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O ENSINO DE FÍSICA E O COTIDIANO UNIASSELVI-PÓS Autoria: Francisco Halyson Ferreira Gomes Indaial - 2022 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2022 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: G633o Gomes, Francisco Halyson Ferreira O ensino de Física e o cotidiano. / Francisco Halyson Ferreira Gomes – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 174 p.; il. ISBN 978-65-5646-380-3 ISBN Digital 978-65-5646-381-0 1. Ensino de Física. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 A Evolução do Ensino de Física no Brasil .................................7 CAPÍTULO 2 Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e o Ensino de Física ........................................................................................67 CAPÍTULO 3 Ensino de Física por Meio de Projetos .................................. 117 APRESENTAÇÃO A ciência tem progredido de forma impressionante. Difícil imaginar, nos dias atuais, nossas vidas sem os aparelhos desenvolvidos pelo trabalho de cientistas e desenvolvedores ao redor do mundo. Quem sabe você não está lendo este texto com o auxílio de um desses equipamentos e se perguntando: como isso funciona? Qual ciência está por trás do desenvolvimento desse aparelho? Nas últimas décadas, o conhecimento humano acumulado nos fez viajar para além das fronteiras do sistema solar, exploramos a constituição da matéria e desenvolvemos tecnologias capazes de nos auxiliar em diferentes tarefas do cotidiano. A Física tem seu papel nesse desenvolvimento e como professores dessa ciência precisamos refletir: que Física estou apresentando aos meus alunos em sala de aula? Fazer uma reflexão da prática pedagógica passa por refletir sobre os objetivos da educação, os objetivos dos estudantes e para onde está caminhando a sociedade na qual a escola está inserida. Se, como professores de Física, quisermos que nossos alunos enxerguem essa ciência para além de teorias e equações matemáticas, precisamos desmistificar muitas questões e uma delas é que cientista não é só uma pessoa privilegiada, que usa jaleco e descobre coisas que jamais alguém pensou em descobrir, e professor não é só uma pessoa que repassa os conteúdos do livro didático. As pessoas estão imersas num mundo de informações, mas lhes falta, algumas vezes, capacidade de filtrar e refletir sobre o conhecimento que é construído. O professor tem, além de outras funções, o papel de ajudar nesse processo e uma das etapas é fazer a transposição didática do que será trabalhado em sala de aula. Olhar para um conteúdo e fazê-lo significativo para o aluno é um desafio. A construção de um currículo de Física envolve várias etapas e pode não ser uma tarefa fácil, uma vez que muitos de nós fomos formados por meio de exemplos descontextualizados e fora da realidade de nossas vidas. É preciso fugir do lugar comum, quebrar paradigmas e passar a construir um ensino de Física capaz de ajudar no desenvolvimento de jovens críticos e reflexivos sobre os fenômenos naturais, culturais, sociais e tecnológicos. Como professores de Física precisamos ter muito claro de onde viemos e para onde queremos ir. Somos rodeados de fenômenos naturais que podem ser explicados com o auxílio da Física e de outras ciências, afinal o desenvolvimento científico é interdisciplinar. Logo, proporcionar diferentes e variadas experiências aos estudantes pode lhes garantir uma aprendizagem significativa e ajudá-los no enfrentamento de novos desafios sociais. CAPÍTULO 1 A Evolução do Ensino de Física no Brasil A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Conhecer as principais mudanças no ensino de Física no Brasil ao longo da história. • Fomentar o espírito crítico no aluno a partir da reflexão sobre os objetivos do ensino de Física. • Discutir o ensino de Física no Brasil. • Empregar os conceitos aprendidos na prática docente. 8 O Ensino de Física e o Cotidiano 9 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A escola passou por diferentes transformações ao longo da história no Brasil. Os objetivos educacionais mudaram conforme a sociedade também se transformou. Vivemos épocas em que a escola era um espaço para a catequização dos colonos e para a formação de mão de obra para um Brasil em desenvolvimento econômico e, atualmente, vivemos em uma sociedade que utiliza de forma diária ferramentas digitais tecnológicas. Que tipo de escola estamos formando? Quais os objetivos da escola? Será que o currículo desenvolvido pelos docentes, nas diferentes áreas do conhecimento, contempla os objetivos de vida dos estudantes? O aprofundamento nessas discussões poderá identificar possíveis caminhos para dar significado aos espaços de construção do conhecimento nas escolas e as práticas docentes dos professores, a partir do relato das experiências compartilhadas ao objeto de estudo deste livro. A Física é parte desse processo de modernização da sociedade. Muitas vezes, sem perceber, utilizamos equipamentos e produtos do desenvolvimento científico no nosso cotidiano em tarefas simples, por exemplo, aquecer um alimento num forno micro-ondas. Quem nunca assistiu ao telejornal para saber se no fim de semana teria sol? Entretanto, poucos sabem de todo o esforço científico para desenvolver satélites, enviá-los para a órbita da Terra e fazer a leitura e a interpretação dos dados coletados por eles. Enfim, será que a escola tem olhado para esses exemplos da vida real ou continua oferecendo um ensino conteudista, retirado do contexto social, político e econômico? Muitos esforços precisam ser empreendidos para agregar diferentes tecnologias ao currículo escolar: políticas públicas voltadas à formação inicial e continuada de professores; redução da desigualdade; flexibilização do currículo; uso de teorias educacionais que concebam o uso de diferentes metodologias como ferramentas importantes para o ensino e a aprendizagem etc. Debater um currículo de Física que olha para ações do cotidiano e a partir delas compreender processos, teorias e conceitos passa por olhar como essa ciência foi construída ao longo da história. Olhar para o passado nos ajuda a compreender o presente, como essa memória é elaborada e adaptada, além de nos ajudar a entender como foi feita, muitas vezes, a apropriação dos frutos do passado. Olhar para a história do currículo de Física nos faz entender como chegamos no ponto em que estamos e, a partir daí, tendo esses subsídios, podemos 10 O Ensino de Física e o Cotidiano transformar nossa prática docente e oferecer um ensino que seja capaz de ajudar a formar cidadãos críticos, capazes de questionar a realidade em que vivem, resolver problemas de forma lógica e consciente e ter a capacidade de analisar situações de forma crítica, respaldada em fatos científicos, afastando-se da sombra do negacionismo. Neste capítulo, conheceremos como foi construída a disciplina Física no Brasil ao longo da história, revisitando os estatutos do Seminário de Olinda, instituiçãoreconhecida por introduzir as bases da Física experimental no Brasil, ainda no século XIX, a Lei de Diretrizes e Bases e, por fim, conheceremos o que mudou com relação ao ensino de Física com a publicação da Base Nacional Comum Curricular. Também conheceremos alguns fatos históricos que marcaram a Física brasileira e assim começaremos nossa imersão na Física do cotidiano. 2 A EVOLUÇÃO DO ENSINO DE FÍSICA NO BRASIL A escola é um espaço onde as relações sociais, culturais e afetivas são fortalecidas. Em todos os seus processos, a formação humana é muito presente e todos os seus integrantes, professores, alunos, funcionários, pais/responsáveis, comunidade, precisam canalizar esforços para atingir os objetivos educacionais. Como objetivos das instituições de ensino, podemos destacar o desenvolvimento das potencialidades dos estudantes por meio do ensino e da aprendizagem dos conteúdos de todas as áreas do conhecimento, sempre almejando uma formação cidadã. Dentre as disciplinas que colaboram para a formação do estudante, temos a Física. A Física faz parte do grupo das disciplinas que compõem a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Além de estudar os fenômenos da natureza, a Física auxilia, dentre outras coisas, o aluno a desenvolver um olhar crítico para o uso do espaço no qual ele vive. O desenvolvimento da Física ao longo dos anos ajudou a sociedade a aprimorar tecnologias. Ajudar o estudante a reconhecer a ciência por trás dos diferentes equipamentos tecnológicos que ele utiliza em tarefas cotidianas fará com que a ciência deixe de ser encarada como algo distante, por exemplo, o aluno perderá a visão distorcida de que a ciência somente é aquela produzida por cientistas em laboratórios. Nesta seção, veremos como a Física vem sendo trabalhada nas escolas brasileiras ao longo da história. Entender esse caminho é fundamental para nos reconhecermos como elementos importantes da construção do currículo de Física. Ao final desta seção você conhecerá um pouco mais da origem da Física 11 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 experimental no Brasil, compreenderá como a Física foi organizada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação no Brasil e, por fim, perceberá quais mudanças a BNCC trouxe com relação ao ensino de Física no país. 2.1 SEMINÁRIO DE OLINDA: MARCO DO ENSINO DE FÍSICA EXPERIMENTAL NO BRASIL Segundo Saviani (2019), a educação brasileira inicia no ano de 1549 com os jesuítas. Com a anuência da coroa portuguesa, os padres jesuítas tinham a missão de converter os nativos da terra recém-descoberta pelos portugueses. Os jesuítas ao longo dos anos que atuaram no Brasil construíram escolas, seminários, ajudaram a fundar cidades e foram responsáveis por grande parte do conhecimento construído a respeito do Brasil à época. A educação jesuíta era baseada na enculturação, nas tradições e nos costumes, na instrução intelectual e na aprendizagem do oficio, seu plano geral de ensino era inspirado no modus parisienses, no qual os alunos ficavam dispostos em classes, realizavam exercícios, eram incentivados à competição e eram avaliados por exames, as aulas tinham caráter expositivo e a repetição dos conteúdos era uma das estratégias metodológicas (SAVIANI, 2019). Os jesuítas concebiam a educação como uma forma de moldar o homem a uma essência universal e ideal. Atualmente, classificamos as ideias pedagógicas desenvolvidas pelos jesuítas como pedagogia tradicional. Você acredita que a pedagogia tradicional ficou no passado ou ainda podemos percebê-la em algumas escolas brasileiras? 