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A INEFICACIA DO SISTEMA PENITENCIARIO BRASILEIRO A LUZ DA EXECUÇÃO PENAL E OS DESAFIOS DE RESSOCIALIZAR PARA NÃO REGREDIR MAYARA FAUSTINO DE JESUS Graduanda em Direito. e-mail: mayarafaustino2010@hotmail.com. ROGÉRIO TURELLA Professor, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e-mail : turella@uems.br RESUMO O Sistema Penitenciário brasileiro passa por uma crise estrutural, isto não apenas em termos de problemas e entraves de segurança pública, mas também por falta de eficiência na ressocialização dos detentos. A estrutura do Sistema Penitenciário clama por um novo modelo de gestão e soluções inovadoras para atender às necessidades básicas de mais de 770 mil pessoas que compõem essa massa, a terceira maior população carcerária do mundo. Em termos de ressocialização, o sistema apresenta graves fraturas, principalmente no que se refere à falta de desenvolvimento profissional dos presidiários para que possam reiniciar suas vidas fora do sistema. Hoje, ex-presidiários sofrem com a falta de qualificações e tem acesso muito limitado a importantes ferramentas de trabalho. Esses obstáculos são aprofundados pelo estigma e preconceito sofrido pelos presidiários. O sistema público penitenciário tem dado sinais de ineficiência e ineficácia, dado o alto custo per capita de manutenção dos presos nesse sistema, aliado à baixa segurança e dignidade da pessoa humana, devido à má gestão realizada pelo Poder Público, resultando em um baixo índice de ressocialização de pessoas que ingressam no sistema prisional brasileiro, bem como a morte de centenas deles. A ressocialização de sujeitos pós-condenados tem por base o arcabouço legal, que estabelece parâmetros normativos claros para o desenvolvimento do tratamento penitenciário e prisional, com a aplicação do de oportunidades que é função pública dentro do Estado social de Direito brasileiro, que deve promover a ressocialização como um direito que instiga nos presidiários a vontade de viver de acordo com a lei, capaz de proporcionar seu sustento no cumprimento de suas responsabilidades, dentro do marco legal para poder viver em comunidade. O objetivo principal desta pesquisa é estabelecer as obrigações do Estado quanto às políticas de oportunidades de vida no trabalho no processo de ressocialização do sujeito pós-condenado, para proporcionar seu sustento e alcançar o livre desenvolvimento da personalidade para que o indivíduo não volte a praticar atos ilícitos. Palavras Chave: Ressocialização, Penitenciária, Execução e Penal. mailto:mayarafaustino2010@hotmail.com INTRODUÇÃO O tema a ineficácia do sistema penitenciário brasileiro a luz da execução penal e os desafios de ressocializar para não regredir busca demonstrar como há uma imensa falha no sistema prisional brasileiro, a ausência de ações governamentais faz com que não seja possível a ressocialização do apenado perante a sociedade. Todavia é preciso que exista leis em nosso âmbito jurídico, principalmente na Lei de Execução Penal, garantindo total amparo e tratamento adequado aos detentos para que não voltem a regredir. Consideradas uma das mais avançadas, a Lei de Execução Penal é a fase que aplica na realidade o “Jus Puniendi”, ou seja, o poder de punir do Estado. A aplicação da Execução penal não busca somente punir o preso ou reprimi-lo, mais sim buscar possibilitar condições que auxiliem nesse lapso de restauração, além de resguardar sendo possível reintegra-lo novamente a sociedade de uma forma mais adequada. O que não acontece na pratica devido à falta de estrutura. Pode-se dizer que o tema é essencial para a sociedade acadêmica, pois busca contextualizar as falhas do sistema carcerário, através dos meios de comunicação, onde pode-se perceber os problemas de superlotações ligado a rebeliões, fugas, mortes, onde fica claramente evidente a incompetência do Estado frente a reabilitação do sujeito, dando indícios da balburdia dentro das penitenciarias. Assim é relevante apontar qual a importância da ressocialização para o presidiário? Já que esse direito é garantido a sua integridade em todos os sentidos assim como dispõe o Art. 5º da Constituição, ou seja, cabe ao apenado desde a educação a sua profissionalização, mesmo estando recolhido judicialmente, garantido ao mesmo o direito as atividades físicas e um trabalho profissional, pois é através da educação e profissionalização que o sujeito terá oportunidade de reingressar novamente na sociedade podendo ter um trabalho digno e posteriormente voltar a viver em harmonia. Dessa maneira o objetivo geral visa demonstrar quais são as atividades disponíveis pelo Estado para ressocialização. Para tanto os objetivos específicos são discorrer como é o sistema penitenciário no Brasil, apontar a privatização como uma estratégia abrangente para segurança pública e descrever como é o processo de ressocialização e seus benefícios já que o objetivo reabilitador, está descrito no ordenamento jurídico com a Lei de Execução Penal como um dos únicos elementos legais para preencher esta colocação de ressocializar o detento, todavia é necessário que seja preenchida as lacunas no sistema penitenciário brasileiro. Diante do exposto, o presente trabalho tratou através de uma pesquisa por meio do método de revisão de literatura, onde serão utilizados como critérios de seleção dos artigos: ser publicado entre 