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Rua Henrique Schaumann, 270 Pinheiros – São Paulo – SP – CEP: 05413-010 PABX (11) 3613-3000 SAC 0800-0117875 De 2 a a 6 a , das 8h30 às 19h30 www.editorasaraiva.com.br/contato Diretora editorial Flávia Alves Bravin Gerente editorial Rogério Eduardo Alves Planejamento editorial Rita de Cássia S. Puoço Editoras Luciana Cruz Patricia Quero Produtoras editoriais Daniela Nogueira Secondo Rosana Peroni Fazolari Comunicação e produção digital Nathalia Setrini Luiz Suporte editorial Najla Cruz Silva Arte, produção e capa ERJ Composição Editorial Produção gráfica Liliane Cristina Gomes Conversão eBook Hondana ISBN 978-85-02-61633-2 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) ANGÉLICA ILACQUA CRB-8/7057 Vasconcellos, Marco Antonio Sandoval de Fundamentos de economia / Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos, Manuel Enriquez Garcia. – 5. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. Bibliografia ISBN 978-85-02-61633-2 1. Economia I. Título II. Garcia, Manuel Enriquez 14-0579 CDD 330 Índices para catálogo sistemático: 1. Economia Copyright © Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos e Manuel Enriquez Garcia 2014 Editora Saraiva Todos os direitos reservados. 5 a edição Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Saraiva. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n o 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. 350.322.005.001 Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos é bacharel, mestre e doutor em Economia pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). É professor do Departamento de Economia da FEA/USP e dos cursos de especialização, MBA e pós-graduação lato sensu da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). É coordenador de cursos e projetos na Fipe, ex-membro da Comissão de Avaliação de Ensino de Economia (Avaliação das Faculdades e Provão) do Ministério da Educação, conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo, e ex-conselheiro do Conselho Federal de Economia. Manuel Enriquez Garcia é bacharel, mestre e doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). É professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). É presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo e da Ordem dos Economistas do Brasil. É também advogado, inscrito na OAB — Secção de São Paulo. Ex-professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). É professor e coordenador de cursos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), nas áreas de Economia, Direito e Negócios Internacionais. Fundamentos de Economia é um livro dirigido a estudantes e profissionais das áreas de Direito e Ciências Humanas em geral, que tem por objetivo fornecer uma visão abrangente das principais questões econômicas de nosso tempo. Não é um livro de Economia Política, em que se enfatizam aspectos históricos e políticos do desenvolvimento da Economia, nem um livro de Direito Econômico, cujo enfoque está mais direcionado à Ciência Jurídica do que à Ciência Econômica. Trata-se de um livro introdutório de Economia Aplicada, no qual procuramos explicar com clareza e concisão conceitos e problemas econômicos fundamentais, de forma que os estudantes possam ter melhor compreensão da realidade econômica. Ele é o resultado da experiência dos autores em ministrar aulas em cursos de graduação e pós-graduação, bem como em cursos de extensão e especialização, para estudantes e profissionais de várias áreas interessados em Economia. Embora dirigido a estudantes, profissionais no exercício de suas atividades, tais como advogados, administradores, contadores, economistas, poderão encontrar neste livro algumas questões de interesse prático, como atualização de valores de ações judiciais, cálculo de valores reais (isto é, livre do efeito da taxa de inflação). Além disso, o leitor interessado em concursos públicos que incluam Economia, como os da área fiscal, encontrará neste livro alguns tópicos normalmente solicitados nesses concursos. Nesta quinta edição, foi feita uma revisão completa da versão anterior, sendo mantida a estrutura básica dos capítulos. As poucas modificações no texto foram no sentido de torná-lo ainda mais didático, que é certamente a razão fundamental de sua grande aceitação em todo o país, atingindo estudantes e profissionais das mais diversas áreas. Além da atualização das tabelas estatísticas, decidimos transportar o Capítulo 2 das edições anteriores, ―Evolução do Pensamento Econômico: Breve retrospecto‖ para o final do livro, renumerado como Capítulo 15. Consideramos que a compreensão desse capítulo fica facilitada após o eleitor ter se familiarizado com os conceitos apresentados ao longo do livro. O livro contém 15 capítulos. O primeiro é introdutório, e nele se encontra o escopo do estudo econômico. No Capítulo 2, procuramos mostrar as inter-relações entre Economia e Direito. Nesse capítulo, incorporamos as recentes alterações no sistema de defesa da concorrência. Nos quatro capítulos seguintes desenvolvemos os principais conceitos e temas ligados à área da teoria microeconômica: introdução à Microeconomia (Capítulo 3), demanda, oferta e equilíbrio de mercado (Capítulo 4), produção e custos (Capítulo 5) e estruturas de mercado (Capítulo 6). O restante do livro é dedicado à teoria e política macroeconômica. No Capítulo 7, apresentamos os principais fundamentos da Macroeconomia. A seguir, no Capítulo 8, analisamos o ramo da Macroeconomia conhecido como Contabilidade Social, e são apresentados os principais agregados macroeconômicos. A determinação da renda e do produto nacional encontram-se nos Capítulos 9 (mercado de bens e serviços) e 10 (lado monetário da economia). O Capítulo 11 encerra o modelo macroeconômico básico, incluindo o setor externo da economia, onde demos um destaque especial para a crise de 2008, como leitura complementar a esse capítulo. O Capítulo 12 detalha mais a questão inflacionária, sendo que, nesta edição, destacamos a importância do Plano Real. No Capítulo 13, especificamos um pouco mais o papel do setor público na atividade econômica. No Capítulo 14, são apresentadas noções fundamentais acerca do crescimento e desenvolvimento econômico. Finalmente, no Capítulo 15, como destacamos, apresentamos um breve retrospecto da evolução do pensamento econômico. Fundamentos de Economia traz ainda um glossário com mais de 270 verbetes; uma bibliografia básica, com autores nacionais e estrangeiros; e um índice analítico, que inclui não somente termos específicos de teoria econômica, mas também remissão a temas atuais tratados neste livro. Gostaríamos de registrar nossos agradecimentos aos professores doutores Roberto Luis Troster e Antonio Lanzana, da Universidade de São Paulo, ao economista Eduardo Lundberg, do Banco Central, e ao advogado Dr. João Henrique Guidugli, que apresentaram sugestões valiosas para este trabalho nas edições anteriores. Particularmente nas leituras complementares aos capítulos, contamos com a inestimável colaboração do professor doutor Ulisses Ruiz de Gamboa, professor dos cursos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Os erros porventura contidos neste livro são de exclusiva responsabilidade dos autores. Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos Manuel Enriquez Garcia Capítulo 1 – Introdução à Economia 1.1 Introdução 1.2 Conceito de Economia 1.2.1 Os problemas econômicos fundamentais 1.3 Sistemas econômicos 1.4 Curva de possibilidades de produção (ou curva de transformação) 1.4.1 Custo de oportunidade 1.4.2 Deslocamentos da curva de possibilidadesde produção 1.5 Funcionamento de uma economia de mercado: fluxos reais e monetários 1.6 Argumentos positivos versus argumentos normativos 1.7 Inter-relação da Economia com outras áreas do conhecimento 1.7.1 Economia, Física e Biologia 1.7.2 Economia, Matemática e Estatística 1.7.3 Economia e Política 1.7.4 Economia e História 1.7.5 Economia e Geografia 1.7.6 Economia, Moral, Justiça e Filosofia 1.8 Divisão do estudo econômico Leitura Complementar: A abordagem econômica do custo-benefício Questões para revisão Capítulo 2 – Economia e Direito 2.1 Introdução 2.2 O Direito e a teoria dos mercados: defesa do consumidor e da concorrência 2.3 Arcabouço jurídico das políticas macroeconômicas 2.4 O Estado promovendo o bem-estar da sociedade Leitura Complementar: Créditos de Carbono e o Teorema de Coase Questões para revisão Capítulo 3 – Introdução à Microeconomia 3.1 Conceito 3.2 Pressupostos básicos da análise microeconômica 3.2.1 A hipótese coeteris paribus 3.2.2 Objetivos da empresa 3.3 Aplicações da análise microeconômica 3.4 Divisão do estudo microeconômico 3.4.1 Análise da demanda 3.4.2 Análise da oferta 3.4.3 Análise das estruturas de mercado 3.4.4 Teoria do equilíbrio geral e bem-estar 3.4.5 Imperfeições (―falhas‖) de mercado Leitura Complementar: Os preços de mercado como sistema de informação Questões para revisão Capítulo 4 – Demanda, Oferta e Equilíbrio de Mercado 4.1 Introdução 4.1.1 Breve histórico 4.1.2 Utilidade total e utilidade marginal 4.2 Demanda de mercado 4.2.1 Conceito 4.2.2 Relação entre quantidade procurada e preço do bem: a lei geral da demanda 4.2.3 Outras variáveis que afetam a demanda de um bem 4.2.4 Distinção entre demanda e quantidade demandada 4.3 Oferta de mercado 4.3.1 Oferta e quantidade ofertada 4.4 Equilíbrio de