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ATENÇÃO! O conteúdo presente neste material é sigiloso e não pode ser divulgado, distribuído, impresso ou utilizado para qualquer outra finalidade que não faça parte do objetivo específico do curso de capacitação. No caso de quebra de sigilo, a Fundação Getulio Vargas aplicará todas as medidas legais cabíveis e desligará do processo a pessoa envolvida. Alertamos também que o conteúdo pedagógico foi atualizado e aprimorado. O cursista deve estudar o material de forma cuidadosa, mesmo que tenha participado do curso de capacitação de 2020, para que possa assimilar as mudanças e ampliar seus conhecimentos. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 3 Sumário 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 5 2. A AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA V ................................................................... 6 2.1. A Matriz de Referência ............................................................................... 6 2.2. A Grade Específica ...................................................................................... 7 2.3. A Competência V e sua relação com as Competências II e III ..................... 8 2.4. A Competência V e sua relação com os Direitos Humanos ......................... 9 3. A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ...................................................................... 14 3.1. Identificação da proposta de intervenção ................................................ 14 3.2. Identificação e contabilização dos elementos .......................................... 17 3.2.1. Os elementos: ação, agente, modo/meio, efeito e detalhamento .... 19 3.3. Considerações sobre o gerúndio na identificação dos elementos ............ 37 3.4. Roteiro de avaliação ................................................................................. 39 4. DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS ................................................................................... 41 4.1. Nível 0 (nota 0) ......................................................................................... 42 4.1.1. Ausência de proposta de intervenção ............................................... 42 4.1.2. Proposta de intervenção que desrespeita os direitos humanos ........ 43 4.1.3. Proposta de intervenção não relacionada sequer ao assunto ........... 44 4.2. Nível 1 (nota 40) ....................................................................................... 45 4.2.1. Tangenciamento do tema ................................................................. 45 4.2.2. Apenas elemento(s) nulo(s)............................................................... 47 4.2.3. Um elemento válido .......................................................................... 48 4.3. Nível 2 (nota 80) ....................................................................................... 49 4.3.1. Dois elementos válidos ...................................................................... 50 4.3.2. Caso Especial: orações condicionais .................................................. 51 4.4. Nível 3 (nota 120) ..................................................................................... 53 4.5. Nível 4 (nota 160) ..................................................................................... 55 4.6. Nível 5 (nota 200) ..................................................................................... 57 4.6.1. Consideração sobre a proposta de intervenção na CIII e na CV ......... 61 MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 4 5. PROPOSTA FORA DO PARÁGRAFO CONCLUSIVO ............................................ 63 6. CONCLUSÃO .................................................................................................... 65 7. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 66 MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 5 1. INTRODUÇÃO A prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) diferencia-se das provas de produção de texto dissertativo-argumentativo de outros exames porque exige a elaboração de uma proposta de intervenção para o problema apresentado pelo tema, considerando os direitos humanos. Essa proposição vai ao encontro do que promulgam a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) no que tange aos seguintes objetivos da formação do estudante: o pleno desenvolvimento do educando e seu preparo para o exercício da cidadania (BRASIL, 1988; 1996). Na prova de redação, essa exigência é avaliada na Competência V, a qual, segundo a Matriz de Referência para Redação do Enem, determina que o participante deve “Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos” (BRASIL, 2019, p. 8). Desde a Fundamentação Teórico-Metodológica do Enem, temos que a Competência V se refere à realidade e à “capacidade [do participante] de agir sobre e nessa realidade” (BRASIL, 2005, p. 94). Além disso, o exame contempla princípios estabelecidos nas Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, ao solicitar que o participante demonstre uma forma de atuar na sociedade com ética e responsabilidade. Assim, verifica-se, na Competência V, se o participante demonstra ter construído, ao longo de sua formação, conhecimentos para propor, em seu texto, uma intervenção para um problema de ordem social, científica, cultural ou política, sem ferir os direitos humanos. Neste Módulo, estudaremos como a proposta de intervenção elaborada pelo participante deve ser avaliada no Enem 2021. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 6 2. A AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA V 2.1. A Matriz de Referência A Matriz de Referência para Redação do Enem é o que pauta a avaliação das redações desse processo e nos permite fundamentar critérios, como detalharemos na apresentação da Grade Específica, para identificar o que compõe uma boa proposta de intervenção para um participante nesta etapa de escolaridade − Ensino Médio completo. Na Matriz, a divisão em seis níveis (de 0 a 5) considera, além da construção da proposta de intervenção em si, a sua relação com o tema e com a discussão desenvolvida no texto. Segue a descrição desses níveis pela Matriz de Referência para Redação do Enem: COMPETÊNCIA V Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos 0 Não apresenta proposta de intervenção ou apresenta proposta não relacionada ao tema ou ao assunto. 1 Apresenta proposta de intervenção vaga, precária ou relacionada apenas ao assunto. 2 Elabora, de forma insuficiente, proposta de intervenção relacionada ao tema, ou não articulada com a discussão desenvolvida no texto. 3 Elabora, de forma mediana, proposta de intervenção relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. 4 Elabora bem proposta de intervenção relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. 5 Elabora muito bem proposta de intervenção, detalhada, relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 7 2.2. A Grade Específica A partir da Matriz de Referência, com base na necessidade de gradação para um nivelamento justo e objetivo das redações, e com base nos textos produzidos pelos participantes, estabelecemos uma Grade Específica com seis níveis (0 a 5) para a avaliação dos textos. De acordo com essa grade, a proposta de intervenção deve apresentar 5 elementos básicos: ação, agente, modo/meio de execução dessa ação, seu efeito e detalhamento de algum desses elementos. Mesmo que o participante apresente muitas propostas de intervenção em seu texto, nosso objetivo é avaliar, dentre elas, a mais completa a partir desses elementos. Segue a descrição desses níveis pela Grade Específica: COMPETÊNCIA V Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos Elementos:AÇÃO + AGENTE + MODO/MEIO + EFEITO + DETALHAMENTO 0 • Ausência de proposta OU • Proposta de intervenção que desrespeita os direitos humanos OU • Proposta de intervenção não relacionada sequer ao assunto 1 • Tangenciamento do tema OU • Apenas elemento(s) nulo(s) OU • 1 elemento válido 2 2 elementos válidos Estruturas condicionais com 2 ou mais elementos válidos não devem ultrapassar este nível 3 3 elementos válidos 4 4 elementos válidos 5 5 elementos válidos MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 8 Portanto, atingirá o nível máximo na Competência V a proposta de intervenção que, em um texto com abordagem completa do tema, apresentar os 5 elementos válidos: AÇÃO + AGENTE + MODO/MEIO + EFEITO + DETALHAMENTO 2.3. A Competência V e sua relação com as Competências II e III Respeitando o conceito de unidade textual, a distribuição dos níveis estabelecida pela Matriz evidencia o estreito diálogo da Competência V com as Competências II e III, uma vez que a construção da proposta de intervenção necessariamente se relaciona ao tema, cuja abordagem é avaliada na Competência II, e à discussão desenvolvida no texto, aspecto avaliado na Competência III. Para uma justa atribuição de nível na Competência V, é preciso estar atento à forma como isso será cobrado de acordo com a Grade Específica, para que uma mesma característica do texto não seja avaliada em duas competências diferentes. A partir da definição do que será avaliado como abordagem completa do tema e tangência ao tema, aspectos verificados pela Competência II, são estabelecidas algumas diretrizes para a avaliação da Competência V. É importante ressaltar que, em função do tema, a avaliação e a consideração dos elementos constituintes da proposta de intervenção podem variar, como veremos no item 3.2.1. Além disso, casos específicos de desrespeito aos direitos humanos também podem ser direcionados pelo tema. Em 2020, por exemplo, foi necessário discutir aspectos ligados aos direitos de pessoas acometidas por doenças mentais para decidir se determinadas propostas de intervenção deveriam ser consideradas desrespeito aos direitos humanos ou não. A relação entre as Competências II e V fica mais explícita quando se observa a gradação dos níveis na Grade Específica. Como veremos, o nível 0 da Competência V deve ser atribuído às redações com proposta de intervenção que se mostra não relacionada sequer ao assunto. Já o nível 1 dessa competência é atribuído às redações em que há proposta de intervenção e o texto é tangente ao tema − em outras palavras, a proposta de intervenção também é tangente ao tema. A partir do nível 2, o texto tem abordagem completa do tema, e, consequentemente, a proposta de intervenção também está relacionada ao tema, a não ser que o participante prove explicitamente o contrário. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 9 Ao mesmo tempo, evidencia-se o diálogo da Competência V com a III por meio da articulação da proposta de intervenção com a discussão desenvolvida pelo participante no texto. Como visto na Competência III, a relação entre as informações, os fatos e as opiniões que compõem o texto dizem respeito ao projeto de texto, que, necessariamente, compreende também a proposta de intervenção. Verifica-se, portanto, que a articulação entre a proposta de intervenção e a discussão do texto já é avaliada na Competência III. Se essa articulação for avaliada também na Competência V, um mesmo aspecto do texto será avaliado duas vezes, em duas competências diferentes. É importante enfatizar que isso não deve, em hipótese alguma, acontecer. No item 4.6.1, analisaremos uma redação destacando as particularidades do que se avalia nas Competências III e V no que se refere à proposta de intervenção. 2.4. A Competência V e sua relação com os Direitos Humanos Deverão ser avaliadas no nível 0 da Competência V as redações que desrespeitarem, na proposta de intervenção, de forma explícita e deliberada, os direitos humanos afirmados na Constituição da República Federativa do Brasil, seguindo as Diretrizes para Educação em Direitos Humanos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Carta da ONU e a Declaração de Durban. Essa recomendação tem como base a descrição da competência na Matriz de Referência para Redação do Enem. Para a avaliação das redações, são considerados os seguintes princípios norteadores dos direitos humanos, pautados no Artigo 3º da Resolução nº 1, de 30 de maio de 2012, o qual estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos: • Dignidade humana; • Igualdade de direitos; • Reconhecimento e valorização das diferenças e diversidades; • Laicidade do Estado; • Democracia na educação; • Transversalidade, vivência e globalidade; • Sustentabilidade socioambiental. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 10 É importante ressaltar que, na avaliação das redações, o que se considera desrespeito aos direitos humanos está fundamentado em princípios estabelecidos em documentos que possuem força de lei. Portanto, ofender, exibir preconceitos ou fazer apologia à violência são comportamentos que podem ser considerados crimes, de acordo com o Código Penal Brasileiro. Ressaltamos também que uma assertiva que desrespeite os direitos humanos só será considerada motivo para atribuição do nível 0 na Competência V quando for uma proposta de intervenção construída pelo participante, e não quando for uma constatação de opinião ou comportamento expressos por outrem. Cabe observar que, para que essa constatação seja considerada a expressão de uma perspectiva de outrem, isso deve estar explícito e claro. No exemplo “Grupos sugerem que os doentes mentais sejam excluídos permanentemente da sociedade. Tal ideia é errada, pois pessoas com doenças mentais devem ter atendimento psicológico adequado.”, a segregação de certa parte da população, que é uma forma de desrespeito aos direitos humanos, não é sugerida pelo participante, mas sim apresentada apenas como constatação de uma ideia sustentada por terceiros e não constitui a proposta de intervenção do participante (“pessoas com doenças mentais devem ter atendimento psicológico adequado.”); portanto, a redação não deverá ser avaliada no nível 0 da Competência V. Com relação ao tema de redação proposto na edição do Enem 2020, “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”, foram consideradas propostas que desrespeitam os direitos humanos aquelas que negavam quaisquer dos direitos humanos, tratamento digno ou acesso à saúde da pessoa com doença mental; discriminavam a pessoa com doença mental, sugerindo tratamento degradante e tortura, ou qualquer ação que feria a dignidade da pessoa humana. Já as propostas de intervenção que sugeriam algum tipo de regulamentação ou recomendação de conduta a favor de pessoas com doenças mentais não foram consideradas desrespeito aos direitos humanos. Ao longo do processo de avaliação das redações, nós nos referimos aos casos de desrespeito aos direitos humanos por meio da sigla DDH. Essa identificação nos auxilia a distinguir propostas de intervenção que são nível 0 por DDH daquelas redações que não apresentam proposta de intervenção e que, por isso, também são avaliadas no nível 0 da Competência V. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 11 Seguem alguns exemplos de desrespeito aos direitos humanos encontrados nas redações produzidas pelos participantes. O trecho considerado DDH de cada um dos exemplos está destacado pelas marcações em retângulo verde. Exemplo 1 Exemplo 2 Exemplo 3 Exemplo 4 MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 12 Exemplo 5 Essas redações receberam nota 0 por DDH na Competência V porque propõem soluções que atentam contra a liberdade das pessoas acometidas por doenças mentais (exemplos 1, 2 e 5), que incitam a violência (exemplo 4) e até que visam a exterminar a sociedade (exemplo 3). Oentendimento do que é ou não DDH também é muito importante, para que nenhuma injustiça seja cometida com o participante. Não é raro que algumas formulações possam ser confundidas com DDH. Por esse motivo, elencamos a seguir alguns casos específicos que não foram considerados DDH para a proposta de 2020. Em cada uma das propostas, o trecho que pode causar dúvida está sublinhado em vermelho. Exemplo 6 Nesse exemplo, embora a ideia de “criar instituições unicamente para os autistas” pareça segregacionista à primeira vista, a proposta não foi considerada DDH. A proposta sugere a criação de instituições especializadas em pessoas autistas para a superação das dificuldades e problemas por elas enfrentados. Diferentemente do Exemplo 5, em que o participante explicita o objetivo de excluir determinado grupo do meio social, nesse trecho, o participante propõe a criação de instituições destinadas a determinado público, sem impedir a livre circulação dessas pessoas em outros espaços da sociedade. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 13 Exemplo 7 Nesse caso, a censura de conteúdo não representa a intenção de restringir conteúdos com base em critérios que ferem a dignidade humana. Nos trechos “sugere-se um controle de filmes, séries e propagandas com critérios definidos por especialistas a fim de evitar conteúdos sensíveis” e “censura qualificada”, o participante propõe a regulamentação do governo para determinados produções audiovisuais que veiculam concepções distorcidas sobre as doenças mentais e, desse modo, fomentam o estigma. Assim, a proposta em questão traz apenas uma regulamentação e, por isso, não foi avaliada como DDH. Exemplo 8 No trecho “ele devera ir no psicologo pelo menos uma vez na semana”, o participante propõe uma recomendação de conduta para a resolução do problema relacionado às doenças mentais, sem atentar contra a dignidade humana. Essa recomendação não consiste em ação imposta aos trabalhadores contra sua vontade e, por isso, essa proposta não foi considerada DDH. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 14 3. A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Propor uma intervenção para o problema apresentado pelo tema significa sugerir uma iniciativa que busque, mesmo que minimamente, enfrentá-lo. É importante ressaltar que, considerando que os temas de redação do Enem normalmente abordam problemas sociais complexos, muitas vezes de difícil resolução, as mais diversas formas de intervenção serão consideradas para a avaliação, desde uma sugestão de combate até uma solução efetiva da questão em foco. Para essa avaliação, é preciso reconhecer se há proposta de intervenção na redação e se ela é bem elaborada. Para isso, é necessário identificar estruturas que explicitam o desejo do participante de intervir no problema e contabilizar corretamente os 5 elementos que esperamos encontrar na composição dessa proposta: AÇÃO, AGENTE, MODO/MEIO, EFEITO e DETALHAMENTO. Nesse sentido, mesmo que o participante apresente muitas propostas de intervenção em seu texto, nosso objetivo é avaliar, dentre elas, a mais completa a partir da presença desses elementos. Por esse motivo, é de extrema importância que a Grade Específica seja rigorosamente aplicada, com base na contabilização dos elementos, buscando garantir objetividade para o processo e, desse modo, uniformidade ao trabalho dos avaliadores, com justiça na avaliação do que foi apresentado pelo participante. 