2008 a 2021, estar disponível online gratuitamente e ter os temas adequados ao proposto nesta pesquisa, serão excluídos os artigos que não atendem ao tema proposto. Será elaborado através da busca nas bases de dados da Biblioteca Virtual, SCIELO (Scientific Eletronic Library), periódicos e revistas. O Sistema Penitenciário no Brasil Com mais de 811.000 presos, o Brasil registra a terceira maior população carcerária do mundo, atrás da China (1,6 milhão) e dos Estados Unidos (2,1 milhões). De acordo com o Ministério da Segurança Pública do Brasil, a população carcerária do país chegará a 1,5 milhão em 2025. Ainda assim, o Brasil tem apenas metade do espaço de cela necessário para acomodar seus presos hoje1. O sistema penitenciário superlotado, subfinanciado e insuficiente do país deixa as autoridades prisionais com treinamento inadequado e os presos vulneráveis a abusos e recrutamento por organizações criminosas. Existem diversas organizações criminosas operando em prisões no Brasil. Duas das mais conhecidas são o Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital (PCC) oriunda do estado de São Paulo e de lá atua em todos os 27 estados. Em várias prisões brasileiras os agentes penitenciários, em número muito inferior, exercem controle nominal, enquanto as facções conduzem atividades criminosas do interior dos presídios2. O abandono das prisões foi retratado no livro editado pelo Conselho Nacional de Justiça, resultante do projeto “Mutirão Carcerário”, que visa garantir o devido processo legal na revisão das detenções de presos permanentes e provisórios, bem como na fiscalização dos presídios. O Brasil se enquadra como um dos países mais desigual do mundo, resquício de uma colonização de exploração e de uma política escravocrata. Com a abolição da escravatura os negros ganharam sua liberdade, mas ao mesmo tempo a sua exclusão e segregação, restando às periferias para se restabelecerem originando-se favelas. Enquanto que em 2014, saímos do mapa da fome e entramos na lista de quarto país mais encarcerador, somos o país do samba, do futebol, do carnaval, das belezas naturais e do roubo famélico que deixa encarcerado aquele que tem fome3. 1 PORPINO, Isabela Veras Sousa. Sistema carcerário brasileiro e o Estado de Coisas Inconstitucional, 2017. p. 14. 2 SANTOS, Daniel Lin. Organizações criminosas: conceitos no decorrer da evolução legislativabrasileira, 2014. p. 3. 3 NASCIMENTO, Andreia dos Santos. O crime des-compensa? Ensaios sobre psicologia, criminologia e violência, 2016, p. 73. A infraestrutura dos presídios em vários estados, são precárias, as grades estão soltas, as paredes estão tremendo, há infiltrações em todas as partes da penitenciária estadual. Há sério risco de a laje desabar sobre os presos a qualquer momento. Há dupla pena do condenado, pois, além de sofrer a pena imposta, ele também passa pela situação de superlotação de celas, má alimentação e falta de higiene, estando sujeito à propagação de doenças4. Nesse sentido, a própria pena de prisão e o lamentável estado de saúde que adquire durante a sua permanência na prisão. Observa-se também o descumprimento do disposto na Lei de Execução Penal, que dispõe no inciso VII do artigo 41 sobre o direito do preso à saúde, como obrigação do Estado. O preso deve ter seus direitos fundamentais garantidos, porém, essa não é a realidade do sistema prisional brasileiro5. As instalações prisionais tornaram-se depósitos humanos, contrariando o disposto na Constituição Federal sobre garantias fundamentais, bem como a Lei de Execução Penal, em seus artigos 40 e 41. Na mesma linha de raciocínio pode-se afirmar que no sistema prisional brasileiro, há uma violação generalizada dos direitos fundamentais dos presidiários no que diz respeito à dignidade, saúde física e integridade mental. A superlotação carcerária e a precariedade das instalações policiais e penitenciárias, mais do que o descumprimento do Estado pelo ordenamento jurídico correspondente, constituem um tratamento degradante, ultrajante e indigno das pessoas sob custódia6. As penas privativas de liberdade impostas às prisões tornam-se castigos cruéis e desumanos. Os prisioneiros tornam-se 'lixo digno do pior tratamento possível' e não têm direito a uma existência minimamente segura e saudável. Superlotada e com falta de pessoal das prisões torna difícil separar qualquer política de ressocialização. A reabilitação e a reincidência são fatores igualmente importantes para conter o fluxo de presidiários 7. 4 FERREIRA, Angelita Rangel. Crime-prisão-liberdade-crime: o círculo perverso da reincidência no crime, 2011, p. 25 5 BRITO, Alex Couto de. Execução penal. Editora Saraiva, 2018, p.374 6 Ibidem, p.374. 7 PORPINO, Isabela Veras Sousa. Sistema carcerário brasileiro e o Estado de Coisas Inconstitucional, 2017, p. 12. Um estudo do IPEA de 2015 mostrou que 24% dos ex-presidiários foram condenados por outro crime um ano após sua libertação. Muitos presidiários que ingressam em facções na prisão em troca de proteção acabam endividados, fazendo com que voltem a se envolver no tráfico de drogas e em outras atividades criminosas. E poucos presidiários saem da prisão com experiência educacional ou de trabalho que melhoraria suas qualificações para contratação; em média, apenas 12% dos presos no Brasil recebem educação e 15% trabalham8. No entanto, existem algumas prisões no Brasil que estão servindo como projetos-piloto para testar as políticas de reabilitação. Uma prisão no estado do Paraná, resultado de uma parceria entre o governo do estado e a Justiça estadual, funciona em regime semiaberto, onde todos os presos são obrigados a estudar e trabalhar9. O resultado é reincidência zero. Outra modalidade de reabilitação já implantada em oito estados é a APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados): centros de reclusão administrados pela sociedade civil, onde os presidiários são responsáveis pelo estudo, trabalho, limpeza e até mesmo segurança, já que as APACs não possuem armas ou guardas. