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Epidemiologia do envelhecimento Introdução A longevidade é, sem dúvida, um triunfo. Há, no entanto, importantes diferenças entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Enquanto, nos primeiros, o envelhecimento ocorreu associado às melhorias nas condições gerais de vida, nos outros, esse processo acontece de forma rápida, sem tempo para uma reorganização social e da área de saúde adequada para atender às novas demandas emergentes. Para o ano de 2050, a expectativa no Brasil, bem como em todo o mundo, é de que existirão mais idosos que crianças abaixo de 15 anos, fenômeno esse nunca antes observado. O envelhecimento, antes considerado um fenômeno, hoje, faz parte da realidade da maioria das sociedades. O mundo está envelhecendo. Tanto isso é verdade que estima-se para o ano de 2050 que existam cerca de dois bilhões de pessoas com sessenta anos e mais no mundo, a maioria delas vivendo em países em desenvolvimento. O processo de envelhecimento no Brasil está acontecendo de forma intensa. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população idosa totaliza 14,3% dos habitantes brasileiros. Assim, a expectativa de vida aumentou em relação ao ano de 2016 para ambos os sexos, sendo atualmente 79 anos para mulheres e 72 para homens. Assim, acontecendo de forma rápida, esse crescimento representa para alguns uma importante conquista social, resultando nas melhores condições de vida, ampliação de acesso à serviços de saúde, avanço tecnológico e aumento da renda. Contudo, para outros, o processo de envelhecimento ocorre sem tempo para uma reorganização social adequada na área da saúde, tornando o atendimento às demandas emergentes um desafio. O envelhecimento populacional é uma resposta à mudança de alguns indicadores de saúde, especialmente a queda da fecundidade e da mortalidade e o aumento da esperança de vida. Não é homogêneo para todos os seres humanos, sofrendo influência dos processos de discriminação e exclusão associados ao gênero, à etnia, ao racismo, às condições sociais e econômicas, à região geográfica de origem e à localização de moradia. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) define envelhecimento como “um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte”. A estrutura por idade e sexo de uma população, num dado momento, é o resultado da sua dinâmica durante um longo período, isto é, do comportamento dos nascimentos, das mortes e das migrações nos últimos cem anos. É essa estrutura que condiciona a evolução da população, no sentido do seu crescimento, ou não, pois o que determina esse crescimento são a fecundidade e a mortalidade que, por sua vez, estão diretamente relacionados à idade e sexo. A população brasileira, assim como a da América Latina e Caribe, vem sofrendo, nas últimas cinco décadas, transições decorrentes de mudanças nos níveis de mortalidade e fecundidade, em ritmos nunca vistos anteriormente. Essas mudanças fizeram com que a população passasse de um regime demográfico de alta natalidade e alta mortalidade para outro, primeiramente com baixa mortalidade e, a seguir, baixa fecundidade. Isso levou a um envelhecimento da população. Quando se compara a proporção de jovens (menores de 15 anos) no Brasil, no ano de 1940 – 42,6% - com a de 2000 – 29,6% e a proporção de idosos (60 anos e mais) nos mesmos anos, 4,1% e 8,6%, respectivamente, tem-se uma idéia das transformações sofridas pela nossa população. https://ibge.gov.br/ https://ibge.gov.br/ Transição demográfica Passagem de um regime demográfico de alta natalidade e alta mortalidade para outro com baixa natalidade e baixa mortalidade. Embora o envelhecimento da população brasileira já pudesse ser prenunciado no início do século 20, pela queda da mortalidade, só por volta de 1960 é que esse fenômeno se estabeleceu realmente, com a queda brutal da fecundidade, passando de 6,2 filhos por mulher em 1940 para apenas 2,01 em 2007. Se atentarmos para o fato de que 2,1 filhos por mulher é o valor de reposição da população, breve teremos uma população mais envelhecida ainda. O processo de envelhecimento nos países desenvolvidos ocorreu muito tempo depois de eles terem adquirido padrões elevados de vida, reduzido desigualdades sociais e econômicas e