3.1. Identificação da proposta de intervenção Para reconhecer a proposta de intervenção no texto, precisamos, primeiramente, identificar estruturas que explicitam um claro desejo do participante de indicar uma iniciativa que interfira no problema em questão. É preciso ficar atento a certas estruturas linguísticas que evidenciam o caráter interventivo, ou seja, que manifestam desejo de intervir em uma dada situação a fim de modificá-la. Esse é o caso, por exemplo, do verbo modalizador “dever” ou, ainda, de algumas construções com o verbo “ser” + adjetivo, como “é necessário”, “é preciso”, “é importante” etc. Observe que, entre outras, essas estruturas revelam a capacidade do participante de propor algo. Uma estrutura MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 15 como “As secretarias de saúde oferecem apoio psicológico gratuito à população” apenas apresenta um fato, uma constatação, enquanto estruturas como “As secretarias de saúde devem oferecer apoio psicológico gratuito à população” e “É necessário que as secretarias de saúde ofereçam apoio psicológico gratuito à população” apresentam a intenção do participante de claramente propor uma intervenção. Também é preciso estar atento a estruturas que, embora se assemelhem às anteriormente descritas, a exemplo daquelas iniciadas com o verbo “dever”, não serão consideradas propostas de intervenção, por não expressarem um desejo do participante de intervir na realidade. Isso ocorre em casos em que o participante traz, para o texto, trechos de leis ou citações que parecem indicar uma proposta, mas são constatações, justamente porque apenas reproduzem algo já posto, como nos trechos “Alguns profissionais da saúde afirmam que é necessário sempre buscar ajuda de alguém mais próximo” e “Segundo a OMS, é dever das nações criar programas de apoio psicológico a pessoas afetadas por doenças mentais”. Outro aspecto que merece atenção são os casos em que o participante, ao invés de propor uma ação a ser executada para resolução do problema, apenas menciona uma prática já existente – como em “Hoje a internet disponibiliza textos e vídeos motivacionais que ajudam a população a entender melhor o problema das doenças mentais” – ou uma ação já realizada no passado – como em “Durante a pandemia, alguns psicólogos criaram serviço de apoio psicológico remoto para ajudar aqueles que precisavam”. Nesses dois casos, há apenas constatações de práticas ou ações em curso ou já efetuadas e não propostas do participante. Para efeitos de esclarecimento, comparemos os seguintes trechos: Exemplo 9 MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 16 Exemplo 10 No Exemplo 9, o participante não formula uma proposta de intervenção, pois apenas apresenta uma campanha nacional de combate à depressão, o Setembro Amarelo, que já existe. Trata-se de uma constatação que não indica a intenção do participante de propor uma solução para o problema. Já no Exemplo 10, além de expor a existência de campanhas de conscientização correntes, o participante propõe a sua continuidade. Nesse sentido, ao sugerir tal continuação, o participante apresenta uma solução para o combate ao estereótipo relacionado às doenças mentais. Portanto, o trecho do Exemplo 10 deve ser avaliado como proposta de intervenção para a atribuição do nível na Competência V, enquanto o trecho do Exemplo 9 não deve ser avaliado dessa forma. IMPORTANTE Um tipo de constatação que é comum nas redações e que costuma gerar dúvidas é a “constatação de falta”, como ocorre em: “Tendo em vista esses pontos pode-se observar que a falta de investimento para projeto ou anúncios que tenham como objetivo divulgar a importância do cuidado da saúde mental atrapalha para que os cidadãos possam pedir auxílio profissional para evitar ou tratar de problemas mentais”. Embora essa construção possa esbarrar na tentativa de apresentar uma proposta de intervenção, ela, sozinha, aponta para um problema, não para sua solução; por isso, não deve ser considerada uma proposta de intervenção. Note que essa construção aponta para MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 17 o que falta, e o leitor é quem preenche essa lacuna, a partir da falta, com o que poderia ser a proposta de intervenção. Exemplo: “a falta de investimento para projeto ou anúncios que tenham como objetivo divulgar a importância do cuidado da saúde mental”. Preenchimento do leitor: “É necessário que haja investimento para projeto ou anúnciosque tenham como objetivo divulgar a importância do cuidado da saúde mental”. Construções como “É preciso que haja investimento para projeto ou anúncios” e “É necessário que haja investimento para projeto ou anúncios” são propostas de intervenção, ao contrário da “constatação de falta”, porque apontam para a solução de um problema. Outro aspecto relacionado à proposta de intervenção e que precisa ser tratado com atenção é que a proposta não está sempre localizada apenas no parágrafo de conclusão, como muitas vezes se imagina. Além de compor o que tem se chamado de “conclusão-solução”, ela pode ainda fazer parte da argumentação ou até mesmo da introdução do texto. A proposta pode constituir todo um parágrafo ou aparecer “diluída” em mais de um parágrafo. Por isso, a avaliação deve ser feita, como nas outras competências, com atenção ao texto todo, uma vez que o avaliador que deixar de fazê-lo corre o risco de cometer uma injustiça com o participante. 3.2. Identificação e contabilização dos elementos Como já foi mencionado, os seis níveis de nota na Competência V devem ser atribuídos em função da qualidade do que é elaborado, avaliado pela contagem de ELEMENTOS, e não em função da quantidade de propostas apresentadas em uma redação. Esses elementos são: AÇÃO, AGENTE, MODO/MEIO, EFEITO e DETALHAMENTO. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 18 Com o objetivo de interferir no problema apresentado pelo tema, a proposta de intervenção deve exprimir, minimamente, o que deve ser feito de maneira ativa. Nesse sentido, a ação é o elemento essencial, que auxiliará na identificação dessa proposta, ao qual se relacionam o agente indicado para executar essa ação, seu modo/meio de execução e seu efeito, pretendido ou alcançado, além do detalhamento de um dos elementos anteriores. Portanto, a proposta de intervenção muito bem elaborada, de forma detalhada, é aquela que apresenta esses 5 elementos. Essa concepção de avaliação destaca os elementos que materializam, na superfície textual, a concretude e, na sua ausência, a vagueza da proposta de intervenção. MODO/MEIO AGENTE AÇÃO EFEITO DETALHAMENTO MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 19 Há, ainda, mais uma consideração importante: alguns participantes, preocupados em garantir uma boa nota nesta competência, elaboram listas de propostas de intervenção, por vezes até se afastando do caráter dissertativo- argumentativo que se espera do texto produzido. Esse procedimento, contudo, não garante a boa elaboração de uma proposta. Portanto, atenção: se o texto apresentar mais de uma proposta de intervenção, deve ser avaliada somente a mais completa delas. Além disso, se uma mesma proposta apresentar algum elemento repetido, ele deve ser contabilizado apenas uma vez (dois agentes ou dois efeitos, por exemplo). Vale ressaltar que, em todos os níveis, os elementos podem assumir as mais diversas formas, dada a heterogeneidade da língua. Isso não deve ser entendido como um problema em si, porém demanda atenção do avaliador para que seja feita a correta identificação dos elementos e sua justa contagem, conforme explicaremos ao longo deste Módulo. Para uma avaliação da Competência V com uniformidade e isonomia, portanto, é importante conhecer melhor cada um desses elementos e verificar como eles se materializam nos textos. 3.2.1. Os elementos: ação, agente, modo/meio, efeito e detalhamento Como mencionado anteriormente, a ideia de concretude (não vagueza) que se espera de uma proposta de intervenção bem elaborada está ancorada em elementos explicitados textualmente, conforme explicado a seguir. AÇÃO Ação é o elemento que diz respeito à ação prática apontada pelo participante como necessária para a solução do problema apresentado pelo tema. É a partir da ação que reconhecemos a intenção do participante de propor uma intervenção para o problema abordado e que os demais elementos se organizam. A pergunta a ser respondida a fim de identificar a ação é “O que deve ser feito?”. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 20 São exemplos de ações: 1. “Portanto, é imperativo que o Ministério da Saúde, junto com o Governo Federal, construa postos de atendimento à saúde mental da população em áreas de vulnerabilidade social, a fim de acabar com as doenças mentais, por meio da inclusão na base de diretrizes orçamentais, com o intuito de promover uma vida melhor para esses cidadãos. Feito isso, toma-se uma sociedade permeada pela efetivação dos elementos elencados na Magna Carta.” 2. “Em suma, é irrefutável constatar a problemática apresentada. Todavia, com a implementação de acompanhamento psicológico por parte das escolas e do Ministério da Educação, buscar-se-ia a atenuação desse panorama. Assim, não só normatizaria essa situação, como a facilitaria.” 3. “O melhor a ser fazer com pessoas que estão passando por algo desse gênero como depressão é estar presente, ajudando-as com motivações e ajudas de profissionais.” 