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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO UNISAL – CAMPUS LICEU Inara Caroline Rochinski Godinho RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO EM FACE DO CONSENTIMENTO INFORMADO Campinas 2021 Inara Caroline Rochinski Godinho RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO EM FACE DO CONSENTIMENTO INFORMADO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel no curso de Direito no Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Orientador: Prof. Mestre Emerson Carbinatto. Campinas 2021 Inara Caroline Rochinski Godinho RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO EM FACE DO CONSENTIMENTO INFORMADO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel no curso de Direito no Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Orientador: Prof. Me. Emerson Rodrigo Carbinatto. Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em............................ pela comissão julgadora: Prof. Me. Emerson Rodrigo Carbinatto (Centro Universitário Salesiano de São Paulo) Prof. Me. Emerson Marinaldo Gardenal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo) À Amanda. AGRADECIMENTOS Venho prestar os devidos agradecimentos, com muita alegria primeiramente: Ao meu marido Vitor, a pessoa que mais me ajudou a superar todas as adversidades ocorridas durante a minha trajetória na faculdade, sempre me motivando e acreditando na minha capacidade. Aos meus queridos professores, em especial Prof. Paula Bozzi, Prof. Marina Mesquita, por todo carinho, respeito e empatia que me ofereçam durante o curso. Minha mais sincera admiração por todos os Mestres. Ao meu Orientador e grande Mestre, Prof. Emerson Carbinatto, por toda contribuição que me deu com o seu conhecimento, além de sua dedicação em me ajudar a realizar este trabalho. Agradecer, humildemente, a mim mesma por me manter forte nos períodos mais difíceis, por nunca desacreditar do meu potencial e por todo o esforço e dedicação que tive para atingir minhas metas. Gratidão a todos. RESUMO Este trabalho possui a finalidade de promover uma análise do instituto do Consentimento Informado, baseado em fontes secundárias e em trabalhos de terceiros. Logo, será realizado um estudo aprofundado à luz do Código Civil, Código de Defesa do Consumidor, análises doutrinárias e artigos científicos. De início, será abordado o conteúdo da responsabilidade civil, expondo seus requisitos e pressupostos e, neste sentido, a sua aplicabilidade quando falamos sobre os profissionais liberais, sobretudo os médicos. Além disso, serão apresentados os tipos de obrigações decorrentes do contrato estabelecidos entre o médico e paciente, e o momento em que se dá a responsabilização deste profissional quando sua prestação de serviços não atinge o fim pelo qual se comprometeu ou restou inadequada. E por decorrência disso, gerou dano ao paciente. Por fim, trazer análise quanto ao conceito de consentimento informado, seus requisitos, pautados pelo princípio da autonomia, bem como, sua importância em nosso ordenamento jurídico com observação nos entendimentos jurisprudenciais atuais. Palavras-chave: responsabilidade civil – consentimento informado – dever de informar SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL E SEUS ELEMENTOS ........................................ 9 2.1 Elementos da responsabilidade civil .................................................................. 9 2.1.1 A ação ........................................................................................................ 10 2.1.2 O dano ....................................................................................................... 10 2.1.3 Nexo causal ............................................................................................... 11 2.1.4 Da culpa ..................................................................................................... 12 2.2 Responsabilidade do profissional liberal .......................................................... 13 2.2.1 Da obrigação de meio ................................................................................ 13 2.2.2 Obrigação de Resultado ............................................................................ 15 3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO E SUA CARACTERIZAÇÃO .............. 16 3.1 Da obrigação meio e de resultado do médico .................................................. 17 3.2 Responsabilidade civil subjetiva do médico ..................................................... 18 3.3 Responsabilidade contratual e extracontratual do médico ............................... 18 4 CONSENTIMENTO INFORMADO E O DEVER DE INFORMAR ........................... 20 5 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO EM FACE DO CONSENTIMENTO INFORMADO SOB A ÓTICA JURISPRUDENCIAL .................................................. 24 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 28 8 1 INTRODUÇÃO O consentimento informado foi introduzido em nosso ordenamento jurídico em 2002 e trouxe mudanças significativas na relação contratual entre médico e paciente. Este instituto traz consigo a ideia de que o paciente detém autonomia para decidir sobre seu tratamento e ter todo o tipo de esclarecimento necessário para entender seu diagnóstico. Uma vez que o médico falha em dar as devidas informações ou adota tratamentos ou procedimentos sem anuência do paciente, este correrá o risco de responder na esfera da responsabilidade civil, além de outras possíveis sansões. Assim, após recepção deste conceito, aquele que de alguma forma foi acometido por enfermidade ou necessita de prestação de serviços médicos, o mesmo possui autonomia para escolher o profissional que irá lhe assistir, equitativamente, decidir se irá adotar