecimento científico acerca do direito, vão-se revelando novas situações que exigem proteção jurídica e, consequentemente, novos direitos vão sendo reconhecidos (…) ” 
No caso, o direito à intimidade é inviolável e protege de intromissões indevidas, tanto no lar, na família, correspondência, finanças. 
De igual modo, temos também o direito ao próprio corpo que determina que ninguém pode ser obrigado a ter o corpo invadido contra a sua vontade, ainda que seja por procedimento médico. 
No caso dos xifópagos, ambas as pessoas autor e réu terão seus direitos individuais, ainda que permaneçam conectadas para o resto da vida. Terão duas certidões de nascimento e carteiras de identidade, terão seus direitos individuais, sociais, econômicos, políticos e qualquer outro direito separado. 
Nada muda em termos de personalidade jurídica se, em algum momento a medicina conseguir separá-los. É por isso que podem se casar com pessoas diferentes e, se tiverem filhos, a relação de parentesco será com aquele que o gerou. 
Posto isto e mais que consta nos autos JULGO PROCEDENTE a ação e CONDENO o réu ao pagamento de R$ 20.000,00, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de 1% ao mês a contar da data do pedido de indenização moral. 
Ante a sucumbência, a parte arcará com as custas e despesas processuais e arbitro 30% de verbas honorárias. 
Após o trânsito em julgado, façam-se as anotações pertinentes e remetam-se os autos ao arquivo.
Publique-se e intimem-se.
Presidente Prudente, 30 de setembro de 2021.
SENTENÇA CRIMINAL.
Processo nº 0000000000 
Classe Assunto: Ação Penal – Procedimento Ordinário – Estupro (art. 213 CP) 
Autor: Ministério Público do Estado de São Paulo 
Acusado: Alfred 
Juiz(a) de Direito: Dr(a) A. Muniz 
Vistos. 
Trata-se de Ação Penal Pública Incondicionada promovida pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro emface de ALFRED, imputando-lhe a pratica do crime tipificado no art. 213 caput do Código Penal.
Consta da denúncia que Alfred e Peterson nasceram conectados a parte inferior do corpo. Cada um possui coração e estômagos próprios, mas possuem apenas um pênis. E o fato de possuírem apenas um pênis acabou se tornando um caso de justiça. Alega o Autor que o Réu se masturba regularmente usando o pênis em comum e vê naquele ato uma agressão sexual. Afirma que por causa do vício do Réu, desenvolveu insônia e trauma, por ter se tornado uma vítima de estupro. Por fim, alega que não dorme mais porque está com medo de que mais uma vez o Réu comece a tocar e tem a sensação que é nele que o Réu Toca.
 O Réu ofereceu alegações finais, requerendo absolvição argumentando que não faz nada de errado e tem o direito de se masturbar. Afirma por fim que, se trata do direito a própria sexualidade.
É o relatório, fundamento e decido.
O processo comporta julgamento de mérito, eis que presentes os pressupostos processuais e as condições para o exercício do direito de ação.
Ao que se vê, vem ocorrendo um mal estar oriundo da pratica sexual realizada pelo Réu, haja vista que, o ato do Réu viola o direito do Autor quanto de sua dignidade, honra e personalidade. 
Nesse sentido, temos a previsão de que todas as pessoas são capazes de direitos e deveres na ordem civil (art. 1º), seguido do 2º artigo que aponta um marco inicial da personalidade civil: 
“A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.” 
Nesse contexto, é importante ressaltar que são direitos essenciais à dignidade e integridade e, independem da capacidade civil da pessoa. Por isso, protegem tudo o que lhe é próprio, honra, vida, liberdade, privacidade, intimidade, entre outros. 
Os direitos da personalidade são genericamente expressos em nossa Constituição Federal no artigo 5º. 
Todavia, no caso em apreço por se tratar de individualização de conduta, haja vista no direito penal, exigir-se a teoria da individuação da pena aponta para uma pena para cada pessoa. 
Porém, considerando que a sanção hegemônica é a sanção restritiva de liberdade, deixo de aplicar a condenação corporal para o acusado, haja vista que se assim aplicar o direito para os gêmeos xifópagos, sendo apenas um deles criminoso os dois deverão ser enclausurados, por ser um só corpo que deverá cumprir tão reprimenda.
 Ademais, no presente caso o paradigma utilizado de um corpo, uma sentença, torna-se revelado, sendo que a sanção para os crimes de estupro.
Verifico, portanto, não estarem presentes no caso os requisitos objetivos e subjetivos, autoria e por não se tornar possível a individualização da pena, SUBSTITUO a pena restritiva de liberdade por restritivas de direito consubstanciadas em prestação pecuniária consistente ao pagamento de 05 (cinco) salários mínimos vigentes.
Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão punitiva estatal e CONDENO o réu ALFRED, pela prática do crime tipificado no artigo 213, caput, no regime aberto, promovida a SUBSTITUIÇÃO por pena restritiva de direito na forma acima indicada. 
Após o trânsito em julgado, façam-se as anotações pertinentes e remetam-se os autos ao arquivo.
Publique-se e intimem-se.
Presidente Prudente, 30 de setembro de 2021
BONS ESTUDOS!!!
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