12 O Ensino de Física e o Cotidiano Somente com as reformas promovidas pelo Marquês de Pombal, em meados do século XVIII, que o ensino jesuítico deixou de ser desenvolvido no Brasil, bem como em todas as colônias portuguesas, uma vez que os jesuítas foram expulsos desses territórios. À época, Portugal desejava se inserir no mundo moderno e estar atrelado a um ensino aristotélico como o promovido pelas escolas jesuíticas, avesso aos métodos modernos da ciência, dificultava esse processo. Segundo Saviani (2019), foi nesse período que Portugal desenvolveu um ensino que teria como finalidade ajudar no crescimento industrial e comercial do país, promover o progresso das artes e das ciências, além de elevar o nível de riqueza e bem-estar. Para alcançar esses objetivos, a educação promovida pela reforma pombalina substituiu o ensino verbalístico ou livresco e disputas retóricas por estudos históricos e emprego do método experimental. Podemos perceber o caráter prático dado à escola, ela teria que ser útil aos interesses do Estado, auxiliando no seu desenvolvimento. Saviani (2019) afirma que as reformas pombalinas não foram tão bem-aceitas no reinado de D. Maria, que permitiu o retorno às antigas tradições, como a presença de religiosos ao magistério. Nesse contexto histórico, político, social e cultural de crescimento e desenvolvimento de Portugal, é fundado em Olinda, cidade do estado de Pernambuco, no ano de 1800, um seminário, que ficou conhecido como uma das melhores instituições de ensino do Brasil. Na história da Física, o Seminário de Olinda é reconhecido como elemento importante para o desenvolvimento da Física experimental no Brasil. O modelo de ensino básico, ofertado pelo Seminário, dedicava boa parte do tempo à observação, à catalogação e à escrita sobre os fenômenos naturais, principalmente da região próxima onde se localiza o prédio do Seminário. O bispo José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho foi o responsável por implantar o seminário em Olinda e por adotar métodos de ensino baseados na investigação da natureza. O documento Estatutos do Seminário Episcopal de Nossa Senhora da Graça da cidade de Olinda de Pernambuco registra, em três partes, a forma como os conteúdos seriam trabalhados e a forma de organização administrativa e pedagógica da instituição. A primeira parte está dividida em 13 capítulos, nela foi registrada a forma como o seminário seria gerido, assim como as posses econômicas. Na segunda parte, dividida em três capítulos, foram registradas observações sobre a moral, e na terceira parte, dividida em 25 capítulos, foi feito o registro da organização acadêmica do seminário. 13 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 A Filozofia é a ciência, que ensina a indagar as coizas pelas suas cauzas e feitos; e se divide em três grandes partes, que são a Racional, Moral e Natural: na Filozofia Racional se compreende a Lojica, que dirije as operações do entendimento, e a Ontologia, que prepara os princípios ideaes de todas as ciências: a esta se ajunta a Pneumatolojia, na qual se compreende a ciência dos espíritos, e se divide em Teolojia Natural, e Psicolojia, e do concurso de ambas se forma a Metafizica, que trata dos princípios, e da Natureza Espiritual. Na Moral se compreende tudo o que pertence a Etica, que trata da compozisão dos costumes, e da moderasão das paixões, em que consiste a felicidade da nosa vida. Na Natural finalmente tudo o que pertence a contemplasão da Natureza, e Nós no noso Seminario, não pretendemos estabelecer um Colegio de ciencias universais; mas fim, e tão somente uma Escola de principios elementares, próprios não só de um bom, e verdadeiro Ministro d Igreja; mas também de um Cidadão nas suas obras, e as fas servir ao bem dos ómens: na primeira parte trateremos da Lojica, Metafizica, e Etica, e parte da Fizica Experimental; e na segunda da Istoria Natural, e Quimica. O professor de Filozofia explicará tambem um dos ramos da Filozofia Natural, ou Fizica Experimental pelo que pertence tão somente á Mecanica, e a Idrostática, e os princípios necesarios para a inteligência das maauinas, e das suas forsas, cujo conhecimento é muito necesario para fazer mover, e levantar grandes corpos, e conduziras aguas em um pais, cujo fundo principal consiste na Agricultura, e no trabalho de lavrar as terras, cavar, e extrair os mineraes. FONTE: COUTINHO, D. J. J. da C. A. Estatutos do Seminário Episcopal de N. Senhora da Graça da Cidade de Olinda de Pernambuco. Lisboa: Tipografia da Academia Real de Ciências, 1798. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/ document/?code=000322967&opt=1. Acesso em: 31 ago. 2021. De forma particular, o Capítulo 5 é dedicado à estrutura da disciplina Filosofia Natural, atualmente conhecida como Física. O trecho a seguir foi retirado do documento original do Estatuto do Seminário de Olinda. É curioso notar como a Língua Portuguesa sofreu transformações nesses séculos. Fique atento também à forma como foi organizado o ensino de Física, às áreas que foram dadas ênfase e como a Física estava ligada à Filosofia. 14 O Ensino de Física e o Cotidiano A partir da leitura desse trecho dos Estatutos do Seminário de Olinda podemos perceber um caráter utilitário dos conteúdos. Podemos pensar que para construir o plano de ensino oferecido à época uma das perguntas que poderiam ser feitas seria: esse conteúdo poderá ser utilizado na vida das pessoas? Quais elementos você, como professor de Física, utiliza para estruturar o currículo que será trabalhado no ano letivo? Segundo Almeida et al. (2008), a filosofia natural, definida como o estudo de tudo o que pertence à ‘contemplação da natureza’, é a parte que manifesta a orientação radicalmente moderna do projeto de Azeredo Coutinho. Foi exatamente essa modernidade que apareceu pela primeira vez no Brasil no Seminário de Olinda. Podemos inferir que a experimentação, defendida nos Estatutos, era o diferencial do Seminário de Olinda frente a outras instituições de ensino, que davam à Física um tratamento aristotélico, baseado num vasto acervo bibliográfico. Outra palavra que podemos inferir como essencial para a escolha dos conteúdos ministrados no seminário é utilidade. Muitas vezes em nossas salas de aula ouvimos indagações do tipo: ‘professor, onde eu vou usar isso que você está falando na minha vida?’. Por trás dessa fala podemos concluir várias e uma delas é que o aluno que faz essa pergunta não vê sentido naquilo que o professor está ensinando. Podemos identificar no trecho dos Estatutos do Seminário de Olinda que duas atividades econômicas eram majoritárias na época: a agricultura e a mineralogia. Logo, o Seminário de Olinda passou a oferecer em suas aulas componentes que poderiam auxiliar os alunos nas suas atividades, daí a valorização da mecânica, da hidrostática e de princípios de funcionamento de máquinas. Com base nesses tópicos, era emergente conceber aulas em que os alunos pudessem ir a campo explorar os espaços e registrar os fenômenos estudados por meio de desenhos e dissertações. Vale lembrar que as experiências realizadas à época eram bem diferentes das que são realizadas nos laboratórios de Física experimental na contemporaneidade. 