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Direito Penal (Prof. Nidal Ahmad)

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1 
 
 
 
DIREITO PENAL 
PROF. NIDAL AHMAD 
 
 
2 
 
DIREITO PENAL 
PROF. NIDAL AHMAD 
SUMÁRIO 
01.TEORIA DA NORMA ........................................................................................................... 2 
02. CRIMES OMISSIVOS, NEXO DE CAUSALIDADE, DOLO E CULPA ................... 18 
03. MÉRITO E DIREITO MATERIAL: TIPICIDADE ........................................................ 58 
04. MÉRITO E DIREITO MATERIAL: EXCLUDENTE DE ILICITUDE E 
CULPABILIDADE ................................................................................................................... 79 
5. CONCURSO DE PESSOAS............................................................................................ 106 
06. TEORIA DA PENA .......................................................................................................... 111 
07. PARTE GERAL - LIVRAMENTO CONDICIONAL, EFEITO DA SENTENÇA 
PENAL CONDENATÓRIA, MEDIDA DE SEGURANÇA ............................................. 146 
9. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE .................................................................................... 158 
 
01. TEORIA DA NORMA 
1. Da aplicação da Lei Penal 
1.1. DA LEI PENAL NO TEMPO – Art. 2º CP 
Pelo princípio tempus regit actum (‘o tempo rege o ato’), a lei penal não 
alcança os fatos ocorridos antes ou depois de sua vigência, de forma que, em 
regra, a lei aplicável a um crime é aquela vigente ao tempo da execução deste 
crime. 
A regra, pois, é que a atividade da lei penal se dê no período de sua 
vigência; a extra-atividade, representada pela retroatividade da lei mais benéfica 
e pela ultratividade, configura exceção a esta regra. 
Exemplos dos princípios expostos: 
Ex1: “A” pratica um crime sob a vigência da lei X, que comina pena de 
reclusão de 1 a 4 anos. Por ocasião do julgamento, passa a viger a lei Y, regulando 
o mesmo fato e impondo a pena de 2 a 8 anos. Qual a lei a ser aplicada, a anterior, 
mais benéfica, ou a posterior, mais severa? 
 
 
3 
 
Deve ser aplicada a lei X, porquanto a lei Y é mais severa, incidindo, no 
caso, o princípio da irretroatividade da lei mais severa. Portanto, é possível a 
aplicação de uma lei não obstante cessada a sua vigência, desde que mais 
benéfica que a lei posterior. Esse fenômeno chama-se ultratividade, que, em 
última análise, quer dizer que se a lei antiga for mais favorável, prevalecerá ao 
tempo da vigência da lei nova, mesmo estando revogada. 
Ex2: “B” realiza uma conduta punível sob a vigência de lei X, que comina 
pena de 2 a 4 anos de reclusão. Na ocasião de ser proferida a sentença, passa a 
vigorar a lei Y, determinando, para o mesmo comportamento, a pena de reclusão 
de 1 a 4 anos. Qual a lei a ser observada, a anterior, mais severa, ou a posterior, 
mais benigna? 
Aplica-se a lei mais benigna prevalece sobre a mais severa, prolongando-
se além do instante de sua revogação ou retroagindo ao tempo em que não tinha 
vigência. É a retroatividade da lei mais benéfica. 
 
1.2. HIPÓTESES DE CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO 
1.2.1. ABOLITIO CRIMINIS 
Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova deixa de considerar 
crime fato que anteriormente era considerado como ilícito penal. A nova lei, 
demonstrando não haver mais, por parte do Estado, interesse na punição do 
autor de determinado fato, retroage para alcançá-lo. É decorrência da previsão 
do art. 5º, XL, CF, e art. 2º, do CP. 
A abolitio criminis, além de conduzir à extinção da punibilidade, apaga 
todos os efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo, no entanto, 
íntegros seus efeitos na esfera cível. É o que se extrai do artigo 2º do Código Penal. 
Assim, por exemplo, se o sujeito registrar contra si sentença condenatória 
transitada em julgado por fato que deixou de ser considerado crime praticar 
novo crime, não será considerado reincidente. 
Os efeitos civis, no entanto, permanecerão hígidos, sendo possível a vítima 
buscar a reparação de danos na esfera cível por meio da respectiva ação de 
 
 
4 
 
execução, já que a sentença penal condenatória transitada em julgado constitui 
título executivo. 
Imaginemos que o agente tenha sido definitivamente condenado pelo 
crime de sedução (art. 217 do CP) em 2004, que deixou de ser crime pela Lei 
11.106/2005. Se esse agente praticar um crime de furto em 2007, por exemplo, não 
será considerado reincidente, pois a Lei 11.106/2005 aboliu do ordenamento 
jurídico o crime de sedução, apagando todos os efeitos da sentença penal 
condenatória. 
No entanto, a vítima seduzida poderia buscar a reparação de danos na 
esfera cível. 
* Para todos verem: esquema 
 
 
 
 
 
1.2.2. NOVATIO LEGIS IN MELLIUS 
Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias 
maneiras. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos 
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em 
julgado (CP, art. 2, parágrafo único). 
Assim, se a lei nova, por exemplo, reduzir a pena mínima de uma 
determinada infração penal ou passar a prever benefício até então inexistente, 
deverá retroagir para alcançar os fatos praticados antes da sua vigência, ainda 
que tenha sido proferida sentença transitada em julgado. 
 
Abolitio 
Criminis
Fato deixa de 
ser crime
Cessam todos 
os efeitos 
penais
Permanecem 
os efeitos 
cíveis
Causa de 
extinção da 
punibilidade
 
 
5 
 
1.2.3. NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA 
A lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos (novatio legis 
incriminadora). 
A novatio legis incriminadora, ao contrário da abolitio criminis, considera 
crime fato anteriormente não incriminado, e somente irá gerar efeitos para fatos 
praticados após à sua vigência, razão pela qual não retroage para alcançar fatos 
praticados antes da sua vigência. 
A Lei n. 10.224, de 15 de maio de 2001, tornou crime de assédio sexual a 
conduta de constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou 
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior 
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função, 
o que até então era um indiferente penal, sendo tal situação resolvida, 
invariavelmente, em outra área do direito, notadamente na esfera ou trabalhista. 
Por conferir tratamento severo, a novatio legis incriminadora, por 
evidente, não retroage para alcançar fatos praticados antes da sua vigência, 
tendo eficácia, portanto, somente em relação aos fatos praticados a partir da sua 
vigência. 
1.2.4. NOVATIO LEGIS IN PEJUS 
A quarta hipótese refere-se à nova lei mais severa a anterior (a nova lei de 
drogas, Lei n. 11.343/06, no art. 33, aumentou a pena do crime de tráfico de 
drogas). Incide, no caso, o princípio da irretroatividade da lei penal: "a lei penal 
não retroagirá, salvo para beneficiar o réu" (CF/88, art. 5º, XL). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
EM RESUMO 
* Para todos verem: mapa mental sobre Lei Penal no tempo 
 
1.3. CRIME PERMANENTE E CRIME CONTINUADO E LEI PENAL MAIS BENÉFICA 
Aplica-se a lei nova durante a atividade executória do CRIME PERMANENTE, 
ainda que seja prejudicial ao réu, já que a cada momento da atividade criminosa está 
presente a vontade do agente. 
Da mesma forma, em sendo o CRIME CONTINUADO uma ficção, considerando 
que uma série de crimes constitui um único delito para a finalidade de aplicação da 
pena, o agente responde pelo que praticou em qualquer fase da execução do crime 
continuado. Portanto, se uma lei penal nova tiver vigência durante a continuidade 
delitiva, deverá ser aplicada ao caso, prejudicando ou beneficiando. 
É o que diz a Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime 
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da 
continuidade ou da permanência”. 
Assim, se, por exemplo, o agente sequestrou a vítima na vigência de uma lei, e, 
posteriormente, enquanto ainda estava se desenrolando o delito,com a vítima no 
 
 
7 
 
cativeiro, sobrevém lei nova elevando a pena mínima do crime de extorsão mediante 
sequestro, essa lei incidirá sobre o fato, ainda que tenha conferido tratamento mais 
severo. 
 
Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou 
ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da 
continuidade ou da permanência.” 
 
 
2. Lei Penal no tempo: Lei temporária e lei excepcional; tempo e 
lugar do crime 
2.4. LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA – Art. 3º do CP 
2.4.1. Conceito 
De acordo com o art. 3º do CP, as leis excepcionais ou temporárias, embora 
decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que as determinaram, 
aplicam-se aos fatos praticados durante sua vigência. 
São as leis autorrevogáveis. Comportam duas espécies: 
* LEIS EXCEPCIONAIS: são feitas para durar enquanto um estado anormal 
ocorrer. Cessam a sua vigência ao mesmo tempo em que a situação excepcional 
também terminar. Portanto, são aquelas promulgadas em caso de calamidade pública, 
guerras, revoluções, cataclismos, epidemias, etc. 
* LEIS TEMPORÁRIAS: São as editadas com período determinado de duração, 
portanto, dotadas de autorrevogação. É feita para vigorar em um período de tempo 
previamente fixado pelo legislador. Traz em seu bojo a data de cessação de sua vigência. 
É uma lei que desde a sua entrada em vigor está marcada para morrer. 
 
2.4.2. Características 
A) São autorrevogáveis 
Em regra, uma lei somente pode ser revogada por outra lei, posterior, que a 
revogue expressamente, que seja com ela incompatível ou que regule integralmente a 
matéria nela tratada. 
 
 
8 
 
As leis de vigência temporária constituem exceção a esse princípio, visto que 
perdem sua vigência automaticamente, sem que outra lei as revogue. 
 
