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INTRODUÇÃO A Pedagogia Montessori tem por princípios a liberdade, a disciplina e a responsabilidade. As crianças aprendem utilizando materiais didáticos especialmente elaborados para desenvolver os aspectos motores, intelectuais, racionais ou sensoriais. MARIA MONTESSORI (1870-1952) Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870, no leste da Itália, na cidade de Chiaravalle. Seus estudos tinham como enfoque as neuropatologias, trabalhando como assistente em uma clínica psiquiátrica, por dois anos, ao estudo das crianças com deficiência intelectual. Em 1898, em um congresso na cidade de Turim, defendeu que crianças com deficiência não precisavam de médicos, mas sim de métodos pedagógicos. Para ela, em vez de internar as crianças com deficiência, seria necessário construir escolas onde, através da observação, possibilitando até mesmo a formação de novos professores. Logo após sua participação no Congresso, seu antigo professor, ministro da Instrução Pública em Roma, chamou-a para realizar palestras sobre o ensino de pessoas com deficiência. Lia tudo, aproveitando todas as sugestões que lhe eram dadas, realizando experiências e trabalhando fortemente na formação dos professores que vinham trabalhar com ela. Usando esse método, consegui que alguns deficientes do manicômio aprendessem a ler e a escrever corretamente; mais tarde, apresentando-se ao exame nas escolas públicas, juntamente com os escolares [sem deficiência], obtiveram aprovação (MONTESSORI, 1965, p. 33). A partir de então, começou a questionar como as crianças com deficiência puderam superar as crianças sem deficiência nos exames realizados. Tais resultados eram tidos como miraculosos pelos observadores. Eu, porém, sabia que se esses alunos [com deficiência] haviam alcançado os escolares [sem deficiência] nos exames públicos era, unicamente, por haverem sido conduzidos por uma via diferente: tinham sido auxiliados no seu desenvolvimento psíquico, enquanto as crianças [sem deficiência] haviam sido, pelo contrário, sufocadas e deprimidas. [...] Enquanto todos admiravam o progresso dos meus alunos, eu meditava sobre as razões que faziam permanecer em tão baixo nível os outros escolares, a ponto de poderem ser alcançados pelos meus alunos nas provas de inteligência. (adaptado de MONTESSORI, 1965, p. 33). Depois de obter estes resultados, Montessori resolveu abandonar a Escola Ortofrênica.Considerando-se incompleta, voltou a estudar, agora o curso de pedagogia e o de psicologia instrumental. Tais foram minhas conclusões. O importante não é observar, mas ‘transformar’. A observação fundará uma nova ciência psicológica; não ‘transformará’, porém, nem alunos nem escolas. Acrescentará alguma coisa às escolas comuns, deixando-as, no entanto, bem como seus métodos de instrução e educação, estacionadas em seu estado primitivo (MONTESSORI, 1965, p. 37). Até que, em 1906, uma empresa que construía prédios pediu sua ajuda para a solução de um problema. Como precisavam sair para trabalhar desde cedo, as crianças ficavam sozinhas, pediram para Montessori que ela criasse alguma forma de entretê-los e mantê-los quietos neste período em que estavam sem os pais. Para isto, ofereceram uma sala em cada bloco e todo o pessoal de que ela precisasse. CASE DEI BAMBINI (Casa das Crianças) Ambientes criados especialmente para o atendimento às crianças, no intuito de melhorar o senso de responsabilidade de cada uma. Mandei construir mesinhas de formas variadas, que não balançam, e tão leves que duas crianças de quatro anos pudessem facilmente transportá-las; cadeirinhas de palha ou de madeira, igualmente bem leves e bonitas, e que fossem uma reprodução, em miniatura, das cadeiras de adultos, mas proporcionadas às crianças. Encomendei “poltroninhas” de madeira com braços largos e “poltroninhas” de vime, mesinhas quadradas para uma só pessoa, e mesas com outros formatos e dimensões [...]. (MONTESSORI, 1965, p. 42-43). Montessori criou, também, pequenos armários com cortinas ou pequenas portas, para que as crianças pudessem abrir e fechar os móveis e ali guardar os seus pertences. “Em cima da cômoda, sobre uma toalha, um aquário com peixinhos vermelhos. Ao longo das paredes, bem baixas, a fim de serem acessíveis às crianças, lousas e pequenos quadros sobre a vida em família, os animais, as flores [...]”