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MATÉRIA JORNALÍSTICA - STF PODE FORTALECER VOZ DO JUIZ PARA CLASSIFICAR QUEM É PEGO COM DROGAS - FOLHA DE SÃO PAULO

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FOLHA DE SÃO PAULO – quinta-feira, 13 de agosto de 2015. 
STF pode fortalecer voz do juiz para classificar quem é pego com drogas 
MÁRCIO FALCÃO DE BRASÍLIA 
 
O STF (Supremo Tribunal Federal) deve começar nesta quinta-feira (13) um julgamento 
histórico para definir se é crime ou não portar drogas para consumo próprio. 
O caso, que tramita desde 2011, terá efeito direto em outros 96 que aguardam posição do 
tribunal e consolidará um novo entendimento jurídico sobre esse tema no país. 
Atualmente, adquirir, guardar ou portar drogas para si é considerado crime. O que estará 
em discussão é se essa lei é inconstitucional. 
Ouvidos pela Folha sob a condição de anonimato, três dos 11 ministros do Supremo 
avaliam que a tendência no tribunal é pela descriminalização do porte de entorpecentes para uso 
pessoal. 
A expectativa deles, porém, é que a proposta do relator do caso, ministro Gilmar Mendes, 
preveja que qualquer pessoa flagrada com drogas seja levada a um juiz para que ele analise, 
antes de qualquer processo, se ela deve ser enquadrada como usuária ou traficante. Hoje, essa 
decisão é da polícia. 
A ideia tem aval do ministro Marco Aurélio Mello, que se declarou contrário à fixação 
pelo STF de um critério para distinguir usuário de traficante. "Não podemos dizer que quem 
porta pequena quantidade de drogas é simplesmente usuário. Geralmente, o traficante esconde 
porção maior de droga e só porta aquela que entregará ao consumidor", disse. 
Para o ministro Luís Roberto Barroso, a quantidade de droga "por si só" não deve ser 
critério de distinção, mas seria um parâmetro para a exclusão do tráfico. Barroso afirmou que o 
julgamento deverá levar em consideração "singularidades" do país e seus efeitos sociais. 
"Os países de primeiro mundo estão preocupados predominantemente com o consumidor. 
No Brasil, a questão da droga tem que levar em conta em primeiro lugar o poder que o tráfico 
exerce sobre comunidades carentes e o mal que isso representa." 
Uma alternativa para a não fixação de quantidade, diz um ministro, seria recomendar a 
adoção de critérios para a caracterização de usuários por órgãos técnicos, como a Anvisa 
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária). 
Diante da polêmica, é possível que o julgamento se estenda por mais de uma sessão. 
Eventual efeito retroativo para outros casos poderá ser discutido no plenário pelos 
ministros. 
Em parecer enviado ao STF, em 2011, a Procuradoria-Geral da República defendeu 
manter a criminalização. 
Atualmente, quem é flagrado com drogas para uso próprio está sujeito a penas que 
incluem advertência, prestação de serviços à comunidade ou medida educativa. 
O usuário acaba respondendo em liberdade, mas eventual condenação tira a condição de 
réu primário. 
 
FOLHA DE SÃO PAULO – quinta-feira, 13 de agosto de 2015. 
Privacidade ou crime? 
 
Possibilidade de liberação pelo Supremo do porte de drogas para uso pessoal reacende 
debate sobre impactos da medida sobre número de usuários e sistema de saúde 
A FAVOR 
Legislação atual fere o princípio da privacidade, já que o consumo de drogas não causa 
danos a terceiros. 
Lei também viola o princípio da isonomia, ao tratar coisas semelhantes (como álcool e 
maconha) de forma desigual. 
A regulamentação das drogas facilitaria o controle sobre o uso, sendo mais eficaz do que 
a proibição. 
Mudança pode reduzir a população carcerária, já que a falta de parâmetros hoje faz com 
que muitos usuários sejam presos como traficantes. 
CONTRA 
A droga não prejudica só quem a consome, mas também as pessoas ao redor. 
A liberação pode causar aumento do número de usuários e do índice de pessoas com 
transtornos mentais. 
O sistema público de saúde já não tem estrutura para atender viciados em drogas lícitas, 
como álcool. 
Definir quem é traficante e quem é usuário de acordo com a quantidade de droga seria 
falho, já que um criminoso também pode transportar quantidades pequenas. 
Por que a lei está sendo contestada? 
A Defensoria Pública, que entrou com recurso extraordinário contra a condenação de um 
réu em Diadema (Grande São Paulo), sustenta que a pena criminal fere os princípios da 
intimidade e da vida privada, previstos na Constituição. O que diz o artigo 5º:'São invioláveis a 
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas' 
Quais serão os efeitos da decisão do STF? 
Apesar de não mudar a lei, o entendimento do Supremo tenderá a ser seguido por outros 
tribunais em casos semelhantes ainda em julgamento. Espera-se que os ministros também 
discutam parâmetros para diferenciar usuários de traficantes 
Um novo entendimento da lei poderia ser aplicado a casos antigos? 
Sim, é possível que condenados peçam a revisão da pena caso se enquadrem nas novas 
regras. As mudanças no ordenamento jurídico só podem alterar condenações judiciais se elas 
forem em benefício do réu. 
147.415 ocorrências por tráfico de drogas foram registradas pela polícia em 2013 no 
país, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 
121.985 ocorrências de uso e posse de drogas foram registradas naquele mesmo ano, de 
acordo com o fórum.

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