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Parte Especial – Do Direito das Obrigações 171 171 Ana Lucia Porto de Barros Carlos Santos de Oliveira Cleyson de Moraes Mello Fernanda Pontes Pimentel Fernando Santos Esteves Fraga João Batista Berthier Leite Soares Juarez Costa de Andrade Renato Lima Charnaux Sertã Sônia Barroso Brandão Soares Thelma Araújo Esteves Fraga Wagner de Mello Brito 2002 86 anos do lançamento do Código Civil de 1916 85 anos de fundação da Editora Freitas Bastos Nossa história sempre andou de braços dados 2 Freitas Bastos Editora O Novo Código Civil Comentado172 Parte Especial – Do Direito das Obrigações 173 173 PARTE ESPECIAL LIVRO I DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES O Novo Código Civil Comentado174 Parte Especial – Do Direito das Obrigações 175 175 LIVRO I DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES TÍTULO I DAS MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES por Renato Lima Charnaux Sertã OBRIGAÇÕES E SUAS MODALIDADES O estudo das relações jurídicas que, ao lado do sujeito e do obje- to, constituem a trípode sobre a qual se assenta o direito subjetivo, encerra o rol de institutos que se encontram na Parte Geral do Código Civil, constituindo a base para a abordagem da disciplina da Parte Especial, que se inicia a partir do artigo 233 do novo Código, e que no dizer de Orlando Gomes,1 trata do estudo dos vínculos jurídicos, de natureza patrimonial, que se formam entre sujeitos determinados para a satisfação de interesses tutelados pela lei. Várias são as fontes das obrigações, entre elas os contratos a fonte clássica as declarações unilaterais de vontade, o ato ilícito como ensejador da responsabilidade civil, o enriquecimento sem causa, entre outras. Feitas tais considerações, cumpre assinalar que o novo Código manteve a sistemática do antigo diploma, inaugurando o Livro I da Parte Especial com o Título Modalidades das Obrigações e manten- do praticamente a mesma seqüência de institutos, os quais, entrementes, consoante a arguta observação de Arnoldo Wald,2 deve- riam ser classificados por dois diferentes ângulos, quais sejam, pelo objeto, e pelos sujeitos envolvidos na relação obrigacional. Com efeito, no que toca ao objeto, isto é, ao meio pelo qual a obrigação deverá ser satisfeita, o que se dá através da prestação, temos que esta pode consistir em uma conduta objetivamente detectável no mundo fático, e que se traduz em um dar, ou em um fazer. Trata-se da chamada obrigação positiva, que se exterioriza no mundo real. 1 GOMES, Orlando. Obrigações. 8ª ed. Editora Forense, 1986, p. 1. 2 WALD, Arnoldo. Curso de Direito Civil Brasileiro: Obrigações e Contratos. 13ª ed. Editora Revista dos Tribunais, 1998. v.2, p.38. 173 O Novo Código Civil Comentado176 Já a obrigação negativa importará em uma abstenção, um deixar de fazer, uma postura que evite determinada conduta que se verifica proibida em face da obrigação assumida. Das obrigações positivas desdobram-se as modalidades de dar e de fazer, ambas tratadas tanto pelo novo como pelo antigo Código de forma bastante assemelhada. CAPÍTULO I Das obrigações de dar Seção I Das Obrigações de Dar Coisa Certa Art. 233.Aobrigaçãodedarcoisacertaabrangeosaces- sórios dela embora não mencionados, salvo se o con- trário resultar do título ou das circunstâncias do caso. Correspondente ao 864 do CCB/1916 Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equiva- lente e mais perdas e danos. Correspondente ao 865 do CCB/1916 Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. Correspondente ao 866 do CCB/1916 Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos. Correspondente ao 867 do CCB/1916 Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. Correspondente ao 868 caput do CCB/1916 Parte Especial – Do Direito das Obrigações 177 177 Parágrafo único. Os frutos percebidos são do deve- dor, cabendo ao credor os pendentes. Correspondente ao 868 p. u. do CCB/1916 Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradi- ção, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resol- verá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Correspondente ao 869 do CCB/1916 Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, res- ponderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. Correspondente ao 870 do CCB/1916 Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem cul- pa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239. Correspondente ao 871 do CCB/1916 Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhora- mento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou traba- lho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de in- denização. Correspondente ao 872 do CCB/1916 Art. 242. Se para omelhoramento, ou aumento, empre- gou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regula- rá pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. Correspondente ao 873 caput do CCB/1916 Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, ob- servar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Códi- go, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé. Correspondente ao 873 p.u. do CCB/1916 OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA Inaugura-se a Seção I do Capítulo I do referido Título, no novo Código, com as obrigações de dar coisa certa, que têm por objeto, no dizer de Serpa Lopes,3 um corpo certo e determinado. 3 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil: Obrigações em Geral. 6ª ed. Livraria Freitas Bastos,1995. v. 2. p. 57/58. O Novo Código Civil Comentado178 O conceito nos remete à classificação dos bens considerados em si mesmos, que podem ser fungíveis e infungíveis. Estes últimos, conceituados a contrario sensu no artigo 85 do atual texto e expli- citamente definidos no artigo 50 do antigo vêm a ser aqueles que, por suas características peculiares, não podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Em conseqüência, somente será satisfeita a obrigação caso seja entregue exatamente aquele bem avençado entre as partes, não po- dendo o credor ser compelido a aceitar outra coisa, ainda que mais valiosa. De notar-se que, no novel diploma, foi suprimido o texto do artigo 863 do Código de 1916, que descrevia os atributos do crédito de coisa certa, outorgando ao credor o direito de se recusar a receber coisa diversa da avençada. Dita supressão, a nosso ver, não mitigou a coercibilidade do ins- tituto, que restou intacto em sede doutrinária e jurisprudencial, ape- nas deixando agora a lei de prever expressamente um de seus atri- butos. Com efeito, se a coisa é certa, o bem será infungível, e a obriga- ção permanecerá até que dito bem seja entregue em mãos do credor. Em caso contrário, resolver-se-á em perdas e danos, havendo neste caso conversão da obrigação primitiva em outra, e não satisfação daquela. É o que se verifica, por exemplo, em seara consumerista, na hi- pótese descrita pelo artigo 35, inciso I, da Lei 8.078/90, que confere ao consumidor o alvedrio de exigir o cumprimento forçado da obri- gação nos termos da oferta efetuada pelo fornecedor de produtos: isto é, poderá exigir a entrega daquela mercadoria específica que tenha sido anunciada, nas condições previamente acenadas. Destarte,permanecem íntegras as bases do instituto, malgrado a supressão do texto antes referida. Cabe a esta altura registrar que o regramento da lei civil sobre o tema encontra correspondente no processo civil, cuja codificação prevê, no capítulo atinente à execução para entrega de coisa certa artigos 621 a 628 do CPC os passos para a concretização do direito do credor a receber o que lhe é devido. O credor, assim, disporá do instrumental necessário a alcançar o que o direito material já lhe assegurara, o que se traduz nas medi- das de busca e apreensão, se se tratar de coisa móvel, ou de imissão na posse, se se tratar de imóvel, tudo nos termos do artigo 625 da lei processual. Em se tratando de obrigação de restituir, exercendo o devedor a posse da coisa certa, enquanto não a entregar ao credor, por ela será responsável, assumindo os prejuízos que advierem de sua perda ou deterioração nos termos do artigo 239. Neste sentido já vem se pro- nunciando a jurisprudência.4 Parte Especial – Do Direito das Obrigações 179 179 Há todavia, casos em que sobrevêm motivos de força maior ou caso fortuito, que acarretam a perda ou deterioração da coisa sem culpa do devedor; aplica-se então a regra do artigo 238, segundo a qual a coisa perece para o credor e proprietário da coisa, o qual de- verá suportar o prejuízo, face à clássica excludente da responsabi- lidade civil, que neste caso beneficia o devedor. Hão de remanescer, entretanto, os direitos do credor relativos à coisa, que surgirem até o dia do sinistro. Neste sentido já alertava Clovis Bevilaqua, ao co- mentar o artigo 869 do antigo Código: Ficam ressalvados os direitos do credor até o dia em que a coisa se perde. Se, por exemplo, a coisa estava alugada, o dono perdel-a-há, se perecer, sem culpa do devedor, antes da restituição, mas tem di- reito aos aluguéis até o dia do accidente, que fez desapparecer o objecto da locação.5 Questão importante surgirá, entretanto, se a perda ou deteriora- ção ocorrer enquanto o devedor estiver em mora. Vale dizer, a resti- tuição da coisa já deveria ter ocorrido, quando então sobrevém a catástrofe que causa o desaparecimento do bem. Neste caso, a juris- prudência tem entendido que o devedor não se exime da responsa- bilidade.6 Parece-nos mais adequado, todavia, pesquisar se o prejuí- zo para o credor adviria mesmo se não ocorrida a mora do devedor. Tal cogitação era admitida pelo Código de 1916 em seu artigo 957, parte final, e foi confirmada pelo legislador de 2002, consoante se vê no novo artigo 399. No que toca ao regime das benfeitorias, verifica-se que se mante- ve o mesmo na essência, sendo de se notar que, embora o regime legal quanto aos frutos também não tenha sido alterado no novo diploma, suprimiu-se a palavra também no parágrafo único do antigo artigo 868, ficando assim mais clara a nova redação, numerada agora como artigo 237 e seu parágrafo único. De resto, permanece a disciplina tradicional em nosso direito ci- vil, de molde a privilegiar a boa-fé e punir a malícia, o que se verifica mais uma vez da leitura do artigo 242, que ratifica a proteção ao pos- suidor de boa-fé, quer no que se refere às benfeitorias, quer na percep- ção dos frutos oriundos da coisa. De tal orientação não tem discrepa- 4 RESP 38478/MG – 3ª Turma, STJ, Rel. Ministro Eduardo Ribeiro, julgado em 15.03.94, publicado do D.J. em 18.04.94. No mesmo sentido, RHC 9474/MG – 4ª Turma, STJ, Rel. Ministro, julgado em 28.03.2000 e publicado no D.J. em 19.06.2000. Ainda, Agravo de Instrumento no processo n.