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LIVRO_UNICO FILOSOFIA

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Prévia do material em texto

Introdução à 
Filosofia
José Adir Lins Machado
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou 
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo 
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de 
informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Imagens
Adaptadas de Shutterstock e iStock.
Todos os esforços foram empregados para localizar os detentores dos direitos autorais das 
imagens reproduzidas neste livro; qualquer eventual omissão será corrigida em futuras edições. 
Conteúdo em websites
Os endereços de websites listados neste livro podem ser alterados ou desativados a qualquer momento 
pelos seus mantenedores. Sendo assim, a Editora não se responsabiliza pelo conteúdo de terceiros.
Presidência 
Rodrigo Galindo
Vice-Presidência de Produto, Gestão 
e Expansão
Julia Gonçalves
Vice-Presidência Acadêmica
Marcos Lemos
Diretoria de Produção e 
Responsabilidade Social
Camilla Veiga
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Machado, José Adir Lins
M149i Introdução à filosofia / José Adir Lins Machado. – 
 Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020.
 192 p.
 
 ISBN 978-85-522-1674-2
 
 1. Tales de Mileto. 2. Pitágoras de Samos. 3. Sócrates.
 I. Título. 
 
CDD 107 
Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753
Gerência Editorial
Fernanda Migliorança
Editoração Gráfica e Eletrônica
Renata Galdino
Luana Mercurio
Supervisão da Disciplina
Tatiana Gomes Martins
Revisão Técnica
Mateus Betanho Campana
Tatiana Gomes Martins
Sumário
Unidade 1
Noções básicas de filosofia: indagar e 
questionar a realidade ................................................................................... 7
Seção 1
Senso Comum ..................................................................................... 9
Seção 2
Filosofia ..............................................................................................23
Seção 3
Ciência ...............................................................................................37
Unidade 2
Histórico do pensamento filosófico ..........................................................55
Seção 1
Filosofia antiga ..................................................................................57
Seção 2
Filosofia moderna .............................................................................70
Seção 3
Filosofia contemporânea .................................................................85
Unidade 3
Campos de estudo da Filosofia ...............................................................102
Seção 1
Epistemologia .................................................................................104
Seção 2
Política .............................................................................................118
Seção 3
Ética .................................................................................................130
Unidade 4
Identificação dos principais problemas e 
postulados filosóficos ...............................................................................147
Seção 1
Helenismo .......................................................................................149
Seção 2
Fenomenologia ..............................................................................161
Seção 3
Existencialismo ..............................................................................173
Palavras do autor
Parafraseando José Ortega y Gasset (1883-1955), segundo o qual “o 
homem é ele e suas circunstâncias”, poderíamos afirmar que o homem 
é ele e os seus pensamentos (ORTEGA Y GASSET, 1967, p. 52; SANTOS, 
1998/1999). Ou seja, não seríamos nada além de um cérebro emoldu-
rado por um corpo. Nesse sentido, nossos projetos, sonhos, valores, etc., 
seriam reflexos dos nossos pensamentos. Daí a necessidade de filtrar (fazer 
passar pela crítica) tudo aquilo que vai nos compor. E é aqui que a disci-
plina Introdução à Filosofia pretende ajudar você, despertando o seu senso 
crítico-reflexivo.
Similarmente ao que acontece com uma mente que se abre a um novo 
conhecimento e não volta a ser a mesma, também no âmbito acadêmico, por 
meio das pesquisas e descobertas, o conhecimento se desenvolve, cresce e se 
transforma. Não se espera nada diferente de um acadêmico de nível superior 
que busca conhecimento suficiente para desempenhar bem a sua função, 
pois a ele caberá crescer, desenvolver-se e, de certo modo, transformar-se em 
outra pessoa. Tal transformação será mais perceptível quando vier acompa-
nhada do desenvolvimento do senso crítico, reflexivo e profundo, possibili-
tados pela filosofia, quando bem estudada.
Desse modo, essa disciplina buscará ser uma ferramenta para o desenvol-
vimento de sua visão crítica, auxiliando-o na compreensão e interpretação 
da realidade e oferecendo referenciais para as suas tomadas de decisões. Para 
isso, apresentaremos os diversos tipos de conhecimento por meio do estudo 
dos períodos históricos da filosofia, seus principais pensadores e a temática 
discutida por eles, as abordagens mais significativas das mais diversas áreas 
da atuação filosófica, refletindo acerca da contribuição das escolas e correntes 
da filosofia diante de problemáticas pontuais.
Assim sendo, propomos, na primeira unidade, apresentar as noções 
básicas de filosofia distinguindo-a de outras modalidades de conheci-
mento, quais sejam o senso comum e o conhecimento científico. Na segunda 
unidade, abordaremos as fases que compõem a história da filosofia; na 
terceira, serão apresentadas as áreas de estudos da filosofia; e, por fim, na 
quarta unidade, trataremos das correntes filosóficas. Cada unidade será 
norteada por uma Situação Geradora de Aprendizagem e cada seção por uma 
Situação Problema, visando maior assimilação e aplicabilidade dos conheci-
mentos abordados.
Por fim, o convidamos a refletir sobre o que disse René Descartes 
(1596-1650):
[...] viver sem filosofar é como ter os olhos fechados sem 
jamais fazer esforço para abri-los; e o prazer de ver todas as 
coisas que nossa vista descobre não é comparável à satis-
fação que dá o conhecimento daquelas que se encontram 
pela filosofia; e seu estudo é mais necessário para regular 
nossos costumes e nos conduzir na vida que o uso dos nossos 
olhos para guiar nossos passos. (DESCARTES, 1997, p. 16)
Unidade 1
José Adir Lins Machado
Noções básicas de filosofia: indagar e questionar 
a realidade
Convite ao estudo
Caro aluno, possivelmente você já ouviu falar das meninas lobo, Amala e 
Kamala, encontradas, em 1920, nas proximidades de uma floresta na Índia. 
Supõe-se que elas haviam se afastado de seus pais e, embrenhando-se na 
floresta, foram “raptadas” por uma espécie de lobo que tem proximidade 
de convivência com humanos. Desse modo, com o passar do tempo, elas 
adaptaram-se à vida com os lobos. Esse caso é interessante, pois ilustra o 
quanto somos fruto da educação, do contexto, da cultura, etc., a que nos 
encontramos inseridos. Segundo relatos, essas meninas não falavam, apenas 
rosnavam, não caminhavam de modo ereto, comiam carne crua colocadas 
no chão e sem usar as mãos, uivavam para lua, não choravam e nem riam e 
não tinham nenhuma expressão facial.
Não somos totalmente determinados pelos elementos externos, mas, 
com certeza, somos influenciados parcialmente, em maiores ou menores 
graus. Nossa infância, nossa família, nossa escola, nossos amigos, etc., tudo 
isso repercute em nosso modo de ser. A primeira repercussão se dá pelo 
senso comum, contudo, essa modalidade de conhecimento não é aúnica. 
A ela se somam visões religiosas, filosóficas e científicas, resultando em um 
amálgama de visões de mundo que, embora muito presentes, nem sempre 
são percebidas.
Nessa primeira unidade trabalharemos, portanto, as seguintes modali-
dades de conhecimento: senso comum (δόξα [doxa], para os gregos) e 
filosofia e ciência (επιστήμη [episteme], para os gregos), mostrando que o 
conhecimento transforma os nossos pensamentos e acaba nos transfor-
mando também, assim como toda a nossa vida.
Para isso, nos valeremos da contribuição do filósofo norte-americano 
Hilary Putnam (1926-2016) que problematiza a questão do conhecimento, 
da verdade e da certeza por meio de uma ficção conhecida como Cérebros 
em cuba (PUTNAM,1992, p. 28). Ele propõe imaginarmos que transplantes 
de cérebros já fossem possíveis e, assim como acontece com transplantes de 
corações, seria necessário preservá-los em condições especiais até o momento 
da cirurgia. Os cérebros, então, ficariam nas cubas de um laboratório cientí-
fico e, para não parar o seu funcionamento/pensamento, seriam ligados a 
terminais nervosos (circuitos elétricos) que criariam, por intermédio de um 
programa de computador, uma realidade virtual. Desse modo, esses cérebros 
não teriam consciência de que se encontram nessa situação e jamais se 
reconheceriam vivendo uma realidade virtual e não real. E já imaginou se 
você fosse esse cérebro? Como você pode ter absoluta certeza de que você 
não se encontra nessa situação?
9
Seção 1
Senso Comum
Diálogo aberto
Você sabia que, o planeta terra tem, aproximadamente, 4,5 bilhões de 
anos e que o ser humano, o Homo Sapiens, deve ter surgido entre 100 e 150 
mil anos apenas? E que somente há 38 mil anos o ser humano aprendeu a 
falar? Ou seja, durante dois terços da existência da nossa espécie nós não nos 
comunicávamos verbalmente. O que, do ponto de vista anatômico-fisioló-
gico, está relacionado à ausência do osso hioide. Nesse sentido, o que é a fala? 
É uma vibração das ondas que chegam até ao nosso ouvido e, por meio da ação 
de três ossos – martelo, bigorna e estribo – sobre a cóclea, damos sentidos a 
essas ondas. Portanto, poderíamos cogitar que jamais saberemos se todos nós 
ouvimos do mesmo jeito, sabemos apenas que damos o mesmo sentido às 
vibrações que chegam aos nossos ouvidos. Isso nos ajuda a percebermos que 
até mesmo as coisas mais básicas, aquelas que nos parecem inquestionáveis, 
podem sim ser questionadas. Esse é um dos papéis da filosofia, questionar 
até mesmo o que parece óbvio. Como diz Paulo Ghiraldelli, “é desbanalizar o 
banal” (GHIRALDELLI, 2019). 
E mais, você já percebeu que as letras não têm som algum e nem signifi-
cado em si, mas que somos nós que atribuímos sons e sentidos a elas? Já se 
deu conta de que elas não passam de riscos ou sinais e que somente se tornam 
palavras quando as juntamos, as pronunciamos e as associamos a objetos e 
realidades que são construídas na nossa mente e que fazemos isso há apenas 
6 mil anos?
