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Os modos de produção

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1ºAula
Os modos de produção:
Escravismo, feudalismo, capitalismo 
e socialismo
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de: 
reconhecer um dos conceitos mais importantes dos campos da Economia, da História e da Sociologia;
perceber suas nuances e identificando os aspectos mais relevantes de cada uma delas;
construir uma base sólida para o estudo das variações produtivas ao longo do tempo. 
Fonte: http://www.novidadesautomotivas.blog.br/2013/10/linha-de-montagem-de-henry-
ford.html. Acesso em 15/01/2019.
Se observarmos bem a trajetória humana que foi registrada nos 
livros de História, perceberemos com facilidade que a maneira pelas 
quais as comunidades se articulam para dividir tarefas, bem como 
recolher, produzir, repartir e consumir determinados bens e produtos, 
varia no tempo e no espaço. Essas variáveis foram denominadas, 
sobretudo por agentes provenientes do campo sociológico, como 
Modos de Produção. Nesta aula, analisaremos quatro de suas variações: 
o modo de produção escravista, o modo de produção feudal, o modo de produção 
capitalista e, por fim, o modo de produção socialista.
Bons estudos!
217
História Econômica Geral 8
1 – O Modo de Produção Escravista
2 – O Modo de Produção Feudal
3 – O Modo de Produção Capitalista
4 – O Modo de Produção Socialista
1 - O Modo de Produção Escravista
Figura 1.2 – Disponível em: http://historiacsd.blogspot.com/2017/06/o-mundo-do-
trabalho-nas-sociedades-da.html. Acesso em 28/01/2019.
 
Quando discutimos o conceito de Modo de Produção, nos 
remetemos imediatamente a uma noção decorrente da teoria 
marxista ou, para ser mais exato, daquilo que foi chamado 
de Materialismo Histórico. Em parte, ele decorre das análises, 
discussões e proposições de dois gigantes do pensamento 
político e econômico do século XIX, Karl Marx e Friedrich 
Engels, revelando o profundo conhecimento de ambos a 
respeito da história social humana. Esses dois pensadores, 
apesar de serem vulgar e automaticamente reconhecidos como 
matizes do pensamento comunista, assinaram importantes 
textos para uma análise mais profunda das relações sociais 
desenvolvidas ao longo do tempo, os quais são imprescindíveis 
a diversos campos de produção de conhecimento, como, 
sociológico (do qual é um dos pilares) e, claro, aquele que 
nos interessa mais de perto, o campo econômico. De tal 
modo, consideraremos os modos de produção como uma 
articulação de dois aspectos, as forças produtivas (os homens e as 
tecnologias) e as relações de produção (as formas de organização 
social da produção). 
A noção de Modo de Produção Escravista consiste numa 
racionalização de um modelo de produção e divisão social 
sucessor do Modo de Produção Primitivo, o primeiro e mais longo 
da trajetória humana, tendo em vista remeter ao surgimento 
das primeiras comunidades humanas, quando a divisão 
de tarefas e os bens provenientes da caça e da coleta eram 
partilhados de maneira comunal, igualitária, não manifestando, 
portanto, noções de posse, de propriedade privada, divisões 
entre patrões e empregados, etc. Ao contrário deste, o Modo 
de Produção Escravista inaugura a perspectiva de propriedade 
Seções de estudo
privada e, principalmente, da possibilidade de sujeição 
do homem pelo homem, produzindo uma concepção 
hierarquizada da sociedade, ou seja, uma divisão social na qual 
algumas pessoas ou grupos têm maior prestígio social que 
outros. Nesse modelo, a propriedade privada (sendo a terra era 
o principal fundamento de riqueza), bem como os instrumentos 
de produção
constituem o que a literatura materialista denomina por meios 
de produção, bem como os escravos, estavam subordinados a 
alguém. O escravo, nesse modelo, é percebido socialmente 
como um objeto que está inserido nos processos de produção, 
mas, desprovido de direitos, sendo equiparado aos animais e 
às máquinas. Assim, os indivíduos socialmente legitimados 
a possuir escravos, chamados de senhores em alguns casos, 
impunham sua vontade sobre uma quantidade de homens 
e mulheres que, responsável pela produção dos bens, mas, 
também, sujeitados a assédios e intimidações de toda natureza. 
bem as divisões sociais e o papel do escravo naquela sociedade, 
os banquetes. Deixemos de lado, por um instante, o aspecto 
produtivo relativo à escravidão. Na imagem, observamos um 
banquete, comum entre a elite romana. Naqueles eventos era 
comum que o escravo caminhasse por entre os convidados 
portando, fosse aos ombros ou pendurados ao pescoço, 
recipientes para que os refestelados pudessem depositar o 
conteúdo de seus estômagos sem ao menos precisarem sair 
do lugar, bastando um leve aceno de mão. Como havia fartura 
de alimentos nesses encontros da aristocracia romana, as 
pessoas comiam em demasia. Assim, o vômito era necessário 
para dar lugar a novos pratos e a ainda mais comida. “Vomitar 
para comer, comer para vomitar”, dizia uma frase de Sêneca.
 
Figura 1.3 – Disponível em: http://www.pilloledistoria.it/10462/storia-antica/
banchetti-nellantica-roma-schiavi-per-raccogliere-il-vomito?lang=pt. Acesso em 
15/01/2019. 
 
