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Geografia – GEO5 
 TEXTOS – GEO5 – Parte I 
Organizado por Lynch Diplomacia 
LYNCH DIPLOMACIA – ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS PARA O CACD 
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Caderno de Revisão www.lynchdiplomacia.com.br - 2 - 
 
 
 
SUMÁRIO 
_______________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação ......................................................................................................................... 3 
Assertivas 
 
1. Urbanização ................................ ................................................................................. 4 
 
 
Bibliografia .............................................................................................................................. 
 
70 
 
 
 
 
 
 
 
 
LYNCH DIPLOMACIA – ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS PARA O CACD 
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Caderno de Revisão www.lynchdiplomacia.com.br - 3 - 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
_______________________________________________________ 
 
 
 
As assertivas aqui reunidas neste Caderno de Revisão foram 
retiradas da obra que consta na bibliografia. Extraí, em forma de 
assertivas, apenas aquilo que permite reconstruir o texto em toda a sua 
riqueza conceitual, além de preservar certos detalhes necessários para 
uma revisão fiel da obra original. 
 
Todas as assertivas que seguem são rigorosamente 
verdadeiras, uma vez que foram retiradas da obra original, cabendo ao 
organizador do Caderno, apenas a tarefa de construção das assertivas, 
depurando do texto o essencial. 
 
Busca-se assim trazer aos alunos uma oportunidade de revisão 
do conteúdo estudado, para que cada um obtenha o maior nível de 
absorção possível do conteúdo programático do Concurso de 
Admissão à Carreira de Diplomata. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. 
_______________________________________________________ 
Urbanização 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LYNCH DIPLOMACIA – ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS PARA O CACD 
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Caderno de Revisão www.lynchdiplomacia.com.br - 5 - 
 
 
Projeto de Ensino de Geografia – Geografia do Brasil 
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
Demétrio Magnoli & Regina Araújo 
 
Capítulo 10 
 
Urbanização e redes urbanas 
Êxodo rural e urbanização 
 
No Brasil, o processo acelerado de urbanização correspondeu ao período de intensa industrialização do pós-
guerra. A constituição de uma economia de mercado de âmbito nacional, polarizada pelas indústrias 
implantadas no Sudeste, foi o pano de fundo do movimento urbanizador. A formação de um mercado interno 
integrado está na base desse movimento, que se manifesta em todo o país. De acordo com as estatísticas 
oficiais produzidas pelo IBGE, cerca de 81% da população brasileira vivia em cidades no ano 2000, o que 
equivale a um nível de urbanização próximo aos dos países de antiga urbanização da Europa e América do 
Norte Os critérios que definem a população urbana não são universais. Nos países que pertencem à OCDE, 
por exemplo, a densidade demográfica superior a 150 hab./km2 é adotada como parâmetro para que uma 
localidade seja considerada urbana. Se o Brasil adotasse esse mesmo parâmetro, apenas 411 entre os 5.507 
municípios existentes em 2000 seriam considerados urbanos. Nesse caso, a população urbana corresponderia 
a aproximadamente 60% da população total. 
 
A maior parte dos países desenvolvidos adotam critérios funcionais para separar o urbano do rural. Assim, 
uma cidade só é definida como tal se possuir determinados componentes de infra-estrutura e equipamentos 
coletivos — como escolas, postos de saúde, estabelecimentos comerciais, agências bancárias — e funcionar 
como um pólo de distribuição de bens e serviços. 
 
O Brasil não adota critérios funcionais: de acordo com a legislação, é considerada urbana toda a 
população residente nas sedes de município ou de distrito e nas demais áreas definidas como urbanas pelas 
legislações municipais. Por isso, alguns estudiosos acreditam que o Brasil tenha um nível de urbanização 
menor do que o revelado pelas estatísticas do IBGE (veja o boxe). Essa análise sustenta a posição de que o 
poder público deveria direcionar uma parcela maior de recursos para os programas sociais voltados para a 
população rural. 
 
O processo de urbanização brasileiro apoiou-se essencialmente no êxodo rural, ou seja, na transferência de 
populações do meio rural para as cidades. O êxodo rural envolve dois condicionantes interligados: a 
repulsão da força de trabalho do campo e a atração da força de 
trabalho para as cidades. 
 
A migração rural-urbana tem como condição prévia a formação de uma superpopulação relativa no campo. 
Essa superpopulação relativa é a força de trabalho excedente, que perdeu os meios de sobrevivência no setor 
agropecuário, em conseqüência, principalmente, da modernização técnica do trabalho rural, com a 
substituição do homem pela máquina. 
 
Outra causa da formação dessa superpopulação relativa é a persistência de uma estrutura fundiária 
concentradora: o monopólio das terras por uma elite resulta na carência de terras para a maioria dos 
trabalhadores rurais. Essa carência—que é econômica e social, mas não física—manifesta-se pela extrema 
subdivisão e parcelamento das propriedades em determinadas áreas, em função do crescimento das famílias 
camponesas. A continuidade do crescimento populacional gera uma pressão demográfica sobre a terra, cuja 
válvula de escape é o movimento migratório. 
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A urbanização, porém não constitui simplesmenteum fenômeno demográfico: o meio urbano distingue-se do 
meio rural pela dissolução da unidade familiar de trabalho e pela difusão das relações econômicas de 
mercado; nas cidades, os modos de vida e as culturas tradicionais também se dissolvem, tragados pelos 
fluxos de informações e pelos produtos da cultura de 
massas. 
 
Uma urbanização desigual 
 
O processo de urbanização é geral mas não é regionalmente uniforme. Do ponto de vista regional, registram-
se fortes diferenças no ritmo da transferência da população do meio rural para o meio urbano (fig. 3). As 
desigualdades no ritmo da urbanização refletem as disparidades econômicas regionais e a própria inserção 
diferenciada de cada região na economia nacional. No Sudeste, a população urbana ultrapassou a rural na 
década de 1950. A fase de urbanização acelerada encerrou-se há duas décadas. A elevada participação da 
população urbana no conjunto da população regional expressa um estágio avançado de modernização 
econômica, com profunda transformação da economia rural e subordinação da agropecuária à indústria. 
Expressa também o peso decisivo da economia urbana na produção da riqueza. 
 
O Centro-Oeste e o Sul percorreram trajetórias diferentes, que conduziram ao mesmo resultado: uma elevada 
concentração populacional no meio urbano. A urbanização do Centro-Oeste foi impulsionada pela fundação 
de Brasília, em 1960, e pelas rodovias de integração nacional que interligaram a nova capital com o Sudeste, 
de um lado, e com a Amazônia, de outro. A ocupação do espaço rural por grandes propriedades voltadas para 
a pecuária e as culturas de soja e cereais acentuou a tendência à urbanização. Desde o final da década de 
1960, o Centro-Oeste tornou-se a segunda região mais urbanizada do país. 
 
A Região Sul, pelo contrário, conheceu uma urbanização lenta e limitada até o início da década de 1970. A 
estrutura agrária baseada na propriedade familiar e policultora, ancorada no parcelamento da terra nas áreas 
de planaltos subtropicais, restringia a transferência da população para o meio urbano. Depois, a mecanização 
acelerada da agricultura e a concentração da propriedade fundiária impulsionaram o êxodo rural. 
 
No Nordeste, a trajetória da urbanização permaneceu relativamente lenta ao longo de todo o intervalo. A 
estrutura agrária assentada sobre minifúndios familiares, na faixa do Agreste, contribuiu para reter a força de 
trabalho no campo e controlar o ritmo do êxodo rural. As baixas capitalização e produtividade do setor 
agrícola limitaram a repulsão da população rural, enquanto o insuficiente desenvolvimento do mercado 
regional reduziu a atração exercida pelas cidades. 
 
Ocorreu no Nordeste intenso êxodo rural, que não transparece nas estatísticas regionais. Durante décadas, o 
movimento migratório para o Sudeste transferiu populações do campo nordestino para as cidades de São 
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesse caso, êxodo rural e migração interregional configuraram um 
fenômeno integrado, atrás do qual se encontra o processo de modernização urbano-industrial da economia 
brasileira. 
 
A Região Norte foi a segunda mais urbanizada do país há algumas décadas, tendo se transformado na menos 
urbanizada na década de 1980. Na realidade, a elevada participação da população urbana, até o final da 
década de 1960, refletia unicamente a reduzida população total da região, bastante concentrada nas cidades 
de Belém e Manaus. O fluxo de migrantes e as frentes pioneiras agrícolas abertas na Amazônia restringiram, 
nas últimas décadas, o crescimento relativo da população urbana regional. 
 
