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Leia o texto a seguir, de Christophe Dejours e responde ao que se pede. ―A sexualidade e as pulsões são amorais e egocêntricas. Em outras palavras, a referência à sexualidade não é neutra axiologicamente. A antropologia freudiana sugere, portanto, que as pulsões não conduzem o ser humano para a vida em sociedade, nem para a vida conjunta e para a solidariedade. As pulsões sexuais engendram, antes, o egoísmo e a rivalidade entre os seres humanos para gozar os prazeres terrestres, levando ao ódio, à violência e à morte na luta pela possessão dos objetos de prazer. Se, contudo, os seres humanos fazem sociedade, não é por causa de suas pulsões sexuais, mas por causa da necessidade. Não é por desejo, mas por obrigação. A resposta de Freud consiste em reconhecer que a sociedade não seria possível sem alguma modificação, desvio, ou mesmo amputação das metas pulsionais; além de recorrer à inibição quanto à meta sexual, à reversão contra a própria pessoa, à reversão em seu oposto, ao recalque, à sublimação. Ademais, Freud sustenta que a própria cultura é construída sobre a renúncia à satisfação sexual da pulsão, ou seja, sobre o sacrifício da pulsão. DISSONÂNCIA REVISTA DE TEORIA CRÍTICA. Campinas: Unicamp, v. 1, n. 1, 2017 (adaptado). Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se aproxima dos postulados no excerto, de acordo com os seus conhecimentos. Resposta Selecionada: Psicanálise. Resposta Correta: Psicanálise. Comentário da resposta: Resposta correta. Conforme vimos, o nome Freud é o grande marco da teoria psicanalítica, que baseia-se na análise de aspectos vinculados ao inconsciente e às pulsões humanas - sendo as principais delas a pulsão sexual, pulsão de vida e pulsão de morte. Pergunta 2 1 em 1 pontos Leia o trecho a seguir. Para a estética da recepção, a teoria da literatura deve ser fundada no reconhecimento da historicidade da arte. Segundo Jauss, as outras linhas teóricas não consideram a história nas análises do texto literário. (...) O processo da leitura, a experiência estética e o leitor, principal elo desse sistema, são elementos centrais para conhecimento e interpretação da obra. Jauss propõe o estudo da literatura sob a perspectiva de sua relação com a época de produção e com a posição histórica do intérprete. Assim, a estética da recepção é fruto do encontro entre poética e hermenêutica (estética e interpretação). O teórico defende uma história da arte fundada nas perspectivas do sujeito produtor e do consumidor e na sua interação mútua, vendo a obra de arte no horizonte histórico de sua origem, função social e ação no tempo. SILVA, A. C. S.; PAZ, Ravel Giordano. OBSERVAÇÕES SOBRE A APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO A HELENA, DE MACHADO DE ASSIS. REEL. Revista Eletrônica de Estudos Literários, v. 1, p. 1-17, 2014. No trecho em destaque, a autora faz um apanhado das principais características da chamada Estética da Recepção, uma teoria que propõe a reformulação da interpretação textual baseando-se na relação entre leitor e obra sob um ponto de vista diacrônico. Com base em seus conhecimentos, assinale a alternativa em que cita-se uma corrente literária que está em consonância com a Estética da Recepção. Resposta Selecionada: Fenomenologia. Resposta Correta: Fenomenologia. Comentário da resposta: Resposta correta. A Fenomenologia, enquanto corrente que analisa as percepções do indivíduo em relação ao objeto, foi estrutura-base dos postulados por Hans Robert Jauss em sua Teoria da Recepção. Pergunta 3 1 em 1 pontos O poema a seguir é de autoria de Fernando Pessoa, poeta português conhecido por sua vasta produção heteronímica. Leia-o e, depois, responda ao que se pede. AUTOPSICOGRAFIA O poeta é um fingidor, Finge tão completamente, Que chega a fingir que é dor, A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só as que eles não têm. E assim nas calhas da roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. PESSOA, Fernando. Autopsicografia. In: PESSOA, Fernando. Cancioneiro. Lisboa: Ática, 1981. A partir da leitura do poema, assinale a alternativa correta. Resposta Selecionada: O poema anuncia o processo de despersonalização do sujeito poeta enquanto um fingidor, capaz de fingir sentimentos que não existiram. Resposta Correta: O poema anuncia o processo de despersonalização do sujeito poeta enquanto um fingidor, capaz de fingir sentimentos que não existiram. Comentário da resposta: Resposta correta. Este poema é um marco para os críticos literários que se ocupam da obra de Fernando Pessoa porque antecipa algumas questões centrais da heteronímia. O sistema heteronímico