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CONCEITO DE PROCESSO PENAL Art. 5° inciso LIV, da CF: “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” Também conhecido como princípio do devido processo penal, têm como fundamento legal o art. 5°, inciso LIV, da CF. Apresenta-se, pois, a todos, como uma garantia constitucional do direito fundamental a um processo justo CONCEITOS Divergências acerca de um conceito certo e determinado. JOSÉ AFONSO DA SILVA: “são mandamentos nucleares de um sistema” Etimologicamente, do latim, principium, vem de primus (primeiro) e cipium, que provém de capio, significado pegar ou considerar. Assim, princípio é considerar algo do começo, ou compreender o que vem primeiro. É algo que subjaz a determinado sistema Podem estar no ordenamento jurídico de forma explicita ou implícita. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL Art. 5°, inciso LIV, da CF: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Garantia constitucional do direito fundamental a um processo imparcial e justo Deriva do inglês “due processo of law” Trata-se de um “sobre princípio” (princípio-base), sendo que, diante de sua expressiva garantia de ordem constitucional, vários outros princípios dele decorrem, no sentido de garantia do direito de ação e defesa Apesar de tais princípios serem análise de estudo posterior, citamos, por ora, alguns deles, para ilustrar; ampla defesa, contraditório, juiz natural, publicidade, motivação das decisões, entre outros. CF/88 – DUAS DIMENSÕES: ➢ SUBSTANCIAL OU MATERIAL: (“substantive due process”), que é devido processo legal que considera que as LEIS devem satisfazer ao interesse público, aos anseios do grupo social a que se destinam (garantias do processo relacionadas à atividade jurisdicional), evitando o abuso de poder por parte do Estado na elaboração das leis e garantindo ao cidadão a elaboração legislativa comprometida com os reais interesses sociais. Neste caso, o Poder Judiciário poderá proferir juízo acerca da própria razoabilidade ou proporcionalidade de determinado dispositivo normativo, mitigando sua aplicação ou mesmo determinando sua inaplicabilidade a partir de seu prudente arbítrio (trata-se de um instrumento para flexibilizar a atuação do poder do Estado com base na proporcionalidade e racionalidade); ➢ PROCEDIMENTAL OU FORMAL: (“procedural due process”), que é o princípio em seu sentido estrito, onde se assegura aos litigantes vários direitos (citação, ampla defesa, apresentação de provas, opção de recorrer a um defensor legal habilitado, juízo natural, contraditório, sentença fundamentada etc.) PRINCÍPIO DA VERDADE REAL VERDADE REAL: Pelo processo penal se busca a verdade real, ou seja, COMO os fatos realmente ocorreram, não bastando a verdade formal dos autos. O juiz deve trabalhar na reconstrução da verdade dos fatos, muito embora críticas existem acerca do poder instrutório do juiz. VERDADE FORMAL: É a verdade dos autos, sem a busca, ainda que por outros meios de provas não produzidas, da verdade real. Em razão de tal princípio, parte da doutrina (situação controversas) admite que o magistrado possa produzir provas, buscando a verdade real, devendo sua atuação ser sempre complementar, subsidiaria, neste sentido. ART. 156 do CPP: Permite que o magistrado produza provas de ofício, porém antes fase processual (produção antecipada de provas urgentes e relevantes). Ainda, o inciso II, do citado artigo permite que o juiz, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, determine, de ofício, a realização de diligências para dirimir dúvidas sobre ponto relevante. Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – Ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – Determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Não é um princípio absoluto, como no caso da inadmissibilidade de provas produzidas por meios ilícitos (art. 5o, LVI, da CF e art. 157, CPP), entre outros. Art. 157, "caput", CPP: São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA. Art. 5°, LV, da CF: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes". Trata-se de garantia do acusado. Divide-se em ➢ DEFESA TÉCNICA: que é a defesa obrigatória efetuada por profissional da advocacia (com capacidade postulatória), seja ele constituído, nomeado, ou defensor público. Deve ser plena e efetiva, não sendo possível que alguém seja processado sem que possua defensor. ➢ AUTODEFESA: também conhecida como DEFESA MATERIAL OU GENÉRICA, que é a defesa realizada pelo próprio imputado, que pode ou não ser exercida, podendo ele optar pelo silêncio. Decorrem da autodefesa o DIREITO DE AUDIÊNCIA, que é a oportunidade de influir na defesa por intermédio do interrogatório ou invocar, nesse ato, o direito ao silêncio, e o DIREITO DE PRESENÇA, consistente na possibilidade de o réu tomar posição, a todo momento, sobre o material produzido, sendo-lhe garantia a imediação com o defensor, o juiz e as provas. Intimação é obrigatória do defensor e do acusado para todos os atos processuais. Não possui, todavia, natureza absoluta. Ex: O ART. 217 DO CPP, QUE DITA QUE "se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor". Não obstante a possibilidade de retirada do acusado da sala de audiência, devem ser mantidos pelo juiz, todos os corolários da ampla defesa, assegurando a presença do defensor técnico na audiência e a comunicação deste com o seu defendido. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO: Previsto no art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal. Trata-se, portanto, da necessidade de ciência e participação das partes no processo, a fim de garantir- lhes a possibilidade de influir no convencimento do magistrado. Decorre do princípio da ampla defesa. Defesa sempre falará por último. INQUÉRITO POLICIAL: o entendimento majoritário é no sentido de que não é exigível o contraditório no inquérito policial, uma vez que se trata de procedimento administrativo de caráter informativo (fase investigatória). (É prescindível); (Inquisitivo, mas está sujeito a nossa constituição); (não temos provas, temos fontes de provas, elementos de provas, dando caminhos ao MP ou a vítima, sendo fonte, o caminho para se virar prova) CONTRADITÓRIO PARA A PROVA E CONTRADITÓRIO SOB RE A PROVA O CONTRADITÓRIO PARA A PROVA (OU CONTRADITÓRIO REAL) - demanda que as PARTES ATUEM NA PRÓPRIA FORMAÇÃO DO ELEMENTO DE PROVA, sendo indispensável que sua produção se dê na presença do órgão julgador das partes. É o que acontece com a prova testemunhal colhida em juízo, onde não há qualquer razão cautelar a justificação a não intervenção das partes quando sua produção, sendo obrigatória, pois, a observância do contraditório para a realização da prova. O CONTRADITÓRIO SOBRE A PROVA/CONTRADITÓRIO DIFERIDO OU POSTERGADO - traduz-se no reconhecimento da atuação do contraditório após a formação da prova. Em outras palavras, a observância do contraditório é feita posteriormente, dando-se oportunidade ao acusado e a seu defensor de, no curso do processo, contestar aprevidência cautelar, ou de combate a prova pericial feita no curso do inquérito. CONTESTAR NO DECORRER DO PROCESSO É o que acontece, por exemplo, com uma interceptação telefônica judicialmente autorizada no curso das investigações. Nessa hipótese, não faz sentido algum querer intimar previamente o investigado para acompanhar os atos investigatórios. Enquanto a interceptação estiver em curso, não há falar, portanto, em contraditório real. Porém, uma vez finda a diligência, e juntado aos autos o laudo de desaravação e o resumo das operações realizadas (Lei no 9.296/96, art. 6°), deles se dará vista à Defesa, a fim de que tenha ciência das informações obtidas através do referido procedimento investigatório, preservando-se, assim, o contraditório e a ampla defesa. Nesse caso, não há falar em violação à garantia da bilateralidade da audiência, porquanto o exercício do contraditório será apenas diferido para momento ulterior à decisão judicial (Renato Brasileiro). PRINCÍPIO DO “FAVOR REI” OU DO “IN DUBIO PRO REO”: Segundo tal princípio, em eventual conflito entre o jus puniendi (direito de punir) do Estado e o jus libertatis (direito de liberdade) do acusado, deve a balança inclinar-se a favor deste último, ou seja, EM CASO DE DÚVIDA, O JUIZ DECIDIRÁ A FAVOR DO RÉU. Decorre do princípio da presunção ou estado de inocência. Exemplos: proibição da “reformatio in pejus” (art. 617, CPP); NA FALTA DE PROVAS O JUIZ DEVE ABSOLVER O RÉU (art. 386, inciso VI, CPP), entre outros. Em “Ne reformatio in pejus” o réu pode entrar com recurso, no entanto pode correr o período de aumentar a sua pena. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL: Por outro lado, com o objetivo de vedar a criação de tribunais de exceção, a Constituição Federal em seu artigo 5º, consagra o chamado princípio do juiz natural, ao assegurar que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (inciso LIII) e que “não haverá juízo ou tribunal de exceção” (inciso XXXVII), ou seja, formados temporariamente para julgar caso ou casos específicos após o delito ter sido praticado. Assim, compreende-se que para o exercício da função jurisdicional, a competência está ínsita na própria Constituição e tenha sido fixada antes da prática de infração penal. Atualmente existe consenso no sentido em que não viola o princípio do juiz natural a existência de Justiça especializada ou de órgãos jurisdicionais especializados, já que, em tais casos, as normas que REPARTEM A COMPETÊNCIA SÃO PRÉVIAS AO FATO. O julgamento feito por juízo absolutamente incompetente gera a nulidade da ação (art. 564, I, do CPP). Tal PRINCÍPIO NÃO É ABSOLUTO, comportando exceções, como, por exemplo, o deslocamento de causa para vara competente, supervenientemente ao fato. PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL: Como no caso do Juiz, temos também o princípio do promotor natural, ou seja, praticada a infração penal, é necessário que já se saiba qual órgão do Ministério Público será o responsável pela acusação. Também aqui é vedada a designação aleatória de promotor para atuar em caso específico. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ: A lei 11.719/2008 inovou no processo penal brasileiro, inserindo o princípio da identidade física do juiz (artigo 399, § 2º, CPP), restando consagrado que o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença, ou seja, O JUIZ QUE COLHER A PROVA DEVERÁ JULGAR A LIDE como consectário lógico do princípio da oralidade e da imediação, permitindo melhor avaliação dos fatos e consequentemente maior justeza no julgamento da lide. PRINCÍPIO DA IGUALDADE DAS PARTES OU DA PARIDADE PROCESSUAL: Também conhecido como princípio da paridade de armas (Equality of Arms), consagra o tratamento isonômico das partes no transcorrer processual, em decorrência do próprio art. 5º, caput, da CF. O que deve prevalecer é a chamada igualdade material. Não obstante, em situações especificas deverá haver uma preponderância do interesse do acusado, consoante se depreende do princípio do favor rei. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO: O PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO, IMPLÍCITO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL (art. 5º, LV), permite a POSSIBILIDADE DE REVISÃO, VIA RECURSO, DAS CAUSAS JÁ JULGADAS PELO JUIZ DE PRIMEIRO GRAU. Existe, assim, um órgão jurisdicional contra o qual se recorre, que é denominado de juízo ad quo (“de onde” - jurisdição inferior) e outro, para o qual se recorre, chamado de juízo ad quem (“para quem” - jurisdição superior). EXCEÇÕES: Não obstante, existem casos em que a lei não exige a dualidade de instâncias, como por exemplo, nos embargos declaratórios, em que o próprio prolator da decisão recorrida deve reexaminá- la; processo de competência originaria do STF (onde se começa); entre outros. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA OU DA NÃO CULPABILIDADE: É AQUELA PRISÃO SEM CULPA A denominação de tal princípio encontra divergências na doutrina. Presunção de inocência, presunção da não culpabilidade e estado de inocência são denominações tratadas como sinônimas, embora alguns doutrinadores encontrem diferenças entre elas. Trata-se de princípio expresso. Está previsto no art. 5º, inc. LVII, da CF (inserido no ordenamento jurídico brasileiro pela CF/88) e dita que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória. É uma garantia processual penal. Ainda, o art. 283, do CPP, dita que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva” Desse princípio derivam DUAS REGRAS fundamentais: ➢ REGRA PROBATÓRIA VISTO QUE O ESTADO DEVE PROVAR, NO ENTANTO SE CABER DÚVIDA O RÉU SERÁ ABSOLVIDO (ou de juízo), donde se extrai que o ônus da prova cabe à acusação (e não ao acusado) ➢ REGRA DE TRATAMENTO, PODENDO SER INTERNA E EXTERNA, VISTO QUE A INTERNA O SUJEITO NÃO PODE TER CONTRA SI QUALQUER DECISÃO DE CONDENADO, POIS ELE AINDA NÃO FOI CONDENADO, E A EXTERNA É QUE AQUI FORA ELE TAMBÉM NÃO DEVE SER CONSIDERADO CULPADO, ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO que é o princípio propriamente dito (“ninguém pode ser considerado culpado senão depois de sentença com trânsito em julgado, o que impede qualquer antecipação de juízo condenatório ou de culpabilidade”. Não obstante, em decisão recente, durante o julgamento do HC 126.292/SP (de relatoria do Ministro Teori Zavascki), o STF modificou sua jurisprudência e firmou o entendimento no sentido de permitir a execução provisória da pena após a confirmação de condenações criminais em segunda instância. De se destacar que a prisão processual não ofende este princípio, quando decretada a TÍTULO CAUTELAR, para possibilitar o desenvolvimento do processo, desde que fundamentada (condições autorizadoras). Neste sentido, Súmula 9, do STJ. O que não pode ocorrer, segundo tal princípio, é a execução antecipada da pena privativa de liberdade. Recentemente, o CTF, ao interpretar referido art. 283, do CPP, no julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidades n° 43, 44 e 54, de relatoria do ministro Marcos Aurélio de Mello, entendeu pela sua constitucionalidade, concluído que o início do cumprimento da pena deve ocorrer tão somente após o trânsito em julgado da condenação criminal; O artigo em alusão foi alterado pela nova Lei 13.964/19, mantendo-se, porém, a exigência da prisão no caso de condenação, somente após o trânsito em julgado da sentença criminal condenatória. Ainda, a alteração do §2°, do artigo 313, do CPP, também pela Lei 13.964/19, sacramentou a impossibilidade de antecipação de cumprimento de pena. Artigo 313, §2°, do CPC: Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipaçãode cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia. Art. 492: Em seguida, o presidente proferirá sentença que: I – No caso de condenação e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos; § 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo. § 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito suspensivo à apelação de que trata o § 4º deste artigo, quando verificado cumulativamente que o recurso; I - Não tem propósito meramente protelatório; e II - Levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão. PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES: O Princípio da motivação das decisões, previsto no art. 93, IX, CF, DETERMINA QUE O JUIZ, QUE É LIVRE PARA DECIDIR, O FAÇA DE FORMA MOTIVADA, apoiando-se nas provas produzidas no processo, sob pena de nulidade absoluta. É a garantia de um julgamento justo e imparcial, evitando-se assim o arbítrio estatal. É também conhecido como princípio da PERSUASÃO RACIONAL DO JUIZ OU DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO. No que diz respeito à DECISÃO QUE RECEBE A DENÚNCIA OU QUEIXA, existe discussão acerca da necessidade de sua motivação, prevalecendo o entendimento de que, diante do princípio em alusão, a motivação em casos tais deve ocorrer ainda que de forma sucinta, limitando-se à admissibilidade da acusação formulada na inicial, a fim de se evitar o prejulgamento. PRINCÍPIO DA AÇÃO, DEMANDA OU INICIATIVA DAS PARTES: CABE ÀS PARTES PROVOCAR A PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. O advento deste princípio vem para ratificar o Magistrado como figura imparcial no processo, figura essa que