15 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 A seguir, enumeramos as principais características da Física experimental desenvolvida no Seminário: a) Predomínio de estudos da Filosofia Natural sobre os da Filosofia racional e moral. b) Baseada na demonstração. c) Não preditiva. d) Não quantitativa. O ensino de Física experimental, assim como todas as outras disciplinas, tinha como fonte a Universidade de Coimbra. Segundo Almeida et al. (2008), mesmo antes da reforma promovida em 1772, Portugal contava com dois grandes personagens: Teodoro de Almeida (1722-1804) e Inácio Monteiro (1724-1812). Um dos instrumentos construídos pelo experimentalista Teodoro de Almeida foi um planetário capaz de reproduzir sessenta movimentos e um mapa em relevo para cegos. Nesse momento, chamamos atenção ao caráter lúdico dado à Física. Teodoro não só se preocupava em fomentar o ensino de Física, mas como este poderia ser entendido por diferentes pessoas, contrastando com o ensino homogêneo e livresco dos jesuítas. Para o professor Teodoro, segundo Almeida et al. (2008), a Física ou Filosofia Natural é uma ciência que trata de todas as coisas naturais, dando a razão e apontando a causa de todos os efeitos ordinários e extraordinários que vemos com os nossos olhos. Com as perseguições do Marquês de Pombal, Teodoro de Almeida exilou-se na França e coube a Giovanni Antonio Dalla Bella, físico italiano, como professor titular da cadeira de Física experimental, escrever os estatutos dessa disciplina. Segundo Almeida et al. (2008), são tópicos desses estatutos: Sutileza (divisibilidade) das partes da matéria; Impenetrabilidade; Porosidade; Inércia; Atração; Magnetismo; Gravidade; Centro de gravidade; Máquinas simples e compostas; Atrito; Movimento simples e composto; Forças que animam os corpos em movimento; Percussão; Forças centrais; Coesão e resistência dos sólidos; Hidrostática e Hidráulica; Calor; Luz; Dióptrica; Catóptrica; Ar; Eletricidade; Material omitido e Utensílios. Esses tópicos eram divididos em duas partes: Física geral, que compreendia os fundamentos, e Física particular, que compreendia assuntos considerados de especialidade. O Quadro 1 mostra quais eram as designações de cada uma das partes da Física experimental da Universidade de Coimbra. 16 O Ensino de Física e o Cotidiano QUADRO 1 – DESIGNAÇÕES DA FÍSICA GERAL E DA FÍSICA PARTICULAR DA CADEIRA DE FÍSICA EXPERIMENTAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA Física geral Física particular Propriedades gerais e estrutura da matéria: extensão, divisi- bilidade, forma, porosidade, compressibilidade, mobilidade, elasticidade etc. Propriedades e natureza dos fluidos e fenômenos devido à tensão superficial, como capilaridade. Leis do equilíbrio e do movi- mento simples e composto. Propriedades do ar, pressão, densidade, dilatação, difusão, natureza e propagação do som. Instrumentos acústicos. Fenômenos da gravidade e explicação da aceleração dos graves. Propriedades da água, considerada nos difer- entes estados de ‘licor, vapor, neve etc.’. Es- tudo do fogo, ou fenômenos térmicos, como hoje diríamos. Propriedades da luz e fenômenos luminosos. Instrumentos que são de uso na óptica. Propriedades magnéticas dos corpos. Eletricidade. Estudo dos meios de fazer na- scer a virtude elétrica e dos sinais por onde ela se manifesta. FONTE: Adaptado de Nicioli Júnior e Mattos (2020) A demonstração experimental dessas propriedades revestia- se da máxima importância, não só porque constituíam os alicerces sobre os quais iria ser construído todo o edifício da física experimental, mas também porque algumas delas (divisibilidade, impenetrabilidade e, até certo ponto, porosidade) estavam diretamente relacionadas com o controverso tema da estrutura atômica da matéria, cerne de acesas discussões filosóficas entre escolásticos e partidários das novas correntes (ALMEIDA et al., 2008, p. 501). No período que os Estatutos da cadeira de Física experimental da Universidade de Coimbra foram escritos, quais teorias físicas estavam sendo desenvolvidas? Quais físicos teóricos mais se destacavam? 17 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 A cadeira de Filosofia Natural – Física experimental – do Seminário de Olinda desenvolveu suas bases de ensino conforme as bases da Física experimental da Universidade de Coimbra e um dos principais produtos das aulas de Física experimental do Seminário de Olinda foi a vasta coleção sobre os produtos do Brasil. Segundo Nogueira (1985), o estudo de história natural do Seminário de Olinda se orientava no sentido não somente de dar aos estudantes o conhecimento teórico e prático das coisas da natureza pernambucana, mas também no sentido de promover com os naturalistas de outras terras e regiões (esse era também o alto propósito da Academia Realde Ciências) útil intercâmbio científico, porque, sob a orientação do professor, os alunos deviam para esse fim organizar uma coleção de história natural dos produtos do Brasil. Portanto, os pressupostos do ensino de história natural no Seminário de Olinda estavam orientados por uma visão vandeliana-lineana da natureza, isto é, descritiva e classificatória, mas com forte viés utilitarista. Interessava ao ensino o levantamento dos “produtos úteis” da natureza e não a sua observação curiosa e descomprometida (ALMEIDA et al., 2008, p. 492). Quais aspectos das aulas de Física experimental desenvolvidas no Seminário de Olinda podem ser resgatados, transformados e utilizados na sua prática pedagógica? Neste capítulo, estamos fazendo um resgate histórico do ensino de Física, percebendo diferenças e aproximações com o ensino de Física promovido em sala de aula atualmente. A história é feita por personagens, pessoas ou instituições que se destacam pela ousadia, perseverança e engajamento. Um personagem importante por ter colocado o Seminário de Olinda no rol das instituições de ensino de destaque e que não poderíamos deixar de citar é Azeredo Coutinho. O bispo José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho (1742-1821) foi o responsável pela fundação do Seminário de Olinda, em 1800, e pela elaboração dos seus estatutos. Para Almeida et al. (2008), Azeredo foi um personagem contraditório na história brasileira, ao mesmo tempo que defendia a escravidão, o despotismo esclarecido e a coroa portuguesa, desenvolveu um dos mais ousados planos educacionais para a época. 18 O Ensino de Física e o Cotidiano Para Azeredo Coutinho, conhecer as riquezas naturais dos domínios de Portugal implicava, principalmente, o conhecimento dos recursos naturais do Brasil, a colônia mais extensa e mais rica. Dificuldades marcaram a execução do seu projeto, pois a sua realização dependeria da formação de “filósofos naturalistas” dispostos a interiorizarem-se para que os recursos brasileiros nos reinos mineral, da flora e da fauna fossem inventariados. As conjecturas de Azeredo Coutinho esbarravam num fato: em seu tempo, o filósofo naturalista era um homem de gabinete, que vivia nos centros urbanos e não se dispunha a fixar-se nos sertões (ALMEIDA et al., 2008, p. 486). Para Almeida et al. (2008), uma das grandes contribuições para o ensino de Física promovido por Azeredo Coutinho foi a criação do gabinete de Física. “Gabinete de Física” é uma expressão portuguesa e europeia típica do século XVIII. Seu significado não é exatamente o mesmo de um laboratório de Física, no sentido moderno de um ambiente no qual estudantes possam manipular diretamente os instrumentos, mas sim o de uma sala de demonstrações experimentais conduzidas por um demonstrador habilidoso. Isso foi assim em Portugal e em toda a Europa. A Física era demonstrativa e só se fará preditiva e quantitativa no começo do século XIX (ALMEIDA et al., 2008, p. 498). Como dito anteriormente, o ensino de Física no Seminário estava baseado em Coimbra. Logo, o gabinete de Física do Seminário também sofreu essa influência acadêmica. Assim: O gabinete era um espaço para demonstrar na prática os conceitos apresentados oralmente. Ainda, segundo o autor, no gabinete eram encontrados instrumentos que se destinavam essencialmente a três tipos de experiências. Algumas não passavam de uma simples diversão, outras para explicar temas da Física experimental, ainda não devidamente esclarecidos, pois a maior parte dos fenômenos que preocupavam a Física do século XVIII, o ar, o calor e o fogo, explicavam-se baseados no modelo dos fluidos sutis, bastante útil neste tempo. Assim, a visão positivista de que só o suporte experimental permitiria tornar claros os fenômenos, não se cumpria quase nunca nessa época (ALMEIDA et al., 2008, p. 500). O ensino de Física no Seminário de Olinda não teve uma duração muita longa, uma vez que, com a saída de Azeredo Coutinho, as cadeiras de filosofia natural e desenho foram extintas e o Seminário direcionou esforços para a formação eclesiástica. A própria história do Seminário de Olinda foi curta. Os fatores que contribuíram para o encerramento das atividades do Seminário foram: a 19 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 Revolução Pernambucana, a diminuição do número de matrículas ao longo dos anos, a criação do Colégio das Artes, em 1824, e a criação do Liceu Provincial de Pernambuco, em 1827. 2.2 REFORMAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS E O ENSINO DE FÍSICA Vamos agora conhecer as principais mudanças educacionais promovidas pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), com um olhar atento ao ensino de Ciências/ Física. No Brasil, foram promulgadas três LDB: em 1961, que tinha sido prevista na Constituição Federal de 1931, em 1971 e em 1996, que passou por uma reforma em 2016. Entretanto, o que é uma Lei de Diretrizes e Bases? Quais os seus objetivos? A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) é a legislação que define e regulamenta o sistema educacional brasileiro. Ela reafirma o direito à educação, define as obrigações do Estado, as formas de financiamento do ensino e é válida para qualquer sistema de ensino, ou seja, escolas públicas e privadas (BRASIL, 1996). Você pode estar se perguntando: por que foi importante a criação de uma Lei que regulamentasse o sistema educacional? A escola, ao longo da história, não era para todos? Para ajudar a responder essas perguntas, convidamos você a ler o livro a seguir: XAVIER, M. do C. (org.). Clássicos da educação brasileira. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010. 224 p. 20 O Ensino de Física e o Cotidiano 2.2.1 O período pré-LDB O período anterior à primeira LDB foi marcado por duas reformas educacionais, a Reforma Francisco Campos e a Reforma Capanema, ambas pensadas após o governo de Getúlio Vargas (1930-1945). Segundo Vidal e Paulilo (2010), a Educação nesse período foi marcada por lutas sociais históricas entre duas correntes de pensamento, de um lado, os escolanovistas, como o nome sugere, defensores do movimento Escola Nova, que defendiam uma educação laica, gratuita e para todos, tendo o Estado como principal, se não o único mantenedor, e, do outro lado, uma ala mais conservadora, ligada a setores da Igreja. Ao procurar responder o que se deve entender por Escola Nova, Lourenço Filho deixava claro tratar-se de um conjunto de doutrinas e princípios tendentes a rever os fundamentos da educação. Sobretudo, insistia que o movimento renovador do ensino era, em sua finalidade, obra social. [...] Para Lourenço Filho, da mesma forma que a biologia e a pscicologia vinham mudando as bases de aplicação da ciência na educação, a crítica sociológica impunha a revisão dos fins da escola (VIDAL; PAULILO, 2010, p. 26). Segundo Queiroz (2016), as principais mudanças no ensino de ciências promovidas pela reforma Francisco Campos foram: o predomínio de disciplinas de cunho científico sobre as clássicas e a presença do ensino de ciências em todas as séries do ensino secundário. Entretanto, a falta de profissionais habilitados para lecionar as disciplinas da organização curricular das ciências, de forma específica a Física, dificultou a execução dessa reforma como desejada. Queiroz (2016) afirma que essa disciplina era ensinada por engenheiros, médicos ou qualquer outro estudante e até bacharéis em ciências sociais e foi somente com a criação da faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo que o quadro de professores de Física começou a se formar e a ocupar o espaço que lhe cabia, mesmo assim, o problema da falta de professores habilitados para o ensino de Física estava longe de ser resolvido. 21 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 A falta de professores habilitados para ensinar Física trouxe quais consequênciaspara o ensino dessa ciência no Brasil? Atualmente, o quadro de professores de Física é suficiente para atender à necessidade das escolas? A segunda reforma, antes da promulgação da LDB/1961, levou o nome de reforma Capanema. À época, a Constituição Federal acabara de ser promulgada, o Estado Novo, com sua tendência nacionalista, creditava ao Estado o dever com a educação, porém dava abertura à iniciativa privada para gerir seus próprios sistemas educacionais, dentre eles, os geridos pela Igreja. Queiroz (2016) afirma que a reforma Capanema reorganizou todos os níveis de ensino, as principais mudanças foram: a criação do sistema S de ensino, isto é, a criação do Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), a organização do ensino industrial, do ensino secundário, do ensino primário, do ensino agrícola e do ensino comercial, além do retorno de uma postura conservadora. Dentre as reformas na organização do ensino, daremos destaque ao Ensino Médio, que na época era chamado de ensino secundário. Essa modalidade de ensino foi organizada pelo Decreto-Lei nº 4.244/42 em dois ciclos: o ciclo ginasial, dividido em quatro séries, e o ciclo colegial, dividido em dois cursos, clássico e científico, cada um com três séries. O Quadro 2 apresenta a estrutura curricular final desenhada pela reforma Capanema. QUADRO 2 – ESTRUTURA CURRICULAR PELA REFORMA CAPANEMA Ginasial Colegial Clássico Científico 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 1ª ano 2º ano 3º ano 1º ano 2º ano 3º ano Por- tu-guês Portu-guês Por- tu-guês Por- tu-guês Por- tu-guês Por- tu-guês Portu-guês Por- tu-guês Por- tu-guês Portu-guês Latim Latim Latim Latim Latim Latim Latim Inglês Francês Matemá-ti- ca Francês Francês Francês Francês Grego Grego Grego Espa-nhol Inglês Física Matemáti- ca Matemáti- ca Matemáti- ca Matemáti- ca Francês ou inglês Francês ou inglês Matemáti- ca Matemáti- ca Matemáti- ca Química História geral História geral História geral História geral Espa-nhol Espa-nhol Física Física Física Biologia Geografia geral Geografia geral Geografia geral Geografia geral Matemáti- ca Matemá-ti- ca Química Química Química História do Brasil Traba-lhos manuais Traba-lhos manuais Ciências naturais Ciências naturais História geral História geral Biologia História geral Biologia Geografia do Brasil Dese-nho Desenho Desenho Desenho Geografia geral Geografia geral História do Brasil Geografia geral História geral Filosofia 22 O Ensino de Física e o Cotidiano O estudo das ciências – a reforma coloca o problema do estudo das ciências em termos convenientes No curso ginasial, a matemática e as ciências naturais serão estudadas de modo elementar. Seria antipedagógico sobrecarregar os alunos, nessa primeira fase dos estudos secundários, com estudos científicos aprofundados. Ao estudo das ciências, num e noutro caso, orientará sempre o princípio de que não é papel do ensino secundário formar extensos conhecimentos, encher os espíritos adolescentes de problemas e demonstrações, de leis e hipóteses, de nomenclaturas e classificações, ou ficar na superficialidade, na mera memorização de regras, teorias e denominações, mas cumpre-lhe essencialmente formar o espírito científico, isto é, a curiosidade e o desejo da verdade, a compreensão da utilidade dos conhecimentos científicos e a capacidade de aquisição desses conhecimentos. [...] No ensino científico, mais do que em qualquer outro, falhará sempre irremediavelmente o processo do erudito monologar docente, a atitude do professor que realiza uma experiência diante dos Canto orfeôni-co Canto or- feônico Canto orfeônico Canto orfeônico Física Geografia do Brasil Desenho Geografia geral Desenho Inglês Inglês Inglês Química Filosofia Desenho FONTE: Adaptado de Queiroz (2016) A análise do Quadro 2 mostra que mesmo o curso científico possuía, quantitativamente, poucas disciplinas nessa área do conhecimento, prevalecendo no programa disciplinas na área de humanidades. A Reforma Capanema reforçou o ensino dualista. Essa dualidade era sentida nos exames de admissão e nos currículos trabalhados nas escolas, uma vez que essa reforma destacou a separação de classes sociais. Aos filhos das classes mais baixas da sociedade era destinado o ensino para o trabalho e aos da classe dominante um ensino voltado para a direção da sociedade. Olhando para o ensino das Ciências, essa área do conhecimento era estudada a partir da terceira série do ginasial. A Física estava presente no colegial: no curso clássico, na segunda e na terceira série, e no científico, nas três séries. O texto a seguir apresenta a forma como o ensino de Ciências foi pensado durante a reforma Capanema. 23 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 alunos inexpertos como se estivesse fazendo uma representação, o método de inscrever na memória a ciência dos livros. Nas aulas das disciplinas científicas, os alunos terão que discutir e verificar, terão que ver e fazer. Entre eles e o professor é necessário estabelecer um regime de cooperação no trabalho, trabalho que deverá estar cheio de vida e que seja sempre, segundo o preceito deweyano, uma “reconstrução da experiência”. Se as ciências forem ensinadas assim, sob a influência das coisas concretas, em contato com a natureza e a vida, de um modo sempre ativo, formarão, tanto nos alunos do curso científico como nos do curso clássico, uma conveniente cultura científica, que concorra para definir-lhes a madureza intelectual e que os habilite aos estudos universitários de qualquer ramo (BRASIL, 1942, Exposição de Motivos). FONTE: QUEIROZ, M. N. A. O ensino de Física no Brasil nas décadas de 1960 e 1970: legislação, material didático e currículo. 2016. Tese (Doutorado em Ensino de Física) - Programa de Pós- Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Queiroz (2016) afirma que para promover um ensino nesses termos era preciso oferecer ao professor liberdade para planejar suas aulas, em contraposição, o que se vivenciava era um programa rigidamente constituído pelas comissões do Governo Federal. Além disso, o momento político do Brasil na década de 1940 não contemplava tamanha autonomia necessária para promover o ensino referido pela reforma Capanema. Converse com pessoas que estudaram nesse período e pergunte como era a estrutura dos cursos promovidos nas escolas. Os programas curriculares, como apresentados no Quadro 2, eram seguidos pelas escolas? A disciplina de Física tinha um caráter teórico ou experimental? 24 O Ensino de Física e o Cotidiano Na década de 1960, o Brasil passou por mais uma mudança no sistema educacional, dessa vez, foi promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Assunto que trataremos na subseção a seguir. 