o método de tratamento proposto por esse profissional. Dito isto, devido esta autonomia da vontade, oriundo do princípio da autonomia, o vínculo estabelecido entre médico e paciente passaram de relação unilateral para a relação de consumo, dado que as tratativas se dão de forma horizontal, em observância no que disposto no Código Civil, bem como, no Código de Defesa do Consumidor. Assim, como qualquer outro contrato, quando o médico falha em sua prestação de serviço a ele acarretará o ônus de reparar qualquer dano ocasionado por sua ação lesiva. É partindo disso, que iremos abordar a aplicabilidade da responsabilidade civil do médico, e o quanto o consentimento informado vem atribuindo questionamentos sobre condutas médicas, que atualmente vem ocasionando diversas demandas judiciais a fim de sanar os vícios proporcionados pela a ausência do dever de informar, da mesma forma, o consentimento livre e esclarecido do paciente. 9 2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL E SEUS ELEMENTOS A responsabilidade civil nasce a partir da inadimplência de uma obrigação previamente acordada ou, até mesmo, pela violação de direito de outrem. Quando um agente pratica conduta comissiva ou omissiva e deste ato gerar um dano a outra pessoa, a ele é imputado o dever de restituir o prejuízo causado. Para Diniz: A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado,por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertence ou de simples imposição legal. (DINIZ, 2020, p. 51) Não obstante, para exigência de reparação, deve-se considerar a diferença entre a responsabilidade moral e a jurídica, enquanto a responsabilidade moral trata- se de mera escusa em praticar determinado ato por seu valor negativo na esfera moral, nem toda violação de responsabilidade moral poderá ser exigida reparação, dado que apesar de gerar certos dissabores muitas vezes não caracteriza dano, pois certas condutas e regras morais não atinge o indivíduo de forma danosa, da mesma maneira não atinge a paz social, cosequentemente, não possui previsão legal para certas condutas. De acordo com os ensinamentos de Diniz: A responsabilidade moral oriunda de transgressão à norma moral, repousa na seara consciência individual, de modo que o ofensor se sentirá moralmente responsável perante Deus ou perante sua própria consciência, conforme seja ou não um homem de fé. (DINIZ, 2020, p. 39). Assim, podemos considerar que, um dos pressupostos da aplicação da responsabilidade civil é o dano, ou seja, uma conduta moralmente reprovável, mesmo que decorra dissabores, só será aplicada a responsabilidade civil se dela resultar uma lesão a terceiro. 2.1 Elementos da responsabilidade civil Ponderado o limite entre a responsabilidade moral e jurídica, para que possa ocorrer a aplicação da responsabilidade civil é necessário o preenchimento dos seguintes pressupostos: a) Ação comissiva ou omissiva, b) dano c) nexo causal e d) culpa Vale salientar que, esses pressupostos são essenciais para empregar a responsabilização a responsabilidade civil, visto que, se afastado um desses 10 pressupostos, não será possível exigir reparação do autor da ação. Todavia, nos casos em que incidem a responsabilidade civil objetiva, veremos que o quarto pressuposto poderá ser afastado conforme irá ser abordado mais abaixo. 2.1.1 A ação A ação poderá ser comissiva quando o indivíduo pratica conduta que não deveria ser realizada, enquanto a ação omissiva o agente deixa de observar seu dever de agir ou praticar certa ação e, ao se omitir, pratica ato ilícito. Para uma melhor compreensão, o ato ilícito se dá quando na ação ou omissão do agente decorrer de abuso de direito, ou seja, em um caso concreto em que uma pessoa reproduz comportamento que é reprovável a luz do direito, este ato será passível de punição por meio da reparação. A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou do fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos lesado. (DINIZ, 2020, p. 56). Visto isso, o primeiro requisito para a aplicação da responsabilidade civil é necessário observar a natureza de sua ação, se seu comportamento é reprovável a luz do direito, e se sua conduta foi adotada de maneira voluntária, sendo ela negligente ou imprudente, seja de forma dolosa, ou se de sua atividade lícita gerar lesão ao direito de outrem. Além disso, quando falamos da natureza ilícita desta ação, devemos considerar as seguintes teorias: 2.1.2 O Dano O segundo pressuposto da responsabilidade civil é o dano, ele é o resultado da ação lesiva, não existe responsabilidade civil se do ato ilícito não resultar um dano. Para que haja a reparação ou indenização a vítima do dano terá que comprovar que a ação ilícita do autor gerou uma diminuição de seu patrimônio ou atingiu sua honra, como ocorre no dano moral, desta feita, essa reparação só ocorrerá com a evidência de dano. 11 Segundo o Cahali (apud DINIZ, 2020, p. 77) “Isto é assim porque a responsabilidade resulta em obrigação de ressarcir, que logicamente, não poderá concretizar-se onde nada há que reparar”. O dano poderá ocorrer na relação contratual bem como extracontratual. A relação contratual nasce na livre manifestação de vontades em formalizar uma obrigação contratual. Dessa maneira, o dano ocorre após o estabelecimento de uma obrigação prévia, em que uma das partes inadimple sua obrigação, como consequência nasce o direito de pretensão da outra parte que foi lesada. Ocorre o dano extracontratual quando um indivíduo ofende o direito de outrem. O primeiro contato entre as partes muitas vezes é após o dano, sendo assim, não existiu nenhum vínculo contratual prévio, contudo, o autor do dano comete ação ilícita, pois agiu voluntariamente ou com negligencia e imprudência para atingir resultado, ou no caso de responsabilidade objetiva, causou lesão patrimonial ou extrapatrimonial para terceiro, este mesmo isento de culpa e nessas hipóteses, o causador do dano deverá arcar com os prejuízos. 