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a taxa de reincidência dessas unidades gira em torno de 10% 10. Do lado da prevenção, atenção especial deve ser dada aos jovens em situação de risco, com maior probabilidade de ingressar em grupos do crime organizado, principalmente em um cenário de alto desemprego, que atinge desproporcionalmente jovens, negros ou pardos, brasileiros menos qualificados e com menor escolaridade. Um estudo divulgado pelo grupo da sociedade civil Observatório de Favelas constatou que os jovens mais vulneráveis do Rio de Janeiro ingressam no tráfico de drogas entre 13 e 15 anos, e citam sua principal motivação como financeira, seguida pelo pertencimento ao grupo e pelo estilo de vida carregado de adrenalina11. 8BRASIL. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Reincidência Criminal no Brasil, 2015, p. 49. 9 Ibidem, p.67. 10 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Novo diagnóstico de pessoas presas no Brasil, 2014, p.4. 11 BRASIL. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Reincidência Criminal no Brasil. Relatório de pesquisa, 2015, p.51. Não é necessária uma consistente base criminológica em perspectiva crítica para perceber que o dispositivo legal, ao invés de definir precisamente critérios de imputação, prolifera meta-regras que se fundam em determinadas imagens e representações sociais de quem são, onde vivem e onde circulam os traficantes e os consumidores. Os estereótipos do “elemento suspeito” ou da “atitude suspeita”, p. ex., traduzem importantes mecanismos de interpretação que, no cotidiano do exercício do poder de polícia, criminalizam um grupo social vulnerável muito bem representado no sistema carcerário: jovens pobres, em sua maioria negros, que vivem nas periferias dos grandes centros urbanos12 O estudo também constatou que a maioria dos adolescentes abandona a escola ao iniciar o tráfico, o que aponta para o importante papel que as escolas públicas podem desempenhar na prevenção. A retenção de alunos, a formação profissional e as políticas públicas voltadas para a geração de renda e trabalho provavelmente afetarão positivamente os resultados da segurança pública13. Privatização uma estratégia abrangente para segurança pública Até que as taxas de encarceramento sejam resolvidas, a superlotação e a violência nas prisões provavelmente continuarão altas no Brasil. Os estados brasileiros oprimidos estão cada vez mais se voltando para a privatização como uma forma de melhorar instalações, condições de vida e oportunidades de emprego. Em junho de 2019, havia 32 prisões privadas no Brasil. Ao explorar as perspectivas de privatização, os Estados Unidos e outros países que adotaram amplamente essa abordagem que podem servir de referência para o que funciona e o que não funciona. No exemplo dos Estados Unidos, como Lauren- Brooke Eisen, bolsista sênior do Brennan Center for justice, “as prisões privadas acabaram não sendo nem melhores nem mais baratas,” Enquanto o modelo de contratos com base no desempenho da Austrália e da Nova Zelândia está se mostrando mais bem-sucedido14. 12 CARVALHO, Salo de. Nas Trincheiras de uma Política Criminal com Derramamento de Sangue: depoimento sobre os danos diretos e colaterais provocados pela guerra às drogas, 2014, p.67. 13 BRASIL IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Reincidência Criminal no Brasil, 2015, p. 51. 14 FONTES, Giulia. Como funciona a gestão privada de presídios nos EUA e na França. Gazeta, 2019, p.1 Ainda não se sabe se a atual administração no Brasil terá sucesso em coibir o crime e reduzir a taxa de encarceramento do país, mas uma estratégia abrangente que trate do sistema penal será crítica para a melhoria duradoura da segurança pública. A privatização do sistema prisional pode vir a ser uma solução para a ineficiência estatal, pois a iniciativa privada poderia, por meio de investimentos em novas tecnologias, reduzir custos de pessoal e implantar trabalho e estudo em todas as prisões, aos presos, a remissão da pena por meio de alfabetização, técnica a educação e o exercício de um trabalho humano decente, para cumprir, também, um dos fundamentos da ordem econômica brasileira15. A privatizaçãodo sistema prisional também pode ser uma solução para a ineficácia do Estado, uma vez que a gestão privada pode incorporar práticas de gestão da qualidade ao sistema prisional para melhorar continuamente o processo de ressocialização do preso. através do planejamento prévio, monitoramento e verificação de resultados contínuos e retroalimentação do sistema de gestão com práticas capazes de solucionar eventuais problemas que surgiram durante o período avaliado, para atender a uma antiga demanda da sociedade brasileira, a saber, o percentual de ampliação da