4. “No entanto, deveria haver palestras sobre a importância da saúde mental aplicadas pelo governo, em empresas e até mesmo nas escolas porque muitos jovens sofrem com isso.” Na avaliação da proposta de intervenção, a ação equivale a 1 elemento válido, desde que tenha caráter interventivo. Quando uma ação se distancia desse caráter, é considerada “elemento nulo”. Nesse caso, esse elemento não é contabilizado na contagem dos elementos válidos para atribuição de nível à proposta, pois se trata de uma ação normalmente vaga ou genérica. Entende-se por ação vaga ou genérica aquela que ainda é muito inespecífica e impede que o leitor saiba “o que/qual atividade”, de fato, será executado(a). Também se considera ação nula aquela formulada na negativa, ou seja, quando o participante expressa o que não precisa ser feito. Um exemplo disso é: “Não podemos deixar que doença nenhuma tome conta da gente e leve nossa alegria embora”. Nesse caso, entende-se que o participante considera uma situação inadequada (“deixar que doença nenhuma tome conta da gente e leve nossa alegria embora”) e deseja que ela não aconteça. No entanto, ainda não é possível saber qual ação, de fato, o participante propõe para resolução do MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 21 problema, uma vez que não é possível identificar o que precisa ser feito. É importante destacar que entendemos como ações formuladas na negativa somente aquelas que forem precedidas por expressões de negação, como “não”, “nem”, “nunca”, “jamais”, “de modo algum” e “de forma nenhuma”. São exemplos de ações nulas: 1. “Nesse sentido, fica evidente que, o estigma associado às doenças é prejudicial à sociedade brasileira e por isso providências devem ser tomadas.” (ação muito vaga ou genérica) 2. “Portanto, é necessário fazermos algo sobre isso, para resolver esse impasse” (ação muito vaga ou genérica) 3. “Portanto, indiscutivelmente, as autoridades competentes precisam agir para reverter a questão” (ação muito vaga ou genérica) 4. “Não devemos criticar ninguém que passar por isso, porque só quem tem depressão sabe o que está sentindo” (ação negativa) É preciso ficar atento, no entanto, a casos em que a ação nula é acompanhada de uma estrutura que lhe atribui concretude, tornando-a, portanto, válida. Por exemplo, na frase “as autoridades competentes precisam agir”, temos uma ação nula, pois não se sabe qual a ação que deve ser realizada pelo agente. Entretanto, na frase “as autoridades competentes precisam agir na difusão de conhecimentos sobre doenças mentais”, temos uma ação válida, pois o trecho “na difusão de conhecimentos sobre doenças mentais” complementa a ideia da ação proposta, tornando-a mais específica. Há duas observações muito importantes sobre a nulidade da ação: i. É a partir do tema da redação que será definido o que deve ser considerado ação válida e o quedeve ser considerado ação nula; portanto, atualizações nesse aspecto podem ocorrer quando um novo tema de redação for trabalhado. Assim, ações de conscientização, que em anos anteriores já foram consideradas nulas, no Enem 2020, foram consideradas válidas, pois o tema “O estigma associado às doenças mentais na MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 22 sociedade brasileira” possibilitava uma discussão relativa à esfera do comportamento humano, individual ou coletivo. Nesse sentido, são também exemplos de ações válidas: 1. “É preciso conscientizar a população sobre os preconceitos contra as doenças mentais.” 2. “O indivíduo precisa tomar consciência de sua fragilidade psíquica.” 3. “É necessário ter a mente aberta.” 4. “Urge refletirmos sobre o estigma associado às doenças mentais.” ii. O caráter de nulidade provocado por ideias vagas ou genéricas se aplica apenas à ação. Em alguns casos, as mesmas formulações podem aparecer constituindo outro elemento, como modo/meio, efeito ou detalhamento, porém, nessas situações, devem ser consideradas elementos válidos, pois o caráter de nulidade não se aplica ao modo/meio, nem ao efeito, nem ao detalhamento. Por exemplo, a formulação “providências urgentes devem ser tomadas” é considerada uma ação nula, mas, caso apareça na posição de modo/meio (como em “O Ministério da Saúde precisa dar melhor assistência aos doentes mentais, tomando providências urgentes”) deve ser aceita como elemento válido. AGENTE Agente é o elemento que identifica o ator social apontado para executar a ação que se propõe. Para determinar o agente, o participante deve considerar o problema abordado pelo tema, sobre o qual se deseja intervir, e a ação apresentada. Apesar de os possíveis atores sociais variarem em função do tema e do problema, eles se enquadram em determinados níveis de ação: individual, familiar, comunitário, social, político, governamental e mundial. A pergunta a ser respondida para identificar o agente da ação proposta é “Quem executa?”. Cabe aqui destacar que o agente não é, necessariamente, o sujeito da oração ou, simplesmente, o agente da voz passiva. Mais importante do que observar a função sintática dos elementos é atentar para os aspectos semânticos. Algumas MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 23 vezes, inclusive, o agente e a ação podem estar em períodos ou até mesmo em parágrafos diferentes. Seguem alguns exemplos de como o agente pode aparecer textualmente expresso: 1. “Para que esta situação amenize ou se resolva, cabe aos familiares e amigos, que são os mais próximos do indivíduo, reintegrá-lo à sociedade, levando-o a palestras motivacionais e a grupos de apoio.” 2. “Logo, se faz necessária a aplicação de tal conhecimento, pelo Ministério da Educação, na grade curricular dos estudantes, para evitar-se o pré- julgamento de seus portadores.” 3. “Depreende-se, portanto, que, para resolver esse impasse, é de extrema necessidade que o governo juntamente com órgãos da saúde dos estados invistam mais no Sistema Único de Saúde a fim da população ter um tratamento psicológico digno.” 4. “Assim pode-se concluir que devemos cuidar da nossa saúde mental, buscando ajuda ou até mesmo conversando com alguém.” 5. “Em suma, diante dos problemas citados, torna-se necessária uma maior participação governamental em meio ao tratamento da saúde mental do povo.” Reforçamos que, na avaliação da proposta de intervenção, o agente equivale a 1 elemento válido, independentemente de quantos ou quais deles sejam identificados em uma mesma proposta, como vimos no exemplo 3 do quadro anterior (em que os agentes são o governo e os órgãos da saúde dos estados). Quando o agente é expresso por termos que não permitem a precisa identificação do ator social indicado para a execução da ação, ele deve ser considerado “elemento nulo”, o qual não é contabilizado na contagem dos elementos válidos na avaliação de nível da Competência V. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 24 São agentes nulos: 1. Alguém, ninguém, alguns, uns, uns e outros, outros e você*. * “Você” é nulo desde que não haja definição desse agente (Por exemplo: em “Você, que está sofrendo de ansiedade, vá ao médico”, temos um agente que já está definido. Esse não é, portanto, um caso de agente nulo). 2. Verbo no modo imperativo**. ** desde que não haja vocativo ou qualquer outra formulação que identifique o agente (como em “Crie programas de combate à depressão, governador!”, em que o agente está definido) e com exceção do uso da 1ª pessoa do plural (como em: “façamos nossa parte”, em que o “nós” oculto é agente válido). Os agentes listados no quadro são considerados elementos nulos porque não conseguimos especificá-los. Por exemplo, ao usar o pronome “alguém”, o participante não define quem é o agente; há, aí, claramente, a imprecisão desse ator social e, portanto, a identificação de um elemento nulo. É importante lembrarmos que apenas os agentes listados no quadro acima são nulos. A seguir, apresentamos alguns exemplos desses agentes nulos em propostas: 1. “Alguém precisa tomar uma decisão.” 2. “Denuncie quem maltrata as pessoas com doença mental!” É necessário observar, também, os casos comuns de agentes que, eventualmente, podem ser erroneamente identificados como nulos, mas são válidos, como “todos”, “as pessoas” e “nós” (nesse último exemplo, deve-se considerar tanto o uso do pronome quanto apenas o uso da desinência verbal de 1ª pessoa do plural). Ao analisar as redações, percebemos que tais agentes se aproximam mais de um ator social considerado bem definido. Assim, deve-se considerar “todos”, “as pessoas” e “nós” (ou “a gente”) como se considera “a sociedade”, como um ator social preciso e, por isso, elemento válido. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 25 Para a correta avaliação do agente, deve-se: • considerar apenas o agente textualmente marcado, ainda que oculto. Quando o agente não é marcado textualmente, significa que não há agente na proposta. Se o participante escreve, por exemplo, “Portanto, com investimentos na área da saúde e mobilização para maior conhecimento sobre a doença, o problema será resolvido”, a proposta não apresenta agente. Não podemos determinar que o agente é “o Governo” ou “empresas privadas” apenas por pressupor que são esses agentes que fazem investimentos e mobilizações na área da saúde; • considerar o agente que, embora não corresponda especificamente à ação proposta, relaciona-se a ela pelo campo semântico a que pertence. Por exemplo, em “Cabe ao Tribunal de Contas da União fomentar políticas públicas que priorizem atendimento a pessoas que passam por tal situação”, por mais que saibamos que o “Tribunal de Contas da União” não é um agente adequado para implementar programas sociais, entendemos que, para um jovem concluinte do Ensino Médio, essas competências podem não estar muito claras. Garante-se, assim, a contabilização desse elemento. ATENÇÃO Deve-se enviar ao supervisor, como ocorrência pedagógica, textos em que as propostas de intervenção apresentem agentes absurdamente incompatíveis com a ação, como “Crianças devem dar atendimento psicológico a outras crianças com doenças mentais”. Na amostra analisada, não foram encontradas propostas com esse tipo de ocorrência, mas, caso aconteça, é importante que o supervisor seja consultado. MODO/MEIO Modo/meio é o elemento que diz respeito à maneira e/ou aos recursos pelos quais a ação é realizada. Esse elemento dialoga com a exequibilidade, concretude e interventividade da ação, características indispensáveis à proposta de intervenção. A pergunta a ser respondida para identificar o modo/meio apontado é “Como se executa/Por meio do quê?”. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 26 Na avaliação da proposta de intervenção, o modo/meio equivale a 1 elemento válido, independentemente de quantos ou quais deles sejamidentificados em uma mesma proposta. É importante lembrar que não existe modo/meio considerado elemento nulo. São estruturas indicativas de modo/meio: 1. “Dessarte, é preciso que o Ministério da Saúde, responsável por assegurar direitos basilares da saúde populacional, crie projetos acessíveis de combate a tal questão por meio de psicólogos nos postos de saúde.” 