2.1.3 Nexo causal O nexo causal é relação que deve existir entre a ação do agente e o resultado de dano, por isso é muito importante para aplicação da responsabilidade civil. (FERNANDES, 2011). O nexo causal é o vínculo criado entre a conduta e o resultado, posto isto, mesmo que não haja um resultado imediato em relação ao ato ilícito, todo dano que gerar a partir dessa ação será passível de reparação. Todavia, como dito anteriormente, para a exigência de reparação é necessário que da conduta lesiva do agente resulte um prejuízo à vítima. Dessarte, se dessa conduta não gerou um lesão ao direito de outrem, ou o dano causado de alguma forma não seja resultado direto da prática de um ato ilícito, não há comprovação do nexo de causalidade entre a ação e o dano. Dessa forma, o nexo causal poderá ser afastado, tanto na teoria da culpa quanto na de risco, quando comprovado as hipóteses de excludentes previstas no Art.188 do CC ou quando houver, culpa exclusiva da vítima ou de terceiro, caso fortuito e força maior. 12 A culpa exclusiva da vítima exclui a responsabilidade do agente, quando a própria vítima de certa forma influencia o agente a se comportar de forma danosa, de modo que esse gere o dano, ou seja, quando a própria vítima dá causa ao resultado de dano, o autor da ação não será obrigado a indenizar. Nas palavras de Diniz (2020, p.136) o indivíduo que tenta se suicidar, “atirando- se sob as rodas de um veículo, o motorista estará isento de qualquer composição do dano”. Ainda a título de exemplo, podemos citar a vítima de atropelamento por trem que ao “caminhar sobre os trilhos, entre duas estações ferroviárias, a fim de tomar o comboio sem bilhete de passagem, sua culpa exclusiva elide a expectativa de ressarcimento.” (DINIZ, 2020, p.137). O que difere a culpa de terceiro da culpa exclusiva da vítima é que qualquer outra pessoa que não seja o próprio agente ou a vítima, intervém no ato lesivo, de maneira que, se não houvesse tal intervenção, não teria produzido o dano. Caso fortuito e força maior são acontecimentos inevitáveis que impossibilitam conduta diversa daquela que gerou o dano. Sendo assim, por mais que o autor cometa ato ilícito, devida a natureza dos acontecimentos, como situações inevitáveis ou não previsíveis causadas pela natureza ou acidente, afasta a responsabilidade civil do agente e consequentemente o desobriga de reparar o dano. “Deveras, o caso fortuito e força maior se caracterizam pela presença de dois requisitos: objetivo, que se configura na inevitabilidade do evento, e o subjetivo, que é a ausência de culpa na produção do acontecimento” (DINIZ, 2020, p.139). 2.1.4 Da Culpa A teoria da culpa ou também chamada de responsabilidade subjetiva, diz respeito quanto à possibilidade de exigir do agente reparação, quando este comete ato ilícito de forma culposa ou dolosa, desse modo, quando comprovado que o autor estava ciente dos possíveis prejuízos que causaria adotando determinado comportamento, o agente deverá reparar o dano. Porconseguinte, para exigir do agente a reparação do evento danoso provocado por ele é necessário verificar em sua conduta o elemento de culpa. A culpa, nesta teoria da responsabilidade civil, possui compreensão latu sensu, ou seja, o autor poderá agir de forma culposa quando não possui intenção de causar lesão, mas ciente 13 dos riscos, adota comportamento lesivo, ou dolosa quando a intenção do autor do ato lesivo prevê como resultado danoso e age em função de atingi-la. O Art. 186 do Código Civil dispõe que o indivíduo ao praticar ato ilícito de forma voluntária, com negligência ou imperícia gerar dano a outrem, deverá ser responsabilizado a reparar os danos causados. (DINIZ, 2020) É mister esclarecer, ainda, que o ilícito tem duplo fundamento: a infração de um dever preexistente e a imputação do resultado à consciência do agente. Portanto, para sua caracterização, é necessário que haja uma ação ou omissão voluntária, que viole norma jurídica protetora de interesses alheios ou um direito subjetivo individual, e que o infrator tenha conhecimento da ilicitude de seu ato, agindo com dolo, se intencionalmente procura lesar outrem, ou culpa, se consciente dos prejuízos que advém de seu ato, assume risco de provocar evento danoso. (DINIZ, 2020, p. 57) Além disso, nas ações consideradas lícitas será passível de responsabilidade civil e exigência de reparação o autor do dano, independentemente de culpa, considerando apenas o ato ilícito do agente e nexo causal, na teoria de risco ou como chamado responsabilidade objetiva. Contudo, nesta modalidade de responsabilidade civil só será possível exigir reparação nas hipóteses previstas em lei ou se o autor ao praticar determinada atividade de risco, colocar o direito de outrem em risco, mesmo ela sendo lícita, responde por eventuais danos causados devido à natureza de sua atividade. (DINIZ, 2020) 2.2 Responsabilidade do profissional liberal Neste item, será abordado quanto a origem da responsabilidade civil atribuída ao profissional liberal, restringindo este tema a atividade exercida pelo médico. Nesse aspecto, necessária se faz a diferenciação entre a obrigação de meio, bem como, a de resultado, pois a partir desta distinção saberemos quando este profissional será responsabilizado na esfera civil. 