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Brasília-DF. Planejamento, orçamento PúBlico e lei De resPonsaBiliDaDe Fiscal Elaboração Róbison Gonçalves de Castro Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL ............................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 ORÇAMENTO E ABRANGÊNCIA ................................................................................................ 9 CAPÍTULO 2 AMBIENTE DA GESTÃO DA DESPESA PÚBLICA E ORÇAMENTO PÚBLICO .................................... 14 CAPÍTULO 3 DISCIPLINA FISCAL AGREGADA .............................................................................................. 26 CAPÍTULO 4 EFICIÊNCIA ALOCATIVA E EFICIÊNCIA OPERACIONAL .............................................................. 31 UNIDADE II O PROCESSO DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS ...................................................................................... 34 CAPÍTULO 1 CLASSIFICAÇÕES ORÇAMENTÁRIAS: NATUREZA E FINALIDADES ............................................... 35 CAPÍTULO 2 FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO ............................. 64 CAPÍTULO 3 PLANEJAMENTO PLURIANUAL DA DESPESA (PPA) NO BRASIL ..................................................... 74 UNIDADE III GESTÃO DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA ...................................................................... 76 CAPÍTULO 1 EXERCÍCIO FINANCEIRO ........................................................................................................ 77 CAPÍTULO 2 PROCESSO DE EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA DA DESPESA PÚBLICA .................. 79 CAPÍTULO 3 GESTÃO DO TESOURO NACIONAL .......................................................................................... 90 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 95 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução O orçamento público no Brasil é uma instituição formal, em outros termos, uma lei que, prioritariamente, exprime, em termos financeiros, a alocação dos recursos públicos. Trata-se de instrumento que retrata as decisões políticas, por meio das quais são estabelecidas as ações prioritárias para o atendimento das demandas da sociedade, dada a escassez de recursos. Atualmente, o orçamento público apresenta múltiplas funções: de planejamento, contábil, financeira e de controle. Em suma, as despesas, no setor público, para serem realizadas, têm de estar autorizadas na lei orçamentária anual. Nos dias atuais, com a estabilidade econômica do país, o orçamento assume importância ainda maior, à medida que os valores expressos na peça orçamentária tendem a não ficarem discrepantes, tal e qual acontecia no período inflacionário. Consequentemente, passa a mostrar, mais claramente, como os recursos disponíveis foram alocados, favorecendo o acompanhamento e a avaliação das ações governamentais, principalmente pelo contribuinte e por seus representantes, contribuindo, assim, para a construção de um Estado cada vez mais voltado para os interesses da sociedade. Objetivos » Promover a formação e aperfeiçoamento dos servidores, de modo a melhor capacitá-los para o exercício de suas atribuições e competências. » Conhecer os pilares do orçamento público: disciplina fiscal agregada, eficiência alocativa e eficiência operacional. » Promover o entendimento do processo orçamentário, seus ciclos, seus instrumentos e suas instituições, as formais e as informais. » Apresentar como as atividades de planejamento se integram com o orçamento público (aspectos orçamentários e financeiros). » Discutir tópicos específicos do tema, como despesas de pessoal, divida pública, entre outros. 9 UNIDADE I ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL CAPÍTULO 1 Orçamento e Abrangência Definições Básicas Orçamento Orçamento, em contabilidade e finanças, é o instrumento financeiro para auxiliar na implementação da estratégia traçada, seja de um indíviduo, seja de uma empresa, seja de uma organização, para determinado exercício. A importância dessa ferramenta concentra-se no fato de ela ser o principal produto do processo de planejamento organizacional; ou seja, a organização (pública ou privada) estabelece objetivos e metas e materializa-os em um plano, que é o orçamento. Para atingir esses objetivos, e não ser uma mera peça financeira, um orçamento, além de conter a pormenorização da receita e da aplicação dos recursos para certa finalidade (despesas), deve apresentar dados que garantam, continuamente, o acompanhamento e a avaliação da gestão organizacional, não só nos valoresmonetários, mas também no cumprimento das metas físicas. Receita é sinônimo para provimentos recebidos. Em linhas gerais, ela pode estar relacionada aos seguintes grandes grupos: I. receitas patrimoniais (relativas a rendas geradas por propriedades); II. rendas extraordinárias (essencialmente oriundas de operações financeiras, como empréstimos a juros); III. rendas tributárias, exclusivas de governos. Despesa é todo o gasto da pessoa ou da organização, desde que possa ser classificado quanto ao fim a que se destina. 10 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL Orçamento público Orçamentos públicos são representações das receitas geradas pelos tributos (e outras formas de arrecadação) e dos gastos de um governo; gastos que abarcam, essencialmente, as áreas de saúde, de educação, de transportes, de segurança e de defesa. A definição desse plano financeiro pelos entes públicos é uma das principais funções do poder político. Nas democracias, essa atribuição é inerente tanto ao Poder Executivo quanto ao Poder Legislativo: o Executivo propõe, executa e fiscaliza; e o Legislativo analisa, propõe alterações, aprova e também fiscaliza. No Brasil, a Lei Complementar nº 4320/19641, com as adequações determinadas pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, é o diploma legal básico aplicável ao orçamento governamental. Essa lei estatui normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e dos balanços da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Além disso, conforme determinações constantes da Constituição vigente, o planejamento e o orçamento públicos são obrigatórios e envolvem três peças fundamentais: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Orçamento Anual (LOA). Governo Governo é a instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou de uma nação, ou seja, é o conjunto dos dirigentes executivos do Estado. A forma ou o regime de governo pode ser república ou monarquia; e o sistema de governo pode ser parlamentarismo, presidencialismo, constitucionalismo ou absolutismo. Uma nação sem governo é classificada de anárquica. Pode-se dizer que forma de governo é um conceito que se refere à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade e como se dá a relação entre governantes e governados. Sistema de governo diz respeito ao modo como os Poderes se relacionam. Sendo assim, um Estado estará organizado segundo uma combinação de forma e de sistema de governo. Algumas combinações são, por exemplo, república parlamentarista, república presidencialista, monarquia parlamentarista e monarquia presidencialista. 1 Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para Elaboração e para Controle dos Orçamentos e dos Balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. 11 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I O Brasil é uma República Presidencialista, conforme plebiscito realizado em 1993. Em outros termos, no Brasil, temos o líder do Poder Executivo escolhido pelo povo para mandatos regulares, acumulando a função de chefe de estado e chefe de governo. O plebiscito de 1993 foi regulado pela Lei nº 8.624, de 4 de fevereiro de 1993, dando-lhe a função de determinar, cento e quatro anos depois da Proclamação da República, qual a forma e o sistema de governo em que funcionaria o Estado brasileiro. Todos os eleitores foram chamados a votar no pleito plebiscitário, devendo fazer duas escolhas, cada uma delas apresentando duas opções. A primeira, sobre a forma de governo – monarquia ou república; a segunda, sobre o sistema de governo – presidencialismo ou parlamentarismo. Políticas públicas O termo políticas públicas relaciona-se tanto com iniciativas governamentais quanto com diretrizes, ações, planos e interesses sociais. Nesse contexto, podemos definir que políticas públicas são as ações desenvolvidas por organismos governamentais ou não governamentais com fins de afirmar ou de modificar determinado cenário cujos conteúdo e dinâmica são de interesse da sociedade. Gestão x gestão pública x gestão da despesa pública Tudo o que implica organizar para atingir um propósito precisa de gestão; assim, seja você uma organização, uma agência do governo, uma pessoa, um museu, para alcançar resultados, você precisa de gestão. Tudo em gestão depende das circunstâncias, como em medicina, em engenharia, em direito. Mas, ao contrário do que ocorre nessas disciplinas, na gestão, faltava método. Por isso, hoje se fala em Ciência da Gestão, cujo foco principal é a obtenção de resultados2. No nosso contexto, gestão pública é o processo que assegura a melhoria contínua dos resultados na Administração Pública, ao favorecer que os serviços públicos sejam prestados de maneira eficiente e efetiva, no padrão em que foram definidos. A gestão pública contemporânea abarca vários