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2012 Meio AMbiente e SAúde Prof.ª Daniela Viviani Prof.ª Camila Almeida Pinheiro da Costa Copyright © UNIASSELVI 2012 Elaboração: Prof.ª Daniela Viviani Prof.ª Camila Almeida Pinheiro da Costa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 370.357 V859m Viviani, Daniela Meio ambiente e saúde / Daniela Viviani e Camila Almeida Pinheiro da Costa. Indaial : UNIASSELVI, 2012. 207. p.: il Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-538-3 1. Meio ambiente; 2. Saúde. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Educação a Distância III. Título III ApreSentAção Prezado acadêmico, bem-vindo a mais uma disciplina! Durante esta jornada de estudos, na Unidade 1 você compreenderá os conceitos de Meio Ambiente e Saúde. Este estudo inicial, complementado com os fundamentos da ecologia, será muito importante para a tomada de consciência de nossa inserção no meio ambiente, bem como de nossa responsabilidade pela saúde ambiental, sua proteção e, consequentemente, nossa qualidade de vida. Neste contexto, vamos compreender as relações existentes entre meio ambiente e saúde, conhecendo as causas e consequências dos problemas ambientais a que temos assistido nos últimos tempos. A partir desta percepção, ficará claro que meio ambiente e saúde são temas indissociáveis. Na segunda unidade, você terá a possibilidade de estudar sobre a educação escolar, o papel da escola, os sujeitos que dela fazem parte e a importância dessa educação – a escolar – para o desenvolvimento e formação dos sujeitos, relacionando meio ambiente e saúde. Para tanto, serão apresentados a você os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a relação entre educação, saúde e meio ambiente. A Unidade 3 trará para você a questão das práticas educativas retomando conceitos e discussões sobre a educação em saúde, a prevenção da saúde no contexto escolar, a educação para o meio ambiente e as metodologias de ensino – saúde e meio ambiente. Bons estudos! Prof.ª Daniela Viviani Prof.ª Camila Almeida Pinheiro da Costa IV NOTA Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! V VI VII UNIDADE 1 – MEIO AMBIENTE E SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS............................1 TÓPICO 1 – SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS ......................................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 O CONCEITO DE SAÚDE ................................................................................................................3 2.1 HÁBITOS SAUDÁVEIS ................................................................................................................9 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................13 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................14 TÓPICO 2 – MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS ..................................................15 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................15 2 O CONCEITO DE MEIO AMBIENTE ............................................................................................16 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................20 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................21 TÓPICO 3 – FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA ............................................................................23 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................23 2 ECOLOGIA ..........................................................................................................................................24 3 NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO ..........................................................................................................25 4 COMPONENTES ESTRUTURAIS DE UM ECOSSISTEMA ....................................................26 4.1 COMPONENTES BIÓTICOS .......................................................................................................27 4.2 COMPONENTES ABIÓTICOS ....................................................................................................29 5 CADEIA, TEIA ALIMENTAR E FLUXO DE ENERGIA .............................................................29 6 RELAÇÕES ECOLÓGICAS ..............................................................................................................32 6.1 RELAÇÕES HARMÔNICAS ENTRE ESPÉCIES DIFERENTES ............................................33 6.2 RELAÇÕES HARMÔNICAS DENTRO DA MESMA ESPÉCIE .............................................35 6.3 RELAÇÕES DESARMÔNICAS ENTRE ESPÉCIES DIFERENTES ........................................36 6.4 RELAÇÕES DESARMÔNICAS DENTRO DA MESMA ESPÉCIE .........................................38 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................41 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................43 TÓPICO 4 – RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE ...................................................45 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................45 2 MEIO AMBIENTE E SAÚDE ...........................................................................................................45 3 DEGRADAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................................47 4 A CRISE AMBIENTAL.......................................................................................................................50 5 PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS ........................................................................................545.1 O AUMENTO DA POPULAÇÃO ...............................................................................................54 5.2 A EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS .....................................................................56 5.3 A POLUIÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................................58 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................70 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................78 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................80 SuMário VIII UNIDADE 2 – MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA .......................................81 TÓPICO 1 – O PAPEL DA ESCOLA FRENTE À SAÚDE E MEIO AMBIENTE .......................83 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................83 2 PARA QUE SERVE A ESCOLA? ......................................................................................................83 3 RELAÇÃO ESCOLA, SAÚDE E MEIO AMBIENTE ....................................................................87 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................92 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................95 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................96 TÓPICO 2 – GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE ...................................................................................................... 97 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................97 2 GUIA CURRICULAR E SAÚDE: OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS .....97 3 GUIA CURRICULAR E MEIO AMBIENTE: OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS ......................................................................................................104 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................110 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................115 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117 TÓPICO 3 – EDUCAÇÃO, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA ...................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA: DESAFIOS E QUALIDADE ...................................................................................................................................119 3 PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR: CAMINHOS NA BUSCA DA QUALIDADE DE VIDA DOS SUJEITOS ..............................121 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................129 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................133 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................134 UNIDADE 3 – MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS ................................135 TÓPICO 1 – PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE ...............................................................137 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137 2 EDUCAÇÃO EM SAÚDE..................................................................................................................137 3 SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR: A PREVENÇÃO ..............................................................140 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................143 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................146 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................147 TÓPICO 2 – EDUCAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE ................................................................149 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149 2 O SURGIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SEUS CONCEITOS ............................150 2.1 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ...............................................................................155 2.2 O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC) E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL .........................158 3 A EMERGÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ......................................................................159 4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE ................................................................160 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................163 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................165 TÓPICO 3 – METODOLOGIAS DE ENSINO .................................................................................167 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167 IX 2 PRÁTICAS EDUCATIVAS: MEIO AMBIENTE E SAÚDE ........................................................167 2.1 ATIVIDADES PEDAGÓGICAS: SAÚDE ...................................................................................177 2.2 ATIVIDADES PEDAGÓGICAS: MEIO AMBIENTE ................................................................185 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................200 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................201 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................203 X 1 UNIDADE 1 MEIO AMBIENTE E SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender o conceito de saúde; • compreender o conceito de meio ambiente; • conhecer os fundamentos e conceitos básicos da ecologia; • conhecer a amplitude da crise ambiental através dos problemas ambientais globais; • reconhecer a relação entre meio ambiente e saúde como fator primordial para o desenvolvimento de sociedades sustentáveis e a manutenção de um ambiente saudável. Esta primeira unidade está dividida em quatro tópicos. Você encontrará, ao final de cada um deles, atividades que irão contribuir para a compreensão dos conteúdos abordados. TÓPICO 1 – SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS TÓPICO 2 – MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS TÓPICO 3 – FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA TÓPICO 4 – RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 1 INTRODUÇÃO Neste primeiro tópico vamos estudar o conceito da palavra saúde que, para muitos acadêmicos, talvez já esteja muito claro e óbvio.Será? Será mesmo que você tem consciência do que é ter saúde? Será que saúde é tão somente a ausência de doenças? Se estes questionamentos fizeram você parar para pensar e resgatar seus conhecimentos prévios sobre o assunto, estamos no caminho certo. Ao longo de toda a disciplina buscaremos fazer estas reflexões que são fundamentais em todo processo de ensino e aprendizagem no qual buscamos constantemente rever nossos conceitos e aprimorar nossos conhecimentos. 2 O CONCEITO DE SAÚDE Vamos iniciar este estudo analisando algumas imagens! Qual das duas crianças lhe parece estar com plena saúde? FIGURA 1 – CRIANÇA BRINCANDO FIGURA 2 – CRIANÇA ACAMADA FONTE: Disponível em: <http://veja. abril.com.br/blog/saude-chegada/ files/2009/10/crianca-brincando. jpg>. Acesso em: 24 abr. 2011. FONTE: Disponível em: <http://farm2.static.flickr. com/1215/5167315649_a9379fd3ea. jpg>. Acesso em: 24 abr. 2011. UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 4 DICAS Que tal mudar um pouco a metodologia de ensino? Acesse o site <http://www.canalkids.com.br/saude/index.htm>. Nele você encontrará informação de forma divertida e colorida. Se você já é professor e na sua escola houver um laboratório de informática, leve seus alunos até lá e, juntos, aprendam brincando. No próximo tópico voltaremos com esta dica para o assunto Meio Ambiente. Muito provavelmente você optou pela Figura 1. Perceba que se consegue distinguir nas imagens uma criança saudável de uma criança aparentemente doente. De que maneira você fez isso? Quais critérios você elegeu para distinguir as imagens? A resposta para essas perguntas é muito simples. Desde muito cedo recebemos orientações sobre hábitos de vida saudável e sabemos quando estamos com saúde ou quando as coisas parecem não estar muito bem. Com isso acabamos não só estabelecendo critérios de escolha, como também vamos incorporando essas escolhas em nosso dia a dia, tornando-nos capazes de formular conceitos. A ideia principal deste estudo é que, ao final dele, tenhamos a compreensão de que a palavra saúde não pode ser entendida de forma restrita como sendo somente a ausência de doença; precisamos compreendê-la de maneira mais ampla. Conceição (1994) relata que, em 7 de abril de 1948, a Organização Mundial de Sáude (OMS) conceituou saúde como sendo o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença, corroborando o que acabamos de ver. Esta conceituação ampla representa um avanço em relação aos conceitos vigentes nos séculos passados, justamente por ultrapassar os limites estreitos da área físico-somática e incluir os aspectos mental e social. Observe a figura a seguir! FIGURA 3 – VIDA E SAÚDE FONTE: Conceição (1994, p. 6) M EL HO R VI VE R M ELHOR SAÚDE BEM ESTAR FÍSICO, MENTAL E SOCIAL E NÃO APENAS AUSÊNCIA DE DOENÇA ESTADO DE SAÚDE INFRA-ÓTIMO OU DE DOENÇA INCIPIENTE ESTADO DE DOENÇA OU LIMITAÇÃO DECLARADA ESTADO DE DOENÇA MUITO SÉRIA OU DE APROXIMAÇÃO DA MORTE ÓTIMO VIVER SAÚDE ÓTIMA NÃO VIVERMORTE VIDAAMBIENTEHOMEMSAÚDE TÓPICO 1 | SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 5 Analisando a imagem anterior podemos perceber que o ser humano na interação homem-ambiente vive em uma luta constante executando suas ações à procura do ótimo-vital, seja relacionado à saúde ou à vida de uma maneira geral. Dessa forma, o ser humano procura uma forma de viver que, em sua essência, confunde-se com o conceito de saúde: bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença. Pode-se dizer que o homem está com saúde quando, pelo intercâmbio com o ambiente, consegue manter sua individualidade biológica, diminuir agressões e resolver os conflitos que surgem. Isso, fundamentalmente, mostra o homem como ser ativo, que conquista seu estado de saúde. (CONCEIÇÃO, 1994, p. 5, grifo do autor). Perceba a estreita ligação que há entre melhor-viver e melhor-saúde, conceitos apresentados pelo autor acima citado: as ações que visam à melhoria da sáude são, ao mesmo tempo, as ações que objetivam a melhoria das condições de vida. Observe: QUADRO 1 – SAÚDE BIOLÓGICA, MENTAL E SOCIAL ESTAR COM SAÚDE Na área biológica: Significa lutar para manter o equilíbrio físico diante das mutações ambientais, à procura do ótimo-viver. Assim, nos aspectos diários de vida sadia, vive-se uma ação dinâmica e contínua para a superação dos conflitos surgidos pelas agressões ambientais, inexistindo a ideia de conformismo e passividade ou de aceitar o indesejável e o maléfico sem combate. Na área mental: A procura do completo bem-estar é a expressão da luta do homem diante dos conflitos: sem medo, procurando resolvê-los constantemente, sabendo, de antemão, que a solução de um deles abre a perspectiva de aparecimento de outros conflitos ou da busca de novas soluções, isto é, um vir a ser permanente. Na área social: Representa, também, a luta do homem para a harmonização de suas necessidades mais íntimas e concretas com a estrutura social vigente, mantendo-a ou modificando-a, de acordo com suas aspirações, bem como de seu grupo social e comunidade. FONTE: Adaptado de: Conceição (1994) Caro acadêmico, neste ponto de nosso estudo podemos concluir que estar com saúde corresponde ao melhor estado de vitalidade física, mental e social, que surge não só de nossa atuação frente aos conflitos e à busca de soluções, como também de nossa interação harmônica com o meio ambiente. UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 6 DICAS Para aprofundar seus conhecimentos, observe nossa dica de leitura! Este livro, organizado por José Augusto Nigro Conceição, traz uma série de artigos relacionados ao tema Saúde Escolar: a criança, a vida e a escola. Para complementar o que acabamos de estudar, sugerimos a leitura na íntegra do primeiro artigo “Vida e Saúde”, de autoria do próprio organizador. Veja com seu professor se o polo de apoio presencial onde você estuda não tem este exemplar disponível para consulta. Boa leitura! Com relação ao direito de ter uma vida plena em saúde, há 60 anos, no lançamento da Organização Mundial de Saúde, os governos mundiais declararam a saúde como direito humano fundamental, sem distinção de raça, religião, crença política, condição social ou econômica. Há trinta anos, em Alma Ata (Conferência Internacional sobre cuidados primários de saúde), os governos do mundo pediram saúde para todos até o ano 2000, principalmente através da expansão do acesso a instalações e serviços de saúde básica. Embora o mundo tenha de longe deixado de atingir esse alvo, podemos ainda chegar a ele, a custos muito baixos. Pensando nisso, dez passos básicos que podem levar à saúde para todos, nos próximos anos, de acordo com Sachs (2008). SAÚDE BÁSICA PARA TODOS Primeiro: países ricos deveriam investir 0,1% de seus produtos internos brutos para cuidados com saúde nos países de baixa renda. Com o PIB do mundo rico de U$ 35 trilhões, isso criaria um fundo de cerca de U$ 35 bilhões por ano – o bastante para U$ 35 per capita em serviços adicionais para cerca de um bilhão de pessoas. Segundo: metade do acréscimo deveria ser canalizada para o Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária. O Fundo Global provou ser uma instituição altamente eficaz, com mínimo de burocracia e máximo impacto. Apoiou a distribuição de aproximadamente 30 milhões de redes antimalária, ajudou a colocar cerca de um milhão de africanos em tratamento antirretroviral e a curar mais de dois milhões de pessoas com tuberculose. Terceiro: países de baixa renda deveriam destinar 15% de seus próprios orçamentos à saúde. Considere um país pobre onde a renda média anual é de U$ 300. O orçamento total nacional pode estar em torno de 15% do PIB, mais TÓPICO 1 | SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 7 ou menos U$ 45 per capita. Quinze por cento desta soma destinada à saúde chegaria a U$ 6,75 por pessoa por ano. Não o bastante por si mesmos para fornecer cuidados de saúde adequados, mas que cumpririam a tarefacom os U$ 35 per capita de doações. Quarto: o mundo deveria adotar um planejamento para o controle abrangente da malária, visando levar a mortalidade pela doença a próximo de zero em 2012, com amplo acesso a redes antimalária, borrifamento de lares, quando apropriado, e remédios eficazes quando a doença atacasse. Quinto: os países ricos deveriam seguir em seu antigo e realizável compromisso de assegurar acesso a antirretrovirais para todas as pessoas infectadas pelo HIV até 2010. Sexto: o mundo deveria preencher uma carência de financiamento de cerca de U$3 bilhões por ano para um controle amplo da tuberculose – outra área na qual há muito tempo se provou que as intervenções são eficazes, mas onde há falta crônica de fundos. Sétimo: o mundo deveria garantir, com uns poucos bilhões de dólares por ano, o acesso dos mais pobres entre os pobres aos serviços de saúde sexuais e de reprodução, incluindo planejamento familiar, contracepção e cuidados obstétricos de emergência. Oitavo: o Fundo Global poderia oferecer cerca de U$ 400 milhões por ano para o controle amplo de diversas doenças tropicais (principalmente as infecções por vermes), que ocorrem virtualmente nas mesmas regiões onde a malária é endêmica. Nono: o Fundo Global poderia abrir um novo mecanismo de financiamento para incentivar o cuidado primário de saúde, incluindo – o mais importante – a construção de clínicas e a contratação e treinamento de enfermeiras e trabalhadores comunitários de saúde. Décimo: ao usar recentes conquistas na medicina e na saúde pública os sistemas de saúde expandidos nos países mais pobres poderiam estar equipados para lidar com doenças não comunicadas e há muito negligenciadas, mas que podem ser tratadas a custo baixo, como hipertensão, catarata e depressão. Jeffrey Sachs é diretor do Earth Institute da Universidade de Colúmbia (www.earth.columbia.edu). FONTE: Disponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/saude_basica_para_todos.html>. Acesso em: 24 jan. 2012. UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 8 Segundo Sachs (2008), esses dez passos básicos que você acabou de ler poderiam salvar a vida de 10 milhões de crianças e adultos por ano, a um custo quase imperceptível para as nações mais ricas. Essas medidas ainda iriam reduzir, e não acelerar, o crescimento populacional em regiões empobrecidas, diminuindo as tensões econômicas e ambientais que populações crescentes estão impondo a elas. Para Rattner (2009), [...] os impactos mais sérios na saúde humana são produzidos, indubitavelmente, pelas condições de vida, a desigualdade social e a consequente exclusão e