B) São ultrativas 
A ultratividade significa que uma lei revogada continua gerando efeitos. É o caso 
da lei temporária e lei excepcional, que continuarão gerando efeitos em relação aos fatos 
praticados durante sua vigência, mesmo após de revogadas. 
 
* Para todos verem: esquema sobre lei temporária e lei excepcional: autorrevogáveis/ultratividade 
 
 
* Para todos verem: mapa mental sobre lei penal no tempo 
 
 
 
9 
 
2.5. DO TEMPO DO CRIME – Art. 4º 
A análise do âmbito temporal da aplicação da lei penal necessita da fixação do 
momento em que se considera o delito cometido. 
O Código Penal adotou a teoria da atividade, segundo a qual se reputa praticado 
o delito no momento da conduta, não importando o instante do resultado. 
Diante disso, se, por exemplo, o agente, ao tempo da ação, contava com 17 anos, 
11 meses e 25 dias, de idade, efetua disparos de arma de fogo contra a vítima, que vem a 
falecer 10 dias depois, devemos indagar se incidirão as normas de direito penal ou as 
normas relativas ao Estatuto da Criança e Adolescente. 
Nesse caso, considerando-se a teoria da atividade, incidirão as normas do 
Estatuto da Criança e Adolescente, Lei n. 8.069/90, uma vez que, ao tempo da ação, o 
agente era menor de 18 anos e, portanto, inimputável, não incidindo, assim, normas do 
Código Penal. Em outras palavras, ficará afastada a aplicação da lei penal, podendo o 
agente ser submetido a medida socioeducativa. 
 
2.6. LUGAR DO CRIME – Art. 6º 
A determinação do lugar em que o crime se considera praticado é decisiva no 
tocante à competência penal internacional. Surge o problema quando o crime se 
desenrola em lugares diferentes. 
A aplicação do princípio da territorialidade guarda relação com a determinação 
do lugar em que o crime se considera praticado, tendo relevância, ainda, no tocante à 
competência penal internacional. 
Convém, de logo, esclarecer que o tema aqui estudado não se confunde com a 
fixação da competência territorial, cuja determinação, via de regra, leva em conta o lugar 
da consumação do delito, conforme prevê o artigo 70 do Código de Processo Penal. 
O Código Penal adotou a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual é lugar 
do crime tanto onde houve a conduta, quanto o local onde se deu o resultado. 
Nos termos da teoria da ubiquidade, mista ou da unidade, lugar do crime é 
aquele em que se realizou qualquer dos momentos do iter, seja da prática dos atos 
executórios, seja da consumação. 
Essa foi a teoria adotada pelo Código Penal, já que, segundo o artigo 6º 
“Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou 
em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. 
 
 
10 
 
A expressão “deveria produzir-se o resultado” refere-se às hipóteses de tentativa. 
Aplica-se a lei brasileira ao crime tentado cuja conduta tenha sido praticada fora dos 
limites territoriais (ou do território por extensão), desde que o impedimento da 
consumação se tenha dado no País. 
Assim, na hipótese de o agente, que se encontra na cidade brasileira de Santana 
do Livramento/RS, efetuar disparos contra a vítima que se encontra na cidade de Rivera, 
em solo Uruguaio, separada por uma rua do Município brasileiro, vindo este a falecer, 
aplica-se a lei penal brasileira, já que os atos executórios do crime foram praticados em 
território brasileiro, embora o resultado tenha sido produzido em país estrangeiro. 
Da mesma forma, se um Americano, residente na Argentina, envia uma carta-
bomba a um brasileiro, que se encontra no Rio de Janeiro, vindo o engenho a explodir 
no momento em que a vítima abriu o pacote que a continha, resultando na sua morte, 
também aplica-se a lei penal brasileira, já que os atos executórios foram praticados no 
estrangeiro e o resultado se produziu em território brasileiro. 
 
* Para todos verem: esquema sobre tempo e lugar do crime. Tempo do crime: teoria da 
atividade. Lugar o crime: teoria da ubiquidade. 
 
 
3. Lei Penal no espaço: Territorialidade e da extraterritorialidade 
da lei penal 
3.7. DA LEI PENAL NO ESPAÇO – Art. 5º 
3.7.1. INTRODUÇÃO 
A Lei Penal é elaborada para vigorar dentro dos limites em que o Estado exerce 
a sua soberania. 
Via de regra, pelo princípio da territorialidade, aplica-se as leis brasileiras aos 
delitos cometidos dentro do território nacional. Esta é uma regra geral, que advém do 
conceito de soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes 
aos acontecimentos dentro do seu território. 
 
 
11 
 
Territorialidade: é a regra. Ao crime cometido no território nacional, aplica-se a 
lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, 
conforme art.5º e seus parágrafos. 
3.7.2. TERRITÓRIO BRASILEIRO POR EQUIPARAÇÃO (EMBARCAÇÕES E 
AERONAVES) 
Nos termos do artigo 5º, § 1º, do CP, duas situações de território brasileiro por 
equiparação: 
A) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do 
governo brasileiro onde estiverem. 
B) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade privada, que 
estiverem navegando em alto-mar ou sobrevoando águas internacionais. 
Nesse contexto, se, por exemplo, um Oficial da Marinha do Brasil é assassinado 
por um marinheiro dentro da embarcação pública brasileira, que se encontrava atracada 
num Porto dos Estados Unidos, aplica-se a lei brasileira, uma vez que, para efeitos penais, 
consideram-se como extensão do território brasileiro as embarcações de natureza 
pública, onde quer que se encontrem. 
De outro lado, se durante um cruzeiro marítimo em embarcação privada 
brasileira, cruzando alto-mar, um turista resolve provocar lesão corporal em outro turista, 
incidirá a lei penal brasileira, uma vez que, para efeitos penais, consideram-se como 
extensão do território brasileiro as embarcações de natureza privada que estiverem 
navegando em alto-mar. 
Os navios estrangeiros em águas territoriais brasileiras, desde que públicos, não 
são considerados parte do nosso território. Em face disso, os crimes neles cometidos 
devem ser julgados de acordo com alei da bandeira que ostentam. Se, entretanto, são 
de natureza privada, aplica-se a lei brasileira (art. 5º, § 2º). 
* Para todos verem: esquema 
 
 
Território nacional 
extensão
Embarcação ou 
aeronave
Pública ou serviço 
de governo 
brasileiro
Onde quer que 
estejam
Privado Alto-mar
 
 
12 
 
* Para todos verem: mapa mental sobre Aplicação da Lei Penal 
 
3.8. EXTRATERRITORIALIDADE 
Extraterritorialidade: é uma exceção. Mesmo que o crime seja cometido fora do 
Brasil, os agentes se sujeitam à lei brasileira, nas hipóteses mencionadas no art. 7º, do 
CP, quais sejam: 
* Para todos verem: quadro 
EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA 
a) contra a vida ou a liberdade do 
Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé 
pública da União, do Distrito Federal, 
de Estado, de Território, de 
Município, de empresa pública, 
sociedade de economia mista, 
Nestes casos, o agente é punido segundo a lei 
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no 
estrangeiro. 
 
 
13 
 
autarquia ou fundação instituída 
pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, 
por quem está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente 
for 
brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA 
a) que, por tratado ou convenção, o 
Brasil se obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou 
embarcações brasileiras, mercantes 
ou de propriedade privada, quando 
em território estrangeiro e aí não 
sejam julgados. 
Nestes casos, a aplicação da lei brasileira depende 
do concurso das seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que 
foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos 
quais a lei brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no 
estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no 
estrangeiro ou, por outro motivo, não estar 
extinta a punibilidade, 
segundo a lei mais favorável. 
Cometido por estrangeiro contra 
brasileiro fora do Brasil. 
se, reunidas as condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi 
praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos 
quais a lei brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro 
ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro 
ou, por outro motivo, não estar extinta a 
punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
 + 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da 
Justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
* Para todos verem: mapa mental sobre Extraterritorialidade da Lei Penal 
 
 
* Para todos verem: esquema 
 
Extraterritorialidade
Incondicionada 
Art. 7º, I, do CP
Contra a vida ou a 
liberdade do Presidente da 
República
Contra patrimonio ou a fé 
pública da Administração 
Pública
Contra a Administração 
Pública, por quem está a 
seu serviço
De genocídio, quando o 
agente for brasileiro ou 
domiciliado no Brasil
Condicionada
Art. 7º, II, CP
Que, por tratado ou 
convenção, o Brasil 
obrigou a reprimir
Praticados por brasileiro
Praticados em aeronaves ou 
embarcações brasileiras, mercantes 
ou de propriedade privada, quando 
em território estrangeiro e aí não 
sejam julgados
 
 
15 
 
4. Conflito aparente de normas 
4.9.1. CONCEITO 
É o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente 
aplicáveis ao mesmo fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o 
fato, mas é aparente, porque apenas uma delas acaba sendo aplicada à hipótese. 
 