2.2.2 Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961 – LDB/1961 A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira (Lei nº 4.024/1961) foi sancionada sob forte perturbação política, o presidente eleito Jânio Quadros renuncia poucos meses após assumir a presidência do país e João Goulart assume como Presidente do Brasil, enfrentando forte oposição política até ser deposto pelos militares em 1964. Você pode estar se perguntando: por que foi importante a criação da LDB? Vamos nos amparar em Queiroz (2016) para responder essa pergunta. Para o autor, a LDB/1961 representou um marco na Educação do Brasil, pois foi a primeira legislação educacional que, sozinha, tratou de todos os ramos e níveis do ensino. A LDB já havia sido prevista na Constituição Federal de 1937 em seu Artigo 15, inciso IX. Ela foi discutida por um período de 13 anos e, finalmente, no dia 20 de dezembro de 1961, ela foi sancionada pelo Presidente João Goulart. O trecho a seguir, retirado do textooriginal, reflete os fins da educação: Art. 1º A educação nacional, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por fim: a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade; b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem; c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional; d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua participação na obra do bem comum; e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio; f) a preservação e expansão do patrimônio cultural; g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raça (BRASIL, 1961, p. 1). O Quadro 3 apresenta a forma como o ensino brasileiro foi modelado. É possível perceber que a estrutura se manteve muito parecida ao que foi desenhado na Lei anterior. 25 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 QUADRO 3 – ESTRUTURA DO ENSINO BRASILEIRO SEGUNDO A LDB/1961 Modalidade de ensino Características Ensino pré-primário Destinado a crianças menores de sete anos. Ministrado em escolas maternais. Ensino primário Ministrado em quatro séries. Tem a finalidade de promover o desenvolvi- mento do raciocínio e das atividades de ex- pressão da criança. Ensino Médio Ministrado em dois ciclos: ginasial, com du- ração de quatro anos, e colegial, com duração de três anos. Exigência de exame de admissão para ingres- sar. Incentivo ao ensino técnico nas categorias Industrial, Comercial e Agrícola. Permanência do ensino normal para a for- mação de professores. Ensino Superior Manteve a estrutura anterior à LDB. FONTE: Adaptado de Brasil (1961) Se a estrutura se manteve tão apegada a que já era praticada antes da LDB, em que a Lei foi inovadora? Podemos destacar dois pontos de inovação: a flexibilização concedida aos sistemas estaduais e aos sistemas de ensino para organizar seus currículos, mesmo que o Governo Federal mantivesse comissões para regrar tais ações, e a obrigatoriedade de financiamento da educação pelo Estado. Segundo Queiroz (2016), o que se viu na prática foi que o Conselho Federal de Educação (CFE) se limitou a definir um rol de disciplinas obrigatórias, complementares e optativas, deixando de se indicar programas curriculares, como acontecia em sistemas de ensino anteriores a esta Lei. No que se refere ao ensino de Ciências, observe o trecho a seguir: 26 O Ensino de Física e o Cotidiano Indicação s/n do Conselho Federal de Educação sobre organização dos quadros curriculares do ensino secundário ginasial e colegial – Ciências As disciplinas “Iniciação a Ciências” e Ciências Físicas e Biológicas” não devem ser consideradas predominantemente em seu conteúdo ou quantidade de matéria exigida. O essencial é a orientação didática do curso, que deverá ter em vista o desenvolvimento de hábitos e atividades peculiares aos que se dedicam à pesquisa científica, principalmente à capacidade de iniciativa e de invenção. Assim sendo, os métodos usados no ensino não são menos importantes do que os fatos ou leis ensinadas, com o que não se pretende subestimar a importância dos conhecimentos, senão evitar que se continue a insistir na simples memorização de noções. Muito se conseguirá não só apreciando-se a contribuição dos cientistas do passado e do presente e lançando-se em relevo a importância da ciência e do método científico para o progresso da humanidade, mas também, e principalmente, reduzindo-se as aulas puramente expositivas, incentivando-se o hábito de consulta à biblioteca adequada ao nível dos alunos e estimulando-se as atividades individuais, tais como a observação e a experimentação próprias, a construção de aparelhos científicos, a organização de coleções, o preparo de quadros, murais, a realização de excursões etc. Para a execução desses objetivos, disporá o professor dos mais variados temas, que serão escolhidos de acordo com os recursos de que dispuser. O ar, a água, o solo, a luz, o calor, o som, a eletricidade e o magnetismo, entre outros, levarão o aluno a compreender a importância do meio, a necessidade de explorar os recursos naturais e as possibilidades de sua utilização. Como segunda fase, o estudo dos seres vivos, plantas e animais sem consideração excessiva dos aspectos morfológicos e sistemáticos, proporcionará rico material para melhor entendimento das relações entre a vida e o meio, bem como o conjunto de funções indispensáveis à existência de qualquer organismo, pondo-se em evidência o modo pelo qual animais e plantas obtêm os alimentos e os utilizam, principalmente como fonte de energia para todas as suas necessidades e a maneira pela qual se opera a adaptação do 27 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 organismo como um todo ao seu meio. De tudo isso chega-se ao homem, para situá-lo entre os demais seres vivos, como uma espécie na qual as funções atingem o maior grau de desenvolvimento, sem deixar de mostrar a importância da conservação da saúde e os meios de consegui-la, segundo os preceitos da higiene pessoal e social. Cumpre, finalmente, assinalar que deve ser dada ampla liberdade aos professores, de forma que possam ministrar a disciplina sem nenhuma preocupação de seguir normas pré-adotadas e o ensino se torne vivo e dinâmico e se ajuste aos interesses dos alunos e às variadas condições locais nas escolas das diferentes regiões do país. No 2º ciclo, a diversificação da matéria Física, Química e Biologia, para os currículos que dão maior amplitude aos estudos científicos, permitirá a sistematização e o aprofundamento necessários à preparação dos alunos que desejam dedicar-se às carreiras de maior conteúdo de ciências experimentais. Embora devam os programas, nestes casos, acentuar a precisão dos conhecimentos e dos métodos, não se deve abandonar a mesma orientação pedagógica indicada de contato direto dos alunos com as experiências e a realidade estudada. FONTE: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/81/81131/tde- 26012017-104013/publico/Maria_Neuza_Almeida_Queiroz.pdf>. Acesso em: 19 set. 2021. O que podemos inferir a partir da leitura do texto anterior: a) Pretendeu-se dar ao ensino de ciências um caráter mais investigativo e menos memorístico. b) Flexibilização do professor para adotar as metodologias necessárias para a promoção do ensino. c) Aulas guiadas para a descoberta, contextualização e ativismo do aluno. d) Estimulação do espírito científico e liberdade do aluno para construir o conhecimento utilizando espaços não formais de ensino. e) Visão do homem como parte da natureza. f) Currículos de Física, Química e Biologia adaptados para os alunos que desejarem dar prosseguimento em estudos superiores. 28 O Ensino de Física e o Cotidiano Com base na leitura do texto anterior e nas observações descritas, como você associa o ensino de Ciências previsto pela LDB/1961 e a formação discente? Nascimento (2012) afirma que a falta de professores com formação adequada para exercer o trabalho docente nas escolas de ensino básico no Brasil era um dos entraves para a reforma educacional que se desenhava. Uma das soluções encontradas foi criar os cursos de Licenciatura de curta duração de Ciências. Esses cursos só deixaram de ser oferecidos pelas Instituições de Ensino Superior no Brasil após a promulgação da Lei nº 9.394/96. 2.2.3 Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971 – LDB/1971 Em 11 de agosto de 1971, o Presidente Emílio Garrastazu Médici sancionou a Lei nº 5.692, conhecida como LDB/1971. A referida lei substituiu a LDB/1961 e vigorouaté o ano de 1996. As principais características da LDB/1971 são: a) Simplificação da divisão das séries. b) Estruturação do currículo pelo Conselho Federal de Educação. c) Incentivo ao ensino profissionalizante. A partir da LDB/1971 o ensino básico foi dividido em dois ciclos. O primeiro ciclo foi denominado de 1º grau e o segundo ciclo de 2º grau. Em seu Artigo 1º, a lei estabelece que o ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de autorrealização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania. Destacamos que o ensino básico promovido pela LDB/1971 não tinha caráter universal e não era obrigatório. Desse fato temos que muitas crianças, principalmente de classes sociais menos favorecidas, não estudavam ou frequentavam a escola somente até as séries iniciais. O Quadro 4 apresenta as principais características da organização do ensino promovidas pela LDB/1971. Duas inovações podem ser observadas: uma simplificação na estrutura do ensino e a criação do ensino supletivo para tentar diminuir o analfabetismo no Brasil. 