marginalidade que atingem dezenas de milhões de brasileiros e centenas de milhões da população mundial. Talvez, por isso, um relatório recente divulgado pela OMS – Organização Mundial de Saúde – em agosto de 2008 e elaborado por um grupo de especialistas com ampla experiência em desenvolvimento e saúde, inicia com as palavras “Justiça social é um assunto de vida e morte”. O documento concentra-se na questão de desigualdade e sua relação com a saúde e conclama os governos a superar o fosso entre ricos e pobres, no período de uma geração. O fosso é configurado pelos extremos de mortalidade infantil e expectativa de vida entre os mais pobres da África, Ásia e América Latina quando comparados aos indicadores das classes média e alta, moradores nas áreas urbanas privilegiadas. Segundo o mesmo autor, os problemas de saúde pública têm raízes sistêmicas e interdependentes que refutam e inviabilizam qualquer abordagem linear e cartesiana. Sendo assim, infere-se que qualquer reducionismo, tratando- se de problemas sociais complexos, revela-se estéril e improdutivo. Para intervir nesse cenário desalentador, é preciso melhorar os indicadores da eficácia das políticas públicas de saúde, para informar e conscientizar a sociedade civil, organizada e motivada para sua plena participação nas decisões que afetam sua saúde e seu bem-estar. A nossa legislação também conceitua e prevê o direito à saúde. De acordo com a Lei nº 8.080/90, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, em seu art. 2º, “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. (BRASIL, 1990). Segundo a mesma lei, em seu art. 3º, a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, “[...] a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país” (grifos nossos). Caro acadêmico, a relação entre meio ambiente e saúde será abordada especificamente no Tópico 4, desta unidade. Neste momento é hora de analisar o que podemos fazer para melhorar e/ou manter nossa saúde em dia através de hábitos de vida saudáveis. Mas que hábitos são esses? Vamos descobrir juntos! TÓPICO 1 | SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 9 2.1 HÁBITOS SAUDÁVEIS Incluir hábitos saudáveis no seu dia a dia é uma boa forma de manter sua saúde física e mental, melhorar a autoestima, amenizar os sintomas da depressão e da ansiedade, reduzir o risco de doenças e aumentar consideravelmente seu sistema imunológico. UNI Você sabia que seu corpo possui um sistema interno de defesa? O sistema imunológico é uma complexa barreira composta por milhões de células de diferentes tipos e com diferentes funções, responsáveis por garantir a defesa do organismo e por manter o corpo funcionando livre de doenças. Analisando a figura a seguir podemos notar que ela nos apresenta uma série de hábitos e atitudes para levar uma vida saudável. FIGURA 4 – HÁBITOS SAUDÁVEIS FONTE: Disponível em: <http://andrerodriguesbr.wordpress.com/2010/08/19/1041/>. Acesso em: 24 abr. 2011. UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 10 Exercício de observação e reflexão! Escreva quantos hábitos e/ou atitudes são apresentados na figura acima em busca de uma vida cheia de saúde. Quantos destes você realmente pratica em seu dia a dia? Reflita sobre sua postura, talvez esteja na hora de cuidar mais da sua saúde! AUTOATIVIDADE Compare as suas observações com as que vamos fazer juntos a partir de agora! Analisando a imagem anterior vamos destacar alguns hábitos de vida que são considerados saudáveis e/ou promotores de uma vida saudável: • ingerir alimentos saudáveis, fontes de vitaminas e sais minerais (frutas, leite, verduras, sucos, entre outros); • ingerir água diariamente; • praticar atividades físicas; • manter um controle do peso; • estar de bem com a vida (sem estresse, sorrir, amar, brincar, dançar, entre outros aspectos). E então? Suas primeiras observações estão em acordo com as que acabamos de ver juntos? Perceba que esses hábitos incorporam atividades físicas e mentais, ambas fundamentais para alcançar uma vida plena de saúde, conforme estudamos no início deste tópico. Caro acadêmico! A figura que veremos na sequência nos apresenta dez hábitos saudáveis que podemos perfeitamente incluir em nosso dia a dia! Observe com atenção e reflita sobre esses hábitos. TÓPICO 1 | SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 11 FIGURA 5 – DEZ PRINCIPAIS HÁBITOS SAUDÁVEIS 1 Alimente-se bem Inclua na sua dieta uma porção de frutas, verduras e fibras como a linhaça ou aveia. Equilibre as quantidades de proteínas e carboidratos, assim como as gorduras e açúcares. Evite comer muita fritura e doces, além de pratos congelados com muito sódio. Inclua também vitaminas para o bom funcionamento do organismo. 6 Descanse quando necessário Tenha algum tempo para descansar. Seu corpo necessita de um período de 6 a 8 horas para se recuperar das atividades diárias. Uma boa noite de sono repõe todas as energias. A falta de sono está vinculada ao prejuízo do corpo e da mente. 2 Mexa-seSe você ainda não tem o hábito de praticar exercícios regularmente, inclua caminhadas ainda que por alguns minutos por dia; qualquer exercício é melhor do que não fazer exercícios. Exercícios físicos ativam a circulação, revigoram o corpo e fornecem energia. Está provado que o sedentarismo é um vilão para o corpo e a mente. 3 Beba água A ingestão de água deve ser dividida ao longo do dia e não em grandes volumes de uma vez só. A água é fundamental para o bom funcionamento de nosso organismo. A quantidade recomendada é de 1 litro e meio a dois litros. Evite bebidas açucaradas. 4 Evite o estresse Hoje em dia o estresse é apontado como um dos grandes causadores de doenças. O estresse é uma alteração do organismo em resposta a estímulos internos ou externos. Faça exercícios de respiração, relaxamento e meditação. 8 Levante sua autoestima Essa é especialmente para as mulheres. Cuide da saúde e do corpo, faça hidratação na pele, corpo e cabelo, vá ao salão de beleza, faça massagens, pinte as unhas, compre uma roupa nova… Não descuide de seu aspecto visual, ainda que você não esteja se sentindo bem. Sentir-se agradável com relação aos outros aumenta a produção de endorfinas, o hormônio responsável, em boa parte, para que as pessoas se sintam felizes. 7 Cuide da sua postura Procure adotar uma posição adequada no escritório. As cadeiras incômodas podem fazer com que você termine em uma visita ao ortopedista. Disponibilize alguns momentos para esticar os músculos durante a sua jornada laboral. Os alongamentos ajudam a evitar dores nas costas, ombros, braços, pescoço e cabeça. 5 Divirta-se! Ter amigos é muito saudável – uma boa conversa faz milagres para nossa saúde! Ouça música, dance e viaje mais. Mude a rotina e esqueça os problemas e o trabalho. Dê mais risadas. Está comprovado que o sorriso é uma excelente terapia contra o estresse e a ansiedade. UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 12 10 Esqueça o cigarro e o álcool Tanto o cigarro quanto o álcool prejudicam o desempenho do corpo para quaisquer atividades. O consumo de qualquer droga pode levar a outra, e a droga mais relacionada ao tabagismo é o álcool. E quando o tabagismo está associado ao álcool, o consumo de cigarro tende a triplicar – o que pode precocemente causar doenças graves. Como podemos perceber, nossa saúde está diretamente relacionada aos hábitos que adotamos ao longo da vida. Excluir hábitos que prejudicam de alguma forma nossa saúde e passar a adotar hábitos saudáveis é um bom exercício para conquistar plena saúde física e mental. Comece a se observar em seu dia a dia e faça uma lista de seus principais hábitos. Se você notar que poucos ou nenhum dos hábitos saudáveis que vimos juntos fazem parte da sua vida, está na hora de começar a pensar sobre isso e, acima de tudo, rever sua forma de levar a vida. Sempre é tempo de começar, mexa-se e lembre-se de que saúde envolve uma série de fatores e/ou condições que devem ser adotadas para o nosso bem-estar completo, incluindo o equilíbrio e a qualidade ambiental, conforme veremos a seguir. FONTE: Disponível em: <http://belezaesaude.dae.com.br/habitos-saudaveis/>. Acesso em: 6 jun. 2011. 9 Use protetor solar Os benefícios em longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência. Usar filtro todos os dias evita câncer de pele e o envelhecimento precoce. Se a exposição ao sol é pouca basta usar o FPS 15, mas, se for alta, use ao menos o fator 30. 13 Neste tópico você estudou que: • A palavra saúde não deve ser entendida de forma restrita como sendo somente a ausência de doença. • Saúde envolve o bem-estar físico, mental e social de um indivíduo. • A Lei nº 8.080/90 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. • A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. • A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, “[...] a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais”. • Os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país. • Os impactos mais sérios na saúde humana são produzidos, indubitavelmente, pelas condições de vida, a desigualdade social e a consequente exclusão e marginalidade que atingem dezenas de milhões de brasileiros e centenas de milhões da população mundial. • Os problemas de saúde pública têm raízes sistêmicas e interdependentes que refutam e inviabilizam qualquer abordagem linear e cartesiana. • Incluir hábitos saudáveis no seu dia a dia é uma boa forma de manter sua saúde física e mental, melhorar a autoestima, amenizar os sintomas da depressão e da ansiedade, reduzir o risco de doenças e aumentar consideravelmente seu sistema imunológico. • Nossa saúde está diretamente relacionada aos hábitos que adotamos ao longo da vida. • Saúde envolve uma série de fatores e/ou condições que devem ser adotadas para o nosso bem-estar completo, incluindo o equilíbrio ambiental. RESUMO DO TÓPICO 1 14 1 Em que sentido corpo e mente podem estar relacionados na manutenção de uma vida saudável/sadia? ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 2 Observe-se por um determinado período e anote seus hábitos de vida. Em seguida construa uma tabela e liste o que você considera hábitos saudáveis e os prejudiciais. Deixe uma coluna disponível para você acrescentar e se comprometer com uma mudança de atitude para cada hábito prejudicial de seu dia a dia. Veja um exemplo e, a partir dele, construa sua tabela. AUTOATIVIDADE Hábito saudável Hábito prejudicial Mudança de atitude Caminhar 3 vezes por semana (1h). Fumar 1 carteira de cigarros por dia. Diminuir a quantidade de cigarros por dia até conseguir parar de fumar. Beber bastante água ao longo do dia. Ingestão de alimentos gordurosos. Optar por alimentos preparados de forma mais saudável. 15 TÓPICO 2 MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste tópico vamos estudar o que é o meio ambiente e de que forma estamos inseridos neste meio. Você terá oportunidade de perceber que a grande maioria dos problemas ambientais que temos presenciado está fundamentada na falta de conscientização/alfabetização ecológica durante a formação das gerações passadas e atuais. NOTA A alfabetização ecológica é o processo de aprendizagem dos princípios de organização dos ecossistemas que constituem a vida na Terra. Ensinar e aprender os princípios básicos da ecologia para nos tornarmos “ecologicamente alfabetizados”, conhecendo as diversas redes de interações, que constituem a teia da vida, são objetivos da alfabetização ecológica. Através dela é possível entender as múltiplas relações que se estabelecem entre todos os seres e o ambiente onde vivem, e como tais relações se configuram na teia que sustenta a vida no planeta. Acesse o site <http://www.alfabetizacaoecologica.com/> para saber mais sobre a obra Alfabetização Ecológica: um caminho para a sustentabilidade, da autora Ellen Regina Mayhé Nunes. O ser humano foi produzindo, transformando e construindo o espaço geográfico sem se sentir parte integrante deste meio. Com isso, vivenciamos hoje destruição ambiental e uso irracional dos recursos naturais, ocasionando uma série de problemas socioambientais que afetam a comunidade global. Compreender o conceito de meio ambiente é criar condições para que os seres humanos se sintam moralmente responsáveis pelo seu comportamento em relação à natureza. Neste contexto,vamos resgatar alguns conhecimentos sobre o tema para nos sentirmos integrantes e integrados ao meio ambiente e diretamente responsáveis pela sua saúde e proteção. UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 16 2 O CONCEITO DE MEIO AMBIENTE Você lembra que no tópico anterior você observou duas imagens e escolheu a que lhe mostrava uma criança com saúde? Agora analise o meio ambiente! Qual dessas imagens o remete a um ambiente saudável e equilibrado? FONTE: Disponível em: <http://www. rogeriosilveira.jor.br/amigos/didiu/meio_ ambiente.jpg>. Acesso em: 24 abr. 2011. FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot. com/_5dL9Zisqexk/SlOc5HnH9UI/ AAAAAAAAJsE/72-upLFGP5A/s400/lixo.JPG>. Acesso em: 24 abr. 2011. Neste caso, da mesma forma você resgatou conceitos e aprendizados internalizados ao longo de sua vida e, certamente, optou pela Figura 6. Isso porque as questões ambientais são muito discutidas e veiculadas pelos meios de comunicação, tornando-se preocupação constante nas sociedades atuais e ajudando a formar conceitos a respeito de um ambiente saudável. FIGURA 6 – MEIO AMBIENTE PRESERVADO FIGURA 7 – MEIO AMBIENTE POLUÍDO DICAS Lembra a dica no tópico anterior sobre o Canal kids/ Saúde? Pois é, agora é hora do Canal Kids/Meio Ambiente. Acesse o site <http://www.canalkids.com.br/meioambiente/index.htm>. Este é um ambiente virtual com muita informação para você e seus alunos, além de servir como uma fonte para enriquecer suas (futuras) aulas. Caro acadêmico, não se preocupe..., no último tópico, da Unidade 3, voltaremos a falar sobre metodologias de ensino voltadas ao meio ambiente e saúde. TÓPICO 2 | MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 17 Já que estamos falando em ambiente saudável, a Constituição Federal de 1988 estabelece que o direito ao meio ambiente saudável é também considerado como um direito constitucional fundamental. Observe-se o que diz o art. 225 (capítulo VI do Meio Ambiente): “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para presentes e futuras gerações”. Mas qual o conceito de meio ambiente propriamente dito? Algumas definições abrangem somente os componentes naturais, já outras, refletindo uma concepção mais atual, consideram o meio ambiente um sistema amplo no qual há a interação de fatores físicos, biológicos, econômicos e sociais. Para Silva (2002, p. 20), meio ambiente “[...] é a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”. De acordo com a Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), em seu art. 3º, entende-se por meio ambiente “[...] o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Ou seja, ao pensarmos sobre meio ambiente devemos ter uma visão ampla que [...] envolva não só os elementos naturais do meio ambiente, mas também os elementos construídos e todos os aspectos sociais envolvidos na questão ambiental. Dentro dessa visão, o homem é um elemento a mais que, porém, tem extraordinária capacidade de atuar sobre o meio e modificá-lo – o que pode, às vezes, voltar-se contra ele próprio. (BRASIL, 2000, p. 73). Portanto, ao pensarmos no termo ‘meio ambiente’ podemos relacioná- lo ao espaço (físico e biológico) em que vivem os seres vivos e no qual se desenvolvem, estabelecem relações, transformam e são transformados, somado ao espaço sociocultural (no caso dos seres humanos). Caro acadêmico, no dia 5 de junho comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente. Esta data foi estabelecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1972 marcando a abertura da Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano. De acordo com o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 2011), o Dia Mundial do Meio Ambiente cataliza a atenção e ação política de povos e países para aumentar a conscientização e a preservação ambiental. UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 18 Os principais objetivos das comemorações são: 1 mostrar o lado humano das questões ambientais; 2 capacitar as pessoas a se tornarem agentes ativos do desenvolvimento sustentável; 3 promover a compreensão de que é fundamental que comunidades e indivíduos mudem atitudes em relação ao uso dos recursos e das questões ambientais; 4 advogar parcerias para garantir que todas as nações e povos desfrutem um futuro mais seguro e mais próspero. Nós, educadores, precisamos cada vez mais mobilizar nossos educandos e toda a comunidade, seja ela escolar ou não, para datas como estas. Lembramos que meio ambiente, proteção e preservação ambiental, educação ambiental, alfabetização ecológica, entre outros, são temas que devem ser trabalhados de forma transdisciplinar, ou seja, com o grau máximo de relações entre as disciplinas, o que supõe uma integração global dos temas. UNI Para refletir! Observe as charges a seguir e reflita sobre as atuais condições ambientais. Ao longo de nosso estudo voltaremos a falar sobre meio ambiente, degradação ambiental e sustentabilidade! FONTE: Disponível em: A <http://1.bp.blogspot.com/_bYpqQlgdj8A/Sn78Q855ODI/ AAAAAAAAAzI/W1xpu3zW6cA/s400/charge_meio_ambiente.jpg>; B <http://www.sedur. ba.gov.br/imagens/charges/charge.meioambiente.02_05.06.07.jpg>. Acesso em: 12 jun. 2011. A B TÓPICO 2 | MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 19 Caro acadêmico, no próximo tópico desta unidade, faremos uma breve, porém importante, passagem pelo meio ambiente, compreendendo seus componentes e as relações que ocorrem entre eles. Trata-se de uma passagem fundamental não só para nos familiarizar com alguns conceitos ecológicos, mas também para ter uma base teórica sobre essas relações. Este estudo nos conduzirá para a compreensão da íntima correlação que há entre o meio ambiente e nossa saúde. 20 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou que: • O ser humano foi produzindo, transformando e construindo o espaço geográfico sem se sentir parte integrante deste meio. • Compreender o conceito de meio ambiente é criar condições para que os seres humanos se sintam moralmente responsáveis pelo seu comportamento em relação à natureza. • As questões ambientais são muito discutidas e veiculadas pelos meios de comunicação, tornando-se preocupação constante nas sociedades atuais e ajudando a formar conceitos a respeito de um ambiente saudável. • A Constituição Federal de 1988 estabelece que o direito ao meio ambiente saudável é também considerado como um direito constitucional fundamental. • O art. 225 da Constituição Federal de 1988 (capítulo VI do Meio Ambiente) afirma: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para presentes e futuras gerações”. • Algumas definições para o termo meio ambiente abrangem somente os componentes naturais, já outras, refletindo uma concepção mais atual, o consideram um sistema amplo no qual há a interação de fatores físicos, biológicos, econômicos e sociais. • A Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), em seu art. 3º, entende por meio ambiente “[...] o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. • Ao pensarmos no termo ‘meio ambiente’ podemos relacioná-lo ao espaço (físico e biológico) em que vivem os seres vivos e no qual se desenvolvem, estabelecem relações, transformam e são transformados, somado ao espaço sociocultural (no caso dos seres humanos). 21 1 Como você definiria o termo meio ambiente? __________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 2 Analise as afirmativas e assinale V para as verdadeiras e F para as falsas. Na sequência assinale a alternativa CORRETA: ( ) A Contituição Federal de 1988 estabelece que o direito ao meio ambiente saudável é também considerado como um direito constitucional fundamental. ( ) As concepções mais antigas acerca do termo meio ambiente o consideram um sistema fechado no qual há a interação de fatores físicos, biológicos, econômicos e sociais. ( ) As questões ambientais há muito tempo deixaram de ser uma preocupação constante nas sociedades atuais. ( ) Segundo o art. 225 da Constituição Federal de 1988 (capítulo VI do Meio Ambiente), “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida [...]”. a) ( ) V- V- F- F. b) ( ) F- F- F- V. c) ( ) V- F- F- V. d) ( ) V- V- F- V. AUTOATIVIDADE 22 23 TÓPICO 3 FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Para compreender a relação que há entre meio ambiente e saúde, é fundamental que façamos um breve passeio pela ecologia para nos familiarizar com seus principais conceitos e fundamentos e nos conscientizar de que fazemos parte do meio ambiente. Aliás, você conhece a origem da palavra ecologia? Derivada de duas palavras gregas: óikos (casa) e logos (estudo), ecologia significa literalmente o “estudo da casa”. Preocupada em estudar as relações existentes entre os seres vivos e destes com o meio ambiente, a ecologia é uma área que está em pleno desenvolvimento e torna-se cada vez mais importante devido à interferência humana sobre os ecossistemas. NOTA Você sabe o que significa ecossistema? Ecossistema é uma unidade ecológica importante, pois equivale à somatória dos componentes bióticos (seres vivos) mais os componentes abióticos (fatores que atuam sobre os seres vivos, tais como luz, temperatura, tipo de solo, salinidade, variações de pressão da água e do ar, entre outros). Pare um instante para analisar a região onde você mora. Que problemas ambientais são mais inquietantes? A coleta do lixo? A ausência de programas de reciclagem? Excesso de poluição? Você sabe a dimensão do desequilíbrio ecológico e os problemas de saúde que a ausência de um programa de coleta seletiva e reciclagem, por exemplo, podem trazer para o meio ambiente e a comunidade? Os desequilíbrios ecológicos, observados nos últimos tempos, podem ser amenizados à medida que passamos a conhecer a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas e nos tornamos capazes de adotar procedimentos racionais de utilização dos recursos naturais. 