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Da política do filho único ao incentivo à natalidade

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Da política do filho único ao incentivo à natalidade 
 
Por Mariana Madrigali (27/11/2019) 
 
Com mais de 1,3 bilhão de pessoas, a China é o país mais populoso do 
mundo, o que motivou o governo a implementar políticas de restrição de 
nascimentos por mais de três décadas. Tornando-se assim, país sede dos 
sistemas de planejamentos familiares mais rígidos do globo. Tais medidas de 
controle de natalidade foram o foco das políticas econômicas e sociais do 
governo, forçando a maioria dos casais a não ter mais que um filho, 
sob penalidade de altíssimas multas. 
Outros motivos como o baixo desenvolvimento econômico, que deixava 
grande parte da população chinesa abaixo da linha da pobreza, contribuíram 
também para que as medidas de controle de natalidade fossem tomadas. Era 
uma dificuldade muito grande alimentar tamanha população, coisa que hoje tem 
melhorado, apesar de ainda existirem chineses bem longe do grande 
desenvolvimento econômico de seu país. 
Autoridades locais chegavam a receber avaliações de desempenho 
baseados em parte no quão elevado era a adesão dos residentes às restrições. 
Contudo, isso mudou no dia 1º de janeiro de 2016, quando entrou uma reforma 
legislativa que pôs fim ao controle de natalidade, e passou a permitir que todos 
os casais chineses pudessem ter dois filhos. E essa mudança ocorreu porque 
a população chinesa está envelhecendo e uma crise demográfica parece 
inevitável. 
 
Fonte: Elite Readers 
http://www.chinalinktrading.com/blog/envelhecimento-da-populacao-chinesa/
 A Política do filho único 
A partir dos anos 1970, devido às grandes preocupações relacionadas 
aos excessos de pessoas em seu território, o governo Chinês passou a pôr em 
prática uma rigorosa política de controle demográfico, que ficou popularmente 
conhecida como política do filho único. 
O nome é autoexplicativo, segundo esta lei, a cada casal seria permitido 
apenas um filho. Existiam exceções, por exemplo: os habitantes das zonas 
rurais, ao quais eram permitidos o segundo filho, especialmente se o primeiro 
fosse uma menina, sob a justificativa de que o campo deveria suprir as 
necessidades alimentares da população, sendo assim necessário mais força de 
trabalho para que isso acontecesse. Contudo, estima-se que nesses mais de 40 
anos de proibição, aproximadamente 400 milhões de nascimento foram evitados. 
Essa geração fruto da política do filho único cresceu sem irmãos e, 
geralmente, criada pelos avós enquanto ambos pais trabalhavam. No entanto, o 
modelo sofria fortes críticas, principalmente no âmbito internacional. Tornaram-
se frequentes acusações feitas ao governo chinês sobre violações dos direitos 
humanos. 
Na década de 1980, por exemplo, eram constantes as mulheres que eram 
obrigadas a abortar fetos que viriam a ser o segundo filho, ultrapassando assim 
a quota. Além disso, mulheres e homens eram constantemente obrigados a 
passarem por cirurgias de esterilização. Sem contar que inúmeros bebês eram 
abandonados em portas de orfanatos, principalmente os do sexo feminino. A 
política do filho único era especialmente cruel com os bebês do sexo feminino, 
extremamente indesejável para a continuidade do sobrenome da família e de 
sua força de trabalho. 
 