4.9.2. PRINCÍPIOS PARA A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS APARENTES DE NORMAS 
A) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE 
Trata-se da aplicação da regra de que a norma especial afasta a aplicação da lei 
geral, representado pelo brocardo “lex specialis derrogat generali”. 
A lei especial, ou específica, caracteriza-se por se revestir de sentido diferenciado, 
individualizado, que a particulariza em relação às demais normas. Dito de outro modo, a 
norma penal especial reúne todos os elementos típicos da lei geral, mas se revestem de 
outros elementos que a torna especial, que a particulariza, chamados especializantes. 
E, nos termos do artigo 12 do Código Penal, a norma especial prevalece sobre a 
lei geral. 
Tomemos, novamente, como exemplo o caso de uma mãe matar, sob influência 
do estado puerperal, o próprio filho, logo após o parto. Há um único fato sobre o qual, 
aparentemente, pode incidir o crime de homicídio, previsto no artigo 121 do Código 
Penal, ou infanticídio, previsto no artigo 123 do Código Penal. O crime de infanticídio 
possui núcleo idêntico ao do crime de homicídio, ou seja, reúne todos os elementos 
descritos no artigo 121 do Código Penal, consistentes em “matar alguém”. Todavia, além 
dos elementos da norma geral, o artigo 123 do Código Penal, que tipifica o delito de 
infanticídio, possui elementos que o especializa e diferencia do crime de homicídio: 
autora ser a genitora da vítima, que deve ser seu próprio filho, nascente ou neonato; 
prática do delito durante ou logo após o parto, sob influência do estado puerperal. 
Note-se que se estabeleceu um conflito entre as normas do artigo 121 do Código 
Penal e artigo 123 do Código Penal, mas que é aparente, pois será solucionado pelo 
princípio da especialidade, prevalecendo, no caso, a norma penal que define o crime de 
infanticídio, já que as elementares contidas nesse crime a tornam especial em relação à 
norma geral que define o homicídio. 
 
 
 
 
16 
 
B) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 
B.1) Conceito de norma subsidiária 
Uma norma é considerada subsidiária à outra, quando a conduta nela prevista 
integra o tipo da principal, significando que a lei principal afasta a aplicação da lei 
secundária. 
Há relação de subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de violação 
do mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor 
gravidade que a da principal é absorvida por esta. 
O crime de ameaça (CP, art. 147) cabe no de constrangimento ilegal mediante 
ameaça (CP, art. 146), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158). O sequestro 
(art. 148) no de extorsão mediante sequestro (CP, art. 159). O disparo de arma de fogo (Lei 
10.826/2003, art. 15) cabe no de homicídio cometido mediante disparos de arma de fogo 
(CP, art. 121). Há um único fato, o qual pode ser maior do que a norma subsidiária, só se 
pode encaixar na primária. 
 
 
B.2) Espécies 
a) Subsidiariedade Expressa ou explícita 
Ocorre quando a própria lei indica ser a norma subsidiária de outra. Quando a 
norma, em seu próprio texto, subordina a sua aplicação à não-aplicação de outra, de 
maior gravidade punitiva. 
A própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário, admitindo 
incidir somente se não ficar caracterizado fato de maior gravidade. 
Ex. Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais 
grave. 
 
B.2) SUBSIDIARIEDADE TÁCITA OU IMPLÍCITA 
A subsidiariedade tácita ou implícita ocorre quando a norma penal não ressalva, 
de modo expresso, a sua incidência na hipótese de outra norma de maior gravidade 
punitiva não ser aplicável ao caso concreto. A norma subsidiária poderá incidir ainda que 
o legislador não tenha expressamente previsto essa possibilidade. O crime de 
constrangimento ilegal (art. 146 do Código Penal) é tacitamente subsidiário em relação 
 
 
17 
 
ao crime de estupro (art. 213 do Código Penal). Assim, se no caso concreto, o crime mais 
grave (art. 213 do Código Penal) não restar caracterizado, ou seja, não ficar demonstrado 
que o constrangimento não teve por finalidade violar a dignidade sexual da vítima, pode-
se aventar a incidência do crime de constrangimento ilegal (art. 146 do Código Penal).C) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO 
Conforme o princípio da consunção, ou da absorção, o fato mais abrangente e 
grave consome, absorve, o fato menos abrangente e grave que figuram como meio 
necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como 
quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma 
finalidade prática atinente àquele crime. Nesse caso, a norma consuntiva prevalece 
sobre a norma consumida. Trata-se da hipótese de o crime meio ser absorvido pelo 
crime fim. 
O conflito aparente de normas se reflete na relação de continente e conteúdo, 
entre a norma mais abrangente e grave e a norma que prevê conduta que serve de meio 
necessário ou fase de execução de outro crime. Ou, ainda, após consumar o crime visado, 
praticou nova conduta prevista em tipo penal específico e menos abrangente, mas que 
constitui mero exaurimento do crime. 
Prevalece, nessa hipótese, a norma penal que define o crime mais abrangente, 
que absorverá a norma que prevê conduta de menor amplitude, evitando-se a 
incidência do bis in idem. Assim, se o agente, para matar a vítima, porta ilegalmente 
arma de fogo, o conflito aparente entre as normas que definem os crimes de homicídio 
(art. 121 do Código Penal) e porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei 10.826/2003) é 
solucionado pelo princípio da consunção, na medida em que o crime de homicídio 
absorve o crime de porte ilegal de arma de fogo, que serviu como mero meio necessário 
para consumação do crime mais grave. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
* Para todos verem: mapa mental sobre Conflito aparente de normas 
 
 
02. CRIMES OMISSIVOS, NEXO DE CAUSALIDADE, DOLO E CULPA
1. Conduta e crimes omissivos 
1.1 Conduta 
1.1.1. Introdução 
Para a caracterização da conduta, sob qualquer aspecto, é indispensável a 
existência do binômio vontade e consciência. 
Se o agente age sem vontade dirigida a uma finalidade ou sem consciência, não 
haverá conduta punível. Não havendo conduta punível, não há fato típico e, por 
conseguinte, não haverá crime. 
 
 
 
19 
 
1.1.2. Ausência de conduta 
A doutrina costuma apontar algumas causas de exclusão da conduta, dentre 
elas destacam-se as seguintes: 
a) Coação física irresistível (“vis absoluta”) 
Ocorre quando o sujeito pratica o movimento em consequência de força 
corporal exercida sobre ele. Quem atua obrigado por uma força irresistível não age 
voluntariamente. Neste caso, o agente é mero instrumento realizador da vontade do 
coator. 
A força física que recai sobre o agente pode partir da ação de uma terceira 
pessoa, que seria a figura do coator. Imaginemos que uma pessoa empurra outra contra 
objetos ou até mesmo contra outras pessoas. Nessa hipótese, a pessoa empurrada 
fisicamente danificar objetos ou lesionar pessoas não será responsabilizada por eventual 
crime de dano (CP, art. 163) ou lesão corporal (CP, art. 129), pois agiu sem vontade e, 
portanto, sem dolo ou culpa. 
Em síntese, na coação física irresistível, não há vontade; não havendo vontade, 
não há conduta. Não havendo conduta, não há fato típico. Não havendo fato típico, não 
há crime. Logo, o fato praticado pelo fisicamente coagido é atípico. Não responderá por 
nenhum crime. 
Diversa é a situação, contudo, quando se tratar de coação moral. 
Na coação moral, não há aplicação da força física, mas de ameaça ou 
intimidação, feita através da promessa de um mal, para que se determine o coato à 
realização do fato criminoso. O coagido poderá optar. 
No caso da coação moral, o fato é revestido de tipicidade, mas não é culpável, 
em face da inexigibilidade de conduta diversa. 
Portanto, existe o fato típico, pois a ação é juridicamente relevante, mas não há 
falar em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte, do Código Penal (causa 
de exclusão da culpabilidade). 
 
Em síntese: 
➢ Coação física irresistível: causa de exclusão da tipicidade 
➢ Coação moral irresistível: causa de exclusão da culpabilidade 
➢ Coação moral resistível: atenuante (art. 65, III, “c”, CP) 
 
 
20 
 
* Para todos verem: esquema 
 
 
b) Movimentos reflexos 
Os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras, 
secretórias ou fisiológicas, produzidas pela excitação de órgãos do corpo humano. 
Nestes casos, o estímulo exterior é recebido pelos centros sensores, que o 
transmitem diretamente aos centros motores, sem intervenção da vontade, como 
ocorre, por exemplo, em um ataque epilético, tosse ou espirro. De fato, os atos reflexos 
não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras. Não havendo vontade, 
não há conduta punível, sendo, portanto, o fato atípico. 
Imaginemos a hipótese do condutor de veículo automotor que não conseguiu 
controlar um espirro e, por frações de segundos, desviou a direção, chocando-se em 
outro veículo, causando lesão corporal culposa no seu ocupante. Assim, se demonstrado 
que perdeu o controle do seu veículo exclusivamente porque não conseguiu controlar o 
espirro e, por ato reflexo, desviou a direção, provocando a colisão e as lesões corporais no 
outro condutor, o agente não será responsabilizado pelo crime de lesão corporal culposa 
na condução de veículo automotor (Lei 9503/97, art. 303), uma vez que agiu sem vontade, 
não havendo conduta punível, sendo, portanto, o fato atípico. 
 
c) Estados de inconsciência 
Consciência “é o resultado da atividade das funções mentais. Não se trata de 
uma faculdade do psiquismo humano, mas do resultado do funcionamento de todas 
elas”. 
COAÇÃO FÍSICA 
IRRESISTÍVEL
Sujeito é forçado 
fisicamente a 
praticar o fato 
típico
CAUSA DE 
EXCLUSÃO DA 
TIPICIDADE
COAÇÃO MORAL 
IRRESISTÍVEL
Sujeito é 
ameaçado ou 
intimidado a 
praticar o fato 
típico
CAUSA DE 
EXCLUSÃO DA 
CULPABILIDADE
COAÇÃO MORAL 
RESISTÍVEL
Sujeito é 
ameaçado ou 
intimidado a 
praticar o fato 
típico, mas poderia 
resistir
ATENUANTE (ART. 
65, III, "C", CP)
 
21 
 
Quando essas funções mentais não funcionam adequadamente se diz que há 
estado de inconsciência, que é incompatível com a vontade, e sem vontade não há ação. 
 