constrói-se primordialmente a partir da despersonalização do poeta, através do fingimento de emoções, sensações e experiências, em uma espécie de empatia levada ao seu grau mais extremo - culminando em um processo de outrar-se. Nisto, a poética pessoana evidencia bem o trabalho linguístico que se dá no poema para que o leitor seja capaz de experienciar e sentir alguma emoção em uma primeira leitura. Pergunta 4 1 em 1 pontos Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se pede. ―O descentramento do sujeito anunciado (...) rompe com a concepção de um ser humano essencialista e universal compreendido pelos estruturalistas e permite pensar nas mais variadas formas de experiências vivenciadas em diferentes contextos, por diferentes indivíduos. Nesse sentido, compreende-se que (...) ‗[...] reafirma a importância da estrutura, não na constituição do Sujeito, mas sim na determinação das diferentes posições de sujeito, que emergem nos momentos de tomada de decisão‘ (PEREIRA, 2010, p. 422). ―[...] as teorias pós-críticas não limitam a análise do poder ao campo das relações econômicas do capitalismo. Com as teorias pós-críticas, o mapa do poder é ampliado para incluir os processos de dominação centrados na raça, etnia, no gênero e na sexualidade‖ (SILVA, 2005b, p. 149). Já Michel Foucault (1996), durante uma aula inaugural no Colégio da França, destaca que, intrínseco ao discurso, estão em jogo o desejo e o poder. ―O discurso verdadeiro, que a necessidade de sua forma liberta do desejo e libera do poder, não pode reconhecer a vontade de verdade que o atravessa; e a vontade de verdade, essa que se impõe a nós há bastante tempo, é tal que a verdade que ela quer não pode deixar de mascará-la‖ (p. 20). Revista Conhecimento Online, Novo Hamburgo, v. 1, p. 36-44, mar. 2017. ISSN 2176-8501. Disponível em: <https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaconhecimentoonline/article/view/460/1852>. Acesso em: 19 aug. 2019. Grifo nosso. Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se aproxima dos postulados no excerto. Resposta Selecionada: Pós-estruturalismo. Resposta Correta: Pós-estruturalismo. Comentário da resposta: Resposta correta. Mais uma vez, a associação de determinados nomes a determinadas terminologias é importante no reconhecimento da corrente crítica em questão. No caso do trecho que estamos analisando, é feita uma citação direta de Michel Foucault, um dos nomes ligados ao Pós-estruturalismo. Além disso, como vimos anteriormente, o Pós- estruturalismo destaca-se em relação ao Estruturalismo por depreender algo de novo das estruturas literárias e de análise do discurso, indo ao encontro da heterogeneidade do discurso. Pergunta 5 1 em 1 pontos Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se pede. O movimento deliberou, a partir de sua visão inovadora, que os críticos fizessem uma leitura minuciosa do poema (close reading), ou seja, para entender o poema deve-se apreciá-lo emocionalmente, buscando resolver as tensões entre as diversas unidades semânticasdo texto que independem das emoções do autor, ainda que essas emoções possam ter ocorrido durante a produção. Houve também outras deliberações essenciais para a formação da estrutura teórica da crítica analisada nesse ensaio. A maioria dos críticos adeptos a essa corrente dirigiam seu olhar ao desprezo da intenção do autor e da história social em que o poema estaria inserido. REVISTA ANAGRAMAS: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação. São Paulo: Edusp, v. 5, n. 3, maio 2012. Grifo nosso. Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se aproxima dos postulados no excerto. Resposta Selecionada: Neo-crítica. Resposta Correta: Neo-crítica. Comentário da resposta: Resposta correta. Como vimos, um dos marcos do New Criticism, ou Neo-crítica é o antibiografismo e o anti- historicismo que, apesar de muito se assemelharem aos postulados do Formalismo Russo, diferem deste diacronicamente, uma vez que a Neo-crítica foi um movimento muito mais ligado aos Estados Unidos e a década de 40. Pergunta 6 1 em 1 pontos Leia o trecho a seguir, retirado do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e, em seguida, leia o trecho do artigo A alma exterior em Machado de Assis: um olhar psicanalítico de Lívia Mesquita de Sousa e Terezinha Camargo Viana. ―— Vem cá, Eugênia, disse ela, cumprimenta o Dr. Brás Cubas, filho do Sr. Cubas; veio da Europa. E voltando-se para mim: — Minha filha Eugênia. Eugênia, a flor da moita, mal respondeu ao gesto de cortesia que lhe fiz; olhou-me admirada e acanhada, e lentamente se aproximou da cadeira da mãe. A mãe arranjou-lhe uma das tranças do cabelo, cuja ponta se