24 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Portanto, neste tópico, você terá a oportunidade de conhecer os conceitos básicos da ecologia para, ao longo do estudo desta disciplina, avaliar a importância de perceber o alto grau de interdependência que existe entre os diversos componentes da biosfera. Entender a complexidade das relações ecológicas entre os seres vivos e destes com o meio é uma ferramenta fundamental para gerar mudança de atitude diante dos problemas ambientais que nos cercam. Manter um meio ambiente saudável e equilibrado significa ter saúde e qualidade de vida. 2 ECOLOGIA O meio ambiente e a ecologia passaram a ser uma preocupação em todo o mundo, em meados do século XX. Porém, foi ainda no século XIX, por volta de 1869, que o biólogo alemão, Ernst Haeckel, propôs pela primeira vez o termo ecologia. Parafraseando Haeckel, podemos descrever ecologia como o estudo científico das interações entre organismos e deles com o ambiente. (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). A importância de conhecer os fundamentos desta ciência consiste em entendermos que fazemos parte do meio ambiente. Somos seres participantes de todas essas interações, sejam elas com outros organismos ou, principalmente, com o meio físico. Atualmente, temos ouvido e lido muito sobre problemas ambientais e com certeza você deve ter se lembrado de vários, certo? No entanto, pouco se tem feito efetivamente para solucionar ou pelo menos amenizar tais problemas. Precisamos mudar nossas atitudes e entender que a preservação dos ecossistemas e dos recursos naturais está intimamente ligada à nossa sobrevivência. E a condição para tal se resume em educação, precisamos urgentemente de educação ambiental para todos. ESTUDOS FU TUROS Caro acadêmico, na Unidade 3 voltaremos a falar sobre Educação Ambiental. Vamos em frente! Segundo Fernandez (2004, p. 13), “Mais do que nunca, é preciso conhecer e entender para conservar. Mas para conservar é preciso também amar”. Sob esta ótica, vamos compreender que exercemos um papel importante sobre os ecossistemas, seja como agentes transformadores ou conservadores dos recursos naturais. TÓPICO 3 | FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA 25 3 NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO A ecologia, assim como as demais ciências, subdivide seu objeto de estudo para, dessa forma, facilitar a compreensão das partes que compõem o todo. Para Odum e Barret (2007), talvez a melhor maneira de delimitar a ecologia moderna seja considerar o conceito de níveis de organização. Em cada nível, ocorrem interações com o ambiente físico, formando sistemas funcionais característicos. Podemos entender nível como um conjunto de entidades sejam elas moléculas, genes, células, tecidos, órgãos ou mesmo espécies agrupadas, de forma hierárquica com uma escala crescente de complexidade. Para Ricklefs (2003, p. 2), “Cada sistema ecológico menor é um subconjunto de um próximo maior, e assim os diferentes tipos de sistemas ecológicos formam uma hierarquia de tamanho”. Observe a figura a seguir e veja um exemplo de níveis de organização biológica. FIGURA 8 – NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO BIOLÓGICA FONTE: Disponível em: <http://raphax.files.wordpress.com/2010/04/niveisdeorganizacao1.jpg>. Acesso em: 28 mar. 2011. Neste tópico, vamos analisar os níveis de organização a partir dos que são considerados os principais objetos de estudo da ecologia: população, comunidade, ecossistema e biosfera (ODUM; BARRET, 2007), além de conceituar alguns termos importantes. Se você parar por alguns instantes para observar a natureza à sua volta, poderá perceber que os organismos não existem de forma isolada. Além de estabelecerem uma série de relações entre si, os indivíduos relacionam-se também com o meio em que vivem. 26 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O conjunto destes indivíduos da mesma espécie e que vivem em uma determinada área forma uma população. Esta população, por sua vez, também não se encontra totalmente isolada de outras, e um conjunto de populações forma uma comunidade. Essas comunidades interagem com fatores físicos, químicos e climáticos do meio onde vivem para formar os ecossistemas. Por fim, o conjunto de todos os ecossistemas forma a biosfera. NOTA Temos como definição de espécie um conjunto de indivíduos capazes de se reproduzir gerando descendentes férteis. Ricklefs (2003) considera a biosfera o sistema ecológico final, no qual os ecossistemas estão todos interligados. Podemos concluir então que a biosfera, lugar onde encontramos vida no planeta, é o maior sistema biológico. 4 COMPONENTES ESTRUTURAIS DE UM ECOSSISTEMA Ao estudar a organização do mundo vivo, por meio dos níveis de organização, percebemos que a biosfera é formada pelo conjunto dos ecossistemas. O ecossistema é, portanto, uma unidade de estudo em ecologia em que se busca entender como esse sistema ecológico funciona e de que maneira se mantém em equilíbrio. Um ecossistema pode apresentar dimensões muito variáveis. Podemos citar como exemplo de sistema ecológico a Floresta Amazônica ou uma lagoa. Independente do tamanho, fatores bióticos e abióticos são os componentes estruturais básicos de qualquer ecossistema e estão intimamente inter- relacionados. Em todos eles ocorre troca de matéria e energia. Além disso, cada ecossistema faz intercâmbio de matéria e energia com ecossistemas vizinhos.Para Ricklefs (2003, p. 3): A importância da troca de matéria entre os ecossistemas dentro da biosfera é acentuada pelas consequências globais das atividades humanas. Por exemplo, os rejeitos agrícolas e industriais se espalham para bem longe dos seus pontos de origem, afetando todas as regiões da Terra. Na seção a seguir, veremos os componentes estruturais que compõem os ecossistemas. TÓPICO 3 | FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA 27 4.1 COMPONENTES BIÓTICOS Os componentes bióticos em um ecossistema são formados por todos os seres vivos que ali se encontram. Podemos dividir esses componentes em dois grandes grupos, de acordo com o modo pelo qual se alimentam ou obtêm energia: • autótrofos: são capazes de sintetizar seu próprio alimento e são representados pelos seres fotossintetizantes e quimiossintetizantes, sendo considerados os produtores dos ecossistemas; • heterótrofos: não são capazes de sintetizar seus próprios alimentos e são representados pelos consumidores e decompositores. Assim, os componentes bióticos de um ecossistema em equilíbrio são: produtores, consumidores e decompositores. Os seres vivos precisam de energia para manter seu organismo em funcionamento e é por meio dos alimentos que conseguem essa energia. Os produtores (na maioria vegetais) são seres vivos que conseguem produzir seu próprio alimento a partir de compostos inorgânicos obtidos do meio ambiente. NOTA Você já deve ter ouvido falar no processo da fotossíntese, certo? É por ele que as plantas sintetizam seu próprio alimento orgânico, a partir de compostos inorgânicos simples (gás carbônico, água e sais minerais) em presença de luz (fonte de energia). E de quebra, ainda absorvem o gás carbônico em excesso no ar. Os consumidores, seres heterotróficos, não possuem essa capacidade de produzir seu próprio alimento. Assim, eles se alimentam de produtores ou então de outros consumidores. NOTA Os consumidores podem ser: - primários, quando se alimentam de produtores, como é o caso dos herbívoros; - secundários, quando se alimentam de consumidores primários, como os carnívoros; - terciários, quando se alimentam de consumidores secundários constituindo o terceiro nível trófico e assim sucessivamente (figura a seguir). 28 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Os decompositores, importantes componentes dos ecossistemas, são consumidores que se nutrem de animais e plantas mortos. Representados por organismos microscópicos (bactérias e fungos), sua função é a reciclagem da matéria orgânica através da decomposição. Por meio deste processo, esses recicladores da natureza restituem compostos inorgânicos ao meio ambiente, tornando-os novamente disponíveis para os produtores. FIGURA 9 – COMPONENTES BIÓTICOS E NÍVEIS TRÓFICOS FONTE: As autoras Decompositores Nível Trófico I Nível Trófico III Nível Trófico II Nível Trófico IV Consumidor Terciário (Carnívoro) Consumidor Secundário (Carnívoro) Consumidor Primário (Herbívoro) Produtor (Vegetal) Os níveis tróficos representam os elos de uma cadeia alimentar. A classificação (I, II, III e assim por diante) está diretamente relacionada segundo a fonte de energia assimilada. UNI O termo trofismo ou trófico é de origem grega (trophe) e significa alimentação. Voltaremos a falar sobre níveis tróficos quando abordarmos cadeia alimentar e fluxo de energia. TÓPICO 3 | FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA 29 4.2 COMPONENTES ABIÓTICOS Os componentes abióticos são fatores químicos e/ou físicos que atuam diretamente sobre os seres vivos. Podemos citar como exemplos: água, temperatura, salinidade, luminosidade, tipo de solo, pH etc. Em resumo, são os fatores “sem vida” presentes no meio ambiente. Segundo Ricklefs (2003, p. 23): Frequentemente falamos do vivo e do não vivo como opostos. Mas embora possamos facilmente distinguir entre esses dois grandes reinos do mundo natural, eles não existem isoladamente um do outro. A vida depende do mundo físico. Os seres vivos também afetam o mundo físico: solo, atmosfera, lagos e oceanos, e muitas rochas sedimentares devem suas propriedades em parte às atividades das plantas e animais. Nesta interdependência que ocorre entre os componentes bióticos e abióticos, os seres vivos vivem em uma busca constante das condições adequadas à sua sobrevivência, sendo necessário, muitas vezes, tolerar extremos de temperatura, luminosidade e outros fatores físicos que influenciam seu crescimento, reprodução, características, além de sua distribuição por diferentes locais. DICAS Para aprofundar o conteúdo relacionado aos fatores abióticos, sugerimos a leitura do capítulo 2, do livro A Economia da Natureza. Este capítulo traz informações sobre o ambiente físico e explora os atributos do ambiente que trazem mais consequências para a vida. Veja a referência completa na seção de Referências. 5 CADEIA, TEIA ALIMENTAR E FLUXO DE ENERGIA A energia e a matéria (necessárias para que um ser vivo realize suas atividades vitais) são basicamente obtidas através dos alimentos. Assim, a “[...] sequência das relações tróficas pela qual a energia passa través do ecossistema é chamada de cadeia alimentar”. (RICKLEFS, 2003, p. 118). O fluxo energético que ocorre em uma cadeia alimentar é sempre no sentido: CONSUMIDOR DECOMPOSITORPRODUTOR 30 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Isso porque são os produtores os únicos capazes de produzir alimento, conforme vimos anteriormente. Você deve estar pensando: “... essas relações alimentares que ocorrem na natureza não são tão simples assim”. Seu pensamento está correto! Em um ecossistema, existem várias cadeias alimentares que se interconectam, formando uma verdadeira rede complexa de transferência de matéria e energia, a qual chamamos de teia alimentar (figura a seguir). Perceba que as relações tróficas que ocorrem na natureza formam verdadeiras teias alimentares; a cadeia alimentar, menos complexa, pode ser vista como uma parcialidade da teia alimentar, somente para fins didáticos. NOTA Lembre-se, níveis tróficos são os elos que compõem uma cadeia alimentar. Assim, se tomarmos como exemplo uma cadeia alimentar simples, composta por produtores, herbívoros e carnívoros, os produtores ocupam o primeiro nível trófico. Os herbívoros, que são os consumidores primários, formam o segundo nível trófico, e os carnívoros (consumidores secundários) formam o terceiro nível trófico. Se sentir necessidade, volte a observar a figura sobre o assunto. FIGURA 10 – TEIA ALIMENTAR FONTE: Disponível em: <http://adrianadae.blogspot.com/2009/11/teia-alimentar.html>. Acesso em: 28 mar. 2011. TÓPICO 3 | FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA 31 A cada transferência que ocorre, ou a cada passagem de nível trófico, parte da energia perde-se sob a forma de calor e parte é utilizada pelo organismo na realização dos processos vitais. Assim, quanto menor a cadeia alimentar, ou quanto mais próximo o organismo estiver do início da cadeia, maior será a energia disponível à população. (ODUM, 1988). Seguindo este mesmo pensamento, podemos concluir que o fluxo de energia é decrescente (diminui a cada nível trófico) e unidirecional já que essa energia liberada não é reaproveitada. Veja na figura a seguir como Odum representou o fluxo de energia através de um diagrama, mostrando três níveis tróficos. Segundo Ricklefs (2003, p. 118): Para cada nível trófico, este diagrama mostra uma caixa representando a biomassa (ou seu equivalente energético) de todos os organismos que compõem aquele nível trófico num determinado momento. Por exemplo, uma caixa poderia representar todas as plantas ou todos os herbívoros em um dado ecossistema. Sobrepostas a estas caixas estão as vias que representam o fluxo de energia através daquele nível trófico. FIGURA 11 – MODELO UNIVERSAL DE E. P. ODUM DO FLUXO ECOLÓGICO DE ENERGIA FONTE: Ricklefs (2003, p. 119) NOTA Fique atento ao observar a figura anterior: (a) um único nível trófico; (b) representação de uma cadeia alimentar. Através deste fluxograma, percebemosa maneira pela qual o fluxo de energia diminui a cada nível trófico sucessivo. Como vimos, a energia segue um caminho unidirecional, não podendo mais ser reutilizada pelos organismos. Porém, a matéria sempre é reaproveitada através dos ciclos biogeoquímicos, que possibilitam este caminho cíclico da matéria na natureza. 32 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Alguns dos principais ciclos podem ser considerados o da água, do carbono, do oxigênio e do nitrogênio. Não iremos adentrar no campo destes ciclos, porém segue uma dica do UNI para que a construção do seu conhecimento não fique limitada a estas páginas. DICAS Acesse o site <http://www.iqsc.usp.br/iqsc/servidores/docentes/pessoal/ mrezende/arquivos/EDUC-AMB-Ciclos-Biogeoquimicos.pdf>. Neste endereço eletrônico, você encontrará um material de estudo intitulado “A importância da compreensão dos ciclos biogeoquímicos para o desenvolvimento sustentável”. O objetivo deste material é propiciar a você conhecimento básico a respeito dos ciclos biogeoquímicos. 6 RELAÇÕES ECOLÓGICAS Desde o início deste estudo temos ressaltado a importância de compreender as relações existentes entre os seres vivos e destes com o meio onde vivem. É fato que os organismos não vivem de maneira isolada nos ecossistemas, muito pelo contrário, estabelecem uma série de relações. Neste tópico, vamos conhecer importantes interações que podem ser observadas entre os seres vivos. Para Odum (1988, p. 233): Uma população muitas vezes afeta o crescimento ou a taxa de mortalidade de outra população. Assim, os membros de uma população podem alimentar-se de membros de outra população, competir por alimento, excretar dejetos nocivos ou interferir de alguma outra forma com a outra população. Igualmente, as populações podem ajudar uma à outra, a interação sendo ou unidirecional ou recíproca. Estas interações podem ser classificadas em harmônicas, quando não há prejuízo para nenhum dos indivíduos da associação ou, desarmônicas, em que pelo menos um indivíduo da associação sofre algum tipo de desvantagem. Além desta classificação, podemos perceber que essas relações podem ocorrer entre indivíduos da mesma espécie, sendo classificadas como intraespecíficas ou entre indivíduos de espécies diferentes, classificadas como interespecíficas. Acompanhe como essas relações estão esquematizadas na figura a seguir. TÓPICO 3 | FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA 33 FIGURA 12 – RELAÇÕES ECOLÓGICAS RE LA Ç Õ ES E C O LÓ G IC A S Relações desarmônicas (interações negativas) Relações harmônicas (interações positivas) Canibalismo Competição Intraespecífica Amensalismo Parasitismo Predação Competição interespecífica Sociedades Colônias Comensalismo Protocooperado Inquilinismo Mutualismo Intraespecíficas Intraespecíficas Interespecíficas Interespecíficas FONTE: As autoras Vejamos, de uma maneira simplificada, o que ocorre em cada uma dessas relações. (LOPES; ROSSO, 2005). 6.1 RELAÇÕES HARMÔNICAS ENTRE ESPÉCIES DIFERENTES Existem diversas relações harmônicas entre espécies diferentes. Vejamos: • Mutualismo: ambos os organismos se beneficiam e mantêm uma relação de dependência. FIGURA 13 – LIQUENS (FUNGOS E ALGAS) FONTE: Disponível em: <http://www.naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=2&cid=32591&bl=1>. Acesso em: 3 abr. 2011. 34 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: • Inquilinismo: um indivíduo geralmente obtém proteção quando em associação com outro, sem lhe causar prejuízo. FIGURA 14 – PLANTAS EPÍFITAS (BROMÉLIAS E ÁRVORES) FONTE: Disponível em: <http://vivendociencias.blogspot.com/2010_12_01_archive.html>. Acesso em: 3 abr. 2011. NOTA Atenção para não confundir! As plantas epífitas, como as bromélias, não podem ser confundidas com as plantas parasitas, como o cipó-chumbo, que você verá adiante. No epifitismo (inquilinismo), que é uma relação harmônica, uma das espécies se fixa e/ou se abriga na outra sem lhe causar prejuízo. • Protocooperação: assim como no mutualismo, nesta associação ambos os organismos se beneficiam, entretanto podem viver separadamente. FIGURA 15 - PROTOCOOPERAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://elainebavarde.blogspot.com/2010/06/eu-faltei-na-aula-de- biologia.html>. Acesso em: 3 abr. 2011. Pássaro palito se alimenta dos restos de alimento e parasitas nos dentes do crocodilo africano enquanto este dorme, fazendo digestão de boca aberta. TÓPICO 3 | FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA 35 • Comensalismo: nesta associação, assim como no inquilinismo, apenas um organismo se beneficia, sem causar prejuízo ao outro. A diferença é que o comensalismo sempre ocorre em busca de alimento. FIGURA 16 – COMENSALISMO FONTE: Disponível em: <http://biologia-biologa.blogspot.com/p/ecologia.html>. Acesso em: 3 abr. 2011. O tubarão e a rêmora que se aproveita dos restos da presa atacada pelo tubarão. 6.2 RELAÇÕES HARMÔNICAS DENTRO DA MESMA ESPÉCIE Existem também relações harmônicas dentro da mesma espécie. • Colônias: associação de indivíduos da mesma espécie unidos anatomicamente. FIGURA 17 – CORAIS FONTE: Disponível em: <http://ciencias-jovem.blogspot.com/>. Acesso em: 3 abr. 2011. 36 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: • Sociedades: associação de indivíduos da mesma espécie, separados anatomicamente. Podemos citar como exemplos os insetos sociais como abelhas, formigas, cupins. FIGURA 18 – ABELHAS FONTE: Disponível em: <http://veganbrasil.com.br/artigos/mel-vegan/>. Acesso em: 3 abr. 2011. 6.3 RELAÇÕES DESARMÔNICAS ENTRE ESPÉCIES DIFERENTES Vejamos agora as relações desarmônicas entre espécies diferentes. • Competição interespecífica: nesta relação, duas ou mais populações de espécies diferentes apresentam nichos ecológicos semelhantes e disputam os mesmos recursos do meio quando ele não é suficiente para todos. FIGURA 19 – COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICA FONTE: Disponível em: <http://100pipocas.blogspot.com/2008/11/2-competio-interespecfica. html>. Acesso em: 3 abr. 2011. Hienas e abutres (espécies diferentes) em disputa pelo mesmo alimento. TÓPICO 3 | FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA 37 • Predação: ocorre quando um indivíduo captura e mata outro de outra espécie para se alimentar. FIGURA 20 – PREDAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://vivendociencias.blogspot.com/2010_12_01_archive.html>. Acesso em: 3 abr. 2011. Mamífero carnívoro (predador) e mamífero herbívoro (presa). • Parasitismo: o parasita vive dentro ou sobre o corpo de um hospedeiro (indivíduo de outra espécie) do qual retira seu alimento. Podemos citar como exemplos o cipó-chumbo, carrapato, vírus, vermes em humanos. FIGURA 21 – CACHORRO PARASITADO POR CARRAPATOS FONTE: Disponível em: <http://vivendociencias.blogspot.com/2010/12/parasitismo.html>. Acesso em: 3 abr. 2011. • Amensalismo: nesta relação, os indivíduos de uma população secretam substâncias que inibem o crescimento de indivíduos de outras espécies. Como exemplo podemos citar os fungos do gênero Penicillium notatum que secretam uma substância (penicilina) que impede o desenvolvimento de bactérias. 38 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: FIGURA 22 – FUNGO PENICILLIUM + BACTÉRIA STAPHYLOCOQUE FONTE: Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/figuras/bio_ecologia/ amensalismo.jpg>. Acesso em: 3 abr. 2011. 6.4 RELAÇÕES DESARMÔNICAS DENTRO DA MESMA ESPÉCIE • Competição intraespecífica: assim como na competição interespecífica, nesta relação os indivíduos da mesma espécie competem por recursos naturais (alimento, luz, espaço) não disponíveis em quantidades suficientes no seu hábitat. FIGURA 23 – COMPETIÇÃO INTRAESPECÍFICA FONTE: Disponível em: <http://vivendociencias.blogspot.com/2010_12_01_archive.html>. Acesso em: 3 abr. 2011. TÓPICO 3 | FUNDAMENTOS DA ECOLOGIA 39 • Canibalismo: o indivíduo mata o outro da mesma espécie para se alimentar. FIGURA 24 – CANIBALISMO EM INSETOS FONTE: Disponível em: <http://vivendociencias.blogspot.com/2010_12_01_archive.html>. Acesso em: 3 abr. 2011. NOTA Algum termo lhe pareceu estranho neste tópico? Vamos esclarecerdois conceitos importantes da ecologia: - hábitat é o lugar específico onde uma determinada espécie pode ser encontrada; - nicho ecológico é o conjunto de atividades que um organismo desempenha no ecossistema, ou seja, seu papel no sistema ecológico: relações alimentares, como se reproduz, seus hábitos, estratégias de sobrevivência etc. (RICKLEFS, 2003). DICAS Leia A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Neste livro, Capra propicia uma síntese de descobertas científicas recentes como a teoria da complexidade, a teoria Gaia, a teoria do caos e outras explicações das propriedades de organismos, sistemas sociais e ecossistemas. Abandonando um pouco as análises metafísicas, Capra apresenta uma inspirada descrição dos processos biológicos, químicos, físicos e até sociais que regem a intrincada teia da vida. Com casos simples, exemplifica a complexa dinâmica envolvida nos processos de todos os seres vivos, inclusive o homem. (CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 6. ed. São Paulo: Cultrix, 2001). 