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Funeral de Pátroclo como ressoador bélico

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
CENTRO MULTIDISCIPLINAR DE CARAÚBAS
DEPARTAMENTO DE LINGUAGENS E CIÊNCIAS HUMANAS
LETRAS – PORTUGUÊS 2021.2
MITOLOGIA GRECO-ROMANA
DOCENTE: LIEBERT DE ABREU MUNIZ
DISCENTE: VITÓRIA THAMMY FERNANDES DE ARAÚJO
Funeral de Pátroclo como ressoador bélico.
A morte une e afasta todos os seres humanos desde daqueles que vivem em cenários de paz quanto àqueles que vivenciam a rudeza da guerra. A morte torna-se presente em eventos corriqueiros e/ou bélicos, por essa razão, o medo e o terror constituem o âmago da sua natureza. Os sentimentos e sensações suscitados com relação a morte tende a ultrapassar o real para o ficcional, sendo recorrente em textos literários a temática da morte como fio condutor das narrativas, assim sendo, essa resenha objetiva trazer reflexões sobre a cena do funeral de Pátroclo, na Ilíada, comparando com a pintura de Jacques Louis David, O funeral de Pátroclo[footnoteRef:0]. [0: https://www.wikiart.org/pt/jacques-louis-david/the-funeral-of-patroclus-1778. Acesso em 29/03/2022. ] 
O sociólogo alemão, Norbert Elias (2001, p. 10), afirmou que a “morte é problema dos vivos”, sem dúvidas um raciocínio bastante assertivo, já que as preocupações com o que restou daquele ser tende a ficar com os que ficaram, os vivos. Se considerarmos o contexto da morte de Pátroclo, definitivamente, o problema de sua morte recaiu sobre Aquiles, seu fiel amigo, pois o peso da vingança e de honrar sua memória ficou sobre seus ombros. 
O poema épico da Ilíada narra o último ano da Guerra de Troia, ou seja, o conflitou se arrastou durante 10 anos, porém o poeta Homero cantou o nono ano de guerra. A morte e os rituais fúnebres são recorrentes ao longo dos versos, logo a narrativa trata de vários episódios de batalhas e suas consequências, assim, é apresentado diversos aspectos da vida e morte dos antigos gregos. 
A morte e suas reverberações terrenas podem ser visualizadas a partir do cuidado empreendido por Aquiles com o corpo do amigo morte, mais do que isso, mostra-nos as nuances da tradição e zelo pela honra. A guerra através de sua crueza e mortalidade nos revela como os homens se comportam diante do inevitável e como não estamos preparados para a chegada dela, isso porque sempre imaginamos esticar um pouco nossa permanência entre os nossos. O respeito e a dedicação com os restos mortais de Pátroclo são sinônimos para a preocupação que aqueles homens tinham com o além-vida, além disso, o cuidar da matéria são prerrogativas para a entrada no salão de Hades. 
A morte de Pátroclo se tornou decisiva para o retorno de Aquiles para a guerra, uma vez que o sentimento de revanche e vingança moviam essa decisão há muito esperada pelos seus aliados. É interessante notar como a morte e a destruição dão a movimentação que a guerra possui, sendo que a vida tende a entrar e/ou aparecer num plano subsequente ou secundário no conflito. 
Os preparativos para o funeral de Pátroclo são narrados a partir das honrarias que todo herói requer, pois Aquiles é consciente que o bem-estar além vida de seu amigo depende desses esforços, “Caros e fiéis companheiros, Mirmídones fortes, dos coches não desatemos, ainda, os cavalos de pés muito rápidos, mas, como estamos, armados, à beira do morto fiquemos para chorá-lo, prestando-lhe as honras funéreas devidas. ” (Il, XXIII, v. 6-9, grifo nosso). Os rituais preparatórios para o funeral paralisam os conflitos bélicos, o que nos mostra a relevância e o respeito que os antigos tinham com a morte. 