 
 
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A mancha de maiores níveis de urbanização estende-se de São Paulo e Rio de Janeiro para os estados de 
Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul, abrangendo quase todo o Centro-Sul. 
Nessas unidades da federação, a transferência da população para o meio urbano encontra-se na sua etapa 
final. 
 
Os menores níveis de urbanização aparecem em estados nordestinos e da Amazônia. Na maior parte deles, o 
ritmo do êxodo rural tende a intensificar-se nas próximas décadas. Alguns — como o Pará, o Maranhão e a 
Bahia — exibem ritmo lento de urbanização devido à continuidade da abertura de frentes pioneiras agrícolas 
que atraem migrantes de outros estados 
do país. 
 
O espaço de redes: as cidades e os fluxos 
 
O espaço geográfico abrange as redes formadas pelos complexos sistemas de fluxos de pessoas, bens, 
serviços, capitais e informações, que caracterizam a sociedade contemporânea. Nas redes urbanas, as cidades 
desempenham a função de nós, ou vértices, desses sistemas de fluxos. 
 
A função de cada cidade na rede urbana derivada sua capacidade de oferecer bens e serviços para um 
mercado consumidor amplo, que ultrapassa os limites do próprio núcleo urbano. Assim, constitui-se uma 
hierarquia de cidades, na qual o grau de importância de cada uma depende da amplitude do espaço 
geográfico submetido à sua influência. 
 
Considerando apenas a sua configuração material, uma rede pode ser definida como "toda a infra-estrutura, 
permitindo o transporte de matéria, de energia ou de informação, e que se inscreve sobre um território onde 
se caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão, seus 
nós de bifurcação ou de comunicação. 
 
No nível mais baixo da hierarquia estão as cidades produtoras dos bens e serviços mais procurados pela 
população para a sua reprodução social cotidiana, tais como alimentos, vestuário, centrais telefônicas e 
postos de saúde. Contudo, tanto a população rural como a das pequenas cidades precisam se deslocar para 
cidades de médio porte quando buscam bens e serviços menos comuns. Revendedoras de automóveis e 
máquinas agrícolas, lojas de eletrônicos e escolas de ensino médio são encontradas nos centros sub-
regionais. 
 
Os centros regionais, por sua vez, abrigam centros universitários, grandes hospitais, médicos e dentistas 
especializados, escritórios de advocacia, escolas de alto padrão, retransmissoras de televisão e shopping-
centers, que atraem e polarizam um mercado consumidor relativamente mais amplo. 
 
Os bens e serviços mais sofisticados são oferecidos apenas pelas principais cidades do país: as metrópoles. 
Essas cidades, que estão no topo da hierarquia urbana, abrigam complexos hospitalares de alto padrão, 
centros de pesquisa científica, aeroportos internacionais, luxuosas redes hoteleiras, uma teia completa de 
atacadistas e varejistas, sedes de grandes bancos e empresas transnacionais. A sua influência estende-se, 
difusamente, por vastas áreas do território nacional. 
 
 
Os lugares centrais 
 
De acordo com o IBGE, o Brasil tem suas metrópoles globais: São Paulo e Rio de Janeiro. De fato, essas 
cidades concentram as sedes de empresas transnacionais e conglomerados financeiros instalados no país, e 
funcionam como nódulos dos sistemas de fluxos mais dinâmicos da era da revolução tecnocientífica e da 
"economia da informação". Além disso, a influência de ambas manifesta-se em todo o território nacional. 
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O conceito de metrópole global não parece adequado para o Rio de Janeiro: a influência da cidade 
experimenta retração histórica, atingida negativamente pela privatização de empresas estatais que mantinham 
as suas sedes na antiga capital. 
 
O fenômeno da cidade global não pode ser reduzido a alguns núcleos urbanos no topo da hierarquia. É um 
processo que conecta serviços avançados, centros produtores e mercados em uma rede global com 
intensidade diferente e em diferente escala. 
 
Há poucas décadas, a influência das cidades difundia-se, principalmente, por meio de arcos de transmissão 
formados pelas vias de transporte. Na economia industrial, a rede urbana estava firmemente condicionada 
pela rede física de rodovias, ferrovias e hidrovias. Por isso, era mais ou menos fácil definir espaços 
geográficos contínuos sob a polarização predominante de cada centro urbano. 
 
A revolução da informação tornou mais complexas a hierarquia e a polarização. Atualmente, por meio das 
telecomunicações e da internet, mesmo as cidades que ocupam os níveis mais baixos da hierarquia urbana 
relacionam-se intensa e diretamente com as principais metrópoles, utilizando os serviços e os bens 
distribuídos por instituições e empresas instaladas nos lugares centrais. A influência dos centros regionais e 
sub-regionais não desaparece, mas se combina e se subordina à das metrópoles, manifestando-se com mais 
força nos sistemas de fluxos tradicionais. 
 
O papel cada vez mais decisivo dos fluxos informacionais, ou simbólicos, reduziu a importância da rede de 
transportes na polarização urbana. Ao mesmo tempo, intensificou-se a importância da rede de comunicações. 
Um produto dessas mudanças consiste no caráter descontínuo do espaço geográfico polarizado por cada 
centro urbano. Outro, consiste na superposição espacial da influência de várias cidades. 
 
No Sudeste, destaca-se como metrópole nacional a cidade de Belo Horizonte. No passado, a influência da 
capital administrativa mineira, criada para afirmar o poder econômico e político do estado, foi bastante 
restringida pelo poder de polarização de São Paulo e Rio de Janeiro. Mais recentemente, Belo Horizonte 
consolidou a sua polarização sobre Minas Gerais e passou a concorrer com o Rio de Janeiro pela influência 
sobre o Espírito Santo. Além disso, tornou-se um pólo significativo para certas áreas da Bahia e da 
Amazônia. 
 
Os fluxos de migrantes do Brasil meridional para o Centro-Oeste, a Amazônia e algumas áreas do interior da 
Bahia contribuem para alastrar a influência das metrópoles meridionais. Os investimentos investimentos dos 
agricultores paranaenses, gaúchos e catarinenses, bem como os laços familiares e culturais com a região de 
origem definem circuitos de relações especialmente significativos para o Mato Grosso do Sul, o Mato 
Grosso, Rondônia e o sul do Pará. 
 
Salvador, Embora polarize de modo predominante a Bahia, sofre a concorrência de Belo Horizonte, em 
vastas áreas do sul e do interior do estado, e de Recife, em trechos do vale do Rio São Francisco. A capital 
cearense e, em grau menor, as capitais pernambucana e baiana exercem alguma influência sobre áreas da 
Amazônia onde se concentram populações de origem nordestina. 
 
No passado recente, Belém era a única metrópole regional da Amazônia. Contudo, o crescimento industrial 
de Manaus alterou esse panorama. A capital do Amazonas tornou-se um pólo significativo de comércio, e 
serviços e atingiu a condição de metrópole regional. 
 
Atualmente, a influência direta de Belém praticamente se restringe à Amazônia oriental. A polarização de 
Manaus, embora limitada em intensidade pelo isolamento das populações do interior, alcança grande parte da 
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Amazônia ocidental. Através do vale do Rio Amazonas e de seus tributários, Manaus disputa com Belém 
áreas de atuação na parte ocidental do Pará. 
 
No Centro-Oeste, Brasília destaca-se como metrópole nacional, principalmente devido à sua função de 
capital política. O setor de bens e serviços, entretanto, desenvolveu-se de modo endógeno, orientando-se para 
o mercado consumidor da própria aglomeração urbana. Por isso, a sua capacidade de polarização regional 
revelou-se limitada. Goiânia, por seu turno, firmou-se como metrópole regional e desenvolveu forte 
capacidade de polarização no seu próprio estado. 
 
O eixo da Rodovia Belém—Brasília difundiu a influência de Goiânia para o Tocantins e o sul e leste do Pará, 
onde rivaliza com Belém e, em menor escala, com Brasília. No Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso, a 
polarização de São Paulo é hegemônica. 
 
 
Redes urbanas regionais 
 
Belo Horizonte, reforçando a sua capacidade de polarização, rivaliza com São Paulo no Triângulo Mineiro 
(onde Uberlândia e Uberaba funcionam como centros sub-regionais) e no sul de Minas Gerais. A capital 
estadual exerce influência crescente sobre a Zona da Mata Mineira, onde se destaca o centro sub-regional de 
Juiz de Fora, que já esteve sob a polaridade hegemônica do Rio de Janeiro. As influências concorrentes do 
Rio de Janeiro e de Belo Horizonte manifestam-se no Espírito Santo, onde Vitória desempenha a função de 
centro regional. 
 