º 2000.002.16743, 18ª Câmara Cível TJ/RJ, Rel. Des. Nas- cimento Povoas Vaz, julgado em 13.03.2001. 5 BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Editora Livraria Francisco Alves, 1934. v. 4. p. 15. 6 Apelação Cível no processo n.º 2001.001.01779, 7ª Câmara Cível TJ/RJ, Rel. Des. Paulo Gustavo Horta, julgada em 08.05.2001. O Novo Código Civil Comentado180 do a jurisprudência, que assegura ao possuidor de boa-fé até mesmo o direito de retenção7 e nega ao possuidor de má-fé a respectiva inde- nização,8 salvo se se tratar de benfeitoria necessária.9 2. Jurisprudência Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo Acórdão: 13748 Processo: 0424545-4 Proc. princ.: 4 Recurso: Apelação Cível Origem: São Carlos Julgador: 11ª Câmara Julgamento: 11.09.1990 Relator: Sílvio Marques Decisão: unânime Publicação: MF 620/122 E M E N T A Compra e venda mercantil Produtos industrializados Início de pagamento dependente de financiamento pelo Finame Concessão após o transcurso do prazo avençado para a entrega dos bens Inviabilidade do adimplemento compulsório pedido, visto tratar-se de obrigação de dar coisa certa Art. 1092 do CC Ca- rência decretada Sentença mantida. Cominatória - Compra e venda mercantil Produtos industrializados Hipotese de obrigação de dar dos artigos 863 a 873 do Código Civil que não se confunde com a de fazer, prevista nos artigos 878 a 881 domesmo código Súmula 500 do Supremo Tribunal Federal Descabimento Ca- rência decretada - Recurso desprovido. Tribunal de Justiça do Paraná Acórdão: 14112 Descrição: Apelação Cível Relator: Des. Luiz Perrotti 7 RESP 260238/ES – 1ª Turma STJ, Rel. Ministro Garcia Vieira, julgado em 22.08.2000 e publicado no D.J. em 25.09.2000. No mesmo sentido, RESP 39887/SP – 4ª Turma STJ, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, julgado em 19.10.2000. 8 Apelação Cível no processo nº 2000.001.12929, 12ª Câmara Cível TJ/RJ, Rel. Des. José Carlos Varanda, julgado em 12.12.2000. 9 RESP 124314/SP – 4ª Turma STJ, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, julgado em 08.09.97 e publicado no D.J. em 10.11.97. Parte Especial – Do Direito das Obrigações 181 181 Comarca: Curitiba 13ª Vara Cível Órgão julgador: Terceira Câmara Cível Publicação: 10.08.1998 Decisão: Acordam os desembargadores integrantes da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao ape- lo. E M E N T A Apelação cível Indenização com obrigação de dar coi- sa certa Legitimidade Compra e venda de automóvel Quitação Entrega de documentos Obrigação do ven- dedor Recurso improvido. A negociação para a com- pra e venda do veiculo envolveu somente as partes, o preço foi pago integralmente, sendo portanto, obriga- ção do vendedor entregar todos os documentos necessá- rios para sua transferência. Decisão: não especificado Tribunal de Justiça do Distrito Federal Processo: Apelação Cível APC 4903198 DF Acórdão: 109344 Orgão julgador: 4ª Turma Civel Data: 17.09.1998 Relator: Lecir Manoel da Luz Publicação: Diário da Justiça do DF: 28.10.1998 p: 87 Observação: TJDF AGI 8758/97 Referências legislativas: Código Civil Art-995 Art-853 Código de Processo Civil Art-516 Ramo do Direito: Direito Civil EMENTA Direito Cível. Ação de dação em pagamento. Contrato de hipoteca. Resgate da dívida com títulos da dívida pública TDAS. Impossibilidade. Conhecimento. Improvimento. A dação em pagamento é acordo liberatório, estipulado entre o credor e devedor, no qual aquele consente em receber uma coisa diversa da avençada. Assim, não merece prosperar a pretensão do recorrente em compelir o recorrido a aceitar as TDAS como forma de pagamento, posto que contraria o pacto firmado en- tre as partes, bem como a natureza conciliatória da ação de dação em pagamento. O Novo Código Civil Comentado182 Nos termos do artigo 995 do Código Civil, o credor pode consentir em receber coisa que não seja dinheiro, em substituição da prestação que lhe era devida, mas a isto não está obrigado, ainda quemais valiosa a coisa, como dispõe o Artigo 853 do mesmo código. Os títulos da dívida agrária (TDAS) não se equiparam a dinheiro para resgate da dívida hipotecária. Apelação conhecida mas improvida. Unânime. Decisão: negar provimento. Unânime. Indexação: resgate, dívida, hipoteca,inexistência, obrigatoriedade, credor, recebimento, TDA, dação em pa- gamento, obrigação de dar, coisa certa. 3. Súmulas Supremo Tribunal Federal Súmula n.º 500 Não cabe a ação cominatória para compelir-se o réu a cumprir obrigação de dar. 4. Referências Cód. Proc. Civil, artigo 302, XII. Recs. Extr. 61.008, de 14.06.67 (Rev. Trim. Jurisp. 43/263); 63.726, de 05.12.67 (D. de Just. de 15.03.68); 62.942, de 20.06.67 (Rev. Trim. Jurisp. 42/697) e 64.343, de 14.11.68 (D. de Just. de 27.12.68). Seção II Das Obrigações de Dar Coisa Incerta Art. 243. A coisa incerta será indicada, aomenos, pelo gênero e pela quantidade. Correspondente ao 874 do CCB/1916 Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o con- trário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. Correspondente ao 875 do CCB/1916 Parte Especial – Do Direito das Obrigações 183 183 Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente. Correspondente ao 876 do CCB/1916 Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor ale- gar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. Correspondente ao 877 do CCB/1916 OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA Nesta modalidade de obrigação, como facilmente se pode inferir, a coisa a ser entregue será fungível, v.g., substituível por outra de igual ou assemelhada espécie, quantidade e qualidade, consoante os parâmetros traçados pelo artigo 85 antes referido. Ao reverso da possibilidade de recusa de coisa diversa da primi- tivamente avençada, a regra aqui é no sentido de se entregar, não o bem que fora recebido, mas sim outro que lhe faça as vezes. Como já se salientou em boa doutrina, a incerteza da coisa não significa indeterminação, mas determinação genericamente feita.10 Aliás, na maioria das vezes, dita obrigação surge no bojo do con- trato de mútuo de coisas consumíveis mantimentos, por exemplo em que o mutuário, a quem se atribui a obrigação de restituir a coisa incerta, jamais devolverá ao mutuante os mesmos grãos que lhe foram emprestados, eis que já consumidos e desaparecidos domundo fático. Fá-lo-á, isto sim, na forma de alimentos de qualidade assemelhada e em quantidade compatível. Daí porque se diz que, no contrato de mútuo, a propriedade da coisa mutuada se transmite à pessoa do mutuário. Assim já dispunha o artigo 1.257 do Código de 1916 e nos mesmos termos se expressa o artigo 587 do novel diploma legal, de modo que o cumprimento da obrigação do mutuário não se traduz propriamente em uma devolu- ção, mas sim em entrega de coisa diversa, embora equivalente, ao mutuante. Por via de conseqüência, em caso de perecimento da coisa incer- ta, ainda que por força maior ou caso fortuito, não poderá o devedor se eximir de sua obrigação. A uma porque o gênero é imperecível, e normalmente haverá meios de repor a coisa perdida ou deteriorada adquirindo-se outra no mercado. A duas porque, como antes se afir- mou no caso do mútuo, não pode o credor da obrigação que já não é proprietário da coisa ser afetado pela perda ou deterioração da mesma. 