A partir do verso 13 é revelado algumas ações iniciais que os presentes fazem em respeito ao morto: “Três vezes fazem passar os cavalos à volta do morto. Tétis lhes põe no imo peito vontade incontida de choro. Molha-se a areia com as lágrimas; molham-se as armas dos homens, tão sem rival é o herói, cuja perda, ali, todos choravam. As servas mãos colocando no peito do amigo defunto.” (Il, XXIII, v. 13-17). O pesar acerca da morte é um sentimento comum num cenário de guerra, ainda mais quando o morto é visto como herói, outra questão que faz-se necessária salientar é a importância que algumas mortes são sentidas, isso porque inúmeros homens são mortos, deixando para trás suas famílias e sua vida, porém não recebem honrarias como as de Pátroclo. 
O grande pelida Aquiles jura ao defunto uma série de ações em desfavor de seus inimigos, como: “Ainda que no Hades escuro te encontres, alegra-te, Pátroclo, pois vou cumprir tudo quanto afirmei que fazer haveria. Trouxe arrastado o cadáver de Heitor, para aos cães atirá-lo, e na fogueira sagrada pretendo imolar doze Teucros dos de mais lúcida estirpe, por causa, tão só, de tua morte.” (Il, XXIII, v. 19-23). A punição de Heitor torna-se devastadora, pois além de seu corpo ter sido profanado sua morte não pôde ser chorada e os rituais fúnebres foram negados aos seus entes. Essa vingança ganha grandes consequências para o além-vida do herói troiano, pois a passagem para o reino da morte requer rituais e honrarias ao deus Hades. 
O ritual em favor de Pátroclo além de ter sido servido um banquete houve um campeonato em louvor ao morto. A cerimônia fúnebre contou com participação do deus Apolo e dos Ventos, este conduz nuvens para encobrir o defunto, isso para que o sol não ressecasse o corpo do morto e aqueles contribuíram para que o fogo ficasse aceso. A pira em chamas é um dos momentos mais comoventes da cerimonia, pois, a despedida entre a vida e a morte se cruzam. A decomposição do corpo em cinzas lembra-nos da fragilidade e brevidade iminentes da vida, sobretudo, com relação a guerra e seus efeitos: “Tal como o ancião se lamenta, ao queimar o cadáver do filho recém-casado, que os pais, ao morrer, desditoso deixara: queixa-se Aquiles, assim, quando os ossos do amigo queimava, a suspirar fundamente, arrastando-se em torno da pira.” (Il, XXIII, v. 22-25). 
	A imagem da pira em chamas tornou-se uma visão compartilhada e reproduzida ao longo dos séculos, sendo bastante comum artista buscar retratar visualmente cenas narradas na literatura clássica, dessa forma, o funeral de Pátroclo assenta-se no imaginário do Ocidente de maneira latente, como veremos a seguir na pintura de Jacques Louis David, O funeral de Pátroclo: 
https://www.wikiart.org/pt/jacques-louis-david/the-funeral-of-patroclus-1778. Acesso em 29/03/2022.
 A pintura mostra-nos vários elementos descritos nos versos do canto XXIII, da Ilíada. É possível visualizar o clamor e sofrimento de Aquiles ao se despedir de seu amigo fiel, além disso, vemos os doze mancebos que serão sacrificados. A atmosfera da pintura remente ao peso que a morte impõe a vida dos homens, as cores quentes confirmam tal afirmação. A disseminação da cultura clássica faz-se presente no fazer artístico, logo a cultura revelada pelos textos nos ensina os modos de vida daqueles povos. Tanto a guerra quanto a morte são elementos catalizadores das dores e incertezas da condição humana, o que vai de encontro com os mesmos medos que nos paralisam vez ou outra. Tanto os antigos como os modernos nos mostram as mazelas e consequências que a guerra provoca no ser humano e como este lida com as fragilidades que as ações bélicas provocam.
Referências 
ELIAS, N. A solidão dos moribundos, seguido de, Envelhecer e morrer. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001.
HOMERO. Ilíada. Tradução e introdução Carlos Alberto Nunes. - [25.ed.] - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

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