não pode dar início ao processo sem provocação das partes. Porém, há certas previsões que contrariam este princípio, como a possibilidade de o Magistrado ordenar a produção de provas e a decretação da prisão preventiva de ofício. Expõe a máxima “ne procedat judex ex officio”. É a chamada “inércia da jurisdição” e, como a jurisdição é inerte, cabe às partes sua provocação, exercendo o direito de ação (provocação da prestação jurisdicional). O juiz, como figura imparcial no processo, não pode dar início ao processo sem provocação das partes. Não obstante, em nome do princípio da verdade real, admite-se que o juiz possa ordenar a produção de provas no processo, em alguns casos. Ainda, para proteção do status libertatis do acusado e da proteção do processo legal, o juiz pode, também de forma excepcional, atuar ex officio, como no caso de concessão de “habeas corpus” ou de revogação de prisão preventiva, entre outros. PRINCÍPIO DO IMPULSO OFICIAL E DA ORDEM CONSECUTIVA LEGAL: Apesar da inercia da jurisdição, é imperativo afirmar que, UMA VEZ INICIADO O PROCESSO, COM O RECEBIMENTO DA INICIAL ACUSATÓRIA, CABE AO MAGISTRADO VELAR PARA QUE ESTE CHEGUE AO SEU FINAL, MARCANDO AUDIÊNCIAS, ESTIPULANDO PRAZOS, DETERMINANDO INTIMAÇÕES, ENFIM, IMPULSIONANDO O ANDAMENTO DO PRÓPRIO PROCEDIMENTO. E, nos termos do princípio da ordem consecutiva legal, deve-se SEMPRE OBEDECER À ORDEM PROCESSUAL PREVISTA NA LEI, NÃO SE ADMITINDO O RETORNO A FASES ULTRAPASSADAS EM RELAÇÃO ÀS QUAIS OCORRE A PRECLUSÃO. PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE: Dita que a iniciativa da ação penal deve partir do Estado, que só pode exercer o seu “jus puniendi” por meio de órgãos públicos, ou seja, a autoridade policial, no caso do inquérito e o Ministério Público, no caso da ação penal pública. Esse princípio está ligado diretamente com os princípios da legalidade e da obrigatoriedade. PRINCÍPIO DA OFICIOSIDADE: Também conhecido como PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE, dita, como regra geral, que o Ministério Público e a Autoridade Policial, nos casos de ação penal pública, tendo conhecimento da possível ocorrência de um delito, deverão AGIR EX OFFICIO, INDEPENDENTEMENTE DE QUALQUER CONDIÇÃO. SE HOUVER ELEMENTOS É OBRIGATÓRIO EXCEÇÕES: Ação penal pública condicionada a representação da vítima ou à requisição do Ministro da Justiça (art. 24, do CPP). PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE: É QUANDO O PROCESSO PENAL É PUBLICO, VISTO QUE, O MESMO NÃO É ABSOLUTO CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL, NÃO SÃO PÚBLICOS Art. 234-B, DO CP: Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça. Está prevista no artigo 5°, inciso LX, da CF e no art. 792, do CPP. A publicidade dos atos processuais, que garante a transparência do processo penal. NÃO É UM PRINCÍPIO ABSOLUTO, sendo que o sigilo é admissível quando a defesa da intimidade ou o interesse social (busca da verdade real) o exigirem (art. 5°, inciso LX, parte final e § 1°, do art. 792, do CPP). INQUÉRITO POLICIAL: é sigiloso (uma de suas características), por se tratar peça investigativa que antecede ao processo penal, ressalvada, todavia, a prerrogativa do advogado (art. 7, XIV, Lei 8906/94) PAULO RANGEL define o sistema processual penal como sendo “o conjunto de princípios e regras constitucionais, de acordo com o momento político de cada Estado, que estabelece as diretrizes a serem seguidas à aplicação do direito penal a cada caso concreto”. Assim, o estudo dos sistemas processuais busca analisar a interação existente entre juiz (seu papel na condução do processo e na produção de provas), promotor ou querelante (como órgãos de acusação) e defesa (direito de defesa do réu). Na doutrina encontramos três sistemas processuais penais, quais sejam: o INQUISITORIAL, O ACUSATÓRIO E O MISTO. Contexto político social Estado Democrático de Direito ESPÉCIES INQUÍSITORIAL ACUSATÓRIO; E MISTO SISTEMA INQUITORIAL (INQUÍSITIVO) Trata-se de sistema rigoroso, secreto (sigiloso), escrito e que tem a tortura como meio de buscar o esclarecimento dos fatos e de concretizar a finalidade do processo penal. A confissão, para tal sistema, é a rainha das provas (prova-mãe) A PRINCIPAL CARACTERÍSTICA de tal sistema é que não há o CONTRADITÓRIO, sendo que as funções de acusar, defender e julgar estão reunidas nas mãos do juiz inquisidor, sendo o acusado considerado mero objeto do processo, e não sujeito de direitos. (VISTO QUE NO BRASIL OCORRE SIM A CONTRADIÇÃO, SENDO UM DIREITO SAGRADO) Diante disso, o sistema inquisitivo (JUIZ INQUISIDOR) é incompatível com os direitos e garantias individuais, por VIOLAR PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS, violando assim a Constituição Federal e Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH, art. 8, nº 1). Art. 8, nº 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. De se destacar que o CPP é de 1942, por possuir um viés extremamente inquisitorial, deve ser lido à luz da Constituição Federal, que adota o sistema acusatório. SISTEMA ACUSATÓRIO: Caracteriza-se pela presença de PARTES DISTINTAS, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de posições (presença de contraditório), e A AMBAS SE SOBREPONDO UM JUIZ, de maneira EQUIDISTANTE e IMPARCIAL. Aqui, há uma separação das funções de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se, assim, como legítimoatum trium personarum. É, portanto, CONTRADITÓRIO, PÚBLICO, IMPARCIAL