A doutrina tem catalogado como exemplos de estados de inconsciência a 
hipnose, o sonambulismo a narcolepsia. 
 
1.2. DOS CRIMES OMISSIVOS E RELEVÂNCIA DA OMISSÃO 
1.2.1. Considerações gerais 
A conduta humana não se revela apenas a partir de um movimento corpóreo, 
traduzido por uma ação. De fato, ao lado da ação, a conduta omissiva constitui uma 
forma independente de conduta humana, suscetível de ser regida pela vontade dirigida 
para um fim. 
O crime omissivo se configura quando o agente deixa de fazer aquilo que 
poderia e deveria fazer algo em estaria obrigado em virtude de lei. 
O Código Penal adotou a teoria normativa. Para a teoria normativa, a omissão é 
um nada, não sendo apta, portanto, a produzir qualquer resultado. Quem se omite nada 
faz, portanto, nada causa. Assim, a priori, o omitente não responde pelo resultado, já que 
não o provocou. Todavia, de modo excepcional, admite-se, por força da teoria normativa, 
que aquele que se omitiu seja responsabilizado pelo resultado, desde que esteja inserido 
em uma das hipóteses do chamado “dever jurídico de agir”. 
Em outras palavras, conforme a teoria normativa, para que a omissão tenha 
relevância causal (por presunção legal), há necessidade de uma norma (por isso teoria 
normativa) impondo, na hipótese concreta, o dever jurídico de agir. Se presente o dever 
jurídico de agir, pode-se responsabilizar o agente que se omitiu quando deveria agir pelo 
resultado gerado. E esse dever de agir para impedir o resultado se encontra inserto no 
artigo 13, § 2º, do Código Penal. 
Os crimes omissivos podem ser próprios ou impróprios (ou comissivos por 
omissão). 
 
2.2.2. Crimes omissivos próprios 
São os que se perfazem com a simples conduta negativa do sujeito, 
independentemente da produção de qualquer consequência posterior. 
 
22 
 
Há um tipopenal específico descrevendo a conduta omissiva. O verbo nuclear 
do tipo descreve uma conduta omissiva. Nesse caso, o crime consiste em o sujeito 
amoldar a sua conduta ao tipo legal que descreve uma conduta omissiva. Em síntese, o 
agente será responsabilizado por não cumprir o dever de agir contido implicitamente 
na norma incriminadora. 
Nos crimes omissivos próprios basta a abstenção, é suficiente a desobediência 
ao dever de agir para que o delito se consume. A obrigação do agente é de agir e não de 
evitar o resultado. O resultado que eventualmente surgir dessa omissão será irrelevante 
para a consumação do crime, podendo apenas configurar uma majorante ou uma 
qualificadora. 
 
Ex: Omissão de socorro 
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à 
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em 
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal 
de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 
 
* Para todos verem: esquema 
 
 
 
C
R
IM
E
S
 O
M
IS
S
IV
O
S
 
P
R
Ó
P
R
IO
S
DEVER DE AGIR
NÃO TEM O DEVER DE 
IMPEDIR O RESULTADO
NÃO RESPONDE PELO 
RESULTADO
PODE CONFIGURAR 
MAJORANTE ou
QUALIFICADORA
EX: ART. 135, 
PARÁGRAFO ÚNICO, CP
NORMA PENAL 
ESPECÍFICA
DESCREVE CONDUTA 
OMISSIVA
EX: ART. 135 CP 
ART. 244 CP
MANDAMENTAL
CRIME DE MERA 
CONDUTA
NÃO ADMITE 
TENTATIVA
 
23 
 
1.2.3. Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão 
Nos crimes omissivos impróprios, o agente não tem simplesmente a obrigação 
de agir, mas a obrigação de agir para evitar um resultado, isto é, deve agir com a 
finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento. Nos crimes comissivos por 
omissão há, na verdade, um crime material, isto é, um crime de resultado. 
O poder agir é um pressuposto básico de todo comportamento humano. 
Também na omissão, evidentemente, é necessário que o sujeito tenha a possibilidade 
física de agir, para que se possa afirmar que não agiu voluntariamente. 
Trata-se de uma possibilidade real e concreta do agente, no contexto da situação 
fática, considerando-se como padrão do homem médio, evitar o resultado penalmente 
relevante. Exemplo: um médico plantonista tem o dever de agir para impedir que 
determinado enfermo venha a óbito. Todavia, se um médico plantonista deixar de 
atender um paciente que falece, porque estava atendendo a outro enfermo em situação 
de emergência, à evidência, não poderá ser responsabilizado pela morte do paciente 
que aguardava atendimento. 
O Código Penal regulou expressamente as hipóteses em que o agente assume 
a condição de garantidor. 
De fato, para que alguém responda por crime comissivo por omissão é preciso 
que tenha o dever jurídico de impedir o resultado, previsto no artigo 13, § 2º, do Código 
Penal: 
 
a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância 
Nesse caso, por expressa imposição da lei, o agente estará obrigado a agir para 
evitar o resultado. Assim, se o agente se omitir, ou seja, deixar de agir, quando lhe era 
possível, responderá pelo resultado gerado. 
Isso porque, se o sujeito, em virtude de sua abstenção, descumprindo o dever de 
agir, não busca evitar o resultado é considerado, pelo Direito Penal, como se o tivesse 
causado. 
É o caso, por exemplo, dos pais em relação aos filhos (art. 1634 e 1566, IV, ambos 
do Código Civil), ao dever de mútuo assistência entre os cônjuges (art. 1566 do Código 
Civil). 
Ex: Mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta da sua negligência, acaba 
morrendo por inanição. Essa mãe deverá responder pelo resultado gerado, qual seja, 
 
24 
 
homicídio culposo. Se, de outro lado, a mãe desejou a morte do filho ou assumiu o risco 
de produzi-la, responderá por homicídio doloso. 
 
b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado 
A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de 
garantidor pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. O 
importante é que o sujeito se coloque em posição de garante no sentido de que o 
resultado não ocorrerá. 
Aqui a obrigação de agir para evitar o resultado não decorre de lei, mas do fato 
de o agente ter assumido a responsabilidade de impedi-lo. 
Ex: babá que, por negligência, deixa de cumprir corretamente sua obrigação de 
cuidar da criança, que acaba caindo na piscina e, por isso, morre afogada. Nesse caso, 
responderá pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado, 
desejou a morte da criança ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio 
doloso. 
 
c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado 
Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo 
para bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica 
obrigado a evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão. 
Não importa que o tenha feito voluntariamente ou involuntariamente, dolosa ou 
culposamente; importa é que com sua ação ou omissão originou uma situação de risco 
ou agravou uma situação já existente. 
 
Aluno veterano, por ocasião de um trote acadêmico, sabendo que a vítima não sabe 
nadar, joga o incauto calouro na piscina. Nesse caso, contrai o dever jurídico de agir para 
evitar o resultado, sob pena de responder por homicídio. 
 
* Para todos verem: esquema sobre Crimes Omissivos Impróprios 
 
25 
 
 
 
Em resumo: 
* Para todos verem: esquema sobre as formas de ação e omissão 
 
2. NEXO DE CAUSALIDADE 
 
2.3. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 
2.3.1. Conceito 
A relação de causalidade é o vínculo estabelecido entre a conduta do agente e o 
resultado por ele produzido. Se entre a conduta desenvolvida e o resultado não há 
relação de causa e efeito, não será possível atribuir ao agente o resultado gerado. 
Prevalece na doutrina que o vínculo que liga a conduta do agente ao resultado 
guarda relação com a causalidade física. Ou seja, a expressão “resultado” inserida no 
artigo 13 do Código Penal alcança apenas os crimes materiais, cujo resultado é 
naturalístico, que produzem a modificação no mundo externo. 
 
26 
 
Nos crimes formais (que não exigem a produção do resultado para sua 
consumação) e de mera conduta (crimes sem resultado) não se mostra necessário o 
estudo da relação de causalidade, pois tais crimes se consumam com a realização da 
conduta do agente. 
 
2.3.2. Espécies de causas 
Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no 
vínculo ou liame de causa e efeito entre a ação e o resultado do crime. 
Via de regra, a conduta do agente produz o resultado criminoso de forma direta. 
Trata-se de relação de causa (conduta) e efeito (resultado): Nexo de causalidade. 
Todavia, pode ocorrer que, aliada à conduta do agente, outra causa contribua 
para o resultado. É a chamada concausa. 
Esta “concausa” pode ser absolutamente independente ou relativamente 
independente, dependendo se teve ou não origem na conduta do agente. 
 
2.3.2.1. Causas absolutamente independentes 
São aquelas que não têm origem na conduta do agente. A expressão 
“absolutamente” serve para designar que a outra causa independente por si só produziu 
o resultado. São causas que não se inserem na linha do desdobramento natural da 
conduta do agente, ou seja, causas inusitadas, desvinculadas da ação do agente, 
surgindo de fonte distinta. 
Em síntese, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem por 
si sós produzido o resultado, situando-se fora da linha de desdobramento causal da 
conduta. 
Há, na verdade, uma quebra do nexo causal. 
São três as espécies de causas absolutamente independentes. 
 
a) Preexistentes 
Trata-se de causa que existia antes daconduta do agente e produzem o 
resultado independentemente da sua atuação. Ou seja, com ou sem a ação do agente o 
resultado ocorreria do mesmo modo. 
 