segmentos, como gestão de pessoas, gestão do conhecimento, gestão de projetos em organizações públicas, gestão de contratos (serviços e suprimentos). Nesse cenário, a gestão da despesa pública é um desses segmentos, sendo de importância ímpar, pois sua prática garante visão sistêmica acerca da eficiência e da efetividade do planejamento e da execução de políticas governamentais. Assim, ela 2 NOBREGA, Clemente. A Ciência da Gestão. Editora Senac Rio. 12 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL assevera que os procedimentos de monitoramento e de avaliação sejam realizados com máxima objetividade e mínima subjetividade, gerando informação e conhecimento confiável e preciso para todos os demais segmentos de gestão pública. Natureza do Orçamento Público O orçamento público é, sob o aspecto jurídico, compreendido como uma peça de natureza legal que identifica a quantidade e a origem dos recursos financeiros disponíveis para uso do setor público e que aponta o destino da aplicação das disponibilidades em cada exercício financeiro, segundo ações previamente elaboradas. O orçamento possui, também, natureza política, por ser produto resultante do embate travado entre as forças sociais organizadas, em busca da maximização dos retornos resultantes da aplicação dos recursos públicos geridos pelo governo. A natureza econômica do orçamento público explica-se pelo fato de ser ele peça econômico-financeira, pois não só opera com recursos monetários, mas, acima de tudo, exerce influência marcante nos ciclos econômicos, via investimentos, inversões, consumo e, ainda, mediante consequências geradas pelos déficits e pela gestão da dívida pública sobre o sistema econômico. Importância e Abrangência do Orçamento Público Ao articular o planejamento e as disponibilidades financeiras, tomando por base contas de receita e de despesa, o orçamento público assume a condição de instrumento contábil e de peça básica do processo gerencial, uma espécie de matriz global de políticas públicas. Por exemplo, no Brasil, âmbito federal, quando falamos em orçamento público, referimo-nos a recursos da ordem de R$ 1,6 trilhão, que são utilizados para materializar todas as políticas públicas do governo, que impactam, direta ou indiretamente, a qualidade de vida de toda a população brasileira, interessando aos 5.560 municípios, aos 27 estados e às inúmeras entidades da sociedade civil. Objetivos Fundamentais da Gestão da Despesa Pública O setor público assume, recorrentemente, a posição de vilão dos males administrativos, econômicos e financeiros que acometem o Brasil (corrupção, ineficiência, desmando, 13 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I descaso). De fato, a arte de trabalhar organizadamente, planejando as tarefas, não tem sido, historicamente, o ponto forte da Administração Pública brasileira. A título de ilustração, podemos citar os projetos e as atividades previstos no orçamento, mas não executados ou executados pela metade; inexistênciade um planejamento coerente com a realidade local; corrupção (ex.: caso da compra de ambulâncias superfaturadas). Para mudar essa realidade, existe, atualmente, forte tendência de se buscar, por meio de políticas, ajustes nos sistemas de planejamento e de orçamento, bem como adequações nos sistemas administrativo e fiscal. Essa nova ordem visa a alcançar, primordialmente, estabilidade econômica e desenvolvimento, com redução das desigualdades regionais e otimização dos recursos aplicados. Todavia, a despeito de todos os esforços para modernizar tais sistemas e para adequar as políticas públicas às reais necessidades, se não existirem instrumentos possíveis de gestão dos recursos aplicados pelos entes públicos, nem profissionais conhecedores desses instrumentos e de negócio, quaisquer esforços serão em vão. Por isso, vários entes públicos têm procurado dar mais transparência às informações referentes ao uso dos recursos públicos, bem como treinamentos diversos, seja da forma presencial, seja da virtual. Podemos enumerar os seguintes objetivos fundamentais da gestão da despesa pública: » inibir a ocorrência de interesses particulares ou escusos e de corrupção; » fortalecer as estruturas gerenciais e técnico-administrativas; » garantir a integração entre o orçamento e os planos e os programas de governo definidos, evitando os orçamentos fictícios; » garantir a equidade na distribuição dos recursos públicos (minimizar desigualdades regionais); » compatibilizar, tempestivamente, as ações de governo com a realidade do ambiente. 14 CAPÍTULO 2 Ambiente da Gestão da Despesa Pública e Orçamento Público A gestão da despesa pública abrange os ciclos do planejamento, da elaboração do orçamento público, da execução da lei orçamentária anual e do controle, que são os ciclos do processo orçamentário amplo ou orçamento público. Analisada dessa forma, gestão da despesa pública parece coincidir com orçamento público. Não é verdade: a diferença sutil, mas marcante, reside, grosso modo, no aspecto dinâmico do processo de gestão, se comparado ao processo de orçamento, cujo caráter é estático. Atente-se que não estamos medindo níveis de importância, mas, sim, desenvolvendo ideias para ajudar o leitor a perceber as nuances particulares de elementos com os mesmos pilares. Comparados a uma máquina, o orçamento público corresponde ao conjunto de suas partes; a gestão pública, ao funcionamento do equipamento. Assim, para ser um bom gestor, não é premissa ser especialista em cada um dos ciclos do processo orçamentário, e, sim, ter visão global do processo orçamentário. Neste tópico, veremos vários aspectos relacionados ao processo orçamentário brasileiro atual, determinantes do ambiente da gestão da despesa pública. A ilustração abaixo mostra, de forma abrangente, a dinâmica da gestão da despesa no setor público, com base nos ciclos que compõem o processo orçamentário. Figura 1. 15 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I Atores do Processo Orçamentário Brasileiro Conforme determina a Constituição Brasileira e as demais normas orçamentárias, o processo orçamentário brasileiro envolve, principalmente, e independentemente da esfera de governo, os Poderes Executivo e Legislativo. O Poder Judiciário e o Ministério Público (MP), apesar de atores, não têm papel ativo nesse processo. Resumidamente, e a título de rápido esclarecimento, a atribuição do Poder Judiciário limita-se ao adimplemento das leis e ao acolhimento de eventuais denúncias relativas à malversação do dinheiro público, apresentadas pelos Tribunais de Contas ou pelo MP. O MP, por sua vez, mantém, junto a cada tribunal de contas, um representante da carreira, com o objetivo de propor medidas cabíveis perante o Judiciário, sempre que verificar, nos processos em investigação pelas cortes de contas, a culpa por ação ou omissão de agente público na má gestão dos recursos do erário. Neste tópico, veremos, especificamente, o papel dos Poderes Executivo e Legislativo, atores ativos no processo orçamentário brasileiro. Para facilitar, consideraremos o escopo “esfera federal”. Grosso modo, por analogia, tal entendimento poderá ser ampliado para as demais esferas, estadual e municipal. Poder Executivo De acordo com a Constituição Federal de 1988 (CF/88), art. 84, inciso XXIII, compete privativamente ao Presidente da República o envio ao Congresso Nacional (CN) do Projeto de Lei do Plano Plurianual (PPPA), do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) e do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA). Conclui-se, portanto, que a responsabilidade pela elaboração dessas peças orçamentárias é do Poder Executivo. Especificamente, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPO) é, no Poder Executivo, o principal ator na elaboração das peças orçamentárias. Dentro do MPO3, as atribuições subdividem-se: o PPPA é de responsabilidade da Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (SPI); o PLDO e o PLOA são tarefas da Secretaria de Orçamento Federal (SOF), considerada órgão central do orçamento da União. Para a elaboração da parte do orçamento referente à dívida mobiliária federal, a SOF conta com a ajuda da Secretaria do Tesouro Nacional, vinculada ao Ministério da Fazenda (STN/MF). As principais atribuições da SOF são orientar, coordenar e supervisionar tecnicamente os órgãos setoriais de orçamento. Relativamente ao ciclo de elaboração do orçamento, 3 Informações extraídas do sítio http://www.planejamento.gov.br/conheca_mp/conteudo/competencia/index.htm, em 18/6/2007. 