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Aluno - Fraciele Maciel da Rocha R.A - C75HIJ0 Disciplina - REL PRIV E INTERNET / DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Professor - Carlos Eduardo Volante Data - 18/03/2020 Análise sobre o documentário “A 13ª Emenda” Produzido pela Netflix e dirigido por Ava DuVernay, o documentário “A 13ª Emenda”, lançado em 7 de outubro de 2016, escancara as nítidas relações entre a criminalização e o trabalho escravo, baseadas na segregação racial, preconceito, xenofobia e interesses de grandes corporações. Apesar de evidentes esses fatores, o longa também deixa claro como a difusão do medo tem sido utilizada, há muito tempo, como modo de manipulação e camuflagem de medidas direcionadas para a perpetuação do modo de produção com utilização dos trabalhos forçados. A 13ª Emenda, que dá título ao trabalho de DuVernay, foi um ato legislativo que modificou a constituição estadunidense para abolir a escravidão, a partir de 1865. Todavia, manteve-se, no texto constitucional, a ressalva que autoriza o trabalho escravo para aqueles que forem condenados por crimes. Essa simples exceção à regra tornou possível a migração da grande massa de escravos, que, pós-alforria, transformara-se em subcidadãos. Nesse cenário, crimes como vadiagem ou pequenos furtos passaram a ser punidos severamente com o encarceramento, trazendo de volta as mesmas pessoas para o trabalho compulsório. A autora também mostra como a arte contribuiu para a formação de um imaginário próprio ao fomento dessa tendência de criminalização racial. O filme “O Nascimento de uma Nação”, de 1915, do diretor D. W. Griffith, utilizou-se da imagem do negro como um ser violento e criminoso por natureza. Depois do filme, a Ku Klux Klan tomou força na sociedade americana, passando até a utilizar a forte imagem da cruz em chamas, que teve origem no próprio longa. A perseguição racial, no entanto, não se conteve a esses fatores. Toda a estrutura penal e de segurança pública montada desde o governo Nixon e aprofundada por Reagan fixou- se na estratégia de encarceramento máximo, com o objetivo de dispor de uma ampla mão de obra gratuita que pudesse ser utilizada pela indústria na saída das crises econômicas que se apresentavam. O próprio discurso de combate às drogas caiu como uma luva para as políticas que visavam o aprisionamento em massa. A aplicação seletiva da legislação mostrou-se como um instrumento poderoso nesse cenário. Enquanto brancos tinham penas brandas por porte de quantidades maiores de cocaína (droga considerada “nobre” naquela época), negros eram apenados severamente, quando encontrados com porções menores de crack (substância mais impura, própria de classes mais baixas da sociedade). Assim, confinou- se grande parte da população negra, alimentando o imaginário coletivo construído de um negro, antes escravo, agora criminoso. Foi em reação a toda essa opressão que surgiram movimentos, como o “black power” ou os Panteras Negras, que lutavam pela igualdade social entre negros em brancos nos Estados Unidos. Também nas artes, cantores como Nina Simone, dentre vários outros, versavam e entoavam as vozes daqueles que não podiam ser ouvidos, pois passavam anos de suas vidas atrás das grades, trabalhando gratuitamente como parte de suas penas. Como fruto desses conflitos, observou-se também a migração de grande parcela da população negra para o norte do país, em fuga à violência que se repetia diuturnamente nos estados do sul. O documentário segue mostrando como a iniciativa privada continuou se apropriando dos lucros que os presidiários produziam com seu trabalho escravo. Através de órgãos como o Alec (American Legislative Exchange Council), do qual fazem parte muitos dos congressistas dos EUA, as grandes multinacionais apropriavam-se da estrutura legislativa para propor projetos de seu interesse. Dentre eles, medidas que facilitavam a privatização de penitenciárias, para a utilização dos trabalhos forçados de seus prisioneiros na confecção de produtos e prestação de serviços para muitas das grandes empresas componentes daquele conselho, tais como Walmart, McDonalds, dentre outras. Candidatos à presidência daquele país também são criticados no documentário. Hillary Clinton é mostrada apoiando as leis contra os “superpredadores” na ocasião do governo de seu marido, Bill Clinton. Donald Trump, ainda mais agressivo, se apresenta aos eleitores com discursos muito semelhantes àqueles utilizados pelos antigos governos, que justamente criaram a política de encarceramento, hoje vista como um grande erro da história norte-americana. Ele defende o retorno à pena de morte em todos os estados e se intitulou o candidato “da Lei e da Ordem”, termos utilizados por seus antecessores em uma propaganda de medo perante a população. Essa retórica de Lei e Ordem, popularizada na década de 60, foi em grande parte responsável pela explosão do encarceramento em massa da população americana. De 357.292, em 1970, para 2.306.200, em 2014, o número de pessoas cumprindo penas nas cadeias dos EUA cresce exponencialmente e de forma desproporcional ao aumento demográfico do país. Isso teve também influência das medidas de tolerância mínima e “three strikes and you’re out”, que foram utilizadas ainda para sufocar os movimentos negros que lutavam pela igualdade e pelo fim da criminalização do negro perante a sociedade. Concluindo, é possível notar que o objetivo do filme é mostrar a urgência na reflexão para atitudes e pensamentos que assolam a sociedade estadunidense desde o século XIX. Os mesmos discursos, mesmas violências, mesmos segregacionismos e mesmos preconceitos ainda são perpetuados sob um manto de hipocrisia e medo pelas comunidades, que tratam negros e latinos como cidadãos inferiores na escala de direitos e garantias individuais e sociais.
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