 
 
27 
 
 
Ex: O agente desfere um disparo de arma de fogo contra a vítima, que, no 
entanto, vem a falecer pouco depois, não em consequência dos ferimentos recebidos, 
mas porque antes ingerira veneno com a intenção de suicidar. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (efetuar o disparo), mas o que gerou o 
resultado morte foi outra causa (o veneno). Essa outra causa é independente da conduta 
do agente (porque por si só produziu o resultado). É absolutamente independente 
(porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não efetuado o disparo o 
resultado ainda assim se produziria). É preexistente porque essa outra causa (veneno) 
já existia antes da ação do agente. 
 
b) Concomitantes 
São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o 
resultado independentemente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente 
no instante em que a ação é realizada. 
Ex: “A” desfere golpe de faca contra “B” no exato momento em que este vem a 
falecer exclusivamente por força de um ataque cardíaco. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (desferir o golpe de faca), mas o que gerou 
o resultado morte foi outra causa (o ataque cardíaco). O ataque cardíaco se trata de 
causa independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É 
absolutamente independente (porque não teve origem na conduta do agente, pois 
tendo ou não efetuado desferido o golpe o resultado ainda assim se produziria). É 
concomitante porque essa outra causa (ataque cardíaco) ocorreu exatamente no 
momento da ação do agente. 
 
c) Supervenientes 
São causas que atuam após a conduta. Ou seja, que surgem depois da conduta 
desenvolvida pelo agente. 
 
28 
 
Ex: “A” ministra veneno na alimentação de “B”. Antes do veneno produzir efeitos, 
há um desabamento ou incêndio na casa da vítima, que morre exclusivamente por 
conta dos escombros que caíram sobre sua cabeça ou queimada pelo fogo. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (ministrar veneno), mas o que gerou o 
resultado morte foi outra causa (desabamento ou incêndio). O desabamento ou 
incêndio trata-se de causas independente da conduta do agente (porque por si só 
produziram o resultado). É absolutamente independente (porque não teve origem na 
conduta do agente, pois tendo ou não ministrado o veneno o resultado ainda assim se 
produziria). É superveniente porque essa outra causa (desabamento ou incêndio) 
ocorreu depois da conduta do agente. 
Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o 
problema é resolvido pelo caput do art. 13: Há exclusão da causalidade decorrente da 
conduta. Ou seja, o agente responde somente por aquilo que deu causa. 
Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento 
do agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos 
praticados antes de sua produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal. Assim, se 
o dolo era de matar, o agente responderia por tentativa de homicídio. 
 
CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o 
agente responderá por aquilo que deu causa: lesão corporal (leve, grave ou 
gravíssima). 
 
 
2.3.2.2. Causas relativamente independentes 
Causas relativamente independentes são aquelas que tiveram origem na 
conduta do agente. Ou seja, essas causas somente surgiram porque o agente 
desenvolveu uma conduta. 
Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se 
situando dentro da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, 
apenas relativamente independentes, encontram sua origem na própria conduta 
praticada pelo agente. 
 
29 
 
Aqui não há, de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre as 
causas, que, ao final, conduzem ao resultado lesivo. 
Também são três as espécies de causas relativamente independentes. 
 
a) Preexistentes 
A causa que efetivamente gerou o resultado já existia ao tempo da conduta do 
agente, que concorreu para a sua produção. 
Ex: “A”, com a intenção de matar, desfere um golpe de faca na vítima, que é 
hemofílica e vem a morrer em face da conduta, somada à contribuição de seu peculiar 
estado fisiológico. No caso, o golpe isoladamente seria insuficiente para produzir o 
resultado fatal, de modo que a hemofilia atuou de forma independente, produzindo por 
si só o resultado. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou 
efetivamente o resultado morte foi outra causa (hemofilia). Essa outra causa é 
independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É 
relativamente independente (porque teve origem na conduta do agente, pois, se não 
tivesse desferido a facada, essa outra causa não seria desencadeada e o resultado não 
ocorreria). É preexistente porque essa outra causa (hemofilia) já existia ao tempo da 
ação do agente. 
Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente 
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não 
tenha concorrido para ele com dolo ou culpa. 
Isso, porque, segundo doutrina majoritária, a imputação do resultado ao agente 
exige que ele tenha conhecimento do estado de saúde do agente (que denota dolo) ou 
que, pelo menos, que lhe fosse previsível (indicativo de culpa). 
Assim, se, por exemplo, o agente não sabia do estado de saúde da vítima ou não 
lhe era previsível, não poderia lhe ser atribuído o resultado morte, responderia, pois, pelo 
delito de tentativa de homicídio (se agiu com a intenção de matar). Da mesma forma, se 
pretendia ferir a vítima, agredindo-a com um soco e, esta em razão da hemofilia, 
desconhecida pelo agente, vem a falecer em razão da eclosão de uma hemorragia, o 
agente somente será responsabilizado pelo delito de lesão corporal. 
 
 
30 
 
b) Concomitantes 
A causa que efetivamente produziu o resultado surge no exato momento da 
conduta do agente. 
 
Ex: considera-se o ataque à vítima, por meio de faca, que, no exato momento da 
agressão, sofre ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-se que a soma desses fatores 
(causas) produziu a morte, já que a agressão e o ataque cardíaco, considerados 
isoladamente, não teriam o condão do produzir o resultado morte. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou 
efetivamente o resultado morte foi outra causa (ataque cardíaco). Essa outra causa é 
independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É 
relativamente independente (porque teve origem na conduta do agente, pois, se não 
tivesse desferido a facada, essa outra causa não seria desencadeada e o resultado não 
ocorreria). É concomitante porque essa outra causa (ataque cardíaco) já existia ao 
tempo da ação do agente. 
Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente 
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não 
tenha concorrido para ele com dolo ou culpa. 
 
c) Supervenientes 
A causa que efetivamente produziu o resultado ocorre depois da conduta 
praticada pelo agente. 
Ex. O agente desfere um golpe de faca contra a vítima, com a intenção de matá-
la. Ferida, a vítima é levada ao hospital e sofre acidente no trajeto, vindo, por esse motivo, 
a falecer. A causa é independente, porque a morte foi provocada pelo acidente e não 
pela facada, mas essa independência é relativa, já que, se não fosse o ataque, a vítima 
não estaria na ambulância acidentada e não morreria. Tendo atuado posteriormente à 
conduta, denomina-se causa superveniente. 
 
Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou 
efetivamente o resultado morte foi outra causa (traumatismo decorrente do acidente). 
 
31 
 
Essa outra causa é independenteda conduta do agente (porque por si só produziu o 
resultado). É relativamente independente (porque teve origem na conduta do agente, 
pois, se não tivesse desferido a facada, a vítima não estaria na ambulância e, portanto, 
não teria falecido por conta do acidente). É superveniente porque essa outra causa 
(traumatismo pelo acidente) surgiu depois da conduta do agente. 
 
Na hipótese das causas supervenientes, embora exista nexo físico-
naturalístico, a lei, por expressa disposição do art. 13, § 1º, CP, que 
excepcionou a regra geral, exclui a imputação do resultado ao agente, 
devendo, no entanto, responder pelos atos anteriormente 
efetivamente praticados. 
Assim, o agente não responde pelo resultado ocorrido, mas somente pelos atos 
anteriores, que, no caso, foi tentativa de homicídio. 
CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente 
responderá pelos atos anteriores praticados, no caso, lesão corporal (leve, grave ou 
gravíssima). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
EM RESUMO 
* Para todos verem: esquema sobre Fato típico: espécies de causa 
 
 
 
3. Dolo e culpa 
 
3.1 CRIME DOLOSO 
3.1.1. Introdução 
Conforme dispõe o artigo 18, I, do Código Penal, o crime será doloso “quando o 
agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. Essa previsão legal equipara 
dolo direto e dolo eventual. 
O conceito de dolo, à evidência, é muito mais abrangente e complexo do que 
aquele atribui pela lei penal. 
Com o sistema finalista, o dolo passou a integrar a conduta, elemento do fato 
típico. Trata-se de um elemento psicológico introduzido no tipo penal, característico do 
crime doloso. 
Nesse sentido, no crime doloso, o agente desenvolve uma conduta com vontade 
e consciência dirigida a produzir determinado resultado. É a vontade e consciência 
 
33 
 
voltadas a realizar a conduta descrita no tipo penal incriminador. É, em síntese, a 
consciência e vontade de realizar o tipo objetivo 
 
3.1.2. Teorias do dolo 
Há três teorias a respeito do dolo: 
a) Teoria da representação 
Para essa teoria, o dolo se caracteriza pela mera previsão do resultado. É 
suficiente que o resultado seja previsto pelo sujeito. Não é necessária a presença do 
elemento volitivo, sendo irrelevante, pois, se o agente quis o resultado ou assumiu o risco 
de produzi-lo. Basta, para essa teoria, a representação ou previsão da produção de 
determinado resultado. 
Essa teoria não é aplicada no nosso ordenamento jurídico, uma vez que a mera 
representação não permite concluir que o agente tenha, ao menos, assumido o risco na 
produção do resultado. Além disso, embora previsível a produção de determinado 
agente, pode ocorrer de o agente confiar que ele não se produzirá ou que terá habilidade 
suficiente para evitar a sua produção. Note-se, pois, que essa teoria confunde dolo com 
culpa consciente, não sendo, pois, aplicada. 
 
b) Teoria da vontade 
O dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. Para essa teoria, 
além da representação do resultado, deve o agente agir com vontade na sua produção. 
Assim, o agente deve prever o resultado (consciência) e querer produzi-lo (vontade). 
É a teoria adotada no dolo direto, nos termos do artigo 18, inciso I (1ª parte), do 
Código Penal. 
 
c) Teoria do Assentimento (ou Consentimento) 
Essa teoria complementa a teoria da vontade, introduzindo no conceito de dolo 
a concepção da assunção do risco na produção do resultado. 
Para essa teoria, dolo é o assentimento do resultado, acrescido da aceitação do 
risco de produzi-lo. Ou seja, há a previsão do resultado e, embora não o deseje 
diretamente, o agente assume o risco de produzi-lo, sendo, ainda, indiferente às 
consequências decorrentes da sua conduta. 
 