2. “Para proteger a dignidade das pessoas que têm doenças mentais, o Ministério da Saúde, com o governo federal, deve assegurar a segurança delas, a partir da implementação de câmeras no centro e da criação de um Disk denúncia reservado apenas para pessoas que sofreram violência por sua condição psicológica.” 3. “Por fim, cabe ao governo federal investir em tratamentos psicológicos e psiquiátricos, disponibilizando no SUS um número maior de psicólogos e psiquiatras, a fim de abranger de forma igualitária todas as classes sociais.” 4. “Sendo assim, é imprescindível, com o fito de reter a problemática citada, que o Ministério da Saúde, grande promotor da saúde no país, crie palestras, em escolas, através da disponibilização de médicos, para educar a população sobre as doenças mentais.” IMPORTANTE Devemos fazer clara distinção entre estruturas que expressam mais de um agente em conjunto e estruturas que expressam modo/meio. Observe os exemplos a seguir: 1. “Portanto, para não estigmatizar indivíduos com doenças mentais, o Ministério da Saúde deve, em parceria com a Secretaria da Cultura, incentivar artistas nacionais a produzirem conteúdos que normalizem esses contextos.” MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 27 2. “Cabe ao governo, por meio dos Ministérios da Educação e da Saúde, promover palestras e distribuição de cartilhas, para conscientização da sociedade e aumentar a visibilidade dos transtornos mentais.” No primeiro exemplo, o trecho destacado deve ser considerado parte do agente, equivalente a “o Ministério da Saúde e a Secretaria da Cultura”. Já no segundo, o trecho destacado deve ser considerado modo/meio, porque há clara intenção do participante de indicar o modo pelo qual a ação será realizada, como em “O governo, recorrendo ao Ministério da Educação e da Saúde [...]”. Ou seja, o participante, ao formular a proposta de intervenção, pode apresentar a mesma informação sob a forma de elementos diferentes. Em cada caso, o procedimento a ser seguido é identificar o elemento considerando a forma escolhida pelo participante para apresentá-lo. Outro aspecto importante a ser observado é que não serão consideradas modo/ meio construções que, embora expressem circunstância de modo, ainda não respondem à pergunta “Como se executa/Por meio do quê?”. Por exemplo, em “O governo precisa combater o estigma das doenças mentais de forma adequada”, a expressão “de forma adequada” ainda não basta para identificar o meio de execução prática da ação e, consequentemente, não é contabilizada como um elemento. EFEITO Efeito é o elemento que corresponde aos resultados pretendidos ou alcançados pela ação proposta. Ele pode vir expresso por meio de uma estrutura indicativa de finalidade, consequência ou conclusão. A pergunta a ser respondida para identificar esse elemento é “Para quê?”. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 28 Na avaliação da proposta de intervenção, o efeito equivale a 1 elemento válido, independentemente de quantos ou quais deles sejam identificados em uma mesma proposta. Tal como o modo/meio, não há efeito considerado elemento nulo. São estruturas indicativas de efeito: 1. “Conclui-se que o estigma ligado às doenças mentais no Brasil é preconceituoso e ignorante. Para corrigir essa marca negativa na sociedade, é necessário campanhas informativas sobre depressão e outras doenças mentais, organizadas pelos Ministérios da Saúde e da Educação, além de continuar fornecendo acompanhamento psicológico na rede pública de saúde.” 2. “Uma forma de amenizar o alto número de indivíduos com saúde mental debilitada seria a conscientização da necessidade de acompanhamento psicológico e a disponibilização de psicólogos por parte do Governo Federal nos postos de saúde do SUS.” 3. “Para solucionar estes problemas, deve-se ter empatia a essas pessoas e cativá-las.” 4. “Diante disso, entende-se que qualquer um está suscetível a ter uma mente não equilibrada em algum momento da vida. Por esse motivo, a inserção deste assunto em canais de comunicação, mídias e escolas deve existir, facilitando o entendimento e a aceitação de algo que é necessário para a vida.” É importante observar as possibilidades de localização do efeito na proposta de intervenção. É comum o participante iniciar a proposta de intervenção com esse elemento (como nos exemplos 1, 2 e 3 do quadro anterior), normalmente com o indicativo de finalidade. Não raro, porém, o efeito aparece no final da proposta (como no exemplo 4), mas, nessa posição, além da finalidade, são comuns as construções indicativas de consequência e conclusão. Cabe, também, destacar que um mesmo efeito pode servir a várias propostas de intervenção. O avaliador deve ficar atento, a fim de verificar se, mesmo estando estruturalmente distante da proposta (em outro período ou até em outro MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 29 parágrafo), o efeito pode estar semanticamente relacionado a ela, como ocorre no exemplo seguinte: “Portanto, é necessário que o governo federal junto a influenciadores digitais falem sobre saúde mental nas redes sociais, realizando campanhas sobre a importância do diálogo entre amigos e família. Outra possível ação é a inserção de psicólogos em escolas. Tal ação deve ser feita por todas as escolas do país, sendo o governo federal um importante agente, que tornaria a presença desses especialistas da saúde obrigatória através de um decreto. Dessa maneira, o estigma poderá ser superado.” Note que o exemplo anterior apresenta duas propostas de intervenção (cujas ações são “falem sobre saúde mental nas redes sociais” e “é a inserção de psicólogos em escolas”) e apenas um efeito, no fim, que serve a ambas. DETALHAMENTO Detalhamento é o elemento que acrescenta informações à ação, ao agente, ao modo/meio ou ao efeito. Ele tem papel fundamental para uma formulação mais concreta e mais elaborada da proposta de intervenção. Por esse motivo, damos ao detalhamento a mesma relevância concedida aos demais elementos, pois todos cumprem o papel de completar a ação da proposta de intervenção. A pergunta a ser respondida para identificar o detalhamento é: “Que outra informação sobre esses elementos foi acrescentada pelo participante?”. É importante enfatizar que não há detalhamento considerado elemento nulo. Cabe observar que, na proposta de intervenção, o detalhamento pode estar relacionado a uma ação ou a um agente considerado elemento nulo e, mesmo assim, ser contabilizado, pois a ação e o agente considerados elementos nulos não são inexistentes – ou seja, embora não sejam contabilizados como elementos válidos, tais ações e tais agentes compõem uma proposta de intervenção e podem ter um detalhamento relacionado a eles. O detalhamento, por sua vez, é, justamente, um outro elemento, aquele que acrescenta informações à ação, ao agente, ao modo/ meio ou ao efeito. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 30 O detalhamento da ação, do agente e do modo/meio é variado, podendo se apresentar na forma de uma exemplificação, explicação ou justificativa. São exemplos do detalhamento da ação: 1. “Diante da situação deveria haver mais campanhas de acolhimento, pois a maioria dos casos uma palavra, gestos ou algum projeto são importantes para as pessoas que estão passado por algo pessoal.” (Justificativa) 2. “Sendo assim, cabe ao Ministério da Saúde, em parceria com criadores de conteúdo digital, a promoção de campanhas conscientizadoras, como por exemplo vários dias ‘amarelos’ inspirados nomês setembro amarelo, com finalidade de enaltecer a importância do autocuidado e do cuidado com o próximo.” (Exemplificação) IMPORTANTE Nos anos anteriores, uma das dúvidas mais recorrentes sobre a Competência V dizia respeito à análise de orações adjetivas na composição da proposta de intervenção. Muitos questionamentos referem-se à identificação de orações subordinadas adjetivas restritivas como parte da ação e de orações subordinadas adjetivas explicativas como detalhamento. Sabe-se que, mesmo recorrendo a explicações gramaticais, pode ser difícil fazer uma distinção precisa entre esses tipos de oração. Uma maneira de observar essa diferença seria pelo emprego da vírgula nas orações explicativas, porém, é preciso considerar os diferentes níveis de domínio do uso da vírgula pelos participantes, que, em alguns casos, não empregam esse tipo de pontuação corretamente. Assim, entendemos que nos basearmos na distinção entre restritivas e explicativas para definir se a oração consiste ou não em detalhamento seria improdutivo. A partir do estudo de amostras de redações dos anos anteriores, percebeu-se que, de forma geral, as orações adjetivas são usadas como uma complementação no elemento ação, portanto, MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 31 convencionou-se que as orações adjetivas tanto restritivas como explicativas não serão consideradas detalhamento da ação. Analisemos, então, as seguintes propostas: 1. “Com base nesses acontecimentos, deveria ampliar novas leis que punem esse tipo de atitude em geral.” (Ideia que complementa “novas leis” e, por isso, é parte da ação) 2. “Destarte, urge que o Ministério da Educação – órgão responsável por aprendizagem – faça campanhas informativas que promovam altruísmo e senso crítico por meio das plataformas da mídia.” (Ideia que complementa “campanhas informativas” e, por isso, é parte da ação) Note que essa convenção serve exclusivamente para o elemento ação. Quando a oração adjetiva (restritiva ou explicativa) aparece ligada a um agente ou a um modo/meio, é necessário fazermos a pergunta “Que outra informação sobre esses elementos foi acrescentada pelo participante?” para considerarmos a existência de um detalhamento ou não. São exemplos do detalhamento do agente: 1. “Logo, urge que os deputados federais e senadores, responsáveis pelo Poder Legislativo, aprovem uma lei que proíba os manicômios em todo território nacional.” (Explicação) 2. “Portanto, os representantes governamentais e órgãos responsáveis como o Ministério da Educação e da Saúde devem apresentar propostas de conscientização.” (Exemplificação) São exemplos do detalhamento do modo/meio: 1. “Portanto, para amenizar o estigma negativo associado a doenças mentais, é de suma importância que as escolas desconstruam a ideia de que saúde mental é algo ruim, por meio de palestras informativas sobre saúde – que MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 32 seriam ministradas por profissionais competentes na área da saúde –, com o objetivo de normalizar essa pauta desde cedo.” (Explicação) 2. “A mídia em parceria com o Ministério da Saúde deve criar propagandas e companhas por meio de plataformas digitais como: Facebook, Instagram, YouTube e WhatsApp, com a finalidade de conscientizar e ajudar essas pessoas com doenças mentais.” (Exemplificação) Os exemplos estudados evidenciam que o detalhamento, como elemento, tem papel fundamental para uma formulação mais concreta e mais elaborada da proposta de intervenção. Quando identificamos um detalhamento, é preciso delimitá-lo como algo além do elemento a que está ligado, ou seja, uma informação a mais. IMPORTANTE Para aqueles que participaram do processo do ano passado, é importante destacar que este ano não iremos considerar adjuntos adverbiais com especificação de lugar (por exemplo, “nas cidades”) como detalhamento da ação ou do modo/meio. Essas expressões terão o mesmo tratamento que o público-alvo, uma vez que elas complementam a ação ou o modo/meio. Observemos os seguintes exemplos: 1. “O Ministério da Saúde, em parceria com o MEC, deve propor campanhas em redes sociais e nas escolas com a finalidade de explicar sobre problemas mentais, para que seja um assunto esclarecido.” (Especificação de lugar não é detalhamento) 2. “Portanto, o governo federal em parceria com hospitais e ONG’s necessitam criar projetos para a sociedade que sofre como essas doenças – como consultas gratuitas aos cidadãos que não tem condições financeiras.” (Público-alvo não é detalhamento) Diferentemente do detalhamento da ação, do agente e do modo/meio, que pode ser variado (exemplificação, explicação ou justificativa), para o detalhamento do efeito admitiremos apenas uma possibilidade. Consideraremos MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 33 detalhamento do efeito somente quando o participante estabelecer uma relação semântica de gradação entre dois ou mais efeitos. Em outras palavras, caso haja mais de um efeito na proposta de intervenção, devemos observar se há alguma relação de gradação entre esses dois efeitos, por exemplo, um desdobramento ou uma expansão. Se houver, devemos contabilizar a presença de um efeito e de um detalhamento do efeito. São exemplos do detalhamento do efeito: 1. “Portanto cabe ao Ministério da Educação junto a mídia conscientizar e desmitificar a mente da sociedade sobre esse assunto, através de palestras e propagandas, objetivando mostrar a seriedade dessa área. Destarte, é possível surgir, na humanidade, um significado mais amplo do campo de saúde e doença mental.” Efeito: “objetivando mostrar a seriedade dessa área” Detalhamento do efeito: “Destarte, é possível surgir, na humanidade, um significado mais amplo do campo de saúde e doença mental” 2. “Portanto, para diminuir as implicações econômicas e individuais das doenças mentais, é necessário o Governo Federal e os Governos Estaduais criarem campanhas públicas de conscientização sobre a saúde mental, como palestras, cartazes e programas sociais de discussão sobre o assunto. Assim, será possível combater o estigma em relação a essas doenças.” Efeito: “para diminuir as implicações econômicas e individuais das doenças mentais” Detalhamento do efeito: “Assim, será possível combater o estigma em relação a essas doenças” 3. “Portanto, é fundamental que os Ministérios da Saúde, Educação e Tecnologia se reúnam fomentando e desenvolvendo projetos que acolham esses jovens e seus familiares, além de criar palestras, lives e publicações online que abordem o assunto doenças mentais, e mostrem a importância de conhecer e tratar essas doenças. Com isso acabaremos com esse estigma que a sociedade impõe, e assim futuramente viveremos em uma sociedade unida e sem preconceito, onde todos terão o respeito e aceitação como princípio. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 34 Efeito: “Com isso acabaremos com esse estigma que a sociedade impõe” Detalhamento do efeito: “e assim futuramente viveremos em uma sociedade unida e sem preconceito, onde todos terão o respeito e aceitação como princípio” 4. “Para melhorar o problema de saúde mental da população brasileira, é necessário que o Poder Público dê mais atenção às camadas mais vulneráveis, por meio de consultas individuais ao paciente, para promover a compreensão do controle emocional.” Efeito: “Para melhorar o problema de saúde mental da população brasileira” Detalhamento do efeito: “para promover a compreensão do controle emocional” A identificação semântica de uma relação de gradação entre os efeitos pode dar margem para diferentes interpretações entre os avaliadores e, em uma avaliação em larga escala, precisamos eliminar leituras conflitantes. Dessa forma, após estudos com a amostra de redações e com as correções de anos anteriores, definimos que há detalhamento do efeito se o participante apresentar dois ou mais efeitos, excetoquando ele provar textualmente que esses efeitos não estão em uma relação de gradação. Há apenas duas formas de provar que não há relação de gradação entre os efeitos: i. os efeitos têm o mesmo sentido, portanto, trata-se da repetição do mesmo efeito; e ii. os efeitos estão em uma relação exclusiva de adição e, portanto, são independentes. A seguir, há um exemplo do primeiro caso em que o participante prova que não há uma relação de gradação entre os dois efeitos, pois o sentido dos elementos articulados é o mesmo. Devemos avaliá-los, então, como dois efeitos (1 elemento válido). Vejamos: “Para amenizar os casos, poderia ser investido na ideia de pôr atendimento psicológico gratuito em escolas e postos de saúde públicos. Prezando diminuir o número de casos de estigma associado a doenças.” Nesse exemplo, os efeitos “Para amenizar os casos” e “Prezando diminuir o número de casos de estigma associado a doenças” estão no mesmo nível MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 35 semântico, haja vista que o sentido de “amenizar os casos” e “diminuir o número de casos” é muito parecido. Portanto, nessa proposta, não temos detalhamento do efeito, mas dois efeitos (contabilizando apenas 1 elemento válido). A proposta de intervenção a seguir refere-se ao segundo caso, em que o participante prova que não há uma relação de gradação entre os efeitos, porque esses são apresentados a partir de uma relação exclusiva de adição. Ao elaborar os efeitos desse modo, devemos avaliar que o participante os considerou de forma independente e não explicitou uma relação de gradação. Portanto, também devemos avaliá-los como dois efeitos (1 elemento válido). Vejamos: “Após a análise desses fatos, podemos concluir que infelizmente esse é um dos problemas de saúde mais graves e mais ignorados ao mesmo tempo. Diante do aumento dos mesmos, o mínimo a se fazer é promover melhorias nos canais de ajuda, como o CVV e acredito que promover campanhas sociais e disponibilizar maiores fontes de ajuda sem custo, como conselheiros em escolas e outras áreas de trabalho, já ajudaria a conter o aumento dos transtornos além de promover maior felicidade e satisfação da população.” No exemplo anterior, consideramos como dois efeitos independentes os trechos “já ajudaria a conter o aumento dos transtornos” e “promover maior felicidade e satisfação da população”, pois a presença apenas da conjunção “além de” garante que não há desdobramento entre esses dois efeitos, mas que eles ocorreriam simultaneamente, caso a ação fosse posta em prática. Portanto, nesse caso, devemos avaliar os trechos como dois efeitos (1 elemento válido). Ainda sobre o exemplo anterior, caso houvesse, no trecho, alguma outra expressão que indicasse outra relação além da adição, poderíamos considerar a presença de um detalhamento do efeito. É o que ocorre no terceiro exemplo apresentado no box sobre detalhamento do efeito e retomado a seguir: “Portanto, é fundamental que os Ministérios da Saúde, Educação e Tecnologia se reúnam fomentando e desenvolvendo projetos que acolham esses jovens e seus familiares, além de criar palestras, lives e publicações online que abordem o assunto doenças mentais, e mostrem a importância de conhecer e tratar essas doenças. Com isso acabaremos com esse estigma que a sociedade impõe, e assim futuramente viveremos em uma sociedade unida e sem preconceito, onde todos terão o respeito e aceitação como princípio.” MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 36 É importante observar que, nessa proposta de intervenção, temos a presença do efeito “Com isso acabaremos com esse estigma que a sociedade impõe” e do detalhamento do efeito “e assim futuramente viveremos em uma sociedade unida e sem preconceito, onde todos terão o respeito e aceitação como princípio”, porque o participante apresentou os dois trechos articulados por “e assim futuramente”. Apenas a presença da conjunção “e” determinaria a existência de dois efeitos, porém, ao acrescentar “assim” e “futuramente”, o participante explicita uma relação de