40 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Neste tópico, resgatamos os principais conceitos da ecologia, partindo do início da utilização do termo até chegar às relações que ocorrem entre os organismos. Vimos que o mundo vivo se organiza através de níveis e que o ecossistema, unidade básica no estudo da ecologia, é constituído por componentes bióticos (seres vivos) e abióticos (fatores químicos e físicos que atuam diretamente sobre os seres vivos). Você também pode observar que as relações alimentares que ocorrem entre os organismos são bastante complexas, formando verdadeiras teias alimentares, e que enquanto o fluxo de matéria é cíclico na natureza, o de energia é decrescente e unidirecional. Caro acadêmico, o estudo da ecologia não se esgota com as informações e conhecimentos tratados neste tópico. Temas como ciclos biogeoquímicos, transferência de matéria e energia, dinâmica das populações são alguns exemplos do que você vai encontrar no estudo aprofundado desta ciência. Se esta introdução ao estudo despertou seu interesse, busque mais conhecimento! Veja a bibliografia citada e leia mais sobre o assunto. 41 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você estudou que: • O termo ecologia foi proposto pela primeira vez por volta de 1869, pelo biólogo alemão Ernst Haeckel. • Ecologia pode ser definida como o estudo científico das interações entre organismos e deles com o ambiente. • Ecossistema é uma unidade ecológica importante, pois equivale à somatória dos componentes bióticos (seres vivos) mais os componentes abióticos (fatores que atuam sobre os seres vivos, tais como luz, temperatura, tipo de solo, salinidade, variações de pressão da água e do ar, entre outros). • O conjunto destes indivíduos da mesma espécie e que vivem em uma determinada área forma uma população. • Um conjunto de populações forma uma comunidade. • Comunidades interagem com fatores físicos, químicos e climáticos do meio onde vivem para formar os ecossistemas. • O conjunto de todos os ecossistemas forma a biosfera. • Espécie é um conjunto de indivíduos capazes de se reproduzir gerando descendentes férteis. • Autótrofos são seres capazes de sintetizar seu próprio alimento sendo considerados os produtores dos ecossistemas. • Heterótrofos são seres que não são capazes de sintetizar seus próprios alimentos e são representados pelos consumidores e decompositores. • O fluxo energético que ocorre em uma cadeia alimentar é sempre no sentido: produtor, consumidor, decompositor. • Quanto menor a cadeia alimentar, ou quanto mais próximo o organismo estiver do início da cadeia, maior será a energia disponível à população. • O fluxo de energia diminui a cada nível trófico, portanto o fluxo de energia é decrescente (diminui a cada nível trófico) e unidirecional. • Relações ecológicas são harmônicas quando não há prejuízo para nenhum dos indivíduos da associação. 42 • Relações ecológicas são desarmônicas quando pelo menos um indivíduo da associação sofre algum tipo de desvantagem. • As relações ecológicas que ocorrem entre indivíduos da mesma espécie são classificadas como intraespecíficas. • As relações ecológicas que ocorrem entre indivíduos de espécies diferentes são classificadas como interespecíficas. 43 1 Construa duas cadeias alimentares: uma de que você participe como consumidor primário e outra como consumidor terciário. Responda em qual delas você obtém maior quantidade de energia e por que isso ocorre. 1ª cadeia (você como consumidor primário): __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2ª cadeia (você como consumidor terciário): __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2 Sobre as relações ecológicas que podem ser observadas entre os seres vivos e classificadas em harmônicas ou desarmônicas, associe os itens utilizando os códigos a seguir: I- Comensalismo. II- Mutualismo. III- Parasitismo. IV- Colônia. V- Inquilinismo. ( ) A rêmora acompanha o tubarão de perto e fica presa a ele por uma ventosa. Ela aproveita os alimentos do tubarão e também a sua locomoção, mas não prejudica e nem beneficia o seu hospedeiro. ( ) Nas caravelas existe uma união estreita de indivíduos, cada um deles especializado em determinadas funções como digestão, reprodução e defesa. ( ) A alimentação predominante do cupim é a madeira, que lhe fornece grande quantidade de celulose. Entretanto, ele não possui capacidade de digeri-la. Quem se responsabiliza pela degradação da celulose é um protozoário que vive em seu intestino, de onde não precisa sair para procurar alimento. ( ) Os piolhos habitam o cabelo ou pelagem do hospedeiro, onde se alimentam de sangue, resíduos da epiderme ou de penas e secreções sebáceas. ( ) As orquídeas, vivendo sobre outras plantas, conseguem melhores condições luminosas, mas nada retiram dos tecidos internos destas plantas. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I- IV- II- III- V. b) ( ) IV- I- III- V- II. c) ( ) II- I- V- III- IV. d) ( ) I- II- III- IV- V. AUTOATIVIDADE 44 45 TÓPICO 4 RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Para compreender a relação entre meio ambiente e saúde precisamos entender as causas e consequências dos problemas ambientais que temos presenciado nos últimos tempos. A partir desta percepção, ficará claro que meio ambiente e saúde são temas indissociáveis. Antes de iniciar nossos estudos, reflita sobre os seguintes questionamentos. Como devemos nos comportar para conseguir viver em harmonia e equilíbrio em prol de um mundo “sustentável”? Pensando no planeta como um organismo vivo, onde os diversos ecossistemas vivem e têm a necessidade de equilíbrio, como você percebe a atual crise ambiental? Que atitudes devem ser adotadas para alcançarmos um estágio em que as sociedades possam ser ditas sustentáveis e ambientalmente saudáveis? Assim, ao longo deste tópico, estudaremos as configurações da crise ambiental na atualidade e as razões que levaram ao confronto entre meio ambiente e desenvolvimento. Vamos conhecer a amplitude desta crise através dos problemas ambientais globais e, com isso, verificar a urgência de um contínuo processo de conscientização ecológica envolvendo todos os atores sociais. Ao término deste estudo, veremos que este processo deve ser globalizado, pois tem papel fundamental na tomada de ações e/ou medidas para amenizar os problemas ambientais já instalados, bem como promover uma transformação profunda no modo de pensar e agir da humanidade. 2 MEIO AMBIENTE E SAÚDE Como vimos nos tópicos anteriores, a saúde não se limitaao funcionamento adequado de nossos sistemas orgânicos. É imprescindível que haja também uma boa integração com o meio ambiente, o que significa manter relações de troca com os meios bióticos, abióticos e até mesmo com o meio social. Neste sentido, cuidar do meio ambiente e preservar os recursos naturais é cuidar de nossa saúde e de nosso bem-estar. Dessa forma, ao pensarmos na relação saúde e meio ambiente percebemos que é impossível desvincular os dois temas. De acordo com a tradição médica de Hipócrates (século V a. C.), visto como o médico mais importante da Antiguidade e considerado o pai da medicina, 46 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: [...] os meios mais eficazes para prevenir as doenças era a moderação e um modo de vida saudável. Por conseguinte, a saúde seria o estado natural do homem. Quando a doença aparece, isso significa que a natureza “saiu dos trilhos” devido a um desequilíbrio corporal ou anímico. O caminho para a saúde do homem está na moderação, na harmonia e “na mente sã em corpo são”. (GAARDER, 1995, p. 68). FIGURA 25 – HIPÓCRATES FONTE: Disponível em: <http://www.ahistoria.com.br/wp-content/uploads/hipocrates.jpg>. Acesso em: 24 abr. 2011. UNI Caro acadêmico, o termo anímico refere-se à alma. Hipócrates revolucionou teorias e conceitos. Em seu trabalho clássico denomi nado “Tratado dos Ares, Águas e Lugares”, Hipócrates, ao invés de atribuir uma origem divina às doenças, discute suas causas ambientais. Ele sugere que considerações tais como o clima de uma população, a água ou sua situação num lugar em que os ventos sejam favoráveis são elementos que podem ajudar o médico a avaliar a saúde geral de seus habitantes. Notavelmente, essas considerações já apontam para conceitos funda mentais em epidemiologia: o ambiente (representado por ar, água, lugar) e o hospedeiro (representado pela constituição individual). (LISBOA, 2008). TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 47 NOTA Um pouco de filosofia: Hipócrates rejeitou a crença de seus contemporâneos de que as doenças eram causadas por deuses vingativos. Em vez disso, ele propôs que todas as doenças têm uma causa natural. “Encontre a causa”, disse, “e então você poderá curar a doença”. Ele afirmava que, com a observação dos sintomas de uma doença e de sua gravidade, o médico podia dar um prognóstico ao paciente, comparando seu progresso com o curso característico da mesma doença. Hipócrates inaugurou uma escola de medicina baseada em ideias racionais como essas. Para saber mais acesse, <http://www.ahistoria.com. br/hipocrates/>. Caro acadêmico, este pequeno resgate histórico da Antiguidade nos revela que desde muito tempo as questões relacionadas à saúde e meio ambiente já eram preocupações e objetos de estudo dos grandes filósofos e pesquisadores da época. A partir de agora vamos estudar e compreender de que maneira a degradação ambiental pode afetar e vem afetando diretamente nossa saúde física, mental e social. Vamos em frente! 3 DEGRADAÇÃO AMBIENTAL Hoje em dia grande parte da população vive em área urbana. Qual a relação que este dado pode ter com a nossa saúde? Será que temos ideia dos problemas que a falta de cuidados com o meio ambiente pode causar para nossa saúde física, mental e social? Observe as imagens a seguir! FIGURA 26 – DEGRADAÇÃO AMBIENTAL FONTE: Disponível em: <http://lucianeisaias. files.wordpress.com/2007/11/lixo.jpg>. Acesso em: 30 abr. 2011. FONTE: Disponível em: <http://www.dominiojovem. com.br/wp-content/uploads/2011/04/poluicaao. jpg>. Acesso em: 30 abr. 2011. 48 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: FONTE: Disponível em: <http://2. bp.blogspot.com/_Gn4XS2KopQw/ TJJJTd0kw9I/AAAAAAAAAIY/pWkJJ-JovEk/ s1600/esgoto.jpg>. Acesso em: 30 abr. 2011. FONTE: Disponível em: <http:// euamoanatureza.files.wordpress. com/2010/12/enchente-1.jpg>. Acesso em: 30 abr. 2011. Será possível ter uma boa saúde vivendo em ambientes como os representados nas imagens? Os habitantes destes ambientes estão expostos a uma série de fatores que podem afetar a sua saúde. A contaminação da água, falta de destino correto dos resíduos sólidos, poluição atmosférica, excesso de ruídos, falta de saneamento, inundações, entre outros, são prejuízos consequentes da vida moderna atrelada à falta de cuidado com o meio ambiente. Vários relatórios foram publicados nos últimos anos pelo PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – para facilitar o balanço da saúde ambiental do planeta e orientar os debates sobre os rumos da política ambiental a ser adotada para evitar desastres e seus impactos sobre populações indefesas. Eles apontam os principais problemas: • A concentração de gás carbônico na atmosfera é um dos fatores que provocam o efeito estufa. Apesar de amplamente documentado e reconhecido na Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, posteriormente reforçado pelo Protocolo de Kyoto, nenhuma ação concreta foi iniciada, devido à resistência dos EUA. O aumento do aquecimento global terrestre, em razão do aumento de consumo de combustíveis fósseis na produção de aço, cimento, energia termoelétrica e queimadas de biomassas, causou severos danos à camada de ozônio, com severos impactos na saúde das populações afetadas por câncer da pele. • A crescente escassez de água potável: com uma demanda crescente em consequência do aumento da população mundial, do desenvolvimento industrial e da agricultura irrigada, verifica-se uma oferta limitada de água potável distribuída de forma muito desigual. Relatórios do PNUMA estimam que 40% da população mundial sofrem de escassez de água, desde a década de 1990. A falta de acesso à água e de saneamento básico tem resultado em centenas de milhões de casos de doenças, provocando mais de cinco milhões de mortos a cada ano. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 49 • A degradação de solos por erosão, salinização e o avanço da agricultura irrigada em grande escala, os desmatamentos e a remoção da cobertura vegetal natural, o uso de máquinas pesadas, as monoculturas e o uso de sistemas de irrigação inadequados, além de regimes de propriedade arcaicos, contribuem para a escassez crescente de terras aráveis e, assim, a segurança alimentar da população mundial. • A poluição de rios, lagos, zonas costeiras e baías tem causado degradação ambiental contínua por despejo de volumes crescentes de resíduos e dejetos industriais e orgânicos. O lançamento de esgotos não tratados aumentou dramaticamente nas últimas décadas, com impactos eutróficos severos sobre a fauna, a flora e os próprios seres humanos. • Os desmatamentos contínuos: relatórios do PNUMA estimam uma perda de florestas somente na década de noventa de 94.000 km quadrados, ou seja, 15.000 km quadrados anualmente só no Brasil, descontadas as áreas reflorestadas. Uma das consequências do desmatamento é a perda da biodiversidade, particularmente nas áreas tropicais. Mudanças climáticas, extração predatória de recursos naturais e minerais, transformações no uso do solo estão dizimando a flora e a fauna em diversas regiões de mundo. • O crescimento exponencial da população, acompanhado de novos padrões de produção e consumo, resulta em enormes quantidades de resíduos tóxicos poluentes com efeitos desastrosos na biodiversidade. Embora não existam dados precisos sobre espécies extintas nas últimas três décadas, o PNUMA estima que 24% (1.183) de espécies mamíferas e 12% (1.130) de aves estariam ameaçados de extinção. • A situação se configura particularmente dramática nas áreas urbanas e metropolitanas nas quais vive quase metade da população mundial, a maioria em condições de alimentação, habitação, saneamento e acesso a facilidades de recreação e lazer cada vez mais precárias. A concentração ininterrupta de desempregados, miseráveis e excluídos nos espaços urbanos caracterizados por desigualdades extremas produz o fenômeno de anomia social – marginalidade, delinquência e narcotráfico que enfraquecema coesão social e ameaçam a própria governabilidade da sociedade. Um relatório das Nações Unidas estima que aproximadamente 800 milhões de habitantes urbanos vegetam abaixo da linha de pobreza e são extremamente vulneráveis a desastres naturais e mudanças ambientais. Essas mudanças são diretamente responsáveis pela saúde deteriorada e a baixa qualidade de vida, sendo a falta de saneamento básico e a poluição do ar responsáveis pela maior parte de doenças e mortes. FONTE: RATTNER, Henrique. Meio ambiente, saúde e desenvolvimento sustentável. Espaço Acadêmico, Maringá, n. 95, abr. 2009. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com. br/095/95rattner.htm>. Acesso em: 30 abr. 2011. 50 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Podemos perceber que o autor aponta alguns dos impactos causados na saúde humana, pela degradação do solo, ar e água, além dos efeitos desastrosos de condições de moradia inadequada e de falta de acesso a saneamento básico, sobretudo em regiões onde há maior concentração de pessoas. Caro acadêmico, nossa intenção com essa abordagem não é causar pânico em ninguém, tampouco provocar ou incentivar o êxodo urbano. Estamos aqui com o objetivo de chamar a sua atenção e promover uma conscientização para mitigar e/ou resolver os inúmeros problemas ambientais que estão instalados em nossa sociedade que, pouco a pouco, estão destruindo ou, pelo menos, comprometendo nossa saúde. Precisamos despertar para a conscientização ecológica, seja ela urbana ou rural. Por isso, foi fundamental que você conhecesse um pouco sobre os fundamentos da ecologia, estudados no Tópico 3, desta unidade. Agora que você já percebeu a relação direta entre meio ambiente e saúde, é necessário que você tenha conhecimento dos problemas ambientais que temos enfrentado nos últimos tempos. A partir de agora vamos mergulhar na crise ambiental, conhecer suas origens, causas e consequências para o meio ambiente e nossa saúde. 4 A CRISE AMBIENTAL Atualmente temos presenciado uma interferência acentuada do homem sobre os ecossistemas. As agressões ao meio ambiente vão desde contaminação dos recursos hídricos, poluição atmosférica excessiva, gerando mudanças climáticas, até destruição de extensas áreas de vegetação, por exemplo. A relação entre população, desenvolvimento e recursos naturais tem sido foco de estudos e preocupação social. Dessa forma, é evidente a emergência de um processo de conscientização e mudança de comportamento por parte da humanidade quando se trata de utilização dos recursos naturais. A crise ambiental tem suas origens na ilusão de domínio do homem sobre a natureza e na valorização exacerbada do “ter” sobre o “ser”, o que caracterizou a relação do homem com o meio ambiente e com seus próprios semelhantes. O conhecimento adquirido pela humanidade ao longo dos tempos certamente trouxe importantes avanços científicos, tecnológicos e econômicos. Ao mesmo tempo, porém, aumentou os problemas socioambientais, resultantes do uso irracional e inconsequente dos recursos naturais. Para Santos e Machado (2004, p. 81): Indubitavelmente a sociedade atual caracteriza-se pelo avanço técnico- científico e informacional que lhe confere peculiaridades nunca antes imaginadas. É predominantemente urbana, da comunicação instantânea, das distâncias reduzidas, da robótica, da cibernética. Em contrapartida, é a sociedade do ter em detrimento do ser, da rapidez frenética, da competição acirrada, e, por que não dizer, marcada por profundas crises. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 51 A crise ambiental, foco inicial desta nossa conversa, repercute e se impõe de forma cada vez mais concreta perante a sociedade que, aos poucos, vem se conscientizando deste grave problema que põe em risco a sobrevivência de todas as espécies. Franco (2005, p. 25) relata que “[...] o mundo desperta, repentinamente, assustado diante de alarmantes catástrofes naturais e de previsões ainda mais assustadoras. Toma consciência de que o desenvolvimento, a todo custo perseguido, apresenta efeitos colaterais distintos daqueles conhecidos”. Assim, veiculados por todos os meios de comunicação, os problemas ambientais e as agressões ao meio ambiente tornaram-se cada vez mais frequentes e visíveis nas últimas décadas, o que pode ter contribuído para este aparente processo de conscientização da “questão ambiental”. Desmatamentos, queimadas, descarte de lixo (doméstico, hospitalar, industrial, entre outros), diariamente depositado em locais impróprios e sem qualquer tipo de tratamento, uso excessivo de agrotóxicos são alguns exemplos de como o homem vem se relacionando ao longo da história com o meio ambiente. Você deve recordar o Tópico 3, no qual estudamos as relações ecológicas. Se fizéssemos uma analogia entre as relações que acontecem entre os organismos nos ecossistemas com a relação do homem e o meio ambiente, poderíamos dizer que o homem, ao longo de sua história, estabeleceu com o meio ambiente uma relação desarmônica de parasitismo na qual atua como parasita. Extrai dele o que deseja sem se preocupar com a saúde de seu hospedeiro, ou seja, do sistema que sustenta a sua vida. (ODUM; BARRET, 2007). DICAS Leia este livro: ele defende o resgate da humildade, do respeito e do diálogo com a natureza para a compreensão dos problemas ambientais que estamos vivenciando. Ao longo dos últimos 300 anos, a natureza foi transformada em mero objeto de manipulação à disposição da razão humana. A visão das paisagens e dos lugares de modo mecânico e sem vida levaram a uma completa separação entre seres humanos e meio ambiente. Atento a esses problemas, o autor desenvolve nessa obra uma ética de parceria com a natureza em educação ambiental, uma simbiose na qual os elementos se combinam num regime de coparticipação e integração. GRUN, Mauro. Em busca da dimensão ética da educação ambiental. Campinas: Papirus, 2007. 52 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: A crise ambiental não surgiu de uma hora para outra, mas sim há muito tempo, e se agravou especialmente no período da Revolução Industrial, quando começaram de fato as agressões ao meio ambiente. Este quadro de degradação ambiental, que caracteriza a crise, nada mais é do que o conjunto de ações danosas que nós mesmos viemos cometendo ao longo de nossa existência. Indiscutivelmente, não se trata somente de uma crise ambiental, mas de uma crise da sociedade no ambiente, uma crise de valores, de percepção. Para Santos e Machado (2004), a sociedade do século XXI tem dois grandes desafios. O primeiro deles é conseguir produzir de forma sustentada, lembrando que existe o dever ético de garantir o abastecimento para as futuras gerações; neste caso, trata-se de investir em pesquisas e novas tecnologias, colocando-as a serviço da conservação, recuperação e preservação dos recursos naturais. O segundo desafio consiste em distribuir de forma equitativa a produção, tendo a necessidade de desenvolver mecanismos eficientes para acabar com a miséria de cerca de 20% da população mundial. Observe a comparação que Miller (apud BRAGA et al., 2002, p. 2) faz a respeito de nosso planeta: Nosso planeta pode ser comparado a uma astronave, deslocando-se a cem mil quilômetros por hora pelo espaço sideral, sem possibilidade de parada para reabastecimento, mas dispondo de um eficiente sistema de aproveitamento de energia solar e de reciclagem de matéria. Existem atualmente, na astronave, ar, água e comida suficientes para manter seus passageiros. Tendo em vista o progressivo aumento do número desses passageiros, em forma exponencial, e a ausência de portos para reabastecimento, podem-se vislumbrar, a médio e longo prazos, problemas sérios para a manutenção de sua população. AUTOATIVIDADE Qual a sua opinião em relação a esta comparação de Miller? Reflita sobre isso! Esta analogia proposta por Miller parece bastante pertinente, tendo em vista os dados que temos a respeito do crescimento populacional, assunto queveremos logo adiante, e o aumento da população é apontado como um dos problemas ambientais globais. Para Braga et al. (2002), os principais componentes da crise ambiental estão representados na figura a seguir. São eles: população, recursos naturais e poluição. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 53 FIGURA 27 – RELAÇÃO ENTRE OS PRINCIPAIS COMPONENTES DA CRISE AMBIENTAL FONTE: Adaptado de Braga et al. (2002) Recursos naturais Poluição População Dessa forma, o nível da qualidade de vida que temos depende, diretamente, do equilíbrio entre os vértices da tríade que acabamos de observar. Um aumento na população, sem qualquer tipo de controle, por exemplo, certamente causará um desequilíbrio neste sistema. A demanda por recursos naturais será maior para suprir as necessidades vitais dessa população que, inevitavelmente, acabará gerando algum tipo de poluição. DICAS Escrito por Jean Dorst, esta obra, lançada em 1998, continua a ser uma leitura básica para os que querem compreender as causas da crise ambiental do século XX. Trata sobre o meio de vida e o modo em que a sociedade foi educada para o trabalho e para a superprodução, resquícios da Revolução Industrial, aflorando a preocupação com a preservação do meio ambiente e a discussão sobre a qualidade de vida, e os efeitos causados pelas políticas de industrialização e produção de bens adotados pelos países da Europa. DORST, J. Antes que a natureza morra. São Paulo: Edgard Blucher, 1998. Como seres integrantes do meio ambiente que somos, temos o dever de utilizar todo o avanço tecnológico e científico que conquistamos ao longo das gerações e aproveitar a atual era da informação globalizada para criar formas efetivas de promover um meio ambiente equilibrado. Superar a crise ambiental implica não somente conciliar desenvolvimento econômico e social com a proteção do meio ambiente. É necessário, acima de tudo, mudança verdadeira no modo de pensar e agir da humanidade. Na sequência abordaremos de forma isolada alguns dos problemas ambientais que se apresentam em escala global. 54 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 5 PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS Como vimos no item anterior, a crise ambiental tem suas origens no modo de vida que adotamos, valorizando o “ter” em detrimento do “ser”. Essa questão é muito bem relatada por Franco (2005, p. 27) quando afirma que: O modo de vida e valores adotados encontram clara explicação diante da história da Civilização Ocidental, remontando a eras mais remotas, quando o homem via-se como parte da natureza, adotando outras formas de relacionamento com esta, considerando-a, em alguns casos, como sagrada e sua transição para uma concepção eminentemente antropocêntrica, onde o homem passa a entender-se como elemento externo a mais, para o qual tudo foi criado. A partir desse momento, quando passamos a não nos enxergar mais como parte integrante da natureza, inicia-se um processo de degradação ambiental e cultural. Cabe dizermos que, embora essa percepção das origens da crise comece a ser compreendida pela humanidade, a crise ambiental que estamos vivendo normalmente é atribuída a fatores externos, como: [...] excesso de emissões gasosas, poluição das águas e do solo por efluentes e por resíduos provenientes, dentre outros, do crescente processo de produção e de consumo, poluição do ar pela emissão excessiva de poluentes gasosos, [...] explosão demográfica e da necessidade de aumento de áreas urbanas e rurais – para plantio ou pecuária – bem como da crescente demanda de matéria-prima necessariamente extraída da natureza, acarretando, portanto, dizimação de grandes áreas de vegetação nativa e o desaparecimento de grande quantidade de animais e vegetais. (FRANCO, 2005, p. 27). Conscientes do processo histórico que gerou a crise ambiental que hoje vivemos, vamos analisar alguns aspectos causais relevantes que contribuíram e vêm contribuindo para aumentar a crise. Os vértices do triângulo que você acabou de ver no tópico anterior, como causas da crise ambiental, serão tratados isoladamente agora, além, é claro, das “mudanças climáticas” que temos presenciado em todo planeta. 5.1 O AUMENTO DA POPULAÇÃO No topo da tríade, como um dos componentes da crise ambiental, está a população. Como dissemos anteriormente, o crescimento populacional está diretamente relacionado ao aumento da demanda de recursos naturais e à geração de resíduos lançados no meio ambiente. De acordo com dados da ONU (apud BRAGA et al., 2002, p. 2), “[...] a população mundial cresceu de 2,5 bilhões em 1950 para 6 bilhões no ano 2000 e, atualmente, a taxa de crescimento está em aproximadamente 1,3 por cento ao ano”. Lembrando a analogia da astronave que vimos anteriormente, isso significa que a cada ano milhões de novos passageiros embarcam nela e, como você lembra, não há paradas para reabastecimento, o que torna esse aumento populacional preocupante. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 55 NOTA Desastres ecológicos, extinções de espécies, perda irreparável da biodiversidade, surgimento de novas doenças, mudanças climáticas, poluição do ar, água e solo, escassez de alimentos, ecossistemas em desequilíbrio são fatores que levam à diminuição da qualidade de vida e podem, até mesmo, causar sérios prejuízos à nossa saúde. Os fatores que acabamos de enumerar podem se agravar com o crescimento exponencial da população. Dados da ONU (apud SANTOS; MACHADO, 2004, p. 82) revelam que: [...] a população mundial, em 2050, poderá atingir 10,9 bilhões de pessoas, ou seja, um aumento real de 78% sobre o número atual de habitantes. Além disso, o número de pessoas com mais de 60 anos deve triplicar nesse mesmo período, chegando a 25% da população mundial. Este crescimento populacional é maior nos países menos desenvolvidos, os chamados países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Devido às altas taxas de crescimento nessas nações, a situação de desequilíbrio tende a se agravar ainda mais. (BRAGA et al., 2002). Para calcular o aumento da população, observamos a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade. Um fator muito importante relacionado ao aumento populacional observado ao longo dos últimos tempos é, justamente, a redução considerável das taxas de mortalidade. Para Braga et al. (2002, p. 3): A partir da Revolução Industrial, a tecnologia proporcionou uma redução da taxa de mortalidade, responsável pelo aumento da taxa de crescimento populacional anual, apesar de a taxa de natalidade estar se reduzindo desde aquela época até os dias atuais. Se traçarmos uma linha ao longo da história das civilizações, perceberemos que as pressões exercidas sobre o meio ambiente se intensificaram, tornando-o cada vez mais frágil. Diante desses dados e dessa perspectiva de crescimento populacional, a situação pode se agravar ainda mais. Será que os recursos naturais disponíveis serão suficientes para garantir a sobrevivência dos “passageiros da astronave” que aumentam a cada ano? Se pensarmos em longo prazo, a redução da taxa de crescimento populacional é imprescindível para garantir a sobrevivência e restabelecer o equilíbrio necessário. 56 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 5.2 A EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS Vamos ver agora alguns aspectos relacionados à exploração dos recursos naturais. Ao longo de todo estudo, você leu muitas vezes esta expressão: “uso inadequado dos recursos naturais”, “preservação dos recursos naturais”, “disponibilidade dos recursos naturais”. Mas o que isto significa realmente? Braga et al. (2002, p. 4) definem recurso natural como “[...] qualquer insumo de que os organismos, populações e ecossistemas necessitam para sua manutenção. Portanto, recurso natural é algo útil”. Assim, o termo está diretamente relacionado a desenvolvimento e economia, como concebidos pelo sistema socioeconômico. Quando algo é chamado de recurso é porque pensamos na sua utilidade e não na sua importância intrínseca (como natureza,ser vivo, entre outros). NOTA Sendo assim, água, ar, minerais, biomassa, vento, combustíveis, entre outros, são exemplos de recursos naturais. Analisando e/ou relembrando o processo evolutivo das relações entre sociedade e natureza e as rupturas que aconteceram nessas relações ao longo da história, compreendemos que, quando o homem deixou de ser nômade para tornar-se sedentário, ele aprendeu a cultivar a terra e passou a acumular uma quantidade cada vez maior de riquezas e de bens. Esta cultura do acúmulo de riqueza e de um consumo cada vez maior de bens e serviços hoje faz parte dos costumes de qualquer sociedade e economia no mundo. Acompanhando o aumento da produção e o crescimento econômico, vieram os impactos negativos da humanidade sobre o meio ambiente. Se conseguirmos transpor nosso pensamento imediatista e projetarmos essa situação para algumas décadas à frente, estes impactos negativos podem levar a uma deterioração irreversível das reservas de recursos naturais, prejudicando desta forma o desempenho e a prosperidade das economias. Porém, isso não quer dizer que não possa existir “harmonia” entre os recursos naturais e o desenvolvimento econômico. Recursos naturais e economia interagem de modo bastante evidente, uma vez que algo é recurso na medida em que sua exploração é economicamente viável. Exemplo dessa situação é o álcool, que antes da crise do petróleo de 1973 apresentava custos de produção extremamente elevados ante os custos de exploração de petróleo. Hoje, no Brasil, apesar da diminuição do Proálcool, o álcool ainda pode ser considerado um importante combustível para automóveis e um recurso natural estratégico e de alta significância, devido a sua possibilidade de renovação e consequente disponibilidade. Sua utilização efetiva depende de análises políticas e econômicas que poderão ser revistas sempre que necessário. (BRAGA et al., 2002, p. 5). TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 57 Segundo os mesmos autores, existe também um forte envolvimento entre recursos naturais e tecnologia, já que há a necessidade de existir um processo tecnológico para a utilização de um recurso. Observe um exemplo relatado por eles: o magnésio só passou a ser visto como um recurso natural quando, por meio dos avanços tecnológicos, descobriu-se sua utilidade na confecção de ligas metálicas para aviões. Assim, podemos dizer que atrás do conceito de recurso natural temos intrinsecamente relacionados o meio ambiente, a economia e a tecnologia. A questão ambiental reside no fato de que, nas últimas décadas, o uso irracional e inadequado desses recursos provocou uma série de problemas ambientais agravando a atual crise. Por isso, o nível de degradação dos recursos naturais e o nível de crescimento econômico de uma nação estão intimamente relacionados. Os recursos naturais podem ser classificados em renováveis e não renováveis, como você pode observar na figura a seguir. FIGURA 28 – CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS NÃO RENOVÁVEIS Minerais energéticos Combustíveis fósseis Urânio RENOVÁVEIS Água Vento Biomassa Depois de serem utilizados, tornam-se novamente disponíveis graças aos ciclos naturais Uma vez utilizado não pode ser reaproveitado RECURSOS NATURAIS FONTE: Adaptado de Braga et al. (2002) Um fato interessante de ressaltar nesse momento é que o uso inadequado desses recursos pode transformar um recurso renovável em não renovável, “[...] quando a taxa de utilização supera a máxima capacidade de sustentação do sistema”. (BRAGA et al., 2002, p. 5). É neste momento que a exploração destes recursos naturais torna-se um dos problemas ambientais globais tratados nesse tópico: quando o homem não respeita o tempo natural e necessário de renovação dos recursos na natureza. 58 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 5.3 A POLUIÇÃO AMBIENTAL A população, ao fazer uso dos recursos naturais, automaticamente gera algum tipo de poluente. Ao escutar ou ler o termo “poluição”, o que lhe vem à mente? Quais são as imagens que você produz ao pensar em um ambiente poluído? A poluição pode ser conceituada como alterações, de ordem antrópica, nas características físicas, químicas ou biológicas da atmosfera, litosfera ou hidrosfera. Essas alterações causam ou podem causar prejuízos à saúde, afetar a sobrevivência ou as atividades dos seres humanos e de outras espécies. (BRAGA et al., 2002). Mas, como essa poluição é quantificada? A poluição está ligada à quantidade ou à concentração de um determinado poluente. Assim, são estabelecidos padrões e indicadores de qualidade do ar, água e solo para que seja possível o controle da poluição de acordo com a legislação ambiental. FIGURA 29 – FONTES POLUIDORAS FONTE: Adaptado de Braga et al. (2002). EFEITOS FONTES POLUIDORAS Localizado Difusas Dispersas Agrotóxicos aplicados na agricultura e dispersos no ar, carregados pelas chuvas para os rios ou para o lençol freático, gases expelidos do escapamento de veículos automotores Pontuais Localizados Lançamento de esgoto doméstico ou industrial Efluentes gasosos industriais Aterro sanitário de lixo urbano GlobalRegional Como podemos perceber, a partir da análise da figura anterior, os efeitos da poluição podem ser localizados, regionais ou globais. Os mais conhecidos e fáceis de serem percebidos são os de efeito local ou regional e normalmente ocorrem em lugares onde a concentração de pessoas é maior ou então áreas com grande atividade industrial. Veremos agora alguns efeitos globais em virtude do excesso de poluição no ambiente. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 59 a) Chuvas ácidas As chuvas ácidas são um dos maiores problemas ambientais da atualidade. Desde a Revolução Industrial, com o aumento da emissão de gases poluentes na atmosfera, este fenômeno vem aumentado devido à solubilização de alguns gases cuja hidrólise seja ácida. Hidrólise é uma reação química de quebra de uma molécula por água. Observe a etimologia do termo: hidro = água, lise = separação; viu só como ficou mais fácil entender o significado? Compreender a etimologia da palavra hidrólise reforça a ideia de quebra das moléculas por ação da água. ATENCAO Vale lembrar que as chuvas normais possuem um pH levemente ácido, em torno de 5,6 unidades. Essa acidez é causada pela dissociação do CO2 em água, formando um ácido fraco, conhecido como ácido carbônico, mas também de outros gases. Assim, chuva ácida é toda chuva que possui um valor de pH abaixo de 4,5 unidades. (BENETTI, 2009). Este fenômeno provoca o desequilíbrio nos ecossistemas. Um exemplo disso é o aumento do pH da água, modificado pelas chuvas ácidas. Esta alteração do meio aquático é nociva às mais diversas formas de vida, sendo que algumas espécies de peixe, por exemplo, não são tolerantes a esta diminuição do pH. Vegetais também sofrem as consequências da chuva ácida. Muitos microrganismos presentes no solo e responsáveis pela sua fertilidade são destruídos em virtude do aumento da acidez, além de trazer problemas econômicos e sociais. b) Destruição da camada de ozônio A camada de ozônio é um escudo natural da Terra que nos protege dos efeitos nocivos dos raios solares, em especial os raios ultravioleta (UV). Situada entre 10 e 50 km de altitude, a camada de ozônio é uma região onde se concentra o ozônio molecular (O3). A redução acelerada desta área da atmosfera ficou conhecida como “buraco na camada de ozônio”. O gás CFC (cloro, flúor e carbono) é o grande responsável pela degradação do ambiente em escala global e pela destruição da camada de ozônio. Ao atingir a faixa de concentração da camada de ozônio, as moléculas de CFC rompem-se sob a ação dos raios ultravioleta e liberam cloro, que reage com o ozônio, formando oxigênio comum. 60 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: DICAS Acesse o site <http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/> e assista a um vídeo mostrando como ocorre a destruição da camada de ozônio. Este vídeo é um dos que estão na listado tema Mudanças Climáticas. Navegue neste site e assista a outros vídeos relacionados às mudanças ambientais globais. Ainda sobre a camada de ozônio: O buraco na camada de ozônio sobre a Antártida estabilizou-se desde 2000, mas ainda demorará décadas para se regenerar e fechar, o que pode ocorrer a partir de 2065. Apesar da estabilização, ainda não há sinais de uma recuperação sobre o polo sul, embora o climatólogo americano David J. Hofmann, da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (NOAA), afirme que, caso continue a tendência atual, o buraco poderia começar a se fechar a partir do ano 2030. (FOLHA ONLINE, 2009). Com o objetivo de amenizar este problema ambiental global, diversos países, inclusive o Brasil, assinaram o Protocolo de Montreal, em que todos se comprometeram a reduzir e deixar de produzir e consumir os CFCs, em um determinado prazo preestipulado. (COIMBRA; TIBÚRCIO, 2006). Este protocolo surgiu diante do aumento do buraco na camada de ozônio e suas consequências para a vida na Terra. Assim, a humanidade vai tentando, ao longo de sua existência, remediar os problemas ambientais que ela mesma cria. c) Mudanças climáticas – aquecimento global Para iniciar nosso diálogo, precisamos entender que o clima é um conjunto de condições meteorológicas (temperatura, umidade, chuvas, pressão e ventos) que mantém características comuns em uma determinada região. Além disso, as variações no clima fazem parte da dinâmica ambiental do planeta. As causas reais das mudanças climáticas não são unanimidade perante a comunidade científica. Embora não haja unicidade entre os discursos, estudos apontam a ação antrópica, associada às variações cíclicas naturais, como um dos principais fatores relacionados às mudanças climáticas. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 61 NOTA Antrópico é relativo ao ser humano ou à sua ação. Dessa forma, ação antrópica resulta da ação humana. Segundo Souza e Camargo (2006), as mudanças climáticas já afetam o cotidiano de bilhões de pessoas de forma impossível de ser ignorada: Pela primeira vez desde que começaram as medições, no século XIX, o termômetro chegou aos 40 graus em diversas regiões temperadas da Europa e dos Estados Unidos. A Somália foi castigada pelas enchentes mais devastadoras do último meio século. A calota gelada do Ártico ficou 60.400 quilômetros quadrados menor – ou seja, uma área equivalente a duas vezes o estado de Alagoas virou água e ajudou a elevar o nível dos oceanos. Na China, segundo o relatório, a pior temporada de ciclones em uma década resultou em 1.000 mortes e 10 bilhões de dólares em prejuízos. Na Austrália, o décimo ano seguido de seca impiedosa agravou o processo de desertificação do solo e desencadeou incêndios florestais com virulência nunca vista. Sabe-se que o relatório final da Organização Meteorológica Mundial, a ser divulgado em fevereiro, prevê o desaparecimento total do gelo no Ártico durante os meses de verão já a partir de 2040. Isso pode significar a extinção do urso-polar em seu hábitat. Se pensarmos que todas essas catástrofes são decorrência do aumento de apenas 1 grau na temperatura média do planeta nos últimos 100 anos, é no mínimo assustador imaginar as consequências do aumento previsto para o ano de 2100, que, segundo o relatório do Intergovernmental Panel on Global Climate, financiado pelas Nações Unidas, terá um acréscimo de até 5,8ºC. (KERR apud KRÜGER, 2001). Se analisarmos a história da vida de nosso planeta, realmente veremos que em 4,5 bilhões de anos ocorreram mudanças climáticas radicais, com períodos de estabilidade seguidos de glaciações. Assim, essas mudanças climáticas de causas geológicas são normais e cíclicas. Porém, não podemos esquecer que a composição química da atmosfera também influencia o clima e que, desde a Revolução Industrial, a emissão de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, vem aumentando consideravelmente, como já vimos em outros momentos deste estudo. Veja o que diz Eerola (2003, p. 7): 62 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Os dados de medições meteorológicas de temperaturas existentes cobrem um período de apenas aproximadamente cem anos, ou seja, parte do período industrial. Porém, cem anos é um período completamente desprezível do ponto de vista geológico. Vivemos atualmente em um período posterior à glaciação que terminou somente há 10.000 anos. Estamos caminhando rumo a uma nova glaciação que ocorrerá daqui a 23.000 anos. Portanto, estamos em um período interglacial, quando as temperaturas podem oscilar ciclicamente entre mais altas e mais baixas. Esta alternância é completamente natural. Porém, levando-se em conta estas medições, existem dois fatos sobre as mudanças climáticas: a temperatura média e o teor de dióxido de carbono estão em ascensão mundialmente. [...] Ao não se conhecer outras fontes naturais de dióxido de carbono ativas ao mesmo tempo, a conclusão lógica a que os pesquisadores chegaram foi que estes aumentos devem ser provocados pelo homem. [...] Mesmo assim, existem evidências de que estes teores em ascensão não são devidos apenas à atividade antrópica. Existe uma correlação forte com algumas outras fontes de dióxido de carbono e o aumento de temperaturas globais, como oceanos e atividade vulcânica, por exemplo. Nos últimos tempos temos ouvido muito sobre o aumento da temperatura média mundial, aumento do efeito estufa e a expressão “aquecimento global”. Na certa, você já deve ter lido alguma manchete ou reportagem a respeito deste fenômeno. Este aumento da temperatura da atmosfera é causado pela excessiva emissão de gases poluentes, principalmente dióxido de carbono, que formam uma espécie da “capa” em torno da Terra. Esses gases absorvem parte da radiação solar; consequentemente, o calor fica retido, não sendo liberado para o espaço, ocasionando o chamado efeito estufa. IMPORTANT E Não podemos esquecer que o efeito estufa é um fenômeno natural e vital para a manutenção da vida na Terra. Ele é responsável por temperaturas mais amenas e adequadas que permitem esta grande biodiversidade do nosso planeta. Sem ele, a Terra seria aproximadamente 33ºC mais fria! NOTA Os gases de estufa, assim chamados por serem os intensificadores deste fenômeno, são principalmente: dióxido de carbono (CO 2 ), metano (CH 4 ), óxido nitroso (N 2 O), CFCs (clorofluorcarbonetos). TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 63 Dessa forma, medidas de preservação dos ecossistemas e uso de energias que não poluam o meio ambiente devem fazer parte dos programas de desenvolvimento de todas as nações. Assim, Benetti (2009) relata algumas consequências do aquecimento global: • derretimento das calotas polares, acarretando o aumento do nível dos oceanos, o que causará inundações em cidades litorâneas; • alterações no regime das chuvas (menor pluviosidade em determinadas regiões e maior em outras); • doenças que hoje são típicas de uma determinada região, como a malária e a febre amarela, poderão atingir regiões em que hoje não são encontradas; • desertificação de áreas que hoje são campos ou florestas; • extinção de espécies; • grandes incêndios. Torna-se evidente que, para não piorar ainda mais a situação, precisaríamos parar de lançar na atmosfera gases como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, resultantes da atividade humana. Cabe à intensificação do efeito estufa a maior responsabilidade pelo aumento da temperatura global. Nesta batalha pela redução da emissão de gases poluentes, temos de um lado países desenvolvidos e altamente industrializados, detentores de um grande poderio econômico, porém os maiores poluidores. Do outro lado, países em desenvolvimento que poluem em uma escala menor, mas sofrem igualmente as consequências da emissão excessiva de gases poluentes. Segundo Coimbra e Tibúrcio (2006, p. 163): O Tratado de Quioto entrou em vigor em fevereiro de 2005, reconhecido por 55 países industrializados.Porém o maior poluidor do mundo, os Estados Unidos, ficou fora do tratado, alegando que teria consequências negativas em seu desempenho econômico caso diminuísse suas emissões em 7%. Essa postura é uma prova de que, embora exista uma “frágil” consciência da humanidade sobre a crise ambiental instalada no planeta, indicando que iniciamos o processo de mudança de pensamento, ainda não mudamos nossa forma de agir. Precisamos consolidar a ideia de que o desenvolvimento econômico está altamente ligado às políticas de preservação do meio ambiente e a uma gestão planejada de nossos recursos naturais. 