O mesmo pode estar acontecendo com o mundo à nossa volta, ele pode 
não ter nenhum sentido (o chamado niilismo nietzschiano – nihil em latim 
é nada, nenhum, sem), mas nós aprendemos a dar sentido a tudo o que nos 
cerca e passaremos o resto da vida fazendo isso sem perceber que o fazemos. 
Nietzsche (1844-1900) afirmava que o mundo tem apenas o significado que 
nós damos a ele. Depois disso, passamos a acreditar que ele sempre teve esse 
significado “em si” e não conseguimos perceber que na verdade esse signifi-
cado foi construído (REALE, 2006, p. 14). Tais certezas podem ser religiosas, 
políticas, éticas, científicas, etc. Talvez devêssemos aprender com Sócrates, 
ele alegava não ter tantas certezas.
É com essa premissa que gostaríamos que você tivesse contato com o 
conteúdo desta unidade, sobretudo, desta seção, pois nela vamos refletir 
sobre o senso comum. Para tal, propomos a seguinte situação: imagine 
10
que um avião caiu no meio da floresta amazônica, e Peter – um curandeiro 
australiano analfabeto, nascido e criado em contato com a natureza – junto de 
Yussef – um israelita que estaria vindo passar férias no Brasil, após concluir 
o doutorado em ciência da computação em Harvard – sobreviveram à queda 
e agora enfrentam os desafios da floresta. Aparentemente, qual dos dois têm 
mais chances de sobrevivência?
Você concorda que todas as modalidades de conhecimentos são impor-
tantes e que, em determinados momentos da vida, nos valemos mais de umas 
ou de outras? Algo parecido com os nossos gostos musicais. Normalmente, 
dependendo do lugar onde nos encontramos e até mesmo do nosso estado 
emocional, um determinado tipo de música poderá parecer mais ou 
menos apropriado.
Podemos afirmar que aqueles que se guiam pelo senso comum tendem 
a acreditar que o mundo só pode ser do modo que é apreendido por eles? 
Será que aqueles que se guiam pelo conhecimento científico não se consi-
deram superiores e em melhores condições de oferecer respostas satisfatórias 
ao mundo? Isso até pode ocorrer, mas certamente não define uma forma de 
pensamento como superior a outra.
Não pode faltar
Algum dia você já se perguntou o que é o conhecimento? Pode ser 
que você ache tão natural conhecer as coisas que nem sequer se propôs tal 
pergunta. Em linguagem filosófica o conhecimento é um modo de compre-
ender e explicar o mundo. Esse processo envolve o sujeito cognoscente 
(aquele que conhece) e o objeto cognoscível (aquele que é conhecido). O 
propósito desse processo é alcançar a verdade. Compreender é assimilar, 
apossar-se, captar o mundo fora da nossa mente e trazê-lo para dentro de 
nós, atribuindo-lhe significado; e explicar é expor esse significado, do modo 
mais verdadeiro possível.
E o que é a verdade? O nosso conceito de verdade comporta compre-
ensões oriundas das culturas latina, grega e hebraica. Em língua latina, 
verdade é véritas e significa relato fiel aos fatos, quando se descreve aquilo 
que realmente aconteceu. É uma narrativa fiel (passado). Em língua grega, 
verdade é aletheia e significa algo que não muda e que está sempre presente, 
ou seja, eterno e imutável (presente). Em língua hebraica, verdade é emunah 
e significa confiar e esperar naquilo que foi revelado e prometido, pois, nesse 
sentido, quem é fiel e verdadeiro cumpre com suas promessas (futuro).
O conhecimento tanto pode ser prático quanto teórico. O conhecimento 
prático se efetiva por meio de uma única modalidade, a técnica (oriundo 
11
de τέχνη, pronúncia: técne., palavra de origem grega correspondente ao 
conceito latino de arte). O conhecimento teórico ocorre de quatro modos 
diferentes: senso comum, religião, filosofia e ciência. Começaremos com o 
estudo acerca do senso comum.
Dica
Para você assimilar mais facilmente as modalidades de conhecimentos 
pode valer-se da própria mão: quatro dedos de um lado e um separado, 
correspondendo aos quatro conhecimentos teóricos (ou abstratos) e 
um prático (saber fazer). A arte e o artesanato são um saber fazer, assim 
como a técnica; trata-se, portanto, de um conhecimento prático.
Existe uma anedota que relata o caso de um barqueiro analfabeto, a qual 
pode ilustrar o que pretendemos abordar. A anedota do barqueiro (ou da 
canoa, por vezes atribuída a Paulo Freire) apresenta o caso de um homem 
que nasceu e cresceu em um determinado lugar do interior e acabou não 
tendo acesso à escola. Entre outras coisas práticas, ele aprendeu a nadar e a 
remar, adquiriu um barquinho e, assim, desempenhava o seu ofício fazendo 
a travessia das pessoas de uma margem a outra de um rio. Um dia foi trans-
portar um advogado e uma professora. Durante a travessia, os passageiros 
lhe deixaram claro que ele havia perdido grande parte de sua vida por não ter 
adquirido conhecimentos acadêmicos, técnicos, profissionalizantes, etc.; mas 
quando o barco começou a afundar, percebendo que nenhum dos passageiros 
sabia nadar, o barqueiro lamenta e informa que eles não perderão apenas 
grande parte das suas vidas, mas a vida toda. Ou seja,naquele momento, 
naquela situação, os diplomas e os títulos não ajudariam em nada, o conheci-
mento mais importante era oriundo do senso comum: saber nadar, e ele era 
o único que sabia (FREIRE, 2019). 
É claro que isso não significa que não devamos nos esforçar para adquirir 
conhecimentos, mas que devemos respeitar todas as modalidades de conhe-
cimento e, acima de tudo, respeitar os seres humanos pela dignidade que lhes 
é inerente independentemente do grau de escolaridade, do saldo bancário, 
ou dos seus traços físicos.
O senso comum é a primeira modalidade de conhecimento, talvez tão 
antigo quanto a humanidade. É a primeira forma de compreensão do mundo, 
e nele se faz presente a racionalização (racionalização é o parâmetro último 
– também chamado de “paradigma da racionalidade” – utilizado para dar 
sentido às coisas) do grupo, da cultura (ou da sociedade) em que nos encon-
tramos (SOUZA, 1998). Por isso a sua primeira manifestação se dá por meio 
12
do mito (mytheo em grego é narrativa, relato), uma narrativa fantasiosa, 
porém, amparada em uma preocupação válida de explicar a realidade. 
O senso comum normalmente é transmitido pela tradição, pela oralidade 
e pelos costumes, por vezes, até de modo inconsciente. Para alguns, o senso 
comum é tão espontâneo que é considerado natural, é como se não pudesse 
ser diferente, ou seja, como se fosse a forma de conhecimento original, em si.
Senso significa sentido; comum porque é compartilhado pela maioria 
das pessoas. É a “expressão para designar as crenças tradicionais do gênero 
humano, aquilo em que todos os homens acreditam ou devem acreditar” 
(ABBAGNANO, 2007, p. 873). Desse modo, podemos entender o senso 
comum como sendo a capacidade que temos de darmos sentido ao mundo, 
às coisas e à realidade que os cerca. É um conhecimento oriundo e formado 
a partir do cotidiano. Gilberto Cotrim (1996, p. 45) afirma ser um conheci-
mento sem fundamentação, ou seja, popular e corriqueiro. 
O senso comum tem como características (CHAUÍ, 2000, p. 315):
• A subjetividade, que é a maneira como cada um vê e interpreta o 
mundo e os eventos em si. São as opiniões, muitas vezes aceitas sem 
um questionamento quanto às suas fundamentações racionais.
• A espontaneidade, pois o senso comum não é resultante de nenhuma 
modalidade de conhecimento elaborada, analisada e refletida, mas 
surge a partir daquilo que se observa. Normalmente tem como ponto 
de partida os sentidos.
• A imediaticidade, já que no senso comum não existe nada que faça a 
mediação, essa apropriação é direta, tal qual os sentidos captam.
• A superficialidade, visto que o senso comum não aprofunda, não 
problematiza a reflexão abordada, fica apenas na superfície, na 
aparência, pois, como já foi dito, não existe a preocupação com a 
sua fundamentação.
• A acriticidade: a palavra crítica tem o sentido de filtragem, purifi-
cação. Nesse sentido, o senso comum não filtra seus conceitos, sendo, 
então, um pensamento sem crítica (o prefixo “a” na língua grega 
significa não, sem nenhum). Assim, recebe (ou percebe) o mundo e o 
aceita sem muitos questionamentos.
13
Assimile
De acordo com Marilena Chauí:
Em geral julgamos que a palavra crítica significa “ser 
do contra”, dizer que tudo vai mal, que tudo está 
errado, que tudo é feio ou desagradável. Crítica 
remete a mau humor, coisa de gente chata ou preten-
siosa que acha que sabe mais que os outros. Mas não é 
isso que a palavra quer dizer. [...] A palavra crítica vem 
do grego e possui três sentidos principais: 1) capaci-
dade para julgar, discernir e decidir corretamente; 2) 
exame racional de todas as coisas sem preconceito e 
sem prejulgamento; 3) atividade de examinar e avaliar 
detalhadamente uma ideia, um valor, um costume, 
um comportamento, uma obra artística ou científica 
(Grifos da autora). (CHAUÍ, 2014, p. 17)
Maria Lúcia A. Aranha e Maria Helena P. Martins nos lembram que 
Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido pela 
tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescen-
tamos os resultados da experiência vivida na coletividade 
a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de ideias que 
nos permite interpretar a realidade, bem como de um corpo 
de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e portanto agir 
(sic). (ARANHA; MARTINS, 1999, p. 35, grifos das autoras)
Esse “conjunto de ideias” pode ser nosso, sem nos referirmos necessa-
riamente às ideias de outras pessoas que se dedicaram mais ao tema e se 
aprofundaram, ou seja, dos estudiosos, pesquisadores e pensadores. Portanto, 
esse conjunto de ideias não exige fundamentação e pode exprimir opiniões e 
sentimentos individuais.
Talvez você se pergunte: se as nossas opiniões não contam e se os 
primeiros pensadores/cientistas não dispunham de nenhuma teoria para 
corroborar as suas ideias, não tinham nenhum livro escrito para pesquisar, 
nenhum material didático para dar sustentação às suas visões, como teve 
início o conhecimento objetivo crítico-reflexivo?