E ASSEGURA AMPLA DEFESA. (CADA PARTE EXERCE SUA PARTE NO PROCESSO, VISTO QUE O JUIZ NÃO PODE PRODUZIR PROVAS) Além disso, o sistema acusatório pressupõe as seguintes garantias constitucionais: da tutela jurisdicional (art. 5º, XXXV), do devido PROCESSO LEGAL (art. 5º, LIV), da GARANTIA do ACESSO À JUSTIÇA (art. 5º, LXXIV), da GARANTIA DO JUIZ NATURAL (art. 5º, XXXVII e LIII), do TRATAMENTO PARITÁRIO DAS PARTES (art. 5º, caput e I), da AMPLA DEFESA (art. 5º, LV, LVI e LXII), da PUBLICIDADE dos atos processuais e motivação dos atos decisórios (art. 93, IX) e da PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA (art. 5º, LVII). Aqui, o princípio da verdade real é substituído pelo princípio da BUSCA DA VERDADE, devendo a PROVA ser produzida com a FIEL OBSERVÂNCIA AO CONTRADITÓRIO e à AMPLA DEFESA. A CF adotou este sistema (há controvérsias), conforme o art. 129, I, que outorga ao MP a titularidade da ação penal pública. No sistema acusatório brasileiro, a fase investigatória fica a cargo da Polícia Civil (inquérito policial), cabendo ao Ministério Público propor a ação penal ou o arquivamento do inquérito, ou ao ofendido, nos casos de ação penal privada. Não obstante, como veremos adiante, tem doutrinador que defende que o BRASIL ADOTOU UM SISTEMA MISTO E NÃO UM SISTEMA ACUSATÓRIO (CORRENTE MINORITÁRIA). Atualmente, após modificação pela Lei 13.964/19, consta expressamente no Código de Processo Penal sua ESTRUTURA ACUSATÓRIA (art. 3º-A). Art. 3º- A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. A PRODUÇÃO DE PROVA, neste sistema, RECAI SOBRE AS PARTES, sendo que o JUIZ só deve INTERVIR QUANDO PROVOCADO, a fim de se evitar comprometimento psicológico prévio. Não obstante, há que se destacar que o CÓDIGO DE PROCESSO PENAL POSSIBILITA AO JUIZ, de ofício, a PRODUÇÃO DE PROVAS de ofício, como no caso do art. 156, do CPP, porém, de FORMA SUBSIDIÁRIA. Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – Ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida II – Determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. SISTEMA ACUSATÓRIO NÃO PURO EXISTE CASOS QUE A PUBLICIDADE É NECESSARIO, NO ENTANTO É ALGO QUE NÃO DEVE OCORRER EM PUBLICO SISTEMA MISTO: Também conhecido como sistema francês, propõe uma SOLUÇÃO INTERMEDIÁRIA ENTRE OS SISTEMAS INQUISITIVO E ACUSATÓRIO, por meio da união da eficiência inquisitória na investigação dos delitos e o tipo processual acusatório, sendo o mais ADEQUADO NA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS. Nesse sistema temos DUAS FASES: na primeira, INQUISITIVA (INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR), busca-se indícios de materialidade e de autoria do crime apurado; na segunda, de caráter ACUSATÓRIO, haverá uma instrução PROBATÓRIA e uma fase final (JULGAMENTO), respeitando-se todas as garantias processuais. Nesta fase, haverá a distinção entre o órgão acusador, a defesa e o julgador. RENATO BRASILEIRO destaca que, quando o Código de Processo Penal entrou em vigor, prevalecia o entendimento de que o sistema nele previsto era misto. A fase inicial da persecução penal, caracterizada pelo inquérito policial, era inquisitorial. Porém, uma vez iniciado o processo, tínhamos uma fase acusatória. Todavia, com o advento da Constituição Federal, que prevê de maneira expressa a separação das funções de acusar, defender e julgar, estando assegurado o contraditório e a ampla defesa, além do princípio da presunção de não culpabilidade, estamos diante de um sistema acusatório. Hoje, como visto, resta expresso no CPP que o PROCESSO PENAL TERÁ ESTRUTURA ACUSATÓRIA, VEDADAS A INICIATIVA DO JUIZ NA FASE DE INVESTIGAÇÃO E A SUBSTITUIÇÃO DA ATUAÇÃO PROBATÓRIA DO ÓRGÃO DE ACUSAÇÃO (art. 3º-A, incluído pela Lei 13.964/19). Vai adiante o doutrinador dizendo que, na verdade, não se trata de um sistema acusatório puro. De fato, há de se ter em mente que o Código de Processo Penal tem nítida inspiração no modelo fascista italiano. Torna-se imperioso, portanto, que a legislação infraconstitucional seja relida diante da nova ordem constitucional. Dito de outro modo, não se pode admitir que se procure delimitar o sistema brasileiro a partir do Código de Processo Penal. Pelo contrário. São as leis que devem ser interpretadas à luz dos direitos, garantias e princípios introduzidos pela Carta Constitucional de 1988. Para PAULO RANGEL, apesar de posicionar-se no sentido de que o Brasil adota o sistema acusatório, lembra que tal SISTEMA EM SUA ESSÊNCIA NÃO É PURO, pois argumenta que “o inquérito policial regido pelo sigilo, pela inquisitoriedade, tratando o indiciado como objeto de investigação, integra os autos do processo”. Tudo, sem olvidar que, tanto na fase de investigação, quanto na fase judicial, o juiz pode determinar a realização de provas de ofício. MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS AUTOTUTELA: caracteriza-se pelo emprego da força bruta para a satisfação de interesses. Trata-se de medida de natureza excepcional, embora ainda existente atualmente no nosso ordenamento jurídico-penal, como no caso da legítima defesa, por exemplo. AUTOCOMPOSIÇÃO: baseia-se na busca do consenso. Um dos indivíduos - ou ambos -, renunciam seu interesse por inteiro ou de parte dele. Trata-se, portanto, de um ajuste de vontades entre as partes, podendo haver a participação de terceiros (árbitro, conciliador ou mediador). Têm em comum a circunstância de serem