29 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 QUADRO 4 – ESTRUTURA DO SISTEMA DE ENSINO CONFORME A LDB/1971 1º grau 2º grau Ensino Supletivo Destina-se à formação da criança e do pré-adolescente, variando em conteúdo e métodos segundo as fases de desenvolvimento dos alunos. Destina-se à for- mação integral do adolescente. Suprir a escolarização regular para os adoles- centes e adultos que não a tenham seguido ou con- cluído na idade própria. Duração de oito anos. Duração de três ou quatro anos. Duração e regime escolar que se ajustem as suas finalidades próprias. Idade mínima de sete anos. Pré-requito: ter concluído o 1º grau. O Supletivo do 1º grau destina-se aos maiores de 18 anos e o de 2º grau aos maiores de 21 anos. FONTE: Adaptado de Brasil (1971) Enquanto o movimento Escola Nova defendia que recursos públicos fossem aplicados no sistema de ensino público, a LDB/1971 trouxe a figura do PEBE (Plano Especial de Bolsas de Estudo), dando abertura para que o Estado pudesse auxiliar financeiramente instituições de ensino privadas. Observe parte da Lei que trata do assunto: Art. 45. As instituições de ensino mantidas pela iniciativa particular merecerão amparo técnico e financeiro do Poder Público quando suas condições de funcionamento forem julgadas satisfatórias pelos órgãos de fiscalização e a suplementação de seus recursos se revelar mais econômica para o atendimento do objetivo (BRASIL, 1971). Recentemente, o debate em torno do financiamento da educação básica tomou conta do cenário por conta da renovação do Fundo Nacional da Educação Básica (Fundeb). Um dos pontos de debate foi o repasse de parte dos recursos do fundo a instituições privadas. Como você percebe o financiamento da educação pelo Estado? 30 O Ensino de Física e o Cotidiano Resolução nº 8, de 1º de dezembro de 1971 – Fixa o núcleo comum para os currículos de 1º e 2º graus Art. 2° - As matérias fixadas, diretamente e por seus conteúdos obrigatórios, deverão conjugar-se entre si e com outras que lhes acrescentem para assegurar a unidade do currículo em todas as fases do seu desenvolvimento. Art. 3° - Além dos conhecimentos, experiências e habilidades inerentes às matérias fixadas, observado o disposto no artigo anterior, o seu ensino visará: c) nas Ciências, ao desenvolvimento do pensamento lógico e à vivência do método científico e de suas aplicações. Com relação à estrutura curricular, coube ao CFE promover a elaboração dos currículos que seriam ofertados no 1º e 2º graus. Conforme Queiroz (2016), o núcleo comum aos dois graus trazia como matérias obrigatórias: Comunicação e Expressão, Estudos Sociais e Ciências. Na matéria Comunicação e Expressão, a Lei torna obrigatório o ensino da Língua Portuguesa; em Estudos Sociais: Geografia, História e Organização Social e Política do Brasil (OSPB); e em Ciências: Matemática, Ciências Físicas e Biológicas. Com relação à Física, a principal diferença entre a LDB/1961 e a LDB/1971 diz respeito ao seu caráter obrigatório. Cabe observar que, na LDB/1961, [...] CFB aparece nas indicações do CFE como uma das disciplinas obrigatórias que poderia compor as alternativas admissíveis de organização curricular. Embora esta pudesse ser escolhida para configurar no currículo do curso Colegial ao optar por uma das três alternativas nas quais ela estava presente, havia, no entanto, outra possibilidade de organização do quadro curricular em que esta aparecia desmembrada em disciplinas específicas: Física, Química e Biologia. Já na Lei 5.692/1971, CFB passa a ser área de estudo ou disciplina (da matéria Ciências), dependendo do nível de ensino, e também não se apresenta mais como uma opção para compor o currículo do segundo ciclo (nessa conjuntura, 2º grau), mas sim uma inclusão obrigatória. Em síntese, CFB faz parte do núcleo comum da Educação Geral (QUEIROZ, 2016, p. 113). Trazemos também parte do texto da Resolução nº 8/71, um dos suportes legais à LDB/1971. O documento tem o objetivo de fixar o núcleo comum para os currículos do 1º e 2º graus. 31 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 Art. 4° - As matérias fixadas nesta Resolução serão escalonadas, nos currículos plenos do ensino de 1º e 2° graus, da maior para a menor amplitude do campo abrangido, constituindo atividades, áreas de estudo e disciplinas . § 1º - Nas atividades, a aprendizagem far-se-á principalmente mediante experiências vividas pelo próprio educando no sentido de que atinja, gradativamente, a sistematização de conhecimentos. § 2° - Nas áreas de estudo, formadas pela integração de conteúdos afins, as situações de experiência tenderão a equilibrar- se com os conhecimentos sistemáticos para configuração da aprendizagem. § 3° - Nas disciplinas, a aprendizagem se desenvolverá predominantemente sobre conhecimentos sistemáticos. FONTE: <https://www.scielo.br/j/reben/a/ HGRfCn9wSk7XZckTQKFDYDg/?lang=pt>. Acesso em: 19 set. 2021. Podemos extrair do trecho apresentado as seguintes ideias com relação ao ensino de Física: a) Ao colocar a importância de se conjugar matérias, percebemos uma certa interdisciplinaridade entre as disciplinas. b) Os conteúdos das disciplinas da área de Ciências deveriam ser trabalhados levando em consideração sua aplicabilidade e incentivo ao método científico como metodologia de ensino. c) Em um Brasil que almejava o desenvolvimento industrial e tecnológico, marca do regime político vigente na época, o currículo de Ciências deveria levar o aluno a procurar soluções para problemas, levando em consideração exemplos do cotidiano. 2.2.4 LDB/1996 A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, determina as diretrizes para a educação brasileira segundo treze princípios, alguns foram incorporados ao longo da história, são eles: 1. Igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola. 2. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o 32 O Ensino de Física e o Cotidiano pensamento, a arte e o saber. 3. Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. 4. Respeito à liberdade e apreço à tolerância. 5. Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino. 6. Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. 7. Valorização do profissional da educação escolar. 8. Gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino. 9. Garantia de padrão de qualidade. 10. Valorização da experiência extraescolar. 11. Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. 12. Consideração com a diversidade étnico-racial (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013). 13. Garantia do direitoà educação e à aprendizagem ao longo da vida (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018). A LDB/1996 é uma demanda desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Ela amplia os direitos educacionais de todos os brasileiros, afirma o papel do Estado na promoção da educação pública e valoriza e incentiva a autonomia docente. Dois documentos são complementares à LDB/1996: as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Qual a função das Diretrizes Curriculares Nacionais e dos Parâmetros Curriculares Nacionais? Um conceito que passou a ser bastante difundido após a LDB/1996 é o ensino por competências, mesmo a Lei não tendo abordado tal conceito. Os PCN explicitam três conjuntos de competências a serem desenvolvidas: comunicar e representar; investigar e compreender; contextualizar social ou historicamente. A formação por competências, antes de ser uma proposta para a educação, é um modo de organizar-se no todo da sociedade. As competências estão ligadas, sobretudo, à organização da sociedade em torno do desenvolvimento tecnológico, ocorrido em escala determinante desde as revoluções industriais. As tecnologias não se tornaram apenas formas de qualificar o trabalho, mas o centro das pesquisas e do desenvolvimento econômico, bem como o modo de o homem se organizar e viver. 33 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – PCN+ Uma das ações para compor o currículo da disciplina é a escolha dos conteúdos e estes devem estar de acordo com os objetivos que se deseja alcançar. Assim, competências e habilidades são desenvolvidas por meio de ações concretas. Os PCN mantiveram a forma como a Física é apresentada, isto é, nas áreas tradicionalmente conhecidas: Mecânica, Termologia, Ótica e Eletromagnetismo, porém é preciso fazer uma releitura dos temas e suas formas de apresentação. Podemos enumerar as seguintes características para o ensino de Física com base nos PCN: a) Flexibilização do currículo. b) Valorização da concepção de mundo dos alunos. c) Contextualizar o ensino. Expandir os currículos para competências gerais associadas a saberes específicos busca, na maioria das vezes, minimizar conflitos entre os defensores dos saberes disciplinares e os adeptos da cultura generalista. Para evitar falsas abordagens por competências, um programa estruturado nessa perspectiva terá que precisar o grau de abrangência das competências que pretende construir (RICARDO, 2010, p. 618). A LDB/1996 organizou o currículo escolar em três áreas: Linguagens e Códigos, Ciências Humanas e Ciências da Natureza e Matemática. As três áreas interligam todas as disciplinas que as compõem. É importante ressaltarmos que a implementação de um ensino interdisciplinar passa, dentre outras coisas, por uma reforma no plano curricular da escola. A Física é uma das disciplinas que compõem o Ensino Médio, a presença do conhecimento de Física na escola média ganhou um novo sentido a partir das diretrizes apresentadas nos PCN. Trata-se de construir uma visão da Física que esteja voltada para a formação de um cidadão contemporâneo, atuante e solidário, com instrumentos para compreender, intervir e participar na realidade. Nesse sentido, a Física se apresenta como uma disciplina que ajuda a pessoa a perceber e a lidar com os fenômenos naturais, presentes tanto ao seu redor quanto em partes mais longínquas do universo. Veja, a seguir, a lista de competências para a Física. 