. (MONTESSORI, 1965, p. 43). Não discipliná-la no sentido de proibi-la a movimentar-se, mas orientando para que a própria criança adquirisse controle e habilidade dos seus movimentos. Se uma criança deixar cair ruidosamente uma cadeira, terá com este insucesso uma prova evidente de sua própria incapacidade: em bancos, porém, seus movimentos passariam despercebidos. Assim, a criança terá ocasião de se corrigir e, aos poucos, verificaremos o seu progresso (MONTESSORI, 1965, p. 44). De acordo com Montessori (1965), é disciplina do indivíduo que é senhor de seus atos e que sabe seguir uma regra devida. Devemos, pois, interditar à criança tudo o que pode ofender ou prejudicar o próximo, bem como todo gesto grosseiro ou menos decoroso. Tudo o mais – qualquer iniciativa, útil em si mesma ou de algum modo justificável – deverá ser-lhe permitido; mas deverá igualmente ser observada pelo mestre; eis o ponto essencial. (MONTESSORI, 1965, p. 46). A partir dos três anos a criança pode se tornar livre e independente para realizar todas as tarefas. O papel do professor é o de ajudar a criança a avançar, estimulando-a a realizar as tarefas do dia a dia, sozinha. Quando servimos as crianças, cometemos um ato servil para com elas. [...] Uma pessoa que se faz servir com frequência não somente vive em dependência, mas definha na inanição e acaba por perder a sua atividade natural (MONTESSORI, 1965, p. 53, grifos no original).Quando servimos as crianças, cometemos um ato servil para com elas. [...] Uma pessoa que se faz servir com frequência não somente vive em dependência, mas definha na inanição e acaba por perder a sua atividade natural (MONTESSORI, 1965, p. 53, grifos no original). METODOLOGIA Com este pensamento, Montessori criou um programa conhecido como “exercícios de vida prática”, ou “exercícios no ambiente cotidiano”. Em seu livro Pedagogia Científica, 1965, Montessori relata objetos que compunham o ambiente e auxiliavam na realização destes exercícios.“ [...] os objetos estavam dispostos de molde a permitir-lhe atingir um fim determinado. [...] o quadro de madeira ao qual se fixam dois retângulos de tecido. Esses tecidos são unidos ou fechados de diversos modos: com botões, presilhas, laços, fitas, colchetes, fechos automáticos etc. Servem para desenvolver a habilidade os gestos que se fazem ao vestir-se; as duas peças de fazenda devem, primeiramente, ser justapostas com precisão de tal modo que, em ambos os tecidos, haja uma correspondência recíproca entre os buraquinhos por onde há de passar a fita, entre os botões e suas casas, entre os ilhoses e os laços etc. Isso requer da criança variadas manobras, por vezes bem complexas, que a levam a coordenar os gestos sucessivos que terá que fazer, um após o outro (MONTESSORI, 1965, p. 88, grifos no original). Com os exercícios da vida prática, Montessori propõe a estimulação dos músculos por meio de atividades atraentes e do dia a dia. Abrir ou fechar uma porta, uma gaveta, distinguindo bem os vários gestos a fazer: enfiar a chave, mantendo-a em posição vertical; depois virá-la, e, finalmente, puxar a gaveta ou a porta. [...] Abrir convenientemente um livro, folheá-lo, virando as páginas uma a uma. [...] Sentar-se numa cadeira e, em seguida, levantar-se; transportar objetos, parar um instante antes de colocá-los em seu lugar; caminhar evitando obstáculos, isto é: não dando empurrões em pessoas ou coisas [...] Além destes, outra série de gestos integram-se ainda na vida prática da criança: são os que se referem às etiquetas nas relações sociais, tais como saudar alguém, recolher e entregar um objeto seu, caído no chão; evitar passar cortando o passo de outrem, escusar-se etc. (MONTESSORI, 1965, p.89). Para Machado (1980), o ambiente proposto por Montessori educa pelas suas qualidades psicológicas, pelo clima afetivo que favorece uma nova forma de relacionamento entre professor e aluno e dos alunos entre si; Ao utilizar os recursos propostos por Montessori, a criança se constrói, conquistando confiança em si mesma, resolvendo diversas situações que lhe são propostas. Montessori criou a teoria da percepção e criou os materiais didáticos de forma que permitissem ou simularem situações concretas e imediatas, favorecendo a abstração da criança. (Imagem) Ele é formado geralmente por peças de madeira em formato de cubo, placa, barra e cubinhos e é muito utilizado na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental para ensinar as quatro operações fundamentais da matemática. Todos os materiais didáticos desenvolvidos por Montessori foram metodicamente criados e padronizados. Quando a criança se encontra diante do material, ela responde com um trabalho concentrado, sério, que parece extrair o melhor de sua consciência. Parece realmente que as crianças estão atingindo a maior conquista de que seus espíritos são capazes: o material abre à inteligência vias que, nessa idade, seriam inacessíveis sem ele (MONTESSORI, 1969, p. 197-198 apud RÖHRS, 2010, p. 23). De acordo com Montessori (1965), existem momentos em que a criança está mais receptiva a determinadas experiências (aprender a linguagem, ter domínio das relações, etc). PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO MONTESSORI Maria Montessori tentou criar uma ciência da educação, cuja abordagem constituía-se numa ciência da observação, exigindo de todos os participantes do processo educativo uma formação nesses métodos, permitindo maior controle e verificação científica. Para Montessori, cada criança leva dentro de si as potencialidades do homem que será um dia, podendo desenvolver, assim, suas capacidades físicas, emocionais, intelectuais e espirituais ao máximo. Para que isto aconteça, tornava-se necessário: “[...] despertar na consciência do educador o interesse pelas manifestações dos fenômenos naturais em geral, levando-o a amar a natureza e sentir a ansiosa expectativa de todo aquele que aguarda o resultado de uma experiência que preparou com cuidado e carinho” (MONTESSORI, 1965, p. 13, grifos no original). Montessori entende o trabalho do professor como o de um guia: [...] ensinando o manuseio do material, a procura de palavras exatas, orientando cada trabalho; guia ao impedir qualquer desperdício de energia ou, eventualmente, restabelecendo o equilíbrio. Verdadeiro guia no caminho da vida, ele não instiga nem estanca; satisfaz-se com sua tarefa ao indicar a esse valioso peregrino, que é a criança, o caminho certo e seguro (MONTESSORI, 1965, p. 88). De acordo com Montessori (2003), tornar-se um “professor Montessori” é tornar-se um alegre observador, e livrar-se da onipotência. Se o professor puder realmente penetrar no prazer de ver as coisas nascendo e crescendo sob seus próprios olhos e puder vestir-se com o traje da humildade, muitos prazeres – que são negados àqueles que assumem infalibilidade e autoridade diante de uma classe – estarão reservados a ele (MONTESSORI, 2003, p. 123). Para Montessori (2003), o professor torna-se vencedor ao renunciar ao poder e à autoridade, atingindo uma paciência, um imenso interesse em assistir, a paciência de um cientista. O mestre há de ter não só a capacidade de um preparador de laboratório, como também o interesse de um observador ante os fenômenos naturais. Segundo nossa metodologia, deverá ser mais ”paciente” que “ativo”; e sua paciência se alimentará de uma ansiosa curiosidade científica e de respeito pelos fenômenos que há de observar, é necessário que o mestre entenda e viva seu papel de observador [...]. (MONTESSORI, 1965, p. 69). Neste tópico, você aprendeu que: • Montessori nasceu em 1870, na Itália, onde concluiu o curso de medicina. Sempre se interessou pelo ensino de crianças com deficiência. Faleceu em 1952, com 81 anos. • As casas das crianças eram espaços adaptados ao tamanho da criança, de forma a desenvolver o senso de responsabilidade de cada uma. • O papel do professor é ajudar a criança a avançar na própria independência, estimulando-a a realizar, sozinha, as tarefas do dia a dia. • Montessori criou o programa com exercícios da vida diária, para que as crianças pudessem vivenciar a vida real realizando atividades do cotidiano. • Os exercícios propostos por Montessori estimulavam a paciência, a exatidão e a repetição, reforçando a concentração da criança. • Montessori criou diversos materiais didáticos, com o intuito de motivar a criança a ter maior contato com a sua própria consciência. • Os materiais didáticos de Montessori constituem-se em cinco grupos: material sensorial; material de linguagem; material de matemática; material de ciências e material de conteúdo adulto. • Todos os materiais criados por Montessori, que a criança pode escolher livremente, fazem com que ela, mesmo sem saber, desenvolva-se intelectualmente. • Para Montessori, o professor deixa de ser o centro do processo educativo e passa a agir de fora, observando. • Existem períodos sensíveis de aprendizagem, aos quais o professor deve estar atento, a fim de estimular a criança para o aprendizado ao qual está mais sensível. Se o professor deixar passar este período, esta possibilidade de intervenção estará para sempre perdida. • Para Montessori, ser um professor Montessori é tornar-se um alegre observador e livrar-se da onipotência. Deve renunciar ao poder da autoridade, atingindo uma intensa paciência e um imenso interesse em assistir. 1 Para Montessori, o professor tem um papel importante. Qual é esse papel? 2 De que forma a criança aprende na educação Montessori? 3 Montessori nasceu em 1870, na Itália. Sua formação profissional era em: a) ( ) Psicologia. b) ( ) Pedagogia. c) ( ) Educação Especial. d)( ) Medicina. 4 Para Montessori, o papel do professor consistia em: a) ( ) Ajudar a criança em todas as suas atividades. b) ( ) Limitar as atividades das crianças, sob sua condução direta. c) ( ) Ajudar a criança a avançar no caminho da própria independência. d)( ) Servir a criança, poupando-a dos perigos.
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