14
A primeira fundamentação do conhecimento se deu por meio da dialética, 
como veremos na próxima seção, uma técnica de argumentação pautada pelo 
embate de ideias que deveria aproximar os debatedores à verdade (aletheia). 
Era uma maneira de purificar as ideias de possíveis distorções. Trata-se de 
uma técnica que exige muita maturidade de quem debate, pois exige que se 
tenha um amor à verdade acima do apego às próprias opiniões. Imagine que 
um dos debatedores seja apegado às suas ideias e acabe não percebendo que 
ela é infundada, então, a dialética permitiria purificar esse conceito, deixan-
do-o mais próximo da verdade. Nesse contexto era recomendável a busca 
da verdade, o amor à verdade, mas não o apego às próprias verdades (leia-se 
opiniões). Agora você entende o motivo pelo qual Sócrates dizia que é preciso 
amar a verdade, mas não a defender. Normalmente, os primeiros filósofos 
veem de modo bastante negativo as opiniões (doxa, para eles).
Reflita
A ausência de fundamentação racional não é exclusividade do senso 
comum, pois as interpretações míticas e religiosas do mundo também 
prescindem desse elemento. Via de regra, essas modalidades de conhe-
cimento têm uma excessiva confiança no relato transmitido, ou por 
conta de uma mentalidade fantasiosa, ou, ainda, pela autoridade da 
pessoa que relata o fato. Podemos usar como exemplos tanto o poeta 
mítico quanto os profetas bíblicos.
A filosofia tem como fundamentação o λόγος (logos, razão), a racionali-
dade; ou seja, tudo aquilo que pode ser compreendido, analisado, que 
tem nexo, que tem lógica, que pode ser objeto de indagações filosó-
ficas. Já a ciência se fundamenta na verificação, na comprovação; ou 
seja, só aceita como verdadeiro aquilo que é possível de ser averiguado 
a partir de critérios considerados científicos, etc.
Você já pensou quanta coisa você aceita sem questionar se elas têm ou 
não uma base, uma fundamentação? Se é difícil, por exemplo, aceitar 
o mistério da Santíssima Trindade (do ponto de vista racional, logica-
mente e não da fé), também não deveria ser fácil aceitar que, antes do 
Big Bang, toda a matéria do universo se condensava em uma minús-
cula parte, do tamanho de uma cabeça de alfinete. Se os primeiros 
recusarem os segundos e os segundos rechaçarem os primeiros, não 
seriam ambos dogmáticos, presos às suas próprias compreensões e 
intolerantes com as diferenças?
Segundo Aristóteles o processo de aquisição de conhecimentos segue 
um percurso: os nossos sentidos captam o mundo, o nosso cérebro registra 
o que foi captado e a nossa linguagem o expõe (ARANHA; MARTINS, 2008, 
15
p. 109; FIORILLO, 2011, p. 28). Os conhecimentos tanto podem se originar 
via dedução (do geral para o particular, por exemplo, fórmulas matemáticas) 
quanto da indução (do particular para o geral, por exemplo, as experiências da 
física). Aristóteles chegou a admitir que a intuição poderia servir como funda-
mentação do conhecimento (ARISTÓTELES apud REALE, 1990, p. 216).
Segundo o Dicionário Abbagnano (2007, p. 851), aintuição pode ser 
definida como uma inspiração divina, um insight, uma iluminação interior 
que não comporta explicações. É algo que surge, aparentemente, do nada, 
espontaneamente. E, surpreendentemente, muitas descobertas ocorreram 
desse modo. Isso fez com que alguns filósofos – como Paul Feyerabend, Joseph 
Agassi e Jacques Monod, entre outros – viessem a questionar a necessidade 
de uma metodologia científica (REGNER, 1996). Temos, também, alguns 
pensadores que defendem a existência de temas que se tornaram científicos 
terem se originado a partir de reflexões pautadas pelo senso comum.
Pode acontecer de o senso comum ser chamado de conhecimento 
empírico (empeiria em grego, εμπειρία, significa experiência), mas é 
recomendável tomar bastante cuidado com essa denominação, pois a partir 
da idade moderna o termo empírico passa a ser vinculado ao conhecimento 
adquirido por meio de experiências conduzidas metodologicamente mais do 
que experiências de vida, ou do cotidiano. E quando o senso comum é assim 
chamado refere-se à essa segunda conceituação.
Dica
• Acerca das descobertas intuitivas, há um livro intitulado O acaso 
e a necessidade, escrito por Jacques Monod que trata dessa 
questão e procura mostrar que muitas descobertas se deram por 
acaso (consulte as referências).
• O filme O enigma de Kaspar Hauser, de 1974, do diretor alemão 
Werner Herzog, conta a história, supostamente real, de um 
menino encontrado numa praça de Nuremberg em 1828, com 15 
anos de idade. Ele teria vivido isolado até essa idade e, portanto, 
tinha pouca influência da sociedade sobre o seu comportamento. 
Isso nos leva a refletir acerca de como o conhecimento é fruto do 
contexto.
O senso comum, muitas vezes ocorre de modo intuitivo captando a 
realidade em um âmbito global, holístico (hólos em grego é todo, portanto, 
abrangente, captando tudo de uma só vez) e heurístico (procedimentos de 
resolução sem padronização, sem estratégias pré-definidas, realizados de 
modo automático). Pode ser eficaz, mas não consegue explicar como alcança 
os resultados pretendidos, apenas os alcança.
16
Exemplificando
Conta-se que uma empresa de creme dental enfrentava um problema 
para se adequar aos padrões de qualidade exigidos pelo mercado: 
algumas caixinhas estavam sendo empacotadas sem o creme dentro. 
Para sanar esse problema contrataram profissionais da área da compu-
tação, os quais, após longo de tempo de análise, estudo, verificação e 
muito investimento financeiro, desenvolveram uma balança hipersen-
sível que foi acoplada logo abaixo da esteira e, assim, quando a caixinha 
vinha sem o tubo de creme, a balança acusava uma diferença de peso 
e a esteira automaticamente desligava. Cabia aos funcionários retirar a 
caixinha da esteira e religar a máquina. Depois de um tempo foi consta-
tado que a balança estava desligada e ao buscar o motivo desse desli-
gamento ouviram dos funcionários: essa balança estava atrapalhando 
o nosso trabalho, pois a todo momento parava a esteira; diante disso, 
resolvemos colocar um ventilador próximo da esteira e sempre que uma 
caixa vazia passa por ali o ventilador a empurra para fora da esteira. 
Esse relato serve para nos mostrar que não se deve menosprezar o 
conhecimento oriundo do senso comum.
Outra história conta que alguns engenheiros desenvolveram uma 
máquina para ser usada na construção civil que servia para rebocar 
colunas arredondadas. Depois de um tempo perceberam que os funcio-
nários não usavam mais a máquina por ser muito pesada e de difícil 
manuseio, mas cortaram o aro de uma bicicleta, colocaram ao redor da 
coluna, uniram as duas partes do aro com parafusos, colocaram ao lado 
dele dois suportes para poder levantá-lo, e desse modo rebocavam a 
coluna de forma homogênea, rápida, menos cansativa e mais barata. 
Mais um exemplo do conhecimento a partir do senso comum.
Por fim, conta-se que astronautas norte-americanos, em certa ocasião, 
confidenciaram a astronautas russos que encontravam dificuldades 
para escrever seus relatórios no espaço, pois a tinta das canetas preci-
sava da gravidade para poder ser usada. Então, os astronautas russos 
informaram que já haviam superado essa dificuldade. Os astronautas 
norte-americanos ficaram surpresos e quiseram saber como isso havia 
sido conseguido; ao que os russos informaram que havia sido muito 
simples, eles usavam lápis.
Essas modalidades de conhecimento aqui tratadas já se encontram 
descritas no Mito da Caverna, de Platão (PLATÃO, 2001, p. 315). O mito 
nos apresenta a hipótese de homens que vivem no fundo de uma caverna 
sem jamais terem tido contato com o mundo externo, acorrentados pelos 
pés e pescoços, só conseguindo enxergar o fundo da caverna e tomando 
17
as sombras projetadas como a realidade. Até que um dia um prisioneiro se 
liberta e conhece o mundo verdadeiro, além das sombras. A saída é íngreme, 
o percurso é difícil (ele simboliza a educação), mas é libertador.
Todas as vezes que o prisioneiro enxerga alguma coisa, ele o faz a partir de 
uma ótica, de um ponto de vista e, portanto, por meio de uma modalidade de 
conhecimento. Dentro da caverna nós temos o mundo sensível, um mundo 
de sombras e ilusões. O que ele enxerga no fundo da caverna são as sombras 
projetadas pelos objetos, que representam as opiniões (doxa); ao se libertar 
e dirigir-se para fora da caverna ele se depara, ainda no seu interior, com a 
fogueira e os objetos iluminados por ela, é o momento das crenças (pistis).
Fora da caverna é o mundo inteligível, um mundo de luz, de claridade, 
de cores, movimentos e de seres vivos. A vista dói e ele a protege com a mão 
e olha para um rio que reflete as imagens próximas, é o momento da ciência 
(episteme). Quando ele consegue olhar para as coisas em si, iluminadas pela 
luz do sol, ele atinge a compreensão da realidade como um todo, é o momento 
da filosofia. O sol, para ele, é o símbolo do bem, do belo e do verdadeiro.
O Dicionário de filosofia Abbagnano (2007, p. 873) lembra que entre 
outros sentidos, o senso comum carrega “o significado de costume, gosto, 
modo comum de viver ou de falar”; e um pouco adiante “O senso comum é 
um juízo sem reflexão, comumente sentido por toda uma ordem, todo um 
povo, toda uma nação, ou por todo o gênero humano”; e ainda “crenças tradi-
cionais do gênero humano, aquilo em que todos os homens acreditam ou 
devem acreditar”; por fim:
Os símbolos empregados são determinados pela cultura 
corrente de um grupo social. Eles formam um sistema, mas 
trata-se de um sistema de caráter mais prático que intelec-
tual. Esse sistema é constituído por tradições, profissões, 
técnicas, interesses e instituições estabelecidas no grupo. 