10 WALD, Arnoldo, op. cit., p. 43. O Novo Código Civil Comentado184 Tal posicionamento foi acolhido pelo legislador no artigo 246 do novo diploma, como já o havia sido no verbete 877 do Código revoga- do. No que concerne à escolha das coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, permaneceu o direito de exercê-la por parte do devedor da obrigação, atentando-se para o critério médio, de molde a evitar locupletamento por qualquer das partes interessadas (art. 244). Vencida esta etapa, isto é, uma vez especificado o bem a ser en- tregue, passam a vigorar as normas aplicáveis às obrigações de dar coisa certa. De relevo, outrossim, a salutar inovação do artigo 245, que somente permite a inauguração dessa fase após a inequívoca ci- ência da escolha por parte do credor, o que antes se encontrava ape- nas implícito na redação do artigo 876 do diploma revogado, gerando algumas divergências que à jurisprudência coube resolver. Em se instaurando litígio judicial, o mesmo raciocínio haverá de ser aplicado em sede processual, havendo rito específico da execução para entrega de coisa incerta, prevista nos artigos 629 a 631 do Códi- go de Processo Civil. Interessante salientar ainda que, se a coisa incerta a ser entregue for dinheiro, malgrado se tratar do bem mais fungível que se conhece, e até por isso, a execução da respectiva obrigação guiar-se-á por regras ainda mais especiais, contidas no capítulo de execução por quantia certa con- tra devedor solvente, artigo 646 e seguintes do diploma processual civil. 2. Direito Comparado CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊS DECRETO-LEI Nº 47 344, de 25 de novembro de 1966 SECÇÃO IV Obrigações genéricas ARTIGO 539º (Determinação do objecto) Se o objecto da prestação for determinado apenas quan- to ao género, compete a sua escolha ao devedor, na falta de estipulação em contrário. ARTIGO 540º (Não perecimento do género) Enquanto a prestação for possível com coisas do género Parte Especial – Do Direito das Obrigações 185 185 estipulado, não fica o devedor exonerado pelo facto de perecerem aquelas com que se dispunha a cumprir. ARTIGO 541º (Concentração da obrigação) A obrigação concentra-se, antes do cumprimento, quan- do isso resultar de acordo das partes, quando o género se extinguir a ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas, quando o credor incorrer emmora, ou ainda nos termos do artigo 797º. ARTIGO 542º (Concentração por facto do credor ou de terceiro) 1. Se couber ao credor ou a terceiro, a escolha só é efi- caz se for declarada, respectivamente, ao devedor ou a ambas as partes, e é irrevogável. 2. Se couber a escolha ao credor e este a não fizer dentro do prazo estabelecido ou daquele que para o efeito lhe for fixa- do pelo devedor, é a este que a escolha passa a competir. 3. Jurisprudência Tribunal de Justiça do Paraná Acórdão: 14171 Descrição: Apelação Cível Relator: Juiz Lauro Laertes de Oliveira Comarca: Curitiba 1ª Vara Cível Orgão julgador: Quarta Câmara Cível Publicação: 09.11.1998 Decisão: Acordam os julgadores integrantes da 4ª Câma- ra Cível do Tribunal de Justica do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso do autor (1) e negar provimento ao recurso do réu (2). EMENTA Entrega de coisa incerta Imóveis sem individualização Compra e venda de quotas sociais. 1. Cerceamento de defesa não configurado. 2. Entrega de coisa incerta Escolha incumbia ao devedor não fez devolução ao credor Procedimento correto. 3. Nulidade da notifica- ção prévia Inexistência. 4. Desnecessidade de instru- mento público Obrigação de natureza pessoal Preli- minares rejeitadas. 5. Valor da transação Não ficou ao O Novo Código Civil Comentado186 arbítrio de nenhuma das partes Validade Recurso do réu improvido. 6. Honorários advocatícios Ação condenatoria Fixação sobre o valor da condenação e não sobre o valor da causa Art. 20, § 3º, do CPC Re- curso provido. Na execução para entrega de coisa incer- ta, se o contrato não dispuser de forma contrária, incum- be ao devedor a escolha. Não fazendo no prazo de dez (10) dias, a contar da citação, devolve-se ao credor. Decisão: Não especificado Tribunal de Alçada do Paraná E M E N T A Embargos à execução de obrigação de dar coisa incer- ta Competência Artigo 103, inciso III, letra g, da Constituição Estadual Tribunal de Justiça (Apelação Cível 0097669400 Paranavaí Juiz Rafael Augusto Cassetari Oitava Câmara Cível Julg: 05.10.98 AC.: 8032 Public.: 06.11.98). Tribunal de Alçada do Paraná E M E N T A 1. Execução por notas promissórias Cláusula manda- to impressa em contrato de adesão Invalidade afron- ta ao Artigo 115 do Código Civil. A nota promissoria pode, em tese, ser emitida por mandatário com poderes espe- ciais. todavia, por vulneração ao Artigo 115 do Código Civil, é nula a cambial emitida com base em mandato, de extensão não especificada, outorgado pelos devedo- res em favor dos diretores da instituição credora. Confli- to efetivo de interesses entre representante e representa- do. 2. Obrigação de dar coisa incerta Rito inadequa- do Extinção da ação decretada. As normas processu- ais relativas ao procedimento têm natureza cogente. A execução para entrega de coisa tem rito próprio, que não se confunde com o de outra execução, sendo inad- missível sua transformação, seja de início, seja no de- curso do processo, em execução por quantia certa, a não ser no momento processual do artigo 627 do Codigo de Processo Civil. A adoção ab initio de rito inadequado leva à extinção da ação. 3. Apelo desprovido. Legislação: CC Art 115. CPC Art 627. L 8078/90 Art 51, VIII. Sum 60, do STJ. Sum 27, do STJ. CPC Art 629. Parte Especial – Do Direito das Obrigações 187 187 Doutrina: Pereira, Caio Mário da Silva Instituições de Direito Civil, 6 ed, Ed Forense, Vol I, p 98. Jurisprudência: RTJDF 13/280. (Apelação Civel 0094381300 Engenheiro Beltrão Juiz conv. Manassés de Albuquerque Quinta Câmara Cível julg: 25/09/96 AC.: 5286 - Public.: 25.10.96). Tribunal de Alçada do Paraná E M E N T A Embargos à execução. Interpretação das cláusulas da escritura pública de confissão de dívida. Execução de quantia certa. Obrigação de dar coisa genérica. Nuli- dade da execução. Recurso improvido. Nas manifesta- ções de vontade, atender-se-á mais a intenção das par- tes que o sentido literal da linguagem (inteligência do Art. 85, do CC). Restando evidenciada que a intenção das partes na Escritura Pública de Confissão de divida foi no sentido de constituir uma prestação a ser cumpri- da através da entrega de sacas de soja, não há titulo executivo hábil a ensejar a execução por quantia certa. Como existe procedimento próprio para entrega de coi- sa incerta, o qual não se confunde com o de coisa cer- ta, resta evidenciada a nulidade da execução. Legislação: CC Art 85. CPC Art 620. CPC Art 585, III. CPC Art 625. Jurisprudência: TAPR 3 CC, AC 5590, Rel. Juiz Domin- gos Ramina, DJ 04.11.94. TAPR 8 CC, AC 5733, Rel. Juiz Airvaldo Stela Alves, DJ 18/04/97. TAPR 3 CC, AC 8440, Rel Juiz Eugenio Achille Grandinetti. E, no mesmo sentido desta citação, seguem outras no acordão. (Apelação Cível 0107420200 Ponta Grossa Juiz Miguel Pessoa Sétima Câmara Cível Julg: 17.11.97 - Ac.: 7185 Public.: 28.11.97). CAPÍTULO II Das Obrigações de Fazer Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível. Correspondente ao 880 do CCB/1916 O Novo Código Civil Comentado188 Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. Correspondente ao 879 do CCB/1916 Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuí- zo da indenização cabível. Correspondente ao 881 do CCB/1916 Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. Sem Correspondência OBRIGAÇÕES DE FAZER Classificando-se ainda entre as chamadas obrigações positivas, a obrigação de fazer ocorrerá, como já ensinava Serpa Lopes,11 naquelas hipóteses em que ao invés de ter a prestação de coisa, ter-se-á a presta- ção de fato, que se traduz ordinariamente na realização de um serviço. O relevo do instituto exsurge sobremodo quando há recalcitrância no cumprimento da obligatio pelo devedor, hipótese em que o Judiciá- rio dificilmente terá meios para compeli-lo a realizar pessoalmente o serviço. Ao reverso do que ocorre nas obrigações de dar, aqui não se imagina meios equivalentes à busca e apreensão da coisa, ou à ocupa- ção forçada de bem imóvel. Isto sem se falar nas prestações personalíssimas, nas quais o devedor nem mesmo poderia contratar outrem para que às suas expensas cumprisse a obrigação. Por tais razões, sempre que for possível, o Judiciário tentará su- prir os atos que competem ao devedor inadimplente, sobremodo aque- les que se desenvolvem essencialmente na ordem jurídica, escapando ao mundo fático. À guisa de exemplo, pode-se mencionar o suprimento de consen- timento para o matrimônio, que uma vez judicialmente obtido, torna despicienda a postura dos genitores do noivo, o qual poderá ser habi- litado ao conúbio valendo-se simplesmente da sentença que lhe foi favorável. O mesmo se dá nas hipóteses de adjudicação compulsória, em que a sentença servirá de instrumento hábil à transcrição do bem pro- metido vender para o nome do autor, vitorioso da ação. Mencionem-se ainda as hipóteses dos mandados de segurança que visam compelir ente público a prover determinado cargo ou ad- 11 LOPES, Miguel Maria de Serpa, op. cit., p. 60. Parte Especial – Do Direito das Obrigações 189 189 mitir inscrição de candidato em concurso, casos em que a sentença tem o condão de satisfazer o credor. Por fim, releva salientar que tal possibilidade de suprimento do ato pelo Judiciário encontra guarida na disciplina do Código de Pro- cesso Civil, artigo 461 e seus parágrafos (cujo teor encontra-se repro- duzido também no artigo 84 do Código de Proteção e Defesa do Con- sumidor), atribuindo-se ao Judiciário as providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento, o que pode ser provido até mesmo em caráter preventivo, na forma do artigo 6o, inciso VI, do diploma consumerista. Todavia, nos casos maioria em que o facere, por sua própria natureza, somente poderá ser cumprido