A prática da escravidão também está registrada em 
textos bíblicos, especialmente no Antigo Testamento. A partir 
de alguns deles é possível perceber bem a distinção e o valor 
social entre as mulheres livres e escravas, revelando como 
os escravos eram vistos como pessoas menores, irrelevantes 
ou, até mesmo, descartáveis. Em Gálatas 4:23 está registrado: 
“Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o 
que era da livre, por promessa. Mais a diante, em Gálatas 4:30, 
lê-se: “Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu 
do povo de Israel mantido como escravo no Egito também é 
218
9
De modo geral, quando analisamos o Modo de Produção 
Escravista, nossas principais referências são as sociedades 
antigas de Roma, Grécia e Egito. Nelas a concepção de 
propriedade privada já se encontrava bem desenvolvida, fosse 
da terra ou de escravos, sendo direito particular de uma fatia 
numericamente pequena da sociedade. Entretanto, há uma 
série de variações a respeito da condição social do escravo. 
Em determinadas sociedades, o escravo não se tornava uma 
mercadoria passível, portanto, de ser comprada ou vendida; 
não era um bem mercadejável. Noutras, ainda que se possam 
distinção entre eles no que compete à alienação. Podemos, 
alienação dos escravizados nesse sistema, ainda que nenhuma 
delas tenha existido em estado puro e individual:
Alienação Social: refere-se a estrangeiros e 
indivíduos de status social inferior;
Alienação Política: quando, em função das forças 
que comandam a política local, indivíduos perdem 
seus direitos;
Alienação Cultural: refere-se ao processo de 
aculturação; 
Alienação Psicológica: quando se produzem 
mecanismos para que o indivíduo perca referências 
fundamentais para a construção de sua própria 
identidade.
e sociais, por exemplo, se deveu à adoção de um Modo de 
Produção Escravista
a aristocracia, das atividades de subsistências e geração de 
riqueza (na Grécia antiga o trabalho que exige energia muscular, 
trabalho braçal, era visto como socialmente indigno, sendo 
cargo de indivíduos escravizados. Em Atenas, por exemplo, 
era legítima a escravidão temporária por endividamento, a qual 
foi extinta por Sólon apenas no século IV a.C. Em Esparta, 
uma cidade-estado guerreira, a escravidão estava relacionada 
às guerras, nas quais os indivíduos de terras invadidas por 
espartanos tornavam-se escravos. Aliás, uma forma de conter 
revoltas de escravos em Esparta foi admitir que soldados 
em formação utilizassem escravos em seus treinamentos 
militares, o que resultava, quase sempre, na morte do escravo. 
Os escravos domésticos, no entanto, responsáveis tanto pela 
limpeza, pela feitura dos alimentos quanto pelo cuidado e, 
às vezes, educação das crianças possuíam muito melhores 
condições de vida. 
Assim, o sentimento grego, bem como seu sentido social 
e psicológico em relação à escravidão, foi registrado por Platão 
desprezaro trabalho”. Na concepção grega, inclusive, um 
indivíduo deslocado da ordem cósmica, ou seja, aquele que não 
desenvolveu os dons que o universo lhe dera para contribuir 
com o mundo, só poderia ser escravo, sendo “orientado” por 
alguém que, nesse sentido, lhe era moralmente e espiritualmente 
de um trabalho de discurso que é socialmente compartilhado 
2 - O Modo de Produção Feudal
O Modo de Produção Feudal, ou simplesmente Feudalismo, 
foi o modelo de organização econômica, social e política 
predominante por toda a Europa medieval, mais precisamente, 
entre os séculos V e XV. Assim como seu antecessor, o 
Modo de Produção Escravista, o fundamento do mando, ou 
seja, o fundamento do poder estava baseado na propriedade 
privada, especialmente, na propriedade privada da terra. 
Automaticamente, portanto, a posse da terra transformava 
o indivíduo em senhor, lhe garantindo todos os privilégios e 
prerrogativas associados a essa condição. 
Figura 1.4 – Disponível em: http://www.portaldovestibulando.com/2013/04/o-
mundo-do-trabalho-na-sociedade-feudal.html. Acesso em 16/01/2019.
Romano do Ocidente, ocorrido no século V. Com isso, uma 
vasta região europeia perdera a proteção e a ordenação social 
que o Império oferecia. Consequentemente, abriu-se espaço 
para o surgimento de uma hierarquia feudal, prometendo 
proteção a uma boa parte da população, sobretudo, aquela 
exércitos próprios, os quais eram comandados pelos nobres. 
Daí uma imagem tipicamente medieval: o cavaleiro com 
sua armadura, empunhando sua espada e escudo, com seu 
capacete adornado de plumas, servindo como uma espécie de 
referência moral ao povo. Nesse novo sistema de organização 
social, os camponeses assumiram a condição servil, tornando-
se submissos aos senhores feudais, devendo-lhes, portanto, 
além de trabalho, total devoção. 
Tal como nos apresenta Perry Anderson, o mundo 
feudal é uma conjunção entre dois modelos de organização 
social. De um lado, o mundo escravista greco-romano. De 
outro lado, o modo de produção germânico, baseado em 
princípios comunais de divisão da terra e de toda a produção. 
Nas palavras do autor:
[...] a gênese do feudalismo na Europa 
convergente de dois modos de produção 
distintos: a recombinação de seus elementos 
desintegrados liberou a síntese feudal em si, a 
qual, portanto, sempre conservou um caráter 
híbrido. Os dois predecessores do modo de 
produção feudal foram, é claro, o decadente 
219
História Econômica Geral 10
modo de produção escravista, em cujas 
fundações se assentara o enorme edifício do 
Império Romano, e os modos de dos invasores 
germânicos, que sobreviveram em suas novas 
pátrias, distendidos e deformados, depois das 
conquistas bárbaras. Nos últimos séculos da 
Antiguidade esses dois mundos radicalmente 
distintos vinham passando por uma lenta 
desintegração e uma gradual interpenetração 
(ANDERSON, 2016, p. 21-22). 
de modo de produção feudal um sistema “constituído por 
Nesse modelo, os instrumentos de produção e os meios de produção 
(arado e charrua, por exemplo, mas, também, o moinho e 
a própria terra, de onde “os homens medievais poderiam 
extrair materiais para a sua própria vida e também transformar 
em ambiente para o seu trabalho”) são todos eles propriedade 
do senhor feudal. Do outro lado, temos os agentes de produção, 
mercadores e artesão, que também se tornariam forças 
responsáveis pela superação desse sistema, apareceriam com 
maior intensidade mais tardiamente. Além disso: 
Também estaria no campo das ‘forças de 
produção’ as técnicas conhecidas pelos 
homens para produzir o seu trabalho ou 
se apropriar do meio, como o cultivo 
unidirecional ou o plantio alternado. Ocorre 
que tudo isto – instrumentos, técnicas, meios 
de produção e agentes de produção – está 
sempre em expansão, em certos momentos 
uma expansão em ritmo mais lento, em outros 
uma expansão em ritmo mais acelerado. O 
arado e a charrua constituem aperfeiçoamentos 
nos instrumentos de produção, as técnicas 
de cultivo se desenvolvem e se tornam mais 
para novas apropriações humanas através 
antes intransponíveis, e a força de trabalho se 
humana (BARROS, 2010, p.1-2).
Tempos mais tarde, “com a melhoria da agricultura, 
produz-se um excedente e, mais bem alimentada, ocorre 
uma melhoria na qualidade de vida” dessa população. 
Consequentemente, “abrem-se mesmo espaços para que 
nem todos precisem se dedicar a uma agricultura fechada”. 
A partir desse momento, “muitos dos camponeses que 
eram encarregados de fazer tarefas relacionadas ao pequeno 
comércio local tornam-se comerciantes, engajam-se em 
empresas de longa distância, autonomizam-se em novas 
funções”. Além desses, outros se tornam artesãos, os quais 
comercializavam instrumentos domésticos de toda espécie. 
Quanto àqueles que permaneceriam ligados às atividades 
camponesas, esse novo cenário já revelava certa inquietação 
quanto às “condições de vida e as amarras sociais que lhes são 
impostas”, fazendo desgastar, progressivamente o sistema de 
servidão (BARROS, 2010, p.1-2).
 Do ponto de vista social, a Idade Média sustentou 
uma sociedade dividida, basicamente, em três estamentos: 
a nobreza, o clero e os servos. O primeiro ocupava-se das 
guerras e da segurança dos feudos. O segundo desempenhava 
“funções relacionadas à vida religiosa, fundamental para o 
homem medieval e mesmo para a manutenção do sistema”, 
aspectos da vida social cotidiana. O terceiro era a “base 
produtiva”, constituído por “servos que produziam o 
sustento alimentar de toda a sociedade. Assim, no esquema 
célebre divisão em ‘bellatore, oratore e laboratore’”, ou seja, uma 
sociedade dividida entre os que combatem, os que rezam e os 
que trabalham, respectivamente. Em síntese, “este esquema 
mental faz parte da ideologia” que sustentava e legitimava 
todas as divisões sociais relativas à sociedade medieval 
(BARROS, 2010, p.2-3).
Em linhas gerais, o esgotamento do sistema ou modo de 
produção feudal está associado à produção. Mais precisamente, 
“no momento em que as ‘forças de produção’ expandidas 
permitem que se produza um excedente, na chamada ‘fase 
a contradição fundamental do mundo feudal: uma produção 
maior do que o consumo”. A partir disso, essa “antiga 
vista que o trânsito entre ordens era bastante raro e, mesmo 
no clero, indivíduos oriundos do mundo servil integravam-se 
ao chamado baixo clero, “passa a não mais condizer com um 
mundo em expansão”. Com isso, mostrando-se “resistente 
às forças que se articulam a esta expansão”, a organização 
social feudal “terá de dar lugar à outra, que predisporá ao 
surgimento, no período moderno, de um mundo que se 
organizará em torno do mercado, em uma primeira fase do 
que seria mais tarde um novo modo de produção: o ‘modo de 
produção capitalista” (BARROS, 2010, p.3).
3 - O Modo de Produção Capitalista
Figura 1.5 – Disponível em: https://www.history.com/topics/industrial-revolution. 
Acesso em: 24/01/2019.
Em relação ao modo de produção capitalista, pode-se 
nascido do esfacelamento e da insustentabilidade do modo de 
produção feudal frente a um mundo em expansão, sobretudo 
nas questões comerciais, tem sido um dos temais mais 
estudados dentre os mais variados campos de saber. Por isso 
mesmo, tem levantado inúmeras discussões e controvérsias 
220
11
voltadas, especialmente, para as distinções entre capital e 
da distribuição da riqueza é importante demais para ser 
deixada apenas para economistas, sociólogos, historiadores e 
torno desse tema encontra-se nas contradições levantadas por 
dois importantes nomes da história do pensamento econômico: 
David Ricardo e Karl Marx, os quais compartilhavam, 
apesar de suas divergências, “uma visão um tanto sombria, 
apocalítica até, da evolução da distribuição da riqueza e da 
Vale registrar que, enquanto o primeiro vivia uma realidade 
social em que ainda se discutia a elevação dos preços da terra e 
a possibilidade da agricultura, naquele contexto, efetivamente 
alimentar uma população que crescia em ritmo vertiginoso,o 
segundo, distante de Ricardo em meio século, já se debruçava 
sobre “a dinâmica de um capitalismo industrial a pleno vapor” 
A título de análise, consideremos que, além das trocas 
de mercadoria e circulação de moedas, o ponto mais crítico 
desse sistema encontra-se nas distinções entre as vantagens 
econômicas e sociais dos proprietários dos meios de produção 
(donos de terras ou de fábricas, basicamente) e aqueles que 
não possuem outra coisa para se inserir no sistema que sua 
força de trabalho. Na terminologia materialista, os primeiros 
são denominados burgueses, constituintes, portanto, da 
burguesia, enquanto os demais constituem o proletariado. Nessa 
perspectiva ideal (e isso é importante dizer porque ela não 
existe em estado puro em nenhum lugar do mundo ou foi 
registrada assim em qualquer período histórico), o mundo 
encontra-se dividido entre burgueses e proletários, em estado 
é o mesmo: enquanto o burguês busca o lucro, o proletário 
objetiva maiores salários, constituindo, assim, um mecanismo 
antagônico, a priori, inversamente proporcional. Dito de uma 
forma mais simples, maiores salários implicariam em menores 
lucros. Portanto, nessa perspectiva de análise, será sempre 
impossível conciliar os interesses desses dois grupos. Em 
resumo:
O capitalismo é um modo de produção 
fundado na divisão da sociedade em duas 
classes essenciais: a dos proprietários dos 
meios de produção (terra, matérias-primas, 
máquinas e instrumentos de trabalho) - sejam 
eles indivíduos ou sociedades - que compram 
a força de trabalho para fazer funcionar as 
suas empresas; a dos proletários, que são 
obrigados a vender a sua força de trabalho, 
porque eles não têm acesso direto aos meios 
de produção ou de subsistência, nem o capital 
que lhes permita trabalhar por sua própria 
conta (MANDEL, 1981).
Vale lembrar que, nas experiências reais do capitalismo, 
apresentam-se variados grupos sociais relevantes, o que 
também chamamos de classes. “Nos países capitalistas 
industrializados, encontra-se a classe dos proprietários 
individuais de meios de produção e troca, que não exploram 
ou quase, mão de obra: pequenos artesãos, pequenos 
camponeses, pequenos comerciantes”. Além disso, em vários 
países em desenvolvimento capitalista tardio, ou seja, nos 
países e regiões em que as relações capitalistas ainda não se 
encontram tão bem estruturadas se comparadas às grandes 
potências capitalistas atuais, “encontramos muitas vezes ainda 
proprietários fundiários semifeudais, cujos rendimentos não 
provêm da compra da força de trabalho, mas de formas mais 
primitivas de apropriação do sobre-trabalho (sic.), como 
a corveia ou a renda em espécie”, mecanismos tipicamente 
medievais. Nesses casos, trata-se de “classes que representam 
resquícios das sociedades pré-capitalistas, e não classes típicas 
do próprio capitalismo” (MANDEL, 1981).
Nesse momento dos nossos estudos, interessa saber, 
assim como nos apresenta Ernest Mandel, que o “capitalismo 
não pode sobreviver e desenvolver-se senão quando estão 
reunidas as duas características fundamentais”. A primeira, 
corresponde ao monopólio dos meios de produção “em 
proveito de uma classe de proprietários privados”. A segunda, 
consiste na “existência de uma classe separada dos meios de 
subsistência e de recursos que lhe permitam viver de outro 
modo que não pela venda da sua força de trabalho”. Uma, por 
ser proprietária dos meios de produção, extrai das atividades 
ligadas a ele o lucro. A outra, por possuir apenas sua força 
muscular ou intelectual para oferecer dentro do sistema, 
alcança sua subsistência, na forma de salário, em razão da 
venda de sua força de trabalho.
Um dos principais problemas do modo de produção 
capitalista é sua tendência em diminuir, ao longo do 
tempo, o número de indivíduos proprietários dos meios de 
de proletários. Ou seja, há uma tendência natural do capital 
em se concentrar. É fácil perceber pelos estudos estatísticos, 
por exemplo, que “em todos os países capitalistas”, mesmo 
nos mais desenvolvidos, “a parte da população ativa obrigada 
a vender a sua força de trabalho não para de aumentar; a parte 
desta população ativa que constituem os “independentes” e 
suas “ajudas familiares” não cessa de diminuir”. De tal sorte, 
“a repartição da fortuna privada faz surgir uma enorme 
concentração: a metade ou mais da fortuna mobiliária é 
geralmente detida por 1, 2, 3% das famílias, ou ainda por uma 
fracção mais reduzida da população” (MANDEL, 1981). 
Concentração bancária cresceu no Brasil, diz Banco Central
Cinco grandes bancos concentram 82% dos ativos brasileiros, maior 
índice para todos os países incluídos na pesquisa, à exceção da 
Holanda
que indicam que, em 2016, os cinco maiores bancos do País – Caixa, 
Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander – controlavam 
221
História Econômica Geral 12
“O Brasil apresentou aumento do nível de concentração no período, 
Suécia”, disse o BC no relatório, com base em dados do Banco de 
deste ano, por exemplo, o spread das operações de crédito com 
últimos anos, houve melhora no nível de competição entre os bancos”, 
Ver matéria completa em: CASTRO, Fabrício de. Concentração bancária 
cresceu no Brasil, diz Banco Central. O Estado de São Paulo. Matéria 
publicada em 12/07/2018. Acesso em 28/01/2019. Disponível em: https://
economia.estadao.com.br/noticias/geral,concentracao-bancaria-cresceu-no-
Além das implicações econômicas do sistema, algumas 
das quais sinalizei até aqui, há uma série de implicações 
sociais importantes, as quais serão analisadas mais à frente. 
Na sequência, veremos um sistema de pensamento que 
se ofereceu, simultaneamente, como uma crítica e uma 
alternativa frente ao modo de produção capitalista: o modo 
de produção socialista. 
4 - O Modo de Produção Socialista
Figura 1.6 – Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/acervo/
blog/2017/03/08/8-de-marco-de-1917-no-dia-de-luta-da-mulher-trabalhadora-
tem-inicio-a-revolucao-de-fevereiro/#.XE-eq1VKjIU. Acesso em 28/01/2019.
 