Com a solitária exceção de Teresina, as demais capitais estaduais, que funcionam como centros regionais, 
também situam-se na fachada costeira. 
 
A sub-região do Agreste abriga centros sub-regionais, como Campina Grande, na Paraíba, Feira de Santana e 
Vitória da Conquista, na Bahia, e Caruaru, em Pernambuco. Essas cidades médias, conhecidas como 
"capitais do Agreste", consolidaram a sua influência atuando como nós comerciais entre a economia 
policultora do interior e as metrópoles nacionais do litoral. A tradicional região cacaueira do sul da Bahia 
conhece as polaridades concorrentes de dois centros sub-regionais: Ilhéus, um centro portuário, e Itabuna, 
um entreposto comercial interior. 
 
No Sertão, as raras cidades médias funcionam como centros sub-regionais que polarizam vastas áreas pouco 
diferenciadas. É o caso de Juazeiro do Norte e Grato, no Cariri cearense, assim como de Petrolina (PE) e 
Juazeiro (BA), situadas frente a frente, em margens opostas do Rio São Francisco. 
 
A rede urbana do Brasil central foi inteiramente remodelada no pós-guerra, com a construção das rodovias de 
integração nacional. Goiânia e Brasília, as metrópoles nacionais, e os centros regionais de Campo Grande e 
Cuiabá situam-se sobre os grandes eixos viários. Os centros sub-regionais que exibem forte crescimento — 
como Dourados (MS), Rondonópolis (MT) e Anápolis (GO) — estão também situados nesses eixos. No 
estado de Tocantins, a expansão acelerada dos núcleos urbanos do eixo da Rodovia Belém—Brasília 
contrasta com a estagnação das pequenas cidades distantes da grande via de circulação. 
 
Megacidades: os espaços metropolitanos 
 
O processo de urbanização brasileiro foi essencialmente concentrador. Em 1950, o Brasil tinha três cidades 
de grande porte: apenas o Rio de Janeiro, São Paulo e Recife abrigavam mais de 500 mil habitantes. Em 
2000, nada menos que 30 aglomerações urbanas já tinham ultrapassado a marca de meio milhão de 
habitantes. Aproximadamente 57 milhões de pessoas habitavam essas grandes cidades. Em 1950, existiam 35 
cidades de porte médio, no intervalo de100 mil a 500 mil habitantes; em 2000, já havia mais de 190. 
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A urbanização brasileira distingue-se radicalmente da européia. Na Europa, a industrialização dinamizou, 
desde o fim do século XVIII, numerosas cidades comerciais de origem medieval. As aglomerações 
metropolitanas do continente assentam-se sobre uma vasta rede de cidades médias e pequenas, que 
constituem o traço característico do universo urbano de países como a Itália, a França, a Alemanha, a Grã-
Bretanha e a Holanda. 
 
No Brasil, a estruturação colonial do espaço geográfico gerou os embriões de algumas metrópoles, como o 
Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Mas o caráter concentrador da urbanização foi, essencialmente, um 
reflexo das condições em que ocorreu a modernização da economia do país. Desde a década de 1930 e, ainda 
mais, no pós-guerra, a industrialização baseou-se em investimentos volumosos de capital, realizados pelo 
Estado, pelas transnacionais ou por conglomerados privados nacionais. 
 
A natureza monopolista dos principais empreendimentos econômicos correspondeu a uma concentração dos 
recursos produtivos e da oferta de empregos em determinados pontos do território. 
 
Um número reduzido de cidades, que apresentavam vantagens prévias, tornou-se alvo dos investimentos. 
Essas aglomerações evoluíram como pólos de atração demográfica e grandes mercados consumidores. A 
concentração económica determinou a aglomeração espacial: metropolização. 
 
Mais recentemente, registra-se atenuação do crescimento das maiores cidades. O crescimento vegetativo 
diminuiu, o ritmo das migrações interregionais reduziu-se sensivelmente e o padrão do êxodo rural 
modificou-se. O poder de atração das cidades médias — centros regionais e sub-regionais — tornou-se maior 
que o das metrópoles. Essa nova tendência continua a gerar metropolização: as cidades médias de hoje serão 
metrópoles no futuro próximo. 
 
As metrópoles e a gestão pública 
 
O fenômeno da conurbação impulsionou a metropolização. A expansão econômica das metrópoles produziu, 
ao mesmo tempo, crescimento demográfico do núcleo urbano central e dos núcleos situados no seu entorno. 
Em alguns casos, a integração das manchas urbanizadas realizou-se fisicamente, de modo que as estradas que 
ligavam núcleos próximos foram incorporadas como avenidas à circulação viária metropolitana. Em outros, 
as manchas urbanizadas permanecem separadas por áreas rurais, mas ocorreu completa integração funcional 
(Integração gerada por fluxos pendulares diários de trabalhadores). 
 
A Lei Complementar na 14, de 1973, reconheceu os desafios gerados pelo processo de conurbação e criou a 
noção de região metropolitana. As regiões metropolitanas foram definidas como estruturas territoriais 
especiais, formadas pelas principais cidades do país e pelas aglomerações a elas conurbadas. Tais estruturas 
deveriam configurar unidades de planejamento do desenvolvimento urbano. 
 
Os processos de metropolização e conurbação geraram um descompasso entre os limites municipais e a 
mancha urbanizada. Os primeiros definem o território administrado pelo poder público municipal. A segunda 
é a expressão geográfica da cidade real. Os problemas de infraestrutura viária, transportes, abastecimento de 
água, saneamento, coleta e tratamento de lixo da cidade real manifestam-se nos diversos municípios 
conurbados. A gestão integrada desses e de outros serviços públicos escapa à competência política das 
prefeituras municipais. 
 
A noção de região metropolitana é uma resposta a esse descompasso. Destina-se a fornecer um quadro 
administrativo adequado para o planejamento urbano nas metrópoles. Originalmente, a noção foi aplicada às 
nove maiores aglomerações urbanas do país. A população total dessas megacidades corresponde a cerca de 
30% da população brasileira. 
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No ano 2000, cerca de 60% da população das megacidades habitava os núcleos urbanos centrais, enquanto 
40% residia nos núcleos periféricos. Mas a média camufla as diferenças: na Grande Salvador, a capital 
baiana concentra mais de 80% da população metropolitana, enquanto na Grande Porto Alegre os municípios 
periféricos abrigam nada menos que 60% da população total. 
 
A Grande São Paulo, terceira maior metrópole 4" do mundo, sintetiza a dimensão dos desafios de 
planejamento metropolitano. Nos seus 39 municípios, abriga quase 18 milhões de habitantes, algo em torno 
de 10% da população nacional e perto de um quarto da população total das regiões metropolitanas 
brasileiras. O lixo coletado diariamente está em torno de 16 mil toneladas, o número de veículos supera 6 
milhões e ocorrem cerca de 11,5 milhões de viagens/dia em transportes coletivos. A população favelada é de 
aproximadamente l milhão. 
 
Entre as regiões metropolitanas criadas na década de 1990, seis são nucleadas por capitais estaduais: São 
Luís, Maceió, Goiânia, Vitória, Natal e Florianópolis. No estado de Santa Catarina, foram estabelecidas 
outras duas: a do Vale do Itajaí, nucleada por Blumenau, e a do Norte/Nordeste catarinense, nucleada por 
Joinville. No norte do Paraná, criaram-se mais duas, nucleadas por Londrina e Maringá. No estado de Minas 
Gerais foi estabelecida a Região Metropolitana do Vale do Aço, onde o principal município é Ipatinga. No 
estado de São Paulo foram criadas as regiões metropolitanas da Baixada Santista, em torno de Santos, e a de 
Campinas. 
 
O descompasso entre a integração funcional dos núcleos urbanos e os limites políticoadministrativos 
aparece, ainda mais nitidamente, no caso de Brasília e das cidades próximas, localizadas nos estados 
vizinhos. Nesse caso, foi instituída a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, 
que é um quadro de planejamento urbano conjunto, que abrange os governos de Goiás, Minas Gerais e do 
próprio Distrito Federal. 
 
 
A megalópole e a metrópole expandida 
 
São Paulo e Rio de Janeiro, separadas por aproximadamente apenas 400 quilômetros, configuram o principal 
eixo econômico do país. A expansão das suas regiões metropolitanas e das cidades localizadas sobre o eixo 
de circulação que as conecta aponta para o surgimento da primeira megalópole (Grande região 
extensivamente urbanizada, constituída em um espaço polarizado por duas ou mais metrópoles) do país. 
 