desmanchara. — Ah! travessa! dizia. Não imagina, doutor, o que isto é... E beijou-a com tão expansiva ternura que me comoveu um pouco; lembrou-me minha mãe, e, — direi tudo, — tive umas cócegas de ser pai. — Travessa? disse eu. Pois já não está em idade própria, ao que parece. — Quantos lhe dá? — Dezessete. — Menos um. — Dezesseis. Pois então! é uma moça. Não pôde Eugênia encobrir a satisfação que sentia com esta minha palavra, mas emendou-se logo, e ficou como dantes, ereta, fria e muda. Em verdade, parecia ainda mais mulher do que era; seria criança nos seus folgares de moça; mas assim quieta, impassível, tinha a compostura da mulher casada. Talvez essa circunstância lhe diminuía um pouco da graça virginal. Depressa nos familiarizamos; a mãe fazia-lhe grandes elogios, eu escutava-os de boa sombra, e ela sorria com os olhos fúlgidos, como se lá dentro do cérebro lhe estivesse a voar uma borboletinha de asas de ouro e olhos de diamante… ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Na constituição do eu está presente de modo fundamental o outro. Antes mesmo do nascimento de uma criança, esse outro já fornece elementos para a construção de sua subjetividade. E ao longo da vida, manterão uma constante e permanente relação. É nesse sentido que Freud (1921/1981c, p. 2563) diz que toda psicologia é social, pois ‗na vida anímica individual aparece integrado sempre, efetivamente, ‗o outro‘, como modelo, objeto, auxiliar ou adversário‘. (...) A grande capacidade de observação e crítica é que possibilita uma produção literária capaz de ver que, em se tratando de ser humano, a sociedade e o indivíduo se formam em uma relação permanente e dialética. A noção de alma exterior tem o potencial de trazer à discussão a articulação entre as relações sociais e a subjetividade. SOUSA, Lívia Mesquita de; VIANA, Terezinha Camargo. A Alma Exterior em Machado de Assis: um olhar psicanalítico. Revista Mal-estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 11, n. 3, p.1083-1111, set. 2011. No artigo, elabora-se uma questão central em toda a obra da maturidade de Machado de Assis: o lugar do sujeito na sociedade. Com base em seus conhecimentos e na leitura destes trechos, assinale a alternativa correta. Resposta Selecionada: O conhecido episódio da Flor da Moita, exposto no trecho em grifo, pode ser considerado como uma representação da questão do peso dos entraves sociais e da ascensão social para a formação da subjetividade, uma vez que Brás, enquanto personagem e narrador “eu” como testemunha, dá mais valor à deficiência de Eugênia do que às suas qualidades. Resposta Correta: O conhecido episódio da Flor da Moita, exposto no trecho em grifo, pode ser considerado como uma representação da questão do peso dos entraves sociais e da ascensão social para a formação da subjetividade, uma vez que Brás, enquanto personagem e narrador “eu” como testemunha, dá mais valor à deficiência de Eugênia do que às suas qualidades. Comentário da resposta: Resposta correta. Observamos neste episódio uma preocupação narcisista da personagem Brás Cubas com as aparências e o julgamento da esfera social sobre sua pessoa. Optar por deixar a moça por quem se encantara para trás pelo único motivo de esta ser deficiente física marca e critica o pensamento vigente da época, de que estas minorias eram indignas ao casamento. Ao final do episódio, vemos que a ascensão social proporcionada pelo ingresso à carreira política já lhe agradava e preocupava muito mais que os sentimentos de/por Eugênia. Pergunta 7 0 em 1 pontos Leia o trecho a seguir, retirado do livro de Carl Gustav Jung, O espírito na arte e na ciência e, em seguida, responda ao que se pede. ―(...) Nestes últimos tempos vimos várias vezes obras de arte poéticas serem interpretadas de um modo que correspondia justamente a esta redução a estágios mais elementares. Poderíamos talvez atribuir as condições de criação artística, o assunto e seu tratamento individual, às relações pessoais do poeta com seus pais, mas isto não contribuiria em nada para a compreensão de sua arte. Pode-se fazer a mesma redução em todos os outros possíveis casos, também nos casos de distúrbios patológicos. (...) Naturalmente, todos tiveram pais e todos têm um pretenso complexo de pai e mãe; todos possuem sexualidade e por isso, também, certas dificuldades típicas e outras, comuns ao ser humano. Um poeta pode ter sido influenciado mais pela relação com o pai, outro, pela ligação com a mãe e finalmente um terceiro pode demonstrar, através de suas obras, traços inconfundíveis de repressão sexual (...). E assim, nada de específico se apurou para o julgamento de uma obra de arte. (...) JUNG, Carl