16 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL a SOF define, anualmente, normas gerais a serem seguidas por cada um dos órgãos setoriais na elaboração das suas propostas orçamentárias. Para isso, ela edita, anualmente, o Manual Técnico do Orçamento, cuja função é, justamente, estipular diretrizes, procedimentos metodológicos e aspectos formais a serem observados em relação à elaboração da proposta orçamentária da União, pelos órgãos orçamentários. Os órgãos orçamentários, por sua vez, articulam as propostas e os projetos das suas unidades orçamentárias, que coordenam o processo de elaboração das propostas orçamentárias dentro do seu âmbito de atuação. Finalmente, a SOF consolida todas essas propostas e encaminha o PLOA ao Presidente da República, para que seja enviado ao Congresso Nacional e possa ser apreciado pelo Poder Legislativo. Poder Legislativo O papel do Poder Legislativo no processo orçamentário também está definido na Constituição Federal. No art. 48, inciso II, ela define que “cabe ao Congresso Nacional dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre: plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado”. Além disso, o art. 166, Seção II, Capítulo II, da Carta Magna estabelece que o PPPA, o PLDO e o PLOA serão apreciados por uma comissão mista do Congresso Nacional (CN), cujo dever, entre outros, é analisar, emendar e consolidar as propostas, cada uma a seu tempo, oferecendo um projeto consolidado, para ser votado em sessão pelo plenário do CN. No CN, foi criada a Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização – CMO, atualmente regida pela Resolução nº 1, de 2006-CN. Resumidamente, a CMO é constituída por quarenta membros titulares, sendo dez senadores e trinta deputados, com igual número de suplentes. A comissão é formada no início de cada sessão legislativa, isto é, a cada ano, seguindo o critério de proporcionalidade das bancadas partidárias. As vagas na comissão pertencem ao partido, podendo seus integrantes serem destituídos pelos respectivos líderes partidários. Uma vez formada a comissão, são eleitos o presidente e os três vice-presidentes para mandatos de um ano. Os cargos de direção da comissão, assim como os dos relatores, devem ser exercidos em rodízio pelas duas Casas do Poder Legislativo. Ademais, dentro da CMO, são constituídosquatro comitês permanentes: Comitê de Avaliação, Fiscalização e Controle da Execução Orçamentária; Comitê de Avaliação da Receita; Comitê de Avaliação das Informações sobre Obras e Serviços com Indícios de Irregularidades Graves; e Comitê de Exame de Admissibilidade de Emendas. 17 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I A Resolução nº 1, de 2006-CN, que dispõe sobre a CMO, determina os procedimentos que devem ser adotados para a apreciação de cada uma das matérias a ela correlata. Por exemplo, especificamente para a LOA, o projeto é dividido em dez áreas temáticas, cada uma com relatoria própria. Também cabe ao CN, secundado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União. Por último, cabem ao Poder Legislativo algumas outras iniciativas, entre elas, definir o nível de endividamento dos entes da federação, e autorizar a captação de empréstimos externos por estados e municípios. O papel do TCU O TCU é órgão auxiliar do Poder Legislativo no controle externo dos Poderes, conforme previsto no art. 70 da CF/88. O TCU é formado por nove ministros, cujos carreira e status são igualados aos dos ministros do Superior Tribunal de Justiça. São indicados pelo Congresso Nacional e pelo Presidente da República, em quantidade de 2/3 e 1/3, respectivamente, com a devida aprovação do Senado Federal. As principais atribuições do TCU são apreciar as contas prestadas pelo Presidente da República, julgar as contas dos administradores públicos, apreciar a legalidade da admissão de pessoal na Administração Pública, aplicar aos responsáveis as sanções previstas em lei e representar ao Poder competente contra as irregularidades ou os abusos apurados. Estrutura Institucional Este tópico foi desenvolvido com base na definição de instituição desenvolvida por Douglass C. North (1990): instituições são as limitações, restrições desenvolvidas pelo próprio homem, que moldam as interações humanas, podendo ser formais ou informais4. Instituições formais As instituições formais são as regras explícitas, normalmente em forma de lei. No caso em questão, as instituições formais do processo orçamentário brasileiro são as leis, as emendas constitucionais, as resoluções, portarias e a própria Constituição Federal. É importante observar a hierarquia existente entre as próprias instituições. Por exemplo, as regras previstas na Constituição Federal tomam precedência sobre todas as outras. 4 Tradução livre. 18 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL Faremos, então, uma breve descrição dos aspectos relevantes das leis que regem o processo orçamentário. A importância deste tópico reside no fato de que são essas instituições que moldam a interação e a articulação entre os agentes durante o processo. I. Constituição Federal (CF/88): é a instituição que determina as atribuições de cada ator, bem como delineia as normas gerais do processo. Os arts. 70 a 75 referem-se às normas gerais para a realização do controle pelos Poderes e pelos órgãos específicos criados para atender a função administrativa de controle da execução orçamentária no Brasil. Já os arts. 157 a 159 tratam da repartição do montante arrecadado de impostos pelo Governo Federal entre a União, os estados e os municípios, bem como das respectivas competências e atribuições. Além disso, a Constituição determina, explicitamente, que o orçamento fiscal deve cobrir eventuais rombos do orçamento da seguridade social. A questão dos prazos para o envio dos projetos orçamentários pelo Poder Executivo para o Legislativo e para sua devida apreciação legislativa também é assunto da Constituição Federal. Ainda na CF/88, há percentuais ou valores mínimos a serem aplicados a cada área, tais quais os dispostos nos seguintes artigos: art. 198 (Saúde) e art. 212 (Educação). No caso da Saúde, a CF/88 prevê, também, que lei complementar irá estabelecer o montante mínimo destinado a este setor. Por último, encontramos, na CF/88, os três principais instrumentos da política orçamentária (Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, Lei Orçamentária Anual – LOA) e suas atribuições: › o PPA define por regiões do país: diretrizes, objetivos e metas para os investimentos e os programas de duração continuada; › a LDO contém as metas e as prioridades, incluindo os investimentos para o período subsequente, baliza a elaboração da LOA, prevê alterações na legislação tributária e a política das instituições de fomento. Apesar de ser refeita anualmente, a LDO é uma importante instituição do processo orçamentário, uma vez que estabelece normas, limites e restrições para o processo orçamentário anual; › a LOA é constituída do orçamento fiscal, que inclui todos os Poderes da União; do orçamento da seguridade social; e do orçamento de investimentos das empresas estatais. Seu objetivo deve ser o de diminuir as desigualdades inter-regionais. 19 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I A relação, na linha do tempo, entre esses três instrumentos de política orçamentária também é determinada por dispositivos da CF/88 e pode ser analisada conforme a figura a seguir: Figura 2. Fonte <http://www2.camara.gov.br/internet/orcamentobrasil/cidadao/entenda/agenda/linhadetempo>. II. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964: esta norma é o diploma legal básico aplicável ao orçamento governamental. Ela estatui normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e dos balanços da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Outro ponto importante desta lei são as regras formais de apresentação dos instrumentos orçamentários, como classificação de receitas e despesas, nível de detalhamento, regras contábeis e definições, como despesa permanente, restos a pagar etc. Além disso, essa lei determina as normas para a abertura de créditos adicionais5 ao orçamento geral da União. III. Lei Complementar n° 101, de 4 de maio de 2000: esta norma, amplamente conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), introduz uma série de novidades no processo orçamentário, com vistas a promover um ambiente sustentável de dinâmica fiscal. Tais mudanças são relativas à LDO, à transparência da gestão pública, à LOA, à contratação 5 De acordo com o art. 40 da Lei nº 4.320/1964, “São créditos adicionais as autorizações de despesas não computadas ou insuficientemente dotadas na Lei de Orçamento”. Dependendo da sua finalidade, classificam-se em: suplementares, especiais e extraordinários. Os suplementares destinam-se ao reforço de uma dotação orçamentária já existente, ao passo que os especiais visam a atender a uma necessidade não contemplada no orçamento. Já créditos extraordinários pressupõem uma situação de urgência ou imprevisão, tal como guerra, comoção interna ou calamidade pública. Os créditos suplementares e especiais dependem de autorização legislativa, ao passo que os extraordinários são abertos por decreto do Executivo, que deles dará ciência imediata ao Legislativo. Os créditos adicionais, uma vez aprovados, incorporam-se ao orçamento do exercício. 