São Paulo e Rio de Janeiro estão conectados por eixos de circulação rodoviários e ferroviários estabelecidos 
no Vale do Paraíba. Ao longo desses eixos eixos, adensa-se o espaço urbanizado, que está sob o comando 
das metrópoles. Na parte paulista do Vale, destacam-se os centros industriais de São José dos Campos e 
Taubaté. Na parte fluminense, situa-se o grande pólo siderúrgico de Volta Redonda. Outros centros 
industriais — como Jacareí (SP), Guaratinguetá (SP), Resende (RJ) e Barra Mansa (RJ) — dinamizam os 
fluxos da megalópole em formação. 
 
Os problemas de circulação da megalópoledecorrem da intensidade dos fluxos gerados pela concentração 
urbana e industrial. Mas esses problemas são agravados pela presença de pólos de turismo de praia, que 
geram tráfego na Serra do Mar, e de turismo de montanha, que geram tráfego na Serra da Mantiqueira (veja o 
boxe). A duplicação da Rodovia Presidente Dutra é insuficiente para conferir fluidez aos deslocamentos de 
pessoas e mercadorias ao longo do eixo. A ampliação dos serviços da ponte aérea entre as metrópoles está 
limitada pela capacidade dos aeroportos existentes. O projeto de modernização ferroviária e implantação de 
um trem-bala surge como alternativa para descongestionar o transporte de pessoas e mercadorias na 
megalópole. 
 
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A megalópole distingue-se das regiões metropolitanas pela sua escala espacial e por um grau muito mais 
baixo de integração funcional entre as cidades situadas no seu interior. Por isso, não constitui uma estrutura 
territorial de gestão pública, embora deva ser levada em conta no planejamento regional. 
 
Na porção leste do estado de São Paulo, o fenômeno da urbanização extensiva manifesta-se na configuração 
de outro sistema de cidades de escala similar à da megalópole. Trata-se da metrópole expandida, ou macro-
metrópole, que ocupa a área centralizada pela Região Metropolitana de São Paulo e limitada pelos três 
grandes centros urbanos circundantes. A metrópole expandida abrange, no seu interior, as regiões 
metropolitanas de São Paulo, da Baixada Santista e de Campinas. 
 
O arcabouço básico da metrópole expandida assenta-se sobre os eixos de circulação que ligam a aglomeração 
urbana de São Paulo a Campinas, a noroeste, Santos, a sudeste, São José dos Campos, a nordeste, e 
Sorocaba, a sudoeste (fig. 15). O seu raio máximo é de aproximadamente 100 quilômetros, distância 
rodoviária entre São Paulo e Campinas. 
 
A urbanização extensiva no espaço macro-metropolitano dinamiza processos de valorização imobiliária, 
ligados à concorrência entre diferentes usos do solo. Os usos industriais, residenciais e de lazer, que 
competem entre si, tendem a expulsar os usos agrícolas tradicionais. Os mananciais que fornecem água são 
duramente disputados pelas dezenas de cidades da metrópole expandida e sofrem os efeitos das descargas 
industriais. A expansão horizontal das periferias residenciais de baixa renda realiza-se de modo 
descontrolado, sob o impulso da especulação imobiliária. Esse processo se materializa em loteamentos 
irregulares em áreas de proteção de mananciais. 
 
A megalópole e a metrópole expandida são produtos do fenômeno da "urbanização total", que ocorre em 
diversas áreas do planeta. No Sudeste brasileiro, esse fenômeno gera desafios de planejamento regional cuja 
magnitude está associada à difusão da pobreza e à limitada capacidade de investimento do poder público. 
 
Uma nova divisão regional para o Brasil? 
 
"O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Esse é o título da obra de Milton Santos e Maria 
Laura Silveira (Rio de Janeiro: Record, 2001). Milton Santos, o mais importante geógrafo brasileiro, 
desenvolveu, em A natureza do espaço, o conceito de meio técnico- científico-informacional. Na sua nova 
obra, o conceito desdobra-se na análise do território brasileiro e conduz à proposta de mudança da divisão 
regional do país. 
 
O meio técnico é um produto da era industrial. Caracteriza-se pela 'emergência do espaço mecanizado', ou 
seja, por sistemas técnicos que se sobrepõem ao meio natural. A imagem das regiões industriais européias e 
das redes ferroviárias que as conectam às minas de carvão ajuda a delinear o conceito. 
 
O meio técnico-científico-informacional é 'a expressão geográfica da globalização'. As redes de informação 
difundem-se, desigualmente, para o mundo inteiro. O 'mundo artificial' rompe os limites das cidades e passa 
a abarcar o meio rural. 'Cria-se um verdadeiro tecnocosmo, uma situação em que a natureza natural, onde ela 
ainda existe, tende a recuar, às vezes brutalmente. A imagem dos cabos de fibra óptica, ancorados no leito 
oceânico ou enterrados sob os canteiros das rodovias, proporciona uma primeira aproximação do conceito. 
 
Na era da revolução tecnocientífica, os territórios são reestruturados pelas infra-estruturas que sustentam 
redes de informação e passam a desempenhar novas funções na economia de fluxos globalizada. O ingresso 
do Brasil na era da informação impulsiona uma atualização do seu território. A nova regionalização proposta 
destina-se a captar a transformação em curso. 
 
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A divisão regional é a síntese de um discurso. A atual divisão oficial, elaborada pelo IBGE em 1969 e 
adaptada aos desmembramentos de estados posteriores, reflete as percepções sobre a industrialização 
acelerada do pós-guerra. Esse processo aprofundava as desigualdades regionais e concentrava meios de 
produção e infra-estruturas de circulação nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O 
Espírito Santo, através dos terminais portuários, anexava-se ao espaço siderúrgico mineiro. 
 
O Sudeste, sob o comando de São Paulo, emergia como pólo industrial nacional. O Sul aprofundava a sua 
vocação agrícola, assentada na estrutura fundiária gerada pela imigração européia do século XIX. O Nordeste 
vergavase sob longa estagnação económica, traduzida nos fluxos de migrantes que se dirigiam para as 
metrópoles industriais. O Centro-Oeste e a Amazônia apareciam como vastos 'desertos humanos', abertos à 
expansão do povoamento. 
 
Em 1967, enquanto o IBGE conduzia os estudos que resultaram na regionalização oficial, o geógrafo Pedro 
Pinchas Geiger lançava a proposta da divisão do território nacional em três complexos regionais. Atrás da 
proposta, erguia-se o vulto de Brasília, inaugurada em 1960. 
 
O Centro-Sul delineava o Brasil moderno, gerado pela conexão do pólo do Sudeste com o Sul e a porção 
meridional do Centro-Oeste. O Nordeste materializava a inércia de um espaço ancorado ainda nas estruturas 
sociais do passado. A Amazônia abria-se como fronteira demográfica e de recursos. 
 
A divisão em complexos regionais ignorou os limites das unidades da federação. Dessa forma, conseguiu 
captar o impacto espacial do planejamento regional e territorial. O norte de Minas Gerais, abrangido na área 
de atuação da Sudene, foi incorporado ao complexo nordestino. O oeste do Maranhão e o norte de Mato 
Grosso e Goiás (atual Tocantins), abrangidos na área de atuação da Sudam, foram incorporados ao complexo 
amazônico. 
 
Nem cinco, nem três: quatro 'brasis'. A regionalização sugerida por Milton Santos e Maria Laura Silveira 
pretende registrar a 'difusão diferencial do meio técnico-científico-informacional' (figura da página anterior). 
A idéia de Região Concentrada não é nova. O próprio Milton Santos, junto com Ana Clara Torres Ribeiro, 
sugeriu o uso da denominação em 1979. A novidade está na elucidaçãodo conceito pela sua conexão com a 
implantação das infraestruturas e das redes de informação que veiculam a revolução tecnocientífica. 
 
A Região Concentrada caracteriza-se pela densidade do sistema de relações que intensifica os fluxos de 
mercadorias, capitais e informações. Seu núcleo é a metrópole paulista, que desempenha funções de cidade 
global e reforça o comando sobre o território nacional. A soldagem do Sul ao Sudeste reflete a 
descentralização industrial recente e a implantação de 
infra-estruturas técnicas que a sustentam. 
 
O Centro-Oeste emerge como área de ocupação periférica, fundada na especialização agropecuária e na 
modernização subordinada às necessidades das firmas que têm sede na Região Concentrada. O estado de 
Tocantins, estranhamente deslocado para a Região Norte pela Constituição de 1988, reincorpora-se ao 
Centro-Oeste. 
 