34 
 
É a teoria que retrata o dolo eventual, nos termos do artigo 18, inciso I (2ª parte), 
do Código Penal. 
 
3.1.3. Algumas espécies de dolo 
a) Dolo direto e dolo indireto 
Dolo direto, também chamado dolo determinado, intencional, imediato ou 
incondicionado, é aquele que se caracteriza pela vontade do agente estar dirigida 
especificamente à produção do resultado típico, abrangendo os meios utilizados para 
tanto. No dolo direto o agente quer o resultado por ele anteriormente representado. 
Tomemos como exemplo o agente que, pretendendo subtrair coisa alheia 
móvel, mediante emprego de grave ameaça, anuncia o assalto e desapossa a vítima dos 
bens que estavam em seu poder. Nesse caso, a vontade do agente é dirigida a produzir 
o resultado decorrente do crime de roubo (CP, art. 157). 
Da mesma forma, se o agente desfere golpes de faca na vítima com a intenção 
de matá-la, desenvolve sua conduta com o dolo direto de praticar o crime de homicídio 
(CP, art. 121). 
No dolo indireto ou indeterminado, o agente não tem a vontade dirigida a um 
resultado determinado. Subdivide-se em dolo alternativo e dolo eventual. 
Dolo alternativo é aquele em que o agente dirige sua conduta com a intenção 
de provocar qualquer dos resultados possíveis. Assim, se o agente desferir disparos de 
arma de fogo contra o seu desafeto, com a intenção de matar ou lesionar, responderá 
por homicídio, se o resultar na morte da vítima. Agora, o dolo alternativo se revela mais 
intenso quando não resultar morte da vítima, mas apenas lesões corporais. Nesse caso, 
poderia surgir a dúvida sobre o enquadramento típico da conduta do agente, se 
responderia por tentativa de homicídio ou lesão corporal. E, no caso de dolo alternativo, 
o agente sempre responderá pelo resultado mais grave. No exemplo dado, responderá 
por tentativa de homicídio. 
Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, 
isto é, admite e aceita o risco de produzi-lo. No dolo eventual, o agente não quer o 
resultado (se desejasse, seria dolo direto), mas, mesmo prevendo a realização do 
resultado, segue em diante na sua conduta assumindo o risco de produzi-lo. Em relação 
ao dolo eventual, adota-se a teoria do consentimento ou assentimento, inserta na 
expressão “assumiu o risco de produzi-lo”, encartada no artigo 18, I, do Código Penal. 
 
35 
 
Tomemos como exemplo a conduta do agente que pretende atirar contra o seu 
desafeto, que se encontra conversando com outra pessoa. O agente prevê que também 
pode atingir a outra pessoa, mas segue em diante na sua conduta, assumindo o risco de 
errar o disparo contra o seu desafeto e atingir a outra pessoa, sendo-lhe indiferente 
quanto ao resultado que possa a vir ser produzido em relação ao terceiro. Se efetuar 
disparos matando o seu desafeto e também a outra pessoa, o agente responderá por 
dois crimes de homicídio: o primeiro, a título de dolo direto; o segundo, a título de dolo 
eventual. 
 
b) Dolo geral (erro sucessivo) 
Dolo geral é aquele em que o agente desenvolve uma conduta voltada a uma 
determinada finalidade e, acreditando ter alcançado o seu intento, realiza, na sequência, 
outra conduta que efetivamente produz o resultado desejado. 
O dolo geral incide naquele grupo de casos em que há acontecimentos em dois 
atos. O sujeito acredita ter produzido o resultado na primeira parte da ação, quando, na 
realidade, o resultado foi realizado somente com a segunda parte da ação. 
Exemplo: Genro, não suportando mais a sogra, delibera por matá-la. Para tanto, 
coloca veneno na sua bebida. Supondo ter matado a sogra, o genro, para se livrar do 
corpo e, portanto, ocultar o cadáver, joga a vítima no rio. Alguns dias depois, o corpo da 
vítima é localizado e, após ser submetido à exame necroscópico, verifica-se que, na 
realidade, a morte ocorreu não pelo veneno, mas por força de asfixia provocada por 
afogamento. 
Nota-se que há um erro no nexo causal, pois o agente supôs ter matado a vítima 
por força do emprego de veneno, quando, na realidade, acabou causando-lhe a morte 
por afogamento. No momento em que imaginava estar simplesmente ocultando o 
cadáver,atingia a consumação. Em outras palavras, no momento em que ministrou o 
veneno, o agente tinha o dolo de matar, agindo, ainda, com consciência e vontade em 
relação aos elementos do tipo objetivo que define o crime de homicídio (CP, art. 121). 
Trata-se de dolo geral, que abrange toda a conduta desenvolvida pelo agente 
até a consumação, até porque a conduta delitiva pode ser desenvolvida em vários atos 
ligados por planejamento delitivo único. Assim, havendo plano delitivo único, os vários 
atos sucessivamente praticados compõem uma única conduta. 
 
36 
 
Assim, se há única conduta composta por vários atos, basta que o dolo exista no 
momento da realização da conduta, não sendo necessário que persista até o último ato. 
Logo, no nosso exemplo, o genro deverá ser responsabilizado por homicídio 
doloso consumado, desprezando-se o erro incidente sobre o nexo causal, uma vez que 
a conduta desenvolvida pelo agente, ainda que dividida em dois atos, está abrangida 
pelo dolo geral, que acompanhava sua ação durante todo ato executório até alcançar o 
resultado desejado. 
c) Dolo de primeiro grau e dolo de segundo grau 
A primeira parte do artigo 18, inciso I, do Código Penal, em que o agente quis o 
resultado abrange o dolo direto de primeiro grau e de segundo grau. 
No dolo de primeiro grau, o agente desenvolve conduta com vontade e 
consciência de atingir determinado resultado. O dolo do agente é voltado a atingir um 
único bem jurídico, produzindo, pois, único resultado. Em síntese, no dolo direto de 1º 
grau, o resultado obtido era o objetivo principal da conduta. Exemplo: agente que sai ao 
encalço e mata a vítima pretendida. 
No dolo de segundo grau ou de consequências necessárias, o agente 
desenvolve conduta com vontade e consciência dirigida a produzir determinada 
resultado. Todavia, os meios empregados para alcançar o resultado desejado 
inexoravelmente produziram consequências necessárias, de efeitos colaterais de 
verificação certa. Em outras palavras, o dolo do agente, num primeiro momento, não 
está relacionado aos efeitos colaterais decorrentes da sua conduta, mas age consciente 
de que ocorreram, caso se produza o resultado originariamente pretendido. 
Imaginemos que o agente toma conhecimento que seu desafeto irá realizar 
uma viajem de carro com mais três amigos. Com a intenção de matar a vítima 
determinada, instala uma bomba no veículo, que, dada a potência da explosão, provoca 
a morte de todos os ocupantes do veículo. No caso, ainda que o agente pretendesse 
matar somente o seu desafeto, agiu consciente que sua conduta provocaria 
necessariamente a morte dos demais passageiros do veículo. Tem-se, em relação aos 
demais passageiros, o dolo direto de 2º grau ou dolo de consequências necessárias. 
 
 
 
 
 
37 
 
EM RESUMO 
* Para todos verem: mapa mental sobre Fato Típico: dolo 
 
 
 
3.2 TEORIA DO CRIME CULPOSO 
3.2.1. Introdução 
É a conduta humana voluntária desenvolvida sem observar o dever de cuidado 
objetivo, que, por imprudência, negligência ou imperícia, produz um resultado 
involuntário, objetivamente previsível, que poderia ter sido evitado. 
No sistema finalista, a culpa passou a integrar o elemento normativo da conduta, 
uma vez que, para verificar sua incidência, deve-se realizar juízo de valor, levando-se em 
conta o caso concreto. 
Os tipos que definem os crimes culposos são, em geral, abertos, limitando-se a 
descrever “se o crime é culposo, a pena será de ...”, sem especificar minuciosamente a 
conduta delitiva. 
 
38 
 
A culpa, portanto, não está descrita, nem especificada, mas apenas prevista 
genericamente no tipo, dada a absoluta impossibilidade de o legislador prever e 
descrever todas as formas de realização da conduta culposa. Com efeito, no homicídio 
culposo, por exemplo, são inúmeras as formas que a culpa pode se revelar: atropelar uma 
pessoa por excesso de velocidade ou ultrapassar sinal vermelho, ou, ainda, invadir pista 
contrária; causar a morte de alguém em razão de disparo acidental de arma de fogo; 
deixar veneno ao alcance de uma criança; esquecer criança de tenra idade no veículo 
fechado por várias horas, etc. 
 