implementado um número de estratégias institucionais para compensar os efeitos das desigualdades residuais, ao menos na área de acesso aos serviços de saúde. “Os países desenvolvidos primeiro ficaram ricos e depois envelheceram; nós estamos ficando velhos antes de ficarmos ricos” Em quase todos os países da América Latina e Caribe, um processo de envelhecimento altamente comprimido começa a ocorrer no meio de economias frágeis, níveis altos de pobreza, desigualdades sociais e econômicas e, contraindo mais do que expandindo, o acesso aos serviços e recursos coletivamente financiados. O aumento da longevidade da população idosa está associado com a revolução médica e de saúde pública que provocou o declínio da mortalidade há quase meio século. As pessoas que estão alcançando os 60 anos depois de 2000 são aquelas que vivenciaram todos os benefícios da tecnologia em saúde introduzida durante o período pós Segunda Guerra Mundial, principalmente aquela relativa à sobrevivência na primeira infância. Os idosos nascidos anteriormente à Segunda Guerra, estiveram expostos à desnutrição e outras doenças em uma etapa precoce da vida, diferentemente do que sucede nos países industrializados que foram testemunhas de um aumento estável do padrão de vida. Acredita-se que essa exposição possa ter efeitos fisiológicos duradouros que podem afetar consideravelmente o estado de saúde dos adultos. Por causa da maior esperança de vida das mulheres e da tendência dos homens ao recasamento, as mulheres viúvas ultrapassam dramaticamente os homens viúvos em todos os países. Mulheres idosas que estão sozinhas são altamente vulneráveis à pobreza e isolamento social. Envelhecimento O envelhecimento pode ser compreendido como um processo natural, de diminuição progressiva da reserva funcional dos indivíduos – senescência - o que, em condições normais, não costuma provocar qualquer problema. No entanto, em condições de sobrecarga como, por exemplo, doenças, acidentes e estresse emocional, pode ocasionar uma condição patológica que requeira assistência - senilidade. Cabe ressaltar que certas alterações decorrentes do processo de senescência podem ter seus efeitos minimizados pela assimilação de um estilo de vida mais ativo. Dois grandes erros devem ser continuamente evitados. O primeiro é considerar que todas as alterações que ocorrem com a pessoa idosa sejam decorrentes de seu envelhecimento natural, o que pode impedir a detecção precoce e o tratamento de certas doenças e o segundo é tratar o envelhecimento natural como doença a partir da realização de exames e tratamentos desnecessários, originários de sinais e sintomas que podem ser facilmente explicados pela senescência. O maior desafio na atenção à pessoa idosa é conseguir contribuir para que, apesar das progressivas limitações que possam ocorrer, elas possam redescobrir possibilidades de viver sua própria vida com a máxima qualidade possível. Essa possibilidade aumenta na medida em que a sociedade considera o contexto familiar e social e consegue reconhecer as potencialidades e o valor das pessoas idosas. Portanto, parte das dificuldades das pessoas idosas está mais relacionada a uma cultura que as desvaloriza e limita. A transição epidemiológica é uma teoria focada na complexa mudança dos padrões de saúde e doença e nas interações entre esses padrões e seus determinantes e consequências. Essas mudanças dos padrões dizem respeito à diminuição da mortalidade por doenças infecciosas e aumento das doenças crônicas não-transmissíveis. Atransição da atenção à saúde tem atuado de maneira importante sobre a transição epidemiológica, pois as novas tecnologias têm sido aplicadas à população através do sistema de atenção da saúde. Um dos mecanismos para as mudanças nas principais causas de morte tem sido a redução dos coeficientes de letalidade de algumas doenças. A queda da fecundidade afeta a estrutura da população por idades e repercute no perfil de morbidade, pois a proporção crescente de pessoas de idade avançada aumenta a importância das doenças crônicas e degenerativas. Dessa forma, as doenças passam de um processo agudo que termina em cura ou morte, para um estado crônico que as pessoas sofrem durante longos períodos da vida e que quando não adequadamente controlados podem gerar