20 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL de empréstimos e de operações de antecipação de receitas orçamentárias (ARO), à execução orçamentária, entre outras. IV. Projeto de Lei nº 3.744/2000, do Poder Executivo: “institui o Conselho de Gestão Fiscal e dispõe sobre sua composição e forma de funcionamento, nos termos do art. 67 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000”, cuja finalidade é estabelecer as diretrizes gerais para a avaliação e o acompanhamento da gestão fiscal. Instituições informais6 As instituições informais são as convenções ou os códigos de conduta, em outros termos, todos os comportamentos tácitos. Apresentamos, aqui, algumas dessas instituições presentes no processo orçamentário. Daremos ênfase às fases da elaboração, pelo Poder Executivo, e da apreciação, pelo Poder Legislativo. Uma primeirainstituição informal refere-se ao modo como o governo faz o seu projeto de orçamento. O Orçamento Geral da União (OGU) é elaborado de maneira otimista, incorporando, sempre, aumentos de receitas decorrentes de alterações na legislação tributária ainda não aprovadas pelo Congresso Nacional e melhores cenários para as variáveis macroeconômicas que afetam o OGU, como inflação, crescimento do PIB, taxa de câmbio. Da parte dos congressistas, verifica-se comportamento institucionalizado de reivindicar sempre maiores gastos. Para conseguir esse objetivo, os parlamentares lançam mão de instituições informais já sacramentadas, tais como reestimação de receitas, subestimação de perdas de arrecadação e de despesas, e uso da reserva de contingência para cobrir novos investimentos ou gastos correntes. Os prazos que o processo orçamentário deve respeitar são, em si, uma instituição formal, uma vez que estão definidos na legislação pertinente, porém os parlamentares criam subterfúgios para adiar, por motivos diversos, o processo, tais quais a falta de quorum às sessões, a demora na instalação da CMO, entre outros. Como norma geral, os prazos são desrespeitados sempre que não se chega a acordos políticos satisfatórios para o orçamento. A título de ilustração, o PLOA/2006 foi aprovado, no Congresso, em abril de 2006; o PLDO/2007, no dia 29 de dezembro de 2006, véspera do dia em que foi aprovado o PLOA/2007. Uma outra instituição informal que vem se tornando prática recorrente é a “rachadinha”. A “rachadinha” é uma emenda coletiva ao orçamento de natureza genérica, sem indicação 6 Leiam, criteriosamente, o artigo “Corrupção, Voto e Orçamento”, de Fernando Henrique Cardoso, em que o autor aponta várias instituições informais. <http://www.ifhc.org.br/Upload/conteudo/2007-06.pdf>. 21 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I do município onde será aplicado o recurso. Os parlamentares das bancadas estaduais, sabendo que emendas coletivas têm maiores chances de serem acolhidas no orçamento, apresentam as “rachadinhas” e, depois que a verba é contemplada, repartem-na entre as suas bases eleitorais. Trata-se, na prática, de um agrupamento de emendas individuais. Tais emendas, se aprovadas, dão origem aos projetos (ou dotações) “guarda-chuva”7. Sobre o tema, veja, abaixo, trecho da notícia “Rachadinha” permitiu compra”8, acerca do caso “máfia das ambulâncias”, ocorrido em 2006: [...] Nos registros do Fundo Nacional de Saúde, o convênio firmado com a prefeitura de Sousa (PB) para a aquisição das ambulâncias fornecidas pela Santa Maria recebeu o número 2.420 e fez parte do processo 25000.083154/2002-20. Do ponto de vista do Orçamento da União, ele remete a emendas parlamentares. Isto é, o gasto só foi possível, porque um deputado o incluiu na lei orçamentária. Para rastrear o responsável, é necessário vasculhar o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), onde os gastos públicos são contabilizados. E aí está o problema. Instado a dar o nome do deputado que previu o gasto – realizado em 2003 numa rubrica chamada ‘restos a pagar’ –, o Siafi mostrou o que se chama no jargão do Congresso de ‘rachadinha’, ou seja, uma emenda de R$ 2 milhões, assinada em conjunto por todos os 15 deputados federais da Paraíba, embora apenas um deles tenha se empenhado politicamente por ela. Fosse uma emenda individual, seria como uma comprovação com teste de DNA. Mas sendo “rachadinha”, descobrir quem a pôs lá demanda dados adicionais. [...]. Por último, a aprovação final da LOA no Congresso tem acontecido por votação simbólica. O acordo do orçamento é obtido na CMO, cabendo ao CN, apenas, dar a sua bênção. Uma possível explicação seria a complexidade do trabalho de coordenar todos os 594 parlamentares, em vez de apenas os membros da CMO, bem como o tempo que levaria para votar, item a item, o orçamento. Considerações Sobre o Ciclo do Controle Apesar de a legislação vigente de finanças públicas fazer uso recorrente do termo controle (controle externo, controle interno, controle social), a tarefa de gerir, atualmente, tem 7 Projeto ou dotação “guarda-chuva”: termo que designa as dotações genéricas, que podem ser alocadas por estado ou, ainda, em dotação única de âmbito nacional, cujo detalhamento fica a critério do órgão executor. Normalmente, abrigam recursos que, posteriormente, serão transferidos, mediante convênio, aos estados e aos municípios ou, ainda, executados, de acordo com os planos e a programação do órgão. 8 Íntegra da notícia, acesse: <http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=283419>. 22 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL um conceito bem ampliado desse ciclo, que abrange atividades de monitoramento e de avaliação, além das atividades de controle. Uma analogia com as finanças pessoais pode clarear este entedimento: suponhamos que você tenha o máximo controle das movimentações financeiras em sua conta corrente, o que significa ciência de todas as baixas efetivadas, das baixas que estão a caminho, dos pagamentos em andamento, mas, apesar desse controle, seu saldo está “no vermelho”. Ora, neste caso, não houve as tarefas nem de avaliação, nem de monitoramento da sua gestão financeira (de planejamento, tampouco!); caso contrário, você saberia o porquê desse saldo negativo: um compromisso assumido para “aproveitar oportunidade”, mas não tinha a menor noção de que iria influir negativamente no seu orçamento; um consumo por impulso, por exemplo. Sendo assim, considerada uma política pública, o controle pode estar perfeito, com relatórios impecáveis, que atenda a todas as normas legais vigentes; todavia, os resultados levantados por meio de atividades de monitoramento e de avaliação acerca dessa política mostram que sua execução não foi nem eficaz, nem efetiva. O controle das ações realizadas pelo setor público, regra geral, é função administrativa que engloba diversos procedimentos, com vistas, principalmente, a averiguar a compatibilidade e a pertinência entre o que foi planejado e o que está sendo executado, isto é, eficiência/eficácia alocativa versus eficiência/eficácia operacional (ou técnica). Além disso, o controle busca constatar se tais ações estão produzindo os resultados esperados. Paralelamente, as rotinas de controle verificam se a execução das ações obedecem aos preceitos de legalidade, de legitimidade, de eficiência, de eficácia e de efetividade. As rotinas de controle podem ser desenvolvidas antes, durante e depois da execução das políticas públicas; é desejável, contudo, que seja exercida nos dois primeiros momentos, antes e durante. Antes, pois os procedimentos que antecedem a execução de políticas podem evitar a adoção de procedimentos julgados inadequados, tanto técnica quanto politicamente; durante, pois os procedimentos simultâneos à execução das ações criam condições necessárias à percepção de situações-problema e às suas tempestivas correções, o que evita custos desnecessários. O controle a posteriori (depois) é uma opção que não pode ser descartada, mas deve ser reservada às situações em que a ausência de condições operacionais impeça o controle prévio e concomitante. Ora, informações obtidas após o término de um procedimento impedem seu aperfeiçoamento e sua otimização. Nada obstante, podemos destacar duas possibilidades importantes nas informações geradas pelo controle a posteriori: 23 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I I. de responsabilização legal e política, quando for o caso, dos agentes públicos que conduziram inapropriadamente os recursos públicos; II. de viabilização de ajustes nos procedimentos caracterizados como inadequados, o que impede ocorrências similares em situações futuras. Controle da execução orçamentária no Brasil No Brasil, a Constituição Federal de 1988 contempla, do art. 70 ao 75, as normas gerais para a realização do controle pelos Poderes e pelos órgãos específicos criados para atender a função administrativade controle da execução orçamentária no país. No art. 70, a CF estabelece as duas vias de controle: externa e interna. Veja: “a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo e pelo sistema de controle interno de cada Poder”. É importante notar que cada Poder deve estruturar um sistema de controle interno, que atuará de forma integrada com os sistemas de controle interno dos outros Poderes (art. 74). No âmbito federal, a Controladoria-Geral da União (CGU), órgão da Presidência da República, exerce o papel de Órgão Central do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal e suas principais atribuições, de acordo com o art. 74 da Constituição Federal, são: I. avaliar o cumprimento das metas previstas no Plano Plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; II. comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e à eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e nas entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III. exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; IV. apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. O controle externo, por sua vez, será exercido pelo Poder Legislativo, auxiliado, no caso federal, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), detentor de inúmeras competências constitucionais e legais. Entre as mais importantes, destacam-se julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos e realizar inspeções e auditorias, nos termos do art. 72 da Constituição. 