(ABBAGNANO, 2007, p. 873)
Sem medo de errar
Como afirmado: o senso comum forma um sistema mais prático do que 
intelectual e, portanto, diante da situação proposta, talvez tanto o curandeiro 
australiano quanto o jovem recém-formado, tenham as mesmas condições de 
sobreviver às dificuldades da floresta amazônica, pois a sobrevivência, nesse 
caso, envolve muitos fatores além de conhecimento. O curandeiro, estaria, 
supostamente, mais adaptado às agruras da vida na selva, mas a idade, resis-
tência física, etc. também podem contribuir para a superação do desafio.
18
De todo modo, parece claro que o diploma de Harvard contribuiria pouco. 
Isso não significa, porém, que a busca de conhecimentos deva ser negligen-
ciada e, sim, que todos os conhecimentos são importantes e que o contexto 
pode ser fundamental para determinar a relevância de um ou de outro. Há 
coisas que se revolvem intuitivamente; há coisas que se revolvem pragmatica-
mente; e, certamente, também há coisas que se resolvem teoricamente.
Não é sinônimo de sabedoria ou de educação tratar algumas modali-
dades de conhecimentos com preconceito e menosprezo, ao contrário, é 
sinal de sabedoria não se considerar o dono da verdade, assim como já fazia 
Sócrates que não se sentia envergonhado em terminar um debate sem consi-
derá-lo totalmente concluído. Um doutorem medicina pode ser considerado 
analfabeto em ciências políticas, por exemplo; um doutor em direito pode 
ser considerado analfabeto em biologia, um doutor em psicologia pode ser 
considerado analfabeto em teologia, e assim por diante.
A arrogância intelectual coloca-nos muito próximos da ignorância 
intelectual, tornando-nos aquilo que criticamos (ignorar é não conhecer 
e, nesse momento, o arrogante ignora o limite do seu conhecimento). Já o 
oposto da arrogância intelectual, a aceitação dos limites do nosso conheci-
mento, ou da nossa verdadeira condição, nos aproxima da sabedoria. Essa 
postura esteve presente em filósofos desde a antiguidade, como percebemos 
nas histórias relatadas de dois grandes vultos da filosofia antiga.
Pitágoras não se considerava um sábio, apenas um amante da sabedoria; 
Sócrates não aceitou o título de homem mais sábio daquela época; e Hans Jonas 
(1984, p. 23) afirmava que o princípio da sabedoria é a humildade (SÈVE, 1990, 
p. 79). Para Aristóteles a busca pelo conhecimento começa pela dúvida, por 
isso caberia mais ao filósofo sugerir, propor, do que impor. Sócrates, Platão e 
Aristóteles pautavam-se na dialética (proposições, debates) e os sofistas pela 
erística (imposições, retórica) (ABBAGNANO, 2007, p. 269 e 340).
O método que prevalece nas humanas é qualitativo, enquanto as exatas 
costumam primar pelo método quantitativo. Sendo assim, em pé de igual-
dade, provavelmente o curandeiro teria maiores condições de sobrevivência. 
Mas, em última análise – e isso é o mais importante – toda essa história foi 
construída para que você jamais esqueça: todos os tipos de conhecimento 
devem ser respeitados, não existe um mais valioso do que o outro, já que 
depende do contexto considerado. E quanto mais sabedoria você tiver, 
mais você perceberá e se convencerá disso, conforme nos ensinaram os 
grandes sábios.
19
Avançando na prática
Certezas, incertezas e “pseudo-certezas”
Roger Bacon foi ridicularizado por ter afirmado que um dia as carroças 
andariam sem cavalos (o automóvel), que o homem andaria pelo ar (o 
avião) e por baixo das águas do mar (o submarino) (REALE, 1990, p. 595; 
HELFERICH, 2006, p. 108). Muitas coisas que foram ridicularizadas no 
passado hoje são muito comuns, outras que pareciam loucuras, hoje são 
consideradas científicas (GLEISER, 1997, p. 156). Por exemplo, que a terra 
se move (assista o filme Alexandria, baseado na vida de Hipatia, filósofa da 
Escola de Alexandria). E, por outro lado, muitas afirmações científicas do 
passado, hoje são ridicularizadas (lembremos que Aristóteles e Ptolomeu 
foram vistos pelos modernos como sinônimo de atraso). Por exemplo, o 
geocentrismo, a terra plana, o mundo sublunar e supralunar. Mas há, ainda, 
algumas que não são nem confirmadas e nem negadas, como a Teoria das 
Supercordas, uma hipótese científica que sustenta a possibilidade de o 
universo ter mais dimensões do que somos capazes de perceber.
Diante disso, não seria possível indagar: qual é a fundamentação das nossas 
certezas? De onde elas proveem? Devemos, realmente, ser apegados a elas?
Resolução da situação-problema
Segundo Aristóteles “o ignorante afirma, o sábio duvida e o sensato 
reflete” (MAZAI, 2017). Isso serve para ilustrar a necessidade de sermos 
prudentes diante de nossas próprias convicções e estarmos sempre dispostos 
a aceitar novas mentalidades, novos pontos de vistas, novos valores, novas 
maneiras de ver o mundo e novas maneiras de se posicionar diante da vida, 
pois parece-nos que o conhecimento também tem um movimento próprio e 
que se relaciona com o movimento das culturas e das sociedades.
A concepção de tempo dos gregos comportava a ideia de “eterno retorno”. 
Há uma ala de cientistas que acredita que o Big Bang, ao qual nos referimos, 
pode ser apenas um dentre os muitos que já ocorreram e que o universo se 
expande e se contrai, por exemplo.
Assimile
Caso tenha mais interesse sobre o tema, pesquise sobre a Teoria do Big 
Crunch. Essa teoria se baseia na hipótese do universo se expandir e se 
20
contrair, voltando tudo ao começo, ou seja, vem ao encontro da ideia de 
“eterno retorno” dos gregos.
Pode parecer fácil ver a ciência dos gregos antigos como ultrapassada, 
mas não nos atrevemos a dizer o mesmo dos cientistas da nossa época. 
Contudo, não devemos nos iludir achando que no futuro as concepções deles 
ainda encontrarão defensores. Talvez algumas delas sim, mas, possivelmente, 
não todas.
Diante disso, é prudente respeitar todas as modalidades de conhecimento. 
O conhecimento científico é um dos mais convincentes e mais aplicável, mas 
poderá estar, substancialmente, alterado daqui a alguns anos. Por outro lado, 
concepções consideradas ingênuas nos dias atuais poderão ser ensinadas nas 
escolas do futuro.
Portanto, senso comum, religião, filosofia e ciência devem ser tratadas, 
valorizadas e respeitadas do mesmo modo, sem destacar umas em detri-
mento de outras, e conscientes de que o contexto impacta no seu uso 
e aplicabilidade.
Faça valer a pena
1. Podemos entender o senso comum como sendo a capacidade reflexiva 
natural que temos, a qual nos leva a dar sentido ao mundo, às coisas e à 
realidade que nos cerca. É um conhecimento oriundo e formado a partir do 
cotidiano, das nossas vivências e dos nossos costumes.
Sobre o senso comum, assinale a alternativa correta, considerando que ele é:
a. Um conjunto de ideias cuja finalidade é a crítica ao saber estabelecido.
b. Partilhado por todos os homens, tanto intelectuais quanto analfabetos.
c. Confundido com as ideologias de uma classe ou de um grupo social.
d. Um conjunto de ideias e práticas cegas e incompatíveis com a verdade.
e. A forma mais pura de conhecimento por ser natural ao ser humano.
2. O senso comum é a primeira modalidade de conhecimento, talvez tão 
antigo quanto a humanidade. É a primeira forma de compreensão do mundo 
e nele se faz presente a racionalidade utilizada para dar sentido às coisas do 
grupo, da cultura, ou da sociedade em que nos encontramos.
21
Considerando os seus conhecimentos acerca do senso comum, analise as 
afirmativas a seguir:
I. O senso comum pode servir como motivação inicial, espontânea e 
imaginativa para a obtenção de conhecimentos melhor elaborados.
II. A estrutura inerente ao senso comum parte de processos pautados 
em erros e acertos, valendo-se de hipóteses e experimentações.
III. Ainda que seja considerado acrítico e espontâneo, o senso comum 
serviu como orientação fecunda e relevante aos homens, em 
diferentes épocas.
IV. Assim como os mitos, também o senso comum não contribui para a 
ciência, apenas para a imaginação, a fantasia e as superstições.
Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:
a. I e II, apenas.
b. II e III, apenas.
c. III e IV, apenas.
d. I e III, apenas.
e. II e IV, apenas.
3. O senso comum tem diversas características. Selecionamos algumas, 
entre elas, para que você estabeleça a correta relação entre as suas nomencla-
turas e os respectivos significados.
De acordo com as informações apresentadas na tabela a seguir, faça a 
associação das nomenclaturas contidas na Coluna A com seus respectivos 
significados, apresentados na Coluna B.
Coluna A Coluna B
Subjetividade Ocorre quando o sujeito, cognitivamente, se apropria do objeto de modo direto.
Imediaticidade Opiniões aceitas, por vezes, sem um questionamento quanto às suas fundamentações.
Acriticidade Ausência de um filtro que purifique os conceitos inerentes ao objeto cognoscível.
Assinale a alternativa que apresenta a associação correta entre as colunas.
a. 1-I; 2-II; 3-III.
b. 1-II; 2-III; 3-I.
22
c. 1-III; 2-II; 3-I.
d. 1-III; 2-III; 3-II.
e. 1-II; 2-I; 3-III.
23
Seção 2
Filosofia
Diálogo aberto
Isaac Newton (1643-1727) afirmava que aquilo que nós conhecemos 
é uma gota e o que ignoramos é um oceano (BREWSTER, 1855, p. 413). 
Segundo Marcelo Gleiser (2014), se considerarmos tudo o que conhecemos 
como sendo uma ilha, então tudo o que desconhecemos estaria aoseu redor 
e, desse modo, quanto mais a ilha viesse a crescer mais cresceria os seus 
limites com o desconhecido, ou seja, a consciência de que ainda há muito por 
conhecer. Essa é a perspectiva da filosofia: uma atitude de busca de conheci-
mento, mais do que uma convicção de sua posse.