Gustav. O espírito na arte e na ciência. São Paulo: Vozes, 1985. Com base em sua leitura de Jung e conhecimentos anteriores, assinale a alternativa verdadeira sobre o que se pode afirmar a respeito da Psicologia Analítica. Resposta Selecionada: Entender como funcionava a relação entre um poeta e seus pais, bem como as pulsões sexuais deste mesmo poeta é, para Jung, fundamental. Resposta Correta: Obra de arte e psicologia analítica têm uma relação dialética não redutiva. Comentário da resposta: Resposta incorreta. Verifica-se neste excerto uma relação dialética entre a obra de arte literária e a psicologia analítica, fugindo de interpretações reducionistas como quaisquer tentativas de explicação de uma obra, bem como quaisquer correlações estritas entre esta mesma obra e as questões psicológicas particulares do autor. O sentido da obra, para Jung, se dá a partir da observação da obra como foi concebida, sendo a psicologia analítica uma das possibilidades, um background para toda a análise. Pergunta 8 1 em 1 pontos Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se pede. Definida como ciência geral dos signos, (...) tem por objeto os processos de significação que constituem a linguagem, não se ocupando, a princípio, com a obra de arte literária, de modo específico. Decorre então que essa teoria não oferece aos que se dedicam ao estudo do texto poético ou de ficção, um modelo de análise voltado parasuas características particulares. REVISTA DIÁLOGOS. Pernambuco: Editora da Universidade de Pernambuco, 2018. D.o.i. 10.13115/2236-1499v2n19p473. Grifo nosso. Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se aproxima dos postulados no excerto. Resposta Selecionada: Semiótica. Resposta Correta: Semiótica. Comentário da resposta: Resposta correta. Apesar de não haver consenso entre os linguistas, pode-se tratar como Semiótica o estudo do universo dos signos (PEIRCE, 1977). A ciência dos signos e significantes, sendo uma teoria particularmente linguística que pode ser aplicada ao estudo de literatura, bem como ao estudo de todas as linguagens artísticas, possui diversas subcategorias teóricas de atuação. O trecho em destaque fala mais especificamente da Semiótica francesa, pautada na análise de discurso e interdisciplinaridade entre significantes de diversos gêneros. Pergunta 9 1 em 1 pontos Leia os textos a seguir. ―Ele sentia-se tão feliz, sem nenhuma preocupação deste mundo. Uma refeição a sós com ela, um passeio à noite pela estrada, um gesto para lhe acariciar os cabelos, a presença do seu chapéu de palha pendurado no fecho de uma janela e ainda muitas outras coisas que lhe davam prazer e com as quais nunca sonhara formavam agora a sua contínua felicidade. De manhã, na cama, com a cabeça no travesseiro ao lado dela, contemplava a luz do Sol a passar entre a pelugem das suas faces louras, meio cobertas pelos folhos da touca. Vistos de tão perto, os seus olhos pareciam maiores, sobretudo quando abria as pálpebras várias vezes de seguida ao acordar; negros à sombra e azul-escuros à luz do dia, tinham como que camadas de cores sucessivas, mais densas no fundo e ficando mais claras à superfície do esmalte. Os olhos de Charles perdiam-se naquelas profundezas, e ali ele via a miniatura da sua imagem até aos ombros, com o lenço de seda atado na cabeça e o peito da camisa entreaberto. Levantava-se. Ela punha-se à janela para o ver sair; ficava encostada ao peitoril, entre dois vasos de gerânios, dentro do seu roupão, que lhe caía, folgado, em volta do corpo. (...) FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. 2ª São Paulo: Martin Claret, 2003. (Ouro). Cap V-VI. ―Existindo então uma teoria do bovarismo, o leitor cultivado – francês ou brasileiro – localiza em sua memória a referência à célebre personagem criada por Gustave Flaubert (1821-1880). (...) Ele inaugurou uma narrativa impessoal, polifônica, uma técnica de escrita exigente e que demanda uma leitura criativa, não deixando a passividade se instalar no leitor. Segundo o especialista em Flaubert, Pierre-Marc de Biasi, os dois únicos elementos que acompanham o gosto do tempo são a análise psicológica e o retrato dos costumes. De resto, o leitor encontrava-se frente a uma escrita toda nova, desconcertante e transgressora. (...). Menos de dez anos depois da publicação do romance a palavra bovarismo já era de uso corrente para designar a representação de uma atitude tipicamente fundada na fantasia. Eis um termo que nadou de braçadas na imaginação coletiva. O passo seguinte – a elaboração de uma teoria do bovarismo – não se fez esperar. ‗(...) Em 1892, J. de Gaultier elabora a teoria do ‗bovarismo‘, complexão psicológica da pessoa que se vê diversa do que é na realidade, e que se condena, por suas ilusões e ideias pré-estabelecidas, a estar sempre desiludida pela banalidade da existência‘.