Um dos grandes pilares do pensamento socialista foi 
Karl Marx, responsável por páginas e páginas a respeito dos 
problemas econômicos e sociais provenientes do capitalismo. 
Marx notava que, mesmo com os inúmeros avanços de 
produtividade e geração de lucros, percebidos durante a 
Revolução Industrial, especialmente na Inglaterra do século 
XIX, a população trabalhadora, o proletariado, continuava 
miserável. Marx atentava para o fato de que os avanços reais 
do capitalismo não eram efetivamente sensíveis à classe 
trabalhadora. Enquanto o capital continuava a crescer e a 
aumentar as grandes fortunas, os trabalhadores das fábricas 
inglesas continuavam se amontoando em subúrbios insalubres, 
sem quaisquer garantias sociais, submetidos, cotidianamente, 
a exaustivas jornadas de trabalho e recebendo por isso uma 
Marx, em mecanismos evidentes da exploração do capital sobre o 
trabalho. Nesse sentido, a crítica socialista nascia para marcar 
as fragilidades e incongruências do capitalismo industrial, 
praticadas no chamado liberalismo econômico. 
O socialismo (noção que já existia na época de Marx) 
pretendia, em linhas gerais, a efetivação de estruturas sociais 
que caminhassem na direção da diminuição do poder e dos 
privilégios econômicos do capital, fazendo ruir as distancias 
entre a burguesia e o proletariado. Alguns acreditavam, 
inclusive, que, percebendo as injustiças entre o capital e o 
trabalho, a própria burguesia abdicaria de sua posição social 
em nome do bem social. A isso se deu o nome de socialismo 
utópico
que o próprio capital encontra mecanismos para manter seu 
poder e garantir para si os lucros provenientes das atividades 
comerciais. Com Karl Marx, no entanto, institui-se a ideia de 
um colapso capitalista, a partir do qual o controle dos meios 
de produção passaria das mãos da burguesia para as mãos 
do proletariado, basicamente. Nasce daí a noção de socialismo 
 e se consolida a perspectiva materialista da história, na 
qualas sociedades são analisadas em função do seu modelo 
todas as demais experiências e relações sociais. Em resumo:
A sociedade, segundo o Socialismo Marxista, é 
descrita da seguinte forma. A história humana 
é observada ressaltando os aspectos materiais, 
ou seja, dando importância fundamental para 
as relações econômicas que a permeiam. 
Para Marx, essa base econômica seria a 
determinante dos aspectos políticos, culturais 
valor atribuído às questões econômicas, a 
sociedade é marcada por uma dialética que 
opõe dois grupos, a burguesia e o proletariado. 
Entendendo que o primeiro refere-se aos 
detentores do meio de produção e o segundo, 
sem tais posses, vendem seu trabalho, fazendo 
a engrenagem do sistema capitalista funcionar. 
No entanto, a burguesia explora o máximo 
possível da mão-de-obra para obter seus 
lucros, é a chamada mais-valia. O trabalhador 
gera produtos de alto valor agregado, porém 
o salário é reduzido e muitas vezes ainda é 
consumidor do que produz. É dessa situação 
de exploração capitalista promovida pela 
burguesia sobre o proletariado que nasce a 
chamada luta de classes, segundo Karl Marx. 
Para o Socialismo Marxista, a tensão existente 
na mais-valia promoveria uma união da classe 
proletária que, em busca de uma sociedade 
222
13
mais igualitária, tomaria posse dos meios de 
produção e os passaria ao controle do Estado, 
encarregado de representar a coletividade. 
Seria o contexto de uma Revolução Socialista. 
Com o tempo, o próprio Estado não seria 
mais necessário, levando-se em consideração 
que não haveria mais dominação de uma 
classe sobre outra, resultando no que é, para 
Karl Marx, a etapa mais desenvolvida das 
relações humanas, uma sociedade comunista 
(GASPARETTO JR. Disponível em: https://
www.infoescola.com/politica/socialismo-
 
 Do ponto de vista histórico, entretanto, é importante 
reconhecer que, apesar de experiências políticas que 
reivindicaram ser um modelo socialista de inspiração marxista 
(China com Mao Tsé Tung, Cuba com Fidel Castro, e, claro, 
a União Soviética com Lênin e Stalin, para citar os casos mais 
emblemáticos), o socialismo de Marx e Engels, seu principal 
interlocutor, nunca foi posto em prática, efetivamente. 
Em linhas gerais, o que se viu foi a ascensão de governos 
totalitários, incapazes de implantar uma efetiva popularização 
dos meios de produção, aspecto fundamental do pensamento 
marxista. Apesar disso, há uma quantidade enorme de 
pessoas, tanto na esquerda quanto na direita política, que 
tomam os textos clássicos de Marx para além daquilo que eles 
realmente são: documentos históricos. É preciso entender 
que todos eles foram decorrentes de seu contexto, das agruras 
de sua época. O fato de terem se tornado textos clássicos em 
que suas ideias tenham espaço nos contextos históricos que 
viriam depois delas, como bem mostraram os regimes que 
pretenderam colocá-las em prática. Marx e Engels viveram 
num mundo do século XIX. Nesse sentido, é um erro crasso, 
do meu ponto de vista, tomar seus textos como se fossem 
“manuais” para se praticar em nossa época. Eles podem ser 
se for o caso, uma inspiração intelectual para o pensamento 
da esquerda, ou o fundamento da crítica da direita, mas, nunca 
uma regra nem, tampouco, sugerir um determinismo histórico 
como imaginam alguns. 
Retomando a aula
a construir, de maneira segura, nossos posicionamentos teóricos e 
1 - O Modo de Produção Escravista
Aqui, vimos que o surgimento da noção de propriedade 
privada estabeleceu o modo de produção escravista, 
rompendo, gradativamente, com as noções do modo de 
produção primitivo, comunal. Trata-se do modelo produtivo 
a romana, a grega e a egípcia.
2 – O Modo de Produção Feudal
Entendemos que o modo de produção feudal, 
característico da Idade Média, originou-se do modo de 
produção escravista e do modo de produção germânico. 
Ele estabeleceu, fundamentalmente, a ideia de servidão que, 
apesar de não suprimir a liberdade individual, estabeleceu 
princípios de submissão importantes para a organização das 
sociedades medievais.
3 – O Modo de Produção Capitalista
Na terceira parte da nossa aula, vimos que o modo de 
produção capitalista está associado ao esfacelamento do 
modelo de produção servir, e com o aumento da produção 
e comercialização de produtos. É o sistema que entende a 
sociedade a partir de relações de exploração econômica e, 
fundamentalmente, estabelece o “mundo econômico” como 
sendo dividido entre burguesia a proletariado. 
4 – O Modo de Produção Socialista
Tal como vimos, o modo de produção socialista estava 
previsto na teoria marxista, mas, efetivamente, nunca existiu. 
Trata-se de um sistema de pensamento que, basicamente, 
pretende estabelecer uma sociedade em que as distâncias 
sociais e econômicas entre burgueses e proletários seja 
o modelo capitalista seria insustentável em longo prazo dada 
sua condição natural de concentração, na qual se entende que, 
progressivamente, há aumento o número de proletários e, 
consequentemente, uma diminuição do número de burgueses. 
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. 
São Paulo: Brasiliense, 2004.
ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao 
Feudalismo. São Paulo: UNESP, 2016.
Vale a pena ler
Vale a pena
Minhas anotações
223
2ºAula
As economias pré-capitalistas:
 escravidão e feudalismo
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
identificar aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos do mundo antigo e medieval;
traçar paralelos entre esses dois modelos de economias pré-capitalistas, ressaltando rupturas e permanências entre 
eles. 
Figura 2.1 – Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Boulanger-gustave-clarence-
rudolphe-french-1824-1888-the-slave-market.png. Acesso em: 29/01/2019.
 
Conforme estudamos, há dois importantes modos de produção que 
antecedem o modo de produção capitalista: a escravidão antiga e o feudalismo, 
considerados, portanto, economias pré-capitalistas. Nesses dois casos, as 
relações fundamentais do capitalismo, como trabalho livre e assalariado, 
não existem. Ao menos, não como relações hegemônicas, o que ocorrerá 
apenas a partir do século XVIII, com a Revolução Industrial inglesa.
Nesta aula, estudaremos mais a fundo as bases desses dois modelos 
produtivos que organizaram as relações sociais do mundo antigo (Grécia e 
Roma, basicamente) e o medievo da Europa central (especialmente França 
e Inglaterra), a partir da dissolução do Império Romano do Ocidente. 
Bons estudos!
225
História Econômica Geral 16
1 – O modo de produção escravista e o mundo helênico
2 – As invasões germânicas
3 – O surgimento do modo de produção feudal 
1 - O modo de produção escravista e 
o mundo helênico
 
Figura 2.2 – Disponível em: https://www.infoescola.com/historia/grecia-antiga/. 
Acesso em 30/01/2019. 
 