34 O Ensino de Física e o Cotidiano d) Apresentar a Física sob diferentes formas de expressão. e) Substituição de problemas por situações-problema. f) Tratar a Física como parte da cultura. g) Formar para a responsabilidade social. Com os PCN, percebemos uma tentativa de fazer com que os alunos enxerguem a Física para além de uma disciplina carregada de equações matemáticas. O documento incentiva professores a construírem um currículo com base em seus objetivos educacionais, respeitando as individualidades e as regionalidades. Destacamos o fato de os conhecimentos prévios dos alunos serem usados como parâmetro para a escolha dos temas, bem como a profundidade com que estes serão trabalhados em sala de aula. Como professores de Física, não podemos perder a articulação entre objetivos, habilidades e estratégias de ensino a serem propostos. Discutir, refletir e experimentar novas formas de vivenciar a Física são algumas das muitas ações a serem desempenhadas pelos professores na tentativa de contribuir para que o ensino de Física contribua para a construção de competências sociais, culturais e científicas. FONTE: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Ensino Médio. Parte III – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília, DF: MEC, 1998. 1 Quais as principais características do ensino de Física, após a promulgação da CF/1988, defendidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)? 35 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 3 ENSINO DE FÍSICA PARA O SÉCULO XXI: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Uma das ciências mais revestidas de estereótipos é a Física. Algumas pessoas a classificam como uma ciência de difícil aprendizagem, repleta de operações matemáticas e sem aplicação direta na vida das pessoas. Chega a ser comum alguns professores ouvirem de seus alunos: ‘professor, onde eu vou usar isso na minha vida?’. Moreira (2017) afirma que o ensino de Física passa por uma crise graças à fraca formação dos professores, às más condições de trabalho e à progressiva perda de identidade do currículo. Resolver o problema da falha de comunicação entre professor e aluno e uma consequente desvalorização da Física pode não ser uma tarefa simples, mas passa por refletir a importância da divulgação científica na escola, os objetivos da escola do século XXI e quais ferramentas pedagógicas utilizar no ensino de Física. 3.1 OS DESAFIOS DO ENSINO DE FÍSICA Para Cachapuz et al. (2005), num mundo repleto de indagações científicas, a alfabetização científica é uma necessidade urgente. O conhecimento pode ser construído em diferentes espaços. A escola foi escolhida pela sociedade para congregar regras de ensino e aprendizagem e se consolidou ao longo da história como um espaço formal de educação. Segundo Nascimento e Hetkowski (2009), a educação se constitui para as pessoas como um processo de aprender o que lhes ensinam. Como professor de Física, como você contorna os desafios de ensinar Física? 36 O Ensino de Física e o Cotidiano Os sites da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (PROFIS-USP) oferecem um vasto material que professores podem utilizar em suas aulas. São artigos científicos, artigos de revista, vídeos sobre variados assuntos, materiais que podem ajudar os professores a se atualizarem com relação aos conceitos físicos e fazer a transposição didática, fazendo com que o aluno tenha uma visão atualizada sobre a Física. Disponível em: www.sbf.org.br. http://fep.if.usp.br/~profis/. A educação em ciências tem por objetivo fazer com que o aluno venha a compartilhar significados no contexto das ciências, ou seja, interpretar o mundo desde o ponto de vista das ciências, manejar alguns conceitos, leis e teorias científicas, abordar problemas raciocinando e argumentando cientificamente, comunicar resultados e identificar aspectos históricos, epistemológicos, sociais e culturais das ciências (MASSONI; MOREIRA, 2016, p. 2). Uma das reflexões que o professor pode realizar é sobre os objetivos do ensino. Entender o contexto em que o ensino está acontecendo e escolher os melhores e possíveis meios de se comunicar com o aluno e assim auxiliar na construção do conhecimento. Para Nascimento e Hetkowski (2009), a educação se constituinum processo intencional, consciente e que busca a orientação das pessoas, e a comunicação expressa toda a relação de transmissão e de potencialização de ideias e valores mediante um acervo de signos. Moreira (2017) defende a não centralidade no livro didático e uma maior abordagem a temas atuais. Para Cachapuz et al. (2005), é preciso que sejam superadas as visões destorcidas da ciência, tanto em alunos quanto em professores. Esse processo passa por derrubar a concepção individualista e elitista da ciência, contextualizar historicamente a construção do conhecimento científico e apresentar um modelo de ciência que se aproxima da realidade das pessoas. Esses autores convergem para um ponto muito importante na construção do conhecimento em ciências: os temas atuais precisam ganhar espaço nos projetos educacionais. Todos os problemas apresentados demonstram como os alunos encaram a Física como uma área cujo único objetivo seja resolver problemas que se mostram repetitivos e que podem ser solucionados empregando métodos rígidos e predeterminados. A principal consequência dessa falta de sentido é a visão limitada quanto à aplicabilidade e à utilidade do conhecimento científico. 37 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 Pensar em mudar esse quadro passa por quebrar a passividade dos alunos, que muitas vezes esperam respostas prontas, oferecer ao aluno oportunidades de desenvolver o pensamento crítico e não achar que a observação científica se reduz a experimentos em um laboratório. Desse fato surge a necessidade da criação de espaços educativos que ultrapassem as práticas tradicionais, que convirjam em ambientes que incentivam o protagonismo do aluno, as práticas sociais e auxiliem na alfabetização científica e tecnológica. O insucesso na comunicação no ensino e na aprendizagem em Física é apontado por Cavalcante, Bonizzia e Gomes (2009) como consequência de métodos desajustados de ensino e da falta de uso de meios pedagógicos modernos. As escolas brasileiras possuem diferentes realidades, tanto no aspecto social quanto estrutural. Oferecer aos alunos a oportunidade de vivenciar a Física é um dos pontos a serem explorados pelos sistemas de ensino. Para isso, é preciso investimento não só na compra de equipamentos ou construção de laboratórios de física ou de informática. Moreira (2017) apresenta uma série de estratégias que podem fazer parte da prática docente, por exemplo, ensinar por meio de perguntas no lugar de oferecer respostas prontas e acabadas, diversificar os materiais utilizados em sala, utilizar uma linguagem que ajude na percepção da realidade e o professor precisa ter em mente que o significado está nas pessoas, não nas palavras. Para Pozo e Crespo (2009), a escola tem o papel de formar pessoas mais flexíveis quanto à aprendizagem, uma vez que a aprendizagem não se encerra com o fim da etapa escolar. Percebe-se a importância de oferecer aos alunos um ambiente onde ele possa construir um pensamento crítico e reflexivo. A mudança deve ser partilhada em diferentes linhas, que passam, principalmente, pelos objetivos do ensino. Adotar novas metodologias para o ensino de ciências não garante, por si só, uma mudança na forma como o aluno ressignifica os conteúdos. É preciso renovar as metas para as quais esses conteúdos estão dirigidos. A escola precisa ser um ambiente aberto a novas oportunidades de ensino e aprendizagem. Inserir tecnologias digitais e favorecer a criação de ciberespaço pode oferecer diferentes possibilidades, sem com isso ser carregada de desafios. Ampliar o horizonte para o uso das tecnologias digitais no ensino pode tirar o computador de uma função de um processador e armazenador de dados e dotá-lo de potencial para transformar a escolar num espaço criativo. Cavalcante, Bonizzia e Gomes (2009) afirmam que ensinar Física no século XXI pode ser uma tarefa extraordinária, já que toda a tecnologia que 38 O Ensino de Física e o Cotidiano utilizamos em nosso cotidiano foi feita com base no desenvolvimento científico de conceitos físicos, assim como muitos fenômenos naturais podem ser modelados, transformados e estudados. Diante do exposto por Moreira (2017), fica difícil defender um modelo de ensino que continua utilizando modelos obsoletos. Não estamos aqui defendendo um total abandono de metodologias tradicionais, por exemplo, o uso do livro didático. A ideia é ampliar a visão para novas possibilidades, como explorar campos da História e Filosofia da Física, abordar temas de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), construir sequências didáticas para o ensino de Física Contemporânea etc., são ações que podem ser executadas na escola desde que o professor tenha recursos, físicos e cognitivos, suficientes e necessários para uma abordagem segura. Um material que pode ampliar a discussão sobre esses temas é: PAVÃO, A. C.; FREITAS, D. de (org). Quanta ciência há no ensino de Ciências? São Carlos: EduFSCar, 2008. 