2.2.1 Da obrigação de meio A obrigação que se origina de contrato que estabelece a condição de credor a uma das partes, enquanto a outra se torna devedora, nesta oportunidade o devedor 14 que inadimple o contrato entra em mora e, por decorrência de sua morosidade, deverá indenizar seu credor. Esta pretensão nada mais é que a responsabilização do indivíduo que causou o dano. Nesta oportunidade, no âmbito a responsabilidade contratual e as partes que constitui esse vínculo, abordaremos a responsabilidade do profissional, que quando se compromete a prestar determinado serviço, caso não execute o que tratado em contrato seja ele responsabilizado pela sua inadimplência. O profissional que exerce prestação de serviço possui a obrigação de executar o que é acordado em contrato, dessa forma, teremos dois tipos de obrigações contratuais, a obrigação de meio e a de resultado. Poderá ser obrigação de meio, quando a natureza da prestação de serviço não obrigar o profissional a entregar resultado certo e determinado, posto isso, se exige conduta prudente e diligente, a fim de buscar o resultado pretendido, contudo, desobriga a atingi-lo, desde que este garanta o uso de todos os meios necessários ao realizar seu trabalho. Conforme entendimento da consagrada doutrina de Maria Helena Diniz “a obrigação de meio é aquela em que o devedor se obriga tão somente a usar de prudência e diligência normais na prestação de certo serviço para atingir um resultado, sem, contudo, se vincular a obtê-lo.” (DINIZ, 2020, p. 325) Os profissionais como médicos, enfermeiros, advogados p. ex. possuem esses critérios nas execuções de seus trabalhos. Entretanto, quando algum profissional desse deixa de observar seus deveres, quanto a utilização de todos os instrumentos a seu dispor, e disso gerar um dano a quem o contratou, a vítima poderá requerer indenização, cabendo a ela o ônus de demonstrar que esses profissionais agiram com imprudência, negligencia ou imperícia. Nas palavras de Maria Helena Diniz (2020, p. 325) “seu conteúdo é a própria atividade do devedor, ou seja, os meios tendentes a produzir o escopo almejado, de maneira que a inexecução da obrigação se caracteriza pela omissão do devedor.” Neste contexto, o profissional que possui essa obrigação só reparará um dano se em sua conduta comprovar o elemento de culpa. 15 2.2.2 Obrigação de Resultado Na obrigação de resultado exige-se do profissional liberal/manual o resultado certo e determinado, uma vez que o credor o contratou objetivando tão somente determinado resultado, diferentemente na obrigação de meio em que o cliente busca apenas a prestação técnica como meio de atingir determinado resultado desejado. Alguns profissionais, como o arquiteto, o pintor etc., estão no rol dos profissionais que respondem por inadimplência contratual caso estes não produzam o resultado prometido. (DINIZ, 2020) Vale salientar, que para a responsabilidade civil do profissional que possui obrigação de resultado, para se tornar inadimplente, basta que este não atinja o resultado proposto em contrato, com isso, nasce a pretensão do credor de exigir reparação ao dano causado por sua inadimplência. Neste contexto, ao falar da responsabilidade do médico, há casos bem específicos que sua atividade não se resguardará apenas na obrigação de meio, em casos específicos, este profissional responderá pela obrigação de resultado. Contudo, dada a complexidade em diferenciar essas obrigações, é necessário análise de cada caso concreto. 16 3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO E SUA CARACTERIZAÇÃO A responsabilidade civil do profissional liberal ou autônomo está previsto no Art.951 do CC bem como no Art.14, §4º do CDC. Insta salientar, que para descrever a responsabilidade civil do médico é imprescindível à compreensão sobre o dever deste profissional. O dever do médico possui alguns aspectos referentes a postura profissional, dentre eles estão: O dever de informação, indica que esse profissional possui como obrigação dar esclarecimento ao paciente, informações sobre seu diagnóstico, prognóstico, eventuais riscos ao adotar determinado tratamento ou procedimento, às pesquisas e as precauções atinentes ao seu estado de saúde, dada a importância do esclarecimento de informações na relação médico/paciente, essa postura possui caráter obrigatório e o não cumprimento, estará sujeita a sanção. Além disso, ao médico incumbe a obrigação de cuidar do paciente com zelo e diligência, sendo assim, caso aquele deixe de prestar os devidos cuidados ou abandone o paciente, sem que tenha colocado um substituto em seu lugar, o médico deverá ser responsabilizado. O médico apenas poderá deixar de prestar serviço e renunciar atendimento ao paciente quando o contrato não foi por escolha intuitu personae, ou seja, quando a prestação de serviço não possua caráter personalíssimo. Do mesmo modo que, quando os fatos impossibilitarem assumir a prestação de serviço, ante ocorrências que diminua a capacidade ou desempenho do profissional a ponto de este não ter competência para realizar tal atendimento, desta feita o profissional terá que comunicar a renúncia a família e indicar médico competente. O médico também poderá se eximir do atendimento quando o paciente e/ou a família não seguir as orientações médicas ou quando a família ao consultar uma segunda opinião, a sua revelia, expor o profissional de forma vexatória. Dito isso, ao médico é imposto o dever de não desviar seu poder e cometer abusos, ouseja, é ilícita a prática de testar procedimento e tratamentos que não tenham evidências cientificas, bem como, não deverá ultrapassar os limites acordados em contrato, realizar procedimentos sem consentimento do paciente, solicitar ajuda de pessoas não competentes para realizar procedimentos, praticar abortos fora do 17 que previsto em lei, e por fim, optar por agir com negligência, imprudência ou imperícia. (DINIZ, 2020) Caso cometa qualquer destes atos, este profissional será responsabilizado civilmente, além das demais sanções na esfera criminal e administrativa. Ademais, diante das hipóteses de erro médico e, em alguns casos, o paciente poderá pleitear por danos morais e materiais. 