pelo devedor, a inadimplência resultará na conversão da obrigação em perdas e danos, a serem apu- rados em liquidação de sentença, nos termos do artigo 633 do C. P. C. Tal é o mandamento do art. 247 do novo Código Civil, que reproduz antigo preceito estampado no vetusto artigo 880. Como se vê, o balizamento do instituto foi mantido. Em tais obrigações, além da responsabilidade patrimonial que recairá sobre o devedor recalcitrante, tem sido muito utilizada a im- posição de multa de caráter cominatório em caso de descumprimento de ordem judicial, com supedâneo nos artigos 644 e 287 do Código de Processo Civil. A jurisprudência é copiosa no sentido de admitir a multa.12 Acirrada se verifica, entrementes, a discussão acerca do limite do valor da multa, havendo julgados que recomendam, com razão, a conversão da multa em perdas e danos, quando se verifica que a inci- dência diária resulta em valores emmuito superiores à obrigação prin- cipal, o que desnaturaria a própria destinação do preceito, e acarreta- ria, em numerosas hipóteses, enriquecimento sem causa, repudiado pelo Direito.13 Entrementes, nos casos em que a obrigação de fazer não ostentar cunho personal, a lei preservou a possibilidade de o credor mandar executar o fato à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, tudo nos termos do atual artigo 249, ao qual foi ainda introduzida interes- sante inovação, que se insere no seu parágrafo único: é que, em haven- do urgência, não necessita o credor compelir judicialmente o devedor a contratar terceiro para executar o serviço. Pode elemesmo, credor, exe- cutar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. 12 RESP 148229/RS – 3ª Turma STJ, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em 26.06.98 e publicado no D.J. em 13.10.98; RESP 169057/RS – 4ª Turma STJ, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, julgado em 01.06.99 e publicado no D.J. em 16.08.99.13 RESP 223782/RJ – 4ª Turma STJ, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, julgado em 20.02.2001 e publicado no D.J. EM 28.05.2001. em sentido idêntico, Agravo de Instrumento no processo n.º 2000.002.11833, 5ª Câmara Cível TJ/RJ, Rel. Des. Carlos Ferrari. O Novo Código Civil Comentado190 2. Jurisprudência Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo Acórdão: 28396 Processo: 0767831-5 Proc. Princ.: 5 Recurso: Agravo de Instrumento Origem: São Paulo Julgador: 1ª Câmara Julgamento: 09.03.1998 Relator: Luiz Correia Lima Decisão: Unânime PUBLICAÇÃO: MF36NP E M E N T A Tutela antecipada Plano de saúde Ajuizamento de ordinária de obrigação de fazer objetivando a conti- nuidade de tratamento de menor impübere com câncer cerebral Descredenciamento de hospital onde inicia- do o tratamento Situação de emergência bem como possibilidade efetiva de riscos com a mudança da equi- pe médica Necessidade damanutenção do status quo ante Verossimilhança e periculum inmora eviden- ciados Antecipação da tutela deferida Recurso provi- do para esse fim. RES/PA/VL Tribunal de Justiça de Rondônia 98.000306-7 Agravo de Instrumento Origem: Vilhena-RO (1ª Vara Cível) Agravante: Centrais Elétricas de Rondonia S/A - CERON Advogados: Sandra Pantoja de Oliveira e Outros Agravado: Município de Vilhena Advogados: Alessandro de Castro Peixoto e Outros Relator: Desembargador Sebastião T. Chaves E M E N T A AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO CAUTELAR PRE- PARATÓRIA LIMINAR CONCEDIDA MULTA DIÁRIA. Em sede de ação cautelar preparatória presentes os pres- supostos que se concentram no fumus boni iuris e no periculum in mora, é correto conceder a medida liminarmente. E, consistindo o objeto da cautelar em obrigação de fazer, impõe-se a fixação de multa diária Parte Especial – Do Direito das Obrigações 191 191 para garantia do cumprimento do preceito. Previsão legal, § 4º, art. 84, Lei nº 8.078/90 e 461, § 4º, do CPC. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Desembargadores da Câmara Cível do Tribunal de Jus- tiça do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em, por unani- midade, negar provimento ao recurso. Porto Velho, 5 de maio de 1998. Tribunal de Alçada Cível do Rio de Janeiro Contrato Apelação Cível 61403 Reg. 2908 Sexta Câmara Unânime Juiz: José Corrêa da Silva Julg: 08.09.87 E M E N T A DESCUMPRIMENTODAOBRIGAÇÃO. INDENIZAÇÃO. COMPETÊNCIA. Ação de indenização movida por moti- vo de descumprimento de cláusula contratual, que obri- ga transferência de linha telefônica. Incompetência incabível. Caracterizado o direito obrigacional, a competência é relativa, pelo critério territorial conforme Art. 94 do CPC. O descumprimento da obrigação de fazer, por impossibilidade do obriga- do, sem comprovação de fato fortuito ou de força maior, ocasiona a sua conversão em perdas e danos. Inexistindo prazo certo, amora se configura a partir da notificação. Num. ementa: 28742 Tribunal de Justiça do Distrito Federal Processo: Apelação Cível APC4914398 DF Acórdão: 111086 Orgão Julgador: 3a Turma Cível DATA: 19.11.1998 Relator: Wellington Medeiros Publicação: Diário da Justiça do DF: 10.02.1999 Pág: 45 Observação: TJ/DF APC-28060/1992 TJ/DF APC-34646/ 1995 TJ/DF APC-47819/1998 Doutrina: Código Civil comentado Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Ner pág. 673 Instituição de O Novo Código Civil Comentado192 Direito Civil Caio Mário da Silva Pereira pág. 245 Contrato e seus princípios Humberto Theodoro Júnior pág. 184 Referências legislativas: Código de Processo Civil Art. 461 Ramo do Direito: Direito Civil Ementa Direito Civil e Processual Civil Obrigação de fazer Contrato de cessão de direitos em promessa de compra e venda Ação cominatória para outorga de escritura após o pagamento do preço Descumprimento Anteci- pação da tutela Termo a quo para a aplicação da mul- ta Alegação de exorbitância no quantum cominado Cerceamento de defesa Caso fortuito ou força maior advindos de planos econômicos Inadmissibilidade Fixação de honorários Natureza de condenação sem conteúdo econômico. I Comprovados o inadimplemento e a mora da promitente-vendedora, e, bem assim, o pagamento do preço pela promitente-compradora, há de se julgar pro- cedente o pedido para outorga de escritura definitiva, nos termos avençados. II são compatíveis com o sistema de antecipação da tutela, concebido a partir do art. 461 do CPC, a outorga pleiteada e a fixação de multa diária, devida, esta, uma vez vencido o prazo estipulado para o cumprimento da obrigação. III no que pertine ao quantum estabelecido, a título de multa diária, para o caso de descumprimento da ordem judicial, há de ser levado em consideração o valor do investimento realizado pela parte autora, bem ainda, a natureza inibitória da referida sanção. IV Não se constitui em cerceamento de defesa decisão que nega a realização de audiência para a comprova- ção de caso fortuito ou força maior, advindos de dificul- dades econômico-financeiras decorrentes de planos eco- nômicos do governo, em face de entendimento pacifica- do no sentido de não se reconhecer a hipótese. V A condenação a cumprir obrigação de fazer, consubstanciada em prestar declaração de vontade, não encerra conteúdo econômico. Não sendo a condição pres- tação em dinheiro, torna-se inviável seguir eclesiastica- mente a sistemática do art. 20, parágrafo 3º, do Código de Processo Civil. Impõe-se a fixação de honorários em quan- Parte Especial – Do Direito das Obrigações 193 193 tia certa. (2ª Turma Cível APC 47.819/98 Relª. Desª. Nancy Andrighi DJDF de 1/7/98, p. 43.) (grifo nosso). Decisão: julgar conhecida e parcialmente provida, nos termos do voto do relator. Preliminares rejeitadas. Agravo retido co- nhecido e improvido. Unânime Indexação: Improcedência, agravo retido, antecipação de tutela, obrigação de fazer, repasse escritura; fixa- ção, multa; quitação pagamento, compra e venda, imó- vel, apelado; inexistência, cerceamento de defesa, ne- gação, realização, comprovação, caso fortuito, força maior; sucessão, plano econômico; inaplicabilidade, teo- ria da imprevisão. Tribunal de Alçada do Paraná EMENTA Obrigação de fazer Liberação de hipoteca Cláusula contratual Descumprimento Mora ex ré Perdas e danos Pressupostos necessários Ausência Exclusão Fixação de multa diária Possibilidade Apelação provida em parte. Havendo tempo certo fixado no con- trato para o cumprimento da obrigação, tem-se amora ex ré que resulta do próprio fato do descumprimento, independentemente da provocação do credor, ante a apli- cação da regra dies interpellat pro homine. O reconhe- cimento das perdas e danos submete-se a prova inequí- voca da sua existência no processo de conhecimento, apesar de não haver impedimento para que o valor seja apurado em liquidação de sentença. O inadimplemento de obrigação de fazer sujeita o devedor a condenação ao respectivo cumprimento, no prazo fixado, a contar do trânsito em julgado da sentença, com arbitramento de multa diária caso haja retardamento. Legilação: DL 93240/86 Art 1, Par 3, v. (Apelação Cível 0106083500 Apucarana Juiz Rogé- rio Coelho Terceira Câmara Cível Julg: 21.10.97 AC.: 9223 Public.: 31.10.97). Tribunal de Alçada de Minas Gerais Acórdão nº 19538 Processo: 0263947-2 Apelação (Cv) O Novo Código Civil Comentado194 Comarca: Poços de Caldas Órgão julg.: Terceira Câmara Cível Data julg.: 09.09.1998 Dados publ.: Não publicado Decisão: Unânime EMENTA Indenização Cumulação