1 Qual é o papel do ensino de Ciências na Contemporaneidade? 3.2 A ESCOLA DO SÉCULO XXI E O ENSINO DE FÍSICA No ensino de Física, a observação e a análise de fenômenos são eventos importantes para a construção do conhecimento. Diante das precárias condições físicas de algumas escolas brasileiras e da má gestão de recursos financeiros, em outros casos, oferecer a todos os alunos espaços físicos, como laboratórios e bibliotecas, para a realização de tais feitos é um desafio. Uma das soluções para essas situações seria adotar metodologias de ensino que levem o aluno à 39 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 pesquisa, utilizando ferramentas digitais. Cachapuz et al. (2005) afirmam que o mundo está repleto de produtos da indagação científica e como futuros cidadãos os alunos precisam ser levados a pensar sobre os problemas mundiais. Ainda, segundo os autores, um ensino centrado nos conteúdos dificulta uma aprendizagem de ciências que valoriza a relação Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente. Segundo Moreira (2017), o ensino da Física está desatualizado em termos de conteúdos e tecnologias. Os professores se dedicam ao treinamento para provas e a Física é abordada como uma ciência acabada, longe do contexto de vida dos alunos, é apresentada tal como no livro didático. Carvalho e Sasseron (2018) defendem a ideia de um ensino de Física que ajude a construir conhecimento sobre o mundo natural. Para Moreira (2018), um ensino de Física que gere predisposição em aprender precisa, dentre outros pré- requisitos, relacionar a Física com situações-problema que façam sentido ao aluno e à integração natural de simulações computacionais, modelagem computacional e laboratórios virtuais. Há uma tentativa vã de se ensinar física como se esta fosse construída de forma linear: primeiramente, tenta-se ensinar a Física Clássica para, se possível, alcançar o estudo da Física Moderna (que não se alcança). Tenta-se ensinar os conceitos para, se possível, fazer experi mentações (que não são feitas). É o contrário da Física, enquanto ciência e cultura. Essa é uma atitude impensada, não reflexiva, que remete ao senso comum e à manutenção da ordem de classe social. Não se faz investigação experimental e, portanto, não há erros, apenas as certezas dos livros didáticos. Não há revolução científica, não há incertezas, há apenas condicionamento ético. É a produção explícita da mais valia relativa. Esse trabalho reproduz as conhecidas e tão criticadas aulas tradicionais (PUGLIESE, 2017, p. 973). Silveira et al. (2009) afirmam que a escola não pode continuar ignorando o que acontece ao seu redor, anulando e marginalizando as diferenças nos processos por meio dos quais forma e instrui os alunos. Nesse movimento existe uma tentativa de incorporar ao ensino de Física o cotidiano dos alunos, abandonando práticas tradicionaisde ensino, incorporando inovações metodológicas e, sobretudo, tendo professores ativos à frente de projetos que buscam desenvolver competências científicas e tecnológicas, que utilizam a argumentação a partir de evidências, a validação e a comunicação de resultados. Belançon (2017) coloca uma série de questionamentos acerca do ensino de Física. Dentre eles está: se a Física é um agente transformador de tantas faces 40 O Ensino de Física e o Cotidiano da humanidade, por que o ensino de Física deve ficar restrito às leis e à resolução de exercícios? É inerente uma tomada de decisão pela utilização de instrumentos de ensino que favoreçam a pesquisa, incentivem o trabalho em grupo, facilitem a observação de fenômenos e contribuam com a aprendizagem do aluno por meio de feedback. Segundo Lucena et al. (2018), a perspectiva do ensino precisa mudar do “uso de” para “construção” de práticas pedagógicas que valorizem o tempo histórico e social, isso implica, necessariamente, as tecnologias digitais. Essa mudança de perspectiva carrega em si a valorização do trabalho docente, uma vez que a ferramenta não transporta conhecimento e sim a informação. GARCIA, N. M. D. et al. (org). A pesquisa em ensino de Física e a sala de aula: articulações necessárias. São Paulo: Livraria da Física, 2012. 352 p. Em vista disso, conseguimos reconhecer a importância do ensino de Ciências para a democratização dos conhecimentos científicos e o papel da escola na disseminação da cultura científica. Por outro lado, temos situações preocupantes. Viecheneski e Carletto (2013) revelam que pesquisas no campo do ensino de Ciências têm revelado que muitos professores têm dificuldades em promover um ambiente desafiador, propício à investigação e à construção de conhecimentos em Ciências, assim como propiciar um ensino interdisciplinar e contextualizado. O artigo O ensino de Física interativo: blog, ferramenta de aprendizagem do século XXI, publicado na revista Experiências em Ensino de Ciências, no ano de 2018, mostra como utilizar recursos digitais nas aulas de Física. O texto está disponível em: https://if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID463/v13_n1_a2018.pdf. 41 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 Cada escola tem seus valores, sua estrutura e sua filosofia de trabalho. Algumas estão mais propensas a mudanças rápidas e radicais, outras aceitam alterações mais pontuais e lentas. Moran (2016) defende que o primeiro e o mais importante passo é o da mudança mental, mudança cultural, mostrando que essas novas formas de aprender fazem mais sentido, que os alunos se engajam mais e obtêm melhores resultados. Investir em pessoas é essencial para que os planos de mudança da escola ocorram e deem certo. Até mesmo em escolas públicas, muitas vezes cercadas de burocracia pesada, inovar pode ser a saída para sanar problemas crônicos, como o alto índice de evasão e o desinteresse em certas disciplinas. 4 BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E O ENSINO DE FÍSICA Libâneo (2010) afirma que a educação pública possui como responsabilidades: ser agente de transformações sociais, gerando conhecimento e promovendo o desenvolvimento de Ciências; preparar as pessoas para o pensamento crítico com relação a sua realidade e ao mundo; trabalhar os valores nacionais ante a pressão para uma educação descaracterizada de valores; promover um ensino público de qualidade; formar pessoas para a cidadania crítica e participativa; e ter um olhar para o processo produtivo sem perder o viés de uma formação geral, voltada para a cultura e para a ciência. Além disso, não podemos esquecer que a escola tem a responsabilidade de promover um ensino baseado na ética. Preparar para o processo produtivo é mais que ensinar a manipular máquinas e ferramentas, essa era uma característica de um ensino tecnicista, promovido por governos militares, como vimos em seções anteriores. É desenvolver habilidades e saberes para atuar num mundo tecnológico, por meio de uma formação geral e científica. O processo de formação para a cidadania precisa estimular o aluno a se ver como parte de uma sociedade, reconhecer suas carências e ter habilidades para interferir e transformá-la. Outro pressuposto é a formação ética, em que o aluno pode se colocar em relação ao outro e desenvolver a capacidade de dialogar, identificar normas sociais e ter a capacidade de respeitar o próximo. 42 O Ensino de Física e o Cotidiano Competências gerais da educação básica 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise 4.1 O QUE É BNCC? A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2018, p. 7). A BNNC foi homologada em 20 de dezembro de 2017, mas não pense que esse processo foi fácil e rápido. Ela já tinha sido prevista na Constituição Federal de 1988 e na LDB/1996. O documento final é fruto de um debate entre diversos setores da sociedade e está formatado em dez competências gerais, que guiam o desenvolvimento escolar de crianças e jovens (BRASIL, 2017). O que é uma competência? O próprio documento da BNCC afirma que é uma mobilização de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. O texto da BNCC afirma que competências gerais são estruturas cognitivas, ou seja, conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que o aluno precisa acessar e mobilizar para resolver demandas de sua vida. Para Rico (2020), o ensino por competências tira da escola o caráter conteudista, isto é, que se preocupa somente com os conteúdos trabalhados em sala de aula e dá a oportunidade de a escola desenvolver um trabalho para o desenvolvimento emocional, social e cultural do aluno. Isso não significa que os conteúdos serão renegados, deixados em segundo plano ou que teremos um componente curricular para desenvolver competências. A abordagem do ensino por competências remete oferecer ao aluno oportunidades de participação ativa. 43 A Evolução do Ensino de Física no BrasilA Evolução do Ensino de Física no Brasil Capítulo 1 crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visomotora, como Libras e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade
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