O Nordeste define-se pelo peso das heranças: é uma área de povoamento antigo, onde a constituição do meio 
mecanizado se deu de forma pontual e pouco densa'. A rugosidade do espaço geográfico retarda os fluxos. A 
instalação das infra-estruturas e redes informacionais realiza-se de modo descontínuo, 'sobre um quadro 
socioespacial praticamente engessado. 
 
A Amazônia caracteriza-se pela rarefação demográfica e baixa densidade técnica. Os sistemas 
informacionais aparecem como formas externas, representadas, por exemplo, pelos satélites e radares do 
Sivam. Os grandes projetos estruturam enclaves, isolados num meio prémecânico. 
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O Maranhão, conectado ao Projeto dos Pólos de Alumínio, poderia ser incluído na Amazônia, mas 
misteriosamente os autores preferiram conservá-lo no Nordeste. 
 
A nova proposta de divisão regional é uma síntese sedutora de um discurso geográfico sobre o Brasil e a 
globalização. Seu ponto de partida é o anacronismo dos discursos elaborados há mais de três décadas. Vale a 
pena prosseguir o debate." 
 
 
Capítulo 16 
 
O espaço das cidades 
O tecido urbano 
 
 
As metrópoles são, antes de tudo, um produto da economia terciária. O Setor Terciário não é apenas o centro 
econômico da vida da metrópole, mas as metrópoles não têm um único centro comercial controla também o 
centro geográfico de seu terri- ciai, mas vários. Nos bairros afastados do centro. O chamado Centro 
Comercial e de Serviços principal formam-se subcentros comerciais menos — área em que predominam 
edifícios de lojas completos e diversificados, que atendem a mercacritórios e bancos — comanda os fluxos 
da cidade. 
 
Com o crescimento das cidades e a ampliação dos mercados consumidores, criaram-se as condições para a 
multiplicação dos subcentros comerciais. No Rio de Janeiro, surgiram centros secundários para o consumo 
da população de alta renda (Copacabana, por exemplo) e da população de baixa renda (Nova Iguaçu, 
Madureira e outros). O mesmo ocorreu em São Paulo, com a formação dos subcentros sofisticados da 
Augusta—Paulista e da Faria Lima e dos subcentros populares da Lapa e de Pinheiros. 
 
A expansão horizontal das áreas metropolitanas, associada à intensificação dos problemas de tráfego e 
também à construção de vias expressas, pulverizou as atividades terciárias por todo o tecido urbano. Essa 
disseminação do comércio e dos serviços não eliminou a importância dos centros tradicionais e dos 
subcentros, mas acrescentou novidades à paisagem da cidade: os shopping centers, hipermercados e centros 
comerciais e empresariais. 
 
Como as atividades industriais, os empreendimentos terciários beneficiam-se da aglomeração espacial. Os 
centros tradicionais e os subcentros são aglomerações espontâneas, cuja formação acompanhou o 
crescimento do mercado consumidor de toda a cidade ou de parte dela. Já um shopping center ou um centro 
empresarial são aglomerações planificadas e implantadas de um só golpe. 
 
A localização desses empreendimentos é, em grande parte, condicionada pelas novas infra-estruturas de 
comunicação, que integram determinadas áreas no tecido urbano aos circuitos mundializados de informações 
e as transformam em "espaços inteligentes". 
 
A disseminação de subcentros comerciais e a pulverização das atividades terciárias no espaço urbano 
contribuem para o aparecimento de subúrbios residenciais de alta renda. Inúmeros empreendimentos 
imobiliários de alto padrão, tais como Alphaville, Granja Viana e Aldeia da Serra, em São Paulo, ilustram 
esse movimento rumo ao subúrbio. 
 
Desde o final da década de 1980, as áreas centrais de diversas cidades brasileiras vêm passando por projetos 
de reestruturação e modernização. É o caso, por exemplo, do "corredor cultural" do centro do Rio de Janeiro, 
do Pelourinho, em Salvador, e do bairro Recife Antigo, na capital pernambucana. 
 
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No Rio de Janeiro, o destaque foi para a requalificação do patrimônio histórico e cultural herdado da época 
do Império e dos primeiros decênios da República, quando a cidade era a capital do país. O "corredor 
cultural", formado por museus, bibliotecas, cinematecas e construções históricas, oferece as mais diversas 
atividades para os visitantes e está ajudando a inserir o núcleo histórico da cidade nos circuitos do turismo. 
 
 
Especulação imobiliária e segregação urbana 
 
O modelo de expansão do espaço urbano brasileiro apresentou forte tendência para o crescimento horizontal. 
A cidade cresceu para os lados, mais do que para cima. Em conseqüência, a expansão do território 
urbanizado foi maior que o crescimento da população, gerando diminuição da densidade demográfica. Em 
1905, São Paulo apresentava uma densidade de aproximadamente 110 habitantes por hectare de área 
edificada. Em 1962, essa densidade tinha caído para 55 habitantes por hectare. Nas últimas décadas, porém, 
observa-se uma reversão dessa tendência, com aumento das densidades médias nas áreas periféricas. 
 
O predomínio do crescimento horizontal que marcou, pelo menos até o final da década de 1970, expansão da 
mancha urbana das metrópoles brasileiras não impediu o aparecimento de "ilhas de verticalização". Os 
principais centros comerciais e de escritórios, como o "centro velho", a região da Avenida Paulista e a Vila 
Olímpia, em São Paulo, são exemplos de espaços intensamente verticalizados. 
 
Nas metrópoles e grandes cidades litorâneas, como o Rio de Janeiro ou Santos, a transferência de parcela 
expressiva da classe média para a orla oceânica deflagrou o erguimento de torres residenciais, formando 
muralhas de prédios em frente ao mar. Entretanto, as "ilhas de verticalização" conviveram, por várias 
décadas, com um modelo predominantemente horizontal de expansão da área edificada. 
 
A tendência à horizontalização foi determinante pelo atraso na implantação de um esqueleto de vias férreas e 
de metro para o transporte urbano de massa. Ainda hoje, os trens suburbanos e as linhas de metro nas 
metrópoles brasileiras cobrem uma parcelarelativamente pequena do fluxo de passageiros. A ausência dessa 
"armadura ferroviária" condicionou uma expansão da área urbanizada ao longo do eixo das avenidas radiais 
(-Avenida que parte do centro da cidade e atinge a periferia, percorrendo uma linha reta ou quase reta.), por 
onde circulam os automóveis e os ônibus. O transporte automotivo comandou a ampliação territorial das 
cidades. 
 
Os custos mais baixos de abertura de ruas e avenidas estimularam o prolongamento dos eixos de transporte 
ao longo de traçados lineares, devorando terras cada vez mais distantes do centro. Ao mesmo tempo, espaços 
com baixa densidade de ocupação surgiam no intervalo entre as grandes vias radiais. As metrópoles 
brasileiras assumiram uma feição espalhada e disforme, alongando-se sobre alguns eixos principais de 
tráfego, geralmente direcionados para os vetores com menores obstáculos naturais. 
 
O modelo de alastramento periférico das metrópoles produziu uma nítida bipartição da cidade. De modo 
geral, as áreas mais próximas do centro ficaram reservadas às classes de alta e média renda, enquanto as 
camadas populares periferizavam-se. Nos bairros mais afastados, reproduzia-se o processo de segregação. A 
chegada de infra-estrutura e de serviços públicos valorizava as terras e removia os pobres para mais longe, 
substituindo os antigos residentes por populações com um poder aquisitivo um pouco maior. 
 
Esse modelo de alastramento entrou em crise na década de 1980, em função da incapacidade crescente das 
camadas populares de adquirir terrenos e materiais de construção. Mesmo nas localizações mais distantes, a 
casa própria tornou-se um sonho irrealizável para essa parcela da população. Desde então, as favelas 
despontam como principal alternativa de moradia para os pobres da cidade. 
 
 
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A questão da moradia 
 
O êxodo rural acelerado e o processo de metropolização do pós-guerra geraram a expansão da "cidade 
clandestina", principalmente sob a forma de loteamentos na periferia da mancha urbana. A produção da 
moradia, nessas áreas periféricas, realizou-se basicamente pela autoconstrução. 
 
Em São Paulo, os loteamentos periféricos e a autoconstrução espraiaram a cidade pelas zonas leste e sul, 
invadindo áreas de proteção de mananciais junto às represas Billings e Guarapiranga. Em Belo Horizonte, 
cujo sítio se estende por um relevo de morros ondulados, os loteamentos clandestinos ocuparam as baixadas, 
comprometendo os cursos d'água e acelerando a erosão das vertentes. A degradação ambiental acompanhou a 
expansão das metrópoles brasileiras. 
 