de pedidos Termo final É perfeitamente possível a cumulação da indenização convertida da ação executiva de obrigação de fazer com a multa cominatória imposta ao inadimplemento desta, consoante dispõe o Art. 461, parágrafo 2º do CPC. Noentanto, estando a multa cominatória prevista no Art. 644 do CPC, atrelada à obrigação de fazer, e com o escopo principal de funcionar comomeio coativo ao cum- primento da obrigação específica, esta penalidade diá- ria só perdura enquanto subsistir o inadimplemento da obrigação de fazer, não perdurando durante o trans- curso para o deferimento da convertida ação de perdas e danos, uma vez que se trata de execuções diversas, com procedimentos diferenciados, embora realizados no mesmo processo. Assuntos: Cominatória, conversão, cumulação de pedi- dos, indenização, multa, obrigação de fazer, perdas e danos CAPÍTULO III Das Obrigações de Não Fazer Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar. Correspondente ao 882 do CCB/1916 Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja absten- ção se obrigara, o credor pode exigir dele que o des- faça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcin- do o culpado perdas e danos. Correspondente ao 883 do CCB/1916 Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o cre- dor desfazer oumandar desfazer, independentemente Parte Especial – Do Direito das Obrigações 195 195 de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimen- to devido. Sem correspondência OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER Considerada na lição de Caio Mário,14 como a obrigação negativa típica, a de não fazer vem a ser aquela que se caracteriza como uma abstenção em relação ao devedor, razão pela qual considera-se este inadimplente a partir do momento em que consumar o ato a cuja abs- tenção se obrigara. Tais características geram ao menos duas conseqüências. A pri- meira consiste na possibilidade de conversão da obrigação em perdas e danos, caso não se possa desfazer o ato, o que vem preconizado no artigo 251 do novel diploma civil. A segunda concerne ao modo de incidência da multa cominatória que for aplicável nos termos do co- mentado linhas acima. É que não se há de falar em incidência periódi- ca mensal, diária, etc. da multa, mas tão-somente em aplicação da penalidade cada vez que se verificar o ato proibido. No mais, a novidade introduzida no parágrafo único do artigo 251 do novo Código é em tudo similar ao sistema introduzido pelo parágrafo único do artigo 249, já comentado. Finalmente, pode ser registrada a uniformização da nomenclatu- ra pelo legislador de 2002 em relação ao de 1916, utilizando-se o ter- mo ato para o fato humano voluntário, vocábulo empregado no artigo 250 do novo Código em substituição à palavra fato que constava do artigo 882 do anterior Código, em nomenclatura imprópria. 2. Jurisprudência Tribunal de Justiça de São Paulo E M E N T A AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER Preceito cominatório Comprovação de atividade indevida em área comum de Shopping Center, prejudicando o movi- mento de loja de condôminos Imposição de pena pecuniária Cabimento Apelo improvido. (Apelação Cível n. 78.487-4 São José dos Campos 6ª Câmara de Direito Privado Relator: Testa Marchi 06.05.99 V. U.) 14 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil; vol. II. 4ª edição. Editora Forense, 1976, p. 62. O Novo Código Civil Comentado196 E M E N T A AÇÕES DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER E CAUTELAR INOMINADA Rejeição da preliminar argüida pela ape- lante, por inconsistência, já que, em face das relações jurídicas existentes com apelada, tem legitimidade, para figurar no polo passivo da demanda Correto o decreto de procedências das ações, pois, pelos documentos jun- tados aos autos, se conclui que ilegítima é a pretensão da apelante de exigir pagamento de contribuição, em relação aos apresentados com 55 anos de idade oumais, para que possa eles usufruir de assistência médico-hos- pitalar Inalterabilidade da condenação do apelante à verba honorária, pois obedecidas as diretrizes estabelecidas pelo artigo 20, § 4º, do Código de Processo Civil Recurso improvido. (Apelação Cível n. 56.011-4 São Paulo 3ª Câmara de Férias de Direito Privado Relator: Antonio Manssur 11.08.98 - V. U.) Tribunal de Justiça de São Paulo E M E N T A OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER Antecipação da tutela Possibilidade Presença de dano de reparação dificultosa Recurso provido. Não é obstáculo à tutela antecipada a circunstância da agravada se tratar de órgão público estadual, integrante do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90, artigo 105), ao se atentar para a natureza e a razão de ser de sua criação para intervir nas relações de consumo, especifi- camente. Sobreleva notar que o uso ilícito do cadastro constitui prática abusiva, como tal reprovada pelo Có- digo de Defesa do Consumidor. (Agravo de Instrumento n. 79.949-4 São Paulo 2ª Câmara de Direito Privado Relator: Vasconcellos Pereira - 20.10.98 - V. U.) Tribunal de Justiça de São Paulo E M E N T A OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER Cautelar com finali- dade de compelir a ré a se abster de comercializar produtos farmacêuticos em estabelecimento instala- do a menos de 200 metros daquele em que a autora exerce a mesma atividade Fundamento na Lei Mu- nicipal n. 10.991/91 Diploma, entretanto, revogado por outro de n. 12.351/97, editado depois do Parte Especial – Do Direito das Obrigações 197 197 sentenciamento Irrelevância deste último fato, pois o essencial está em haver a nova lei substituído a an- terior no ordenamento, desaparecendo o direito obje- to de proteção na demanda Incidência dos artigos 303, I e 462 do Código de Processo Civil, a implicar que no julgamento cumpre levar em conta a norma válida e eficaz, quando de sua realização, para regu- lar a situação fática exposta na inicial e não aquela que deixou de existir Apelação provida, julgada im- procedente a ação. (Apelação Cível n. 7.648-4 São Paulo 5ª Câmara de Direito Privado - Relator: Marcus Andrade 18.06.98 - V. U.) CAPÍTULO IV Das Obrigações Alternativas Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou. Correspondente ao 884, caput do CCB/1916 § 1o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. Correspondente ao 884 § 1º CCB/1916 § 2o Quando a obrigação for de prestações periódi- cas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período. Correspondente ao 884 § 2º CCB/1916 § 3o No caso de pluralidade de optantes, não haven- do acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação. Sem correspondência § 4o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a esco- lha se não houver acordo entre as partes. Sem correspondência Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, sub- sistirá o débito quanto à outra. Correspondente ao 885 do CCB/1916 O Novo Código Civil Comentado198 Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cum- prir nenhuma das prestações, não competindo ao cre- dor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o va- lor da que por último se impossibilitou, mais as per- das e danos que o caso determinar. Correspondente ao 886 do CCB/1916 Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do de- vedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tor- narem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o va- lor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos. Correspondente ao 887 do CCB/1916 Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossí- veis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação. Correspondente ao 888 do CCB/1916 OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS Cuidou também o legislador de disciplinar as obrigações que têm mais de umobjeto, assim também chamadas obrigações compostas ou complexas. Na lição de Arnoldo Wald,15 em tais obrigações existe pluralidade de pretensões, cabendo ao devedor cumpri-las conjunta- mente (obrigações conjuntivas ou cumulativas) ou alternativamente (obrigações alternativas). O Código de 1916 só tratou desta última categoria, o que também fez o novo diploma. Como se sabe, nas obrigações cumulativas existe obrigatoriedade de cumprimento de todas as prestações, enquanto que nas alternativas, o devedor será liberado da obrigação cumprindo ape- nas uma delas. A disciplina do instituto das obrigações alternativas permanece essencialmente amesma, sendo seu traço característico o fato de ambas as obrigações estarem em pé de igualdade uma em relação à outra, o que vem corroborado pelo artigo 253 da lei de 2002, que faz subsistir uma das obrigações caso sobrevier a inexeqüibilidade da outra. A novidade introduzida pela nova lei reside nos parágrafos 2º, 3º e 4º do artigo 252 que constituem alteração e ampliação do preceito insculpido no §2º do artigo 884 do velho codex. O novel diploma co- gita de obrigações alternativas com prestações periódicas, nas quais a 15 WALD, Arnoldo, op. cit., p. 49. Parte Especial – Do Direito das Obrigações 199 199 faculdade de opção poderá ser exercida em cada período; o período poderá ter qualquer dimensão, e não somente a anual como antiga- mente se previa. Outrossim, foi criada na nova lei a hipótese de serem vários os devedores optantes, que divirjam quanto à escolha da pres- tação. Nesse caso, o Judiciário decidirá, sempre levando em conta, a nosso ver, que a satisfação da obrigação deve ocorrer da forma menos onerosa possível. Engendrou-se ainda, em sede doutrinária, a chamada obrigação facultativa, a qual não encontra previsão legal, nem mesmo no novo Código. Sua distinção das demais categorias, todavia, faz-se necessá- ria, consoante assevera Caio Mário. Eis que aqui se cogita apenas da possibilidade de substituição da obrigação primitiva, esta última os- tenta condição de principalidade em relação à facultativa. Na sempre preclara lição de San Tiago Dantas,16 em casos tais, a vontade dirige- se para um objeto, que é o principal, mas admite-se que o devedor se exonere se fizer uma outra prestação. Assim, prossegue omestre, sem- pre que a obrigação principal se torna impossível, a outra não é devi- da; extingue-se, pois, ipso facto. 