24 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL Cabe lembrar que a competência da CGU, do TCU ou de outros órgãos de controle está relacionada com a esfera dos recursos administrados ou utilizados, ou seja, no caso federal, esses órgãos detêm plena competência para fiscalização em estados e em municípios, quando se tratar de recursos da União transferidos a esses entes. Destaque-se que, apesar da nomenclatura, as atividades de controle executadas pelos órgãos públicos competentes já contemplam, em suas atribuições, tarefas relacionadas aos conceitos modernos de monitoramento e de avaliação. Exemplo: Tribunal de Contas da União (TCU), atividade “Avaliação de Programas de Governo”: O TCU, a partir de 1998, intensificou a realização de auditorias de natureza operacional, principalmente, na modalidade avaliação de programa, visando a contribuir para a melhoria do desempenho de programas de governo e, ainda, aumentar a efetividade do controle, por meio da mobilização de atores sociais no acompanhamento e na avaliação dos objetivos da implementação e dos resultados das políticas públicas. 9 O controle exercido pela sociedade civil sobre o orçamento público, resultante da ação de cidadãos e de organizações não governamentais, pode estar orientado à defesa de interesses privados, corporativos ou públicos. Tão importante quanto os interesses defendidos são os métodos adotados na ação – que devem primar pela ética, pelo respeito às regras do jogo e pela transparência de propósitos. Bobbio (1990)10, citando Kant, recorda-nos que “todas as ações relativas ao direito de outros homens, cuja máxima não é suscetível de se tornar pública, são injustas”. Esse mecanismo de controle possui, como aspecto singular, a independência financeira, de propósitos e de métodos em relação às organizações da esfera governamental. Tendler (1988), ao comentar acerca das vantagens do controle social, observa: “[...] pressupõem-se que a vantagem especial da sociedade civil, no que diz respeito ao controle do governo, reside em seu ‘status’ de ‘de fora’ ou em sua independência em relação a ele”. É importante esclarecer que essa autonomia em relação aos organismos governamentais não implica a ausência de uma dimensão política nos atos de controle. Distribuição de Responsabilidades Entre os Diferentes Níveis de Governo O Orçamento Geral da União não financia todas as despesas públicas. A Constituição do Brasil define as atribuições e as competências dos governos federal, estaduais e municipais. 9 Trecho extraído do sítio <www.tcu.gov.br> 10 Norberto Bobbio – Teoria Geral da Política. 25 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I A título de ilustração, o dinheiro para asfaltar a rua de sua cidade não está incluído no Orçamento Geral da União, que contempla, apenas, ações atribuídas pela Constituição à esfera federal do poder público. Se você está interessado em saber quais os recursos disponíveis para as obras de esgoto de sua rua, deve verificar o orçamento da prefeitura de sua cidade. Se a sua preocupação for a construção de uma estrada vicinal em sua região, deve consultar o orçamento de seu estado. O Orçamento Geral da União prevê recursos para a construção, a pavimentação ou a recuperação de estradas federais. Da mesma forma, se o seu interesse é saber se as obras de construção do hospital de sua cidade serão executadas este ano, deve consultar o orçamento de sua prefeitura. As despesas com a segurança de sua cidade ou de sua rua são financiadas, também, pelo orçamento de seu município. Como se vê, o conhecimento acerca da distribuição das responsabilidades entre as diferentes esferas de governo, federal, estadual e municipal, mostra-se prioritário para uma gestão com qualidade. Ora, como cobrar de uma esfera aquilo que compete à outra? 26 CAPÍTULO 3 Disciplina Fiscal Agregada O conceito de disciplina fiscal agregada é bem mais abrangente do que um simples “receitas iguais a despesas”. Na verdade, tal conceito busca traduzir o que é um ambiente macroeconômico saudável e sustentável, conexo com investimentos e crescimento econômico, com eficiência intemporal nas decisões orçamentárias. Esse cenário aparece em países com o nível de inflação baixo e controlado, a taxa de juros baixa e o saldo de transações em conta corrente sustentável. Segundo documentos do Banco Mundial acerca de assuntos orçamentários, é um dos pilares para uma macroeconomia saudável. O Caso Brasileiro A economia brasileira, ao longo dos anos 1980 e parte da década de 1990, apresentava processo de inflação elevada. O Plano Real, após malogro de diversos planos similares, é, reconhecidamente, a mais bem-sucedida experiência brasileira de estabilização. De fato, o Plano Real conseguiu que a economia do Brasil passasse de uma realidade hiperinflacionária para uma outra, cuja taxa de inflação pode ser comparada a dos países desenvolvidos. Ocorre que, de um lado, o cenário hiperinflacionário presente naquela época na economia brasileira distorcia (e muito!) os (péssimos!) resultados das administrações públicas; ou seja, aquela realidade foi um meio de ocultação da má gestão dos administradores e do mau uso dos recursos públicos, sendo, por isso, justificativa geral para a ausência de planejamento no processo orçamentário. De outro lado, o Plano Real, com a estabilização monetária, deixou transparecer uma situação, antes oculta, de desequilíbrio das contas públicas em todos os níveis de governo. Nesse cenário, emergiu a necessidade de se desenvolver mecanismos institucionais, com vistas a disciplinar o equilíbrio fiscal e, com isso, garantir uma gestão responsável dos recursos públicos, que, lembrando, são colocados à disposição dos governantes pela sociedade. Em federações com alto grau de descentralização fiscal, caso do Brasil, é fundamental que todos os níveis de governo tenham incentivos à disciplina fiscal. Todavia, além de isso não ser tarefa fácil, garantir disciplina fiscal complica-se quando os governos subnacionais têm prerrogativas de grande autonomia no processo de elaboração orçamentária, de formulação de políticas fiscais e de implementação dessas políticas,pois o grau de ingerência e de controle do governo central é quase nulo. 27 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I De pronto, e independentemente de qualquer outra análise, se considerarmos o custo da indisciplina fiscal em governos subnacionais e o papel desses entes na consolidação do equilíbrio fiscal do País, presenciamos um progresso substancial nas contas públicas do Brasil, principalmente na segunda metade da década de 1990. Realmente, nesse período, foi implementada uma política fiscal descentralizada, com base em medidas de caráter regulatório e cooperativo. As reformas estruturais realizadas naquela época podem ser qualificadas como reformas de fortalecimento da responsabilidade fiscal. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), aprovada em maio de 2000, foi peça fundamental na imposição de disciplina fiscal em todos os níveis de governo e nos três Poderes, pois consolidou vários elementos fundamentais em matéria de boa gestão em finanças públicas. Quanto ao escopo institucional (isto é, o que a LRF entende como Setor Público), a LRF é aplicável aos Poderes Executivo, Legislativo (inclusive Tribunal de Contas) e Judiciário, ao Ministério Público, às respectivas administrações diretas, aos fundos, às autarquias, às fundações e às empresas estatais dependentes da União, aos estados e ao Distrito Federal e aos municípios. Relativamente à abrangência material, a LRF estabelece diretrizes que possibilitam aos gestores públicos administrar de forma profissional, em consonância com os princípios do equilíbrio das contas públicas, da gestão financeira-orçamentária responsável, eficiente, eficaz e transparente, de modo a garantir a todas as pessoas, organizadas ou não, o acesso às informações pertinentes aos processos do orçamento público e da gestão pública. Outro ponto relevante acerca da LRF, analisando-a dentro de uma visão “macro”, é o fato de os objetivos dessa lei coincidirem com os pertinentes a uma política orçamentária fundamental. Ao coordenar o ajustamento na alocação dos recursos públicos, a lei cumpre a função alocativa; ao ordenar a situação de equilíbrio da distribuição da renda e da riqueza, a função distributiva; e, ao assegurar a estabilidade ao processo econômico-financeiro, a função estabilizadora. Como já vimos, o diploma básico legal acerca de regras de finanças públicas no Brasil é apresentado pela Lei nº 4.320/1964, que estabelece normas gerais para elaboração, execução, contabilização e apresentação orçamentária para os três níveis de governo (federal, estadual e municipal), bem como para as empresas estatais. A título de esclarecimento, enquanto a Lei nº 4.320/1964 estabelece as regras de elaboração e de execução orçamentárias, a LRF foca na gestão fiscal, com ênfase na consolidação e na manutenção da estabilidade macroeconômica. 