A situação que propomos a você é uma reflexão a partir de uma visão 
poética, uma religiosa e uma científica como diferentes formas de pensar a 
partir de diferentes “cérebros”. Convidamos você a refletir e analisar se há 
possíveis convergências e/ou divergências entre elas. De acordo com Willian 
Shakespeare, (1564-1616) “nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos! ” 
(SHAKESPEARE, 2002, p. 102); segundo a Bíblia, nós somos feitos à imagem 
e semelhança de Deus. Segundo Peter Higgs (1929- ), em última instância 
(no mundo subatômico/bosônico), tudo se compõe de energia, com a possi-
bilidade de, a partir de um determinado ponto, condensar-se em matéria, 
incluindo nós. Higgs apresentou essa possibilidade em 1964 e em 2013 ela 
foi confirmada (PIMENTA, 2013). Então nos perguntamos: pode ciência, 
religião e filosofia estarem todas corretas? Ou, então, todas erradas?
Por meio dessa proposta veremos que houve um tempo em que as expli-
cações eram bem diferentes das atuais. Houve um tempo em que o mito 
ocupava o lugar que hoje é da ciência, originando, posteriormente, um pensa-
mento mais profundo, crítico e reflexivo que se debruçou sobre uma gama 
variada de assuntos e contou com a contribuição de importantes pensadores.
Queremos mostrar, também, que as diversas modalidades de conhe-
cimento podem se referir à mesma realidade, fazendo afirmações muito 
próximas, mas com uma linguagem diferente, com pontos de vistas baseados 
em recortes variados, embora guardem algo em comum: o objeto de reflexão. 
Essa afirmação assenta-se na constatação de que a visão científica muda de 
tempos em tempos, afirmações metafísicas podem se tornar ciência, teorias 
científicas foram abandonadas e as atuais poderão ser também abandonadas 
no futuro. Com a visão religiosa não é diferente, algumas religiões já foram 
extintas, outras estão surgindo. Também na esfera filosófica, encontramos 
24
inúmeras afirmações se contrapondo umas às outras, temáticas sendo 
abandonadas, novas temáticas dominando os círculos de estudo e assim 
por diante.
Embora de modo breve, faremos uma surpreendente viagem pelas princi-
pais ideias e problemáticas inerentes à reflexão filosófica, com suas peculia-
ridades e contribuições, trilhando um itinerário imprescindível para uma 
melhor compreensão da vida, do pensamento ocidental e, por extensão, da 
nossa cultura e civilização.
Não pode faltar
Os gregos antigos ficavam admirados diante da grandeza, da beleza e da 
ordem presentes no universo e na natureza. Atitude conhecida, em língua 
grega, como θαύμασεin (thaumazein), que significa espanto, admiração, 
encantamento. Esse foi o ponto de partida de toda a busca de conheci-
mento como tentativa de compreensão daquilo que se passa ao nosso redor. 
O thaumazein, a princípio, origina o mito e, posteriormente, a filosofia; e a 
filosofia dará origem à ciência.
Os mitos estiveram presentes em todos os povos e ainda encontramos 
mitos em nossas sociedades, embora com outras características. Há quem 
menospreze esse tipo de conhecimento e, equivocadamente, o associe às 
lendas e crendices infundadas. É preciso entender que tanto a palavra mito 
quanto a palavra lógos significam narrativa, porém o mito é visto como 
narrativa fantasiosa enquanto o lógos é narrativa plausível.
Segundo Marilena Chauí (2000, p. 32), um mito é uma narrativa sobre 
a origem de alguma coisa (dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, 
dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da 
doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do 
poder, etc.). A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: 
do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo 
mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito 
é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que o recebem como 
verdadeiro porque confiam naquele que narra, o que se assemelha ao que 
aconteceu com o povo judeu em relação aos seus profetas. É uma narrativa 
feita em público, baseada na autoridade e na confiabilidade da pessoa do 
narrador. E essa autoridade está relacionada ao fato dele ter testemunhado 
diretamente o que está narrando ou recebido a narrativa de quem testemu-
nhou o ocorrido.
Os gregos tiveram muitos narradores de mitos, mas os que mais se desta-
caram foram dois: Homero e Hesíodo. Homero é considerado o poeta da 
25
nobreza e Hesíodo o poeta dos camponeses, do homem simples, do traba-
lhador. Homero é reconhecido como o primeiro educador da humanidade, 
pois transmitiu à civilização ocidental, por meio dos seus poemas épicos – a 
Ilíada, com 15.693 versos, e a Odisseia, com 12.110 – modelos, protótipos de 
homens virtuosos que ficaram imortalizados e foram seguidos desde então.
Ele era um poeta cego, estrangeiro, possivelmente de Esmirna e supõe-se 
que tenha nascido entre os séculos VIII e IX a.C. Homero enfatizou as 
virtudes como a lealdade, a amizade, a justiça, a fidelidade, a coragem, 
a hospitalidade, etc. Note que, de acordo com o exposto na Odisseia, de 
Homero (FREDERICO, 2012), a hospitalidade também era considerada 
virtude antigamente, enquanto humildade, por exemplo, que é considerada 
virtude no pensamento cristão, não era virtude para os gregos, mas fraqueza 
(CHAUÍ, 2000, p. 449). Fica claro, então, que as virtudes podem variar 
circunstancial e temporalmente.
Os poemas de Homero têm algumas peculiaridades que não se encon-
tram nos mitos de outros povos, tais como:
• Senso de harmonia, proporção, limite e medida.
• Não se limita a narrar os fatos, buscando as suas causas, embora ainda 
em nível mítico-fantástico.
• Procura apresentar a realidade de modo abrangente: deuses e homens, 
céu e terra, guerra e paz, bem e mal, alegria e dor, ou seja, a totalidade 
dos valores que regem a vida humana (REALE; ANTISERI, 2003).
Para os gregos, o mundo, necessariamente, seguia uma ordem pré-estabe-
lecida, ou seja, nem os homens e nem os deuses conseguiam fugir dela. Esse 
fato é ilustrado na figura das Moiras (ou parcas para os romanos; aquelas que 
costuravam o fio do destino de todos, homens e deuses.): Cloto, Láquesis e 
Átropos (Nona, Décima e Morta para os romanos) ou, ainda, na tragédia 
de Édipo.
Exemplificando
Você acredita em destino? Ou acredita que tudo acontece por acaso? 
As nossas decisões já estão previamente determinadas? Ou temos liber-
dade para tomá-las? Temos como saber sobre isso com exatidão, com a 
mesma precisão matemática? Ou nunca saberemos?
Há quem defenda tanto uma quanto outra dessas alternativas, ou seja, 
é uma temática existente há muito tempo sobre a qual até hoje não 
há consenso.
26
Embora Homero seja muito lembrado quando nos referimos à mitologia 
grega, não podemos nos esquecer de Hesíodo, pois ele também foi impor-
tante e influente na sociedade do seu tempo. O poeta legou-nos duas obras 
significativas: Teogonia e O trabalho e os dias. Em Teogonia, Hesíodo relata 
o nascimento dos deuses e como eles coincidem com partes do universo 
e os fenômenos do cosmo. Dessa forma, a teogonia se torna cosmogonia, 
ou seja, explicação mítico-poética e fantástica da gênese do universo e dos 
fenômenos cósmicos, a partir do caos originário, que foi o primeiro a se 
gerar. Esse pensamento foi abrindo caminho para a posterior cosmologia 
filosófica, que, em vez de usar a fantasia, buscou racionalmente um princípio 
primeiro, a origem (arquê) a partir da qual tudo foi gerado.
Hesíodo foi trapaceado por seu irmão que subornou os juízes ficando com 
toda a herança que deveria ser dividida. Diante disso, o poeta vai sustentar 
que a verdadeira virtude não é se tornar herói de guerra, mas vencer na vida 
à custa de trabalho duro e esforçohonesto e digno. Esse é o tema do seu outro 
poema, O trabalho e os dias, no qual, em sintonia com a mentalidade grega 
vigente, afirma alguns princípios que seriam de grande importância para a 
constituição da ética filosófica e do pensamento antigo em geral. Nessa obra, 
Hesíodo exalta a justiça como valor supremo tornando-a até conceito ontoló-
gico, além de moral e político.
Percebemos que alguns elementos da mitologia já começam a fornecer 
condições para que o pensamento caminhasse em direção à plausibilidade e 
à logicidade. Ou seja, a razão, o lógos começa a preponderar.
Ao fato de a filosofia ter nascido na Grécia foram atribuídas duas expli-
cações: houve quem defendesse que ela teria surgido repentinamente e sem 
nenhuma influência de outros povos e aqueles que defenderam que ela teria 
se originado a partir da influência externa – pois a Grécia encontrava-se 
estrategicamente em uma encruzilhada de muitas nações e culturas e, por 
isso, teria conseguido sintetizar as diversas visões de mundo vigentes naquela 
época, ocasionando o surgimento da filosofia. A primeira versão recebeu o 
nome de Milagre Grego e a segunda recebeu o nome de Influência Oriental. 
Contudo, hoje nenhuma delas é muito bem aceita.
O que mais se aceita é que a filosofia foi criação do gênio helênico, ou 
seja, não derivou de estímulos das civilizações orientais, embora tenham 
vindo do Oriente alguns conhecimentos científicos, astronômicos e matemá-
tico-geométricos, que os gregos souberam repensar e recriar em dimensão 
teórica, enquanto os orientais os concebiam em sentido prevalentemente 
prático. Assim, se os egípcios desenvolveram e transmitiram a arte do 
cálculo, os gregos, particularmente a partir dos Pitagóricos, elaboraram uma 
teoria sistemática do número; e se os babilônios fizeram uso de observações 
27
astronômicas particulares para traçar as rotas para os navios, os gregos as 
transformaram em teoria astronômica orgânica (REALE; ANTISERI, 2003).
Quando se trata, portanto, de entender como aconteceu o surgimento 
da filosofia, o que mais se aceita é que a Grécia reuniu as fontes e condi-
ções que favoreceram tal surgimento: um novo modo de compreender e 
explicar o mundo. A filosofia teria, então, surgido na Grécia porque justa-
mente ali formou-se uma temperatura espiritual particular e um clima 
cultural e político favoráveis. As fontes das quais derivou a filosofia helênica 
foram: a poesia, a religião e as condições sociopolíticas adequadas (REALE; 
ANTISERI, 2003).