parciais, no sentido de que dependem da vontade e da atividade de uma ou de ambas as partes envolvidas. FORMAS DE AUTOCOMPOSIÇÃO: RENÚNCIA: ocorre quando o autor renúncia seu interesse. DESISTÊNCIA: ocorre quando o autor inicia a busca da proteção de seu direito lesado ou ameaçado de lesão e, não obstante, desiste de prosseguir. SUBMISSÃO: ocorre quando o réu se sujeita à vontade do autor. TRANSAÇÃO: caracteriza-se pela presença de concessões mútuas, ou seja, na troca equilibrada e recíprocas entre as partes. CONCEITO É o poder (para alguns a função ou atividade) que o Estado tem de aplicar a lei abstrata aos casos concretos, quando solicitado (resolver a lide, ou seja, os conflitos que acontecem na sociedade), através do Poder Judiciário. A palavra jurisdição tem origem latina em jurisdictio, ou seja, juris (direito) e dictio (dizer), ou seja, é a função de dizer o direito. Diferentemente do que ocorre na autotutela ou na autocomposição, na jurisdição temos a HETEROCOMPOSIÇÃO, que é a forma de resolução de conflitos por meio de um terceiro estranho à lide, no caso, o Estado representado pelo juiz, através de um processo regular. PRINCÍPIOS QUE REGEM A JURISDIÇÃO A jurisdição, como instituto jurídico, possui vários princípios que visam delimitar sua amplitude, ou até mesmo sua aplicabilidade, disciplinando-a com completude. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL: este princípio – já estudado anteriormente - consiste que ninguém poderá ser processado e julgado, senão por meio de quem tenha competência jurisdicional em regras previamente determinada, e que não haverá juízo ou tribunal de exceção (art. 5.º, LIII, XXXVII da CF). Deste princípio, decorre o princípio da irrecusabilidade (as partes não podem recusar a atuação de determinado juiz, salvo no caso de impedimento ou suspeição). PRINCÍPIO DA INVESTIDURA: para que a jurisdição possa ser imposta, faz necessário que alguém tenha sido previamente investido no cargo de magistrado e que ainda esteja no exercício de suas atribuições (art. 94, CF). A investidura se dá por aprovação em concursopúblico da magistratura, seguida da nomeação e posse do juiz; PRINCÍPIO DA INÉRCIA DA JURISDIÇÃO: cabe às partes provocar a prestação jurisdicional, não podendo o magistrado iniciar, ex officio, uma ação judicial. Este princípio tem relação com a necessidade de justa composição da lide e de absoluta imparcialidade do juiz. Expõe a máxima de procedat judex ex officio. Não obstante, em nome do princípio da verdade real, admite-se que o juiz possa ordenar a produção de provas no processo, em alguns casos (arts. 156, II e 404, do CPP). Ainda, para proteção do status libertatis do acusado e da proteção do processo legal, o juiz pode, também de forma excepcional, atuar ex officio, como no caso de concessão de “habeas corpus” ou de revogação de prisão preventiva, entre outros. PRINCÍPIO DO IMPULSO OFICIAL E DA ORDEM CONSECUTIVA LEGAL: apesar da inercia da jurisdição, é imperativo afirmar que, uma vez iniciado o processo, com o recebimento da inicial acusatória, cabe ao magistrado velar para que este chegue ao seu final, marcando audiências, estipulando prazos, determinando intimações, enfim, impulsionando o andamento do próprio procedimento. E, nos termos do princípio da ordem consecutiva legal, deve-se sempre obedecer à ordem processual prevista na lei, não se admitindo o retorno a fases ultrapassadas em relação às quais ocorre a preclusão; PRINCÍPIO DA INDECLINABILIDADE: o juiz não pode subtrair-se ao exercício da jurisdição (art. 5.º, XXXV, CF). Ainda, nenhuma lei pode ser editada para excluir do Judiciário lesão ou ameaça a direito; PRINCÍPIO DA IMPRORROGABILIDADE: salvo em situações excepcionais expressamente previstas (como, por exemplo, no caso de prorrogação de certas competências), um juiz não pode invadir a competência de outro; PRINCÍPIO DA INDELEGABILIDADE: Nenhum juiz pode delegar sua jurisdição a outro (princípio do juiz natural); PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO: O juiz, ao proferir sentença, deverá observar a exata correspondência entre sua decisão e o pedido lançado na denúncia ou queixa (não poderá ocorrer julgamentos citra, extra ou ultra petita); e PRINCÍPIO DA UNIDADE: A jurisdição é una, ou seja, exercida com a finalidade de aplicação do direito objetivo ao caso concreto; INEVITABILIDADE: Trata do caráter obrigatório de submissão das partes à decisão do magistrado. As PARTES NÃO PODEM SE RECUSAR A CUMPRIR AQUILO QUE FOI DETERMINADO PELO ESTADO NA FIGURA DO JUIZ. SUBSTITUTIVIDADE O Estado, por meio de pessoas físicas intelectualmente preparadas, é designado para compor qualquer lide. A figura do juiz substitui a do particular para resolver o conflito de interesses entre os contendores. Existe, portanto, um órgão adequado para a solução de tais conflitos (poder judiciário). INÉRCIA Cabe à parte provocar a prestação jurisdicional. O Estado se mantém inerte até o momento em que o particular o invoca. IMUTABILIDADE Os atos jurisdicionais são os únicos que transitam em julgado, diferentemente dos atos legislativos e administrativos. Significa que as decisões transitadas em julgado são imutáveis e definitivas, embora não se trate de uma característica. NÃO É ABSOLUTA POSSUE EXCESSÕES Segundo NOBERTO AVENA, a jurisdição pode ser classificada em: QUANTO À GRADUAÇÃO: A jurisdição pode ser inferior (que compreende os órgãos de primeira instância) e