28 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL Nada obstante, e embora os objetivos das duas normas sejam distintos, a Lei nº 4.320/1964 sofreu algumas alterações em virtude da LRF, que é uma norma mais recente que aquela. Exemplificando, poderíamos citar as seguintes alterações: conceito de dívida fundada, conceito de empresa estatal dependente, conceito de operações de crédito, tratamento dos restos a pagar. Assim, a LRF é o marco na história da gestão fiscal brasileira, ou seja, o coroamento das iniciativas que foram implementadas para promover uma dinâmica fiscal sustentável no longo prazo. Vale salientar, todavia, que, a partir de 1995, foram incorporadas importantes medidas estruturais que abriram a porta para a aprovação de uma lei mais abrangente, caso da LRF. A título de exemplo, podemos citar os acordos de refinanciamento de dívidas entre a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e os estados11, e, em seguida, alguns municípios12, bem como a legislação que definiu limites para despesas de pessoal em todos os níveis de governo13. Desde então, essas reformas estruturais provocaram mudança na cultura fiscal do País, bem como incluíram regras mais severas para elaboração de relatórios orçamentários e troca de informações entre os diferentes níveis de governo e entre eles e a sociedade civil. Além disso, as mudanças passaram a demandar maior capacidade de avaliação e de monitoramento do governo Federal e do Poder Legislativo (por meio dos Tribunais de Contas) para verificar o cumprimento das normas. Até os dias atuais, o governo federal vem dedicando esforços significativos para viabilizar o controle, tanto por parte da STN como por parte dos Tribunais de Contas (Poder Legislativo), para fiscalizar a aplicação da lei pelos entes da Federação, especialmente no que se refere à disseminação de relatórios, de informações orçamentárias e de indicadores fiscais. No sítio do Ministério do Planejamento14, por exemplo, é possível visualizar alguns desses relatórios. Exemplos de inovações com o advento da LRF De início, a LRF determina que a LDO deve ser elaborada de acordo com o princípio de equilíbrio entre as receitas e as despesas e com a previsão de cortes, quando necessários. A LDO também deve incorporar um anexo de metas fiscais, cujo conteúdo são as metas fiscais anuais dos três anos seguintes, dos itens despesas, receitas, resultado primário e montante da dívida pública. Esse anexo deve conter, ainda, avaliação do cumprimento das metas anteriores, da atual situação financeira, 11 Lei nº 9.496, de 11 de setembro de 1997, que “estabelece critérios para a consolidação, a assunção e o refinanciamento, pela União, da dívida pública mobiliária e outras que especifica, de responsabilidade dos Estados e do Distrito Federal”. 12 Medida Provisória 2.118-28, de 23 de fevereiro de 2001, que “estabelece critérios para a consolidação, a assunção e o refinanciamento, pela União, da dívida pública mobiliária e outras que especifica, de responsabilidade dos Municípios”. 13 Lei Complementar nº 82, de 27 de março de 1995 (Lei Camata I), revogada pela Lei Complementar nº 96, de 1º de junho de 1999 (Lei Camata II). A Lei Camata II foi, então, revogada pela LRF. 14 <www.planejamento.gov.br www.planejamento.gov.br>. 29 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I do patrimônio líquido, do regime atuarial da previdência, das renúncias fiscais e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado. Um anexo de riscos fiscais foi outro item incluído na LDO, por causa da LRF, para avaliar a situação dos então chamados esqueletos fiscais15. A questão da transparência da gestão pública também foi alvo de inovações com a LRF. Por exemplo, tornou-se obrigatória a publicação das contas consolidadas do exercício anterior até a metade do exercício atual. Outro item que se tornou obrigatório com a LRF foi a publicação bimestral de relatório de execução orçamentária e quadrimestral de relatório de gestão fiscal, dispondo acerca do cumprimento dos limites de gasto e de endividamento previstos na lei. A LOA também sofreu mudanças com o advento da LRF. A título de ilustração, a lei orçamentária passou a conter, desde então, reserva de contingência para passivos contingentes e eventos imprevistos. Ademais, a LRF proibiu créditos para finalidades não específicas ou com dotação ilimitada, bem como determinou que os superávits auferidos pelo Banco Central (BC) fossem repassados ao caixa do Tesouro Nacional a cada seis meses. A LRF também estabelece normas para a contratação de empréstimos e de operações de Antecipação de Receita Orçamentária (ARO). A contratação de empréstimos fica sujeita à autorização prévia na LOA, à observância dos limites de endividamento e à autorização do Senado Federal, no caso de empréstimos externos. Os empréstimos não podem ser contraídos para financiar despesas correntes. Os empréstimos entre entes da Federação ficam proibidos, exceção feita para operações entre instituições financeiras estatais. A concessão de tais empréstimos fica condicionada à concessão de contragarantias, por conta de quem contrair o empréstimo.As AROs só podem ser contraídas para cobrir eventuais insuficiências de caixa durante um exercício financeiro. Devem ter taxa de juros prefixada e sua liquidação deve ser feita até o dia 10 de dezembro. Sua utilização também fica proibida no último ano de governo. A execução orçamentária também fica sujeita a novas normas. Após a publicação do orçamento, o governo deve editar um decreto de programação financeira, estabelecendo cronograma mensal para o desembolso. A cada dois meses, devem ser feitas reavaliações da arrecadação. Caso esse processo não se encontre numa trajetória condizente com as metas fiscais, os Poderes e o MP devem, em trinta dias, limitar o empenho de recursos. Caso os Poderes Legislativo e Judiciário e o MP não cumpram a determinação, o Executivo fica autorizado a limitar-lhes o empenho. 15 Inserir definição amigável de esqueletos fiscais (créditos contra o governo). 30 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL Uma das maiores inovações da LRF é a introdução, no Brasil, de restrições orçamentárias. Para exemplificar, a LRF determina restrições ao gasto com funcionalismo público e ao endividamento público. Quanto ao limite com pessoal, a LRF determina que fica proibido o aumento da despesa com pessoal 180 dias antes do final do mandato e que os referidos limites devem ser checados a cada quatro meses. Já o limite para o endividamento público, não está no corpo da lei. Nesse caso, a LRF determina que o Executivo deve enviar ao Senado Federal e ao Congresso Nacional proposta de limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos estados e dos municípios e projeto de lei que estabeleça limites para o montante da dívida mobiliária federal, respectivamente fixados em porcentagem da receita corrente líquida. A verificação dos limites deve ser feita a cada quadrimestre. As sanções para quem desrespeitar o limite e as diretrizes para o ajuste, no entanto, estão previstas na lei. Quando um ente ultrapassar o limite, ele tem um ano para reconduzir o montante da dívida ao limite, sendo que 25% do ajuste deve ser feito nos quatro primeiros meses. As sanções cabíveis para o desajuste é a proibição de transferências voluntárias e de empréstimos, salvo para o refinanciamento do principal da dívida. A LRF contém uma série de outras inovações que não são listadas aqui. Nada obstante, há, ainda, outras medidas dignas de nota. Exemplos: vedação a que renúncias fiscais sejam instituídas sem as corresposndentes medidas compensatórias de aumento de arrecadação; proibição do empenho de despesas nos últimos oito meses de mandato que não sejam pagas dentro do próprio mandato ou que não tenham provisão no caixa; e criação do Conselho de Gestão Fiscal, cujo projeto de lei16 se encontra, ainda, em tramitação na Câmara dos Deputados. 16 PL 3744/2000, do Poder Executivo, que “institui o Conselho de Gestão Fiscal e dispõe sobre sua composição e forma de funcionamento, nos termos do art. 67 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.” 31 CAPÍTULO 4 Eficiência Alocativa e Eficiência Operacional As inovações verificadas no processo orçamentário brasileiro podem ser analisadas com base nos diagnósticos e nas propostas apresentadas por Allen Schick17, que adota, como parâmetro para avaliação, o trinômio disciplina fiscal, eficiência alocativa e eficiência operacional do gasto público. Schick examina o orçamento público como sendo um instrumento econômico, político e de gestão de governo, discutindo os papéis e os relacionamentos de seus principais stakeholders18, associando vários problemas e várias tendências pertinentes ao estágio de desenvolvimento de determinado país e, ainda, citando casos práticos afetos a países desenvolvidos e em desenvolvimento. Como já vimos, a questão da disciplina fiscal está baseada no princípio de que o orçamento deve expressar as reais intenções de governo, relativamente ao gasto futuro, e declarar a despesa que de fato resultará durante o ano fiscal e que será coberta pelas receitas disponíveis. Nesse sentido, Schick alude que os governos são pressionados a gastar mais do que a economia ou a carga tributária podem prover. Ora, em face desse cenário, é imprescindível que se priorize, adequadamente, ações e despesas, desenvolvendo orçamentos realistas e sustentáveis ao longo do exercício financeiro. Eficiência Alocativa A eficiência alocativa relaciona-se com a identificação de ações que não geram externalidades positivas19 que justifiquem sua continuidade e que não representam gastos típicos do setor público, com vistas a decidir se tais ações devem ser redimensionadas dentro do contexto do orçamento público. Segundo Schick, as alocações do orçamento são eficazes quando são feitas de acordo com as prioridades de governo (por exemplo, redistribuindo recursos de antigas prioridades para aquelas atualmente mais urgentes) e baseadas na evidência a respeito da eficácia dos programas. Assim, afirma Schick, evitam-se tendências 17 In “A Contemporary Aproach to Public Expenditure Management”, World Bank Institute, 1999. (Tradução livre: “Uma Abordagem Contemporânea ao Gerenciamento dos Gastos Públicos”.) 