De acordo com Marilena Chauí (2000), as condições históricas que 
proporcionaram o surgimento da filosofia foram:
• As viagens marítimas: que permitiram o contato com outros povos 
e outras explicações de mundo, gerando questionamentos sobre os as 
explicações míticas.
• A invenção do calendário, da moeda e da escrita alfabética: a utili-
zação de um calendário que gerou a percepção de que a natureza 
tinha um ciclo e que nem tudo derivava do capricho dos deuses. Além 
disso, essas três iniciativas impulsionaram o pensamento abstrato.
• O surgimento da vida urbana e a criação da política: que favore-
ceram o debate, a argumentação e a percepção de que criar leis também 
podia ser uma prerrogativa humana e não exclusividade divina.
Pode-se dizer que o contexto para o surgimento da filosofia estava 
pronto e isso incluía um enfraquecimento gradual dos elementos míticos 
e as ideias de que a composição do cosmos era unicamente de elementos 
naturais; que havia uma ordem no mundo, regida pelo lógos (razão); que a 
matéria (natureza, physis) seria eterna, ou seja, que não teve começo e não 
terá fim, portanto, que não houve o momento da criação; que o tempo é 
circular e cíclico, ou seja, que de tempos em tempos, tudo se repete; que tudo 
se relaciona ao arquê (primeiro princípio); e, por fim, a ideia de que o próprio 
homem é um microcosmo também regido pelo logos.
Assimile
Entre os fatores que impulsionaram o surgimento da filosofia estão os 
seguintes elementos: a compreensão de que a verdade deve ser justi-
ficada racionalmente, um discurso público e dialogado, baseado na 
troca de opiniões com argumentos persuasivos; o uso da escrita alfabé-
tica; as viagens marítimas e a evolução do comércio e do artesanato; a 
crença de que havia uma substância básica que estava por trás de todas 
28
as transformações na natureza e a busca por leis naturais que fossem 
eternas. Baseados nessas ideias, os gregos fizeram uma retomada dos 
temas da mitologia grega, mas de forma racional, formulando hipóteses 
lógico-argumentativas.
Dessa forma, compreende-se que a diversidade e a organização dos 
fenômenos naturais têm uma explicação própria do mundo da natureza 
e que pode ser compreendida racionalmente, ou logicamente. Assim, a 
filosofia surge com uma proposta diferente, uma maneira de ver e interpretar 
o mundo original. Marilena Chauí (2000, p. 16) nos lembra que:
A filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os 
procedimentos e conceitos científicos. Não é religião: é 
uma reflexão crítica sobre as origens e formas das crenças 
religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conte-
údos, das formas, das significações das obras de arte e do 
trabalho artístico. Não é sociologia nem psicologia, mas a 
interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos 
da sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpre-
tação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza 
e as formas do poder. Não é história, mas interpretação do 
sentido dos acontecimentos enquanto inseridos no tempo 
e compreensão do que seja o próprio tempo. Conheci-
mento do conhecimento e da ação humanos, conheci-
mento da transformação temporal dos princípios do saber 
e do agir, conhecimento da mudança das formas do real ou 
dos seres, a filosofia sabe que está na História e que possui 
uma história. (CHAUÍ, 2000, p. 16)
O primeiro filósofo foi Tales de Mileto (625-558 a.C.), para quem tudo se 
inicia a partir da água, ou seja, ela é o início (arquê, ou arché, ou arkhé) de 
tudo. Seus seguidores, contudo, embora discordassem de que fosse a água, 
concordavam com a ideia de que deveria existir um arquê. Para Anaximandro 
de Mileto (610-547 a.C.) o arquê era o ápeiron, algo infinito, insurgido e 
imortal. Anaxímenes de Mileto (585-528 a.C.) postulou que esse ápeiron 
fosse o ar (pneuma ápeiron). Para Pitágoras de Samos (580-497 a.C.), tudo 
poderia ser reduzido a números, pois as coisas manifestariam externamente 
a estrutura numérica que lhes fosse inerente. Nesse sentido, um número não 
seria, apenas, uma unidade quantitativa, mas teria, também, uma forma, 
uma figura e, por isso, os números seriam o princípio de onde emanaria toda 
29
a natureza. Para Xenófanes de Cólofon (570-475 a.C.), o arquê é a terra; para 
Anaxágoras de Clazômena (500-428 a.C.) os corpos compõem-se de homeo-
merias (partes iguais, semelhantes); para Empédocles de Agrigento (490-435 
a.C.), o mundo seria constituído por quatro princípios: água, ar, terra e fogo; 
e para Demócrito de Abdera (460-370 a.C.), a realidade é constituída de 
átomos, infinito número de corpos, invisíveis pela pequenez e pelo volume, 
incriados, indestrutíveis e imutáveis.
Os principais problemas discutidos pelos pré-socráticos foram a 
cosmologia, um estudo acerca da ordem presente no mundo (aquilo que 
hoje chamamos de “leis da física”) – a palavra kosmos, significa ordem, na 
língua grega; e questões relacionadas à física – Physis em grego é natureza 
e a maioria desses filósofos escreveram livros intitulados Sobre a natureza. 
Entre os pré-socráticos destacam-se Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.) e 
Parmênides de Eleia (530-460 a.C.), que mudam o conteúdo da reflexão 
filosófica. Eles não trataram diretamente do arquê, mas da possibilidade, ou 
não, de conhecermos as coisas. Para Heráclito, não é possível conhecermos, 
pois tudo está mudando o tempo todo, caracterizando-se como cético, mas 
Parmênides discordava e defendia que a mudança é apenas aparente, pois 
as coisas mantêma sua essência. Desse modo, o primeiro afirma o devir 
(mudança) e o segundo o ser. Portanto, com Heráclito e Parmênides, duas 
novas problemáticas iniciaram-se: uma relacionada ao ser, a ontologia (ser 
em grego é to on, transliterado para o alfabeto latino como ontos, daí a origem 
do termo ontologia: estudo do ser); e outra relacionada ao conhecimento, a 
gnosiologia (gnose em grego é conhecimento) ou epistemologia (episteme, 
em grego, é ciência).
No século V a.C. temos o período de esplendor máximo da democracia 
ateniense, conhecido como “Século de ouro” ou “Século de Péricles”. Atenas 
havia vencido a guerra contra os Persas e isso fez com que os seus costumes 
passassem por profundas transformações (MELLO, 1976, p. 39-40). A 
democracia permitia que o debate de questões de interesse público se reali-
zasse na ágora (praça), permitindo a percepção de que o próprio homem 
poderia ser a fonte da lei e que para vencer os debates era necessário ter 
clareza das ideias e bons argumentos. Assim, foi com o intuito de ensinar 
retórica (falar bem, persuadir com eloquência) aos filhos da nobreza, que 
surgiram os sofistas (sophos, sábio). Eles se autointitulavam “mestres da 
sabedoria” e foram os primeiros a cobrar para ensinar. Os sofistas ficaram 
rotulados negativamente, considerados quase sinônimo de impostor ou 
demagogo devido ao fato de não terem compromisso com a verdade – apenas 
com a arte de convencer os adversários, com uma boa argumentação – e por 
defenderem que tudo era relativo, tudo era convenção. Contudo, o fato de 
deslocarem a reflexão cosmológica para a antropológica (antropós em grego 
30
é homem, ou seja, estudo sobre o homem, nesse caso, especificamente, como 
o homem pode ser feliz) foi considerado um aspecto relevante do pensa-
mento sofista. Os sofistas também deram início, reflexivamente, a mais dois 
problemas filosóficos: a ética e a política. No campo da ética, eles associaram 
a felicidade a uma vida de prazer, poder e riqueza. No campo da política, 
afirmavam que essa área da atividade humana era fruto de uma convenção, 
um acordo. Sócrates, Platão e Aristóteles discordaram de tais afirmações.
Reflita
Os sofistas privilegiaram a reflexão sobre o ser humano e a conquista 
da felicidade mais do que a cosmológica. Para eles, o homem seria feliz 
caso desfrutasse de prazer, poder e riqueza. Certamente essas coisas 
são muito boas, mas será que existe necessariamente uma conexão 
entre elas e o desfrute da felicidade?
Os sofistas são contemporâneos de Sócrates, o qual iniciou os seus estudos 
com eles, mas que depois acabou rompendo por não concordar com uma 
série de pensamentos sustentados pelos sofistas. Entre as principais contri-
buições de Sócrates está o fato de superar o relativismo dos sofistas afirmando 
a existência da verdade e da essência de tudo como uma razão de ser. O seu 
compromisso com a verdade se firmou ainda mais depois que Querefonte, 
seu amigo de infância, consultou o oráculo da pitonisa no templo de Apolo, 
em Delphos, buscando saber quem seria a pessoa mais sábia do mundo e 
recebeu de pitonisa a resposta de que era Sócrates. Quando informado desse 
fato, procurou se certificar conversando com todas as pessoas que poderiam 
ser consideradas sábias.
A partir dessas conversas, Sócrates percebeu que tais pessoas, acreditavam 
tudo saber, mas ignoravam que havia algo a mais do que sabiam, enfim, elas 
desconheciam a própria ignorância. Sócrates percebeu que ele sabia tanto 
quanto essas pessoas, mas, além disso, sabia que não conhecia tudo, ou seja, 
tinha algo a mais: a consciência de sua ignorância. Daí vem a sua conhecida 
frase: “Só sei que nada sei” (PLATÃO, 1987, p. 30). Essa frase parece contra-
ditória, mas o seu sentido é “sei que não sei tudo”.
Para Chauí (2000), no entanto, essa frase faz parte do método socrá-
tico que por meio de perguntas, mostrava às pessoas que elas não tinham 
respostas para aquilo que acreditavam que sabiam. Quando pediam a resposta 
a Sócrates, ele dizia que também não sabia e afirmava “só sei que nada sei”, 
mostrando que a consciência da ignorância é o começo da filosofia. Sócrates 
não queria a opinião, queria a essência das coisas, pois, segundo ele, a opinião 
muda, mas a essência permanece. Assim, ele entendia que sua missão era 
31
ajudar os homens a viver bem, encontrando a sabedoria e a virtude, ou seja, a 
sua preocupação não era com os princípios supremos do universo, mas com 
o valor do conhecimento humano (MONDIN, 1982). Desse modo, Sócrates 
adotou como lema a frase que se encontrava do pórtico do templo de Apolo, 
em Delphos: “Homem, conhece-te a ti mesmo”. Por meio de perguntas, 
Sócrates procurava mostrar como as opiniões não se sustentavam – atitude 
conhecida como ironia, sinalizando que Sócrates se subestimava proposi-
talmente (ABBAGNANO, 2007, p. 585) – e levava as pessoas a refletir por 
conta própria (maiêutica, em grego, é parir, dar à luz). Sócrates dizia que a 
sua missão era ajudar as pessoas a dar à luz as suas ideias (ABBAGNANO, 
2007, p. 637). Mas esse método (dialético) incomodava muita gente, pois 
trazia à tona as suas vaidades. Com isso, ele começou a angariar adversários. 