Em grande parte das vezes, a imagem que temos do 
mundo antigo (e, quando digo isso estou me referindo, 
essencialmente, a Grécia e Roma) é, fundamentalmente, 
“a antiguidade greco-romana sempre constituiu um universo 
centrado nas cidades”, daí as famosas cidades-estados gregas, 
denominadas polis, e suas praças públicas, locais de tomada 
de decisão política, conhecidos como ágoras. Não sem razão: 
“o esplendor e a audácia das primeiras cidades helênicas e, 
depois, da República Romana, as quais deslumbraram tantas 
épocas subsequentes, traduziram o apogeu de cultura e 
organização urbana que não viria a ser ultrapassado por mais 
de um milênio”. Lembremos que em várias dessas cidades, 
âmbitos culturais, nas ciências, na arquitetura, na política, na 
administração pública, no recrutamento militar, entre tantos 
outros aspectos. Acontece que, “por trás dessa organização 
política e dessa cultura urbana não havia uma economia 
urbana equiparável”. Isso quer dizer que, mesmo existindo 
populações hegemonicamente urbanas, a fonte da riqueza 
não decorria de relações produtivas localizadas nas cidades 
(ANDERSON, 2016, p. 22). 
Conforme nos mostrao historiador Perry Anderson, 
“a riqueza material que sustentava essa vitalidade cívica 
e intelectual provinha esmagadoramente do campo” e, 
simultaneamente, das transações comerciais praticadas 
no mar Mediterrâneo e no mar Negro. Isso revela que “o 
mundo clássico era maciça e inalteravelmente rural em suas 
proporções quantitativas básicas” e, consequentemente, 
“as cidades greco-romanas [...] foram, desde a origem, [...] 
Seções de estudo
aglomerados urbanos de donos de terras”. Aliás, “todas as 
organizações municipais, desde a democrática Atenas até a 
oligárquica Esparta ou a Roma senatorial, eram, em essência, 
dominadas por proprietários agrários”. Sua produção estava 
concentrada, basicamente, no cultivo de cereais, azeite e vinho, 
“os três alimentos básicos do mundo antigo, produzidos em 
das cidades” (ANDERSON, 2016, p. 22). 
A economia urbana, por sua vez, incidia em pequenas 
variedade dos produtos urbanos normais nunca se estendeu 
para muito além de têxteis, cerâmicas, móveis e utensílios de 
vidro”, sendo que toda essa produção decorria de técnicas 
limitada quanto pelos custos exorbitantes dos transportes para 
longas distâncias. A força econômica das atividades agrícolas 
impostos gerados nas cidades, como registrado no collatio 
lustralis de Constantino, datado do século IV, “nunca somou 
mais que 5% do imposto sobre a terra” (ANDERSON, 2016, 
p. 23).
Ao lado da economia agrícola, havia um importante 
comércio de médias e longas distâncias, estabelecido ao 
longo do mar Mediterrâneo, o que era facilitado pelo fato 
de que ele é “o único grande mar cercado por terra em toda 
a circunferência do planeta: só ele oferecia a velocidade do 
transporte marítimo, com proteção terrestre contra ondas e 
(ANDERSON, 2016, p. 24). De tal modo: 
A antiguidade greco-romana foi 
quintessencialmente mediterrânea em suas 
estruturas mais profundas. Pois o comércio 
interlocal que a ligava só podia se dar por 
água: o transporte marítimo era o único 
meio viável para trocas de mercadorias a 
médias e longas distâncias. Pode-se avaliar a 
colossal importância do mar para o comércio 
a partir do simples fat6o de que, na época de 
Diocleciano, era mais barato embarcar trigo 
da Síria para a Espanha – de uma ponta a 
outra do Mediterrâneo – do que transportá-lo 
por 120 quilômetros em vias terrestres. Assim, 
não foi por acaso que a zona do Mar Egeu – 
um labirinto de ilhas, portos e promontórios 
– veio a ser o primeiro lar da cidade-estado; 
que Atenas, seu maior exemplo, fundou suas 
fortunas comerciais no transporte marítimo; 
que, quando a colonização grega se espalhou 
para o Oriente Próximo durante o período 
helenístico, o porto de Alexandria se tornou 
a maior cidade do Egito, primeira capital 
marítima de sua história; e que, por sua vez, 
Roma, situada ás margens do Tibre, virou uma 
metrópole costeira (ANDERSON, 2016, p. 
23-24). 
 
Por essa razão, podemos considerar que a “água era 
um meio de comunicação e de comércio insubstituível que 
possibilitou um crescimento urbano de concentração e 
226
17
trás”. Daí considerarmos que “o Mediterrâneo proporcionou 
(ANDERSON, 2016, p. 24). 
Para sustentar essa economia centrada nas atividades 
agrícolas e no comércio mediterrâneo, o trabalho escravo, já 
conhecido dos antigos, especialmente pelas suas experiências 
nas terras do Oriente Próximo, foi “a invenção decisiva do 
para suas realizações quanto para o seu eclipse”. Segundo 
Anderson, “é preciso salientar a originalidade desse modo 
de produção”, pois, “a escravidão já tinha existido sob várias 
formas ao longo da Antiguidade [...], mas sempre fora uma 
condição juridicamente impura – tomando, com frequência, 
a forma de servidão por dívidas ou de trabalho penal – entre 
outros tipos mistos de servidão”. Exatamente por isso, “a 
escravidão nunca fora o tipo predominante de apropriação 
do excedente” nas monarquias que precederam o mundo 
helênico, constituindo-se num “fenômeno residual que existia 
às margens da força de trabalho rural”. Lembremos que, 
mesmo nos grandes impérios de agricultura irrigada, como 
o Assírio, Sumério e o Babilônico, nunca foram economias 
predominantemente escravistas, “e seus sistemas jurídicos 
não apresentavam nenhuma concepção nitidamente separada 
de bens móveis”. Por isso mesmo, entende-se que “as cidades-
estados gregas foram as primeiras a tornar a es-cravidão 
absoluta na forma e dominante na extensão, transformando o 
que antes era um recurso auxiliar em um modo de produção 
sistêmico” (ANDERSON, 2016, p. 25). 
Um dos primeiros sistemas de organização social grego 
foi o oikos, citado por Homero, origem da palavra portuguesa 
economia. Oikos
muito mais abrangente: ele era, simultaneamente, a unidade 
de produção e consumo básicos do mundo grego antigo, 
reunindo a família do chefe, normalmente um guerreiro, seus 
servos e escravos, além dos próprios meios de produção (terra, 
ferramentas agrícolas, gado e armas). No oikos, o trabalho 
braçal era imposto aos escravos, normalmente conseguidos 
por meio de invasões a comunidades espalhadas ao longo da 
costa do Mediterrâneo, donde subjugavam, principalmente, 
mulheres e crianças. Às escravas eram atribuídas tarefas como 
a tecelagem, a moagem dos grãos e os cuidados domésticos. 
Aos escravos eram destinadas as atividades de pastoreio e 
agrícolas em geral, bem como a construção de embarcações, 
importantes num mundo em que o mar Mediterrâneo 
ocupava uma posição economicamente relevante (VAINFAS, 
2010, p.56).
 
Figura 2.3 – Disponível em: https://www.comunidadeculturaearte.com/os-mitos-
e-ditos-heroicos-de-homero/. Acesso em: 30/01/2019.
Ainda que a história brasileira tenha experimentado um 
regime de escravidão em que o escravo era tratado como uma 
mercadoria às vezes desprezível, o que também aconteceu 
no mundo antigo, no geral, os escravos gregos eram bem 
tratados, sobretudo se realizassem bem suas tarefas e fossem 
leais ao seu chefe, chegando, às vezes, a terem melhores 
condições de vida que muitos homens livres pobres, pois, na 
hierarquia social, mas, sim, o seu lugar no oikos. Além disso, é 
importante ressaltar que o chefe do oikos, portanto, reunia para 
si poderes políticos e econômicos, formando, entre eles, o que 
o governo dos melhores, dos mais preparados (VAINFAS, 
2010, p.56). 
Normalmente, a estabilidade das polis era abalada por 
em várias regiões, dado as características naturais da região, 
constituída, fundamentalmente, de solo rochoso. Com isso, 
boa parte da população livre costumava pegar empréstimos 
junto aos grandes proprietários de terras, normalmente 
detentores das melhores áreas para o cultivo e possuidores 
de um número muito maior de escravos, condicionando o 
pagamento da dívida a colheitas futuras. Entretanto, era muito 
comum que alguns pequenos proprietários não conseguissem 
liquidar suas dívidas, acabando por se tornarem escravos, 
podendo ser vendidos, ou mesmo tendo que trabalhar 
gratuitamente para o seu credor por um tempo determinado. 
Esse “círculo vicioso” favoreceu em grande medida a força 
política e econômica dos grandes proprietários de terras, tendo 
em vista que ele permitia a eles se liberarem das atividades 
de subsistência, podendo se dedicar às atividades políticas da 
ágora (VAINFAS, 2010, p.58). 
Entretanto, com a expansão comercial dos gregos ao 
longo da costa do mediterrâneo, por volta do século VIII e 
VII a.C., essa população mais pobre de homens livres pode 
coloni-zar outras áreas, expandindo não só as possibilidades 
do comércio grego como, também, levando sua cultura para 
outras regiões, tirando a Grécia de um longo período de 
Houve dois tipos de colônias, um de caráter 
agrário e outro de caráter co-mercial. No 
primeiro tipo, os colonos, liderados por um 
deixavam suas cidades de origem, sobretudo 
em direção ao sul da península itálica e à 
Sicília. Nesta região, conhecida desde então 
como Magna Grécia, os colonos fundaram 
novas cidades-estados e reproduziram os 
hábitos, a religião e o modode vida da terra 
natal. Em alguns casos, para suprir a falta de 
mão de obra, subjugaram a população nativa, 
mas sem escraviza-la. Essa população vivia 
sob um regime de servidão. No segundo 
tipo, a colônia era um entreposto comercial, 
situado em uma região que pudesse fornecer 
mercadorias indispensáveis para os gregos, 
como a de Naucratis, no delta do rio Nilo 
(VAINFAS, 2010, p. 58). 
227
História Econômica Geral 18
 
Figura 2.4 – Disponível em: https://www.pinterest.ch/pin/732397958126514935/. 
Acesso em 30/01/2019.
 