ressocialização de presidiários16. A ressocialização dos presos contidos no sistema prisional brasileiro é uma reivindicação antiga da sociedade brasileira. Os eventos ocorreram em 2006, no estado de São Paulo, com a chamada "Mega rebelião do sistema penitenciário paulista", e em 2017 nos estados do Amazonas, Roraima, Alagoas e Rio Grande do Norte, com as mortes de centenas de prisioneiros, mortos17. O refinamento da crueldade por outros presos, demonstra a falência do sistema prisional brasileiro e a necessidade de alternativas mais eficientes e eficazes na busca pelo controle do sistema prisional e pela ressocialização dos presos, por meio de investimentos em novas tecnologias e nova gestão práticas, que poderiam ser feitas pela iniciativa privada, por meio da privatização do 15 MARCÃO, Renato. Curso de execução penal, 2019, p. 87. 16 MAURICIO, Célia Regina Nilander. A privatização do Sistema Prisional, 2011, p. 123 17 COUTINHO, Claudio Coutinho Neto. A eficiência do Estado de Coisas Inconstitucional no sistema penitenciário brasileiro. 2020, p. 134. sistema prisional brasileiro. A privatização do sistema prisional brasileiro é uma possível oportunidade de solução dos problemas existentes18. A prisão devolve à sociedade pessoas com sequelas e marcadas para sempre, uma vez que, quando o sujeito adquire a liberdade, a sociedade o rejeita, o estigmatiza, o repugna e o força a voltar à criminalidade por ausência de condições dignas de subsistência material e social19. A função de ressocialização da pena de prisão foi banalizada, pois aos olhos da sociedade a pena tem apenas como função a punição, o que difere do objetivo do ordenamento jurídico, que está voltado para a recuperação do condenado e do egresso do presídio. Conforme consta na CPI do Presídio Sistema, a taxa de reincidência no Brasil é alta, o que confirma a ideia de ineficiência e ineficiência do sistema prisional20. Não há estatísticas oficiais sobre a taxa de reincidência. Segundo, porém, ao observar uma taxa de reincidência que é pouco mais da metade nos países do Primeiro Mundo, a taxa de reincidência criminal no Brasil varia de 70% a 85%. Ao lidar com o alto índice de reincidência, pode afirmar que é reflexo direto do tratamento e das condições a que o presidiário foi submetido no ambiente prisional durante sua prisão, aliado ao sentimento de rejeição e indiferença com que é tratado pela sociedade e pelo próprio Estado ao recuperar a sua liberdade21. O estigma do ex-detento e o total desamparo por parte das autoridades faz com que o egresso do sistema prisional seja marginalizado no meio social, o que acaba o remetendo de volta ao mundo do crime, por não ter opções melhores. O alto índice de reincidência também é atribuído ao fato de a grande maioria dos presos não trabalhar. Segundo levantamento do Infopen, apenas 16% da população carcerária do país trabalha, o que é um direito e dever do preso, previsto no artigo 28 da Lei de Execução Penal, que visa a reeducar o preso por meio do 18 COUTINHO, Claudio Coutinho Neto. A eficiência do Estado de Coisas Inconstitucional no sistema penitenciário brasileiro, 2020, p. 134 19 FERREIRA, Angelita Rangel. Crime-prisão-liberdade-crime: o círculo perverso da reincidência no crime, 2011, p.24 20 TOMAZ, Rosimayre. O método APAC: estratégia humana e eficaz de reinserção do preso no convívio social, 2016, p. 2. 21 Ibidem, p.2. desenvolvimento de uma atividade laboral, visando à sua ressocialização.Diante das circunstâncias, é inegável que o cenário carcerário brasileiro é caótico, exigindo medidas eficazes e emergenciais, pois está à beira do colapso22. Obstáculos legais e de política à privatização de penitenciais brasileiras Dessa forma é possível observar que existem alguns problemas relacionados a privatização das prisões ao se observar a ressocialização. No âmbito jurídico, questiona-se a constitucionalidade da terceirização ou privatização do sistema prisional brasileiro, pois, embora não haja proibição expressa na legislação, o Estado não está legalmente autorizado a transferir seu poder coercitivo, que é exclusivamente seu, viola o direito fundamental à liberdade. Por outro lado, a Lei de Execuções Penais deixa claro o caráter jurisdicional da atividade de execução da pena, portanto, inelegível e deve ser exercida exclusivamente pelo Estado23. Nesse ponto importante, deve-se destacar que, para alguns acadêmicos, a terceirização não afronta o texto constitucional ou infraconstitucional, pois o que ocorre não é a delegação do poder judicial de execução da pena, mas apenas a terceirização da penitenciária administração. Assim entende que, ao falar sobre a função jurisdicional do Estado, esta não está sendo transferida para o empresário privado, que se encarregará exclusivamente da função material da execução penal, ou seja, o administrador privado ficará responsável pela alimentação, limpeza, vestimenta, a chamada de hotel, enfim, para serviços que são indispensáveis em uma prisão24. A função jurisdicional, inelegível, fica a cargo do Estado, que, por meio de seu órgão jurisdicional, o único com direito ao uso da força, na observância da lei em suma, por serviços indispensáveis em uma prisão. Assim, fica clara a necessidade de distinguir entre os termos terceirização e privatização, pois na 22 Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Sistema de Informação Penitenciária (Infopen), 2014, p.110. 