3.2.2. Elementos do fato típico culposo 
a) Conduta humana voluntária 
No crime culposo, o agente desenvolve uma conduta voluntária, agindo, porém, 
sem observar o dever de cuidado objetivo. O resultado produzido que é involuntário. 
Em outras palavras, toda conduta é dotada de finalidade, inclusive as ações 
culposas. Na conduta culposa, no entanto, essa finalidade, como regra, é lícita e atípica. 
Tomemos como exemplo alguém, atrasado para realizar uma prova na 
faculdade, imprime velocidade excessiva em se veículo, vindo, em razão disso, a 
atropelar uma pessoa, causando-lhe a morte. A finalidade do agente, sem dúvida, era 
lícita (chegar no local da prova). Contudo, os meios utilizados para alcançar essa 
finalidade é que foram inadequados, uma vez que, para chegar ao local da prova, 
imprimindo alta velocidade na condução de veículo automotor, não observou o dever 
de cuidado objetivo, atropelando e causando a morte de uma pessoa. 
Note-se que a conduta voluntária do agente foi desenvolvida para alcançar uma 
finalidade lícita, gerando, no entanto, um resultado involuntário. 
 
b) Resultado involuntário 
Nos crimes culposos, o resultado não é desejado ou tolerado pelo agente. 
Como nos crimes culposos a conduta voluntária é dotada de finalidade lícita, 
afigura-se imprescindível a produção de um resultado naturalístico. Isso porque, se é 
voltada a uma finalidade lícita, a conduta do agente constitui um indiferente penal, razão 
pela qual se mostra necessário a produção de um resultado involuntário para 
caracterizar o crime culposo. 
 
 
39 
 
c) Inobservância do dever de cuidado objetivo 
As pessoas, durante as relações de convívio social, devem observar as regras 
básicas de cuidado e cautela. Essas regras gerais de cuidado decorrem da vedação de 
condutas capazes de gerar riscos a bem jurídico alheio além do que se reputa razoável 
tolerar. 
De fato, as regras de convívio social impõem às pessoas o dever de cautela para 
não atingir bem jurídico alheio. Por isso, quem se arriscar a realizar, por exemplo, 
conduta imprudente, sobrevindo um resultado típico, praticará um crime culposo. 
Por isso, a observância do dever objetivo de cuidado, isto é, a diligência devida, 
constitui o elemento fundamental do tipo culposo, cuja análise constitui uma questão 
preliminar no exame da culpa. 
 
c.1) Modalidades de culpa 
A inobservância do dever objetivo de cuidado, que é a quebra do dever de 
cuidado imposto a todos, é manifestada por meio de três modalidades de culpa, todas 
previstas no artigo 18, II, do CP: imprudência, negligência e imperícia. 
 
* Imprudência 
A conduta imprudente se caracteriza por agir um positivo, sem a observância do 
dever de cuidado objetivo. Ocorre quando o agente pratica fato perigoso, de forma 
intempestiva e precipitada. 
É a culpa decorrente de um comportamento positivo descuidado. Trata-se de 
modalidade de culpa que incide paralelamente à ação do agente. 
Tomemos como exemplo condutor de veículo automotor, que, imprimindo 
excessiva velocidade, atropela e mata um pedestre. 
Da mesma forma, age com imprudência o agente que limpa arma de fogo 
carregada e, de forma descuidada, aciona o gatilho, matando pessoa que estava ao seu 
lado. 
 
* Negligência 
Trata-se de modalidade negativa de culpa, em que a inobservância do dever de 
cuidado do agente é retratada pela ausência de cautela e precaução. É a culpa na forma 
de deixar de adotar as cautelas 
 
40 
 
Ao contrário da imprudência, que ocorre durante a ação, a negligência dá-se 
sempre antes do início da conduta. O negligente deixa de tomar, antes de agir, as 
cautelas que deveria. 
Tomemos como exemplo o condutor de veículo que, antes de sair de viagem, 
deixa de reparar os pneus e verificaros freios. 
 
* Imperícia 
A imperícia se caracteriza pela falta de capacidade, preparo ou de 
conhecimentos técnicos suficientes de agente autorizado a desempenhar determinada 
arte, profissão ou ofício. 
É a chamada culpa profissional, pois decorrente da falta de aptidão para o 
exercício de arte, ofício ou profissão. Ocorre quando o agente não tem o adequado 
conhecimento acerca das técnicas e regras que todos que se dedicam à determinada 
deveriam dominar. 
Assim, se um médico cirurgião, que não domina determinada técnica inerente 
à determinada intervenção cirúrgica, causar a morte do paciente, responderá por 
homicídio culposo (CP, art. 121, § 3º), já que agiu com imperícia no exercício da sua 
profissão. 
 
 
 
d) Nexo de causalidade 
O crime culposo depende de um resultado naturalístico, já que se trata de crime 
material. E, em se tratando de crime material, exige-se, para a adequada tipificação, o 
nexo causal entre a conduta voluntária descuidada e o resultado involuntário. 
Adota-se também nos crimes culposos a teoria da conditio sine qua non, 
prevista no artigo 13 do Código Penal, razão pela qual deve ser demonstrado que o 
resultado involuntário foi produzido pela conduta descuidada do agente. 
Assim, se realizado o juízo hipotético de eliminação da conduta imprudente, 
negligente ou imperita do agente, o resultado ainda assim se produziria, não haverá 
nexo de causalidade e, portanto, não será possível imputar ao agente qualquer 
resultado, não podendo, pois, ser responsabilizado criminalmente. 
 
41 
 
No entanto, se realizado o juízo hipotético de eliminação da conduta 
imprudente, negligente ou imperita do agente, o resultado não se produziria, haverá 
nexo de causalidade, surgindo a possibilidade de responsabilizar criminalmente o 
agente por sua conduta culposa. 
 
e) Tipicidade 
A tipicidade também constitui elemento do fato típico culposo. 
Para caracterizar o crime culposo, o fato praticado pelo agente deve encontrar 
correspondência num tipo penal que prevê a modalidade culposa da conduta. 
E, nos crimes culposos, há a peculiaridade de somente incidirem se 
expressamente previstos em lei. É o que se extrai do artigo 18, parágrafo único, do Código 
Penal, segundo o qual “salvo os casos expressos em lei, ninguém poderá ser punido por 
fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente”. 
De fato, quando o tipo penal descreve um modelo legal de conduta proibida, 
silenciando a respeito da modalidade culposa, significa que o crime existe somente na 
forma dolosa. 
Tomemos como exemplo o crime de furto (CP, art. 155). O tipo penal descreve a 
conduta proibida (Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel), silenciando 
quanto à modalidade culposa dessa conduta. Logo, forçoso concluir que não existe furto 
culposo, incidindo, pois, somente na modalidade dolosa. 
Assim, para se aferir a tipicidade, deve-se verificar se o fato praticado pelo agente 
encontra correspondência numa norma penal incriminadora que prevê a modalidade 
culposa. Imaginemos que um motorista, imprimindo velocidade excessiva no seu 
veículo, dirigindo, pois, de forma imprudente, perde o controle da direção e atropela uma 
pessoa, causando-lhe a morte. Essa conduta imprudente encontra correspondência no 
tipo penal que define o crime de homicídio culposo na condução de veículo automotor 
(Lei 9.503/97, art. 302), havendo, pois, tipicidade. 
 
f) Previsibilidade objetiva 
É a possibilidade de uma pessoa comum, com diligência e prudência inerente à 
média da população, prever a incidência de determinado resultado. Trata-se da 
previsibilidade daquilo que se convencionou chamar de homem médio, considerando-
se o grau de atenção e cuidado exigido das pessoas de mediana inteligência. 
 
42 
 
A previsibilidade do resultado é aferida a partir de um juízo de valor, comparando 
a conduta desenvolvida pelo agente com a de um homem médio. 
Assim, se o agente realizar uma conduta sem prever o resultado, mas uma 
pessoa comum, com prudência e inteligência mediana, inerente à generalidade dos 
indivíduos, teria a possibilidade de prever, terá agido, se presentes os demais elementos, 
com culpa, uma vez que, nas circunstâncias, desenvolveu uma conduta sem prever o 
resultado que era previsível. 
 
g) Ausência de previsão 
Para caracterizar o fato típico culposo, é necessário, ainda, que o agente não 
tenha previsto o resultado. Se o previu, não há culpa, mas, via de regra, dolo. 
Se o agente, dentro da concepção do homem médio, não tinha condições de 
prever o resultado, embora previsível, afastada estará a culpa. Se há previsão do 
resultado, mas ainda assim o agente desenvolve a conduta, sendo indiferente quando à 
produção do evento, há dolo, e não culpa. 
Todavia, de forma excepcional, pode haver previsão do resultado na culpa, 
quando se tratar de culpa consciente. 
 
3.2.3. Culpa inconsciente e culpa consciente 
O Código Penal não prevê expressa distinção entre culpa inconsciente e culpa 
consciente, sendo, no entanto, importante estabelecer a diferença, até mesmo para fins 
de fixação da pena, diante de cada caso concreto. 
A culpa inconsciente é aquela em que o resultado não é previsto pelo agente, 
embora objetivamente previsível. É a culpa comum, aquela que se caracteriza pela 
ausência de previsão do resultado. É a culpa sem previsão. 
Tomemos o seguinte exemplo: Dagoberto, quando limpava sua arma de fogo, 
devidamente registrada em seu nome, que mantinha no interior da residência, deixando 
de observar o dever de cuidado necessário, inclusive o de desmuniciá-la, acaba, 
acidentalmente, por acionar o gatilho, efetuando um disparo que atingiu seu vizinho 
Mário, que, em razão disso, veio a falecer. Nesse caso, diante da sua conduta imprudente, 
Dagoberto responderá por homicídio culposo, já que não previu que poderia causar a 
morte de alguém, embora objetivamente previsível que limpar arma municiada poderia 
gerar o acionamento do gatilho e, por conseguinte, o disparo do projétil. 
 