As favelas formam a imagem mais evidente da "cidade clandestina". As primeiras favelas apareceram nos 
morros da zona sul do Rio de Janeiro, logo após a Guerra de Canudos (1893- 1897). Eram barracos erguidos 
em terrenos da Marinha, cedidos pelo governo federal a soldados que voltavam da campanha militar na 
Bahia. Em São Paulo, começaram a surgir após a Segunda 
Guerra Mundial, quando se acelerava o êxodo rural. 
 
Uma favela não é, essencialmente, um aglomerado de barracos construídos com material de refugo, como 
madeira, latas ou papelão. Existem inúmeras favelas erguidas com blocos, alvenaria ou madeirite com tetos 
de chapas de zinco. De acordo com os critérios estabelecidos pelo IBGE, uma favela é um aglomerado com, 
no mínimo, 51 habitações sendo que, em pelo menos a metade delas, os moradores não possuem o título de 
propriedade do terreno em que estão instaladas, ainda que, muitas vezes, tenham pago por ele. A ausência de 
padrões de infraestrutura urbana, tais como alinhamento das vias de circulação, e a precariedade dos serviços 
públicos, tais como abastecimento de água e ligação com a rede de esgotos, também são consideradas na 
caracterização de uma favela. 
 
Nas metrópoles litorâneas, como o Rio de Janeiro, os morros próximos à orla oceânica são de propriedade 
pública ou da Marinha. Localizadas junto aos bairros residenciais de classe média da Zona Sul, que 
constituem importante fonte de empregos no comércio e nos serviços, as encostas desses morros abrigam 
algumas das principais favelas da cidade. No Rio de Janeiro, assim como no município de São Paulo, as 
favelas se espraiam também em áreas de baixadas, nas margens de rios e canais e, frequentemente, em zonas 
de proteção de mananciais (áreas situadas no entorno de mananciais hídricos, sujeita a normas específicas de 
uso do solo, tais como taxas de ocupação, restrições a atividades potencialmente poluidoras e manejo da 
vegetação). Em qualquer caso, trata-se quase sempre de áreas de grande risco ambiental.. 
 
A quantificação das favelas e dos seus moradores é precária: mesmo os governos municipais trabalham com 
dados diversos e contraditórios. Contudo, em cidades tais como Fortaleza, Rio de Janeiro e Salvador estima-
se que cerca de um terço da população habite em favelas. Em Recife, as favelas abrigam mais de 40% da 
população. 
 
No município de São Paulo, a Secretaria de Habitação utiliza técnicas de sensoriamento remoto para estimar 
a população favelada. A partir de fotografias áreas que cobrem o conjunto do território municipal, é possível 
estimar a área total das favelas da cidade. Considerando-se a densidade média de ocupação dessas áreas, 
torna-se possível estimar o número de seus habitantes: de acordo com esses cálculos, no ano 2000 existia 
cerca de 1,6 milhão de pessoas vivendo nas favelas de São Paulo, o que equivalia a 11,1% da população total 
do município. 
 
Os cortiços são a mais antiga alternativa habitacional da população de baixa renda, tendo surgido ainda no 
século passado no Rio de Janeiro e em São Paulo. Originalmente, constituíam-se em velhos casarões e 
mansões em processo de deterioração, subdivididos e locados para várias famílias pobres pelos seus 
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proprietários. Situavam-se nas áreas nobres da cidade que entravam em decadência. Ainda hoje, o chamado 
"centro velho" das metrópoles brasileiras abriga uma vasta população encortiçada, concentrada nas áreas que 
ainda não foram objetos dos planos de renovação urbanística. 
 
A expansão dos bairros periféricos gerou o aparecimento de um novo tipo de cortiço. Trata-se das casas 
geminadas, construídas lado a lado num único lote, com entradas independentes. Essas casas coletivas, 
muitas vezes, são erguidas para funcionarem como fonte de renda para o proprietário do lote que, ao mesmo 
tempo, auto-constrói sua moradia em outro terreno. No município de São Paulo, levantamentos recentes 
indicam que existem pelo menos 25 mil imóveis funcionando como cortiços e abrigando uma população 
estimada entre 600 mil e l milhão de pessoas. 
 
 
O Estatuto da Cidade 
 
A expansão física das cidades brasileiras foi orientada, sobretudo, pelos mecanismos especulativos que 
norteiam o mercado imobiliário, seja ele formal ou informal. A lei federal conhecida como Estatuto da 
Cidade,em vigor desde 2001, procura criar instrumentos que permitam um maior controle desse processo 
por parte do poder público e dos cidadãos em geral. Considerando a função social da cidade e da propriedade 
urbana, o Estatuto cria uma série de instrumentos de intervenção dos governos municipais no mercado de 
terras e na gestão dos conflitos pelo uso do solo. Esses instrumentos podem ser agrupados em três grandes 
blocos: os de intervenção de uso e ocupação do solo, os de regularização fundiária e os de gestão 
democrática das cidades. 
 
No que diz respeito ao uso e à ocupação do solo, o Estatuto confere ao município o poder de induzir o 
aproveitamento de terrenos ociosos ou subutilizados em áreas dotadas de infraestrutura, fixando prazos para 
que os empreendedores realizem o loteamento ou a edificação na área em questão. Esgotado esse prazo, 
aplica-se o instrumento do IPTU progressivo, cuja alíquota pode dobrar de ano em ano até atingir 15% do 
valor venal (Valor de venda de um imóvel, estabelecido pelas prefeituras, utilizado como referência para 
cálculo de impostos) do imóvel. Passados cinco anos, se o terreno continuar vazio ou sub-aproveitado, ele 
fica sujeito à desapropriação sumária. Esse instrumento pode representar um duro golpe nos mecanismos de 
especulação, baseados na manutenção de um "estoque" ocioso de glebas periféricas, e induz a ocupação mais 
intensa das áreas dotadas de infra-estrutura urbana. 
 
Os instrumentos de regularização fundiária criam respaldo constitucional para a titulação de áreas ocupadas, 
mesmo que irregularmente, nas favelas e nos loteamentos clandestinos da cidade. O principal é o usucapião 
urbano, que permite a titulação definitiva dessas áreas, desde que tenham sido habitadas pelos mesmos 
moradores por no mínimo cinco anos sem contestação por parte do proprietário legal. 
 
O Estatuto estabelece uma série de instrumentos que visam ampliar a participação popular na gestão das 
cidades, tais como a realização de audiências e consultas publicas com poder de decisão sobre os assuntos 
municipais, principalmente aqueles referentes ao orçamento. Além disso, prevê um Estudo de Impacto de 
Vizinhança discriminando os efeitos positivos e negativos de todo grande empreendimento urbano no 
cotidiano dos moradores das áreas próximas. 
 
Nenhuma lei é capaz, por si só, de garantir um futuro mais democrático para as cidades brasileiras. Mas o 
Estatuto da Cidade aponta na direção de um novo modelo de planejamento urbano e fortalece o poder 
municipal, em detrimento dos mecanismos seculares de especulação urbana e de exclusão social. Por isso, 
merece ser conhecido e debatido por todos os setores da sociedade. 
 
 
 
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Desenvolvimento territorial do Brasil: do entulho varguista 
ao zoneamento ecológico-econômico. 
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José Eli da Veiga 
 
 
Os dois últimos Censos Demográficos indicam que, entre 1991 e 2000, a taxa de urbanização passou de 
75,6% para 81,2%, devido a três fatores: ―do próprio crescimento vegetativo nas áreas urbanas; da migração 
com destino urbano; e da incorporação de áreas que em censos anteriores eram classificadas como rurais. 
 
A vigente definição de ―cidade‖ é obra do Estado Novo. Foi o Decreto-Lei 311, de 1938, que transformou 
em cidades todas as sedes municipais existentes, independentemente de suas características estruturais e 
funcionais. Da noite para o dia, ínfimos povoados, ou simples vilarejos, viraram cidades por norma que 
continua em vigor, apesar de todas as posteriores evoluções institucionais. Não somente as dos períodos pós-
1946, pós-1964 e pós-1988, mas também as que estão sendo introduzidas pelo novíssimo Estatuto da 
Cidade. Por exemplo, ao dispensar da exigência de Plano Diretor quase todas as ―cidades‖ com menos de 20 
mil habitantes. 
 