Imagem clássica que ilustra a superpopulação chinesa. Fonte: Awebic 
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/controle-demografico-na-china.htm
Os resultados da política do filho único 
Essas restrições ajudaram a agravar um enorme desiquilíbrio na 
proporção entre meninos e meninas na população, porque muitas famílias 
utilizaram o aborto seletivo para assegurar o nascimento de um filho, que são a 
preferência tradicional. 
Além disso, o crescimento demográfico chinês vem 
diminuindo consideravelmente, resultando em uma desaceleração no 
crescimento vegetativo do país. Isso implica na bomba demográfica do 
envelhecimento, que vem aumentando a proporção do número de idosos, o que 
consequentemente acarreta em sérios problemas previdenciários, situação que 
é vivida por Europa, Japão e até mesmo o Brasil. 
Especialistas alertaram que a China está caminhando em ritmo acelerado 
para uma crise no número de idosos, que demandam serviços caros e significam 
poucas pessoas jovens trabalhadoras pagando impostos para arcar com essas 
contas. A China é constantemente considerada uma fonte inesgotável de jovens 
trabalhadores baratos, porém já estamos vendo uma falta de mão-de-obra nos 
maiores centros de manufatura, o que por sua vez resultaria na queda do 
consumo, o que pode ser um fator de esfriamento da pujante economia chinesa. 
Por fim, é importante citar a estimativa é de que a proporção de 
trabalhadores e aposentados caia de 5 por 1 para 2 por 1 até o ano de 2030, o 
que vem se tornando a mais nova preocupação dos governantes chineses. Os 
dados do Escritório Nacional de Estatísticas da China mostram que o número de 
nascimentos caiu cerca de 630 mil em 2017 na comparação com o ano anterior. 
No mesmo período, o percentual da população com mais de 60 anos passou de 
16,7% para 17,3%. 
 
 
As políticas de controle de natalidade envelheceram a população chinesa. 
 
https://g1.globo.com/mundo/noticia/china-continua-a-envelhecer-apesar-do-fim-da-politica-do-filho-unico.ghtml
https://g1.globo.com/mundo/noticia/china-continua-a-envelhecer-apesar-do-fim-da-politica-do-filho-unico.ghtml
A reforma constitucional e o incentivo à natalidade 
Por essa razão, o governo foi flexibilizando a política do filho único de 
maneira gradativa até a abolição completa das medidas no início de 2016, como 
já citado acima, para conter o problema do envelhecimento populacional e 
também suprir a demanda de mão de obra. 
Contudo, agora o problema está se transformando, as imagens das 
crianças abandonadas em cestos nas portas de orfanatos ficaram para trás, por 
outro lado o custo elevado da educação e as novas prioridades trabalhistas das 
mulheres estão fazendo com as famílias pensem e repensem antes de ter um 
bebê, e ainda mais antes de ter o segundo filho. 
Segundo pesquisas publicadas pela mídia chinesa, as preocupações 
econômicas, o impacto nas carreiras dos pais e a educação são as 
principais razões pelas quais as famílias evitam ter um segundo filho 
atualmente nas grandes cidades da China. Esse fator citado somado à inserção 
das mulheres jovens chinesas no mercado de trabalho resultam em ainda menos 
gestações. 
Um relatório do Comitê de Trabalho Psicológico Social de Pequim indica 
que só 10,8% dos casais têm dois filhos e que 58,6% gostariam de ter mais um 
bebê. Em 2001, porém, 70,4% tinham o desejo de ampliar a família com mais 
uma criança, uma época que a política do filho único seguia em vigor. Para 
Comissão Nacional de Saúde e Planejamento Familiar, o sucesso da nova 
política adotada a partir de 2016 pode ser vista em outros dados: dos 17,2 
milhões de bebês vivos em 2017, 51% têm irmãos, uma alta de 5% em relação 
ao mesmo período do ano anterior. 
No entanto, para especialistas esses dados ainda são poucos e defendem 
que a China deveria promover mais políticas de incentivo de natalidade, como 
por exemplo a redução de impostos e oferecimento de subsídios para auxiliar 
nos custos de criar as crianças. Outro ponto importante, seria o investimento 
na educação básica, especialmente creches, a fim de evitar que as famílias 
recorram a alternativas privadas para ter acesso à educação de qualidade para 
os filhos. 
 
Uma mãe chinesa e seu filho. Fonte: G1 
 
Um surpreendente desenrolar da história para desafiar os políticos 
chineses, não é mesmo? De políticas de controle para natalidade para a situação 
de necessidade de se incentivar o crescimento vegetativo para poder manter o 
seu crescimento econômico. 
 
Por Lincoln Fracari, atualizado por João Victor Scomparim Soares, diretamente de Marília, 
SP – Brasil. 
Disponível em<https://www.chinalinktrading.com/blog/politica-filho-unico-natalidade-china/>.Acesso em 02 mar 2020 
https://www.chinalinktrading.com/blog/politica-filho-unico-natalidade-china/

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