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Resenha_A natureza do Estado capitalista do século XX de acordo com Poulantzas, Offe etc

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Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Economia e Relações Internacionais
Curso de Graduação em Relações Internacionais
Disciplina Estado e Economia
Prof. Dr. José Rubens Damas Garlipp
Aluna: Beatriz Guilherme Carvalho
Nº de matrícula: 11711RIT006
Resenha:
A natureza do Estado capitalista do século XX de acordo com Poulantzas, Offe, Hirsch e O’Connor
Ao longo do século XX, o Estado capitalista passou por transformações, as quais foram observadas por alguns cientistas políticos da época, como: Nicos Poulantzas, Claus Offe, Joachim Hirsch e James O’Connor. As atividades destes autores estiveram concentradas no estudo sobre a natureza e as características contemporâneas do Estado capitalista. Partindo da inexistência de uma teoria marxista sobre o Estado, e compreendendo-o como central na discussão acerca da dinâmica e da ordem capitalistas, estes autores sugerem a pertinência do aparato estatal para administração dos interesses da burguesia. Diante disso, a partir de uma perspectiva marxista, o Estado pode ser reduzido a um instrumento para dominação de classes, a um fator de coesão social.
Historicamente, o século XX foi marcado pelas duas guerras mundiais e pela crise no período entre elas. Em 1929, a crise não trouxe somente consequências à economia, mas também demonstrou a fragilidade e o fracasso da ordem liberal. Isto é, o excesso do liberalismo e da lógica de mercado na orientação do Estado provaram-se insuficientes e ineficazes para recuperação dos países no pós-Primeira Guerra. Logo, a deflagração da Segunda Guerra pode ser entendida como uma incapacidade de resolução de conflitos. 
Dessa forma, a primeira metade do século XX foi palco para transformações geopolíticas e geoeconômicas, tendo em vista o debate sobre a necessidade de intervenção estatal no campo econômico, assumindo o papel de garantidor das condições para empregabilidade, qualidade de vida e sobrevivência humana. Em contrapartida, o surgimento de estruturas monopolistas e oligopolistas que marcou o fim da etapa concorrencial e inaugurou a etapa do capitalismo monopolista de Estado, no qual há a crescente função entre interesses dos monopólios e do aparato estatal. Assim, surge um componente político do capitalismo que serve ao debate acerca da natureza dessa fase do Estado capitalista, sua autonomia e os limites à sua capacidade intervenção. 
Diante do panorama supracitado, as contribuições de Poulantzas apresentam-se em continuidade à teoria política marxista, abordando a natureza do Estado burguês e criticando a associação da cultura burguesa ao aparato estatal. Para o autor, o Estado representa as classes dominantes, de modo que organiza seus interesses plurais a fim de garantir a produção e reprodução capitalistas. No entanto, o Estado não está meramente ligado à luta de classes, atuando como mediador; ele está inserido nessa relação de força. Sua função de ordem política prevê a existência de capacidades institucionais e discursivas que favorecem a perpetuação das relações de produção, por exemplo o imperativo da acumulação de capital e da lucratividade empresarial. 
Ainda, sua função de ordem global prevê o uso legítimo da força para apartar os conflitos de interesse entre as classes burguesas (dominantes) no poder, garantindo a coesão e a reprodução social. Dessa forma, Poulantzas refere-se ao Estado enquanto um bloco de poder, na qual a dominação política está inscrita. Por isso, sua autonomia é entendida como relativa. Isto é, o aparato estatal se insere nesse jogo, buscando amortecer o conflito diante da hegemonia dos interesses de uma classe dominante. Nesse sentido, o Estado não se funde aos monopólios, mas se associa a eles.
Ainda de acordo com Poulantzas, o Estado é dotado de estruturas jurídicas e ideológicas, que concedem a capacidade de produção de leis básicas. Estas constituem-se de valores e regramentos que formam um ordenamento político e um padrão social, os quais garantem a coesão entre as duas instâncias. Entretanto, as leis são formuladas dentro do aparato estatal e em conformidade com a perspectiva da classes burguesa hegemônica. Então, elas servem como um instrumento ideológico em prol da força social hegemônica e da manutenção histórica dessa dinâmica.
Por outro lado, Claus Offe não enxerga o Estado como um instrumento que serve aos interesses de uma classe dominante, mas sim que busca promover o interesse comum na garantia do desenvolvimento da sociedade capitalista. Dessa forma, para o autor, o Estado é um instrumento do poder público que visa a manutenção do processo produtivo e acumulativo. No entanto, sua capacidade de atuação no âmbito econômico é limitada, uma vez que a produção é privatizada em sua maioria. 
Segundo Offe, o Estado capitalista não pretende a proteção dos interesses de uma classe específica, mas sim a criação de condições para inserção de todos os indivíduos detentores de propriedade (sejam sua força de trabalho ou os meios de produção) na sociedade. Sendo sua legitimação conquistada por um consenso democrático, seu intuito é inserir todas as classes no sistema capitalista, unindo as estruturas política e econômica. Porém, diante das crises do século XX, o autor observa que o problema do capitalismo nesses momentos de interrupção da produção e do comércio, além da inexistência de mecanismo eficazes para realizar uma correção imediata. Diante disso, o Estado possui a função de viabilizar políticas educacionais e de desenvolvimento que assegurem a acessibilidade de todos e manutenção e evolução do sistema capitalista.