23 SILVA, André Ricardo Dias da. A privatização de presídios como mecanismo garante dos direitos fundamentais constitucionais na execução penal: uma tendência factível ou falaciosa, 2010, p.1 24 Ibidem, p.1. terceirização o indivíduo não exerce atividade penal, como ocorre na privatização25. O segundo obstáculo é o político, que pode ser analisado em dois aspectos. O primeiro refere-se ao fato de que a privatização se tornou um negócio para empresas, e a preocupação é que este lucrativo mercado de controle do crime poderia fornecer um incentivo crescente para o crime, bem como para a adoção das políticas de encarceramento. O segundo aspecto diz respeito à forma como o Estado contrata e fiscaliza essas contratações, o massacre ocorrido em fevereiro em Manaus, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, chamou atenção por ser um presídio terceirizado da empresa Umanizzare, que revelou o Estado a incapacidade de administrar e fazer cumprir contratos com o setor privado26. Portanto, é evidente que o Estado, ao transferir a administração das penitenciárias para o privado, não deve fazê-lo por meio da privatização, mas da terceirização, não se eximindo de suas responsabilidades previstas na Constituição Federal de 1988 e na legislação infraconstitucional brasileira. manter o monopólio estatal da execução criminal e supervisão estrita dos contratos de terceirização com a iniciativa privada. Deve manter o monopólio estatal da execução criminal e supervisão estrita dos contratos de terceirização com a iniciativa privada. Deve manter o monopólio estatal da execução criminal e supervisão estrita dos contratos de terceirização com a iniciativa privada27. Ressocialização X Privatização A situação do sistema penitenciário brasileiro é conturbada, em um cenário de superlotação, proliferação de doenças e abusos,físicos e mentais, onde a principal função do castigo, que é a ressocialização, não é cumprida. Diante desse cenário factual, uma das alternativas adotadas como solução no Brasil foi a terceirização ou privatização dos presídios. No início, ocorreram algumas terceirizações de serviços básicos penitenciários, mas com o tempo a 25 SILVA, José Adaumir Arruda da. A Privatização de presídios: Uma ressocialização perversa. Rio de Janeiro: Revan, 2016, p. 67. 26 Ibidem, 2016, p. 89 27 D’URSO, Luíz Flávio Borges. Privatização Das Prisões Mais Uma Vez A Polêmica, 2013, p.1. prática se ampliou, de modo que em alguns casos se reconhece a chamada privatização em sentido estrito, o que é inconstitucional, dada a impossibilidade de delegação da execução penal aos individuais, visto que se trata de um monopólio constitucional do Estado28. Portanto, a privatização das prisões, com a transferência da gestão da execução penal do Estado para a iniciativa privada, revela-se inconstitucional e dar maior dignidade aos presidiários com possível redução de custos aos cofres públicos é o modelo de terceirização penitenciária, em que o Estado transfere para a iniciativa privada apenas a administração dos recursos materiais e humanos da prisão, permanecendo no exercício de sua função gestor da execução da pena, conforme preconiza a Constituição Federal e a Lei de Execução Penal29. No entanto, o Estado deve ter cautela, pois deve garantir que as disposições contratuais estão sendo cumpridas pela iniciativa privada para garantir que o preso esteja cumprindo sua pena sem violar seus direitos fundamentais. Permitindo a sua ressocialização, visto que, apesar de, na maioria dos casos, não delegar a atividade de execução criminal à iniciativa privada, estando ausente, mesmo que parcialmente, da sua função de Governo, o Estado estará a desempenhar tal delegação. As experiências já realizadas têm mostrado bons resultados em termos de execução penal, embora existam algumas lacunas a corrigir30. O problema da ressocialização constitui um tema de primeira ordem, que interessa não só aos estudiosos do direito penal na medida em que se refere não às funções da pena, mas a todas as pessoas envolvidas na administração da justiça penal e à sociedade em geral. A ineficácia e ilegitimidade da ressocialização aumentam. As críticas na área de eficácia baseiam-se nas taxas de reincidência. Esta posição é questionável uma vez que o conceito de reincidência muda no tempo e no lugar e cada Código Penal tem seu próprio conceito de reincidência31. 28 MOTTA, Manoel Barros. Crítica da Razão Punitiva: Nascimento da Prisão no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 278 29 Ibidem, 2011, p.282 30 BOCALETI, Juliana Maria. Superlotação e o Sistema Prisional Brasileiro: É possível ressocializar? 