superior (são as demais instâncias, as quais compete primordialmente o julgamento de recursos interpostos); QUANTO À MATÉRIA Classifica-se quanto a natureza da causa a ser julgada, podendo ser penal, civil, eleitoral, trabalho etc.; QUANTO À ORGANIZAÇÃO JURISDICIONAL Trata-se de divisão que decorre da matéria. Neste caso, a jurisdição poderá ser estadual, quando exercida pelos juízes estaduais (Justiça Comum); ou federal, se realizada por juízes federais (Justiça Federal). A estes últimos compete, em primeira análise, julgar as causas de interesse da União; DIVISÃO DO TRABALHO QUANTO AO OBJETO A jurisdição poderá ser CONTENCIOSA, se houver litígio; e VOLUNTÁRIA ou graciosa, caso tenha caráter apenas homologatório de vontade do interessado ou de acordo das partes; e QUANTO À FUNÇÃO Divide-se a jurisdição em ORDINÁRIA OU COMUM, integrada pelos órgãos da Justiça Comum; e ESPECIAL OU EXTRAORDINÁRIA (também é divisão de serviço), na hipótese de, por exceção, estar investido no poder de julgar um outro órgão, como, por exemplo, o Senado, quando se trata do julgamento dos crimes de responsabilidade contra o presidente da república. CONDIÇÕES DA AÇÃO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS - ÁUREA MARIA FERRAZ DE SOUSA Como se sabe, os conflitos de interesses não podem ser resolvidos pelas próprias partes envolvidas, mas pelo Estado, através do Poder Judiciário. Assim, as partes precisam levar a lide (conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida conceito de Carnelutti) até o juiz através de uma demanda que, para ser conhecida e solucionada, há que preencher certos requisitos de admissibilidade. SÃO OS CHAMADOS CONDIÇÕES DA AÇÃO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS. CONDIÇÕES DA AÇÃO Há três teorias tradicionais que explicam as condições da ação: ➢ TEORIA CONCRETISTA ➢ TEORIA ABSTRATIVISTA ➢ TEORIA ECLÉTICA OU MISTA Para a primeira TEORIA CONCRETISTA - o direito de ação se fundamenta no direito material. Em outras palavras, os precursores desta teoria confundiam procedência do pedido com condições da ação. O direito de ação era considerado como o direito a um julgamento favorável. A TEORIA ABSTRATIVISTA - por sua vez, preconiza que o direito de ação existe independente do direito material. Para ela, o direito de ação é o direito a um provimento judicial, qualquer decisão. Já para a terceira TEORIA ECLÉTICA - o direito de ação é o direito a um julgamento de mérito (favorável ou desfavorável); entende esta corrente que as condições da ação são condições para o exame do mérito. Esta terceira teoria foi bastante criticada, diante da dificuldade em se distinguir, na prática, casos de carência de ação dos casos de improcedência da ação. Como se consegue distinguir o exame da possibilidade jurídica do pedido (que é uma condição da ação) do mérito da causa? Na prática, essa análise, torna-se impossível. Daí a razão de uma outra teoria ter sido desenvolvida no Brasil, a TEORIA DA ASSERÇÃO. Para a teoria da asserção, as condições da ação devem ser analisadas com base apenas nas afirmações das partes; para esta teoria, não há que se falar em produção de provas para análise das condições da ação. Desta forma, se com o que foi alegado pelo autor, as condições estiverem presentes, posterior análise sobre sua veracidade será considerada decisão de mérito. Assimiladas as teorias que explicaram o que vem a ser condições da ação, cumpre trazer quais são as condições da ação. São elas: ➢ POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO ➢ INTERESSE DE AGIR ➢ LEGITIMIDADE AD CAUSAM A POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO é a aptidão de um pedido, em tese, ser acolhido. Se, em tese, o pedido é possível, está preenchida esta primeira condição da ação. O INTERESSE DE AGIR - é verificado pela reunião de duas premissas: a UTILIDADE e a NECESSIDADE do processo. A UTILIDADE está em se demonstrar que o processo pode propiciar benefícios; a NECESSIDADE do processo se constata quando o proveito de que se precisa só é possível alcançar por meio do Judiciário. Com relação à LEGITIMIDADE AD CAUSAM (ou legitimidade para agir), ela pode ser conceituada como o poder jurídico de conduzir validamente um processo em que se discute um determinado conflito. A legitimidade pode ser exclusiva (atribuída a um único sujeito), concorrente (atribuída a mais de um sujeito), ordinária (o legitimado discute direito próprio) e extraordinária (o legitimado, em nome próprio, discute direito alheio). PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS Os pressupostos processuais são de existência oude validade. Os pressupostos de existência subdividem-se em SUBJETIVOS e em OBJETIVOS. Os primeiros são compostos de: um órgão jurisdicional e da capacidade de ser parte (aptidão de ser sujeito processual). O pressuposto processual de existência objetivo é a própria demanda (ato que instaura um processo, ato de provocação). Presentes os pressupostos processuais de existência, passa-se à análise dos pressupostos PROCESSUAIS DE VALIDADE, que também se subdividem em subjetivos e objetivos. OS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DE VALIDADE SUBJETIVOS dizem respeito ao juiz (sua competência e imparcialidade) e às partes (que devem ter capacidade processual e capacidade postulatória). Já os PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DE VALIDADE OBJETIVOS podem ser intrínsecos ou extrínsecos. Os INTRÍNSECOS