Até 1938, o Brasil não teve dispositivo legal que estabelecesse diferenças sequer entre cidade e vila. A mais 
antiga unidade territorial brasileira – a sede de freguesia – costumava ser arbitrariamente elevada à condição 
de vila, ou mesmo diretamente à condição de cidade. Também surgiam vilas e cidades sem a prévia 
existência de freguesias. Tanto cidades, quanto vilas, podiam ser sedes de municípios. E os limites 
geográficos de sua jurisdição eram demarcados pelos limites das freguesias, sempre que se tratasse de espaço 
com ocupação consolidada. Até existiam regras para que cidades e vilas pudessem exercer suas diferentes 
funções, mas a decisão de criar ou elevar uma localidade à categoria de vila, ou de cidade, não obedecia 
qualquer norma. Com a República, alguns governos estaduais tomaram iniciativas de uniformização de seus 
respectivos quadros territoriais, mas foi só com o Estado Novo que surgiram as regras básicas nacionais de 
divisão territorial que continuam em vigor. 
 
Apesar das diversas modificações legais posteriores - sobretudo nos períodos pós- 1946, pós-1964 e pós-
1988 - a divisão territorial brasileira mantém essa ―discrepância gritante‖, para usar a expressão empregada 
nesse estudo que propunha uma redefinição conceitual da separação urbano/rural. 
 
Mudança bem significativa surgiu em 1991, quando o IBGE começou a distinguir três categorias de áreas 
legalmente definidas como urbanas, e quatro tipos de aglomerados rurais. Dentro das cidades e vilas agora se 
pode distinguir áreas urbanizadas e nãourbanizadas, segundo o grau de intensidade da ocupação humana. 
Além delas, consideram se áreas urbanas isoladas aquelas que, definidas por lei municipal, estejam 
separadas de sede municipal ou distrital por área rural ou por outro limite legal. 
 
Aglomerados rurais do tipo extensão urbana são assentamentos situados em áreas fora do perímetro urbano 
legal, mas desenvolvidos a partir da extensão de uma cidade ou vila, ou por ela englobados em sua expansão. 
Povoado é o aglomerado rural isolado sem caráter privado ou empresarial, que disponha de um mínimo de 
serviços ou equipamentos, e cujos moradores exercem atividades econômicas nos setores primário, terciário, 
―ou mesmo secundário‖. Núcleo é o aglomerado rural isolado vinculado a um único proprietário do solo. E 
outros aglomerados são os que não cumprem os requisitos que definem os três tipos de áreas rurais 
anteriores. 
 
A nova classificação das situações de domicílio - muito mais detalhada do que a simples separação entre as 
situações urbana e rural definidas por lei municipal em vigor na data de referência do Censo Demográfico – 
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certamente possibilita caracterizações muito mais acuradas das diversas categorias populacionais. Por 
exemplo, foi possível mostrar que, durante os anos 1990, os desocupados aumentaram mais rapidamente nos 
aglomerados rurais do tipo extensão urbana, nos povoados e nas áreas não-urbanizadas das cidades e das 
vilas, nestaordem de importância. 
 
A nova classificação reforça a concepção de que as fronteiras entre as áreas rurais e urbanas são infra-
municipais. Reforça a convenção de que são urbanas todas as sedes municipais (cidades), sedes distritais 
(vilas) e áreas isoladas assim definidas pelas Câmaras Municipais, independentemente de qualquer outro 
critério geográfico, de caráter estrutural ou funcional. Por exemplo, os dois mil e poucos habitantes que 
residem na sede do município acreano de Assis Brasil são considerados urbanos, sejam quais forem as 
funções desempenhadas pela aglomeração, o gênero de vida, a forma de civilização, e a mentalidade de seus 
habitantes. Um simples absurdo na concepção de cidade como centro de região, formulada por Milton 
Santos há quase quarenta anos. 
 
Os resultados dos Censos Demográficos - segundo os quais a taxa de urbanização teria passado de 67,6% em 
1980, para 75,6 em 1991, e 81,23% em 2000 – correspondem unicamente a uma convenção normativa cujo 
intuito foi uniformizar a divisão territorial brasileira para o Censo de 1940. 
 
A obrigatoriedade legal de que os habitantes de qualquer sede municipal e distrital sejam considerados 
urbanos. É isso que infla a taxa de urbanização, pois transforma em urbanos muitos dos que vivem em 
espaços de natureza pouco artificializada, só porque residem em alguma sede municipal ou distrital. O 
absurdo chega a tal ponto, que até populações indígenas ou guardas florestais de áreas de preservação são 
considerados urbanos. De resto, o Censo Agropecuário de 1995/6 mostrou que um grande número de 
agricultores não residia em seus estabelecimentos, mas sim em sedes de municípios. Era o caso de metade 
dos sitiantes de Estados como São Paulo e Goiás, por exemplo. Mesmo no Estado de São Paulo é freqüente 
que o acesso à energia elétrica determine a opção pela residência na sede de município ou distrito. 
 
Considerando-se os 100 menores municípios, percebe-se que todos têm população inferior a dois mil 
habitantes, e que suas densidades demográficas variam de 0,28 a 33,6 hab/km2. No entanto, mais da metade 
de sua população é considerada urbana, apenas por residir nas sedes municipais. 
 
Na obra Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil (IPEA/IBGE/NESUR-IE/UNICAMP,1999) 
foi identificada as três seguintes tendências da rede urbana: a) nas 12 aglomerações urbanas metropolitanas, 
que reúnem 200 municípios, residem percentuais crescentes do conjunto da população brasileira (32,3% em 
1980, 33,0% em 1991 e 33,6% em 1996), atingindo 52,7 milhões em 1996; b) as 37 aglomerações não 
metropolitanas, que reúnem 178 municípios, vêm aumentando de forma expressiva sua participação no total 
da população (11,1% em 1980, 12,7% em 1991, e 13,1% em 1996), abarcando, em 1996, um total de 20,6 
milhões de habitantes; c) 62 centros urbanos de mais de 100 mil habitantes, localizados fora das 
aglomerações urbanas, aumentaram sua participação de 7,2% em 1980 para 8,5% em 1996, abrigando um 
total de 13,3 milhões de habitantes. Três tendências confirmadas pelos resultados do Censo Demográfico de 
2000, como mostra a tabela 2. Mais de 70% do acréscimo populacional do período ocorreu nesses 455 
municípios da rede urbana. 
 
Para construir uma tipologia dos 5052 municípios que em 2000 não pertenciam a aglomerações e nem eram 
centros urbanos, é indispensável adotar cortes de tamanho populacional e de densidade demográfica. Ao 
contrário do que ocorre com os aspectos metodológicos de análise das aglomerações, aqui a prevalência dos 
critérios estruturais resulta da mais completa falta de indicadores funcionais confiáveis. E o que mais 
caracteriza as áreas rurais é justamente sua rarefação populacional, além das distâncias que as separam das 
aglomerações. 
 
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Pode ser surpreendente que existam municípios simultaneamente com pouca população e alta densidade. 
Mas esse é um fenômeno muito característico da Zona da Mata nordestina, por exemplo. Tanto é que 
inspirou Gilberto Freyre a usar o neologismo ―rurbano‖. Metade dos municípios com menos de 50 mil 
habitantes e densidades superiores a 80 hab/km2 estão em apenas 5 pequenos Estados do Nordeste: Sergipe, 
Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. 
 
Considerando-se o conjunto desses municípios de tipo ―rurbano‖ – isto é, tanto os que têm populações entre 
50 e 100 mil, quanto os que têm menos de 50 mil, mas densidades superiores a 80 hab/km2 – percebe-se que 
eles são muito mais freqüentes nesses Estados nordestinos do que no resto do País. Principalmente em 
Pernambuco, onde 45% do total dos municípios entram nessa categoria, e em Alagoas, onde essa 
participação é de 32%. 
 
No período 1991-2000, além do crescimento populacional nesses municípios ―rurbanos‖ ter sido bem 
inferior ao das aglomerações não-metropolitanas e centros urbanos, ele também foi ligeiramente inferior ao 
da população brasileira em seu conjunto. Todavia, muitos deles tiveram um crescimento bem mais rápido 
que seus respectivos Estados, enquanto outros estavam perdendo população. Daí o interesse em separá-los 
em três categorias: a dos esvaentes, que tiveram fortes quedas populacionais relativas (e muitas vezes 
absolutas), a dos letárgicos, que também tiveram perdas relativas, mas assim mesmo cresceram em termos 
absolutos em compassos não muito distantes ao de seus respectivos Estados; e a dos atraentes, que tiveram 
crescimentos superiores aos de seus Estados. 
 