mercado 4.4.1 A lei da oferta e da procura: tendência ao equilíbrio 4.4.2 Deslocamento das curvas de demanda e oferta 4.5 Interferência do governo no equilíbrio de mercado 4.5.1 Estabelecimento de impostos 4.5.2 Política de preços mínimos na agricultura 4.5.3 Tabelamento 4.6 Conceito de elasticidade 4.6.1 Elasticidade-preço da demanda 4.6.2 Elasticidade-renda da demanda 4.6.3 Elasticidade-preço cruzada da demanda 4.6.4 Elasticidade-preço da oferta Leitura Complementar (1): Demanda, oferta e elasticidades no mercado imobiliário brasileiro Leitura Complementar (2): Elasticidades-preço do etanol e da gasolina C (comum) no Brasil Apêndice: Determinação do preço e quantidade de equilíbrio Questões para revisão Capítulo 5 – Custos de Produção I – Teoria da Produção 5.1 Introdução 5.2 Conceitos básicos da teoria da produção 5.2.1 Produção 5.2.2 Função de produção 5.2.3 Fatores fixos e fatores variáveis de produção → curto e longo prazos 5.3 Análise de curto prazo 5.3.1 Conceitos de produto total, produtividade média e produtividade marginal 5.3.2 Lei dos rendimentos decrescentes 5.4 Análise de longo prazo 5.4.1 Economias de escala ou rendimentos de escala II – Custos de Produção 5.5 Introdução 5.6 Custos totais de produção 5.6.1 Custos de curto prazo 5.6.2 Custos de longo prazo 5.7 Diferenças entre a visão econômica e a visão contábil-financeira dos custos de produção 5.7.1 Custos de oportunidade versus custos contábeis 5.7.2 Custos privados e custos sociais: as externalidades ou economias externas 5.7.3 Custos versus despesas III – Maximização dos Lucros 5.8 Maximização do lucro total 5.9 Conceitos de lucro normal e lucro econômico 5.10 O conceito de break-even point Leitura Complementar: Produtividade no curto e no longo prazo da produção brasileira de soja Questões para revisão Capítulo 6 – Estruturas de Mercado 6.1 Introdução 6.2 Concorrência perfeita (mercado competitivo) 6.3 Monopólio 6.4 Oligopólio 6.5 Concorrência monopolística 6.6 Estruturas do mercado de fatores de produção 6.6.1 Concorrência perfeita no mercado de fatores 6.6.2 Monopólio no mercado de fatores 6.6.3 Oligopólio no mercado de fatores 6.6.4 Monopsônio (monopólio na compra de insumos) 6.6.5 Oligopsônio (oligopólio na compra de insumos) 6.6.6 Monopólio bilateral 6.7 Grau de concentração econômica no Brasil 6.8 A ação governamental e os abusos do poder econômico nos mercados Leitura Complementar: Mercado de cimento no Brasil e o enfoque moderno de estrutura de mercado Questões para revisão Capítulo 7 – Introdução à Macroeconomia 7.1 Introdução 7.2 Objetivos de política macroeconômica 7.2.1 Alto nível de emprego 7.2.2 Distribuição equitativa de renda 7.2.3 Estabilidade de preços 7.2.4 Crescimento econômico 7.2.5 Dilemas de política econômica: inter-relações e conflitos de objetivos 7.3 Instrumentos de política macroeconômica 7.3.1 Política fiscal 7.3.2 Política monetária 7.3.3 Políticas externas: política cambial e política comercial 7.3.4 Política de rendas 7.4 Estrutura de análise macroeconômica 7.4.1 Mercado de bens e serviços 7.4.2 Mercado de trabalho 7.4.3 Mercado monetário 7.4.4 Mercado de títulos 7.4.5 Mercado de divisas Leitura Complementar: Exemplos de dilemas de política econômica: o Plano Real em 1994 e o trade-off entre inflação e desemprego no Brasil em 2003 Questões para revisão Capítulo 8 – Contabilidade Social 8.1 Introdução 8.1.1 Sistemas de contabilidade social 8.1.2 Sistema de contas nacionais 8.1.3 Matriz de relações intersetoriais (ou matriz insumo-produto ou matriz de Leontief) 8.2 Princípios básicos das contas nacionais 8.3 Economia a dois setores: famílias e empresas 8.3.1 O fluxo circular de renda: análise da ótica do produto, da despesa e da renda 8.3.2 Formação de capital: poupança, investimento e depreciação 8.4 Economia a três setores: agregados relacionados ao setor público 8.4.1 Receita fiscal do governo 8.4.2 Gastos do governo 8.4.3 Superávit ou déficit público 8.4.4 Renda nacional a custo de fatores e produto nacional a preços de mercado 8.4.5 Renda pessoal disponível 8.4.6 Carga tributária bruta e líquida 8.5 Economia a quatro setores: agregados relacionados ao setor externo 8.5.1 Exportações e importações 8.5.2 Produto interno bruto, produto nacional bruto e renda líquida do exterior 8.5.3 Exercício de fixação de conceitos 8.6 PIB nominal e PIB real 8.6.1 PIB nominal ou monetário 8.6.2 PIB real 8.6.3 Exercício sobre deflacionamento 8.7 PIB em dólares 8.8 O PIB como medida do bem-estar Leitura Complementar: Economia informal no Brasil Apêndice: Números-índices Questões para revisão Capítulo 9 – Determinação da Renda e do Produto Nacional: O Mercado de Bens e Serviços 9.1 Introdução 9.2 Hipóteses do modelo básico 9.2.1 Economia com desemprego de recursos (subemprego) 9.2.2 Nível geral de preços constante 9.2.3 Curto prazo 9.2.4 Oferta agregada potencial fixada a curto prazo 9.2.5 Princípio da demanda efetiva 9.3 O equilíbrio macroeconômico 9.3.1 Análise gráfica 9.4 Comportamento dos agregados macroeconômicos no mercado de bens e serviços 9.4.1 Consumo agregado 9.4.2 Poupança agregada 9.4.3 Investimento agregado 9.5 Vazamentos e injeçõesde renda nacional 9.6 O multiplicador keynesiano de gastos 9.7 Política fiscal, inflação e desemprego 9.7.1 Economia com desemprego de recursos 9.7.2 Economia com inflação Leitura Complementar: Ciclos econômicos, multiplicador keynesiano e a crise econômica norte-americana Apêndice A: Determinação da renda nacional de equilíbrio: análise algébrica Exercício Proposto Apêndice B: O multiplicador keynesiano de gastos Questões para revisão Capítulo 10 – O Lado Monetário da Economia 10.1 Conceito de moeda 10.2 Funções e tipos de moeda 10.2.1 Tipos de moeda 10.3 Oferta de moeda 10.3.1 Conceito de meios de pagamento 10.3.2 Oferta de moeda pelo Banco Central 10.3.3 Oferta de moeda pelos bancos comerciais. O multiplicador monetário 10.4 Demanda de moeda 10.5 O papel das taxas de juros 10.5.1 Taxa de juros nominal e taxa de juros real 10.6 Moeda, nível de atividade e inflação: interligação entre o lado real e o lado monetário da economia 10.6.1 Teoria quantitativa da moeda 10.6.2 Moeda e políticas de expansão do nível de atividade 10.6.3 A relação entre a oferta monetária e o processo inflacionário 10.6.4 Eficácia das políticas monetária e fiscal 10.7 O sistema financeiro 10.7.1 Segmentos do sistema financeiro 10.8 Indicadores do comportamento monetário no Brasil Leitura Complementar: Por que os juros são tão altos no Brasil Apêndice: A base jurídica do Sistema Financeiro Nacional Questões para revisão Capítulo 11 – O Setor Externo 11.1 Introdução 11.2 Fundamentos do comércio internacional: a teoria das vantagens comparativas 11.3 Determinação da taxa de câmbio 11.3.1 Conceito 11.3.2 Taxa de câmbio e inflação 11.4 Políticas externas 11.4.1 Política cambial 11.4.2 Política comercial 11.5 Fatores determinantes do comportamento das exportações e importações 11.5.1 Exportações 11.5.2 Importações 11.6 A estrutura do balanço de pagamentos 11.6.1 Exercício de fixação de conceitos 11.7 O balanço de pagamentos no Brasil 11.8 Organismos internacionais 11.8.1 Fundo Monetário Internacional (FMI) 11.8.2 Banco Mundial 11.8.3 Organização Mundial do Comércio (OMC) Leitura Complementar (1): A crise financeira internacional de 2008 Leitura Complementar (2): A valorização do real estaria provocando a desindustrialização da economia brasileira? Apêndice: Principais lançamentos contábeis do balanço de pagamentos Questões para revisão Capítulo 12 – Inflação 12.1 Conceito de inflação 12.2 As causas da inflação 12.2.1 Inflação de demanda 12.2.2 Inflação de custos 12.2.3 Inflação inercial 12.2.4 Causas da inflação segundo a corrente estruturalista 12.3 As distorções provocadas por altas taxas de inflação 12.3.1 Efeito sobre a distribuição de renda 12.3.2 Efeito sobre o balanço de pagamentos 12.3.3 Efeito sobre o mercado de capitais 12.3.4 Efeito sobre as expectativas empresariais 12.3.5 Outros efeitos 12.4 Inflação no Brasil Leitura Complementar: Políticas monetárias: metas de inflação e núcleo de inflação Questões para revisão Capítulo 13 – O Setor Público 13.1 Introdução 13.2 O crescimento da participação do setor público na atividade econômica 13.3 As funções econômicas do setor público 13.3.1 Função alocativa 13.3.2 Função distributiva 13.3.3 Função estabilizadora 13.4 Estrutura tributária 13.4.1 Princípios tributários 13.4.2 Os tributos e sua classificação 13.4.3 Efeitos sobre a atividade econômica 13.5 Déficit público: conceitos e formas de financiamento 13.6 Aspectos institucionais do orçamento público. Princípios orçamentários 13.6.1 Orçamento público 13.6.2 Princípios orçamentários 13.6.3 Orçamento público no Brasil 13.6.4 A Lei de Responsabilidade Fiscal Leitura Complementar: Razão dívida pública/PIB e Sustentabilidade da política fiscal Apêndice: Dispêndio e receita pública: classificação segundo categorias Questões para revisão Capítulo 14 – Crescimento e Desenvolvimento Econômico 14.1 Crescimento e desenvolvimento 14.2 Fontes de crescimento 14.2.1 Capital humano 14.2.2 Capital físico 14.3 Estágios de desenvolvimento 14.4 Financiamento do desenvolvimento econômico 14.5 Um modelo básico de crescimento econômico 14.6 A internacionalização da economia: o processo de globalização Leitura Complementar: O Modelo de Solow e a ―receita‖ para o crescimento sustentado brasileiro Questões para revisão