3.1 Da obrigação meio e de resultado do médico Consoante supramencionado, em regra a obrigação do médico é de meio, visto que, aquele que contrata essa prestação de serviço possui a intenção de usufruir da assistência intelectual do médico, sendo assim, não cabe a necessidade de este atingir o resultado esperado. Contudo, este profissional deve se utilizar de todos os meios possíveis para um bom desempenho no tratamento do enfermo, a fim de que atinja o resultado necessário para a cura do paciente, mesmo que, como citado anteriormente, não tenha o compromisso de atingi-la. Andréa Silva Albas e Gilmara Pesquero Fernandes Mohr Nunes (2004, p. 40) dispõem em seus artigos o entendimento que “[...] a atividade encontra-se permeada de circunstâncias aleatórias que não permitem ao profissional da saúde comprometer- se a atingir o resultado pretendido por ele, pelo paciente e sua família.” Portanto, a obrigação do médico não vincula ao resultado, ou seja, curar o paciente, isso se deve a complexidade dessa ciência e a resposta fisiológica de cada paciente que esteja sujeito a tratamento, pois nem sempre o enfermo responderá de forma positiva aos procedimentos. Todavia, há exceções neste entendimento, em algumas especialidades é possível a aplicabilidade da obrigação de resultado, como é o caso do médico cirurgião plástico, pois sua finalidade por ser estética, quando as partes compactuam esse tipo de contrato o profissional fica obrigado a entregar o resultado esperado. Mesmo diante de todas essas observações a respeito da obrigação de resultado, hoje, o ordenamento jurídico brasileiro não possui pacificado esse entendimento, dito isso, é necessário o estudo do caso concreto para distinguir o momento em que essa obrigação que, em regra seria a de meio, se torna obrigação de resultado. 18 3.2 Responsabilidade civil subjetiva do médico O Código Civil aborda em seu Art. 951 a responsabilidade civil do profissional liberal, nele discorre que a responsabilidade deste profissional é responsabilidade subjetiva, dado que para aplicá-la se faz necessária a comprovação de que o dano foi causado por negligência, imprudência ou imperícia, ou seja, por culpa stricto sensu. Apesar do que já disposto neste artigo, o médico, pode ainda, responder por prática de conduta lesiva dolosamente, desde que comprovada a culpa em seu sentido lato sensu, também responderá subjetivamente. Diniz pondera que “assim, se o médico operador for experiente e tiver usado os meios técnicos indicados, não se explicando a origem da eventual sequela, não haverá obrigação por risco profissional, pois os serviços médicos são, em regra, de meio e não de resultado.” (DINIZ, 2020, p. 346) Outrossim, além do C.C., o Código de Defesa do Consumidor regulamenta a relação contratual médico-paciente e dispõe em seu Art.14 §4 que nos casos de aplicabilidade da responsabilidade civil do médico caberá ao paciente a comprovação de que este profissional agiu de forma culposa ou dolosa em desfavor da vítima. 3.3 Responsabilidade contratual e extracontratual do médico A responsabilidade civil do médico é contratual segundo entendimento doutrinário, dado que esse vínculo contratual poderá surgir entre as partes quando entre eles for pactuado previamente, por livre manifestação de vontade, o contrato de prestação de serviço do profissional. Outra forma seria quando o médico ao atender chamado urgente a fim de salvaguardar a vida do cliente sem qualquer contrato pactuado anteriormente. DINIZ (2020, p. 346) explica que “o médico que atende a um chamado determina, desde logo, o nascimento de um contrato com o doente ou com a pessoa que o chamou em benefício do enfermo.” Apesar disso, quando se refere a responsabilidade contratual do médico, não se pode presumir culpa do agente, sendo assim, por se tratar de responsabilidade subjetiva, faz-se necessária a comprovação de culpa. Nesse raciocínio, conforme disposto no Art.14 §4 do Código de Defesa do Consumidor, junto ao Código Civil, para evidenciar a responsabilidade deste 19 profissional, ao paciente/cliente recai o dever de comprovar que o médico agiu com negligência, imprudência e/ou imperícia, ou seja, com a comprovação de culpa, conforme supracitado anteriormente. Apesar disso, devemos considerar que muitas vezes, devida hipossuficiência técnica do paciente/cliente, a ele é quase impossível conseguir comprovar o vínculo entre o dano sofrido e o ato ilícito do médico, dito isto, a vítima poderá requerer a inversão do ônus da prova para que o médico comprove que agiu com boa-fé e utilizou-se de todos os meios necessários e tratamentos disponíveis para satisfazer a necessidade do paciente. (FRANÇA, 2014) Assim, o Art.6º, inciso VIII, do CDC se faz aplicável, nele dispõe que: A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo a regras ordinárias de experiências. (BRASIL, 1990, p. 653) O médico ainda terá responsabilidade extracontratual quando praticar ilícito penal ou até mesmo administrativo como prevê o Código de Ética de Medicina (CEM). Correia-Lima explica que: Será também extracontratual quando cometer um ilícito penal ou descumprir normas regulamentadores da profissão, tais como fornecer atestado falso, não impedir que pessoa não habilitada exerça profissão ou lançar mão de tratamento cientificamente condenado ou de atitudes charlatanescas, vindo a causar dano ao paciente. (CORREA-LIMA, 2012, p. 38) Desse modo, caso o profissional não pratique ilícito penal ou não descumpra o regulamento da profissão, qualquer ato ilícito praticado na esfera civil será responsabilizado contratualmente. 