consequência e expansão, o que já consideramos como uma relação de gradação. Portanto, nesse exemplo, há efeito e detalhamento do efeito (2 elementos válidos). NOVIDADE Diferentemente do que foi convencionado no processo de avaliação das redações do Enem 2020 (em que apenas o uso da conjunção “e” determinava a identificação de dois efeitos independentes, não havendo, portanto, detalhamento do efeito), em 2021, consideraremos qualquer conjunção ou expressão de adição para a identificação de dois efeitos independentes. Assim, quando o participante utilizar apenas conjunções ou expressões aditivas (e, além de, também, não só... mas também, entre outras) para relacionar efeitos, devemos considerá-los dois efeitos independentes e não como efeito e detalhamento do efeito. Devemos lembrar que, assim como os outros elementos, o detalhamento deve ser contabilizado apenas uma vez. Por exemplo, se a proposta válida apresentar um detalhamento da ação e um detalhamento do agente, contabilizamos apenas um detalhamento. Da mesma maneira, se houver dois ou mais detalhamentos de um mesmo elemento, contabilizamos apenas um detalhamento (1 elemento válido). MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 37 3.3. Considerações sobre o gerúndio na identificação dos elementos Normalmente, as orações reduzidas de gerúndio e sem conjunção demandam uma atenção maior por parte do avaliador, pois podem ser consideradas efeito, modo/meio ou detalhamento, dependendo do caso. Uma forma eficiente de perceber a diferença entre esses elementos é fazer as perguntas que os identificam. 1. “Cabe ao Ministério da Saúde (MS), juntamente com o Ministério da Educação (MEC) propor campanhas de conscientização sobre essas doenças por meio de cursos, palestras, cartazes e propaganda, tornando a sociedade um local mais protetor, principalmente no momento delicado em que vivemos.” O que deve ser feito? “propor campanhas de conscientização sobre essas doenças”. (Ação) Quem executa? “Ministério da Saúde (MS), juntamente com o Ministério da Educação (MEC)”. (Agente) Como se executa?/Por meio do quê? “por meio de cursos, palestras, cartazes e propaganda”. (Modo/meio) Para quê? “tornando a sociedade um local mais protetor, principalmente no momento delicado em que vivemos”. (Efeito) Que outra informação sobre esses elementos foi acrescentada pelo participante? Não há. A partir das perguntas, percebemos que o trecho destacado deve ser identificado como efeito, pois o uso do verbo “tornar” no gerúndio, nessa ocorrência, indica um objetivo da proposição de campanhas de conscientização sobre as doenças. Em outras palavras, o trecho destacado responde à pergunta “PARA QUE propor campanhas?” – PARA tornar a sociedade um local mais protetor, principalmente no momento delicado em que vivemos. 2. “Sendo assim, diante de tantos estigmas é necessário que o governo ajude essas pessoas investindo na melhoria dos tratamentos desses transtornos, e também incentivando a população a discutir mais o tema com a função de conscientizar e incentivar a procura de ajuda e conhecimento.” MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 38 O que deve ser feito? “ajude essas pessoas”. (Ação) Quem executa? “o governo”. (Agente) Como se executa?/Por meio do quê? “investindo na melhoria dos tratamentos desses transtornos, e também incentivando a população a discutir mais o tema”. (Modo/meio) Para quê? “com a função de conscientizar e incentivar a procura de ajuda e conhecimento”. (Efeito) Que outra informação sobre esses elementos foi acrescentada pelo participante? Não há. O trecho destacado deve ser identificado como modo/meio, pois o uso dos verbos “investir” e “incentivar” no gerúndio, nessa ocorrência, indica formas de realizar a ação “ajude essas pessoas”. Ou seja, o trecho responde à pergunta “COMO será possível ajudaressas pessoas?” – POR MEIO DE investimento na melhoria dos tratamentos desses transtornos e incentivo da população a discutir mais o tema. 3. “Portanto, é essencial que o Ministério da Educação junto com Ministério da Saúde adicione uma matéria na grade curricular dos Ensinos Fundamentais, Médio e Superior a fim de ensinar esse nicho da importância da saúde mental, mitigando o estigma relacionado às doenças mentais.” O que deve ser feito? “adicione uma matéria na grade curricular dos Ensinos Fundamentais, Médio e Superior”. (Ação) Quem executa? “o Ministério da Educação junto com Ministério da Saúde”. (Agente) Como se executa? Por meio do quê? Não sabemos. Para quê? “a fim de ensinar esse nicho da importância da saúde mental”. (Efeito) Que outra informação sobre esses elementos foi acrescentada pelo participante? “mitigando o estigma relacionado às doenças mentais”. (Detalhamento do efeito) MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 39 O trecho destacado deve ser identificado como detalhamento do efeito, pois o uso do verbo “mitigar”, nessa ocorrência, acrescenta um desdobramento do efeito, uma informação a mais sobre o efeito. Ou seja, o trecho responde à pergunta QUE OUTRA INFORMAÇÃO sobre o efeito foi acrescentada pelo participante – o ensino a esse nicho da importância da saúde mental (efeito) possibilitará a mitigação do estigma relacionado às doenças mentais (efeito do efeito, detalhamento). 3.4. Roteiro de avaliação Para finalizarmos esta seção, retomemos brevemente o passo-a-passo mais adequado para se fazer a identificação e a contabilização dos elementos. É importante compreender que a ação é o elemento essencial de uma proposta de intervenção e é a partir dela que identificamos os outros elementos. Com isso, pretendemos explicitar que uma proposta pode ter mais de um agente, mais de um modo/meio, mais de um efeito ou mais de um detalhamento, mas nunca poderá ter mais de uma ação. Isso ocorre porque, justamente, cada ação equivale a uma proposta de intervenção específica. Vejamos um exemplo de propostas de intervenção de uma redação com abordagem completa do tema: Exemplo 11 O primeiro passo é identificar a ação ou as ações. A ação é o elemento central da proposta de intervenção, a partir do qual todos os outros elementos se organizam. Se houver mais de uma ação, teremos mais de uma proposta. Na proposta acima, identificamos três ações, portanto, temos três propostas. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 40 AÇÃO 1: criar mais políticas públicas de promoção e prevenção de saúde AÇÃO 2: investir em treinamentos dos profissionais da atenção primária AÇÃO 3: investir em campanhas publicitárias voltadas para a empatia, acolhimento, preconceito e a valorização da humanidade em um mundo onde as redes sociais minimizou a socialização das pessoas Em seguida, devemos identificar a presença dos elementos agente, modo/meio e efeito. Como há mais de uma ação no mesmo trecho, é possível que essas ações compartilhem esses mesmos elementos. As três propostas compartilham o mesmo agente: AGENTE DA AÇÃO 1: Governo Federal AGENTE DA AÇÃO 2: Governo Federal AGENTE DA AÇÃO 3: Governo Federal No trecho acima, identificamos também dois efeitos, mas esses elementos servem apenas à segunda ação. DOIS EFEITOS DA AÇÃO 2: para que os mesmo possa identificar a doença e direcionar para o tratamento adequado Nenhuma das três propostas apresenta modo/meio. Após a identificação da ação, agente, modo/meio e efeito, devemos verificar a presença de detalhamento relacionado aos elementos identificados. No exemplo, não há nenhum detalhamento. O último passo é a contabilização dos elementos, para identificarmos a proposta mais completa. No trecho identificamos três propostas: PROPOSTA 1: ação (“criar mais políticas públicas de promoção e prevenção de saúde”) e agente (“Governo Federal”) = 2 elementos válidos PROPOSTA 2: ação (“investir em treinamentos dos profissionais da atenção primário”), agente (“Governo Federal”) e 2 efeitos (“para que os mesmo possa identificar a doença e direcionar para o tratamento adequado” – apenas um deverá ser contabilizado) = 3 elementos válidos MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 41 PROPOSTA 3: ação (“investir em campanhas publicitárias voltadas para a empatia, acolhimento, preconceito e a valorização da humanidade em um mundo onde as redes sociais minimizou a socialização das pessoas”) e agente (“Governo Federal”) = 2 elementos válidos A proposta com o maior número de elementos válidos no Exemplo 11 é a proposta 2. Por apresentar 3 elementos válidos, o nível 3 deve ser atribuído a essa redação na Competência V. Após conhecermos cada um dos elementos e observarmos como eles se manifestam textualmente, é importante saber, agora, como eles se distribuem pelos níveis de notas e analisar, a partir de redações dos participantes, como podem ser identificados. 4. DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS Apresentados os 5 elementos que servirão de critério para a atribuição dos níveis de 0 a 5 às propostas de intervenção, como visto na Grade Específica, precisamos, então, compreender como eles devem ser contabilizados por nível de nota. Utilizaremos a seguinte legenda para as marcações nas redações analisadas: Proposta mais completa, aquela que é considerada para a atribuição do nível. Proposta menos completa ou pertencente a um texto tangente. Trecho com desrespeito aos direitos humanos. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 42 4.1. Nível 0 (nota 0) 0 • Ausência de proposta OU • Proposta de intervenção que desrespeita os direitos humanos OU • Proposta de intervenção não relacionada sequer ao assunto Há três situações que permitem a atribuição de nível 0 à Competência V: o texto não apresenta proposta de intervenção; há desrespeito aos direitos humanos na proposta de intervenção; ou a proposta não está relacionada sequer ao assunto. 