Capítulo 15 – Evolução do Pensamento Econômico: Breve Retrospecto 15.1 Introdução 15.2 Precursores da teoria econômica 15.2.1 Antiguidade 15.2.2 Mercantilismo 15.2.3 Fisiocracia 15.2.4 Os clássicos 15.3 A teoria neoclássica 15.4 A teoria keynesiana 15.5 O período recente 15.6 Abordagens alternativas Leitura Complementar: Escolas de pensamento econômico no mundo atual Questões para revisão Glossário Índice Analítico 1.1 Introdução Seja em nosso cotidiano, seja nos jornais, no rádio e na televisão, deparamo-nos com inúmeras questões econômicas, como: ■ aumentos de preços; ■ períodos de crise econômica ou de crescimento; ■ desemprego; ■ setores que crescem mais do que outros; ■ diferenças salariais; ■ crises no balanço de pagamentos; ■ vulnerabilidade externa; ■ valorização ou desvalorização da taxa de câmbio; ■ dívida externa; ■ ociosidade em alguns setores de atividade; ■ diferenças de renda entre as várias regiões do país; ■ comportamento das taxas de juros; ■ déficit governamental; ■ elevação de impostos e tarifas públicas. Esses temas, já rotineiros em nosso dia a dia, são discutidos pelos cidadãos comuns, que, com altas doses de empirismo, têm opiniões formadas sobre as medidas que o Estado deve adotar. Um estudante de Economia, de Direito ou de outra área pode vir a ocupar um cargo de responsabilidade em uma empresa ou na própria administração pública e necessitará de conhecimentos teóricos mais sólidos para poder analisar os problemas econômicos que nos rodeiam diariamente. O objetivo do estudo da Ciência Econômica é analisar os problemas econômicos e formular soluções para resolvê-los, de forma a melhorar nossa qualidade de vida. 1.2 Conceito de Economia Etimologicamente, a palavra economia deriva do grego oikonomía (de oikos, casa; nomos, lei). No sentido original, seria a ―administração da casa‖, que posteriormente foi associada à ―administração da coisa pública‖. Define-se Economia como a ciência social que estuda de que maneira a sociedade decide (escolhe) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas. Ou seja, é a ciência social que estuda como a sociedade administra recursos produtivos (fatores de produção) escassos. Essa definição contém vários conceitos importantes, que são a base e o objeto do estudo da Ciência Econômica: ■ ciência social; ■ escolha; ■ escassez; ■ necessidades; ■ recursos; ■ produção; ■ distribuição. Como ciência social, o estudo da teoria econômica pertence ao campo das ciências humanas. Como repousam sobre decisões humanas, as decisões econômicas envolvem juízo de valor, dando origem a diferentes formas de interpretação e, consequentemente, a várias correntes de pensamento econômico. Em qualquer sociedade, os recursos produtivos ou fatoresde produção (mão de obra, terra, capital, matérias-primas, entre outros) são limitados. Por outro lado, as necessidades humanas são ilimitadas e sempre se renovam, por força do próprio crescimento populacional e pela contínua elevação do padrão de vida. Independentemente do seu grau de desenvolvimento, nenhum país consegue dispor de todos os recursos dos quais necessita. Tem-se, então, um problema de escassez: recursos limitados contrapondo-se a necessidades humanas ilimitadas. Em função da escassez de recursos, toda sociedade tem de escolher entre alternativas de produção e de distribuição dos resultados da atividade produtiva entre os vários grupos da sociedade. Essa é a questão central do estudo da Economia: como alocar recursos produtivos limitados, de forma a atender ao máximo às necessidades humanas. 1.2.1 Os problemas econômicos fundamentais Da escassez dos recursos ou fatores de produção, associada às necessidades ilimitadas do homem, originam-se os chamados problemas econômicos fundamentais: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? ■ O que e quanto produzir: dada a escassez de recursos de produção, a sociedade terá de escolher, dentro do leque de possibilidades de produção, quais produtos serão produzidos e as respectivas quantidades a serem fabricadas; ■ como produzir: a sociedade terá de escolher ainda quais recursos de produção serão utilizados para a produção de bens e serviços, dado o nível tecnológico existente. A concorrência entre os diferentes produtores acaba decidindo como serão produzidos os bens e serviços. Os produtores escolherão, entre os métodos mais eficientes, aquele que tiver o menor custo de produção possível; ■ para quem produzir: a sociedade terá também de decidir como seus membros participarão da distribuição dos resultados de sua produção. A distribuição da renda dependerá não só da oferta e da demanda nos mercados de serviços produtivos, ou seja, da determinação dos salários, das rendas da terra, dos juros e dos benefícios do capital, mas também da repartição inicial da propriedade e da maneira como ela se transmite por herança. O modo como as sociedades resolvem os problemas econômicos fundamentais depende da forma da organização econômica do país, ou seja, do sistema econômico de cada nação. 1.3 Sistemas econômicos Um sistema econômico pode ser definido como a forma política, social e econômica pela qual está organizada uma sociedade. É um particular sistema de organização da produção, distribuição e consumo de todos os bens e serviços que as pessoas utilizam buscando uma melhoria no padrão de vida e bem-estar. Os elementos básicos de um sistema econômico são: ■ estoque de recursos produtivos ou fatores de produção: aqui se incluem os recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), o capital, a terra, as reservas naturais e a tecnologia; ■ complexo de unidades de produção: constituído pelas empresas; ■ conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais: que são a base da organização da sociedade. Os sistemas econômicos podem ser classificados em: ■ sistema capitalista ou economia de mercado. É regido pelas forças de mercado, predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção; ■ sistema socialista ou economia centralizada ou, ainda, economia planificada. Nesse sistema as questões econômicas fundamentais são resolvidas por um órgão central de planejamento, predominando a propriedade pública dos fatores de produção, chamados nessas economias de meios de produção, englobando os bens de capital, terra, prédios, bancos, matérias-primas. [1] Os países organizam-se segundo esses dois sistemas, ou alguma forma intermediária entre eles. Pelo menos até o início do século XX, prevalecia nas economias ocidentais o sistema de concorrência pura, em que praticamente não havia a intervenção do Estado na atividade produtiva. Era a filosofia do Liberalismo, que será discutida mais adiante. Principalmente a partir de 1930, passaram a predominar os sistemas de economia mista, nos quais ainda prevalecem as forças de mercado, mas com a atuação complementar do Estado, seja na produção de bens públicos, nas áreas de educação, saúde e saneamento, justiça, defesa nacional etc., seja induzindo investimentos do setor privado, principalmente para setores de infraestrutura, como energia, transportes, comunicações. Em economias de mercado, a maioria dos preços dos bens, serviços e salários é determinada predominantemente pelo mecanismo de preços, que atua por meio da oferta e da demanda de bens e serviços e dos fatores de produção. Nas economias centralizadas, essas questões são decididas por um órgão central de planejamento, a partir de um levantamento dos recursos de produção disponíveis e das necessidades do país. Ou seja, grande parte dos preços dos bens e serviços, salários, cotas de produção e de recursos é calculada nos computadores desse órgão, e não pela oferta e demanda no mercado. Após o fim da chamada ―Cortina de Ferro‖, ao final dos anos 1980, mesmo as economias ainda guiadas por governos comunistas, como Rússia e China, têm aberto cada vez mais espaço para atuação da iniciativa privada, caracterizando um ―socialismo de mercado‖ ou ―capitalismo de estado‖, com regime político comunista, mas economia de mercado. Provavelmente, talvez apenas Cuba e Coreia do Norte sejam os únicos remanescentes de um tipo de economia completamente centralizada. 1.4 Curva de possibilidades de produção (ou curva de transformação) A curva (ou fronteira) de possibilidades de produção (CPP) expressa a capacidade máxima de produção da sociedade, supondo pleno emprego dos recursos ou fatores de produção de que se dispõe em dado momento do tempo. Trata-se de um conceito teórico com o qual se ilustra como a escassez de recursos impõe um limite à capacidade produtiva de uma sociedade, que terá de fazer escolhas entre diferentes alternativas de produção. Devido à escassez de recursos, a produção total de um país tem um limite máximo, uma produção potencial ou produto de pleno emprego, quando todos os recursos disponíveis estão empregados (todos os trabalhadores que querem trabalhar estão empregados, não há capacidade ociosa). Suponhamos uma economia que só produza máquinas (bens de capital) e alimentos (bens de consumo) e que as alternativas de produção de ambos sejam as seguintes: Tabela 1.1 Possibilidades de produção Alternativas de produção Máquinas (milhares) Alimentos (toneladas) A 25 0 B 20 30 C 15 47,5 D 10 60 E 0 70 Na primeira alternativa (A), todos os fatores de produção seriam alocados para a produção de máquinas; na última (E), seriam alocados somente para a produção de alimentos; e nas alternativas intermediárias (B, C e D), os fatores de produção seriam distribuídos na produção de um e de outro bem (veja a Figura 1.1). A curva ABCDE indica todas as possibilidades de produção potencial de máquinas e de alimentos nessa economia hipotética. Qualquer ponto sobre a curva significa que a economia irá operar no pleno emprego, ou seja, à plena capacidade, utilizando todos os fatores de produção disponíveis. No ponto F (ou em qualquer outro ponto interno à curva), quando a economia está produzindo 10 mil máquinas e 30 toneladas de alimentos, dizemos que se está operando com capacidade ociosa ou com desemprego. Ou seja, os fatores de produção estão sendo subutilizados. O ponto G representa uma combinação impossível de produção (25 mil máquinas e 50 toneladas de alimentos), uma vez que os fatores de produção e a tecnologia de que a economia dispõe seriam insuficientes para obter essas quantidades de bens. Esse ponto ultrapassaa capacidade de produção potencial ou de pleno emprego dessa economia, dados os recursos dos quais dispõe no momento. Figura 1.1 Curva (ou fronteira) de possibilidades de produção. 