44% dos municípios ―rurbanos‖ fizeram parte da categoria atraente no último período inter-censitário. 
Mostra também que o crescimento dessa categoria de ―rurbanos atraentes‖ foi 4 ou 5 pontos porcentuais 
acima do crescimento das aglomerações não-metropolitanas e dos centros urbanos. 
 
No tocante à distribuição geográfica, há um nítido contraste entre o Sul, onde mais de 60% dos municípios 
rurais são esvaentes, e o Norte, onde 40% deles são atraentes.Todavia, nas outras três grandes regiões, onde 
estão 70% dos municípios rurais, os padrões são muito próximos: 40% de esvaentes; quase 35% de 
letárgicos; e cerca de 25% de atraentes. 
 
Os Estados com as maiores proporções de municípios rurais atraentes são os do Norte (com a exceção de 
Tocantins); Piauí e Maranhão (NE); São Paulo e Rio de Janeiro (SE); e os dois Mato Grosso (CO). No 
extremo oposto, os que têm as maiores proporções de esvaentes são: os três do Sul; Goiás (CO); Tocantins 
(N); Minas Gerais e Espírito Santo (SE); Paraíba, Bahia, Pernambuco e Alagoas (NE). 
 
A efetiva taxa de urbanização não passou de 75,6% para 81,2%, como indica a abordagem normativa, nem 
de 54,7% para 56,8%, com poderia induzir a pensar o estudo IPEA/IBGE/NESUR. Caso se inclua a 
população da teia ―rurbana‖, esta análise sugere que a taxa de urbanização do Brasil tenha passado 
efetivamente de 67,5% para 69,6%, entre 1991 e 2000. 
 
Está ocorrendo firme adensamento demográfico em significativa parcela dos municípios rurais. Em 
praticamente todas as microrregiões geográficas há pequenos municípios que estão atraindo migrantes da 
vizinhança, e até uma parte dos conterrâneos que haviam emigrado. Um processo de ―coagulação‖ que está 
espalhado por todos os recantos rurais do território brasileiro, apesar de não ser tão acentuado nos três 
estados do Sul e em alguns outros estados das demais regiões. 
 
A queda populacional de um município rural indicaria uma situação ―reativa‖, que até podeenvolver a 
eficiente exploração de alguma commodity, mas que não diversifica a economia local de modo a absorver a 
força de trabalho que o aumento da produtividade tende a tornar redundante. E essa menor capacidade de 
absorção de mão-de-obra também desfavorece o surgimento e a expansão dos serviços que certamente 
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ajudariam a reduzir os estímulos à emigração juvenil, ou pelo menos retardá-la. Principalmente serviços 
educacionais de nível médio e superior, além das mais diversas formas de lazer. 
 
Nem todas as localidades rurais estão condenadas a ter economias apenas ―reativas‖. Por isso, o expressivo 
crescimento populacional de 44% dos municípios ―rurbanos‖ e de 25% dos municípios rurais pode ser um 
indicador de que eles possuam alguns dos poderes de retenção, ou atração, próprios de economias ―ativas‖, 
tão características das cidades. É certo que esses municípios dificilmente conhecerão processos mais 
flexíveis de inovação e improvisação que dependem da concentração, da contigüidade e da diversidade que 
caracterizam as populações urbanas. Só que algo eles certamente já têm para que sejam lugares de 
adensamento populacional e - provavelmente - de dinamismo econômico. 
 
O dilema entre diversificação e especialização que tanto marcou a evolução industrial, também se manifesta 
no âmbito territorial. Nos dois casos, a maior eficiência no uso dos recursos resulta da exploração inteligente 
do trio formado pelas economias de escala, pelas economias de escopo, e pelos custos de transação. As 
vantagens que se pode obter com mais especialização ou mais diversificação advêm das possíveis 
combinações desses três ingredientes. 
 
Quando as tecnologias que foram adaptadas para certa base ecológica e locacional dão mais vantagem à 
exploração de economias de escala do que de escopo, sem que isso implique em proibitivos custos de 
transação, haverá irresistível tendência à especialização, e à conseqüente formação de uma economia local 
que reagirá apenas aos sinais enviados por um determinado mercado, em geral distante. No extremo oposto, 
quando as vantagens estão ligadas à exploração de economias de escopo, a diversificação levará a uma base 
econômica mais flexível e menos sujeita às oscilações de um único mercado. 
 
As economias rurais mais dinâmicas são as polivalentes, que simultaneamente importam consumidores de 
seus atributos territoriais e exploram economias de escala e de escopo na exportação de seus produtos. Só 
que é muito raro que uma região disponha de condições naturais e sociais tão privilegiadas. Por isso, acaba 
por prevalecer uma espécie de divisão espacial dessas vantagens competitivas, na qual manchas dinâmicas de 
vários tipos, e com vários graus de diversificação, se entrelaçam aos quase vazios demográficos resultantes 
da especialização ou da inviabilidade ecológica de atividades econômicas mais significativas. 
 
O poder de atração desses 50 municípios dos mais carentes do País (tanto em PIB quanto em IDH) parece 
estar na habilidade de suas prefeituras em utilizar programas sociais – principalmente federais – que 
permitem ampliar e melhorar a oferta de serviços públicos básicos. Esse diferencial em questões de saúde e 
educação muitas vezes se combina a investimentos em infraestrutura (eletricidade e água para agricultores), 
ou a incisivas ações para também ampliar o acesso à terra e à moradia. E, em determinadas circunstâncias 
locais, essa ação de prefeituras mais pró-ativas favorece também a emergência de pequenos negócios, tanto 
em atividades produtivas (artesanais ou agroindustriais), quanto no setor de serviços (principalmente 
transportes). 
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NOVA LEGISLAÇÃO URBANA E OS VELHOS FANTASMAS 
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Luiz de Pinedo Quinto Jr. 
 
O período que se encerrou em 1964 – inserido numa conjuntura de governos democráticos iniciados em 1945 
– ficou conhecido como ―desenvolvimentista‖, tendo sido também uma época altamente marcada por 
reformas sociais. Durante estes anos, as cidades passaram a ter uma importância fundamental nas políticas de 
desenvolvimento econômico e social, especialmente com a passagem do suporte rural das atividades 
econômicas para o suporte urbano. Em função disso, um conjunto de políticas urbanas passou a ocupar o 
centro dos debates e a fazer parte da pauta das administrações. 
 
As cidades brasileiras começaram a apresentar altas taxas de urbanização, enquanto a legislação e os 
instrumentos urbanísticos estavam defasados em relação às demandas. Os códigos de obras e a legislação de 
zoneamento não eram capazes de responder às demandas por habitação voltada para os trabalhadores, por 
serviços de infra-estrutura urbana para as novas áreas de expansão, assim como para o redesenho da cidade 
numa perspectiva de regulação social. 
 
As transformações da rede urbana brasileira durante as décadas de 1940 e de 1950, bem como as dimensões 
físico-territoriais das cidades demandavam novos instrumentos urbanísticos que superassem a visão voltada 
unicamente para o controle de uso do solo urbano. A importância do Seminário da Habitação e da Reforma 
Urbana, em 1963, residia, portanto, no fato de assumir a questão habitacional não mais como uma política 
setorial urbana, mas como uma parte significativa do locus da produção e da reprodução social de seus 
habitantes. 
 
Os impactos da primeira industrialização – ocorrida no final do século XIX – tinham sido contornados pelo 
fato de as reivindicações sociais e trabalhistas ficarem centradas nas pautas salariais e trabalhistas das 
fábricas, ao passo que a questão urbana e habitacional, por sua vez, não eram temas importantes na pauta das 
greves e das lutas sindicais. 
 
Já nos anos de 1940 e de 1950 a questão urbana ficou restrita aos problemas de moradia, limitados 
principalmente ao sistema de habitações alugadas que, depois do congelamento do aluguel em 1943, deram 
lugar ao aparecimento de loteamentos populares nas periferias distantes das cidades . A estruturação das 
cidades – conforme revelou o famoso estudo da aglomeração paulistana feito pela equipe do padre Lebret – 
seguia a lógica da segregação espacial, a qual se baseava, por sua vez, na localização residencial em função 
dos empregos e dos serviços urbanos. Assim, as classes altas e médias altas moravam perto do centro onde 
estavam seus empregos e seus serviços, os operários ficaram próximos das fábricas e os excluídos ficavam 
longe de tudo. 
 
A concepção urbana liberal da cidade3 latino-americana prevaleceu sobre a construção da expansão e 
crescimento das cidades brasileiras desde o século XIX até hoje, tornando-as um instrumento de especulação 
e de valorização imobiliária, sobrepondo-se, portanto,

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