4.1.1. Ausência de proposta de intervenção A primeira possibilidade de atribuição desse nível é quando o texto não apresenta qualquer proposta de intervenção. Já vimos como identificar a proposta no texto, no item 3.1. Logo, se a clara intenção do participante de propor algo não for identificada, ou seja, se o texto não apresentar uma proposta de intervenção, ele deverá ser avaliado no nível 0 da Competência V. Vejamos o exemplo a seguir: Exemplo 12 O texto do Exemplo 12 é avaliado no nível 0 porque não apresenta proposta de intervenção. Há menção a doenças mentais nas linhas 1 e 2 (“donças mentais”) e MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 43 o participante aborda o estigma associado às doenças mentais entre as linhas 6 e 7 (“muitas pessoas consideram isso como besteira, frescura”). Contudo, o participante faz apenas constatações ao longo do texto, não apontando que tal cenário deve ser modificado, nem o que deve ser feito para mudá-lo. Como o participante não expressa claramente o desejo de propor algo para interferir na questão, não identificamos a presença de uma proposta de intervenção. 4.1.2. Proposta de intervenção que desrespeita os direitos humanos O nível 0 também será atribuído a propostas que desrespeitem os direitos humanos, como é o caso do exemplo a seguir. Exemplo 13 MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 44 Na redação do Exemplo 13, há abordagem completa do tema, porque o participante trata de doenças mentais nas linhas 3 e 4 (“transtomos psicológicos”) e menciona o estigma associado às doenças mentais na linha 6 (“estigma”). A partir da leitura do texto, conclui-se que deve ser atribuído o nível 0 na Competência V, pois o participante apresenta uma proposta de intervenção, entre as linhas 21 e 29, que sugere que pessoas com doenças mentais ou dificuldades financeiras sejam proibidas de ter filhos. Essa proposição configura desrespeito aos direitos humanos, uma vez que contraria o princípio de que toda pessoa temo direito de ter filhos e formar uma família. É importante ressaltar que, devido à gravidade verificada no desrespeito aos direitos humanos, a identificação de uma proposta enquadrada nesse perfil deverá levar o texto a ser avaliado sempre no nível 0 desta Competência, independentemente da existência de outras propostas, na mesma redação, que não firam os direitos humanos, ainda que mais completas (com mais elementos). 4.1.3. Proposta de intervenção não relacionada sequer ao assunto Por fim, as propostas de intervenção identificadas como não relacionadas sequer ao assunto, o que inclui aquelas totalmente incompatíveis com ele, também serão avaliadas no nível 0. Se um texto for avaliado como “fuga ao tema”, é porque nem na proposta de intervenção foi identificada a abordagem temática; portanto, ele não é avaliado em qualquer uma das competências. No entanto, caso um texto avaliado na Competência II com abordagem completa do tema ou, pelo menos, como tangente apresente uma proposta de intervenção completamente alheia ao tema ou ao assunto, é preciso verificar, primeiramente, se não se trata de algum caso de “parte desconectada”, como vimos no Módulo 2 − Situações que levam à nota zero. Descartada essa hipótese, devemos verificar se o participante estabeleceu alguma relação entre a sua proposta de intervenção e seu projeto de texto. Ele pode, por exemplo, apresentar uma proposta que não está diretamente relacionada ao tema ou ao assunto, ou uma proposta muito vaga, mas que está relacionada à discussão desenvolvida por ele ao longo do texto. Nesses casos, podemos recuperar a relação da proposta com o tema e/ou o assunto pelo projeto de texto e avaliá-la normalmente. Porém, se a proposta não estiver diretamente relacionada ao assunto ou ao tema da prova nem à discussão desenvolvida e não for identificado um caso de PD, devemos MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 45 considerar a proposta como não relacionada sequer ao assunto e atribuir o nível 0 na Competência V. Esses casos são raros e são observados apenas com determinados temas. No Enem 2020, não foi encontrado nenhum caso de proposta de intervenção não relacionada sequer ao assunto. É importante lembrar que, caso o texto contenha outra proposta compatível, ela deve ser avaliada normalmente, mesmo apresentando menos elementos, ou seja, não sendo a mais completa. ATENÇÃO Deve-se enviar ao supervisor, como ocorrência pedagógica, textos com proposta de intervenção sequer relacionada ao assunto, para uma verificação mais detalhada. 4.2. Nível 1 (nota 40) 1 • Tangenciamento do tema OU • Apenas elemento(s) nulo(s) OU • 1 elemento válido Há três situações para a atribuição do nível 1 na Competência V: a proposta de intervenção pertencente a um texto tangente, aquela com apenas elemento(s) nulo(s) ou aquela com apenas 1 elemento válido. Vejamos os exemplos a seguir. 4.2.1. Tangenciamento do tema Se um texto foi considerado tangente na Competência II, significa que a abordagem completa do tema não foi identificada nem mesmo na proposta de intervenção; portanto, caso apresente uma proposta com um ou mais elementos válidos, deve ser avaliado no nível 1 na Competência V. Contudo, é preciso atenção, pois um texto tangente pode ainda: não conter proposta de intervenção; apresentar proposta que desrespeite os direitos humanos; ou apresentar apenas proposta não relacionada sequer ao assunto − condições que levam à atribuição do nível 0 nesta Competência. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 46 No exemplo a seguir, as propostas de intervenção, ainda que cada uma apresente dois elementos válidos, encontram-se em um texto tangente; por isso, a redação enquadra-se no nível 1 da Competência V. Exemplo 14 Na redação do Exemplo 14, há tangenciamento do tema, porque o participante aborda as doenças mentais na linha 1 (“doenças mentais”), mas não trata do estigma associado às doenças mentais. Nas linhas 7 a 14, há seis propostas com 2 elementos cada. A primeira, entre as linhas 7 e 8, apresenta o efeito (“Uma forma de acabar com isso”) e a ação (“é deixar as pessoas viverem mais”). A segunda, entre as linhas 7 e 9, apresenta a ação (“é deixar as pessoas fazerem o que gostam”) e compartilha o efeito com a primeira proposta. A terceira, entre as linhas 7 e 10, apresenta a ação (“deixar com que eles aprendam com os erros”) e compartilha o mesmo efeito das propostas anteriores. No último parágrafo, a quarta proposta apresenta, entre as linhas 11 e 12, o agente (“A sociedade”) e a ação (“tem que deixar de impor padrões de beleza”). A quinta proposta, na linha 12, apresenta o agente (“Cada um”) e a ação (“tem que viver como gosta”). Por fim, a sexta proposta, entre as linhas 12 e 14, apresenta a ação (“se vestir como gosta e não do jeito que a sociedade impõe.”) e compartilha o agente com a proposta anterior. Embora cada uma das propostas de intervenção apresente dois elementos válidos, a redação deve ser avaliada no nível 1, porque o texto é tangente. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 47 4.2.2. Apenas elemento(s) nulo(s) Se a proposta de intervenção se encontra em um texto que já apresenta abordagem completa do tema, devemos avaliá-la conforme sua construção a partir da variedade dos elementos que apresenta. Em um texto com abordagem completa do tema, a primeira situação de atribuição de nível 1 nessa Competência refere-se à proposta de intervenção que apresenta somente elementos(s) nulos(s). Exemplo 15 No Exemplo 15, o tema é abordado de forma completa, pois trata de doenças mentais nas linhas 2 e 3 (“O estado mental de uma pessoa implica muito mais MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 48 que a ausência de uma doença”) e menciona o estigma na linha 10 (“estigma”). Na linha 25, há uma proposta de intervenção de nível 1, com apenas um elemento nulo, a ação (“[a doença] que não deve ser tratada como uma ‘frescura’”). É importante lembrar que ações na negativa são consideradas nulas. 4.2.3. Um elemento válido Por fim, a última possibilidade de atribuição do nível 1 na Competência V refere- se à proposta que apresenta apenas um elemento válido. Exemplo 16 MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 49 No Exemplo 16, o tema é abordado de forma completa, tratando das doenças mentais na linha 2 (“depressão”) e da estigmatização associada às doenças mentais na linha 4 (“Boa parte da população acham que deve ser frescura”). Nas linhas 23 a 25, há quatro propostas de intervenção de nível 1, porque todas apresentam apenas um elemento válido, a ação. A primeira proposta apresenta uma ação (“Poderia falar mais sobre o assunto”). A segunda proposta apresenta uma ação (“criar campanhas nas escolas”). A terceira proposta apresenta uma ação (“mais psicólogos nos postos de saude”). E a quarta proposta também apresenta apenas uma ação (“apoio ao trabalhador no ambiente de trabalho”). Nessa redação, em todas as propostas, faltou explicitar o agente da ação, o seu modo/meio de execução, o efeito e algum detalhamento; por isso, ela deve ser avaliada no nível 1. 4.3. Nível 2 (nota 80) 2 2 elementos válidos Estruturas condicionais com 2 ou mais elementos válidos não devem ultrapassar este nível A proposta de intervenção avaliada no nível 2 é aquela que apresenta apenas 2 elementos válidos ou que, apesar de apresentar 2 ou mais elementos válidos, é escrita por meio de estruturas condicionais. MÓDULO 07 | COMPETÊNCIA V 50 4.3.1. Dois elementos válidos Vejamos o exemplo a seguir: Exemplo 17 O Exemplo 17 apresenta abordagem completa do tema, pois, na linha 3, há menção a doenças mentais (“doenças mentais”) e, na linha 11, alusão ao estigma associado a doenças mentais (“As pessoas tendem a não compreender”). A redação apresenta três propostas de intervenção de nível 2 entre as linhas 15 e 18. Na primeira, temos a ação (“Devem ser feitas a conscientização
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