1.4.1 Custo de oportunidade A transferência dos fatores de produção de um bem X para produzir um bem Y implica um custo de oportunidade, que é igual ao sacrifício de se deixar de produzir parte do bem X para se produzir mais do bem Y. O custo de oportunidade também é chamado de custo alternativo, por representar o custo da produção alternativa sacrificada. Por exemplo, na Figura 1.1, para aumentar a produção de alimentos de 30 para 60 toneladas (passar do ponto B para o D), o custo de oportunidade em termos de máquinas é igual a 10 mil, que é a quantidade sacrificada desse bem para se produzir mais 30 toneladas de alimentos. É de se esperar que os custos de oportunidade sejam crescentes, uma vez que, quando aumentamos a produção de determinado bem, os fatores de produção transferidos dos outros produtos se tornam cada vez menos aptos para a nova finalidade, ou seja, a transferência vai ficando cada vez mais difícil e onerosa e o grau de sacrifício vai aumentando. Isto é, os fatores de produção são especializados em determinadas linhas de produção e não são completamente adaptáveis a outros usos. Esse fato justifica o formato côncavo da curva de possibilidades de produção: acréscimos iguais na produção dos alimentos implicam decréscimos cada vez maiores na produção de máquinas, como mostra a Figura 1.2. [2] Figura 1.2 Curva de possibilidades de produção/custos de oportunidade crescentes. 1.4.2 Deslocamentos da curva de possibilidades de produção O deslocamento da CPP para a direita indica que o país está crescendo. Isso pode ocorrer fundamentalmente tanto em função do aumento da quantidade física de fatores de produção como em função do melhor aproveitamento dos recursos já existentes, o que pode ocorrer com o progresso tecnológico, maior eficiência produtiva e organizacional das empresas e melhoria no grau de qualificação da mão de obra. Desse modo, a expansão dos recursos de produção e os avanços tecnológicos, que caracterizam o crescimento econômico, mudam a curva de possibilidades de produção para cima e para a direita, permitindo que a economia obtenha maiores quantidades de ambos os bens. Figura 1.3 Crescimento econômico. 1.5 Funcionamento de uma economia de mercado: fluxos reais e monetários Para entender o funcionamento do sistema econômico, vamos supor uma economia de mercado que não tenha interferência do governo nem transações com o exterior (economia fechada). Os agentes econômicos são as famílias (unidades familiares) e as empresas (unidades produtoras). Numa economia de mercado, as famílias são proprietárias dos fatores de produção e os fornecem às unidades de produção (empresas) no mercado dos fatores de produção. As empresas combinam fatores de produção, produzem bens e serviços e os fornecem às famílias no mercado de bens e serviços. Os fatores de produção básicos são a mão de obra, a terra e o capital. A esse fluxo de fatores de produção, bens e serviços denominamos fluxo real da economia. [3] Como pode ser observado na Figura 1.4, famílias e empresas exercem um duplo papel. No mercado de bens e serviços, as famílias demandam bens e serviços, enquanto as empresas os oferecem; no mercado de fatores de produção, as famílias oferecem os serviços dos fatores de produção (que são de sua propriedade), enquanto as empresas os demandam. Figura 1.4 Fluxo real da economia. No entanto, o fluxo real da economia só se torna possível com a presença da moeda, que é utilizada para o pagamento dos bens e serviços e para a remuneração dos fatores de produção. A cada fator de produção corresponde uma remuneração ao seu proprietário, como se segue: ■ salário: remuneração aos proprietários do fator de produção mão de obra; ■ juro: remuneração aos proprietários do capital monetário, aplicado pelas famílias nas empresas; ■ aluguel: remuneração aos proprietários do fator terra (também chamado de renda da terra); ■ lucro: remuneração ao capital físico, como prédios, máquinas e equipamentos. [4] Inclui os dividendos pagos às famílias como proprietários de empresas. Assim, paralelamente ao fluxo real, temos um fluxo monetário da economia (veja a Figura 1.5). Figura 1.5 Fluxo monetário da economia. Unindo os fluxos real e monetário da economia, temos o chamado fluxo circular de renda (veja a Figura 1.6). Figura 1.6 Fluxo circular de renda. Em cada um dos mercados atuam conjuntamente as forças da oferta e da demanda, determinando o preço. Assim, no mercado de bens e serviços formam-se os preços dos bens e serviços, enquanto no mercado de fatores de produção são determinados os preços dos fatores de produção (salários, juros, aluguéis, lucros). No mercado de bens e serviços, determina-se ―o que‖ e ―quanto‖ produzir; no mercado de fatores de produção, decide-se ―para quem‖ produzir. A questão de ―como‖ produzir é dada no âmbito das empresas, pela sua eficiência produtiva. Esse fluxo, também chamado de fluxo básico, é o que se estabelece entre famílias e empresas. O fluxo completo incorpora o setor público, adicionando-se o efeito dos impostos e dos gastos públicos ao fluxo anterior, bem como o setor externo, que inclui todas as transações com mercadorias, serviços e o movimento financeiro com o resto do mundo. Para um entendimento básico do funcionamento da economia, objetivo deste capítulo, não é necessária sua inclusão. Definição de Bens de Capital, Bens de Consumo e Bens Intermediários Os bens de capital são utilizados na fabricação de outros bens, mas não se desgastam totalmente no processo produtivo. É o caso, por exemplo, de máquinas, equipamentos e instalações. São usualmente classificados no ativo fixo das empresas, e uma de suas características é contribuir para a melhoria da produtividade da mão de obra. Os bens de consumo destinam-se diretamente ao atendimento das necessidades humanas. De acordo com sua durabilidade, podem ser classificados como duráveis (por exemplo, geladeiras, fogões, automóveis) ou como não duráveis (alimentos, produtos de limpeza). Os bens intermediários são transformados ou agregados na produção de outros bens e são consumidos totalmente no processo produtivo (insumos, matérias-primas e componentes). Diferenciam-se dos bens finais, que são vendidos para consumo ou utilização final. Os bens de capital, como não são ―consumidos‖ no processo produtivo, são bens finais, e não intermediários. 1.6 Argumentos positivos versus argumentos normativos A Economia é uma ciência social e utiliza fundamentalmente uma análise positiva, que deve explicar os fatos da realidade. Os argumentos positivos não envolvem juízo de valor, e referem-se a proposições objetivas, do tipo se A, então B. Por exemplo, se o preço da gasolina aumentar em relação a todos os outros preços, então a quantidade que as pessoas irão comprar de gasolina cairá. É uma análise do que é. Desse ponto de vista, a Economia se aproxima da Física e da Química, que são ciências consideradas virtualmente isentas de juízo de valor. Em Economia, entretanto, defrontamo-nos com um problema diferente. Ela trata do comportamento de pessoas, e não de moléculas, como na Química. Frequentemente nossos valores interferem na análise do fato econômico. Nesse sentido, definimos também argumentos normativos, relativos a uma análise que contém, explícita ou implicitamente, um juízo de valor sobre alguma medida econômica. Por exemplo, na afirmação ―o preço da gasolina não deve subir‖ expressamos uma opinião ou juízo de valor, ou seja, se é uma coisa boa ou má. É uma análise do que deveria ser.Suponha, por exemplo, que desejemos uma melhoria na distribuição de renda do país (argumento normativo). É um julgamento de valor em que acreditamos. O administrador de política econômica (policymaker) dispõe de algumas opções para alcançar esse objetivo (aumentar salários, combater a inflação, criar empregos). A Economia Positiva ajudará a escolher o instrumento de política econômica mais adequado. Se a economia estiver próxima da plena capacidade de produção, aumentos de salários, por encarecerem o custo da mão de obra, podem gerar desemprego; isso é o contrário do desejado quanto à melhoria na distribuição de renda. Esse é um argumento positivo, indicando que aumentos salariais, nessas circunstâncias, não constituem a política mais adequada. 