O modelo de colonização praticado pelos gregos, além do 
próprio comércio de cereais, vinho, azeite e cerâmicas, não foi 
justa das terras. No caso de Atenas, por exemplo, coube a 
Sólon executar uma série de reformas administrativas que 
versavam a esse respeito, por volta do ano 594 a.C. Dentre 
suas reformas, Sólon “proibiu a escravidão por dívidas e 
anulou as dívidas existentes, facilitando o retorno daqueles 
que haviam sido vendidos como escravos (VAINFAS, 2010, 
p. 59). 
Como se pode deduzir, “o mundo helênico jamais se 
baseou exclusivamente no trabalho escravo. Camponeses 
livres, arrendatários dependentes e artesãos urbanos 
coexistiram com os escravos, em várias combinações, nas 
diferentes cidades-estados da Grécia”. Mas, é importante 
perceber que “o modo de produção dominante [...], aquele 
que governa a comple-xa articulação de cada economia local 
e que deixou sua marca em toda a civilização da cida-de-
estado, foi o da escravidão” (ANDERSON, 2016, p. 25-26). 
Portanto, nosso quadro geral do mundo antigo greco-romano 
revela que “a civilização da antiguidade clássica representou 
a anômala supremacia da cidade sobre o campo dentro de 
uma economia esmagadoramente rural”, a qual será a antítese 
do modo de produção feudal que a sucederia séculos depois. 
Isso porque, “a existência de trabalho escravo no interior [...] 
pôde libertar tão radicalmente a classe dos donos de terras 
de suas raízes rurais, a ponto de transformá-los em cidadãos 
essencialmente urbanos, que, ainda assim, tiravam do solo sua 
riqueza fundamental”. Como veremos mais adiante, “a herdade 
escravista, ao contrário da propriedade feudal, permitia uma 
disjunção permanente entre residência e renda: o excedente 
que proporcionava fortunas para a classe proprietária podia 
ser extraído sem sua presença na terá” (ANDERSON, 2016, 
p. 28).
2 - As invasões germânicas
Entre os séculos 100 a.C. e 44 a.C., o Império Romano 
sofreu uma série de invasões de povos que viviam nas terras 
da Escandinávia e da Alemanha, denominados “bárbaros”, ou 
seja, aqueles que não falavam a língua latina nem, tampouco, 
partilhavam da cultura greco-romana. Na verdade, tratavam-
se dos povos germânicos, constituídos por comunidades agrícolas 
e pastoris que se deslocaram em direção às terras sob domínio 
do Império no intuito de encontrar novas terras cultiváveis 
dadas as alterações climáticas que alteraram profundamente 
seu modo de vida. Algumas das comunidades mais conhecidas 
eram a dos godos, visigodos, ostrogodos, normandos, suevos, vândalos, 
bávaros, francos, lombardos e dos danos ou rus, dos quais alguns 
indivíduos estiveram ligados à pirataria e ao saque, como os 
vikings, termo surgido no século XIX. 
 
Figura 2.5 – Disponível em: https://www.todamateria.com.br/povos-germanicos/. 
Acesso em 30/01/2019.
Acontece que, muitas vezes, temos a ideia de que essas 
“invasões” se resumiam a batalhas sangrentas. A verdade 
é que, em vários momentos, elas foram amistosas e muito 
mais ricas culturalmente que aquilo que é representado em 
primeiras relações comerciais entre germânicos e romanos 
foi a troca de madeira, trigo e peles por produtos romanos, 
especialmente vinho, metais preciosos e tecidos. Algumas 
dessas comunidades invasoras viveram em relativa harmonia 
com o Império Romano, chegando até a receber dinheiro por 
serviços prestados. O próprio Império, quando, no século 
II houve uma escassez de escravos, Roma passou a arrendar 
pequenos lotes para colonos germânicos, especialmente na 
região entre os rios Reno e Danúbio (VAINFAS, 2010, p. 
101). Entretanto, o que mais nos interessa aqui é que, com o 
Idade Média, no século V, várias regiões da Europa perderam 
a proteção e os mecanismos politicamente centralizadores 
simultaneamente, acabou enfraquecendo a vida urbana, com 
as cidades passando a ser ambientes desprotegidos e muito 
violentos, deslocando as pessoas para o campo, nos feudos, 
emergindo daí o feudalismo ou modo de produção feudal, 
numa transição da Antiguidade para a Idade Média. 
É importante lembrar que as duas porções do Império 
Romano, Oriente e Ocidente eram cultural e economicamente 
muito diferentes, apesar de comporem, a priori, uma unidade 
política. O Oriente era desenvolvido socialmente, avançado 
economicamente, dotado de ricas e numerosas cidades, 
enquanto o Ocidente era atrasado, composto por uma 
população mais esparsa, uma aristocracia pomposa e um 
228
19
campesinato oprimido. Então, é importante citar que, “a 
excluindo das análises a metade oriental”. Assim, aquilo que 
entendemos como a “gênese do feudalismo na Europa deriva 
de produção distintos”: de um lado, elementos oriundos do 
modo de produção escravista; de outro, o modo de produção 
dos invasores germânicos (ANDERSON, 2016, p. 18-19). 
Então, vejamos.
Em linhas gerais, as tribos germânicas, tal como fora 
registrado nos tempos de César, eram, fundamentalmente, 
“agricultores assentados, com uma economia 
predominantemente pastoril”, prevalecendo entre eles “um 
modo de produção comunal”. De tal modo:
A propriedade privada da terra era 
desconhecida: todos os anos, os líderes da 
tribo determinavam que parte do solo comum 
deveria ser cultivada e atribuíam porções de 
terras a cada clã, que delas se apropriavam 
em um trabalho coletivo; as redistribuições 
periódicas preveniam grandes disparidades de 
riqueza entre as famílias e os clãs, embora os 
rebanhos fossem privados, proporcionando 
riqueza aos guerreiros que lideravam as tribos. 
Em tempos de paz, não havia chefes militares 
excepcionais eram eleitos só em tempos de 
guerra (ANDERSON, 2016, p. 119).
 
Tempos depois, houve alterações nesse modelo, 
passando o líder a dividir as terras cultiváveis diretamente 
entre indivíduos, não mais aos clãs. Consequentemente, “o 
cultivo ainda se deslocava muitas vezes, por entre terrenos 
guerras sazonais e permitia frequentes migrações em larga 
escala” (ANDERSON, 2016, p. 120). Além disso, com as 
invasões dos hunos, oriundos da Ásia, nas terras germânicas 
e romanas, houve uma aceleração do processo de simbiose 
entre os germânicos e os romanos. Basta observar, por 
exemplo, o maciço ingresso de soldados de origem germânica 
fronteira. De tal modo, “a longa simbiose entre formações 
sociais romanas e germânicas nas regiões fronteiriças fora, 
aos poucos, estreitando a lacuna entre os dois mundos, ainda 
que continuasse imensa nos aspectos mais importantes. De 
o feudalismo” (ANDERSON, 2016, p. 122). Em resumo, 
“as invasões dos povos germânicos no território romano 
foram, de um lado, ações militares de conquista e, de outro, 
famosas fronteiras romanas se tornaram uma verdadeira 
avenida por onde iam e vinham povos germânicos das mais 
variadas procedências” (VAINFAS, 2010, p. 104).
 