2017, p.6 31 Ibidem, 2017, p. 9. Além disso, a ineficácia da ressocialização é baseada no universo global da reincidência em um determinado país ou região. Essa metodologia não é válida, pois há presidiários que não querem participar dos programas de ressocialização e não participam realmente. Há quem diga “irrecuperável”, com a advertência de que este rótulo não deve ser adotado, que tem um perfil determinista de positivismo criminológico, o que atualmente não é aceito, deve- se reconhecer que são pessoas com maior dificuldade de ressocializar32. Ademais, esse universo global de reincidência não considera que às vezes o Estado não oferece uma política de ressocialização, ou que não é desenvolvida cientificamente, ou que não é realizada conforme planejado, ou em sua totalidade. Quanto à ilegitimidade da ressocialização, pode-se argumentar que esse problema não existe se for respeitada a vontade livre e informada do condenado. Porém, com a vinculação do regime de execução da pena e a ressocialização do tratamento, a coerção pode ocorrer, mesmo que disfarçada33. Para contornar esse problema, é proposto o consensualismo penitenciário, segundo o qual por meio de negociação entre o diretor penitenciário, o juiz e o condenado, as atividades de reabilitação são decididas com igual autonomia e constam de um contrato, do qual assinam os três interessados. Cumpridos os objetivos estabelecidos no contrato, o condenado avança na dinâmica da execução criminal. O não cumprimento pode levar à transferência para uma prisão com regime mais rígido. Outra questão é se o mundo prisional pode se comprometer com a ressocialização. Para conhecer a realidade da prisão, é necessário fazer pesquisas empíricas dentro dela, para enfrentar os problemas34. As prisões com elevado impacto de encarceramento apresentam, consequentemente, grande instabilidade, caracterizada pela violência individual, de reclusos contra reclusos e também pela violência coletiva (motins). Os distúrbios vão se manifestar com grande intensidade no Brasil entre os anos de 1990 e 2007. Atualmente, esse fenômeno é raro no Brasil, pois os líderes de facções foram transferidos para prisões especiais. A fim de reduzir dois 32 NETO, Manoel Valente Figueiredo. A ressocialização do preso na realidade brasileira: perspectivas para as políticas públicas. Âmbito Jurídico, 2009, p.1 33 Ibidem, 2009, p.1 34 D’URSO, Luíz Flávio Borges. Privatização das prisões mais uma vez a polêmica, 2013, p.1 problemas carcerários, a investigação concluiu que a democratização da prisão e a privatização poderia ser uma possibilidade. A democratização, de uma perspectiva limitada, devido à participação dos condenados em atividades de livre risco, contribuiu para a criação de um ambiente menos conflituoso e gerando um senso de responsabilidade para os condenados, aspecto muito importante da socialização35. Privatização, apesar das restrições que se tem, em virtude da indelegabilidade de penas justas e dois conflitos, dois objetivos da empresa privada, que é o lucro dos fins de justiça, da sua forma de gestão e através de algumas correções, também pode ser uma alternativa para esse fim. Atualmente, propõe-se uma concepção de ressocialização da cidadania, pois uma cidadania e um fundamento do Estado brasileiro reconfirmado na Constituição e, portanto, é o paradigma de todas as políticas públicas, incluindo a política penitenciária de ressocialização36. Uma concepção ressocializante busca construir, resgatar ou reafirmar a sociedade. Uma construção da sociedade para os condenados que não têm o Estado, a empresa e a família como condições básicas para o exercício de uma cidadania crítica, participativa e responsável. O resgate da cidadania destina-se a anos de condenação aos que exercem cidadania responsável e perdem as condições para o seu exercício. Para que a ressocialização da cidade fique vazia contra o crime, que seja uma posição determinista e arrogante do positivismo criminológico que não permite um estado social e democrático direto, respeitando a dignidade humana37. A ressocialização cidadã considera que será eficiente e atenderá ao seu objetivo ou condenada à liberdade por motivada e qualificada para o exercício pleno de um cidadão crítico participativo e responsável, um cidadão ativo e, portanto, menos vulnerável ao crime. A ressocialização tem um conteúdo aberto, ou seja, admite todas as técnicas e métodos, com a limitação da ética, duas diretrizes fundamentais, dois reclusos e dado consentimento livre e esclarecido, ou seja, legalmente válido. Nesse sentido, admitimos elementos de 35 MAURICIO, Célia Regina Nilander. A privatização do Sistema Prisional, 2011, p.110. 36 Ibidem, 2011, p.112. 37 TOMAZ, Rosimayre. O método APAC: estratégia humana e eficaz de reinserção do preso no convívio social, 2016, p,1. ressocialização formativa, como o trabalho, a educação, a religião, as atividades esportivas e culturais e o contato como no exterior, que devem se refletir na perspectiva da cidade, com repercussões significativas.Admite-se também a ressocialização terapêutico-curativa, para situações muito específicas como dependência de drogas e agressores sexuais violentos38. Ressocialização uma prioridade A ressocialização de ex-reclusos representa uma das áreas prioritárias do Ministério da Justiça, que deve ser respeitada, pois visa diminuir o risco de reincidência por meio da reabilitação psicossocial de ex-presidiários liberados de estabelecimentos penitenciários, em particular, a oferta e execução de atividades e serviços, cuja ausência também pode aumentar o risco de reincidência, ao passo que sua prestação facilita a superação as dificuldades ligadas à reabilitação e ressocialização dos indivíduos39. Na definição de ressocialização, é importante distinguir a palavra “re” da palavra de origem latina “socialização”, que significa: tornar a pessoa parte da sociedade, processo de aquisição de determinado conhecimento, sistema de normas e os valores de certos indivíduos, o que lhes permite tornar-se um membro pleno da sociedade. Inclui um impacto direcionado na pessoa (educação), bem como processos naturais e espontâneos, que influenciam a formação da personalidade40. A ressocialização significa a reintegração dos condenados à vida social - sociedade. Consequentemente, a ressocialização ou correção do ofensor implica na transformação da personalidade do ofensor de forma que deixe de violar o direito penal e respeite as regras de convivência humana e visa a integração gradual da pessoa na sociedade por meio da pedagogia, saúde e psicoterapia. Já a reabilitação envolve a obtenção de um resultado específico por meio de um programa específico41. 