1.7 Inter-relação da Economia com outras áreas do conhecimento Embora a Economia tenha seu núcleo de análise e seu objeto bem definidos, ela tem intercorrências com outras ciências. Afinal, todas estudam a mesma realidade e, evidentemente, há muitos pontos de contato. Nesta seção, tentaremos estabelecer relações entre a Economia e outras áreas do conhecimento. As inter-relações entre Economia e Direito serão discutidas com mais profundidade no Capítulo 2. 1.7.1 Economia, Física e Biologia O início do estudo sistemático da Economia coincidiu com os grandes avanços da técnica e das ciências físicas e biológicas nos séculos XVIII e XIX. A construção do núcleo científico inicial da Economia começou a partir das chamadas concepções organicistas (biológicas) e mecanicistas (físicas). Segundo o grupo organicista, a Economia se comportaria como um órgão vivo. Daí se utilizarem termos como órgãos, funções e circulação na teoria econômica. Já para o grupo mecanicista, as leis da Economia se comportariam como determinadas leis da Física. Daí advêm termos como equilíbrio, fluxos, estoques, estática, dinâmica, aceleração, velocidade, forças e outros. Com o passar do tempo, predominou uma concepção humanística, que coloca em plano superior os móveis psicológicos da atividade humana. Afinal, a Economia repousa sobre os atos humanos e é por excelência uma ciência social. 1.7.2 Economia, Matemática e Estatística Apesar de ser uma ciência social, a Economia é limitada pelo meio físico, dado que os recursos são escassos, e se ocupa de quantidades físicas e das relações entre essas quantidades, como a que se estabelece entre a produção de bens e serviços e os fatores de produção utilizados no processo produtivo. Daí surge a necessidade da utilização da Matemática e da Estatística como ferramentas para estabelecer relações entre variáveis econômicas. A Matemática torna possível escrever de forma resumida importantes conceitos e relações de Economia e permite análises econômicas na forma de modelos analíticos, com poucas variáveis estratégicas, que resumem os aspectos essenciais da questão em estudo. [5] Tomemos como exemplo uma importante relação econômica: ―O consumo nacional está diretamente relacionado com a renda nacional‖. Essa relação pode ser representada da seguinte forma: A primeira expressão diz que o consumo (C) é uma função (f) da renda nacional (RN); ou seja, as variações do consumo dependem de variações da renda nacional. A segunda informa que, dada uma variação na renda nacional (ΔRN), teremos uma variação diretamente proporcional (na mesma direção) do consumo agregado (ΔC). As relações entre variáveis econômicas não são exatas, como são na Matemática e na Física, mas probabilísticas. Por exemplo, não existem em Economia relações matemáticas exatas. Se a Economia tivesse relações matemáticas, tudo seria previsível. No entanto, ―não existem no mundo econômico regularidades como c = 2πr (o comprimento da circunferência é igual a dois ‗pí‘ radianos), equivalência entre massa e energia, leis de Newton. Na Economia, o ‗átomo‘ aprende, pensa, reage, projeta, finge. Imagine como seria a Física e a Química se o átomo aprendesse: aquelas belas regularidades desapareceriam. Os átomos pensantes logo se agrupariam em classes para defender seus interesses: teríamos uma ‗Física dos átomos proletários‘, ‗Física dos átomos burgueses‘ e outros‖. [6] Entretanto, a Economia apresenta muitas relações entre variáveis com razoável regularidade, que podem ser calculadas utilizando-se a Estatística, tais como: ■ o consumo nacional depende diretamente da renda nacional; ■ a quantidade demandada de um bem tem uma relação inversamente proporcional com seu preço, tudo o mais constante; ■ as exportações e as importações dependem da taxa de câmbio. Por exemplo, na relação vista anteriormente (C = f(RN)), conhecendo o valor da renda nacional num dado ano, não é possível prever o valor exato do consumo, mas sim uma estimativa aproximada. Embora a renda seja a variável mais importante, o consumo não depende só da renda nacional, mas de outros fatores (como condições de crédito, juros, patrimônio). A área da Economia que está voltada para a quantificação das relações entre variáveis e quantificação de modelos é a Econometria, que combina Teoria Econômica, Matemática e Estatística. A Matemática e a Estatística são instrumentos, ferramentas de análise que permitem testar as proposições teóricas da ciência econômica com os dados da realidade, além de serem muito úteis para previsões econômicas, que auxiliam tanto no planejamento estratégico das empresas, como na política econômica do governo. 1.7.3 Economia e Política A Economia e a Política são áreas bastante interligadas. A Política fixa as instituições sobre as quais se desenvolverão as atividades econômicas. Nesse sentido, a atividade econômica se subordina à estrutura e ao regime político do país. As prioridades de política econômica (crescimento, distribuição de renda, estabilização) são determinadas pelo poder político. No regime democrático, as diretrizes de política econômica são dadas pelo povo, que elege o partido político escolhido pela população. Num regime autoritário, as prioridades são estabelecidas pela vontade dos detentores do poder. Entretanto, por outro lado, a estrutura política se encontra muitas vezes subordinada ao poder econômico. Citemos apenas alguns exemplos: ■ política do ―café com leite‖, antes de 1930, quando Minas Gerais e São Paulo dominavam o cenário político do país; ■ poder econômico dos latifundiários; ■ poder dos oligopólios e monopólios; ■ poder das corporações estatais; ■ poder do sistema financeiro; ■ poder sindical. 1.7.4 Economia e História A pesquisa histórica é extremamente útil e necessária para a Economia, pois facilita a compreensão do presente e ajuda nas previsões. As guerras e revoluções, por exemplo, alteraram o comportamento e a evolução da Economia. Por outro lado, também os fatos econômicos afetam o desenrolar da História. Alguns importantes períodos históricos são associados a fatores econômicos, como os ciclos do ouro e da cana-de-açúcar no Brasil, e a Revolução Industrial, a quebra da Bolsa de Nova York (1929), a crise do petróleo, que alteraram profundamente a história mundial. Em última análise, as próprias guerras e revoluções são permeadas por motivações econômicas. 1.7.5 Economia e Geografia A Geografia não é o simples registro de acidentes geográficos e climáticos. Ela nos permite avaliar fatores muito úteis à análise econômica, como as condições geoeconômicas dos mercados, a concentração espacial dos fatores produtivos, a localização de empresas e a composição setorial da atividade econômica. Atualmente, algumas áreas de estudo econômico estão relacionadas diretamente com a Geografia, como a economia regional, a economia urbana, as teorias de localização industrial e a demografia econômica. 1.7.6 Economia, Moral, Justiça e Filosofia Antes da Revolução Industrial,no século XVIII, a atividade econômica era vista como parte integrante da Filosofia, Moral e Ética. A Economia era orientada por princípios morais e de justiça. Não existia ainda um estudo sistemático das leis econômicas, e predominavam princípios como a lei da usura, o conceito de preço justo (discutidos, entre outros filósofos, por São Tomás de Aquino). Ainda hoje, as encíclicas papais refletem a aplicação da filosofia moral e cristã às relações econômicas entre homens e nações. 1.8 Divisão do estudo econômico A análise econômica, para fins metodológicos e didáticos, é normalmente dividida em quatro áreas de estudo: Microeconomia ou Teoria de Formação de Preços. Examina a formação de preços em mercados específicos, ou seja, como consumidores e empresas interagem no mercado e como decidem os preços e a quantidade para satisfazer a ambos simultaneamente. Essa parte será desenvolvida nos Capítulos 3 a 6. Macroeconomia. Estuda a determinação e o comportamento dos grandes agregados nacionais, como o produto interno bruto (PIB), o investimento agregado, a poupança agregada, o nível geral de preços, entre outros. Seu enfoque é basicamente de curto prazo (ou conjuntural). A teoria macroeconômica será discutida nos Capítulos 7 a 10, 12 e 13. Economia internacional. Analisa as relações econômicas entre residentes e não residentes do país, as quais envolvem transações com bens e serviços e transações financeiras. Os principais aspectos das relações de um país com o resto do mundo serão abordados no Capítulo 11. Desenvolvimento econômico. Preocupa-se com a melhoria do padrão de vida da coletividade ao longo do tempo. O enfoque é também macroeconômico, mas centrado em questões estruturais e de longo prazo (como progresso tecnológico, estratégias de crescimento). No Capítulo 14, apresentaremos as noções básicas que envolvem essa parte da teoria econômica. Leitura Complementar: A abordagem econômica do custo-benefício Como vimos, a economia parte do princípio de que os recursos são escassos diante do conjunto de necessidades que tentamos satisfazer, que é sempre crescente. Sendo assim, como essa ciência poderia ajudar a sociedade a escolher os melhores usos para esses recursos? A resposta é que o papel da economia é mostrar-nos quais são os custos e benefícios associados a cada escolha. Ou seja, poderíamos afirmar que a chamada abordagem econômica não é outra coisa senão uma