3 - O surgimento do modo de 
De acordo com Perry Anderson, “o modo de produção 
feudal que emergiu na Europa ocidental se caracterizava por 
uma unidade complexa”. Segundo ele, o feudalismo “foi um 
modo de produção dominado pela terra e por uma economia 
natural, em que nem o trabalho nem os produtos do trabalho 
eram mercadorias” (ANDERSON, 2016, p. 165). 
Figura 2.5 – Disponível em: https://medium.com/paiol/o-pensamento-
sociol%C3%B3gico-de-karl-marx-parte-ii-df89b0ba3fca. Acesso em 31/01/2019.
um espaço de sociabilidades, o qual tinha por fundamento, 
a ideia propagada pela Igreja Católica de que o mundo 
fortemente difundida. 
A síntese daquela religiosidade, combinada comvalores 
e resquícios das civilizações europeias é, para Le Goff 
“particularmente notado na Alta Idade Média ocidental. 
A novidade cultural mais evidente são as relações que - se 
estabelecem entre a herança pagã e o aporte cristão supondo 
- bem longe da verdade, como se sabe que um e outro 
formassem então um todo coerente” (LE GOFF, 2007, p. 
do pensamento cristão, continuaram sendo, para muitos as 
antigo sobreviveu à Idade Média “atomizado, deformado; 
humilhado pelo pensamento cristão. O cristianismo teve 
de apagar a memória de seu escravo prisioneiro e fazê-lo 
trabalhar, para si, esquecendo suas tradições” (LE GOFF, 
2007, p. 109). Nesse tempo, toda referência ao legado greco-
romano também foi considerada pagã. 
Considerado o ponto da forte religiosidade no mundo 
feudal, passemos para a sua estrutura. A instituição do colonato 
romano (sistema produtivo baseado na reciprocidade em que 
o colono, camponês, tem a permissão para usar as terras de 
um senhor, que é geralmente um guerreiro, o qual garante a 
sua proteção e da família e, em troca, produz para o senhor) 
no século IV, na decadência do Império Romano, serviu 
Média. Isso porque, a partir do colonato, a permanência de 
habitantes do espaço rural, no quadro das invasões germânicas, 
foi garantida através do vínculo entre o trabalho livre dentro 
de um domínio territorial, o feudo.
Por este acordo, os tributos que os camponeses pagavam 
a Roma antes do estabelecimento dos bárbaros, passariam 
a serem pagos aos senhores de terra, que eram guerreiros. 
Nos séculos da experiência germânica, especialmente V ao 
229
História Econômica Geral 20
IX, esse sistema teve em boa medida continuidade, dentro 
de ajustamentos, evidentemente. Após esse período, a 
modo de produção, o feudal. Pensando os vínculos entre 
resultado da fusão de elementos romanos e germânicos.
O termo “feudo”, no original, da própria Idade Média é 
feudum, e passou a entrar em uso na Europa, por volta do ano 
1000, no contexto das novas invasões de bárbaros, sobretudo 
os vikings que ameaçaram aquele mundo rural medieval. Essa 
temporalidade é a que nos apresenta uma Europa repleta 
que em alguma medida protegia aquele domínio de ataques 
semeada de castelos era, a um tempo, uma proteção e uma 
prisão para a população rural. Os camponeses [...] acabaram 
por ser lançados na servidão generalizada” (ANDERSON, 
1982, p. 156-157).
A sociedade do período medieval possuía um modo 
diferenciado de pensar a si própria. Esse modo se explicava a 
partir de uma elaboração tida como naturalizada e, portanto, 
aceita, baseada no esquema de três ordens, fundamentado em 
textos antigos dos quais os letrados do período (especialmente 
os clérigos, como vimos) tinham contato. Esse esquema 
estabelecia, de acordo com Jerôme Baschet (2009, p. 166), 
no seio da sociedade uma divisão funcional entre aqueles 
que oram, oratores (clérigos), aqueles que combatem, bellatores 
(guerreiros) e aqueles que trabalham, os laboratores, os servos e 
camponeses livres. 
Com efeito, diz-se que a sociedade das três ordens dividia 
de cada indivíduo partia de uma determinação, de uma 
ordem, divina (FRANCO JR. 1992, p. 73). “Os laboratores 
apresentavam um leque de condições conforme os locais e 
os momentos. Subsistiam camponeses livres, donos de uma 
terra que escapara aos vínculos feudais, o alódio. Se de um 
lado havia pressões que senhorializavam muitos alódios, de 
outro formavam-se novas pequenas propriedades em regiões 
que iam se abrindo à agricultura devido às necessidades 
caracterização problemáticas, que geraram muitas polêmicas 
Recebiam do senhor lotes de terra, os mansos, cujo cultivo 
dependia sua sobrevivência e o pagamento de determinadas 
taxas que deviam àquele senhor” (FRANCO JR. 1992, p. 75). 
Hilário Franco Jr., como se nota, buscava enfatizar o caráter 
coletivista da sociedade feudal.
O contrato feudo-vassálico tratava-se de uma expressão 
alguém que se tornava “moço” (vassalus) de um “ancião” 
(sênior) estabelecendo-se um pseudoparentesco entre pai 
relações de suserania e vassalagem, também havia respeito e 
outro lutando” (FRANCO JR. 1992, p. 76).
Mas, para Marc Bloch, a feudalidade foi mais desigual do 
que hierarquizada, mais de chefes do que de nobres, mais de 
servos, do que de escravos. Em relação à última categoria, o 
historiador compreende que “se a escravatura não tivesse nele 
desempenhado um papel tão fraco, as formas de dependência 
autenticamente feudais, na sua aplicação às classes inferiores, 
não teriam tido ocasião de existirem” (BLOCH, 1979, p. 
482). Para ele, naquela “desordem geral”, o lugar do aventureiro 
era muito importante, a memória dos homens, muito breve, a 
, mal garantida para permitir a 
estrita constituição de castas regulares. (idem)
Pensando a relação vassálica que se desenvolvia na 
sociedade feudal e é grandemente explorada no ensino de 
história da Idade Média, via guias didáticos, é substancial o 
vínculo humano característico foi o elo entre o subordinado 
e o chefe mais próximo. De escalão em escalão, os nós assim 
só parecia ser uma riqueza tão preciosa por permitir obter 
os senhores normandos, ao recusarem os presentes de joias, 
de armas, de cavalos, oferecidos pelo seu duque. E dizem 
uns para os outros: “assim, poderemos manter numerosos 
cavaleiros e o duque não” (BLOCH, 1979, p.483). A terra, era, 
portando, na sociedade feudal, a remuneração mais cobiçada. 
Bloch entende que “em lugar do salário, geralmente 
impassível, o largo uso da tenure-serviço, que, no seu 
sentido exato, é o feudo”. Este, por sua vez, representa 
a “supremacia duma classe de guerreiros especializados; 
vínculos de obediência e de proteção que uniam o homem 
e, nesta classe guerreira, revestem a forma particularmente 
pura da vassalagem; fraccionamento dos poderes, gerador da 
desordem” (BLOCH, 1979, p. 485). São esses, para o autor, 
os traços fundamentais das sociedades europeia.
Assim, dizemos que a terra, principal objeto da relação 
feudo-vassálica foi, na Idade Média, especialmente nos 
séculos X, XI e XII, uma riqueza distribuída no seio da 
aristocracia, que, na medida em que permitia um equilíbrio 
interno (proteção de novas invasões), também mantinha um 
domínio sob os trabalhadores.
O modo de produção feudal, para Anderson (1982) 
caracterizou-se por uma unidade complexa. O autor apresenta 
o sistema feudal com a arguição seguir:
Foi um modo de produção dominado pela 
terra e por uma economia natural, no qual 
nem o trabalho nem os produtos do trabalho 
eram mercadorias. O produtor imediato 
– o camponês – estava ligado aos meios de 
produção – o solo, por uma relação social 
glebae adscript - ou vinculados à terra, servos 
da gleba: os servos tinham uma mobilidade 
juridicamente limitada. Os camponeses que 
ocupavam e cultivavam a terra não eram os 
seus proprietários. A propriedade agrária 
era controlada em regime privado por uma 
classe de senhores feudais que extraía dos 
camponeses um excedente através de relações 
político-jurídicas de coerção. Esta coerção 
extra econômica, que assumia a forma de 
prestações de trabalho (corveias), rendas 
230
21
em espécie ou tributos consuetudinários 
entregues pelo camponês ao senhor individual, 
era exercida quer no domínio senhorial 
diretamente ligado à pessoa do suserano quer 
nas pequenas parcelas (strip tenancies, virgates) 
cultivadas pelo camponês. Deste sistema, 
resultou necessariamente uma amálgama 
jurídica de exploração econômica e autoridade 
política (ANDERSON, 1982, p. 163).
Bloch, por sua vez, pede que evitemos o uso da expressão 
“economia natural” empregada por Anderson. Para ele, 
soa demasiadamente vaga e sumária, e, portanto, prefere 
pensar na economia feudal como “economia de carência 
monetária” (BLOCH, 1979, p. 87). Abertamente crítico à 
análise substancialmente econômica daquela sociedade a 
qual Anderson faz, Bloch atenta para que “evitemos uma 
fórmula demasiado simples: a de economia fechada, pois ela 
nem às pequenas exploraçõesrurais se aplicaria exatamente”. 
Sabemos da existência de mercados onde os camponeses 
certamente vendiam alguns produtos dos seus campos ou das 
suas capoeiras: à gente da cidade, aos clérigos, aos homens de 
armas. Era assim que eles arranjavam os dinheiros dos foros” 
(BLOCH, 1979, p. 88). 
Nota-se que Bloch privilegia uma análise sociocultural 
mais engajada. Ele pretende abrir a concepção da servidão por 
e o que eles fazem além do trabalho, o modo como vivem 
e se expressam. “Quanto à «autarcia» dos grandes senhores 
ela faria supor que eles tivessem passado sem armas e sem 
joias, nunca bebessem vinho, se por acaso as suas terras não 
o produzissem, e se tivessem contentado com terem por 
vestuário os tecidos grosseiros tecidos pelas mulheres dos seus 
sociais e as intempéries contribuíam para alimentar um certo 
comércio interior, no qual as trocas existiam de modo irregular. 
A sociedade medieval à época do feudalismo conhecia, 
sem dúvidas, o comércio estruturado na compra/venda, 
como a sociedade contemporânea concebe as trocas 
comercias atualmente. A partir disso, podemos relativizar a 
noção de que a vida à época feudal era apenas rural e pautada, 
exclusivamente, numa economia ruralizada.
Cada feudo medieval era autônomo. A descentralização 
política e a centralização religiosa, acentuada desde o 
Império Carolíngio, atingiram o auge na sociedade feudal, 
particularmente nos séculos IX e X. Basicamente, a produção 
do feudo era agrária, mas, havia, em alguma medida, uma 
produção artesanal e também um comércio, o que prova 
historiadores os quais reservaram-se a considerar o período 
medieval como sombrio, atrasado.
Àquele comércio desenvolvido no medievo, Bloch 
(1979, p. 88) alude que “sob a forma de troca, não era o 
único, nem talvez o mais importante dos canais pelos quais 
se processava então a circulação dos bens, través das camadas 
sociais. Um grande número de produtos passava de mão em 
mão a título de foros, pagos a um chefe como remuneração 
pela sua proteção, ou como reconhecimento do seu poder. O 
mesmo acontecia com essa outra mercadoria, que é o trabalho 
humano: o trabalho gratuitamente fornecido ao senhor 
fornecia mais mão de obra’ do que o trabalho remunerado. 