64 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: DICAS Leia este livro: o autor aborda vários assuntos pertinentes ao nosso estudo, como por exemplo: ecologia, meio ambiente, poluição, chuva ácida, efeito estufa, buraco na camada de ozônio, poluição urbana, impactos sociais e culturais, entre outros. Veja a referência completa: BRANCO, Samuel Murgel. O meio ambiente em debate. São Paulo: Moderna, 1999. É inegável a contribuição do homem no aumento dos níveis de dióxido de carbono e outros gases poluentes na atmosfera. Sabemos que, ao longo da história, ocorreram muitas mudanças no meio ambiente, na paisagem e no clima. Em decorrência dessa evolução, a paisagem que vemos hoje não será a mesma do futuro, assim como o nível de desenvolvimento: uma economia baseada no uso de combustíveis fósseis e outros recursos não renováveis não será mais possível. É bastante arriscado continuar com nossos hábitos, sem preocupação com as consequências de nossas ações sobre o meio ambiente. Enquanto vivemos e “aguardamos” novas transformações ambientais globais, temos o dever de usar toda inteligência e tecnologia alcançadas ao longo de nossa evolução para atenuar nossa influência sobre essas mudanças climáticas. De que forma poderemos fazer isso? Aprendendo a reciclar, reduzindo o consumo de combustíveis fósseis, buscando fontes alternativas de energia, aproveitando recursos naturais renováveis como a energia eólica, respeitando o meio ambiente e promovendo educação ambiental para todos de forma interdisciplinar, como veremos no próximo tópico. d) A perda da biodiversidade O grande desequilíbrio ecológico gerado pelo homem, através de suas ações, afeta não somente a si como a diversas outras formas de vida. A atual crise ambiental está diretamente relacionada também a uma crise da biodiversidade, uma vez que a harmonia entre os componentes bióticos e abióticos de um ecossistema é fundamental para permitir e manter a vida no nosso planeta e, consequentemente, nos manter em um ambiente saudável. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 65 NOTA Os componentes bióticos e abióticos de um ecossistema foram estudados no Tópico 3 (Fundamentos da Ecologia). Se necessário, retorne a ele e relembre os conceitos. Segundo Franco (2005, p. 21): O grande desafio, atualmente enfrentado, reside exatamente em proteger a diversidade da vida, através de adequada interpretação dos instrumentos legais existentes calcados nos conhecimentos científicos disponíveis. Grande parte dessa diversidade concentra-se em áreas florestais, representando um dos principais focos de biodiversidade do planeta, tendo, portanto, sua proteção especial importância na busca de uma solução para a crise ambiental. O termo biodiversidade pode ser entendido em vários níveis, desde gens até ecossistemas, assim como toda a diversidade biológica existente, ou seja, a diversidade da vida. Isso inclui todos os seres vivos, desde os organismos microscópicos mais simples até os mais complexos, como os seres humanos. Segundo o Decreto-Lei nº 2.519/98, o termo biodiversidade está conceituado em seu artigo 2º como: A variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreende ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. Para entender a importância e o tempo do homem na história evolutiva da biodiversidade, precisamos fazer uma rápida análise desde o surgimento da Terra há 4,5 bilhões de anos até os dias atuais. Aproximadamente um bilhão de anos após o surgimento da Terra foi que gradualmente se estabeleceram as condições ambientais favoráveis ao surgimento das primeiras células, como pode ser observado na figura a seguir. 66 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: FIGURA 30 – ERAS GEOLÓGICAS CONDENSADAS EM 24 HORAS FONTE: Disponível em: <http://www.jornaljovem.com.br/edicao13/images/13_eras_ geologicas01_000.jpg>. Acesso em: 30 abr. 2011. Diante da análise desta figura e conforme estudamos no decorrer deste tópico, podemos perceber que a participação do homem na história (em tempo geológico) é praticamente insignificante em relação ao período e processo evolutivo da vida na Terra. Entretanto, não se pode dizer o mesmo em relação à sua participação na rápida perda da biodiversidade que presenciamos na atual crise. Dentre os fatores que se encontram diretamente relacionados à crise da biodiversidade e que são causa direta de sua deterioração, podemos citar ações antrópicas como: poluição do solo, da água e da atmosfera, alterações climáticas, introdução de espécies exóticas, exploração de espécies vegetais e animais, devastação ou alteração de ambientes naturais, entre outros. (FRANCO, 2005). Alguns problemas ambientais já estudados neste tópico como, por exemplo, chuva ácida e o aquecimento global, são consequências da ação humana danosa sobre o meio ambiente e responsáveis por parte da degradação da biodiversidade. A devastação e a fragmentação de florestas, por meio de desmatamentos e queimadas, também acarretam o desaparecimento de um grande número de espécies. Franco (2005, p. 38) ressalta que “A fragmentação dos hábitats constitui, juntamente com a destruição destes, uma das principais causas da perda da biodiversidade no planeta, por tornar inviável a perpetuação, condenando à extinção um incontável número de espécies animais e vegetais”. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 67 Outro fator de preocupação e responsável pela perda da diversidade biológica é a forma como o ser humano vem utilizando a água, importante recurso natural. Interferências nos ciclos hidrológicos e, principalmente, inúmeras formas de poluição desse recurso são ações que afetam não somente o ser humano, mas também todos os demais seres vivos, tendo em vista que a água é um elemento indispensável à sobrevivência de todas as espécies da biosfera. Quando se diz que água é essencial à vida, é porque sem ela não existe respiração, reprodução, fotossíntese, quimiossíntese, hábitats e nichos ecológicos para a maioria das espécies existentes. A sua ausência ou contaminação implica forma de poluição cujas consequências não são outras senão degradar diretamente a própria vida. (FIORILLO; RODRIGUES apud FRANCO, 2005, p. 133). Dessa forma, a perda contínua da biodiversidade é um forte indicador do desequilíbrio existente entre as necessidades humanas e a capacidade de suporte da natureza. Como vimos em outro momento deste tópico, o crescimento populacional e o uso irracional dos recursos naturais tornam evidentes os limites de sustentabilidade dos processos naturais. Diante da crise ambiental que estamos vivendo, temos a opção de seguir dois caminhos: continuar a utilização desenfreada dos recursos naturais para atender nossas necessidades imediatas acarretando danos talvez irreversíveis, ou implementar medidas alternativas para a conservação da biodiversidade e utilizá-la de forma sustentável. Isto pode ser alcançado através de um processo emergente de educação ambiental, como veremos mais adiante. Uma possibilidade real de reversão da crise ambiental e consequente manutenção de nosso bem-estar biológico/físico, mental e social consiste em promover uma profunda transformação no pensar e no agir da humanidade,sendo a educação ambiental a força propulsora desta transformação. Quando percebermos que os recursos naturais são parte integrante da nossa vida, e não apenas algo que utilizamos como mercadoria para satisfazer necessidades muitas vezes imediatistas, talvez consigamos reduzir em muito os impactos negativos sobre o meio ambiente. DICAS Leia este livro. Atual, oportuno e preocupante, o livro vai ao encontro do tema de 2010 da Organização Mundial da Saúde: urbanização e saúde. O Instituto Saúde e Sustentabilidade reuniu 37 professores, pesquisadores e profissionais renomados, de diversas especialidades, para debater e escrever sobre as questões ambientais urbanas e seus efeitos sobre a saúde. O cenário é a Região Metropolitana de São Paulo. Pela primeira vez na História, há mais pessoas vivendo em cidades do que em zonas rurais. O local onde as pessoas vivem afeta a saúde e as oportunidades que elas 68 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: têm para desfrutar uma vida plena, em todo o seu potencial. Há, porém, um aspecto da relação entre cidade e meio ambiente raramente abordado: a qualidade de vida e a saúde do homem urbano. O ser humano é o ponto esquecido da questão ambiental nas grandes metrópoles. O livro discute questões como habitação, saneamento, mobilidade urbana, ruído, poluição do ar, mudanças climáticas e congestionamentos, caracterizando-as como novos desafios para a saúde que vão muito além do próprio setor da saúde e exigem uma ação multidisciplinar e em várias esferas governamentais. A obra propõe um novo olhar sobre o assunto, colocando o homem e a saúde humana no centro do debate sobre o meio ambiente urbano. (SALDIVA, Paulo; VORMITTAG, Evangelina da M. Pacheco A. de Araújo (Orgs.). Meio ambiente e saúde: o desafio das metrópoles. São Paulo: Instituto Saúde e Sustentabilidade, 2010). Caro acadêmico, ao final desta unidade você terá a oportunidade de fazer a leitura de um artigo dos mesmos organizadores desta obra. Boa leitura! A espécie humana, pela primeira vez na história, pode ter o poder de contribuir de forma significativa às mudanças globais. Independentemente dos causadores reais das mudanças climáticas, as consequências da crise ambiental como aquecimento global, mudanças climáticas promovendo grandes períodos de estiagem ou chuva excessiva, aumento das doenças, o perigo iminente da falta de água potável, perda da biodiversidade, entre tantos outros, podem ser minimizadas. Para tanto, é necessária a mudança também globalizada de pensamento e atitude por parte da humanidade. Só assim será possível amenizar os problemas, para garantir a nossa sobrevivência e assegurar para as gerações futuras um ambiente saudável e equilibrado. UNI Para descontrair e refletir! Não é esse o equilíbrio ecológico que queremos e precisamos para garantir nossa saúde e das futuras gerações, em um meio ambiente igualmente saudável! FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_IWCKERmkudQ/SErMaeQjq4I/AAAAAAA AA6k/83FbY2yXjYM/s1600/treta_charges_4.jpg>. Acesso em: 12 jun. 2011. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 69 Para concluir nossa reflexão, reescrevemos algumas linhas extraídas da “Carta do Chefe Seattle”: “[...] Tudo o que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra. O homem não teceu a teia da vida, ele é meramente um fio dela. O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo [...]”. Pense nisso e seja um ator social consciente de suas responsabilidades perante o coletivo e, mais do que isso, seja um agente promotor das mudanças necessárias para mantermos um ambiente saudável, livre de poluição e equilibrado. 70 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: LEITURA COMPLEMENTAR A SAÚDE PRECÁRIA DE UMA VELHA SENHORA Aos 456 anos a cidade de São Paulo enfrenta problemas que, comparados aos de um organismo vivo, mostram condição próxima à falência múltipla de órgãos por Paulo Saldiva e Evangelina Vormittag O caso de São Paulo não é o único entre as metrópoles mundiais, ao menos em relação aos países em desenvolvimento. Mas é grave e não pode continuar ignorado, sob pena de custos crescentes pagos com o comprometimento da vida de seus moradores. Comparadas à situação de uma velha senhora submetida a uma série de exames para revelar a qualidade da saúde urbana, a cidade de São Paulo e toda sua região metropolitana são reprovadas em um conjunto de itens vitais que já afetam o presente e devem tornar-se críticos, se não irreversíveis, no futuro imediato. Com limitações preocupantes em relação a fontes de água potável, São Paulo e seu entorno têm reduzido tratamento de esgotos, poluição atmosférica sobrecarregada por transporte individual, impermeabilidade do solo e, entre outros comprometimentos, ilhas de calor que implicam chuvas destruidoras todo verão. O mundo passa por uma crise ambiental com raízes localizadas basicamente no excesso de consumo dos recursos naturais. E é nas cidades que se manifesta a maior demanda pela oferta de alimentos, transporte, moradia, recursos hídricos, saneamento básico e energia. No Brasil, em 2000, 81,2% da população já vivia em áreas urbanas. A previsão para 2030 é que cerca de 60% das pessoas viverão em áreas urbanas do planeta. Os impactos da complexidade do metabolismo urbano produzem efeitos dramáticos sobre diversos aspectos da ARAQUEM ALCÂNTARA/SAMBAPHOTO/GETTY IMAGES Crescimento desordenado de São Paulo fez com que mancha urbana invadisse áreas de proteção ambiental, com formação de ilhas de calor, entre outros desconfortos que afetam diariamente seus milhões de moradores. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 71 saúde e sustentabilidade, tanto local como regional e mesmo em escala global. A pressão da urbanização sobre o ambiente varia de acordo com o tipo das cidades. Metrópoles como Londres, Paris e Nova Yorque, que tiveram crescimento gradual, puderam usufruir dos benefícios de um processo de planejamento dinâmico e da consolidação da infraestrutura, incluindo o sistema de transporte público. Em contrapartida, cidades que cresceram rapidamente, principalmente nos países em desenvolvimento, passaram da juventude para a decrepitude e deterioração sem tempo de amadurecer. São Paulo é uma representante típica do segundo grupo, com crescimento veloz e desordenado, ligada a mais 38 cidades que formam sua região metropolitana, numa área de 7.944 km2. Esse processo desordenado, com frequência confundido com desenvolvimento, trouxe problemas ambientais de solução complexa e cara, que afetam negativamente a vida de 20 milhões de habitantes dessa megaconurbação. Paciente do sexo feminino, com 456 anos, refere que se sentia compelida a ser uma das cidades que mais cresciam no mundo. Olhava com orgulho o brotamento de chaminés fumegantes e sentia prazer ao ver lhe percorrerem as veias minúsculos veículos motorizados e gente trabalhando incessantemente. Com o passar do tempo, e principalmente nos últimos 60 anos, relata ter perdido o controle da situação, engordado em excesso, excedendo seus limites geográficos com aparecimento de áreas de extrema pobreza (loteamentos periféricos e favelas). Isso faz com que despenda enormes quantidades de recursos, redesenhando seus limites e buscando soluções para problemas físicos e psíquicos que atingiram uma escala de difícil tratamento. Queixa-se de febre (aquecimento), calafrios e intensa sudorese (eventos extremos, chuvas, inundações, ventos fortes), falta de ar (poluição), entupimento de suas artérias, que não permitem fruição do trânsito e dificuldade para eliminar urina (filtração – tratamento de água). A cidade pode ser entendida como um organismo vivo, onde os bairros seriam órgãos e os habitantes, células dessa estrutura. A analogia permite que, na análise da saúde desse organismo, seja possível imaginar a cidade de São Paulo como um corpo adoecido, afetando também seus habitantes. A descrição desse caso pode ser feita imaginando- se a cidade como uma velha senhora queterá a sua história clínica relatada por seu médico. Afetado pelo desequilíbrio ambiental, microclima da cidade favorece chuvas destruidoras como a que afetou o Ceagesp, centro de distribuição de alimentos de São Paulo, no final de 2009. PAULO WHITAKER/REUTERS/LATINSTOCK 72 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Comportamento bipolar Exame mais detalhado sugere que se trata de paciente bipolar. Em alguns momentos apresenta-se estressada, deprimida e com baixa autoestima. Em outros, eufórica. Apresenta enorme vazio no centro, principalmente à noite, associado a um sentimento de despopulação central. Confusa, reconhece dependência química de uma droga, o petróleo. Apática, demonstra dificuldade de planejamento, desesperança, desamparo e preocupação com o futuro. A velha senhora alega ainda episódios agudos de asma e surtos de pneumonia. Já teve alguns episódios de dor precordial (dor no peito) e infarto. Alimenta-se compulsivamente, apresenta má digestão, sensação de empachamento, eructação e flatulência há anos. Vivencia constantemente episódios de evacuação, prejuízo do saneamento básico, grande lançamento de efluentes e esgoto nos rios e disposição de resíduos sem aproveitamento. Acredita que possa ser acometida por vermes pela facilidade com que este quadro acarreta a proliferação de vetores causadores de doenças infecciosas. Sente muita sede, apresenta fraqueza e incapacidade de aproveitar as fontes energéticas de que dispõe. Aponta ainda perdas e desperdício de água. O exame físico demonstra ser uma paciente obesa, febril, com notável distribuição das células mais pobres na periferia. Apresenta-se extremamente dispneica, com falta de ar e notório escurecimento do ar expirado por fuligem. O ritmo dos batimentos cardíacos mostra diminuição (bradicardia). Apresenta edema generalizado (inchaço), coincidindo com chuvas (congestão arterial). Além disso, observam-se intensas áreas sem pilificação, alopecia (queda de cabelo) crescente, pois sua cobertura vegetal foi parcialmente destruída. A pele está seca, espessa e escura devido ao asfaltamento e à impermeabilização do solo. Constata- se déficit de audição por excesso de ruídos. Exames laboratoriais complementares foram realizados para auxiliar o diagnóstico da paciente. Dados epidemiológicos e científicos ilustram e elucidam o caso clínico dessa velha senhora. Exames do ar mostram que as fontes móveis (veículos) passaram a ter, a partir da década de 80, maior participação na carga de poluentes emitidos na atmosfera que as fontes industriais e se tornaram a principal causa de poluição na região metropolitana e outros grandes centros urbanos do país. De acordo com estimativas da agência ambiental do estado de São Paulo – Cetesb –, 90% dos poluentes gasosos resultam da queima de combustíveis fósseis nos veículos automotivos (97% das emissões de CO – monóxido de carbono – e 96% de NO2 – dióxido de nitrogênio). Há registros de que tenha a maior concentração de ozônio e material particulado do país. Essa poluição do ar provoca perto de 4 mil mortes prematuras/ano. Estima-se que os níveis atuais de poluição levem a uma redução da expectativa de vida do habitante em cerca de 1,5 ano, devido a três desfechos: câncer do pulmão e vias aéreas superiores; infarto agudo do miocárdio e arritmias; e bronquite crônica e asma. Viver em São Paulo corresponde a fumar quatro cigarros diariamente em decorrência das partículas em suspensão no ar. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 73 Poluição e Morte O Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE) da Universidade de São Paulo (USP) investiga o impacto dos poluentes na saúde dos habitantes da cidade e demonstrou, na década de 90, que um aumento em 13% da mortalidade de pessoas acima de 65 anos esteve associado à elevação das concentrações de partículas inaláveis no ar. Crianças e idosos são os dois grupos etários mais suscetíveis aos efeitos da poluição, particularmente naqueles com doenças cardiovasculares e respiratórias preexistentes. Se a poluição pode aumentar o número de mortes, antes disso provoca doenças. É o caso do estudo em controladores de tráfego da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que demonstra alterações de pressão arterial e de marcadores inflamatórios sanguíneos em dias mais poluídos. Pesquisa recente realizada nos Estados Unidos, analisando 66 mil mulheres no período pós-menopausa e sem história de doença cardiovascular, observou um crescimento de 24% no risco dessa enfermidade. E, quando ela se manifestava, um aumento de 76% no risco de morte quando as mulheres eram expostas a variações de níveis de poluição atmosférica. Pesquisadores do LPAE têm investigado outros efeitos nocivos da poluição atmosférica. O peso de bebês pode se reduzir quando as gestantes são expostas a níveis elevados de monóxido de carbono (CO) e partículas inaláveis no primeiro trimestre de gestação. Isso permite supor que a poluição afeta o desenvolvimento intrauterino das crianças. Nos primeiros 28 dias de vida, a mortalidade neonatal também é influenciada pelos poluentes. Curiosamente, há evidências de que nascem mais meninas que meninos em áreas mais poluídas da cidade. A região metropolitana tem aproximadamente 20 milhões de habitantes e nela estão localizadas 47 mil indústrias e 99 mil estabelecimentos comerciais. Sua frota de veículos cresce continuamente e se aproxima dos 9 milhões de unidades. Na última década, a população de São Paulo teve aumento de 12%, enquanto a frota automotiva cresceu pelo menos 65%. Assim, a relação entre automóveis/habitantes é de 1:2, ou seja, um veículo para cada dois habitantes. Isso significa que o número de sapatos e pneus é aproximadamente o mesmo. Construção tardia e ainda insuficiente de linhas do metrô compromete o deslocamento por superfície com engarrafamentos de centenas de quilômetros de extensão. CILETE SILVÉRIO/GOVERNO DO ESTADO DE SP 74 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: A elevação da frota de veículos indica que se favoreceu o transporte individual em detrimento do coletivo, mais eficiente em relação ao uso de energia e ocupação do solo. É uma contradição – tratar da redução de gases de efeito estufa e estimular a venda de veículos individuais por meio de incentivos fiscais, como o que ocorreu recentemente. A ausência de uma política urbana integrada aos transportes contribuiu para a intensificação da motorização e a piora da mobilidade urbana. A cidade é conhecida por suas vias congestionadas e pelas médias diárias recordes de congestionamento, acima de 120 km no pico da tarde, devido à desproporção no número de veículos circulando por uma malha de 17 mil km. O número de viagens motorizadas pode chegar a cerca de 25 milhões por dia. A velocidade média dos automóveis e ônibus vem se reduzindo significativamente. Em 2005, os carros circulavam a uma velocidade média de 18,4 km/h, e os ônibus a 14,3 km/h, situação que se agravou com o aumento da frota. É aqui que se evidencia o maior paradoxo dessa opção tecnicista: são produzidos veículos de locomoção cada vez mais rápidos e ágeis, mas que se deslocam com a rapidez e a agilidade de uma charrete. Como na Idade Média, os moradores se restringem a circular no seu próprio vilarejo, aqui chamado de bairro, e, quando muito, em apenas uma região da cidade. De maneira geral, o transporte individual consome 30 vezes mais combustível por passageiro em comparação com ônibus e 70 vezes mais energia quando comparado com o metrô. Segundo estimativas, uma linha de metrô poupa cerca de 3 milhões de barris de petróleo por ano. A ausência dele transfere para ônibus e automóveis, como alternativa modal no contexto de transporte, a maioria (90%) dos usuários, o que acarreta maior tempo de viagem e aumento dos níveis de concentração de partículas no ar, com consequente agravo das condições de saúde dos que vivem na cidade. Esse fato foi demonstrado por um estudo sobre os impactos das paralisações(greve) da operação do metrô (entre 1986 e 2006). Observou-se um aumento de 50% dos níveis de concentração de PM10 (material particulado inferior a 10 micra), comparando-se com dias em condições meteorológicas similares. Os benefícios do metrô para a saúde pública, como contribuição desse sistema de transporte à redução da poluição atmosférica em São Paulo, foram avaliados em R$ 10,75 bilhões anuais. Apesar das vendas recordes de carros, a maioria (68%) da frota que circula pelas ruas apresenta idade média superior a 6 anos, sendo 41% com mais de 10 anos. Veículos com até 5 anos de idade, que emitem menos poluentes, correspondem a apenas 32% do total. Entre os 2,7 milhões de unidades que emitem mais poluentes, devido ao desgaste natural e à manutenção inadequada, há caminhões e ônibus a diesel, ainda mais nocivos à qualidade do ar. As motocicletas, cada vez mais utilizadas, representam 12,1% da frota, mas poluem oito vezes mais que um automóvel e provocam milhares de acidentes, matando e incapacitando um enorme contingente, a cada ano. Dados de 2009 apontam média diária de 42 acidentes com motocicletas na cidade que são a principal causa de lesão na medula. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 75 Dois remédios bem-sucedidos trouxeram benefícios à saúde: os carros hoje chegam a poluir 95% menos que em 1986 e os caminhões reduziram seus níveis de poluição em 85% no mesmo período. Esses números são resultado do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que introduziu mudanças tecnológicas e impôs limites nas emissões de gases poluentes de veículos. A redução de 40% na concentração dos poluentes entre os anos 90 e os primeiros cinco anos da presente década foi suficiente para diminuir de 12 para 8 o número de mortes diárias atribuídas à poluição do ar na região metropolitana. O limite máximo de concentração de monóxido de carbono foi ultrapassado 65 vezes em 1997, mas apenas uma vez em 2005. Essa queda da poluição resultou na diminuição de aproximadamente 10 mil mortes e internações hospitalares por doenças respiratórias e cardiovasculares. Se o Proconve não funcionasse, a perda por mortes, somente na cidade, seria de US$ 600 milhões. O segundo remédio diz respeito à inspeção veicular, iniciativa que vem auxiliar na diminuição de poluentes e gases de efeito estufa (GEE). Negligência custa caro Em contraposição, a Resolução Conama nº 315/02, que impõe um limite do teor de enxofre no diesel distribuído no Brasil a 50 partes por milhão (ppm) para a tecnologia P-6 (novos motores), a partir de janeiro de 2009 não foi aplicada. A proporção hoje é de 500 ppm nas regiões metropolitanas e de 2 mil ppm no interior. Na Europa, essa concentração é de 10 ppm e, nos Estados Unidos, 15 ppm. No entanto, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP – foi leniente na sua ação regulatória, o que levou a Petrobras a não cumprir a legislação ambiental e manteve o alto teor de enxofre no diesel, substância cancerígena e responsável pela morte de 3 mil pessoas por ano na cidade de São Paulo. Nesse caso, é preciso destacar que o Brasil é o único país que conta com uma frota veicular que utiliza etanol em larga escala. O álcool etílico nas suas formas anidro e hidratado corresponde a 51% do combustível consumido por veículos leves, sendo o restante fundamentalmente gasolina e gás natural. No transporte pesado predomina o uso do diesel. A exemplo de outras grandes cidades do mundo, a bicicleta também serve de meio de transporte, e a prefeitura de São Paulo vem apoiando a expansão de seu uso desde 2005 – há cerca de 200 mil ciclistas na cidade. Nesse período foram implementados 20 km de ciclovias e bicicletários em dezenas de estações de trem e metrô, mas é necessário expandir rapidamente esse sistema para estimular seu crescimento e proporcionar segurança aos usuários. A combinação de crescimento populacional, pobreza e degradação ambiental aumenta a vulnerabilidade às catástrofes climáticas. Nesse caso, é lamentável que a população com menor responsabilidade pela emissão de gases de efeito estufa seja a que mais sofrerá com suas consequências. Isso ocorre pela baixa capacidade de adaptação, moradia em zonas de risco, não acesso a moradias com infraestrutura básica de saneamento e pouco acesso à saúde – injustiça ambiental. 76 UNIDADE 1 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Estresse térmico é uma das condições classicamente associadas a efeitos sobre a saúde – extremos de temperatura afetam preferencialmente crianças e idosos. Grande parte da mortalidade aumentada por ondas de calor está relacionada a doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias. As áreas urbanas, nesse caso, são mais afetadas que as rurais por diversos fatores, que incluem a supressão da vegetação capaz de estabilizar os gradientes de temperatura, umidade e regime hídrico. Parte substancial do solo das cidades foi pavimentada, chegando ao ponto de cerca de 30% a 40% da área central das grandes cidades brasileiras ser ocupada pela malha viária. As consequências do asfaltamento e impermeabilização das superfícies que retêm o calor – fachadas de vidro, concreto e o asfalto negro –, a supressão da vegetação e as emissões de automóveis são responsáveis por alterações climáticas em menor escala, as chamadas ilhas urbanas de calor. Esses fenômenos se manifestam no coração dos grandes conglomerados urbanos e provocam mudanças de regime e intensidade das chuvas e inundações, além de dificultar a dispersão de poluentes. Em São Paulo, as variações térmicas diárias podem chegar a até 10ºC. Aquecimento e clima Em um estudo sobre as mudanças climáticas nas cidades e as interferências do aquecimento global, foram analisados e comparados dados de temperatura de superfície e umidade relativa da estação do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG/USP) entre os anos de 1936 e 2005. Como resultados, verificou-se progressivo aumento das médias de temperatura de superfície (praticamente 0,038oC ao ano; em 70 anos, o acumulado foi de 2,66oC) e queda da umidade relativa na área urbana. Recordes nas séries históricas da cidade de São Paulo, em medições desde 1943, mostram que a temperatura máxima ocorrida na capital foi de 37,0oC em janeiro de 1999. Em 2009 chegou-se a 34,1oC, mas em março. Em geral, verificou-se que as temperaturas máximas vêm batendo recordes a partir dos anos 90. Já a menor temperatura registrada na série histórica foi - 2,1oC, em agosto de 1955. Para as mínimas, os recordes (frio) ficaram em geral no início da série. Isso mostra que as temperaturas mínimas estão ficando mais elevadas, ou seja, as noites estão mais quentes. Isso é um forte indicativo da mudança no padrão de clima da cidade. Em relação às precipitações, a chuva mais intensa em 24 horas ocorreu em maio de 2005, com 140,4 mm. Esse dado chama atenção para o mês em que ocorreu, pois em maio as chuvas já diminuíram bastante e a atmosfera em geral está mais seca, caracterizando um evento extremo e inesperado quando se pensa em climatologia da região. Em 2009, houve também o segundo inverno mais chuvoso de que se tem registro. Nos meses de junho, julho e agosto, foram registrados 332,3 mm de chuva, enquanto o normal esperado seria 131,1mm. Pesquisando-se o regime de chuvas da capital, entre 1933 e 2005, detectou-se que as chuvas estão mais intensas e frequentes, talvez devido às ilhas de calor. TÓPICO 4 | RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE 77 BRASIL2/ISTOCKPHOTO Superfície quase inteiramente impermeabilizada e adensamento de edifícios no centro da cidade respondem pelas ilhas de calor relacionadas aos temporais destruidores do verão. Quanto à umidade mínima, em agosto de 2009 houve o recorde histórico de baixa umidade relativa do ar – 10%, o menor valor desde o início dos registros. Esse pode ser considerado um evento extremo na cidade. A alteração do ciclo hidrológico provocaeventos climáticos severos (inundações e falta de água potável), modificação do microclima (ilhas de calor) e perda de fontes de água, levando a doenças de transmissão hídrica e doenças respiratórias. As inundações que se repetem com intensidade neste início de 2010 estão associadas a perdas de vidas e prejuízos materiais. Os impactos à saúde incluem afogamentos, doenças relacionadas à água contaminada (hepatite A, diarreia e leptospirose). Além da inundação, a chuva excessiva contamina reservatórios de água potável. Enxurradas podem tirar roedores de seus abrigos, criar locais para a reprodução de mosquitos e aumentar o crescimento de fungos nas casas. Um exemplo clássico de como o desequilíbrio do ambiente pode influenciar o desenvolvimento de uma doença é a ocorrência recente da maior epidemia de dengue em 50 anos no Brasil. Apenas nos três primeiros meses de 2008, surgiram 60 mil casos no Rio de Janeiro, um doente a cada três minutos. A rede de saúde pública entrou em colapso, recorrendo a hospitais de campanha das forças armadas. As condições geográficas e socioeconômicas da cidade facilitaram essa propagação. Com o aumento da temperatura, o mosquito sobe o morro e encontra condições precárias, como pessoas aglomeradas e más condições de saneamento, acúmulo de água e sujeira, que facilitam a reprodução/perpetuação. Paulo Hilário Nascimento Saldiva é médico formado pela Faculdade de Medicina da USP, professor titular do Departamento de Patologia e pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP. Coordenador do Instituto Nacional de Análise Integrada de Risco Ambiental do CNPq. Evangelina da Motta Pacheco Alves de Araújo Vormittag, médica consultora na área de saúde e sustentabilidade, é especializada em patologia clínica e microbiologia, com doutorado em patologia pela Faculdade de Medicina da USP e especialização em gestão de sustentabilidade pela Fundação Getúlio Vargas. Diretora-presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade. FONTE: SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento; VORMITTAG, Evangelina da Motta P. A. de Araújo. A saúde precária de uma velha senhora. Scientific American Brasil, São Paulo, n. 95, abril 2010. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/a_saude_precaria_de_uma_velha_ senhora_imprimir.html>. Acesso em: 1 maio 2011. 78 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico você estudou que: • Cuidar do meio ambiente e preservar os recursos naturais é cuidar de nossa saúde e nosso bem-estar. • A contaminação da água, falta de destino correto dos resíduos sólidos, poluição atmosférica, excesso de ruídos, falta de saneamento, inundações, entre outros, são prejuízos consequentes da vida moderna atrelada à falta de cuidado com o meio ambiente. • É evidente a emergência de um processo de conscientização e mudança de comportamento por parte da humanidade quando se trata de utilização dos recursos naturais. • A crise ambiental tem suas origens na ilusão de domínio do homem sobre a natureza e na cultura exacerbada do “ter sobre o ser”, o que caracterizou a relação do homem com o meio ambiente e com seus próprios semelhantes. • A crise ambiental não surgiu de uma hora para outra, mas sim há muito tempo, e se agravou especialmente no período da Revolução Industrial, quando começaram de fato as agressões ao meio ambiente. • O crescimento populacional está diretamente relacionado ao aumento da demanda de recursos naturais e à geração de resíduos lançados no meio ambiente. • Recursos naturais e economia interagem de modo bastante evidente, uma vez que algo é recurso na medida em que sua exploração é economicamente viável. • Os recursos naturais podem ser classificados em renováveis e não renováveis. • A poluição pode ser conceituada como alterações de ordem antrópica, nas características físicas, químicas ou biológicas da atmosfera, litosfera ou hidrosfera. • Chuva ácida é toda chuva que possui um valor de pH abaixo de 4,5 unidades. • A camada de ozônio é um escudo natural da Terra que nos protege dos efeitos nocivos dos raios solares, em especial os raios ultravioleta (UV). • Estudos apontam a ação antrópica, associada às variações cíclicas naturais, como um dos principais fatores relacionados às mudanças climáticas. 79 • A composição química da atmosfera também influencia o clima e, desde a Revolução Industrial, a emissão de gases de efeito estufa, responsável pelo aquecimento global, vem aumentando consideravelmente. • O efeito estufa é um fenômeno natural e vital para a manutenção da vida na Terra. • A participação do homem na história (em tempo geológico) é praticamente insignificante em relação ao período e processo evolutivo da vida na Terra. • A perda contínua da biodiversidade é um forte indicador do desequilíbrio existente entre as necessidades humanas e a capacidade de suporte da natureza. • Fazemos parte do meio ambiente e a nossa saúde depende, além de outros fatores, de vivermos em um ambiente saudável, livre de poluição e ambientalmente equilibrado. 80 AUTOATIVIDADE 1 Atualmente temos presenciado uma interferência acentuada do homem sobre os ecossistemas. Um fator agravante desta crise e que deu início a um processo crescente de agressão ao meio ambiente foi: a) ( ) A revolução tecnológica no século XX. b) ( ) A explosão demográfica dos países subdesenvolvidos. c) ( ) A Revolução Industrial no século XVIII. d) ( ) A globalização. 2 Com relação à poluição em geral, relacione as colunas: I- Camada de ozônio. II- Chuvas ácidas. III- Aquecimento global. IV- Efeito estufa. ( ) Fenômeno natural e vital para a manutenção da vida na Terra; responsável por temperaturas mais amenas e adequadas que permitem a grande biodiversidade. ( ) Fenômeno que vem aumentando desde a Revolução Industrial, com o aumento da emissão de gases poluentes na atmosfera e causando desequilíbrios nos ecossistemas como, por exemplo, o aumento do pH da água. ( ) O gás CFC (Cloro - Flúor - Carbono) é o grande responsável por este problema de degradação do ambiente em escala global. ( ) É causado pela excessiva emissão de gases poluentes na atmosfera, principalmente o CO2, intensificando um fenômeno natural. a) ( ) III- I- II- IV. b) ( ) IV- II- I- III. c) ( ) IV- III- II- I. d) ( ) III- II- I- IV. 3 Ao longo deste tópico estudamos, atrelada à crise ambiental, a relação entre meio ambiente e saúde. Dessa forma, como você descreveria esta relação? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 81 UNIDADE 2 MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • analisar os conteúdos e contribuições dos documentos de referência frente à saúde e meio ambiente; • conhecer a temática da saúde e do meio ambiente e seu contexto no ambiente escolar; • analisar os conceitos de meio ambiente, saúde, escola e a sua relação com a qualidade de vida. Esta segunda unidade está dividida em três tópicos. No final de cada tópico, você encontrará atividades que possibilitarão o aprofundamento de conteúdos na área propiciando uma reflexão sobre a escola, educação escolar, meio ambiente, saúde e a relação intrínseca entre os mesmos. TÓPICO 1 – O PAPEL DA ESCOLA FRENTE À SAÚDE E MEIO AMBIENTE TÓPICO 2 – GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE TÓPICO 3 – EDUCAÇÃO, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 82 83 TÓPICO 1 O PAPEL DA ESCOLA FRENTE À SAÚDE E MEIO AMBIENTE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Educação. Que tipo de educação? Ou melhor, quais os tipos de educação existentes? Educação da família, educação escolar..., enfim, não se trata sempre de educação? Sim! E o que difere uma da outra? A educação escolar caracteriza-se, entre outras coisas,por “ensinar” conhecimentos sistematizados e construídos ao longo dos tempos para que os mesmos sejam aprendidos e apreendidos em local privilegiado: a escola. Pois bem, ao longo da Unidade 2, teremos a possibilidade de dialogar sobre a educação escolar, o papel da escola, os sujeitos que dela fazem parte e a importância dessa educação – a escolar – para o desenvolvimento e formação dos sujeitos, relacionada ao meio ambiente e saúde. Começando... 2 PARA QUE SERVE A ESCOLA? A escola é local privilegiado para mediação e apropriação da educação escolar, propiciando desenvolvimento aos sujeitos que dela fazem parte. Ou seja: A escola é, sem sombra de dúvida, o local ideal para se promover este processo. As disciplinas escolares são os recursos didáticos através dos quais os conhecimentos científicos de que a sociedade já dispõe são colocados ao alcance dos alunos. As aulas são o espaço ideal de trabalho com os conhecimentos e onde se desencadeiam experiências e vivências formadoras de consciências mais vigorosas porque alimentadas no saber. (PENTEADO, 2000, p. 16). Desse modo, a escola caracteriza-se como espaço de ensino e, assim sendo, traz em seu escopo a ação organizada e intencional. Vale ressaltar, corroborando Basso e Chaves (2009, p. 13), que: UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 84 [...] Quando nos referimos à escola como espaço de ensino, queremos dar a ela a especificidade da sua função e distingui-la das demais instituições educativas. Mas ensinar não é exclusivo da escola. É também, principalmente, função da família e de outros grupos sociais. Além disso, o ensino ocorre, cada vez mais, dentro das empresas e corporações em geral. Isso porque a produção de conhecimento na nossa sociedade é muito dinâmica e não há formação que assegure o domínio de tantos conhecimentos. [...] IMPORTANT E A educação permeia todos os contextos em que estamos inseridos – em casa, no trabalho, nas ruas. Porém, existe uma forma de educar que difere das demais que é chamada educação escolar. Esta tem um contexto próprio, com uma linguagem específica, objetos delimitados e instituições delegadas. Vale ressaltar, no entanto, que o contexto escolar está imerso em uma cultura de que também faz parte – a sociedade como um todo. Desse modo, a escola, a educação escolar e o mundo (a visão desse mundo) estão intrinsecamente ligados. FONTE: As autoras Continuando... O conhecimento escolar possui especificidades, porém estas não devem conter o caráter único e estático do conhecer, do próprio conhecimento. A caracterização do conhecimento único, individualizado, sem trocas, diálogo, sentidos e significados vão contra a educação como um todo. A interação, o diálogo, as trocas, as discussões, a interlocução fazem parte constante da construção das visões de mundo, dos enunciados que estão à nossa volta e, por conseguinte, que fazem parte do sujeito como um todo. TÓPICO 1 | O PAPEL DA ESCOLA FRENTE À SAÚDE E MEIO AMBIENTE 85 Acredita-se, então, na Educação Emancipadora. Educação essa voltada na e para a formação de sujeitos críticos, reflexivos e cidadãos. Educação escolar como ação transformadora em que professor e aluno, na interação estabelecida, aprendem juntos, tendo no entorno a indissociabilidade entre teoria e prática. (GADOTTI, 2004). Possibilita-se, assim, desde cedo, o contato com a reflexão e a criticidade. Uma educação pautada na indissociabilidade entre teoria e prática pedagógica, como também nos constantes diálogos ao longo do processo educativo, do processo ensino-aprendizagem. FIGURA 31 – EDUCAÇÃO EMANCIPADORA PRÁXIS AÇÃO TRANSFORMADORA TEORIA PEDAGÓGICA PRÁTICA AÇÃO DOCENTE EDUCAÇÃO DIÁLOGO EDUCAÇÃO EMANCIPADORA FONTE: As autoras À medida que consideramos a importância das trocas, diálogos e discussões ao longo do processo educativo, é de suma importância que pensemos em práticas efetivas e reais que visem à reflexão, reflexividade e criticidade ao longo do processo. Assim, contribuiremos para a efetiva educação emancipadora, para a práxis – ação transformadora. UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 86 DICAS Para estabelecer o diálogo e reflexões mais aprofundadas sobre a Educação Emancipadora leia a seguinte obra: GADOTTI, Moacir. Pedagogia da práxis. 