20 4 CONSENTIMENTO INFORMADO E O DEVER DE INFORMAR A adoção do conceito de consentimento informado é relativamente novo no nosso ordenamento jurídico e, por sua vez, na esfera da responsabilidade civil esta concepção busca garantir a autonomia do paciente de escolher ou aceitar os métodos de tratamento ou intervenção cirúrgica sugerido pelo profissional da saúde. Apesar de não haver qualquer menção deste termo de forma expressa em nossas leis a aplicação do consentimento informado vem tomando cada vez mais força nas decisões judiciais e, dessa forma, é necessário entender como surgiu e como vem sendo aplicado. Este conceito tem como base o princípio da autonomia e o princípio da dignidade humana previsto em nossa Constituição Federal e seu objetivo é garantir que o paciente possua autonomia sobre decisões sobre seu próprio corpo, além decidir qual tratamento ou intervenção cirúrgica seja mais adequado em sua situação, considerando sua visão social, de vida ou religiosa, mesmo que vá de encontro com a opinião técnica do profissional que lhe atende. (VAZ; REIS, 2007) Portanto, é de suma importância que a informação seja a mais clara possível, sendo necessário que o médico adote linguagem adequada e simplificada ao informar o prognóstico ao paciente, a fim de que fique esclarecida a natureza dosprocedimentos a serem adotados e que facilite ao paciente a faculdade de escolha do tratamento ou profissional que julgar mais apropriado. Os autores Marcelo Dias Varella, Eliana Fontes e Fernando Galvão da Rocha salientam em seu artigo a seguinte informação: Refere-se à capacidade de autogoverno do homem, de tomar suas próprias decisões, de o cientista saber ponderar, avaliar e decidir sobre qual método ou qual rumo deve dar a suas pesquisas para atingir os fins desejados, sobre o delineamento dos valores morais aceitos e de o paciente se sujeitar àquelas experiências, ser objeto de estudo, utilizar uma nova droga em fase de testes, por exemplo. O centro das decisões deve deixar de ser apenas o médico, e passar a ser o médico em conjunto com o paciente, relativizando as relações existentes entre os sujeitos participantes (apud VAZ; REIS, p. 494). Conforme retromencionado, em nossa Carta Magna, em seus Arts. 1 e 5, encontram previsões sobre o princípio da dignidade humana, assim encontra amparo à aplicação do conceito consentimento informado. 21 Além do mais, nos mesmos moldes, é possível encontrar previsão ao direito à informação no Código Civil em seu capítulo de Direitos de Personalidade, consoante aplicação do Código de Defesa do Consumidor no seu art. 6 inciso III, que regula as relações médico-paciente. Embora hoje o médico possua o dever de informar os detalhes a respeito do prognóstico ao paciente, nem sempre o princípio da autonomia esteve presente no dever ético do deste profissional, anterior a ela, o princípio utilizado era o da beneficência. Neste princípio a relação médico-paciente não priorizava a autonomia do paciente, assim, está relação detinha um perfil paternalista, ou seja, o encargo de tomar decisões sobre método de tratamento e efeitos colaterais eram de responsabilidade exclusiva do médico responsável pelo caso. Em outros termos antes o paciente não era visto como um indivíduo de direitos, mas apenas como objeto para prestação de serviço deste profissional de saúde. (VAZ; REIS, 2007) O princípio da beneficência, encontra amparo nos ensinamentos do, então pai da medicina, Hipócrates, o médico tinha como missão a busca incansável da cura de seu paciente, tirando toda a autonomia deste no momento de escolha sobre seu tratamento, portanto, o princípio da autonomia trouxe ao paciente liberdade para questionar os métodos adotados pelo médico e ser parte ativa nesta decisão. Um exemplo clássico que trata sobre o conflito entre estes dois princípios é sobre recusa à transfusão de sangue por motivos religiosos, citado por Vaz e Reis, em seu artigo: “O direito à vida, protegido na Constituição Federal, não se refere apenas aos elementos materiais e físicos da pessoa, mas também, aos psíquicos e espirituais, que serão atingidos, caso haja a transfusão de sangue sem o consentimento do paciente.” (VAZ; REIS, 2007, pag. 497) Os pressupostos para a validade do consentimento informado seriam a capacidade civil, o dever de informação e o consentimento livre e esclarecido, sendo assim, o consentimento de um incapaz sem a devida representação ou vícios de informação são considerados nulos. 22 Ainda, há vício de consentimento nos casos em que houver erro de diagnóstico, a exemplo da amputação do membro errado e, não abstante, nos casos de consentimento que for contra a ordem pública como a doação do próprio coração ainda em vida. Hoje a condição de consentimento informado é requisito obrigatório no momento do diagnóstico do paciente e a falta dele vem acarretando diversas ações judiciais indenizatórias, todavia, há exceções. A primeira exceção do dever de informação é o privilégio terapêutico, em que o paciente em estado grave e/ou iminência de morte, recebe tratamento de urgência, neste caso específico, a comunicação com o paciente é impossível, dado que, por muitas vezes o paciente está inconsciente e não há qualquer representante legal no momento do atendimento, neste caso só seria possível seu obter seu consentimento se ele estivesse consciente, contudo, ainda existiria uma grande possibilidade de concordância com o tratamento realizado.