“Considerava que a sua missão era expor a ignorância dos outros quanto 
à verdadeira natureza dessas virtudes (justiça, coragem e bondade) e era 
conhecido por constranger os sábios da época ao revelar a confusão implícita 
em seus pensamentos morais” (LAW, 2008, p. 242).
Assimile
O método socrático é a dialética que se subdivide em dois momentos: a 
ironia, palavra que significava, naquela época, interrogatório; e a maiêu-
tica, palavra que significa parto, dar à luz. A mãe de Sócrates era uma 
parteira e, por isso, ele diz ter a mesma missão de sua mãe: ela ajudaria 
as mulheres a darem à luz aos seus filhos e ele ajudaria as pessoas a 
darem à luz as suas ideias.
Para Sócrates, a essência do homem é a sua alma (psykhé, em grego) e a 
alma, para ele, é a razão, a consciência. A busca do bem, do belo e do verda-
deiro, seria a essência da alma. Quem conhece o bem, pratica-o, assim, só age 
mal quem ignora o bem. Essa tese é conhecida como “racionalismo ético”. O 
homem deve conhecer e praticar o bem, buscando a virtude – a excelência, 
aquilo que é melhor. Segundo Sócrates, “não é das riquezas que nasce a 
virtude, mas das virtudes nasce a riqueza” (PESSANHA, 1999, p. 57). As 
virtudes da alma se manifestam no autodomínio, “no domínio de si mesmo 
nos estados de prazer, dor e cansaço, no urgir das paixões e dos impulsos” 
(REALE, 1990, p. 91). Trata-se de fazer a racionalidade prevalecer sobre a 
animalidade, tornar a alma senhora do corpo. Somente quando age desta 
maneira o homem estaria, segundo Sócrates, sendo verdadeiramente livre.
Sócrates foi acusado de corromper a juventude e não acreditar nos deuses 
da cidade (segundo Reale e Antiseri [2003], a verdadeira causa era ressenti-
mento e manobra política) e por isso foi levado à julgamento e condenado 
32
à morte. Ele ficou um mês na prisão esperando a morte e numa madrugada 
foi acordado por Críton, um discípulo rico que, após subornar os guardas, o 
incitava a fugir. Mesmo tendo sido injustamente condenado ele se recusou 
a fugir, alegando que não conseguiria conviver com a consciência de ter 
agido mal. Tomou o copo de cicuta e morreu na presença de grande parte de 
seus discípulos.
Sócrates teve muito discípulos e entre eles podemos citar Antístenes 
(fundador do cinismo), Euclides, o grande geômetra, e Platão, o primeiro 
pensador a criar um sistema filosófico. Muito do que se sabe sobre Sócrates 
foi devido aos escritos de Platão, relatados, sobretudo, nas obras Apologia de 
Sócrates e A república e O banquete.
Sem medo de errar
Depois do exposto, retomamos o problema apresentado esperando que 
tenha ficado mais claro que é possível conhecer/interpretar o mundo de 
diversas maneiras e em cada época tem prevalecido um determinado tipo 
de conhecimento. Mas os conhecimentos suplantados não desaparecem, 
eles continuam existindoconcomitantemente com os demais. Portanto, 
poderíamos afirmar que todos tratam da mesma realidade a partir de 
óticas diferentes.
O mito, enquanto um modo de explicar o mundo que antecede a filosofia 
e a ciência foi a explicação do mundo dominante por, aproximadamente, 
duzentos anos no chamado mundo ocidental (os mitos começam com 
Homero no século XIII a. C. e a filosofia surgiu no século VI a.C.). Depois 
disso, a filosofia passou a ser a explicação mais aceita e assim permaneceu 
por, aproximadamente, novecentos anos. Posteriormente a religião se serviu 
da filosofia para a teologia e tornou-se a explicação dominante por uns mil 
anos. A ciência, a partir de Galileu Galilei e do Iluminismo, suplantou a 
religião e, já há uns quinhentos anos, é a explicação com maior legitimidade 
na atualidade.
A religião possui dogmas (verdades de fé inquestionáveis) e a ciência 
possui axiomas (verdades científicas). A filosofia não possui uma verdade 
pré-estabelecida, mas constrói as suas bases pelo questionamento, pelo 
diálogo, pelo consenso e pelo entendimento. A sua metodologia é se orientar 
por tudo aquilo que é compreensível racionalmente e que tem clareza, nexo, 
lógica (a palavra “lógica”, por exemplo, se origina de logos, de onde também 
se origina o sufixo “logia”, presente em muitas áreas do conhecimento, tais 
como biologia, antropologia, psicologia, etc.). Assim, é uma prerrogativa do 
pensamento filosófico o respeito pelo ponto de vista do outro e o modo de 
33
vida do diferente, enfim, que se aceite a pluralidade social e política. Nesse 
sentido, quem é apegado às suas ideias não será um bom filósofo, pois o 
verdadeiro filósofo jamais se considera detentor de verdades eternas. Desse 
modo, “verdades eternas”, “verdades inquestionáveis”, “verdades irrefutáveis” 
são termos que não coadunam com a postura filosófica.
As afirmações de Shakespeare, do livro do Gênesis e de Higgs denotam que 
somos os nossos pensamentos, os nossos projetos, os nossos anseios, enfim, 
a essência do ser humano é aquilo que passa por sua racionalidade, por sua 
mente. O homem é o seu pensamento. Tal como já nos definiu Aristóteles, 
ou seja, “animais racionais” e como nos lembrou Descartes, em seu clássico 
“penso, logo existo”. Desse modo, mais uma vez podemos nos convencer de 
que o contexto onde nos encontramos, a época em que vivemos, os relacio-
namentos que estabelecemos, os conhecimentos que adquirimos, e assim por 
diante, vão repercutir naquilo que nos tornamos.
Assim, à filosofia, portanto, cabe indagar a vida, a sociedade e os valores 
estabelecidos; questionar a realidade de modo crítico e profundo para que 
possíveis incongruências sejam resolvidas e uma sociedade mais justa e 
perfeita possa, progressivamente, ser projetada e estabelecida, de acordo com 
os sãos princípios da moral e da razão. Essa está entre as maiores contribui-
ções que recebemos dos grandes filósofos.
Avançando na prática
Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Você já pensou se a psicologia evoluísse ao ponto de nos oferecer técnicas 
que permitissem apagar da nossa memória tudo aquilo que nos incomoda? 
Esse é o enredo do filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004), 
que conta a história de Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet), dois 
namorados que, depois de alguns conflitos, decidem solicitar os serviços da 
Lacuna, uma empresa que oferece a possibilidade de uma nova vida para seus 
clientes, apagando as memórias indesejadas.
Algumas questões para refletirmos: primeiro, se nós somos os nossos 
pensamentos, então apagá-los não impacta em destruirmos um pouco de 
nós mesmos? Segundo, as coisas que nos incomodam não podem nos trazer 
alguma contribuição positiva?
34
Resolução da situação-problema
Vale lembrar que os problemas filosóficos (existenciais) não contam com 
a mesma exatidão da matemática, por exemplo. Portanto, existe, para essa 
situação, um número considerável de possíveis respostas.
Mesmo que a nossa essência seja os nossos pensamentos, isso não quer 
dizer que apagá-los nos reduziria, pois, se assim fosse, o esquecimento 
também o faria, e nós esquecemos constantemente muitas coisas que 
acontecem conosco e continuamos sendo quem somos, não é mesmo?
Mas, por que algumas coisas nós jamais esquecemos? Uma hipótese é 
a que o nosso cérebro guarda aquilo que mais nos interessa. Considerando 
essa hipótese, talvez, fosse recomendável que fizéssemos um autoexame 
para tentar descobrir o que mais temos guardado em nossos pensamentos e 
verificar se são vivências que nos favorecem ou que nos prejudicam. E ainda: 
por que temos nos interessado por esses pensamentos? Aqui, pode entrar a 
contribuição da filosofia, caso, nos valendo dela, busquemos a razão última, 
o motivo dos nossos interesses. Eles revelarão quem somos nós. Esse seria 
um caminho para o autoconhecendo, como bem nos recomendava Sócrates, 
por meio da sua máxima “conhece-te a ti mesmo”.
Além disso, talvez não nos seja recomendável apagar a dor, pois ela pode 
se tornar fonte de crescimento. Por exemplo, Tales, o primeiro filósofo, foi 
achincalhado por seus contemporâneos, os quais sustentavam que o seu 
conhecimento tinha pouca utilidade. Tales não se esqueceu disso, mas também 
não se abateu, apenas esperou o momento exato de agir e pôde mostrar a 
utilidade de seu conhecimento. Em 585 a. C., (GLEISER, 1998, p. 45), por 
exemplo, ao prever uma boa safra com bastante antecedência, Tales arrendou 
todos os moinhos que beneficiavam azeitonas e acabou enriquecendo.
Portanto, a premissa básica do filme – apagar da mente aquilo que nos 
incomoda e nos causa dor e sofrimento – pode não ter o efeito esperado, pois 
somos resultado de nossas experiências e pensamentos. Em vez disso, pode 
ser mais interessante superar o que nos aflige e mantê-lo como lição de vida. 
A filosofia estoica, que conheceremos em breve, dedica-se a esse assunto.
Faça valer a pena
1. Popularmente se diz, em tom de brincadeira, que a filosofia é a ciência 
com a qual ou sem a qual, se permanece tal e qual. Saltam aos olhos dois 
equívocos dessa singela galhofa: filosofia não é ciência e, uma vez bem 
estudada, não se permanece tal e qual.