18 Stakeholder: termo que se refere a todos os atores interessados em determinado assunto. 19 Externalidades positivas: ocorrem quando os benefícios sociais de um produto excedem os benefícios privados. Uma analogia comumente utilizada compara externalidade positiva com vacinação e externalidade negativa com poluição. 32 UNIDADE I │ ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL incrementalistas; em outros termos, acréscimo de percentual de recursos calcado no desempenho dos exercícios anteriores. De fato, o modo tradicional de elaboração do orçamento, como uma versão refeita do orçamento anterior, gera, como resultado, vários vícios administrativos, dos quais merecem destaque: a. continuidade de antigos programas, que simplesmente mudam de nome ou são apresentados como novos; b. recursos escassos, que acabam sendo utilizados em projetos de grande visibilidade que produzem reduzido retorno social, ao mesmo tempo em que o orçamento deixa de gastar com o capital humano (saúde, educação etc.); e c. sobrevida de “resíduos” do gasto público associados a demandas sociais ou políticas antigas que não mais se justificam. Eficiência Operacional O conceito de eficiência operacional relaciona-se ao uso da avaliação de resultados, do accountabillity20 gerencial e da mensuração/otimização dos custos para (re) direcionamento das ações do administrador público. Para Allen Schick21, eficiência operacional “[...] é o rateio dos recursos gastos em relação aos resultados produzidos ou adquiridos por órgãos e entidades governamentais: o primeiro pode ser medido em termos monetários ou de outros insumos, tal qual horas de trabalho; o segundo, todavia, é medido em termos de volume e dimensões qualitativas, por exemplo, a exatidão dos pagamentos – ou outras transações efetivadas, a tempestividade dos serviços prestados, a cortesia com que esses serviços são prestados e a satisfação dos beneficiários. Se medidos com eficiência operacional, esses indicadores de qualidade podem estar correlacionados com o volume dos recursos ou outros insumos”. A eficiência operacional implica ações realizadas em observância aos seguintes princípios: 20 Accountability gerencial: dever de o gestor prestar contas dos resultados de sua atuação. 21 In “A Contemporary Aproach to Public Expenditure Management”, World Bank Institute, 1999. (Tradução livre: “Uma Abordagem Contemporânea ao Gerenciamento dos Gastos públicos”.) 33 ORÇAMENTO E CONTEXTO INSTITUCIONAL │ UNIDADE I a. efetividade: é a medida de alcance do resultado final da ação governamental; b. economicidade: é o cumprimento da meta ao menor custo e a eliminação de desperdícios de insumos; c. eficiência: é a otimização dos processos de transformação de insumos em produtos. Em outros termos, é a maximização da relação custo xbenefício; d. eficácia: é o cumprimento das metas. 34 UNIDADE II O PROCESSO DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS O processo de alocação de recursos públicos com base em prioridades estratégicas é imprescindível para eficiência e eficácia da Administração Pública. De fato, em seus documentos, o Banco Mundial aponta que esse processo, depois de garantida a disciplina fiscal agregada, é o segundo pilar na gestão das despesas públicas. De imediato, e independentemente da abordagem pública ou privada, alocar recursos é uma atividade cuja situção ótima é difícil de ser alcançada. Ora, não se melhora a situação de nada nem de ninguém sem causar algum tipo de prejuízo a algo ou de alguém. No nosso contexto, alocar os recursos públicos de modo que atenda à sociedade de modo satisfatório é incumbência do processo político, que surge como importante mecanismo no trabalho de levantamento das prioridades, considerada, obviamente, a escassez dos recursos disponíveis. Nesta parte, estudaremos as nuances do processo de alocação dos recursos públicos: as classificações orçamentárias; a elaboração do orçamento e a formulação de políticas públicas; e, por fim, o planejamento plurianual da despesa. 35 CAPÍTULO 1 Classificações Orçamentárias: Natureza e Finalidades Um dos principais objetivos ao se criar um sistema de classificação orçamentária é garantir o meio de analisar e de avaliar os gastos e os benefícios dos programas de governo, bem como de estudar o impacto dos gastos públicos na economia, já que tal sistema viabiliza a obtenção de informações gerenciais e administrativas. O Instituto Latinoamericano de Planificación Economica y Social resume como sendo as finalidades de um sistema de classificação orçamentária o seguinte: 1. facilitar a análise dos efeitos econômicos e sociais das atividades do governo; 2. facilitar a formulação dos programas que o governo deve elaborar para cumprir suas funções; 3. contribuir para uma execução rápida do orçamento; 4. facilitar a contabilidade fiscal. 22 Para ratificar a importância dessa questão, vale citar o professor Sebastião Sant’Anna e Silva. Ele apresentou (em 1954) o problema da classificação das contas públicas como um corolário do princípio da especificação ou da discriminação orçamentária, afirmando: “a adoção de um bom sistema de classificação das receitas e das despesas é dos problemas de técnica orçamentária de mais difícil solução. Esta dificuldade resulta da necessidade que tem essa classificação de atender a conveniência de natureza política, administrativa, financeira, contábil e econômica.” 23 (grifo nosso) A escolha do critério de classificação está diretamente relacionada com a concepção orçamentária estabelecida. Apesar disso, devemos ter em mente que nenhuma classificação por si só satisfaz totalmente, o que leva à motivação de a técnica orçamentária combinar várias delas, com vistas a atender, conceitualmente, o tipo de orçamento escolhido. Tal combinação, de várias classificações, é que constitui o sistema de classificação orçamentária. 22 MARTNER, Gonzalo. Planificación de los Pressupuestos Gobernamentales. Santiago do Chile: Nações Unidas. mimeo. pp. 104-5. 23 SANT’ANNA E SILVA, Sebastião. Os Princípios Orçamentários. RJ, FGV, 1954, p. 43. 36 UNIDADE II │ O PROCESSO DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS Qualquer que seja o sistema, o principal objetivo da classificação orçamentária nos orçamentos atuais é facilitar a programação do governo (alocação de recursos) e a fiscalização e o acompanhamento da execução dos programas de trabalho, não só pelo governo, mas também pelo Legislativo e pela sociedade civil, conforme competências de cada ator público; daí, visualizamos que o enfoque é dirigido ao Orçamento-Programa. Apesar de os sistemas de classificação orçamentária referirem-se à classificação de ambas as contas, receita e despesa, salientamos que é a classificação da despesa que assume importância primária. Realmente, na norma vigente, toda a preocupação se volta, essencialmente, para ela. Se estudarmos a evolução das finanças públicas ao longo da História, perceberemos que foi ela, a despesa pública, que sofreu grandes transformações, tanto sob o aspecto quantitativo quanto sob o qualitativo. Sistemas de Classificação Orçamentária Adotados no Brasil Fundamentalmente, o sistema de classificação orçamentário brasileiro foi estabelecido como regra pela Lei nº 4.320/1964. Além disso, essa norma determinou que quadros anexos ao orçamento seriam apresentados, nos quais a despesa figuraria distribuída em dez funções, cada uma comportando outras tantas subdivisões. A partir do orçamento do ano 2000, contudo, diversas alterações na Lei nº 4.320/1964 estabeleceram adequações ao sistema de classificação então vigente. Tais alterações visaram, principalmente, a privilegiar o aspecto gerencial do orçamento, por meio de adoção de práticas simplificadoras e descentralizadoras. O marco dessas modificações foi determinado no Decreto nº 2.829, de 29 de outubro de 1998, que estabeleceu normas para a elaboração e a execução do Plano Plurianual e dos orçamentos da União. Essa norma interligou o Planejamento (Plano Plurianual – PPA), no caso, o PPA 2000-2003, e o Orçamento, por meio da obrigatoriedade de criação de programas para todas as ações de governo, com um gerente responsável por metas e por resultados concretos para a sociedade. Subsidiariamente, as Portarias nos 117 e 51, respectivamente, de 12 de novembro e 16 de novembro de 1998, ambas do Ministério do Planejamento e Orçamento, também incluiram modificações substanciais no processo de planejamento e de orçamento do setor público, que entraram em vigor com o orçamento de 2000, nos seguintes moldes: » a Portaria nº 117/1998, substituída, posteriormente, pela Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, com a preservação dos seus fundamentos, 37 O PROCESSO DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS │ UNIDADE II atualizou a discriminação da despesa por funções de que tratam o inciso I do § 1º do art. 2º e § 2° do art. 8º, ambos da Lei nº 4.320/1964, revogando, assim, a Portaria nº 9, de 28 de janeiro de 1974 (Classificação Funcional-Programática); e » a Portaria nº 51/1998 institui o recadastramento dos projetos e das atividades constantes do Orçamento da União (Subsistema de Cadastro de Atividades e Projetos, do Sistema Integrado de Dados Orçamentários – SIDOR). Segundo informativos do Ministério do Planejamento24, essas modificações