‖ SOUZA, Eliana Maria de Melo. Itinerários do bovarismo. Revista Ponto e Vírgula, São Paulo, p.01-20, jan. 2013. Assinale a alternativa que relaciona corretamente os conceitos críticos elaborados no artigo com elementos da narrativa. Resposta Selecionada: O trecho “As comparações de noivo, de esposo, de amante celeste e de casamento eterno, que aparecem repetidamente nos sermões, despertavam-lhe no íntimo da alma imprevistas doçuras.” representa bem o que, no artigo, se diz sobre o bovarismo enquanto comportamento pautado na fantasia. Resposta Correta: O trecho “As comparações de noivo, de esposo, de amante celeste e de casamento eterno, que aparecem repetidamente nos sermões, despertavam-lhe no íntimo da alma imprevistas doçuras.” representa bem o que, no artigo, se diz sobre o bovarismo enquanto comportamento pautado na fantasia. Comentário da resposta: Resposta correta. Em diversos momentos vemos marcas da desilusão de Emma em relação à realidade, como no trecho “As comparações de noivo, de esposo, de amante celeste e de casamento eterno, que aparecem repetidamente nos sermões, despertavam-lhe no íntimo da alma imprevistas doçuras.” em que constrói-se a fantasia da vida matrimonial e, depois, em “Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, pelo que se deveria ter enganado, pensava ela. Procurava agora saber o que se entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras felicidade, paixão e êxtase, que, nos livros, Lhe haviam parecido tão belas.” a desilusão com a vida de casada. Pergunta 10 0 em 1 pontos Leia o trecho a seguir. Foi decepcionante não ter trazido para casa, à noite, alguma afirmação importante, algum fato autêntico. As mulheres são mais pobres do que os homens por causa. . . disto ou daquilo. (...) Melhor seria cerrar as cortinas, deixar as distrações do lado de fora, acender o abajur, abreviar a pesquisa e pedir ao historiador, que registra não opiniões, mas fatos, para descrever sob que condições viviam as mulheres, não em todas as épocas mas, na Inglaterra, digamos, na época de Elizabeth. Pois é um enigma perene a razão por que nenhuma mulher escreveu uma só palavra daquela extraordinária literatura, quando um em cada dois homens, parece, era dotado para a canção ou o soneto. Quais eram as condições em que viviam as mulheres? (...) WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. São Paulo: Círculo do Livro S.a, 1928. 141 p. Disponível em: <https://iedamagri.files.wordpress.com/2014/07/uma- hipotc3a9tica-irmc3a3-de-shakespeare-um-teto-todo-seu.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2019. Grifo nosso. Considerada uma das primeiras autoras feministas de importância, Virginia Woolf, no ensaio Um teto todo seu, palestra a respeito da relação entre “mulher” e “ficção”. Seus procedimentos para tal envolvem a quebra do gênero ensaio neste texto de auto-ficção das experiências - mas que, como todo ensaio, é pautado em dados empíricos e científicos. O livro é um marco na crítica literária feminista e está na ementa de cursos de literatura mundialmente reconhecidos. Pensando a respeito das correntes críticas já estudadas até aqui e no trecho em destaque acima, assinale a alternativa correta. Resposta Selecionada: New criticism e crítica feminista são dois movimentos literários que andam de mãos dadas, por assim dizer. Ao recusar o biografismo e o historicismo na análise do objeto escrito, o New criticism corrobora com a crítica feminista na medida em que a leitura aproximada das obras valoriza o gênero feminino em si. Resposta Correta: Enquanto corrente teórica que baseia suas observações no comportamento do gênero feminino na literatura - tanto da perspectiva da representação, quanto da perspectiva da autoria - interessa à crítica feminista manter intersecções com o pós-estruturalismo, fenomenologia e materialismo. Comentário da resposta: Resposta incorreta. Pós-estruturalismo, fenomenologia e materialismo serão fontes de conhecimento importantes para a Crítica Feminista, que procurará na análise de regularidades e irregularidades das estruturas de discurso da obra literária (propostas pelo Estruturalismo e Pós- estruturalismo), na relação do sujeito com os objetos artísticas e nas correlações entre literatura e sociedade a base de seu argumento. Correntes que desprezam a relevância do aspecto histórico e social do texto, como o New criticism e Formalismo russo nãoestão relacionados à crítica feminista.
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