Numa palavra, a troca, no sentido estrito, ocupava menos 
lugar na vida económica, sem dúvida, do que a prestação 
de serviços; e porque a troca era, assim, rara e por isso só 
os pobres deviam resignar-se a subsistir apenas à custa da 
sua própria produção, a riqueza e o bem-estar pareciam 
inseparáveis do comando”. 
Bloch lembra que, individualmente, os mercadores 
sempre desempenharam papel de relativa importância, 
entretanto, ressalta que, pensando no coletivo de mercadores 
tanto estes como os artesãos não adquiriram importância até 
o século XI, quando tal situação começa a mudar, haja vista, 
“a classe artesã e a classe dos mercadores, que se haviam tornado mais 
cada vez mais vigorosamente no contexto urbano. Por essa razão, 
Marc Bloch entende que a evolução da economia feudal 
estimulava uma revisão dos valores sociais. “Nascida numa 
sociedade de trama pouco apertada [a classe dos mercadores], 
em que as trocas pouco representavam e o dinheiro era raro, 
o feudalismo europeu alterou-se profundamente logo que as 
malhas da rede humana se apertaram e a circulação dos bens e 
do numerário se tornou mais intensa” (BLOCH, 1979, p. 93). 
Era um desenho da burguesia que se formava.
Anderson (1982, p. 221) esclarece que o fator mais 
profundo da crise do sistema feudal “reside no colapso dos 
mecanismos de reprodução do sistema num ponto limite das 
suas capacidades últimas”. Segundo o autor, “a recuperação 
das terras incultas levou o sistema feudal para além dos 
objetivos da estrutura do terreno e da sociedade”. Os solos 
facilmente deterioráveis devido a debilidade das técnicas 
de plantio do período contribuíram, em boa medida, para 
o colapso do sistema. Desse modo, concordamos com a 
seu próprio preço” (ANDERSON, 1982, p. 222). 
Além do fator acima mencionado, também vale incluir a 
análise de Villar (1988) acerca da crise. Para este historiador, as 
sociais, os tributos cobrados pelo Estado que competiam 
diretamente com os tributos locais, podem ser compreendidos 
como elementos que constituem a desagregação do regime 
feudal. 
Aqui, é de fundamental importância perceber a ação 
revolucionária da burguesia, na medida em que esse grupo 
em ascensão inicia um processo de sensíveis mudanças 
estruturais, tanto as políticas quanto as socioeconômicas (que 
poderão ser mais bem compreendidas quando estudarem-na 
no contexto dos Estados Nacionais) que resultam no prelúdio 
do capitalismo. 
Também podemos incluir como fatores de crise, as 
crescentes revoltas camponesas por toda a Europa feudal, 
causadas especialmente, pela crise agrícola e epidemias; o 
fortalecimento do poder real a partir da atividade burguesa, 
uma vez que os interesses dessa já não mais serviam aos 
mesmos interesses contidos nas relações feudo-vassálicas; 
como também o aparecimento dos burgos nos arredores 
dos locais em que se desenvolvia cada vez mais a atividade 
comercial.
231
História Econômica Geral 22
Retomando a aula
Finalizamos nossa aula sobre as chamadas 
as características da sociedade escravista grega, a 
degradação do Império Romano do Ocidente, a partir 
do “mundo medieval” e de seu modo de produção característico, o 
1 – O modo de produção escravista e o mundo 
helênico
Na seção 1, discutimos as bases do sistema produtivo 
escravista, tendo como referência a sociedade grega antiga. 
Vimos o papel social do escravo, bem como as categorias de 
pensamento a eles atribuídas.
2 – As invasões germânicas
Aqui, discutimos um pouco a respeito do Império 
Romano, as distinções culturais de suas duas porções, a 
oriental e a ocidental, compreendendo de que maneira as 
invasões germânicas foram primordiais para a ruína da sua 
parte ocidental. Decorrente daí, surgiria o mundo medieval e 
o modo de produção feudal que lhe é característico.
3 – O surgimento do modo de produção feudal 
Na seção 3, vimos que a propriedade agrária era 
controlada em regime privado por uma classe de senhores 
feudais. Conhecemos duas vertentes teóricas do estudo 
medieval: a de Anderson e a de Bloch, assim, descontruímos a 
ideia disseminada de que na Idade Média inexistiu o comércio, 
pois existia principalmente sob a forma de trocas. No que se 
refere à justiça feudal, percebemos o direito consuetudinário 
e o valor da palavra dada. Além disso, entendemos que a 
degradação do valor social do solo, bem como a ascensão da 
burguesia, foram fatores da desagregação do sistema feudal. 
BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 
1987.
As três ordens ou o imaginário do 
feudalismo. Lisboa: Estampa, 1982.
Vale a pena ler
Vale a pena
Minhas anotações
232
3ºAula
A transição do feudalismo ao 
capitalismo: Capitalismo mercantil 
e a transição para a economia 
industrial
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
analisar o contexto de sua produção;
ponderar os elementos feudais permanentes no mercantilismo;
reconhecer elementos capitalistas inaugurados por essas ideias;
compreender o mercantilismo como um fenômeno próprio da Era Moderna, marcado pelo elemento de transição.
Nesta aula, discutiremos os elementos 
econômico e religioso, fundamentais para a 
compreensão não só da modernidade, 
como de todo o desenvolvimento 
capitalista, afinal de contas, em sua origem, 
o capitalismo dependeu de um sistema de 
pensamento que legitimasse, dentre outros 
aspectos, a acumulação de capitais, vista, 
durante muito tempo, como um pecado.
Em nossa perspectiva, seriam estes os 
principais elementos para compreender a 
Era Moderna. Por certo, outros enfoques 
são possíveis, resultando em outras 
análises. A história, como procuramos 
apontar ao longo de nossas aulas, é constituída por um emaranhado muito mais complexo de relações do 
que podemos apreender em nossas análisesdirecionadas. 
Aqui, nosso foco será o mercantilismo, analisado como o conjunto de ideias e práticas econômicas característico 
da Era Moderna e que, apresenta-se como a transição do feudalismo ao capitalismo. Contudo, como será 
facilmente notado, esse elemento econômico é indissociável do político. 
Se atualmente, é bastante problemática as análises políticas que não considerem o elemento econômico, 
e vice-versa, mais ainda se faz presente essa imbricação na Era Moderna. Entre os séculos XV e XVII, 
raramente se verá um pensamento econômico que não seja impregnado do político e, ainda que não 
abordado diretamente aqui, do religioso. Economia, na Era Moderna, se confunde profundamente com 
política e com religião, sendo sua autonomização, ou seja, sua elaboração como teoria distinta, pensada 
apenas a partir do século XVIII.
Bons estudos!
mercantilista-ocupacao-efetiva-das-terras-brasileiras/. Acesso em 28/04/2019.
233
História Econômica Geral 24
1 – Mercantilismo: um conceito contraditório
2 – Características Gerais do Mercantilismo 
1 - Mercantilismo: um conceito 
contraditório
elaborarmos uma compreensão mais precisa acerca dos 
fenômenos por nós estudados. Acontece que, especialmente 
em história, uma ciência que tem o tempo como objeto 
privilegiado de sua análise – na verdade a humanidade no 
tempo, nos lembra o historiador Marc Bloch – essas categorias 
e conceitos quase sempre são construídas a posteriori. O custo 
disso é que, não raro, esses conceitos são impregnados de 
concepções da sociedade que os produz. Não é diferente com 
o mercantilismo. 
O conceito de mercantilismo, enquanto um sistema de 
pensamento econômico, foi elaborado, inicialmente, pelos 
enquanto ferramenta conceitual, nasce impregnada de um 
aspecto negativo, uma vez que construído pelos teóricos que 
prática político-econômica. Como aponta Falcon, “as ideias 
e práticas associadas ao sistema mercantil tornaram-se 
sinônimas de estatismo, monopolismo, privilégios abusivos, 
maquinações diabólicas, etc. Condenadas em nome da razão, 
repúdio moral” (FALCON, 1991, p.14).
Portanto, ao analisarmos o mercantilismo e seu papel 
histórico, precisamos levar em conta as formulações e 
reformulações do termo, as reestruturações pela qual o conceito 
passou ao longo dos anos e pelas mãos de diferentes autores, 
que tenha sido. Para tanto, procuraremos nos basear em dois 
autores que tiveram suas pesquisas publicadas e reeditadas 
do mercantilismo, apontando as transformações em sua 
interpretação ao longo do tempo. Estes autores são Pierre 
Deyon e Francisco Falcon. Em seus textos, eles apresentam 
perspectivas variadas acerta do mercantilismo, como as 
apresentadas por Karl Marx, Eli Heckscher, Gustav Schmoller 
e Georges Gusdorf, além é claro, de suas próprias análises. 
Francisco Falcon nos chama a atenção para uma questão 
que deve ser elementar ao historiador: a contextualização do 
objeto. Segundo ele: 
O estudo do mercantilismo só adquire seu 
sentido verdadeiro quando o situamos no 
interior do contexto histórico que o tornou 
possível: o período de transição do feudalismo 
ao capitalismo, também chamado de “época 
Seções de estudo
mercantilista”. Duas razões, pelo menos, 
apontam nessa direção: a distinção entre o 
mercantilismo e a época mercantilista e o fato 
dessa época, embora às vezes esquecido, é o 
processo de transição (FALCON, 1991, p.18). 
Essa contextualização histórica traz o elemento que, na 
visão de Falcon é o essencial – e paradoxalmente esquecido 
– para compreender o mercantilismo: trata-se de uma fase de 
transição. O que o autor chama de “época mercantilista”, e que 
segundo ele deve ser compreendido de modo diferente do 
mercantilismo, é percebido como a passagem das sociedades 
medievais, que se organizam em função das até então 
predominantes relações feudais, para as sociedades burguesas 
contemporâneas, nas quais a organização social se dá a partir 
das relações capitalistas. Esse caráter cambiante, transitório, é 
a característica principal de uma “época mercantilista”. 
Desse modo, produzido em uma época de transição 
entre uma sociedade feudal e uma sociedade capitalista, o 
nenhum dos dois. Nos concentremos nessa ambiguidade um 
momento, analisando as características de permanência e as 
de ideias e práticas transitório por excelência. 
As características de permanência presentes no 
mercantilismo em relação ao sistema anterior são chamadas 
por Falcon de “fundo medieval”:
O chamado “fundo medieval” é constituído 
por todo o conjunto de ideias e práticas 
econômicas, típicas das comunas medievais, 
que caracterizam a economia urbana. 
Regulamentando as atividades mercantis e 
artesanais, em seus múltiplos aspectos, as 
autoridades municipais desenvolveram uma 
série de práticas intervencionistas retomadas, 
ainda no século XV, por alguns monarcas que 
logo trataram de ap1ica-las no âmbito político-
econômico mais vasto de seus Estados. Temos 
aí, por exemplo, a preocupação em assegurar o 
mercado e zelar pela qualidade dos produtos e 
os ofícios urbanos, transferida ao conjunto 
da produção artesanal de um país. Veja-se, 
ainda, a política que era adotada em relação 