representam um importante passo no sentido da modernização dos processos de planejamento e de orçamento, com aplicabilidade à União, aos estados e aos municípios, tendo como escopo principal a busca para o setor público de uma administração menos burocrática e mais gerencial, com efetiva cobrança de resultados. Considerações Gerais Acerca da Classificação por Categoria Econômica (Receita e Despesa) A classificação por categoria econômica é importante para o conhecimento do impacto das ações de governo na conjuntura econômica do país. Ela possibilita que o orçamento seja instrumento relevante para a política econômica, de maneira a ser utilizado, por exemplo, no fomento ao desenvolvimento nacional e no controle do déficit público. Essa classificação foi instituída no Brasil pela Lei nº 4.320/1964, arts. 11 (quanto à receita) e 12 (quanto à despesa). Por esse critério, o orçamento divide-se em dois grandes grupos: as contas correntes e as contas de capital. As contas de capital relacionam-se, diretamente, com a formação ou a aquisição de bens de capital, implicando aumento de patrimônio; as contas correntes, ao contrário, não acarretam aumento de patrimônio. As especificidades relativas a cada uma das contas, receita e despesa, serão vistas mais adiante em itens próprios relativos à receita e à despesa. A título de ilustração de classificação por categoria econômica, segue fragmento da lei orçamentária anual para o exercício de 2007 acerca desta classificação para o orçamentofiscal. 24 Ex.: <http://www.planejamento.gov.br/orcamento/conteudo/sistema_orcamentario/classificaoes_orcamentarias.htm>. 38 UNIDADE II │ O PROCESSO DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS Quadro 1A – Receita e Despesa do Orçamento Fiscal por Categora Econômica. Classificação Econômica – Receita e Despesa R$ 1,00 Recursos de Todas as Fontes Receita Despesa Especificação Valor Especificação Valor Receitas Correntes Receita Tributária Receita de Contribuições Receita Patrimonial Receita Agropecuária Receita Industrial Receita de Serviços Transferências Correntes Outras Receitas Correntes 347.039.611.605 200.791.012.055 75.901.842.839 37.462.963.851 26.506.229 681.24.962 21.276.853.603 326.427.751 10.572.780.541 Despesas Correntes Pessoa e Encargos Sociais Juros e Encargos da Dívida Outras Despesas Correntes 380.374.597.849 66.877.423.937 165.745.906.300 147.751.267.611 Déficit do Orçamento Corrente – Fiscal 33.334.986.243 Total 380.374.597.849 Total 380.374.597.849 Déficit do Orçamento Corrente 33.334.986.243 Receitas de Capital Operações de Crédito Alienação de Bens Amortização de Empréstimos Transferências de Capital 867.017.330.104 810.551.350.463 2.379.411.079 20.547.145.158 88.068.813 Despesas de Capital Investimentos Inversões Financeiras Amortização da Dívida 787.878.764.511 22.918.786.249 32.393.865.336 732.366.112.926 Fonte: LDO-2007, Anexo II, Inciso I. Classificações da Receita Pública Orçamentária: Estruturas e Finalidades 25 De acordo com a doutrina das finanças públicas, qualquer entrada de recursos nos cofres públicos denomina-se “receita”, mas se reserva a denominação “receita pública” ao ingresso que se faça permanente no patrimônio do Estado e que não esteja sujeito à devolução ou à correspondente baixa patrimonial. Desta forma, o produto de ingressos provenientes de caução, fiança, empréstimo, alienação de bens não seriam considerados como receita pública, uma vez que representam, apenas, movimentação de fundos, não se incorporando ao patrimônio público ou alterando-o. Entretanto, essa distinção apresentada no campo doutrinário não foi adotada pela Lei nº 4.320/1964, que institui normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos estados, dos municípios e do Distrito 25 Fonte principal: Ementário de Classificação das Receitas Orçamentárias (2005) – Brasília. Secretaria de Orçamento Federal – SOF. (na Internet: <www.planejamento.gov.br>, Orçamento, Publicações e Estudos) – Não deixe de consultá-lo! 39 O PROCESSO DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS │ UNIDADE II Federal. Essa lei emprega o termo receita no seu sentido amplo, ou seja, corresponde a qualquer entrada de recursos nos cofres públicos. A Lei nº 4.320/1964 representa o marco fundamental da Classificação da Receita Orçamentária. No capítulo II, intitulado “DA RECEITA”, o texto legal trata das entidades de Direito Público interno, ou seja, da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias, explicitando, em seu próprio corpo, no art. 11, § 4º, a discriminação das fontes de receitas pelas duas categorias econômicas básicas, as receitas correntes e as receitas de capital. Ainda no próprio texto, art. 8º, § 1º, está indicado que os itens da discriminação da receita mencionados no art. 11 serão identificados por números de código decimal, na forma do Anexo III. No decorrer do tempo, esse anexo sofreu várias alterações, incorporando as transformações econômicas do país e seu reflexo nas receitas públicas. Em 2001, para atender às disposições da Lei Complementar nº 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), no que se refere à uniformização dos procedimentos de execução orçamentária no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o conteúdo do Anexo III da Lei nº 4.320/1964 foi consubstanciado no Anexo I da Portaria Interministerial STN/SOF nº 163, de 4 de maio de 2001, com a discriminação da receita para todos os entes da Federação, ficando facultado o seu desdobramento para atendimento das respectivas peculiaridades. No âmbito da União, o detalhamento da classificação da receita cabe à Secretaria de Orçamento Federal (SOF), o que é feito por meio de portaria de classificação orçamentária, por natureza de receita e por fonte de recursos. Classificações doutrinárias Receitas Orçamentárias e Extraorçamentárias Trata-se de classificação doutrinária (sem lei que a ampara) relacionada à “previsibilidade” da receita na lei orçamentária anual. Segundo este critério, a receita pública divide-se em orçamentária e extraorçamentária. As receitas orçamentárias são os tributos regulares, por conseguinte, previstas na lei orçamentária anual, tais quais impostos, taxas, contribuições etc. As receitas extraorçamentárias são decorrentes da própria gestão dos entes da Federação, sendo fatos de natureza estritamente financeira, daí, não estão previstas no orçamento anual, por exemplo, vendas de ativos. 40 UNIDADE II │ O PROCESSO DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS Receitas Originárias e Derivadas As receitas originárias decorrem das atividades do Estado, por exemplo, receita patrimonial, de serviços etc. As receitas derivadas são obtidas do setor privado, com base na soberania do Estado, como impostos, taxas, contribuições, entre outros. Classificação por natureza de receita Conforme indica o art. 8º, § 1º, da Lei nº 4.320/1964, os itens da discriminação da receita mencionados no art. 1126 serão identificados por números de código decimal. Convencionou-se designar esse conjunto de códigos de Classificação por Natureza de Receita. Essa classificação busca a melhor identificação da origem do recurso segundo seu fato gerador. Em face da necessidade de constante atualização e de melhor identificação dos ingressos aos cofres públicos, o esquema inicial de classificação foi desdobrado em subníveis, que formam o código identificador da natureza de receita, conforme o esquema que segue: Figura 3. X Y Z W TT KK 1° Nível – Categoria Econômica 2° Nível – Fonte 3° Nível – Subfonte 4° Nível – Rubrica 5° Nível – Alínea 6° Nível – Subalínea X – Categoria Econômica (1º Nível) 1. Receitas Correntes; e 2. Receitas de Capital Y – Fonte de Receita: é uma subdivisão das Receitas Correntes e de Capital (2º Nível) Receitas Correntes 1. Receita Tributária 2. Receita de Contribuições 3. Receita Patrimonial 4. Receita Agropecuária 5. Receita Industrial 26 Art. 11 da Lei nº 4.320/1964, com nova redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20 de maio de1982. 41 O PROCESSO DE ALOCAÇÃO DE RECURSOS │ UNIDADE II 6. Receita de Serviços 7. Transferências Correntes 8. Outras Receitas Correntes Receitas de Capital 1. Operações de Crédito 2. Alienação de Bens 3. Amortização de Empréstimos 4. Transferências de Capital 5. Outras Receitas de Capital Z – Subfonte (3º Nível): é o nível de detalhamento vinculado à fonte, composto por títulos que permitem especificar com maior detalhe a origem da receita. É a espécie de tributo. W – Rubrica (4º Nível): é o nível que detalha a subfonte com maior precisão, especificando a origem dos recursos financeiros. Agrega determinadas receitas com características próprias e semelhantes entre si. TT – Alínea (5º Nível): é o nível que apresenta o nome da receita propriamente dita e que recebe o registro pela entrada de recursos financeiros. KK – Subalínea (6º Nível): constitui o nível mais analítico da receita, o qual recebe o registro de valor, pela entrada do recurso financeiro, quando houver necessidade de maior detalhamento da alínea. Com o advento da LRF, ficou estabelecida, pelo art. 51, a necessidade de uniformização dos procedimentos de execução orçamentária no âmbito da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, com o objetivo de consolidação das contas públicas nacionais. Assim, essa estrutura básica corresponde à classificação adotada para as três esferas da Administração Pública.
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