Contudo, apesar do objetivo de inclusividade, em última instância, o Estado capitalista acaba por favorecer uma classe em específico: a capitalista. Sua legitimidade advém simplesmente da aparência de uma lógica democrática de acesso ao poder público. Logo, a natureza capitalista do Estado é oculta, mas pode ser percebida na lógica de acumulação impregnada às suas funções. A intervenção do Estado para solucionar seu problema estrutural visa a manutenção das condições para o processo acumulativo e produtivo. Logo, as relações sociais estão baseadas nas relações de troca entre os indivíduos, os quais tornam-se sujeitos às estratégias públicas de caráter político e administrativo, orientadas por uma burocracia estatal cujos interesses próprios estão associados ao funcionamento da sociedade capitalista. 
Joachim Hirsch, por sua vez, compreende que o Estado reflete a relação estrutural entre classes dominantes e exploradas, de modo que sua manutenção está submetida ao processo de reprodução econômica e valorização do capital. Essa relação de exploração está inserida na lógica concorrencial da sociedade capitalista, a qual remete ao antagonismo das classes, cujos interesses são irreconciliáveis. Ao mesmo tempo, essa lógica cria as bases para as próprias disfunções e crises do sistema capitalista, diante das quais, o Estado intervém. Sua função interventora está fundamentada em sua natureza reorganizadora. Uma vez que detém o monopólio do uso legítimo da força coercitiva, o Estado atua em prol da resolução de conflitos entre as classes e da reprodução capitalista, visando a manutenção do funcionamento do sistema capitalista. 
Em continuidade ao pensamento de Poulantzas, Hirsch afirma que a autonomia estatal é relativa. Ele adiciona à isso o conceito de seletividade: ainda que as instituições do Estado comportem uma pluralidade de relações políticas, isso é feito de maneira heterogênea e seletiva. Nesse sentido, é inserido um componente ideológico e classista ao modo de manifestação e de funcionamento do sistema capitalista. Ou seja, o Estado capitalista expressa o antagonismo entre as classes, mas intervém em nome do interesse de manutenção da produção material. 
Diante dessas contradições capitalistas e das crises sociais e fiscais retidas pelo Estado, James O’Connor contribui para o debate demonstrando que o crescimento do aparato estatal (de caráter público) é condição para o desenvolvimento da produção monopolista (de caráter privado). Logo, a intervençãodo Estado se mostra importante para a manutenção da rentabilidade de diversos setores prejudicados pela socialização da produção. Entretanto, ao mesmo tempo, o avanço do setor privado leva à necessidade de uma maior atuação estatal na economia, gerando aumento dos gastos sociais, o que deflagra a natureza dual e contraditória do Estado capitalista. Para O’Connor, a contradição reside na divergência entre as duas principais funções do Estado: de legitimação e de acumulação. Uma vez que este incorre em gastos sociais que possibilitam sua legitimação, ele compromete a lógica capitalista de acumulação. 
O autor ainda destaca uma segunda contradição presente na relação entre socialização dos custos e privatização dos lucros. Apesar desses gastos sociais que permitem a perpetuação do sistema capitalista, os lucros beneficiam o setor privado, gerando uma lacuna estrutural que leva à crise fiscal. Isto é, os gastos estatais tendem à crescer mais rapidamente do que sua receita, originando colapsos fiscais. Além disso, os grupos de pressão (como corporações, sindicatos e demais grupos de interesse) demandam particularidades que sobrecarregam o Estado, requerendo uma atuação ainda mais ampla. E, por fim, a busca por aprimoramento do modelo de produção incorre em custos em pesquisa e desenvolvimento que acrescem no orçamento público. Dessa forma, O’Connor enfatiza a importância da atuação estatal na economia, mas também demonstra como a fase monopolista do Estado capitalista carrega em sua origem as bases para suas contradições e crises.
Referências
ELAHP. Aula 2: Os tipos de Estado e as particularidades institucionais do Estado capitalista. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rhdPSQXZDCM&list=PLLion1w_I7d3vKE3uG8dc2mWZUeQKeU-t&index=2>. Acesso em: 23 de nov. de 2020.
GARLIPP, José Rubens. Estado e Economia: Resgate teórico‐histórico: Revisão das principais formulações teóricas acerca da natureza do Estado. 23 de out.-18 de dez. de 2020. Notas de Aula.
HIRSCH, Joachim. 2007a. Forma política, instituições políticas e Estado – I. Crítica Marxista no 24, pp.9‐36.
HIRSCH, Joachim. 2007b. Forma política, instituições políticas e Estado – II. Crítica Marxista no 25, pp.47‐73.
HIRSCH, Joachim. 1977. Observações teóricas sobre o estado burguês e sua crise. In: POULANTZAS, Nicos. O estado em crise. Rio de Janeiro: Graal.
O'CONNOR, James. 1981. USA: a crise do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
OFFE, Claus. 1984. Problemas estruturais do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.
POULANTZAS, Nicos. 1985. O Estado, O Poder, O Socialismo. Rio de Janeiro: Ed. Graal.

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