são os pressupostos que devem ser vistos dentro do processo, como o adequado desenrolar dos atos processuais. Os EXTRÍNSECOS, também chamados de negativos, são pressupostos que não devem estar presentes. Em outras palavras, para que o processo seja válido, não podem ocorrer, como a coisa julgada, por exemplo. Diante da superficial análise das condições da ação e dos pressupostos processuais, nota-se que são todos requisitos de admissibilidade para o conhecimento de um conflito perante o Poder Judiciário, através do qual será possível que se forneça ou não aos litigantes o bem da vida que se busca. Código de Processo Civil Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (...) IV - quando se verificar a ausência de pressupostos desconstituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; (...) Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; INTRODUÇÃO: Por força da Constituição Federal (art. 52, XL), a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Logo, cuidando-se de norma penal mais gravosa, vige o princípio da irretroatividade. CONTRÁRIO SENSU, temos que a lei mais benéfica é dotada de extratividade, ou seja, tem ULTRA ATIVIDADE quando mesmo depois de revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência; e RETROATIVIDADE, que é a possibilidade de retroagir no tempo a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor. No PROCESSO PENAL, no entanto, É DIFERENTE. De acordo com o art. 2º, do CPP, que consagra o denominado princípio tempus regit actum, “a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. Desta forma, ante ao dispositivo legal mencionado (que parte da Doutrina chama de teoria do isolamento dos atos processuais), incide no processo penal o princípio da aplicabilidade imediata da norma processual, ou seja, será aplicada tão logo entre em vigor, sem prejuízo da validade dos atos já praticados anteriormente. O fundamento da aplicação imediata da lei processual é que se presume seja ela mais perfeita do que a anterior, por atentar mais aos interesses da Justiça, salvaguardar melhor o direito das partes, garantir defesa mais ampla ao acusado, ente outros. Portanto, ao contrário da lei penal, que leva em conta o momento da prática delituosa (tempus delicti), a aplicação imediata da lei processual leva em consideração o momento da prática do ato processual (tempus regit actum). Do princípio tempus regit actum DERIVAM DOIS EFEITOS: a) os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior são considerados válidos; b) as normas processuais têm aplicação imediata, regulando o desenrolar restante do processo. Não obstante, existe posição minoritária na doutrina, no sentido de que a irre-troatividade da lei penal mais gravosa também deve ser aplicada à norma processual, de sorte a potencializar as garantias inerentes ao imputado. Essa posição coloca as duas normas (penal e processual) no mesmo patamar. NORMA HÍBRIDA OU MISTA: É a norma que tem conteúdo misto, ou seja, possui uma parte de direito penal e outra de processo penal. Como exemplo podemos citar o art. 366 do CPP, que regulamenta a citação por edital e a suspensão do processo e da prescrição, caso o acusado, citado por edital, não compareça nem constitua advogado. A parte da norma que trata da citação por edital e da suspensão do processo é processual; já a outra parte do artigo que tem por objeto a suspensão da prescrição é de índole material (de direito penal, porque suspende a pretensão punitiva do Estado). Outro exemplo é a suspensão condicional do processo prevista no art. 89 da Lei 9099/95, porque determina a suspensão do processo, enquanto são cumpridas as condições fixadas pelo juiz (efeito processual do benefício), porém, se o acusado der cumprimento a tais condições, será declarada extinta sua punibilidade pelo juiz (consequência de direito material). De se destacar que toda norma híbrida ou mista, pelo fato de possuir dentro de si um conteúdo de direito penal, se submete à vedação de retroatividade da lei penal mais gravosa, acima comentada (princípio da irretroatividade). NORMAS PROCESSUAIS HETEROTÓPICAS: Há determinadas regras que, não obstante previstas em diplomas processuais penais, possuem conteúdo material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado. Outras, no entanto, inseridas em leis materiais, são dotadas de conteúdo processual, a elas sendo aplicável o critério da aplicação imediata (tempus regit actum). Daí surge o fenômeno denominado de heterotopia, ou seja, situação em que, apesar de o conteúdo da norma conferir-lhe uma determinada natureza, encontra-se ela prevista em diploma de natureza distinta. Exemplo: o art. 234-B do CP, ao prever que os processos por crimes contra a dignidade sexual correrão em segredo de justiça é uma típica norma processual, que se encontra, equivocadamente, em um diploma legislativo que trata do direito material (Código Penal). Mais do que o diploma legislativo onde se encontra a norma, o importante a se saber é sua verdadeira natureza: se de direito material ou processual. Tais normas não se confundem com as normas processuais híbridas ou mistas. Enquanto a heterotópica possui uma determinada natureza (material ou processual), em que pese estar incorporada a diploma de caráter distinto, a norma processual mista ou híbrida apresenta dupla natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em outra.
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