2. Direito Comparado CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊS DECRETO-LEI Nº 47 344, de 25 de novembro de 1966 SECÇÃO V Obrigações alternativa ARTIGO 543º (Noção) 1. É alternativa a obrigação que compreende duas ou mais prestações, mas em que o devedor se exonera efectuando aquela que, por escolha, vier a ser designa- da. 2. Na falta de determinação em contrário, a escolha per- tence ao devedor. ARTIGO 544º (Indivisibilidade das prestações) O devedor não pode escolher parte de uma prestação e parte de outra ou outras, nem ao credor ou a terceiro é lícito fazê-lo quando a escolha lhes pertencer. 16 DANTAS, San Tiago. Programa de Direito Civil II – Os Contratos. Editora Rio – Sociedade Cultural Ltda. 1978, p. 40. O Novo Código Civil Comentado200 ARTIGO 545º (Impossibilidade não imputável às partes) Se uma ou algumas das prestações se tornarem impos- síveis por causa não imputável às partes, a obrigação considera-se limitada às prestações que forem possíveis. ARTIGO 546º (Impossibilidade imputável ao devedor) Se a impossibilidade de alguma das prestações for impu- tável ao devedor e a escolha lhe pertencer, deve efectuar uma das prestações possíveis; se a escolha pertencer ao credor, este poderá exigir uma das prestações possíveis, ou pedir a indemnização pelos danos provenientes de não ter sido efectuada a prestação que se tornou impossível, ou resolver o contrato nos termos gerais. ARTIGO 547º (Impossibilidade imputável ao credor) Se a impossibilidade de alguma das prestações for im- putável ao credor e a escolha lhe pertencer, considera- se cumprida a obrigação; se a escolha pertencer ao de- vedor, também a obrigação se tem por cumprida, a me- nos que este prefira efectuar outra prestação e ser indemnizado dos danos que houver sofrido. ARTIGO 548º (Falta de escolha pelo devedor) O credor, na execução, pode exigir que o devedor, dentro do prazo que lhe for fixado pelo tribunal, declare por qual das prestações quer optar, sob pena de se devolver ao credor o direito de escolha. ARTIGO 549º (Escolha pelo credor ou por terceiro) À escolha que o credor ou terceiro deva efectuar é apli- cável o disposto no artigo 542º. REAL ORDEN DE 29 DE JULIO DE 1889 Código Civil Espanhol SECCIÓN TERCERA De las obligaciones alternativas Artículo 1131 El obligado alternativamente a diversas prestaciones debe cumplir por completo una de éstas. Parte Especial – Do Direito das Obrigações 201 201 El acreedor no puede ser compelido a recibir parte de una y parte de otra. Artículo 1132 La elección corresponde al deudor, a menos que expresamente se hubiese concedido al acreedor. El deudor no tendrá derecho a elegir las prestaciones imposibles, ilícitas o que no hubieran podido ser objeto de la obligación. Artículo 1133 La elección no producirá efecto sino desde que fuere no- tificada. Artículo 1134 El deudor perderá el derecho de elección cuando de las prestaciones a que alternativamente estuviese obligado, sólo una fuere realizable. Artículo 1135 El acreedor tendrá derecho a la indemnización de daños y perjuicios cuando por culpa del deudor hubieren de- saparecido todas las cosas que alternativamente fueron objeto de la obligación, o se hubiera hecho imposible el cumplimiento de ésta. La indemnización se fijará tomando por base el valor de la última cosa que hubiese desaparecido, o el del servicio que últimamente se hubiera hecho imposible. Artículo 1136 Cuando la elección hubiere sido expresamente atribuida al acreedor, la obligación cesará de ser alternativa desde el día en que aquélla hubiese sido notificada al deudor. Hasta entonces las responsabilidades del deudor se regirán por las siguientes reglas: 1. Si alguna de las cosas se hubiese perdido por caso for- tuito, cumplirá entregando la que el acreedor elija entre las restantes o la quehayaquedado, si una sola subsistiera. 2.Si la pérdida de alguna de las cosas hubiese sobrevenido por culpa del deudor, el acreedor podrá re- clamar cualquiera de las que subsistan, o el precio de la que, por culpa de aquél, hubiera desaparecido. 3. Si todas las cosas se hubiesen perdido por culpa del deudor, la elección del acreedor recaerá sobre su precio. Las mismas reglas se aplicarán a las obligaciones de O Novo Código Civil Comentado202 hacer o de no hacer, en el caso de que algunas o todas las prestaciones resultaren imposibles. CODICE CIVILE Código Civil Italiano SEZIONE II Delle obbligazioni alternative Art. 1285 Obbligazione alternativa Il debitore di unobbligazione alternativa si libera eseguendo una delle due prestazioni dedotte in obbligazione, ma non può costringere il creditore a ricevere parte delluna e parte dellaltra (c.c.1181). Art. 1286 Facoltà di scelta La scelta spetta al debitore, se non è stata attribuita al creditore o ad un terzo (c.c.665). La scelta diviene irrevocabile con lesecuzione di una delle due prestazioni, ovvero con la dichiarazione di scelta, comunicata allaltra parte, o ad entrambe se la scelta è fatta da un terzo (c.c.666). Se la scelta deve essere fatta da più persone, il giudice può fissare loro un termine. Se la scelta non è fatta nel termine stabilito, essa è fatta dal giudice (disp. di att.al c.c. 81). Art. 1287 Decadenza dalla facoltà di scelta Quando il debitore, condannato alternativamente a due prestazioni, non ne esegue alcuna nel termine assegnatogli dal giudice, la scelta spetta al creditore. Se la facoltà di scelta spetta al creditoree questi non lesercita nel termine stabilito o in quello fissatogli dal debitore, la scelta passa a questultimo. Se la scelta è rimessa a un terzo e questi non la fa nel termine assegnatogli, essa è fatta dal giudice (c.c.631, 664; disp. di att.al c.c 81). Art. 1288 Impossibilità di una delle prestazioni Lobbligazione alternativa si considera semplice, se una delle due prestazioni non poteva formare oggetto di obbligazione (c.c.1346 e seguenti) o se è divenuta impossibile per causa non imputabile ad alcuna delle parti (c.c.1256 e seguenti). Parte Especial – Do Direito das Obrigações 203 203 Art. 1289 Impossibilità colposa di una delle prestazioni Quando la scelta spetta al debitore, lobbligazione al- ternativa diviene semplice, se una delle due prestazioni diventa impossibile anche per causa a lui imputabile. Se una delle due prestazioni diviene impossibile per colpa del creditore, il debitore è liberato dallobbligazione, qualora non preferisca eseguire laltra prestazione e chiedere il risarcimento dei danni. Quando la scelta spetta al creditore, il debitore è liberato dallobbligazione, se una delle due prestazioni diviene impossibile per colpa del creditore, salvo che questi preferisca esigere laltra prestazione e risarcire il danno. Se dellimpossibilità deve rispondere il debitore, il creditore può scegliere laltra prestazione o esigere il risarcimento del danno (c.c.1223). Art. 1290 Impossibilità sopravvenuta di entrambe le prestazioni Qualora entrambe le prestazioni siano divenute impossibili (c.c.1257) e il debitore debba rispondere riguardo a una di esse, egli deve pagare lequivalente di quella che è divenuta impossibile per lultima, se la scelta spettava a lui. Se la scelta spettava al creditore, questi può domandare lequivalente delluna o dellaltra. Art. 1291 Obbligazione con alternativa multipla Le regole stabilite in questa sezione si osservano anche quando le prestazioni dedotte in obbligazione sono più di due. CODE CIVIL Código Civil Francês Section III: Des obligations alternatives Article 1189 Le débiteur dune obligation alternative est libéré par la délivrance de lune des deux choses qui étaient comprises dans lobligation. Article 1190 Le choix appartient au débiteur, sil na pas été expressément accordé au créancier. O Novo Código Civil Comentado204 Article 1191 Le débiteur peut se libérer en délivrant lune des deux choses promises ; mais il ne peut pas forcer le créancier à recevoir une partie de lune et une partie de lautre. Article 1192 Lobligation est pure et simple, quoique contractée dune manière alternative, si lune des deux choses promises ne pouvait être le sujet de lobligation. Article 1193 Lobligation alternative devient pure et simple, si lune des choses promises périt et ne peut plus être livrée, même par la faute du débiteur. Le prix de cette chose ne peut pas être offert à sa place. Si toutes deux sont péries, et que le débiteur soit en faute à légard de lune delles, il doit payer le prix de celle qui a péri la dernière. Article 1194 Lorsque, dans les cas prévus par larticle précédent, le choix avait été déféré par la convention au créancier, Ou lune des choses seulement est périe ; et alors, si cest sans la faute du débiteur, le créancier doit avoir celle qui reste; si le débiteur est en faute, le créancier peut demander la chose qui reste, ou le prix de celle qui est périe; Ou les deux choses sont péries ; et alors, si le débiteur est en faute à légard des deux, ou même à légard de lune delles seulement, le créancier peut demander le prix de lune ou de lautre à son choix. Article 1195 Si les deux choses sont péries sans la faute du débiteur, et avant quil soit en demeure, lobligation est éteinte, conformément à larticle 1302. Article 1196 Les mêmes principes sappliquent au cas où il y a plus de deux choses comprises dans lobligation alternative. 