43 
 
Na culpa consciente há a previsão do resultado, mas o agente realiza a conduta 
considerando, sinceramente, que nenhum resultado se produzirá ou, ainda, que reúne 
habilidade suficiente para evitá-lo. É a chamada culpa com previsão. 
Em outras palavras, na culpa consciente, o agente prevê o resultado, mas não 
aceita sua produção. Embora previsível, confia sinceramente que o resultado não 
ocorrerá ou que, por conta da sua habilidade, conseguirá impedir que o evento se 
produza. 
Exemplo: Leonardo conduz seu veículo por uma avenida. No banco do carona 
está sua namorada, Célia. Durante o percurso, Leonardo imprime velocidade excessiva 
no veículo, gerando protestos por parte de Célia, que lhe pedia para reduzir a velocidade. 
Leonardo responde dizendo que nada iria acontecer, até porque era um excelente 
motorista. Todavia, ao fazer uma curva, Leonardo perde o controle do veículo e atropela 
uma pessoa, causando-lhe a morte. Diante disso, Leonardo responderá pelo crime de 
homicídio culposo na condução de veículo automotor (Lei 9.503/97, art. 302). Note-se 
que, no caso, havia por parte do motorista a previsibilidade do resultado, que não era 
aceito e nem esperado e, ainda, a leviana percepção de que sua habilidade como 
condutor impediria a produção de qualquer evento lesivo. 
 
 
DOLO EVENTUAL X CULPA CONSCIENTE 
No dolo eventual o agente prevê o resultado como possível, mas segue 
em diante com a sua conduta assumindo o risco de produzi-lo, 
aceitando, inclusive, a incidência de eventual evento lesivo. 
Na culpa consciente, o agente, embora tenha previsto o resultado, não o aceita, pois 
considera, sinceramente, que não ocorrerá ou que terá habilidade suficiente para evitar 
o evento lesivo. 
Imaginemos que Leonardo, após uma noite inteira ingerindo bebida alcóolica, estando, 
portanto, absolutamente embriagado, conduz seu veículo em altíssima velocidade, 
arriscandomanobras ousadas numa via de intenso fluxo de veículos e pedestres, 
quando, ao ultrapassar sinal vermelho, atropela uma pessoa que cruzava a via. Há, 
evidentemente, a previsão do resultado e, analisando-se todos os elementos que 
envolveram a circunstâncias do caso concreto (embriaguez ao volante, excesso de 
velocidade em via movimentada, ultrapassar sinal vermelho), forçoso concluir que o 
 
44 
 
condutor do veículo assumiu o risco de produzir o resultado, sendo indiferente quanto à 
sua incidência. Logo, nesse caso, Leonardo deveria responder por homicídio doloso, na 
modalidade dolo eventual. 
 
 
EM RESUMO: 
* Para todos verem: mapa mental sobre Fato Típico: culpa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
04. Consumação e tentativa 
4.1. ITER CRIMINIS 
4.1.1. Introdução 
Iter criminis significa literalmente “caminho do crime”. Trata-se do caminho 
percorrido pelo agente para a prática da infração penal, passando pela ideação até 
chegar à consumação. Em síntese, iter criminis é o conjunto de fases pelas quais passa 
o delito. 
Compõe-se de uma fase interna, na qual o agente representa mentalmente a 
prática delituosa, bem como de uma fase externa, em que o agente exterioriza a sua 
conduta, colocando em prática a ideia criminosa, praticando atos preparatórios e 
executórios até alcançar a consumação. 
O iter criminis, pois, é composto pelas seguintes fases. 
 
 
4.1.2. Cogitação 
O primeiro momento do iter criminis é a chamada cogitatio. O agente idealiza, 
internamente, a atividade criminosa. Elabora mentalmente a infração penal, delibera 
sobre o desenvolvimento da conduta e, por fim, decide praticar a infração penal. Toda 
essa representação ainda se encontra no plano interno do agente, ou seja, ainda não há 
exteriorização de nenhum ato. 
É exatamente por isso que a fase da cogitação não é punível. De fato, como ainda 
está no plano interno do agente, não há ainda qualquer violação a bem jurídico, razão 
pela qual não incidem as normas de Direito Penal. 
 
a) Cogitação
b) Atos preparatórios
c) Execução
d) Consumação
 
46 
 
4.1.3. Atos preparatórios 
Os atos preparatórios consistem no conjunto de atos voltados a concretizar a 
infração penal. O agente passa da cogitação para a exteriorização da sua atividade 
criminosa, buscando, previamente ao início da execução, os elementos necessários para 
o desenvolvimento da conduta delituosa. É a partir dos atos preparatórios que o agente 
começa a materializar, ou seja, exteriorizar sua busca pela consumação da infração 
penal. 
A aquisição de uma arma, por exemplo, para a prática do homicídio, constitui ato 
preparatório. Da mesma forma, o estudo do local do crime, buscando identificar a 
melhor hora e forma de ingressar no ambiente, constituem atos preparatórios do crime 
de furto. 
Os atos preparatórios, via de regra, não são puníveis, nem na forma tentada, uma 
vez que, nos termos do artigo 14, inciso II, do Código Penal, afigura-se necessário o início 
da execução do delito, com a realização da conduta nuclear descrita no tipo penal. 
Todavia, em casos excepcionais, o legislador descreve atos que na sua concepção 
seriam preparatórios como delitos autônomos. São os chamados crimes-obstáculo. 
Nesses casos, o legislador considera o ato preparatório de um determinado 
delito em crime autônomo e independente, tratando-o, na situação específica, como 
verdadeiro ato executório. 
A associação de três ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes, 
constitui crime autônomo (CP, art. 288), ainda que nenhum crime seja praticado. 
Da mesma forma, o legislador considera crime autônomo atos preparatórios 
para a prática do crime de moeda falsa. De fato, nos termos do artigo 291 do Código 
Penal, constitui crime fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou 
guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente 
destinado à falsificação de moeda, ainda que nenhuma moeda tenha sido falsificada. 
O artigo 5º da Lei 13.260/2016 prevê conduta criminosa do agente 
que realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar 
tal delito, ainda que nenhum ato executório seja realizado. 
 
 
47 
 
4.1.4. Execução 
Idealizada a infração penal e após proceder aos atos preparatórios, o agente 
passa à fase de execução do delito, com a efetiva agressão ao bem jurídico tutelado. 
O agente passa a desenvolver conduta voltada a realizar o verbo nuclear do tipo. 
A partir dos atos executórios o fato passa a ser punível, ao menos na forma tentada. Isso 
porque o próprio artigo 14, inciso II, do Código Penal atrelou a tentativa ao início da 
execução do crime, condicionando, pois, sua punibilidade ao início da prática de atos 
executórios. 
O ato executório deve ser idôneo e inequívoco para alcançar o resultado. 
Ato idôneo é aquele suficiente apto a atingir um bem jurídico penalmente 
tutelado, ao passo que o ato inequívoco é aquele que confere a certeza necessária do 
plano concreto do agente no sentido de consumar a infração penal. 
Exemplo: adquirir um revólver para matar a vítima é apenas a preparação do crime de 
homicídio. Agora, desferir o primeiro tiro em direção à vítima já constitui ato executório, 
já que o agente revelou conduta idônea em busca da consumação do delito. 
4.1.5. Consumação 
É o elemento culminante do iter criminis. 
É o momento de conclusão do delito, reunindo todos os elementos do tipo penal. 
Trata-se do crime perfeito ou completo, já que a conduta do agente atingiu a plenitude, 
culminando na concretização dos elementos que definem o tipo penal. 
A consumação reclama um estudo mais pormenorizado. 
 O exaurimento não integra o iter criminis, que encerra com a 
consumação. 
O crime exaurido, também chamado de esgotado, é aquele no qual, 
após ser alcançada a consumação, continua produzindo efeitos decorrentes da 
conduta lesiva do agente. Além disso, o exaurimento do crime se revela quando o 
agente, após atingir a consumação, busca dar nova destinação ou tirar proveito do 
produto do delito praticado. 
 
48 
 
É o caso, por exemplo, do funcionário público que, após atingir a consumação 
mediante a solicitação de vantagem indevida, vem a efetivamente recebê-la. A 
consumação do crime de corrupção passiva (CP, art. 317) ocorre com a solicitação da 
vantagem indevida. O efetivo proveito ulterior com o recebimento dessa vantagem 
não integra o iter criminis, constituindo-se no exaurimento do crime. 
 
EM RESUMO 
* Para todos verem: mapa mental sobre Iter criminis 
 
 
 
 
 
 
 
 
49 
 
4.2. TENTATIVA 
4.2.1. Introdução 
Nos termos do artigo 14, inciso II, do Código Penal, tentativa se caracteriza pelo 
início da execução de um crime, que não se consuma por circunstâncias alheias à 
vontade do agente. 
Como se vê, para caracterizar ao menos crime tentado, deve o agente passar pelos 
atos preparatórios e dar início à execução do delito, que, por razões alheias à sua vontade, 
não alcance a consumação. 
A tentativa possui outras denominações: conatus, crime imperfeito, crime manco, 
ou crime incompleto. 
 
4.2.2. Elementos da tentativa 
A tentativa se reveste de todos os elementos do crime desejado, exceto a 
consumação. 
São três os elementos da tentativa: a) dolo da consumação; b) início da execução 
do crime; c) não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
 
a) Elemento subjetivo 
O elemento subjetivo do crime tentado é rigorosamente o mesmo do crime 
consumado. Ou seja, o dolo do agente que não alcançou o resultado por circunstâncias 
alheias à sua vontade é, por evidente, o mesmo do crime consumado. 
O próprio artigo 14, inciso II, do Código penal faz expressa referência à vontade 
do agente, permitindo a conclusão de que o agente agiu com consciência e vontade de 
alcançar o resultado, mas, por circunstâncias alheias à sua vontade, não conseguiu. 
Note-se

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