35
Tendo por base as características da filosofia, analise as afirmativas:
I. Busca identificar-se com o senso comum.
II. Debruça-se sobre questões insolúveis.
III. Propõe-se a debater teorias diferentes entre si.
IV. O seu objetivo é proporcionar paz de espírito.
V. Pauta-se pelo estabelecimento de verdades eternas.
Estão corretas as alternativas:
a. I, II e IV, apenas.
b. I, III e V, apenas.
c. III, IV e V, apenas.
d. I e V, apenas.
e. II e III, apenas.
2. 
Durante o século VI a. C, o comércio entre os vários Estados 
gregos cresceu em importância, e a riqueza gerada levou a 
uma melhoria das cidades e das condições de vida. O centro 
das atividades era em Mileto, uma cidade-Estado situada 
na parte sul da Iônia, hoje a costa mediterrânea da Turquia. 
Foi em Mileto que a primeira escola de filosofia pré-socrá-
tica floresceu. Sua origem marca o início da grande aventura 
intelectual que levaria, 2 mil anos depois, ao nascimento da 
ciência moderna. De acordo com Aristóteles, Tales de Mileto 
foi o fundador da filosofia ocidental. (GLEISER, 1998, p. 43)
Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a 
alternativa correta.
a. Os mitos foram incorporados pela filosofia e mantidos como base da 
sua especulação teórica e metodológica.
b. Os mitos gregos são demonstrações de um intelecto primitivo, vigente 
em sociedades selvagens.
c. A narrativa fantasiosa dos mitos foi importante para difundir um 
saber prático para a vida cotidiana.
36
d. As epopeias míticas clássicas podem ser vistas como expressões cultu-
rais de uma mentalidade filosófica.
e. O que causou a superação do mito pela filosofia foi o contato dos 
gregos com a sabedoria dos povos orientais.
3. Quando nos propomos a compreender como aconteceu o surgimento da 
filosofia, embora haja quem defendaque surgiu espontaneamente como um 
milagre e outros que a vejam oriunda da influências dos povos vizinhos, do 
oriente próximo, hoje o que mais se aceita é que a Grécia reuniu as fontes e 
condições que favoreceram tal surgimento: um novo modo de compreender 
e explicar o mundo.
Assinale a alternativa que apresenta o surgimento das disciplinas filosóficas 
em sua correta ordem cronológica.
a. Antropologia, cosmologia e ontologia.
b. Ontologia, antropologia e cosmologia.
c. Cosmologia, epistemologia e antropologia.
d. Epistemologia, gnosiologia e ontologia.
e. Cosmologia, ontologia e epistemologia.
37
Seção 3
Ciência
Diálogo aberto
Nesta seção abordaremos mais uma modalidade de conhecimento, sendo 
ela, hoje, considerada a mais convincente, a mais útil e a mais promissora. É 
aquela que mais tempo toma dos bancos escolares o que mostra a sua valori-
zação. Estamos nos referindo à ciência, uma forma de conhecimento que se 
propõe abordar o “como”. Como o mundo surgiu, como a luz se propaga, 
como nos tornamos o que somos hoje, como as coisas funcionam e assim 
por diante. Segundo alguns filósofos, a ciência não se propõe refletir sobre a 
essência do mundo (com indagações como: por que o mundo existe?), não 
trata de questões transcendentais (Deus, por exemplo), não aborda temáticas 
exclusivamente ideais ou utópicas, mas trata daquilo que é real, concreto, 
mensurável, verificável, demonstrável, etc.
A ciência foi gestada no ventre da filosofia e só no começo da idade 
moderna se tornou emancipada. Praticamente todos os filósofos pré-so-
cráticos, desde Tales até Demócrito, contribuíram com a ciência em algum 
aspecto. Platão e Aristóteles contribuíram com diversas áreas da ciência, tais 
como a psicologia, a antropologia, a astronomia, a física, a biologia, etc. Para 
demonstrar que filosofia e ciência caminhavam juntas, podemos lembrar 
que Galileu Galilei, o pai da ciência moderna, apesar de médico, matemático 
e astrônomo, lutou por muito tempo para adquirir o título de filósofo. Ele 
dizia: “estudei mais anos de filosofia do que meses de medicina e como sou 
considerado médico, nada mais justo do que ser também considerado um 
filósofo” (ROVIGHI, 1999, p. 48).
De acordo com a compreensão dos iluministas a fé não estaria mais 
dando conta de explicar o funcionamento do mundo e, para eles, com base, 
na razão, a ciência poderia assumir esse propósito. Porém, hoje há quem 
questione se a ciência também não acabou por se distanciar dessa incum-
bência (HABERMAS, 2009).
Diante disso, apresentamos a nossa situação-problema. Vamos refletir a 
partir da afirmação feita por William Shakespeare (1564-1616) em sua peça 
Hamlet. Nela, ele sustenta que “há mais mistérios entre o céu e a terra do que 
supõe nossa vã filosofia” (SHAKESPEARE, 2005, p. 36). Será que tais misté-
rios ainda persistem? Será que a ciência realmente dará conta deles? Ou será 
que quanto mais conhecermos mais perceberemos que ainda há muito mais 
para ser conhecido?
38
Desse modo, prezado aluno, vamos analisar as especificidades da ciência, 
como se dá a relação entre ciência e técnica, qual parâmetro pode nos sinalizar 
que está havendo progresso científico e, por último, se há a possibilidade de 
a ciência acabar, também, incorrendo numa espécie de mito do cientificismo.
Por meio desta seção, esperamos contribuir com a sua reflexão e melhor 
compreensão do mundo, com o seu conhecimento e, consequentemente, 
com o seu crescimento acadêmico e humano.
Não pode faltar
Existe uma disciplina chamada História da ciência que busca mostrar 
como o conhecimento científico surgiu, como foi se desenvolvendo ao 
longo do tempo. É consenso entre os estudiosos dessa área que o mito gesta 
a filosofia e a filosofia gesta a ciência. O caráter científico dessa reflexão 
filosófica nascente está na busca de compreensão do mundo a partir da razão. 
Os gregos não faziam experiências, sua ciência era feita a partir da obser-
vação e da reflexão.
A experimentação começou a fazer parte do método de aquisição de 
novos conhecimentos a partir de Francis Bacon (1561-1626) e Galileu Galilei 
(1564-1642). Francis Bacon é o pai do método experimental e Galileu 
Galilei é o pai da ciência moderna. A experimentação é acrescentada, sem 
excluir a observação e a reflexão, a fim de permitir maior universalização aos 
conhecimentos científicos.
Entre as especificidades da ciência estão os princípios da objetividade, 
universalidade e da aplicabilidade, que buscam tornar o conhecimento 
neutro, universal e necessário. Esse aspecto universal pode ser facilmente 
observado nas ciências naturais. Por exemplo, a água entra em ebulição 
quando atinge 100º celsius estando ao nível do mar. Isso significa que essa 
explicação pode ser identificada e aplicada em vários lugares e em momentos 
diferentes sem que haja uma mudança explicativa. O aspecto da objetividade 
tem a ver com a exatidão, com a positividade. Outro exemplo para ajudar: a 
soma dos ângulos internos de um triângulo é 180º. Portanto, o resultado da 
soma precisa ser, necessariamente, 180º, não pode ser 179º e nem 181º. O 
oposto ao universal é o particular, e o aposto do necessário é contingente (ao 
acaso, acidentalmente).
A ciência busca a verdade e, para tal, pode se valer de caminhos distintos. 
Um dos caminhos é a dedução, ou método dedutivo. Esse é um método que 
parte de uma afirmação geral e dela extrai conclusões particulares, aplica algo 
que é compreendido universalmente aos casos particulares. Por exemplo, se 
39
todo cisne é branco, fica sem sentido perguntarmos qual é a cor do cisme que 
morreu na manhã de ontem. É um método utilizado pela matemática, sendo, 
as suas fórmulas um exemplo por excelência.
Outro caminho para novos conhecimentos é a indução, ou método 
indutivo. Esse método faz o percurso contrário do anterior; pois ele parte de 
observações particulares – de muitas delas, por sinal – para então extrair uma 
lei universal. Por exemplo, jogam-se vários objetos para cima e se observa 
que todos eles caem ao chão. Então, conclui-se que todo objeto jogado ao 
alto tende a seu ponto de repouso. Perceba que não foram jogados todos os 
objetos, mas, mesmo assim, infere-se tal afirmação.
Assimile
A palavra “caminho” em grego é οδος (transliterado para hodos) e signi-
fica “para”, “por meio de”, também é μετα (meta), portanto, método 
é, etimologicamente, um “caminho para”, ou seja, um percurso que se 
faz, aqui, no caso, para alcançar o conhecimento verdadeiro. É bastante 
comum que cada corrente filosófica tenha um método diferente.
Mas esses dois métodos não foram os primeiros existentes. Possivelmente, 
o primeiro tenha sido o método dialético. Esse método começa com 
Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.), segundo o qual “a guerra é a mãe de todos 
os seres”, ou seja, o confronto, o embate entre as coisas: o frio e o quente, a 
luz e a treva, a alegria e a dor, o doce e o amargo, etc. Quem mais propagou o 
método dialético foi Sócrates (470-399 a.C.) e, para ele, a dialética acontecia 
por meio da discussão de pontos de vistas diferentes. A dialética exige muita 
maturidade e autocontrole, pois os debatedores não podem ser apegados 
aos seus pontos de vistas mais do que à procura da verdade. Nesse processo, 
dialética lhes permitia a percepção da fragilidade de suas opiniões e os levaria 
a querer lapidá-las para se aproximarem mais da verdade.
Para Sócrates, nós devemos amar a verdade e buscá-la sempre, o que não 
significa defendê-la, já que isso pressupõe que a temos, e a postura de um 
sábio é não se considerar dono da verdade, o detentor dela, e sim desejá-la 
ardentemente. Nesse sentido, cabe ao verdadeiro filósofo sugerir, supor, 
refletir, questionar, mas não afirmar. Talvez por isso, Sócrates fazia questão 
de deixar claro que não sabia tudo e que, também, não se incomodava em 
terminar um diálogo sem chegar a uma conclusão. Quando isso acontecia, 
esse diálogo era considerado aporético (sem conclusão).
Platão retomou a discussão iniciada por Heráclito

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