3. Jurisprudência Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo Acórdão: 23895 Processo: 0604914-7 Parte Especial – Do Direito das Obrigações 205 205 Proc. Princ.: 7 Recurso: Apelação Sumaríssimo Origem: Ribeirão Preto Julgador: 8ª Câmara Especial de Julho Julgamento: 16.08.1995 Relator: Márcio Franklin Nogueira Decisão: Por maioria Publicação: MF 10/NP E M E N T A Mútuo cobrança Empréstimo emdinheiro feito à prefei- tura do município de Ribeirão Preto para a expansão do serviço telefônico municipal Contrato que faculta à Pre- feitura o reembolso em ações Hipótese em que, tratando- se de obrigação alternativa, e vedado a credora pleitear, desde logo, o reembolso em dinheiro ademais, em decor- rência do contrato, a apelante teve instalada, em sua casa, uma linha telefônica daquele plano de expansão, o que também a impossibilita pretender o reembolso puro e sim- ples do valor mutuado demanda improcedente recurso improvido declaração de voto vencido. Tribunal de Alçada Cível do Rio de Janeiro Obrigações Embargos do devedor Apelação Cível 5115/95 Reg. 1087-3 Cod. 95.001.05115 Terceira Câmara Unânime Juiz: Maria Collares - Julg: 28/03/96 E M E N T A EXECUÇÃO. EMBARGOS. PRESTAÇÃO DE OBRIGA- ÇÃOALTERNATIVA. Prestação de obrigação alterna- tiva. Escolha de forma de pagamento concedida ao cre- dor em documento particular que preenche os requisi- tos de Lei. Prazo para cumprimento da obrigação: cons- tituição em mora através da citação. Num. ementa: 42626 Tribunal de Justiça do Distrito Federal Processo: Apelação Cível APC 3466795 DF Acórdão: 77673 Órgão julgador: 4ª Turma Cível Data: 12.06.1995 Relator: Estevam Maia O Novo Código Civil Comentado206 Publicação: Diário da Justiça do DF: 02.08.1995 pág: 10.399 Observação: RT 507/201, JTA 90/333, 108/406, RP 3/342, STJ/RT 690/165 Doutrina: A reforma do Código de Processo Civil, Malheiros Editores, pág. 61/62 Cândido Rangel Dinamarco Referências legislativas: Código de Processo Civil art.333 inc-1 art-17 inc-1 inc-2 inc-3 art-18 art-16 Código de Pro- cesso Penal art-40 Fed Lei-8952/1994 Fed Lei-8953/1994 Ramo do Direito: Direito Processual Civil E M E N T A Civil e Processual Civil Obrigação alternativa Au- sência de opção pelo devedor Embargos à execução Improcedência Sentença mantida Litigância de má- fé Condenação Existência de crime de ação pública Providência determinada em lei Apelação improvida. 1. Se a obrigação é alternativa, compete ao devedor a escolha de seu cumprimento (CC, art. 884). Contudo, não exercido, validamente, esse direito, é lícito ao cre- dor reclamar a satisfação de seu crédito, notadamente se representado por título hábil à execução, resultando improcedentes os embargos opostos para inviabilizá-la. 2. Caracterizada a litigância de má-fé e a existência de crime de ação pública, impõe-se a sanção processual per- tinente, bem como a remessa de peças do processo ao MP, a requerimento da parte ou de ofício, pelo juiz ou tribunal. 3. Apelo improvido. Decisão: conhecer. Negar provimento. Unânime. Indexação: embargos a execução, obrigação, alternati- va, embargante, inexistência, comprovação, cumprimen- to, obrigação. Caracterização, litigante, má-fé, indeni- zação, existência, crime, ação pública. CAPÍTULO V Das Obrigações Divisíveis e Indivisíveis Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. Correspondente ao 890 do CCB/1916 Parte Especial – Do Direito das Obrigações 207 207 Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, pormotivo de ordemeconômi- ca, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. Sem correspondência Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a pres- tação não for divisível,cada um será obrigado pela dívida toda. Correspondente ao 891 caput do CCB/1916 Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub- roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. Correspondente ao 891, p. u. do CCB/1916 Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o deve- dor ou devedores se desobrigarão, pagando: Correspondente ao 892 caput do CCB/1916 I a todos conjuntamente; Correspondente ao 892, I do CCB/1916 II a um, dando este caução de ratificação dos ou- tros credores. Correspondente ao 892, II do CCB/1916 Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total. Correspondente ao 893 do CCB/1916 Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obri- gação não ficará extinta para com os outros; mas es- tes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Correspondente ao 894 caput do CCB/1916 Parágrafoúnico.Omesmocritério se observaráno caso de transação, novação, compensação ou confusão. Correspondente ao 894, p.u. do CCB/1916 Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obriga- ção que se resolver em perdas e danos. Correspondente ao 895, caput do CCB/1916 O Novo Código Civil Comentado208 § 1o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais. Correspondente ao 895 § 1º do CCB/1916 § 2o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. Correspondente ao 895 § 2º do CCB/1916 OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS Cuidou o legislador de disciplinar e classificar as obrigações, enfocando precisamente a respectiva prestação que, por sua natureza e características, pode se revelar divisível ou indivisível. Como já sa- lientava A. Wald,17 a importância dessa distinção está vinculada à possibilidade de pagamentos divididos no tempo em prestações suces- sivas. Nesse passo, incluem-se via de regra, entre as obrigações divisí- veis, a de dar coisa incerta da mesma espécie, a pecuniária, ou a obri- gação de fazer que se possa executar em etapas distintas. Esta última pode se exemplificar como o dever assumido por um pintor de efetuar a pintura de cinco casas, tarefa que pode ser cumprida em circunstân- cias e momentos claramente discriminados. De outra banda, como obrigações indivisíveis, pode-se mencio- nar a de dar coisa certa infungível, a de fazer tarefa única e insubstituível, ou ainda a obrigação de não fazer quando o fato a ser evitado é uno e individualizado. A disciplina do instituto não sofreu modificação relevante no novo Código, salvo no que se refere ao cotejo do artigo 889 do anti- go diploma, com o artigo 258 do novo, dispositivos que aparente- mente tratam de hipóteses diversas, mas em verdade refletem tra- tamento jurídico que sofreu algum deslocamento através do tem- po. O vestusto artigo 889 rezava: Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. Consagra- va assim o legislador de 1916 a regra geral da indivisibilidade da obri- gação, malgrado a prestação fosse divisível. Todavia, já o insigne ju- rista Clóvis Beviláqua, principal mentor daquele Código, salientava que era a prestação e suas características o que imprimia o caráter divisível ou indivisível à obrigação, e não propriamente a vontade das partes envolvidas. 17 WALD, Arnoldo, op. cit., p. 53. Parte Especial – Do Direito das Obrigações 209 209 No mesmo sentido se aliou melhor doutrina, como por exemplo Orlando Gomes,18 para quem no conceito de obrigação indivisível de- vem estar compreendidas as prestações que tenham por objeto uma coisa, um fato, insuscetível de divisão por sua natureza ou pelo modo considerado pelas partes contratantes. O legislador de 2002 pautou-se por tal doutrina, e utilizou nova abordagem do tema que se encontra estampada no novel ar- tigo 258. Dito dispositivo preconiza ser a obrigação indivisível nas hipóteses que menciona, todas porém referentes às circuns- tâncias que envolvem a própria prestação. Note-se que o novo texto legal não reproduziu os obstáculos ao pagamento parcelado que constavam do antigo artigo 889. Admite-se, pois, que o deve- dor possa quitar sua obrigação em partes, desde que tal conduta seja compatível com as razões econômicas ou o espírito do con- trato subjacente à obrigação. 