incapacidades, comprometendo significativamente a qualidade de vida dessas pessoas. Segundo o Ministério da Saúde, o perfil epidemiológico da população idosa tem como característica três cargas de doenças com forte predominância das condições crônicas, dominância de elevada mortalidade e morbidade por condições agudas resultantes de causas externas. Grande parte dos idosos são portadores de disfunções ou doenças orgânicas. Contudo, devemos destacar que tal quadro não significa necessariamente a limitação de atividades, restrição de participação social ou desempenho de papel social. As doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) podem afetar a funcionalidade das pessoas idosas. Estudos mostram que a dependência para o desempenho das atividades de vida diária (AVD) tende a aumentar cerca de 5% na faixa etária de 60 anos para cerca de 50% entre os com 90 ou mais anos. As doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) podem afetar a funcionalidade das pessoas idosas. Estudos mostram que a dependência para o desempenho das atividades de vida diária (AVD) tende a aumentar cerca de 5% na faixa etária de 60 anos para cerca de 50% entre os com 90 ou mais anos. É nesse contexto que a denominada “avaliação funcional” torna-se essencial para o estabelecimento de um diagnóstico, um prognóstico e um julgamento clínico adequados, que servirão de base para as decisões sobre os tratamentos e cuidados necessários às pessoas idosas. É um parâmetro que, associado a outros indicadores de saúde, pode ser utilizado para determinar a efetividade e a eficiência das intervenções propostas. A avaliação funcional busca verificar, de forma sistematizada, em que nível as doenças ou agravos impedem o desempenho, de forma autônoma e independente, das atividades cotidianas ou atividades de vida diária (AVD) das pessoas idosas permitindo o desenvolvimento de um planejamento assistencial mais adequado. Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa Instrumento valioso que auxiliará na identificação das pessoas idosas frágeis ou em risco de fragilização. Para os profissionais de saúde, possibilita o planejamento, organização das ações e um melhor acompanhamento do estado de saúde dessa população. Para as pessoas idosas é um instrumento de cidadania, onde terá em mãos informações relevantes para o melhor acompanhamento de sua saúde. A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa e o Caderno de Atenção Básica Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa representam dois importantes instrumentos de fortalecimento da atenção básica. Pirâmides populacionais Pirâmide jovem - Apresenta base larga e topo estreito; - Típica de países subdesenvolvidos, pois apresentam uma alta natalidade com uma acentuada taxa de mortalidade, além de baixa expectativa de vida. https://saude.gov.br/saude-de-a-z/saude-da-pessoa-idosa https://medicinadiaadia.com.br/tratamento-da-dor-no-idoso-conheca-os-principais-procedimentos/ Pirâmide adulta - Apresenta base mediana com um corpo mais largo e topo em crescimento; - É típica de países em desenvolvimento (exemplo:Brasil). Pirâmide envelhecida - Apresenta uma base estreita, em razão das baixas taxas de natalidade, e um topo mais largo do que o das demais pirâmides por causas das baixas taxas de mortalidade e elevada expectativa de vida: - Países com esse tipo de pirâmide enfrentam problemas com a pequena proporção de População Economicamente Ativa (PEA); - Típica de países desenvolvidos da Europa. O Brasil vem apresentando uma modificação no seu cenário demográfico pela redução da taxa de mortalidade (aumento da qualidade de vida e avanço da medicina) e redução da taxa de fecundidade e natalidade (aumento da jornada da mulher no mercado de trabalho; essas modificações proporcionaram uma mudança na pirâmide populacional brasileira, a qual apresenta uma tendência ao estreitamento da base (população jovem) e alargamento do topo (população idosa). Segundo o IBGE de 2016, o percentual de idoso subiu 8,3% de 1980 até 2015, ano que o percentual foi de 14,3%. O envelhecimento da população brasileira gera um sinal de alerta para as esferas previdenciárias e sociais, pois o Brasil é um país com grande desigualdade. Transições Transição epidemiológica A transição epidemiológica agrande as