análise de custo-benefício aplicada às decisões da sociedade. Desse modo, por exemplo, se uma empresa deseja decidir se deve ou não lançar um produto novo, deverá avaliar quais serão os custos adicionais associados a esse projeto, posto que precisará contratar mão de obra, comprar mais insumos, mais matérias-primas etc. Além disso, a empresa deverá garantir que seu proprietário receba pelo menos o rendimento equivalente à melhor aplicação que poderia realizar com os recursos financeiros que estaria investindo no lançamento desse produto novo. Ou seja, além dos custos explícitos anteriores, a empresa deverá incluir como despesa, ainda que implícita, o custo de oportunidade (implícito) de seu acionista. Por sua vez, também será importante estimar o aumento de receitas (benefícios) que a venda desse produto significará para a empresa. Assim, se os custos superam os benefícios adicionais, sua decisão deverá ser não lançar o produto, e vice-versa, se a relação custo-benefício for positiva. Esse tipo de análise configura o que se chama de análise de viabilidade econômica de um projeto, uma das principais aplicações práticas da abordagem de custo-benefício que caracteriza a ciência econômica. Contudo, a utilização da abordagem custo-benefício não tem por que ficar restrita às decisões econômicas individuais (microeconômicas), também podendo ser aplicada para analisar a conveniência de realizar uma determinada política macroeconômica. Assim, por exemplo, o aumento das transferências de renda (Bolsa Escola, Bolsa-Família, aumentos reais do salário mínimo, benefícios da Previdência Social) praticado durante os governos Fernando Henrique e Lula ajudou a reduzir a desigualdade da distribuição de renda brasileira, uma das mais perversas do mundo. Isso certamente poderia ser considerado um benefício para a sociedade brasileira, tanto em termos éticos como no tocante à estabilidade política e social. Todavia, essas transferências fazem parte do gasto do governo, o que leva o setor público a aumentar impostos e a se endividar para poder financiá-las. O aumento de impostos reduz a capacidade de compra das famílias, inclusive no caso daquelas que recebem as transferências, e o maior endividamento público diminui o crédito disponível para famílias e empresas, elevando a taxa de juros, constituindo-se, portanto, em importantes custos para a sociedade. Em síntese, qualquer decisão, seja ela individual (microeconômica) ou coletiva (macroeconômica), implicará custos e benefícios para a sociedade, independentemente de se esses últimos são maiores que os primeiros e vice-versa. Como afirmou certa vez Milton Friedman, famoso economista norte-americano, ―em economia não existe almoço grátis‖. Questões para revisão 1. Por que os problemas econômicos fundamentais (o que, quanto, como e para quem produzir) originam-se da escassez de recursos de produção? 2. O que mostra a curva de possibilidades de produção ou curva de transformação? 3. Explique a razão do formato da curva de possibilidades de produção. Ilustre graficamente. 4. Analisando-se uma economia de mercado, observa-se que os fluxos real e monetário conjuntamente formam o fluxo circular da renda. Explique como esse sistema funciona. 5. Conceitue: bens de capital, bens de consumo, bens intermediários, bens finais e fatores de produção. 6. O que vêm a ser argumentos positivos e argumentos normativos? Exemplifique. 7. Qual a importância da Matemática e da Estatística para estudos econômicos? Exemplifique. 2.1 Introdução Este capítulo procura mostrar como importantes conceitos da teoria econômica estão relacionados ou dependem do quadro de normas jurídicas do país. No mundo real, por um lado, as normas jurídicas molduram o campo de análise da teoria econômica e, por outro, o surgimento de novas questões econômicas atua de modo a modificar esse arcabouço jurídico. Particularmente, nas últimas décadas, em função do expressivo avanço da liberalização dos mercados, tanto do comércio como das finanças internacionais, vem ganhando mais importância o papel regulador do governo, visando garantir a defesa da concorrência e os direitos dos consumidores. Nesse sentido, iniciamos este capítulo com um enfoque mais ligado à Microeconomia. Em seguida, já direcionados mais pela Macroeconomia, destacamos a relevância do arcabouço jurídico que norteia a aplicação dos instrumentos de política econômica. Finalizamos com alguns comentários sobre o papel do Estado na promoção do bem-estar da sociedade, tanto do ponto de vista econômico como jurídico. 2.2 O Direito e a teoria dos mercados: defesa do consumidor e da concorrência Quando se estuda a teoria dos mercados, que é parte da Microeconomia, dois enfoques são encontrados: de um lado, no econômico, analisa-se o comportamento dos produtores e dos consumidores quanto a suas decisões de produzir e de consumir; de outro, no jurídico, o foco reside nos agentes das relações de consumo – consumidor e fornecedor –, sendo que, conforme o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, os direitos do consumidor colocam-se perante os deveres do fornecedor de bens e serviços. Quando se estuda o estabelecimento comercial e o papel do empresário, novamente, duas visões emergem da análise: a econômica e a jurídica. A visão econômica ressalta o papel do administrador na organização dos fatores de produção– capital, trabalho, terra e tecnologia –, combinando-os de modo a minimizar seus custos ou maximizar seu lucro. A jurídica, extraída do Direito Comercial, apresenta várias concepções, que enfatizam que o estabelecimento comercial é um sujeito de direito distinto do comerciante, com seu patrimônio elevado à categoria de pessoa jurídica, com a capacidade de adquirir e exercer direitos e obrigações. Consumidores e produtores/fornecedores encontram-se nos mais variados mercados. Como veremos no Capítulo 15, Adam Smith, analisando os mercados, descobriu uma propriedade notável: o princípio da mão invisível, pelo qual cada indivíduo, ao atuar na busca apenas de seu bem-estar particular, realiza o que é mais conveniente para o conjunto da sociedade. Assim, em mercados competitivos, não concentrados em poucas empresas dominantes, o sistema de preços permite que se extraia a máxima quantidade de bens e serviços úteis do conjunto de recursos disponíveis na sociedade, conduzindo a economia a uma eficiente alocação dos recursos. Ele ficou impressionado com a ordem econômica estabelecida pelos mercados e preconizou que qualquer interferência governamental na livre concorrência seria prejudicial, tanto para compradores como para vendedores de mercadorias ou serviços. Segundo essa visão do sistema econômico, o Estado deveria intervir o menos possível no funcionamento dos mercados, porque estes livremente resolveriam da maneira mais eficiente possível os problemas econômicos básicos da sociedade: o que, quanto, como e para quem produzir. Contudo, quando o Estado deveria intervir na economia? A justificativa econômica para a intervenção governamental nos mercados se apoia no fato de que no mundo real observam-se desvios em relação ao modelo ideal preconizado por Smith, isto é, existem as chamadas imperfeições de mercado: externalidades, informação imperfeita e poder de monopólio e oligopólio. As externalidades ou economias externas se observam quando a produção ou o consumo de um bem acarreta efeitos positivos ou negativos sobre outros indivíduos ou empresas, que não se refletem nos preços de mercado. As externalidades dão a base econômica para a criação de leis antipoluição, de restrições quanto ao uso da terra, de proteção ambiental etc. Por seu lado, se os agentes econômicos possuem falhas de informação, ou seja, não têm informação completa a respeito de determinado bem ou serviço, eles não tomarão decisões corretas quando forem ao mercado desejando adquiri-lo. A análise da chamada ―assimetria de informações‖ é um dos campos mais estudados na moderna teoria econômica. Como meio de proteger os consumidores, justifica-se a ação governamental com a regulamentação da comercialização de bens e serviços; por exemplo, estabelecendo-se normas quanto aos prazos de validade de produtos; ou, no caso da segurança do motorista, exigindo-se o uso do cinto de segurança etc. Já o exercício do poder de monopólio caracteriza-se quando um produtor (ou grupo de produtores) aumenta unilateralmente os preços (ou reduz a quantidade), ou diminui a qualidade ou a variedade de produtos ou serviços, com a finalidade de aumentar os lucros. Em resposta a essas imperfeições ou falhas de funcionamento do mercado, normas jurídicas possibilitaram que a atuação do governo na economia fosse cada vez mais abrangente. Pouco a pouco, a sociedade foi vivenciando a mão visível do governo como forma de aumentar a eficiência econômica. Sua atuação se faz por meio de leis, as chamadas leis de defesa da concorrência, que regulam tanto as estruturas de mercado, como a conduta das empresas. Historicamente, o controle de monopólios e oligopólios surgiu nos Estados Unidos, no final do século XIX. Naquele período, empresas de pequeno porte passaram a ser absorvidas por outras maiores, que passaram a limitar a oferta e a encarecer os preços dos bens e serviços. Paralelamente, maquiagens nos balanços permitiram colocar no mercado ações com preços bem acima do valor real dessas empresas. Devido a esses fatos, em 