2. Direito Comparado CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊS DECRETO-LEI Nº 47 344, de 25 de novembro de 1966 SECÇÃO III Obrigações divisíveis e indivisíveis ARTIGO 534º (Obrigações divisíveis) São iguais as partes que têm na obrigação divisível os vários credores ou devedores, se outra proporção não resultar da lei ou do negócio jurídico; mas entre os her- deiros do devedor, depois da partilha, serão essas partes fixadas proporcionalmente às suas quotas hereditárias, sem prejuízo do disposto nos nºs 2 e 3 do artigo 2098º. ARTIGO 535º (Obrigações indivisíveis com pluralidade de devedo- res) 1. Se a prestação for indivisível e vários os devedores, só de todos os obrigados pode o credor exigir o cumprimen- to da prestação, salvo se tiver sido estipulada a solidari- edade ou esta resultar da lei. 18 GOMES, Orlando, op. cit., p. 92. O Novo Código Civil Comentado210 2. Quando ao primitivo devedor da prestação indivisível sucedam vários herdeiros, também só de todos eles tem o credor a possibilidade de exigir o cum- primento da prestação. ARTIGO 536º (Extinção relativamente a um dos devedores) Se a obrigação indivisível se extinguir apenas em rela- ção a algum ou alguns dos devedores, não fica o credor inibido de exigir a prestação dos restantes obrigados, contanto que lhes entregue o valor da parte que cabia ao devedor ou devedores exonerados. ARTIGO 537º (Impossibilidade da prestação) Se a prestação indivisível se tornar impossível por facto imputável a algum ou alguns dos devedores, ficam os outros exonerados. ARTIGO 538º (Pluralidade de credores) 1. Sendo vários os credores da prestação indivisível, qualquer deles tem o direito de exigi-la por inteiro; mas o devedor, enquanto não for judicialmente citado, só re- lativamente a todos, em conjunto, se pode exonerar. 2. O caso julgado favorável a um dos credores aproveita aos outros, se o devedor não tiver, contra estes, meios especiais de defesa. REAL ORDEN DE 29 DE JULIO DE 1889 Código Civil Espanhol SECCIÓN QUINTA De las obligaciones divisibles y de las indivisibles Artículo 1149 La divisibilidad o indivisibilidad de las cosas objeto de las obligaciones en que hay un solo deudor y un solo acreedor no altera ni modifica los preceptos del capítulo II de este título. Artículo 1150 La obligación indivisible mancomunada se resuelve en indemnizar daños y perjuicios desde que cualquiera de Parte Especial – Do Direito das Obrigações 211 211 los deudores falta a su compromiso. Los deudores que hubiesen estado dispuestos a cumplir los suyos, no contribuirán a la indemnización con más cantidad que la porción correspondiente. Artículo 1151 Para los efectos de los artículos que preceden, se reputarán indivisibles las obligaciones de dar cuerpos ciertos y todas aquellas que no sean susceptibles de cumplimiento parcial. Las obligaciones de hacer serán divisibles cuando tengan por objeto la prestación de un número de días de trabajo, la ejecución de obras por unidades métricas, u otras cosas análogas que por su naturaleza sean susceptibles de cumplimiento parcial. En las obligaciones de no hacer, la divisibilidad o indivisibilidad se decidirá por el carácter de la prestación en cada caso. CODE CIVIL Código Civil Francês Section V: Des obligations divisibles et indivisibles Article 1217 Lobligation estdivisible ou indivisible selon quelle a pour objet ou une chose qui dans sa livraison, ou un fait qui dans lexécution, est ou nest pas susceptible de division, soit matérielle, soit intellectuelle. Article 1218 Lobligation est indivisible, quoique la chose ou le fait qui en est lobjet soit divisible par sa nature, si le rapport sous lequel elle est considérée dans lobligation ne la rend pas susceptible dexécution partielle. Article 1219 La solidarité stipulée ne donne point à lobligation le caractère dindivisibilité. O Novo Código Civil Comentado212 CAPÍTULO VI Das Obrigações Solidárias Seção I Disposições Gerais Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obri- gação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. Correspondente ao 896, p.u., do CCB/1916 Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Correspondente ao 896, caput, do CCB/1916 Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e sim- ples para um dos co-credores ou co-devedores, e con- dicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro. Correspondente ao 897 do CCB/1916 Seção II Da Solidariedade Ativa Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direi- to a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. Correspondente ao 898 do CCB/1916 Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daque- les poderá este pagar. Correspondente ao 899 do CCB/1916 Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidá- rios extingue a dívida até o montante do que foi pago. Correspondente ao 900, caput, do CCB/1916 Art. 270. Se um dos credores solidários falecer dei- xando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Correspondente ao 901 do CCB/1916 Parte Especial – Do Direito das Obrigações 213 213 Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e da- nos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade. Correspondente ao 902 do CCB/1916 Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou re- cebido o pagamento responderá aos outros pela par- te que lhes caiba. Correspondente ao 903 do CCB/1916 Art. 273. A um dos credores solidários não pode o de- vedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros. Sem correspondência Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favo- rável aproveita-lhes, a menos que se funde em exce- ção pessoal ao credor que o obteve. Sem correspondência Seção III Da Solidariedade Passiva Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmen- te, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados so- lidariamente pelo resto. Correspondente ao 904 do CCB/1916 Parágrafo único. Não importará renúncia da solida- riedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores. Correspondente ao 910 do CCB/1916 Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer dei- xando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pa- gar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. Correspondente ao 905 do CCB/1916 Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos deve- dores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quan- tia paga ou relevada. Correspondente ao 906 do CCB/1916 O Novo Código Civil Comentado214 Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores soli- dários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes. Correspondente ao 907 do CCB/1916 Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado. Correspondente ao art. 908 do CCB/1916 Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta so- mente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida. Correspondente ao art. 909 do CCB/1916 Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a to- dos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a ou- tro co-devedor. Correspondente ao art. 911 do CCB/1916 Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Correspondente ao art. 912 do CCB/1916 Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidarie- dade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais. Correspondente ao art. 912 p.u. do CCB/1916 Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no dé- bito, as partes de todos os co-devedores. Correspondente ao art. 913 do CCB/1916 Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidarieda- de pelo credor, pela parte que na obrigação incum- bia ao insolvente. Correspondente ao art. 914 do CCB/1916 Parte Especial – Do Direito das Obrigações 215 215 Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusiva- mente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar. Correspondente ao art. 915 do CCB/1916 OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS Conforme se salientou acima, na classificação proposta por A. Wald, as obrigações também se distinguem pelos sujeitos nelas envol- vidos, sendo a pluralidade de sujeitos em um mesmo polo da relação obrigacional, condição necessária, embora não suficiente, para o surgimento das chamadas obrigações solidárias. Consoante as observações de Caio Mário,19 observa-se na solida- riedade uma pluralidade subjetiva mais de um credor ou mais de um devedor à qual se soma a chamada unidade objetiva, em virtude da qual há uma só obrigação, sendo que cada credor ou devedor assu- me o crédito ou o débito por inteiro. Se ativa a solidariedade, qual- quer dos credores pode cobrar toda a dívida; se passiva, cada devedor pode vir a ser cobrado pelo total do débito. A essa altura, é de se observar que por vezes ocorre certa confu- são entre as obrigações solidárias e as indivisíveis, as quais todavia verificam-se nitidamente distintas. As primeiras têm caráter subjeti- vo, originam-se nas pessoas, que convencionaram o surgimento da solidariedade ou submeteram-se às hipóteses legais em que tal insti- tuto incide; as últimas têm caráter subjetivo e objetivo, comprevalência deste último, eis que resultam do objeto, isto é, da prestação que não se pode dividir. Acrescente-se que enquanto as obrigações indivisíveis não per- dem seu caráter de unicidade quando transmitidas aos herdeiros do devedor, o mesmo já não ocorre quanto às obrigações solidárias que se desnaturam quanto a este aspecto em havendo sucessão. É o que deflui do regramento do artigo 270 do novo Código; no mesmo senti- do, o artigo 276. É de se observar ainda que, enquanto a obrigação solidária con- serva-se como tal quando convertida em perdas e danos (art. 271), tal conversão desnatura a indivisibilidade da obrigação, até porque a in- denização traduzir-se-á em pecúnia, que é, por sua própria natureza, coisa divisível por excelência. Entrementes, ainda que o legislador brasileiro tenha concebido a doutrina da unidade objetiva, fê-lo de forma mitigada, eis que permi- tiu diversidade de conteúdo da obrigação em relação aos vários sujei- tos envolvidos na relação jurídica. 19 PEREIRA, Caio Mario da, op. cit., p. 74. O Novo Código Civil Comentado216
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