(VAZ; REIS, 2007) Neste cenário, a luz do exemplo dado por Vaz e Reis (2007) seria o caso de “acidente automobilístico, no qual a pessoa sofreu graves ferimentos e precisa de uma cirurgia de emergência para salvar sua vida.” A segunda exceção é tratamento compulsório, em que o interesse e saúde do coletivo se sobrepõe ao direito individual, ou seja, quando a doença contraída pelo paciente coloca em risco a saúde de todos a sua volta, se tornando um risco para a sociedade, neste sentido, temos o exemplo da obrigatoriedade da vacina em casos de doenças transmissíveis, como a tuberculose, meningite, cólera entre outros. Esse entendimento encontra amparo na esfera criminal, no Código Penal (BRASIL, 1940, [s. p.]) em seus Arts. 267 e 269, que dispõe o que segue: Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena - reclusão, de dez a quinze anos. § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. § 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 23 Embora, o tratamento compulsório é utilizado nos presídios, pelo fato dos presos estarem sob tutela do Estado, desta feita, estes serão tratados de forma compulsória, sem a necessidade de consentimento. A terceira hipótese é a recusa da informação, neste caso o paciente não possui interesse em qualquer detalhe a respeito de seu tratamento ou informação, dado o seu estado emocional já abalado devido ao diagnóstico de uma doença grave, podendo causar sua piora. Em vista de todas essas exigências, dado que o paciente é a parte mais vulnerável na relação médico-paciente, cabe ao médico se precaver no momento de contatar o paciente e informar com clareza todos os detalhes do tratamento. desse modo, para sua própria proteção em relação a responsabilidade civil deverá se utilizar de meios que possam comprovar que sua conduta foi adequada ao que exigido pelo conceito de consentimento informado. A exemplo disso, ao preencher o prontuário com todas as informações passadas ao cliente, este deve ser cauteloso e preencher de forma clara e detalhada, a fim de que no futuro, caso haja demanda judicial, este possa se isentar de qualquer responsabilidade. Por essa razão, quanto a aplicação do Código do Consumidor, por requerimento do paciente, cabe ao médico o ônus de provar que não houve vício no consentimento informado, conforme o próprio CDC dispõe em seu art. 6. (VAZ; REIS, 2007) 24 5 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO EM FACE DO CONSENTIMENTO INFORMADO SOB A ÓTICA JURISPRUDENCIAL No Poder Judiciário Brasileiro, o consentimento informado é citado pela primeira vez no ano de 2002 em julgado do Superior Tribunal da Justiça (STJ), para responsabilizar um médico por se omitir no momento de informar a paciente sobre os riscos de cirurgia oftalmológica e que, consequentemente, houve danos colaterais, com isso, a paciente lesada entrou com ação de danos morais. Dados obtidos no Tribunal de Justiça de São Paulo, até o ano de 2009 demonstram que o termo “consentimento informado” é o termo mais citado em acórdãos judiciais, somando um total de 73 vezes. (PITHAM, 2012) Hoje, no mesmo tribunal este termo já foi citado em 1350 acórdãos e não está restrito apenas a responsabilidade civil do médico, como também em casos relacionados a responsabilidade contratual bancária. Insta salientar que, a análise deverá ser limitada a responsabilização civil do médico. Assim, será apresentado alguns acórdãos que tratam desta natureza de açõesjudiciais com o fim de expor qual o entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo a respeito do uso do conceito do consentimento informado: O primeiro acordão a ser explorado será a decisão proferida em APELAÇÃO CÍVEL Nº 1005844-20.2019.8.26.0100 em que manteve sentença de primeira instância a fim de condenar os réus, um hospital e um médico, solidariamente a indenizar o autor em danos morais e estéticos por omissão de informação sobre retirada de tumor maligno, informando-o que se tratava apenas de um cisto. Contudo, após 5 anos em atendimento em outra instituição de saúde, este mesmo paciente foi diagnosticado com metástase, decorrente de um câncer que se manifestou por este mesmo tumor afetando a saúde e estética do paciente. Assim, ficou evidente que houve falha na prestação de serviço quanto o dever de informar diagnóstico em primeiro atendimento prestado pelos réus e consequentemente a manutenção da condenação em decisão da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) em danos morais e estéticos, além dos honorários sucumbenciais a favor do autor. 25 APELAÇÃO CÍVEL Nº 1005844-20.2019.8.26.0100 Ação: Indenizatória Apte./Apdo.: Sul América Seguro Saúde S.A Apte./Apdo.: Josimar Novais VOTO Nº 36941 APELAÇÃO ERROMÉDICO- FALHANAPRESTAÇÃODOS SERVIÇOS PRESTADOS PELO MÉDICO NO HOSPITAL- RÉU PERTENCENTE À REDE DA RE QUERIDA - PACIENTE QUE NÃO RECEBEU INFORMAÇÕES PRECISAS DO DIAGNÓSTICO, NEM TAMPOUCO DA NECESSIDADE DE ACOMPANHAMENTO AGRAVAMENTO DO QUADRO CLÍNICO POR DESCONHECIMENTO QUEBRA DO DEVER DE INFORMAR DANOS MORAIS E ESTÉTICOS ARBITRADOS COM RAZOABILIDADE PRAZO PRESCRICIONAL QUE COMEÇA A SER COMPUTADO A PARTIR DA CIÊNCIA DO FATO - FUNDAMENTOS DA SENTENÇA QUE DÃO SUSTENTAÇÃO ÀS RAZÕES DE DECIDIR APLICAÇÃO DO ARTIGO 252 DO REGIMENTO INTERNO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO - PRECEDENTES DO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA MANTIDA RECURSONÃOPROVIDO. (BRASIL, 2019, [s.p.]) O TJSP fundamentou sua decisão nos termos do Art. 6º, inciso III, do CDC e salientou a importância do dever de informação ausente na prestação de serviço em questão. Dito isso, é possível compreender que o conceito de consentimento informado está sedimentado nos entendimentos jurisprudenciais. Em outra decisão em sede de Apelação Cível nº 1067087-54.2017.8.26.0100, a 1ª Câmara de Direito Privado do TJSP manteve decisão de 1ª Instância em ação de indenização movida em face do hospital e do convênio médico, em que os profissionais de medicina não informaram de forma esclarecida as consequências do método adotado para seu tratamento, como foi constatado em perícia nos autos do processo de origem. Uma vez que se tratava de procedimento invasivo, o paciente não foi informado devidamente sobre os efeitos colaterais do tratamento o que lamentavelmente resultou em lesão medular e em consequência a paralisação dos membros inferiores. Apelação Cível nº 1067087-54.2017.8.26.0100 