mudanças ocorridas no tempo nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas. Transição demográfica A transição demográfica afirma que o desenvolvimento econômico e o processo de modernização das sociedades estariam na origem das mudanças nas taxas de natalidade e de mortalidade populacional, tendo como consequência mudanças nos ritmos de crescimento populacional. Em função dos termos da nova equação demográfica (baixa fecundidade e reduzida mortalidade infantil e pré-escolar) a vida média elevou-se, resultando, atualmente, numa expectativa de sobrevivência de 67 anos (IBGE, 2000). A pirâmide populacional, antes formada, em sua maior composição, por crianças, adolescentes e jovens, hoje já apresenta um perfil aproximado do padrão vigente nos países desenvolvidos, com uma participação crescente de pessoas com mais de cinquenta anos nos patamares medianos e superiores de sua estrutura. No Brasil, a transição demográfica e a transição epidemiológica começam com a queda da taxa de mortalidade na década de 1940, devido à redução das doenças infecciosas e parasitárias como causas de óbitos, com a natalidade mantendo-se ainda em níveis elevados até 1960. Transição nutricional A transição nutricional é um processo no tempo que corresponde às mudanças de padrões nutricionais de populações, essencialmente determinadas por alterações na estrutura da dieta e na composição corporal dos indivíduos, resultando em importantes modificações no perfil de saúde e nutrição. No Brasil, a mudança nutricional está relacionada com a industrialização e globalização, processos mundiais que alteraram a vida rural brasileira para uma vida urbana com mudança no estilo de vida proporcionando um mundo capitalista, onde tempo é dinheiro; sendo assim, ocorre uma mudança no perfil alimentar com a substituição de uma dieta balanceada para um dieta rápida rica em açúcares, gordura colesterol e pobre em carboidratos complexos e fibras. A má alimentação somada ao sedentarismo (falta de tempo para atividades físicas) aumenta a prevalência de obesos desencadeando uma uma alta incidência de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e doenças cardiovasculares, as quais afetam a qualidade de vida na fase da velhice. Nos últimos cinquenta anos, são observadas alterações na qualidade e na quantidade da dieta, e, associadas a mudanças no estilo de vida, nas condições econômicas, sociais e demográficas, observam-se repercussões negativas na saúde populacional . Como consequência desses fatos, a prevalência de sobrepeso e da obesidade aumenta consideravelmente e, consequentemente, as doenças crônicas não transmissíveis, principalmente diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e cânceres, acarretando em mudanças no padrão da distribuição das morbimortalidade das populações. A qualidade da alimentação na infânciapode predispor menores mineralização e massa ósseas, resultando em osteoporose, um fator crítico para a incidência de fraturas, que têm grande papel na determinação de incapacidade na idade avançada. Principais agravos da população idosa A população idosa apresenta uma heterogeneidade populacional indicando inúmeros padrões de mortalidades distintos necessitando, assim, de uma planejamento de ações pautadas no conhecimento sobre a saúde da população idosa e o entendimento das necessidades entre as faixas etárias do espectro idoso, formulando as políticas públicas destinadas aos idosos. As políticas públicas precisam estar interligadas com a promoção da saúde para prevenção de doenças prevalentes e voltadas para os idosos de maior idade buscando evitar adoecimento grave e óbitos precoces, afetando, assim, de forma direta, em menores custos para o sistema de saúde e melhor qualidade de vida para população idosa. A intensidade dos efeitos do envelhecimento no indivíduo decorre do equilíbrio entre eventos estressores (agressores) e eventos protetores (adaptativos ou compensatórios). A principal causa de óbito em idosos são as doenças do sistema circulatório. Porém, em idosos mais jovens são as neoplasias, doenças do aparelho digestivo e causas externas; e em idosos de idade mais avançada são as causas mal-definidas e as doenças do aparelho respiratório. Letícia Terruel
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