1890, foi votada a lei Sherman contra os trusts, que proibiu a formação de monopólios, tanto no comércio como na indústria. E, em 1914, com o Clayton Act, tratou-se de definir mais concretamente quais condutas seriam consideradas ilícitas. Finalmente, em 1950, a lei Celler-Kefauver proibiu as fusões de empresas por meio da compra de ativos, se fosse verificado que essas fusões reduziriam a concorrência. O Brasil, desde os anos 1960, possui legislação em defesa da concorrência. Contudo, esse conjunto de normas, até meados dos anos 1990, tinha sido pouco eficaz, devido aos altos níveis de proteção à indústria nacional e aos elevados índices de inflação. Em consequência, o Estado brasileiro fez, durante muitos anos, a opção pelos controles de preços. Mudança expressiva ocorreu, todavia, a partir da Constituição Federal de 1988. [1] Nela encontram-se os princípios básicos da atuação do Estado na economia, a sujeição do sistema econômico ao Estado sob a forma de proteção contra o abuso do poder econômico e, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. A partir dessa base legal, foi promulgada a Lei n o 8.884, de 11 de junho de 1994, [2] que criou o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), formado por três órgãos: a Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE), do Ministério da Fazenda, e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), autarquia vinculada ao Ministério da Justiça. O CADE tem um poder decisório sobre os processos por ele julgados, enquanto as secretarias apresentam um caráter mais instrutor do processo. O SBDC foi reformulado em 2011 (Lei n o 12529/11). Por essa lei, o CADE absorve algumas das competências da SDE e da SEAE, assumindo toda a análise e o julgamento de fusões e aquisições, as ações de prevenção e de repressão às infrações contra a ordem econômica. Uma das principais alterações foi a exigência de submissão prévia de operações de fusões e incorporações, e não depois, como acontecia anteriormente. O CADE baseia suas decisões na lei antitruste de 1994, que regulamenta os acordos de união e cooperação entre as empresas. Esse órgão tem a tarefa de julgar os processos, desempenhando três papéis principais: preventivo, repressivo e educativo. Em todas essas funções, o CADE tem por principal objetivo zelar pela conduta concorrencial, impedindo práticas que violem a essência competitiva do mercado. Nesse sentido, o CADE atua em duas frentes: a primeira, no controle das estruturas de mercado; a segunda, procurando coibir condutas ou práticas anti-concorrenciais. O controle das estruturas de mercado diz respeito aos atos que resultem em qualquer forma de concentração econômica, seja por fusões ou por incorporações de empresas, pela constituição de sociedade para exercer o controle de empresas ou qualquer forma de agrupamento societário que implique participação da empresa ou grupo de empresas. O controle de condutas, por seu turno, consiste na apuração de práticas anticoncorrenciais de empresas que detêm poder de mercado; por exemplo: a fixação de preços de revenda, as vendas casadas, os acordos de exclusividade, a cartelização de mercados e os preços predatórios. Como se pode notar, é de extrema importância a ação governamental para a política de defesa da concorrência. Por meio dela, busca-se coibir e reprimir abusos no mercado: concorrência desleal, utilização indevida das invenções, de signos distintivos, marcas e nomes comerciais, tudo que possa induzir o consumidor a erro, causando-lhe prejuízos. Enfim, a defesa da concorrência implica necessariamente a defesa do bem-estar público. 2.3 Arcabouço jurídicodas políticas macroeconômicas As políticas monetária, de crédito, cambial e de comércio exterior são de competência da União. Esse ente federal tem a competência para emitir moeda e para legislar sobre o sistema monetário e de medidas, títulos e garantias de metais; sobre a política de crédito, câmbio, seguros e transferências de valores; e sobre o comércio exterior. No entanto, cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, dispor sobre moeda, seus limites de emissão e montante da dívida mobiliária federal. [3] A política fiscal (arrecadação e despesas públicas) é de competência das três entidades da federação: União, Estados e Municípios. No tocante às receitas, a Constituição Federal de 1988 trata dos princípios gerais; das limitações do poder de tributar; das competências para instituir impostos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, além da repartição das receitas tributárias. [4] O papel da despesa do governo ganha destaque especial quando se estuda o papel do Estado na geração de renda, produção e emprego. Como veremos ao longo do livro, o governo, por meio de gastos correntes (funcionalismo público, aposentadorias, programas sociais) e gastos em investimentos – obras de infraestrutura, hidroelétricas, rodovias, entre outros –, gera um aumento da demanda agregada do país, com importantes reflexos sobre a renda e o emprego. O processo de globalização, caracterizado pela integração econômica internacional, fundamenta-se primordialmente sobre as bases econômicas e jurídicas. Especialmente no Brasil, esse fato deve-se à grande regulação dos mercados e ao intenso uso de bases contratuais como forma de organizar, viabilizar e proteger a produção, especialmente após a abertura comercial adotada a partir dos anos 1990. Justamente nesse momento em que países em desenvolvimento começam a passar por reformas, tanto institucionais quanto econômicas, faz-se necessária a existência de um poder judiciário forte e bem definido, que garanta o bom funcionamento da economia. No caso brasileiro, em particular com as privatizações, o fim dos controles de preços e a abertura comercial, muitas das transações que antes eram realizadas dentro do aparelho estatal passaram a ser realizadas por meio dos mecanismos de mercado. O processo de privatizações e concessões ocorrido no Brasil nos anos 1990 trouxe a necessidade de criar órgãos especiais de regulação, as chamadas Agências Reguladoras, devido às especificidades de cada setor, tais como transportes, energia elétrica, telecomunicações, antes monopólios do Estado. Como são setores estratégicos fortemente concentrados, a principal função desses órgãos é verificar o cumprimento dos contratos de concessão e as metas acordadas com as empresas entrantes, em sua maioria multinacionais. [5] Sem um poder judiciário essencialmente forte e bem definido, seria tarefa árdua e ineficiente a garantia dos direitos de propriedade e o cumprimento dos contratos dentro do cenário econômico. 2.4 O Estado promovendo o bem-estar da sociedade A ação do Estado, quer do ponto de vista econômico, quer jurídico, supõe-se que esteja voltada para o bem-estar da população, e é o Direito que estabelece as normas que regulam as relações entre indivíduos, grupos, e mesmo entre governos, indivíduos e organizações internacionais. Segundo John Locke, [6] um dos expoentes do liberalismo, os indivíduos, por um acordo, teriam colocado parte de seus direitos naturais sob controle de um governo parlamentar, limitado em suas competências e responsável perante o povo. Assim, de maneira voluntária e unânime, os homens decidiram entrar num acordo para criar uma sociedade civil cuja finalidade fosse promover e ampliar os direitos naturais do homem à vida, à liberdade e à propriedade. Em parte baseando-se nesses princípios, as normas constitucionais brasileiras foram criadas com a preocupação de promover o bem-estar da coletividade, e encontram-se na Constituição Federal de 1988, nos capítulos relacionados com a tributação, as finanças públicas e os orçamentos anuais. Em última instância, para a atuação do Estado brasileiro na economia, buscou-se o que está previsto no artigo 170 da Constituição de 1988: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I. soberania nacional; II. propriedade privada; III. função social da propriedade; IV. livre concorrência; V. defesa do consumidor; VI. defesa do meio ambiente; VII. redução das desigualdades regionais e sociais; VIII. busca do pleno emprego; IX. tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. É possível ainda observar a ligação entre Economia e Direito quando se analisam os princípios gerais da atividade econômica; da política urbana, agrícola e fundiária; o Sistema Financeiro Nacional; as políticas monetária, de crédito, cambial e de comércio exterior. Nunca é demais repetir que a fundamentação jurídica para essas políticas encontra-se na Constituição, em que se definem as competências econômicas das várias esferas de governo. Por outro lado, os governos também têm tentado criar normas jurídicas que protejam a fauna, a flora e os mananciais, bem como o meio ambiente de maneira geral, no qual se insere o Protocolo de Quioto e a regulamentação do mercado de carbono. Assim, as normas jurídicas buscam, em última análise, regular as atividades econômicas, no sentido de tornar os mercados mais eficientes (função alocativa) e buscar melhor qualidade de vida para a população como um todo (função distributiva). [7] Leitura Complementar: Créditos de Carbono e o Teorema de Coase Uma das proposições mais famosas em economia foi feita, na verdade, por um brilhante advogado norte-americano, Ronald Coase, que inclusive foi o único advogado do mundo a ganhar o Prêmio Nobel de Economia, em 