38 TOMAZ, Rosimayre. O método APAC: estratégia humana e eficaz de reinserção do preso no convívio social, 2016, p,1. 39 BOCALETI, Juliana Maria. Superlotação e o Sistema Prisional Brasileiro: É possível ressocializar? 2017, p. 5 40 Ibidem, 2017, p. 7 41 NETO, Manoel Valente Figueiredo. A ressocialização do preso na realidade brasileira: perspectivas para as políticas públicas, 2009, p.1. O Art.82 da Lei de Execução Penal, dispõe que os estabelecimentos penais se destinam ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso. Ou seja, destina-se ao recluso que seja submetido a medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso. O dever do Estado seria oferecer uma formação profissional, bem como direito do reeducando, assim sendo facilitado um futuro para o egresso sendo mais favorável a inserção social, sendo prevenindo a reincidência42. Porém o Estado não trata o apenado de maneira justa, a sociedade juntamente com o Estado deveria buscar medidas a fim de recuperar o sujeito. Deve-se buscar soluções para ressocializar o preso, dando a ele o direito a educação, as atividades laborais que a própria Lei de Execução Penal prevê, que não são colocadas em pratica, bem como a sociedade que julga, condena e exclui o apenado, não dando chance para o reeducando de recapacitação quando ele sai do sistema penitenciário43. A verdade é que as prisões são as verdadeiras escolas de crime, onde os delinquentes com maior grau de periculosidades esta juntamente preso com que cometeu um crime de menor potencial ofensivo, o sistema carcerário deveria sofrer uma transformação, dando oportunidade de trabalho e educação para o sujeito dentro dos estabelecimentos penais, oferecendo uma oportunidade de cumprir a sua pena, e conseguinte exercer uma atividade digna de trabalho44. Destarte as políticas públicas deveriam tomar medidas mais eficazes, o trabalho sendo inserido nas prisões, traria lucros e também como um meio de devolve-lo a sociedade e a reaproximação de sua família. A capacitação do carcerário é a maneira mais eficaz do indivíduo a ser inserido no mercado de trabalho para viver de forma digna para que o sujeito não volte ao egresso. O condenado deve ser ressocializado em caso de penas privativas ou privativas de liberdade. E o processo de ressocialização deve ocorrer durante e após o cumprimento da pena45. Nesse sentido, o processo de cumprimento da pena no sistema penitenciário é de grande importância para a ressocialização dos presidiários, e 42 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 2011, p.982 43 Ibidem, 2011, p. 982. 44 BOITEUX, Luciana. Drogas e cárcere: repressão às drogas, aumento da população penitenciária brasileira e alternativas, 2014, p.17. 45 Ibidem, 2014, p. 18. o trabalho das autoridades penitenciárias deve ser voltado para auxiliar o condenado na adaptação à vida pública após a libertação da pena. É por isso que é dever do estado para fornecer o condenado com todas as condições necessárias para o seu retorno à sociedade, sem consequências adversas, como um cidadão responsável que vai continuar sua vida sem crime 46. Alcançar a meta de ressocialização é um processo abrangente e complexo, alcançado por meio de uma combinação de diferentes ações. Especificamente, o exercício dos direitos conferidos ao arguido pela lei é um dos contribuintes para a ressocialização. Portanto, todos os direitos previstos na lei para o acusado devem ser garantidos na prática. A lei de detenção reconhece os direitos do acusado e o Estado deve criar condições que garantam o exercício desses direitos47. Quando se trata de ressocialização, é necessário manter o contato do infrator com o mundo exterior, com o público, o que inclui o direito a visitas, ligações e correspondência, encontros com parentes e próximos e ao contato contínuo. É importante garantir os direitos dos presidiários, como moradia, alimentação, higiene pessoal, vestimenta, trabalho, saúde e prevenir a degradação de sua personalidade, para que se sintam seres humanos de pleno direito. O processo de ressocialização é de fato impossível sem a formação geral e profissional do condenado, pois a educação faz parte do programa de ressocialização e tem caráter estritamente educativo48. A maioria dos presos tem um baixo nível de educação, portanto, presumivelmente, esse baixo nível de educação afetou suas vidas antes de sua prisão e pode ter desempenhado um papel importante na prática do crime. Consequentemente, a educação é essencial para que os infratores tenham confiança em sua capacidade de buscar educação ou profissão após a libertação, o que os ajudará a encontrar emprego e ganhar a vida. Portanto, receber tanto a educação geral quanto a profissionalizante é uma das bases para 46 ROSSINI, Tayla Roberta Dolci. O sistema prisional brasileiro e as dificuldades de ressocialização do preso, 2015, p.1. 