aos produtores rurais e que visava assegurar 
aos habitantes da cidade um abastecimento 
de alimentos que fosse ao mesmo tempo 
abundante e barato, traduzindo-se, na 
os produtos agrícolas (enquanto os artigos da 
indústria artesanal eram protegidos por preços 
mínimos) (FALCON, 1991, p.49).
Em outras palavras, aquela que é apontada como uma 
das características do mercantilismo a intervenção do Estado 
na economia, não é inaugurada na “época mercantilista”. Suas 
práticas remetem à Idade Média e às relações tipicamente 
feudais – na verdade, já em transição, pois outro erro comum 
é pensar na Idade Média como um período estanque, em 
que nada mudou. Portanto, a Era Moderna uma 
234
25
política intervencionista do Estado, o que por muitos autores 
será chamado protecionismo. O mercantilismo dá sequência 
empreendidas nas sociedades ditas feudais. O que ocorre 
sob a égide dos reis absolutistas e seu governo centralizado, 
é que os Estados modernos estendem esse controle para 
“âmbitos político-econômicos mais vastos”, nas palavras de 
e circulação de produtos. 
Falcon não está sozinho em sua proposição. Da mesma 
maneira, Pierre Deyon vê no mercantilismo e no controle a 
continuidade de práticas típicas do medievo. Segundo ele, 
as comunas medievais deixariam de herança aos Estados 
Modernos uma tradição consolidada de intervenção na vida 
econômica e social. As atividades dos burgueses e estrangeiros 
já eram, desde o medievo constantemente controladas. Essa 
tradição encontraria espaço na modernidade, segundo Deyon: 
Os Estados monárquicos dos séculos XV 
e XVI encontraram, pois, neste tesouro de 
experiências e de regulamentos, os primeiros 
elementos de sua política econômica; numa 
certa medida, o mercantilismo que começa a se 
metade do século XV estendeu aos limites das 
jovens monarquias nacionais as preocupações 
e as práticas das cidades da Idade Média 
Assim, sendo o Estado Absolutista um mecanismo 
de proteção dos privilégios da aristocracia feudal – ideia 
basilar no texto de Perry Anderson – ele foi retomado por 
Francisco Falcon para explicar a permanência de práticas 
intervencionistas e protecionistas por parte do Estado na 
modernidade: 
Do ponto de vista dos segmentos 
aristocráticos, o Estado absolutista representou 
basicamente um tríplice papel: em primeiro 
lugar ele 
defesa e manutenção do sistema de apropriação 
do excedente ou da renda feudal pela aristocracia 
fundiária, numa época, a de transição, onde o 
problema crescia era a tendência ao declínio 
de tais rendimentos; nesse sentido ele pode ser 
visto como a peça fundamental da chamada 
reação feudal; em segundo lugar, esse tipo 
de Estado assegura à aristocracia a manutenção de 
sua hegemonia, em seu sentido mais amplo; 
por último, consequência dos dois aspectos 
anteriores, o Estado absolutista,ao possibilitar 
a organização e contínuo crescimento de 
uma verdadeira máquina burocrática, oferece à 
aristocracia a possibilidade de novas e sempre mais 
atraentes formas de obtenção de rendimentos extras 
vinculados ao exercício de funções de proa, algumas 
generosidade do príncipe distribui entre os 
membros da sua nobreza (FALCON, 1991, 
p.32 – grifo nosso).
O Estado Absolutista forneceria, portanto, à aristocracia, 
a possibilidade de defesa e manutenção da exploração do 
trabalho dos camponeses; a continuidade da hegemonia 
política da nobreza, mesmo quando sua hegemonia econômica 
suas rendas, por meio dos cargos burocráticos. Esses fatores 
explicariam a manutenção de práticas feudais em um Estado 
Moderno, ou em modernização. 
resultariam na manutenção do poder da aristocracia feudal, 
teriam o efeito de equilibrar o universo social, em um contexto 
de declínio da nobreza e ascensão burguesa. Segundo Falcon, 
decorre disso que: 
[...] boa parte do fruto do trabalho do 
campesinato e da burguesia é transferido, 
por intermédio do Estado absolutista, para 
os setores parasitários da sociedade – grupos 
feudais tradicionais e nova aristocracia, de 
caráter burocrático –, contrabalançando, 
assim, em maior ou menor escala, a tendência 
declinante da renda feudal propriamente dita. 
(FALCON, 2001, p.33)
Mas, não foi apenas de permanências que foi feita a época 
mercantilista. Uma característica importante deste período, 
obviamente, são também as rupturas. De acordo com Falcon, 
existem aspectos que não permitem construir uma visão 
simplista de continuidade, e que revelam as características de 
ruptura com o período anterior. 
O primeiro deles seria que o Estado Absolutista possuiu 
uma dinâmica própria, que para o autor é percebida no 
simultâneo aumento de suas funções e das necessidades 
aquilo que Max Weber chamará de “racionalidade crescente”. 
O resultado disso, seria o próprio aumento das funções 
do Estado, que passaria a aumentar gradativamente sua 
intervenção na economia. Segundo Falcon, isso explicaria 
porque o Estado foi forçado a estreitar suas relações com 
vários setores da burguesia. Para Falcon, esse estreitamento 
pode ser visto em três situações principais: 
A primeira corresponde às relações 
e banqueiros, traduzidas em empréstimos, 
adequadas, tanto aos objetivos de lucro da 
burguesia mercantil e manufatureira, quanto 
ao aumento da arrecadação de impostos e 
taxas pelo Estado; é aí, aliás, que se situa o próprio 
mercantilismo, como veremos adiante; e, por 
último, o próprio Estado absolutista tende 
a utilizar os conhecimentos e a competência 
de elementos burgueses naqueles setores 
do seu aparelho burocrático em que isso é 
fundamental e para os quais a aristocracia 
se revela despreparada ou desinteressada; 
como compensação, abrem-se à burguesia os 
caminhos da ascensão social e do prestígio 
235
História Econômica Geral 26
político, sobretudo a possibilidade de 
enobrecimento efetivo (FALCON, 1991, 
p.34). 
Ora, vejamos: mostramos anteriormente que Falcon 
aponta elementos de permanência no mercantilismo, inclusive 
a inserção de elementos da nobreza no aparato burocrático do 
Estado, que lhes permitia aumentar sua riqueza por meio dos 
cargos públicos. Contudo, o mesmo Estado utilizaria também 
elementos burgueses dentro desse mesmo aparato, utilizando-
se de suas competências e conhecimentos comerciais, em 
troca de prestígio e ascensão social. Falcon nos deixa claro o 
elemento da transição. Não se trata de um Estado que insere 
em sua máquina burocrática a nobreza ou a burguesia, mas, 
sim, ambos. E essa dualidade produzirá efeitos nas disputas 
políticas. 
O elemento moderno do mercantilismo se garantiria, 
assim, por meio dessa nova classe. Essa burguesia veria na 
aliança com os reis a possibilidade de favorecer interna e 
externamente seus interesses políticos e econômicos: 
Internamente, a criação de um espaço 
econômico mais amplo, menos sujeito 
aos caprichos dos senhores feudais e das 
comunidades urbanas, aliada a obtenção de 
certos privilégios e garantias, não só ampliava 
as próprias atividades mercantis, como ainda 
podia servir para evitar que um número 
excessivo de competidores pusesse em risco a 
margem de lucro, limitando assim, sempre que 
possível, a determinados grupos ou setores, os 
negócios e empreendimentos mais importantes 
e lucrativos. Externamente, o apoio do Estado 
tende a impedir a concorrência “desleal” de 
comerciantes e mercadorias estrangeiras, ao 
mesmo tempo que possibilita a conquista 
e exploração, em caráter exclusivo, dos 
mercados externos, destacando-se aí as 
colônias ultramarinas (FALCON, 1991, p.35). 
Em síntese, na aproximação com o monarca, era 
possível aos burgueses garantir o controle e uniformização 
de suas atividades comerciais dentro do território, evitando 
inclusive a concorrência interna, como proteger-se da 
concorrência externa estrangeira. Ou seja, trata-se de um 
objetivo protecionista, que garanta os interesses burgueses, 
especialmente da alta burguesia, tanto mais próxima do rei 
quanto mais economicamente poderosa. 
Essa aparente contradição entre os interesses burgueses 
e nobres é que muitas vezes dá o tom do mercantilismo, 
caracterizando-o como um elemento de transição entre um 
sistema feudal e um sistema capitalista. Ainda nas palavras de 
Falcon: 
Trata-se de uma relação essencialmente 
contraditória: o apoio ao capital comercial 
e, pelo menos de início, ao capital industrial 
não se opõe, necessariamente, à defesa e 
manutenção dos interesses senhoriais ou 
feudais da aristocracia dominante. Para 
poder compensar o declínio da renda feudal, 
o Estado absolutista necessita cada vez 
mais aumentar seus próprios rendimentos 
(arrecadação) e isso só se torna possível 
protegendo e estimulando ao máximo as 
atividades produtivas e comerciais em geral 
(FALCON, 1991, p.36). 
Assim, o mercantilismo guardaria esse caráter de 
como uma ou outra prática. Segundo Falcon, nessa complexa 
relação em que o monarca precisa aumentar sua riqueza 
constantemente para manter seu poder político centralizado, 
oferece a burguesia a possibilidade de aumento de seu poderio 
econômico e político também por meio dessa centralização. 
sobre a circulação interna de mercadorias 
e sobre sua entrada e saída nas fronteiras 
do país, o controle da moeda e dos pesos e 
tesouro do monarca, mas pode servir também 
à implementação de uma política econômica 
autêntica temos aí, então, o mercantilismo 
(p.52). 
A diferença entre eles seria que enquanto para o Estado 
a manter o aparelho burocrático e os crescentes gastos com 
diplomacia, para o mercantilismo estes mesmos tributos são 
um meio de alcançar objetivos diversos, especialmente a 
médio e longo prazo. 
Contudo, não há uma uniformidade histórica nas posições 
da burguesia quanto a aliar-se ao Estado. Como aponta 
Falcon, a medida que a burguesia industrial ou manufatureira 
se desenvolve e alcança proeminência econômica, ela tenderá 
a se distanciar do Estado. 
Enquanto a fração mercantil da burguesia 
associa-se ao Estado absolutista e transita 
livremente em seu aparelho burocrático, 
a burguesia industrial (ou manufatureira), 
ainda que buscando ou aceitando, de início, 
a proteção do príncipe (como se deu na 
Inglaterra Tudor), tende, a médio ou longo 
prazo, a se opor a essa mesma política 
econômica do Estado absolutista, isto é, ao 
mercantilismo (FALCON, 1991, p.36).
Essa oposição resultará nos eventos de ruptura da era 
da Europa e do mundo, tais como a Revoluções Francesa e a 
Revolução Inglesa.
Sendo marcado pelo elemento da transição, portanto, o 
mercantilismo traz consigo a contradição em sua análise. Isso 
porque seus teóricos ora voltam-se para suas características 
feudais, ora para as capitalistas. Francisco Falcon aponta para 
das principais controvérsias. Analisemos o que diz o autor 
sobre os grupos em debate: 
A partir de uma interpretação errônea 
que “Se bem que os primeiros esboços 
da produção

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