1991. Coase estava muito preocupado com os impactos econômicos dos efeitos colaterais (externalidades) positivos ou negativos do consumo ou da produção de um indivíduo sobre outro. Assim, por exemplo, analisou o caso de um médico que processou seu vizinho, dono de uma pequena tecelagem, cujo ruído atrapalhava o atendimento de seus pacientes. Utilizando sua experiência como advogado, começou a se perguntar se o processo jurídico, que identificaria uma ―vítima‖ e um ―culpado‖, seria melhor, do ponto de vista social, em comparação à livre negociação entre as duas partes. Em outras palavras, a ―culpa‖ é do dono da tecelagem, cuja produção provoca uma externalidade negativa para o médico, ou a ―culpa‖ é do médico, que resolveu abrir um consultório ao lado de uma tecelagem? Para responder a essa questão devemos nos perguntar se é o tecelão que tem ―o direito a fazer barulho‖ ou se é o médico que tem ―o direito a ter silêncio‖, ou seja, de quem são os direitos de propriedade. Independentemente de quem seja o ―dono‖ dos direitos anteriores, desde que estejam definidos, se os custos de chegar a um acordo entre as duas partes (custos de transação) são baixos, esse acordo seria melhor para ambas as partes (sociedade) que o processo judicial anterior. Isso é exatamente o que postula o chamado ―Teorema de Coase‖. Assim, se o tecelão ―chegou primeiro‖, o médico é que deveria procurar outra localização para seu consultório, ou oferecer um desconto a seus pacientes pelo desconforto do barulho provocado pelo vizinho. Caso contrário, o tecelão deveria oferecer algumtipo de compensação ao médico. A solução jurídica pressupõe que o direito esteja sempre de posse do médico, o que, como vimos, pode não ser certo, reduzindo indevidamente a quantidade de roupas produzidas pela tecelagem. Coase também analisou casos em que, em vez de um processo judicial, a solução típica para evitar externalidades negativas é a aplicação de impostos. Assim, uma fábrica que emita poluentes (dióxido de carbono), na visão tradicional, deveria ser taxada com um imposto ou obrigada a reduzir sua produção. Aplicando a ideia de Coase, o governo dos Estados Unidos decidiu criar um sistema de ―direitos de emissão de dióxido de carbono‖, que foram vendidos a fábricas poluentes, definindo-se, então, direitos de propriedade. Com essa medida, em primeiro lugar, estabeleceu-se um limite máximo total de poluição e, através do leilão desses direitos, possibilitou-se que as fábricas ―internalizassem‖ o fato de que teriam de pagar para poluir, pois isso gerava custos para a sociedade. Além disso, como havia permuta entre os direitos de emissão entre as fábricas instaladas e as que desejavam ingressar, a medida incentivou o desenvolvimento de tecnologia despoluente, pois aquelas que conseguissem emitir menos dióxido de carbono poderiam vender direitos às que emitiam acima do limite estabelecido. Questões para revisão 1. O objetivo das empresas é maximizar os lucros. As normas jurídicas, entretanto, têm por fim proteger a sociedade de abusos e delimitam o campo de atuação das empresas. Você acha que a Lei n o 8.884/94 tem essa finalidade? 2. O que vem a ser lei antitruste? 3. Qual órgão tem a competência para executar a política monetária, de crédito, cambial e de comércio exterior? Qual o fundamento legal? 4. Exponha brevemente as justificativas econômicas para a intervenção governamental nos mercados. 5. Descreva o Sistema Brasileiro de Defesa do Consumidor e o papel de cada órgão que o compõe. 3.1 Conceito A Microeconomia, ou Teoria dos Preços, analisa a formação de preços no mercado, ou seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o preço e a quantidade de determinado bem ou serviço em mercados específicos. Assim, enquanto a Macroeconomia enfoca o comportamento da Economia como um todo, considerando variáveis globais como consumo agregado, renda nacional e investimentos globais, a análise microeconômica preocupa-se com a formação de preços de bens e serviços (por exemplo, soja, automóveis) e de fatores de produção (salários, aluguéis, lucros) em mercados específicos. A Teoria Microeconômica não deve ser confundida com economia de empresas, pois tem enfoque distinto. A Microeconomia estuda o funcionamento da oferta e da demanda na formação do preço no mercado, isto é, o preço obtido pela interação do conjunto de consumidores com o conjunto de empresas que fabricam um dado bem ou serviço. Do ponto de vista da Administração de Empresas, que estuda uma empresa específica, prevalece a visão contábil-financeira na formação do preço de venda de seu produto, baseada principalmente nos custos de produção, enquanto na Microeconomia predomina a visão do mercado como um todo. A abordagem econômica se diferencia da contábil mesmo quando são tratados os custos de produção, pois o economista analisa não só os custos efetivamente incorridos, mas também aqueles decorrentes das oportunidades sacrificadas, ou seja, os custos de oportunidade ou implícitos. Como detalharemos mais adiante, os custos de produção do ponto de vista econômico não são apenas os gastos ou desembolsos financeiros incorridos pela empresa (custos explícitos), mas incluem também quanto as empresas gastariam se tivessem de alugar ou comprar no mercado os insumos que são de sua propriedade (custos implícitos). Os agentes da demanda – os consumidores – são aqueles que se dirigem ao mercado com o intuito de adquirir um conjunto de bens ou serviços que lhes maximize sua função utilidade, ou seja, seu grau de satisfação no consumo. A empresa ou estabelecimento comercial é a combinação realizada pelo empresário dos fatores de produção: capital, trabalho, terra e tecnologia, de tal modo organizados para se obter o maior volume possível de produção ou de serviços ao menor custo. Como vimos no capítulo introdutório, toda a renda pertence às famílias, o que inclui os proprietários das empresas. Nesse sentido, a empresa é definida como o local onde se organiza a produção, sendo que a renda auferida no processo de produção pertence aos empresários e trabalhadores. [1] 3.2 Pressupostos básicos da análise microeconômica 3.2.1 A hipótese coeteris paribus Para analisar um mercado específico, a Microeconomia se vale da hipótese de que tudo o mais permanece constante (em latim, coeteris paribus). O foco de estudo é dirigido apenas àquele mercado, analisando-se o papel que a oferta e a demanda nele exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito pouco, ou que não interfiram de maneira absoluta. Maria Eduarda Realce Maria Eduarda Realce Maria Eduarda Realce Maria Eduarda Realce Maria Eduarda Realce Maria Eduarda Realce Maria Eduarda Realce Maria Eduarda Realce Adotando-se essa hipótese, torna-se possível o estudo de determinado mercado, selecionando-se apenas as variáveis que influenciam os agentes econômicos – consumidores e produtores – nesse particular mercado, independentemente de outros fatores, que estão em outros mercados, poderem influenciá-los. Sabemos, por exemplo, que a procura de uma mercadoria é normalmente mais afetada por seu preço e pela renda dos consumidores. Para analisar o efeito do preço sobre a procura, supomos que a renda permanece constante (coeteris paribus); da mesma forma, para avaliar a relação entre a procura e a renda dos consumidores, supomos que o preço da mercadoria não varia. Temos, assim, o efeito ―puro‖ ou ―líquido‖ de cada uma dessas variáveis sobre a procura. 3.2.2 Objetivos da empresa A grande questão na Microeconomia, que inclusive é a origem das diferentes correntes de abordagem, reside na hipótese adotada quanto aos objetivos da empresa produtora de bens e serviços. A análise tradicional supõe o princípio da racionalidade, segundo o qual o empresário sempre busca a maximização do lucro total, otimizando a utilização dos recursos de que dispõe. [2] Essa corrente enfatiza conceitos como receita marginal, custo marginal e produtividade marginal em lugar de conceitos de média (receita média, custo médio e produtividade média), daí ser chamada de marginalista. Como veremos no Capítulo 5, a maximização do lucro da empresa ocorre quando a receita marginal iguala-se ao custo marginal. As correntes alternativas consideram que o objetivo do empresário não seria a maximização do lucro, mas fatores como aumento da participação nas vendas do mercado, ou maximização da margem sobre os custos de produção, independentemente da demanda de mercado. Geralmente, nos cursos de Economia, a abordagem marginalista compõe a teoria microeconômica propriamente dita, pelo que é chamada de teoria tradicional, enquanto as demais abordagens são usualmente analisadas nas disciplinas denominadas Teoria da Organização Industrial ou Economia Industrial. 3.3 Aplicações da análise microeconômica A análise microeconômica ou teoria dos preços, como parte da ciência econômica, preocupa-se em explicar como se determina o preço dos bens e serviços, bem como dos fatores de produção. O instrumental microeconômico procura responder também a questões aparentemente triviais; por exemplo, por que, quando o preço de um bem se eleva, a quantidade demandada desse bem deve cair, coeteris paribus? Entretanto, deve-se salientar que, se a teoria microeconômica não é um manual de técnicas para a tomada de decisões do dia a dia, mesmo assim ela representa
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