47 Ibidem, 2015, p.1 48 JULIÃO, Elionaldo Fernandes. A ressocialização por meio do estudo e do trabalho no sistema penitenciário brasileiro, 2011, p. 87. que o condenado possa se inserir na sociedade a partir dos conhecimentos adquiridos no cumprimento da pena49. O recluso receberá a referida experiência se, ao longo da escolaridade, também exercer o trabalho ou outras atividades no respetivo estabelecimento penitenciário. Mas também é preciso levar em consideração a relevância do trabalho a ser realizado e as capacidades físicas e de saúde da pessoa. Independentemente da importância da educação e do conhecimento profissional, vários problemas ainda se colocam, tais como baixo envolvimento dos beneficiários, falta de motivação, falta de informação sobre os programas entre os beneficiários, cursos de curta duração, falta de infraestrutura adequada50. No entanto, também é importante notar que mesmo com a educação adequada, ainda existem problemas de emprego associados a vários fatores, tais como: O estigma na sociedade, a condenação anterior, a privação do direito de conduzir um veículo por muito tempo (no caso de crime relacionado com drogas), etc. Consequentemente, o enfrentamento destes problemas exigirá mais recursos e encontrar formas eficazes,que devem ser desenvolvidas ao longo do tempo51. Além disso, no processo de ressocialização, é importante garantir o direito de participar de rituais religiosos, esportivos, culturais, educativos e religiosos, o direito de estar diariamente ao ar livre (gozar do direito de caminhar), como todos estes são fundamentais para atingir a meta de ressocialização52. Ao discutir a questão ressocialização da pessoa condenada, é importante considerar não apenas a regulamentação da legislação nacional, mas também as normas internacionais, que estabelecem que uma pessoa privada de liberdade deve ser tratada com pleno respeito de seus direitos, e os objetivos de uma pena de prisão ou medidas semelhantes privativas da liberdade de uma pessoa são principalmente para proteger a sociedade contra o crime e para reduzir a reincidência, o que pode ser alcançado, se o tempo gasto na prisão 49 JULIÃO, Elionaldo Fernandes. A ressocialização por meio do estudo e do trabalho no sistema penitenciário brasileiro, 2011, p. 87 50 BRITO, Alex Couto de. Execução penal. Editora Saraiva, 2018, p.378 51 Ibidem, 2018, p.378 52 ROSSINI, Tayla Roberta Dolci. O sistema prisional brasileiro e as dificuldades de ressocialização do preso 2015, p. 1 garantir, na medida do possível, a reintegração destes indivíduos na sociedade após a libertação53. Por isso, os estabelecimentos penitenciários devem proporcionar educação, formação profissional e trabalho, bem como outras formas de atividades e assistência educativas, morais, espirituais, sociais, de saúde e desportivas adequadas, devendo a relação com os reclusos visar a sua integração social esforços através da reabilitação. 53 TOMAZ, Rosimayre. O método APAC: estratégia humana e eficaz de reinserção do preso no convívio social, 2016, p.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base no exposto, pode-se concluir que a ressocialização para não regredir do condenado é muito importante para a prevenção da reincidência da criminalidade e para o retorno do condenado à sociedade como membro efetivo. A reabilitação e ressocialização bem-sucedidas de uma pessoa em conflito com a lei dependem de uma combinação de muitos fatores: política liberal de justiça criminal, funcionamento eficaz das agências estaduais, apoio do público, etc. Conforme observado acima, deve haver o desenvolvimento de programas significativos de ressocialização e reabilitação, no entanto, problemas ainda persistem, como a falta de infraestrutura necessária para os programas, bem como a baixa motivação dos beneficiários e a subcultura criminosa que precisa ser tratada e resolvida por meio de melhorias na legislação, aumentar o acesso dos beneficiários aos programas e, consequentemente, aumentar os orçamentos dos programas, bem como aumentar o número e envolvimento de psicólogos e assistentes sociais. É importante que durante o período da sentença os direitos dos condenados não sejam ilegalmente restringidos e ou privados e que as condições para o cumprimento da pena sirvam ao seu desenvolvimento pessoal. Acabando como uma cultura de punição, combinada com animus baseado em raça, classe e infraestrutura, que levou o Brasil a ser o terceiro país a mais confinar no mundo. A politização da política de justiça criminal e a falta de avaliação baseada em evidências resultam em uma catraca unilateral na qual a lei e a política se tornam cada vez mais punitivas. Os custos humanos e financeiros do encarceramento em massa são assombrosos e o fardo recai desproporcionalmente sobre os pobres e as pessoas de cor. No entanto, é necessário oferecer oportunidades aos presos de ressocialização para não regredir e com isso desafiar o vício do país no encarceramento. REFERÊNCIAS BOITEUX, Luciana. Drogas e cárcere: repressão às drogas, aumento da população penitenciária brasileira e alternativas. São Paulo: IBCCRIM, 2014, p.17-18. Disponível em: https://www.academia.edu/8087078/Drogas_e_C%C3%A1rcere_2014_Cole%C 3%A7%C3%A3o_Monografias_IBCCrim Acesso em 24 de out. de 2021. BOCALETI, Juliana Maria. 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