Aptes/Apdos: Prev Saúde Associação de Assistência Médica Privada e Rede D´Or São Luiz S/A - Unidade Morumbi Apelado/Apelante: Milton Massahiro Nagaoka Comarca: São Paulo Juiz: Leila Hassem da Ponte Voto nº nº 4.057 Apelação. Responsabilidade civil (art. 951 do Código Civil). Demanda promovida contra hospital e operadora de plano de saúde. Paciente que ao ser submetido a procedimento de angiografia com embolização sofre lesão medular, perdendo a função dos membros inferiores. Constatação pericial de violação do dever de informação e falta de consentimento informado, não sendo a parte esclarecida a respeito dos riscos acentuados do procedimento invasivo que foi 26 realizado. Inexistência de situação de urgência ou emergência que justificasse dispensa do correto cumprimento do dever de informação. Direito de autodeterminação do paciente quanto à submissão a tratamento eletivo arriscado.Responsabilidade civil estabelecida.Dano moral. Majoração da indenização para duzentos mil reais. Precedentes do STJ. Lesão de extrema gravidade. Autor privado permanentemente de várias funções vitais, com acentuado prejuízo ao projeto de vida e incapacidade para as ocupações habituais. Abalo psicológico de intensidade. Majoração da indenização visando assegurar o efeito compensatório da reparação de dano moral. [...] (BRASIL,2017, [s.p.]) Nesta ocasião os réus foram condenados solidariamente em responsabilidade objetiva, ao pagamento de danos morais no importe de R$200.000,00 (duzentos mil reais), dado a gravidade do dano. 27 CONCLUSÃO A inclusão do conceito do consentimento informado no ordenamento jurídico brasileiro atingiu seu objetivo de forma eficaz porquanto que houve grande recepção em nossos tribunais. A partir de um estudo limitado a coleta de dados no TJSP, observou-se que muito se busca a reparação de danos quando a prestação de serviço de um médico resta falho. Não só o médico será responsabilizado como também as instituições onde ele exerça sua atividade laboral. Assim é possível concluir que é deveras importante o dever do médico em prestar ao paciente todas as informações e esclarecimentos possíveis a respeito de seu tratamento, bem como, que essas informações tenham linguagem simplificada que facilite a compreensão do paciente. Ao paciente cabe a faculdade de adotar ou não tal proposta de tratamento, consoante ao princípio da autonomia, e ter a livre decisão de a qualquer momento cessar o contrato firmado entre eles. Não abstante, o médico poderá se precaver de possíveis demandas judiciais decorrentes deste vício adotando medidas como fazer todas a anotações no prontuário médico de todas as informações e esclarecimentos tratadas com o paciente. Em síntese, o consentimento informado não possui a nequícia de prejudicar este profissional da saúde que tanto faz pela nossa sociedade desde a origem dessa profissão, mas, sobretudo, possui o fim de salvaguardar a parte frágil desta relação médico-paciente, posto que muitas vezes não dispõe de discernimento para identificar possível lesão ocasionada por essa relação. 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBAS, Andréa Silva; NUNES, Gilmara Pesquero Fernandes Mohr. Médico: obrigação de meio ou de resultado? Revista Intertem@s. v.9, p.9. Presidente Prudente. 2005. Disponível em: http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/Direito/article/view/289. Acesso em: 22 de set. de 2020. BRASIL. Decreto-Lei No 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 30 mar. 2021. BRASIL. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm. 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Erickson Gavazza Marques, São Paulo - SP, 18 de maio de 2021, Diário da Justiça, Brasília - DF, 18 de maio de 2021, disponível em: acesso em: https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?conversationId=&cdAcordao=14638692&cd Foro=0&uuidCaptcha=sajcaptcha_c924a397780d42e49ebcc758b031e3fe&g- recaptcha- response=03AGdBq242U2UzEZPMBdnONPcQh4Tj5fzkcLPj2fx3T23YOofrslP5ffU1M pk3a1NzQE4Kr8W7LT2siOBityEh7fitfP- uv7pl1_BFaWeh72WGBNGxMGbl2NpiJ3WgdAyvGRIwmG_M0Ut1_Q9RRYYR49LL 1Fcb4OF6XGH2FohOGUpUgjI2vWHFc_doJvdknkw6AsYKA5fKv9g8xBaIrST_eB57_ h0BZnqVRRvZhASQ7Rcd5- WjninxyNPnDhDRbarSoADCuSE7vFZZ9Eij_SvsJx4aghjpTKNFPPSSwBQxjYn7YnI2 bvCYPZTErFZAODzHG2QbNMpu62IAuQfvXXklCDDVhuusSo0eVk9H1Q_W-gB- LbVSIukTH397ACC242rBGuSSO_FRxHpsNoc14AHKt4uLXOEmu026PXW8pVlZnQ b5rfoYe6LKlkU9INqsm9d8b-_vJmsCB26fni-O6MjJmMUvOfFckvsUbQwLREid9MIt1pMtawGHQanYjp- _EVDVBlYZ3dzE0bPZthkrOs2kNAQs4u65yrJaNQ. Acesso em: 15 jun. 2021. BRASIL. Tribunal da Justiça do Estado de São Paulo. Apelação Cível. n. 1067087- 54.2017.8.26.0100 Aptes/Apdos: Prev Saúde Associação de Assistência Médica Privada e Rede D´Or São Luiz S/A - Unidade Morumbi Apelado/Apelante: Milton Massahiro Nagaoka R. M. Enéas Costa Garcia, São Paulo - SP, 09 de março de 2021, 29 Diário da Justiça, Brasília - DF, 10 de março de 2021, disponível em: https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?conversationId=&cdAcordao=14437301&cd Foro=0&uuidCaptcha=sajcaptcha_da2cf8bc7ccd4a5faa10c141c65baf34&g- recaptcha-response=03AGdBq24PpsZ1DzJS- wO8Dl7fu4Uibz7Kgy8hdV1O9haMxjs42bK1NXAXxGXYJji5tqNsAdkUjFo3E4V2paIX 7wh7IC2nKkKancMLNHylnA6TuzxMTyOyaiX- XQNPPzaRAB3AKTbFzzoWLUfqdwZzjgyzlzq34hNlhztaCe8H7aiiidrj0Mg2854e7_zo msY7yhqUIClsu0GY7v6-Q6RBK3v8L9ji-N8BxOjJTo_DQUtLdT7dH- 8gsyV1IauidRcJCLfwqkHrkfjrP6f73pFWzsopsNsRT_dt1mWl1JpyVCX37T3qzdhu_he fSgrRJ_1FqHyqhmy6adjwow7L2TfJIKIYezIz9tXgZnA_IPVcJ1WOZYNL_61RxzgI49O m-5XEQ2meUN2Nv- ZJv5ToIUTc5bX77T4FsmNxBn2yXXh1jq_n56r9E5_SmZtL86tPuVI3daeT7Ake2Gdit7 -1abrvLqwCfTdZFQRJKrrW1dFc_I7YDGW8AiEuREPv4Vk2ttq2Tv_QsrthZ51Y. Acesso em 16 jun. 2021 CORREIA-LIMA, Fernando Gomes. Erro médico e responsabilidade civil. Brasília: Ideal, 2012. 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