4. ed. São Paulo: Cortez/Instituto Paulo Freire, 2004. A leitura vale a pena! Vale ressaltar que a educação escolar sozinha não dá conta de promover mudanças na trajetória e história do planeta, porém tem papel significativo e fundamental para possíveis construções e possibilidades de cidadania. Uma vez que somos e fazemos parte de nossa história, podemos contribuir de modo que realmente façamos parte dessa mudança e construção de possibilidades. Esse envolvimento é fundamental. É preciso querer, gostar, estar aberto. Veja o que diz a respeito o nosso ilustre educador Paulo Freire (1997, p. 58-59): “[...] Gosto de ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo. Daí que insista tanto na problematização do futuro e recuse sua inexorabilidade”. A importância, portanto, aqui colocada no que se refere ao contexto escolar, à escola, é de se educar pensando na formação de cidadãos, críticos, reflexivos e empreendedores preocupados e atentos às mudanças hoje e futuramente. Apresentamos o fragmento de um texto para conhecimento e reflexão no que se refere à escola e sua função social. Você pode lê-lo na íntegra no endereço citado da fonte. A EDUCAÇÃO E SUA FUNÇÃO SOCIAL João Ferreira de Oliveira Karine Nunes de Moraes Ao discutirmos a função social da educação e da escola, estamos entendendo a educação no seu sentido ampliado, ou seja, enquanto prática social que se dá nas relações sociais que os homens estabelecem entre si, nas diversas instituições e movimentos sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva dessas relações. [...] Segundo Frigotto (1999), a escola é uma instituição social que, mediante sua prática no campo do conhecimento, dos valores, atitudes e, mesmo por sua desqualificação, articula determinados interesses e desarticula outros. Nessa contradição existente no seu interior, está a possibilidade da mudança, haja vista as lutas que aí são travadas. Portanto, pensar a função social da escola implica repensar o seu próprio papel, sua organização e os atores que a compõem. TÓPICO 1 | O PAPEL DA ESCOLA FRENTE À SAÚDE E MEIO AMBIENTE 87 Para Petitat (1994), a escola contribui para a reprodução da ordem social. No entanto, ela também participa de sua transformação, às vezes intencionalmente. Outras vezes, as mudanças se dão, apesar da escola. Nesse contexto, o dirigente escolar, o professor, os pais de alunos e a comunidade em geral precisam entender que a escola é um espaço contraditório e, portanto, se torna fundamental que ela construa seu Projeto Político- Pedagógico. Cabe ressaltar, nessa direção, que qualquer ato pedagógico é um ato dotado de sentido e se vincula a determinadas concepções (autoritárias ou democráticas), que podem estar explícitas ou não. [...] FONTE: Disponível em: <http://escoladegestores.mec.gov.br/site/4sala_politica_gestao_escolar/ pdf/saibamais_8.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2012. 3 RELAÇÃO ESCOLA, SAÚDE E MEIO AMBIENTE O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito igualmente. Paulo Freire A educação escolar, direito assegurado por lei, tem papel fundamental no desenvolvimento dos indivíduos. Traz por princípio o auxílio e contribuição plenos para o crescimento cognitivo e afetivo dos sujeitos envolvidos de forma crítica, reflexiva, autônoma e consciente. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional, Lei no 9.394/96 (BRASIL, 1997), [...] A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 2o). Desse modo, a escola é local privilegiado para mediação e apropriação da educação escolar, proporcionando desenvolvimento e crescimento plenos aos sujeitos que dela fazem parte. A mediação está pautada na necessidade de explicar a relação entre duas ou mais coisas, sobretudo se são de naturezas distintas, no sentido do auxílio direto à apropriação dos conhecimentos pelos indivíduos nela envolvidas; trata-se do processo em que quem aprende generaliza os dados apreendidos pelo sentido. No contexto escolar, essa mediação tem no professor a peça fundamental do processo, na medida em que é detentor do conhecimento potencial a ser ensinado à criança. Porém, a defesa do direito à educação plena a todos os cidadãos, sendo a escola local privilegiado para tanto, não tem sido suficiente para que na prática esse direito se concretize. Corroborando Medina e Santos (2000, p. 18), UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 88 A educação deverá liberar-se da fragmentação imposta pelo paradigma positivista e sua racionalidade instrumental e econômica, bem como de seus estreitos pontos de vista; atualizar-se em relação ao conhecimento produzido pelos mais importantes cientistas, artistas e humanistas de nossa época e unir forças com outras instituições sociais visando à construção de um mundo mais humano e sustentável. [...]. As propostas pedagógicas precisam ser claras, planejadas, interdisciplinares e mediadas pelos sujeitos integrantes do contexto escolar – professores. Como um todo, o contexto escolar esboça diferentes olhares, falas, discursos, ritmos e conhecimentos. Por isso a riqueza e vida pertencente à escola, às vezes, é ofuscada pela fragmentação e homogeneização de conteúdos, do conhecer. Nesse contexto, a questão concernente à saúde e ao meio ambiente devem vir ao encontro de propostas significativas, de modo que sua apropriação seja relevante e fundamental para a vida dos sujeitos envolvidos no processo educativo. Para tanto, saúde e meio ambiente, assim como diferentes temáticas, precisam ser contempladas nas suas características e particularidades, mas também na sua amplitude e interlocução que estabelece com o próprio meio. De acordo com Medina e Santos (2000, p. 12), Pensar o ambiental, hoje, significa pensar de forma prospectiva e complexa, introduzir novas variáveis nas formas de conceber o mundo globalizado, a natureza, a sociedade, o conhecimento, especialmente as modalidades de relação entre os seres humanos, a fim de agir de forma solidária e fraterna, na procura de um novo modelo de desenvolvimento. Do mesmo modo devemos contemplar a questão da saúde, uma vez que ambos – saúde e meio ambiente, são parte intrínseca ao ser humano. Isso porque sujeito e meio são interdependentes e, desse modo, se relacionam, interagem e interferem (positiva ou negativamente) um entre/no outro. Ou seja, somos parte do meio e vice-versa. Ao contemplarmos essa relação é possível pensar e conceber o sujeito pleno, enquanto reflexivo, cidadão e parte integrante do meio de que faz parte. [...] Esta relação profunda com o meio, paradoxalmente, faz daquele que nele habita, vive, deseja, realiza, sofre, tornar-se o próprio meio, apropriando-se dele de maneira a não saber e não poder distinguir-se dele, sabendo-se/sentindo-se meio ao mesmo tempo que segue sendo singularidade humana. (CASCINO, 1999, p. 84). Desse modo, a relação meio ambiente e sujeito estende-se à comunidade e ao contexto escolar da mesma. O trabalho pedagógico em sala de aula precisa ser contínuo e embasado em objetivos e conhecimentos preestabelecidos (planejados) de acordo com o contexto de que faz parte. A temática saúde e meio ambiente caminham ao longo do ano escolar, dos Projetos Pedagógicos (PP) e Projetos Político-Pedagógicos (PPP), e não de modo isolado ou como instrumentos pedagógicos isolados. TÓPICO 1 | O PAPEL DA ESCOLA FRENTE À SAÚDE E MEIO AMBIENTE 89 FIGURA 32 – O MEIO AMBIENTE NO CONTEXTO ESCOLAR FONTE: Disponível em: <http://www.palhocense.com.br/polopoly_fs/1.410545.1297947351!/ image/1811656893.jpg>. Acesso em: 24 jan. 2012. Ao contemplar o meio ambiente no contexto escolar, contemplamos uma educação ambiental significativa, concreta e permeada de sentido para os sujeitos a que se destina. Para tanto, todos os envolvidos no processo educativo são parte integrante e fundamental para que, na prática, se contemple a teoria e vice-versa. [...] não se faz educação ambiental individualmente. Esta prática se faz na, com e para a comunidade, sendo necessário conhecimento da atualidade e noções de conteúdos específicos para a formação de uma postura crítica, além de uma consciência política e de cidadania, e principalmente de dependência entre os seres. [...] (MANZANO; DINIZ, 2004, p. 170). DICAS No livro “Educação ambiental: uma metodologia participativa de formação”, das autoras Medina e Santos, é possível conhecer o método PROPACC (Proposta de Participação- Ação para a Construção de Conhecimento). A proposta em questão é baseada no trabalho com a educação ambiental e possibilidades para tanto. Vale a pena ler! Anote a referência: MEDINA, N. M.; SANTOS, E. da C. Educação ambiental: uma metodologia participativa de formação. Petrópolis: Vozes, 2000. UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 90 ESTUDOS FU TUROS Caro acadêmico, na próxima unidade, abordaremos com mais profundidade a questão da educação ambiental, especificamente no Tópico 2, intitulado Educação para o Meio Ambiente. Do mesmo modo, a saúde escolar compreende o entendimento de meio e sujeitos entrosados e sabidos de sua relação para com o outro. Corroborando Conceição (1994, p. 11), “Saúde escolar corresponde ao conjunto de ações destinadas a promover, proteger e recuperar a saúde das coletividades integrantes do sistema educacional”. Para tanto, a escola e a comunidade escolar devem fazer parte das ações que promovam a saúde escolar, uma vez que são os personagens principais desse processo. FIGURA 33 – SAÚDE ESCOLAR FONTE: Disponível em: <http://areadeprojecto-8anos-a-b-eb23smeda.blogspot.com/2009/04/ projecto-saude-alimentacao-e-saude.html>. Acesso em: 24 jan. 2012. De acordo com Stotz apud Burgos (2006, p. 189), [...] o professor é um elemento desencadeador de saúde e por representar, principalmente para os menores, uma referência, um exemplo a ser seguido. A convivência diária com os alunos possibilita ao professor o aprimoramento de capacidades imprescindíveis à educação em saúde, que são, entre outras, as que dizem respeito à construção de vínculos duradouros e ao conhecimento da realidade em que vive o aluno. TÓPICO 1 | O PAPEL DA ESCOLA FRENTE À SAÚDE E MEIO AMBIENTE 91 Sendo assim, a escola, como ressaltado no início desse tópico, é local privilegiado para apreensão dos conhecimentos sistematicamente organizados. No contexto escolar a interação, a mediação entre os sujeitos envolvidos proporcionam o desenvolvimento e aprendizados significativos a quem faz parte. FIGURA 34 – RELAÇÃO ESCOLA, MEIO AMBIENTE E SAÚDE FONTE: Disponível em: <radiomarcante.net/noticias/dia-mundial-da-saude>. Acesso em: 24 jan. 2012. Em suma, a relação Escola, Meio Ambiente e Saúde é intrínseca, permeada por trocas, diálogos, discussões, construções e re-construções, baseada no ensinar e aprender, e pautada na preocupação constante com a formação de mediadores e ruptura de fragmentações. UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 92 LEITURA COMPLEMENTAR CONCEPÇÕES DE SAÚDE E COTIDIANO ESCOLAR – O VIÉS DO SABER E DA PRÁTICA Aparecida de Fátima Soane Lomônaco [...] CONCEPÇÕES DE SAÚDE E COTIDIANO ESCOLAR As concepçõesde saúde que permeiam o ambiente escolar, advindas dos conceitos elaborados pelos educadores e profissionais que trabalham na escola, são possibilidades de se entender as ações ali desenvolvidas, em relação à saúde. Neste trabalho, o cuidar do corpo aparece como um pensamento hegemônico na escola, que fundamenta o ensino de saúde e as práticas ali desenvolvidas em relação à saúde. [...] Para a maior parte dos pesquisados, a saúde aparece ligada à limpeza, à adoção de hábitos saudáveis, ao asseio, à organização, ao como se cuidar, à higiene pessoal e à manutenção de uma escola limpa. [...] A concepção higienista, que marcou a formação de muitas gerações de brasileiros, tanto nas concepções relacionadas à saúde como à educação, pode ser percebida ainda hoje na evidência de uma preocupação exacerbada com a higiene. O cuidado com o corpo está diretamente ligado à manutenção de uma qualidade de vida. [...] A valorização do corpo está também diretamente relacionada ao mundo do trabalho, para o qual a escola prepara o aluno. Este corpo é meio de produção, é valorizado socialmente: “corpo-meio, corpo ferramenta, corpo investido socialmente por seu possuidor através de sua inserção no mundo do trabalho”. (LIMA, 1985). Verifica-se, nas classes populares, que a saúde e a doença estão diretamente ligadas à questão do corpo, pois o mesmo acaba sendo uma ferramenta de trabalho e, em caso de uma interrupção da saúde, as consequências sociais são graves como a impossibilidade de trabalhar, o que gera a falta de condições financeiras para a aquisição de alimentos, por exemplo. TÓPICO 1 | O PAPEL DA ESCOLA FRENTE À SAÚDE E MEIO AMBIENTE 93 Segundo Souza (1982), a valorização da saúde pelas classes de baixa renda está vinculada às consequências sociais da doença, pois esta significa a quebra do equilíbrio cotidiano, uma vez que afeta o seu principal bem, que é sua capacidade de trabalho, sendo o corpo valorizado sobremaneira por ser o instrumento para o mesmo. Essas concepções são constructos culturais, que estão além do espaço escolar e que por ele transitam sem necessariamente pertencerem a conteúdos específicos. A fragmentação do saber, também presente na educação em saúde, que ocorre desde os processos de formação, resulta em concepções também fragmentadas, como de saúde relacionada mais ao corpo. Segundo Oliveira (1991), a formação de muitos educadores foi marcada pela influência tecnicista na educação, com a tendência pela compartimentação do currículo, pela fragmentação do saber, o que dificulta ao educador uma percepção mais abrangente, dinâmica, que possa articular os fenômenos da prática escolar. A percepção de saúde, na visão dos educadores que ainda a compreendem numa perspectiva unilateral, desvinculada da realidade, dos problemas socioeconômicos, está centrada no biologismo, na visão de um corpo saudável, bem cuidado, o que poderia ser revertido com uma formação adequada, aliada a ações de atualização, de educação continuada com a promoção de debates sobre temas relativos à Educação em Saúde na escola. [...] Segundo Bagnato (1987), as influências dos familiares, da comunidade e do meio ambiente parecem afetar os hábitos e atitudes de saúde dos alunos, adequados ou não, o que reduziria as chances de serem incorporados e vivenciados novos conhecimentos da saúde. Se realmente queremos penetrar nas “entranhas” da escola para buscar subsídios para responder às várias questões sobre os saberes escolares, é preciso atribuir importância a outros segmentos profissionais que apoiam as ações educativas na escola, tanto os que atuam no setor pedagógico e administrativo, quanto os que cuidam da alimentação e higienização. Por isso, consideramos muito importante verificar as concepções de saúde das merendeiras e auxiliares de serviços gerais das duas escolas. [...] CONSIDERAÇÕES FINAIS [...] Em busca de sinais, “vestígios”, que pudessem configurar as práticas e o ensino de saúde na escola, podemos destacar a influência das concepções da UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 94 comunidade escolar acerca do processo saúde/doença nas atividades relacionadas à saúde, sejam elas referentes ao processo ensino-aprendizagem ou ao cotidiano escolar. Nas escolas pesquisadas, evidenciaram-se as concepções de saúde que priorizam o cuidado com o corpo, a manutenção de um ambiente limpo e organizado, advindas de raízes históricas e culturais, em que predominam o higienismo e a individualidade. Verificamos, com isso, que é necessário que se abram espaços de discussão na escola sobre as concepções de saúde. Mesmo encontrando concepções que ampliam o conceito de saúde/doença, dando ênfase aos aspectos sociais, políticos e econômicos, ainda é grande a relação saúde/biologismo. E muitas questões, consideradas na atualidade como importantes elementos para discussão da saúde na escola, embora fazendo parte de seu cotidiano ou do cotidiano dos alunos, não aparecem na pesquisa. [...] Além da formação, uma das questões pertinentes ao ensino de saúde na escola diz respeito à educação continuada. A partir das questões emergentes em cada escola, em cada região, deveria ser realizado um programa de educação continuada para os educadores, dentro da realidade de cada unidade escolar, que pudesse contemplar a participação de vários profissionais da educação e da saúde e onde houvesse espaços abertos para discussão dos diferentes problemas encontrados e das possíveis soluções. Um projeto de educação em saúde na escola para ser legitimado deve ter um significado social e humano. A saúde deve ser considerada como um meio, entre outros, de desenvolvimento do indivíduo como um todo, um recurso que irá contribuir com o sucesso escolar e a integração social. Por isso, a sua concretização e operacionalização deve acontecer de maneira integrada ao projeto político- pedagógico da escola. [...] FONTE: LOMÔNACO, Aparecida de Fátima Soane. Concepções de saúde e cotidiano escolar – o viés do saber e da prática. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt06/t063.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011. 95 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você estudou que: • A educação escolar tem papel fundamental no desenvolvimento dos indivíduos – auxiliar e contribuir plenamente para o crescimento cognitivo e afetivo dos sujeitos envolvidos de forma crítica, reflexiva, autônoma e consciente. • A escola é local privilegiado para mediação e apropriação da educação escolar, propiciando desenvolvimento aos sujeitos que dela fazem parte. • Educação escolar = ação transformadora (professor e aluno, na interação estabelecida aprendem juntos, tendo no entorno a indissociabilidade entre teoria e prática). • A escola serve para a construção e desenvolvimento dos sujeitos que, por sua vez, são parte integrante do meio, havendo relação intrínseca entre ambos. • Saúde e meio ambiente, assim como diferentes temáticas, precisam ser contempladas nas suas características e particularidades, mas também na sua amplitude e interlocução que estabelecem com o próprio meio. • Sujeito e meio são interdependentes e, desse modo, se relacionam, interagem e interferem (positiva ou negativamente) um entre/no outro. • Ao contemplar o meio ambiente no contexto escolar, contemplamos uma educação ambiental significativa, concreta e permeada de sentido para os sujeitos a que se destina. • Segundo Conceição (1994, p. 11), “Saúde escolar corresponde ao conjunto de ações destinadas a promover, proteger e recuperar a saúde das coletividades integrantes do sistema educacional”. 96 AUTOATIVIDADE 1 Faça uma reflexão escrita sobre a temática “Educação Emancipadora: Escola, Professores e Alunos”. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 2 Disserte sobre seu entendimento da citação de Medina e Santos (2000, p. 12). Você concorda com os autores? Por quê? Pensar o ambiental, hoje, significa pensar de forma prospectiva e complexa, introduzir novas variáveis nas formas de conceber o mundo globalizado, a natureza, a sociedade, o conhecimento, especialmente as modalidades de relação entre os seres humanos, a fim de agir de forma solidária e fraterna, na procura de um novo modelo de desenvolvimento. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 97 TÓPICO 2 GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, o tópico que segue abordará documentos de referência que contribuem para o contexto escolar, uma vez que esboçam possibilidades significativas em relação à saúde e ao meio ambiente. Para tanto, o tópico está estruturado em duas partes: na primeira veremos o Guia Curricular e Saúde: Os Parâmetros Curriculares Nacionais, que trará a apresentação deste documento de referência e consequente relação com a educação para a saúde; e na segunda parte veremos o Guia Curricular e Meio Ambiente: Os Parâmetros Curriculares Nacionais. Discutiremos as possibilidades do documento apresentadas frente às relações entre a escola, PCN e o meio ambiente. Bons estudos! 2 GUIA CURRICULAR E SAÚDE: OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS [...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a produção ou a sua construção. Paulo Freire Ao pensar a educação escolar, diversos fatores estão envolvidos para que ela aconteça. No tópico anterior dialogamos sobre o assunto, as relações estabelecidas e sua importância na e para a temática referente ao meio ambiente e à saúde. Nesse contexto há os aspectos relacionados à questão curricular, dentre os quais não podemos deixar de destacar os Parâmetros Curriculares Nacionais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são documentos de referência para a Educação Básica no Brasil. Constituem-se como propostas flexíveis e orientações ao contexto escolar e prática pedagógica do professor. Sua função é: [...] orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual. (BRASIL, 1996, p. 13). UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 98 Estes documentos se baseiam em princípios e fundamentos que se delineiam ao longo do texto. Dentre seus princípios é possível destacar: proposta educacional visando à qualidade da formação do estudante; exercício da cidadania; aquisição e desenvolvimento de novas competências; e processo ensino-aprendizagem dinâmico, crítico, que busca a autonomia e integrado à visão de equipe (trocas e interações). Ainda quanto a seus fundamentos, os PCN trazem a participação construtiva do aluno, assim como a intervenção do professor no processo ensino-aprendizagem. Nesse aspecto, a escola é vista como espaço de formação e informação, de construção coletiva e permanente, e local privilegiado para o conhecimento, para o conhecer, para a educação escolar. (BRASIL, 1996). Dentre os volumes e edições dos PCN, o volume 9, especificamente, trata a questão do Meio Ambiente e Saúde. Sua intenção delineia-se por: [...] tratar das questões relativas ao meio ambiente em que vivemos, considerando seus elementos físicos e biológicos e os modos de interação do homem e da natureza, por meio do trabalho, da ciência, da arte e da tecnologia. (BRASIL, 2000, p.15). No que se refere à saúde, o documento a considera como “[...] estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”. (BRASIL, 2000, p. 89). Ou seja, saúde no sentido de construção permanente do indivíduo e do meio, do sujeito e da coletividade, na busca constante de defesa à vida. Para tanto, o documento corrobora que a educação escolar sozinha não dá conta de promover mudanças na trajetória e história do planeta, porém tem papel significativo e fundamental para possíveis construções e possibilidades de cidadania. Somos e fazemos parte de nossa história. Podemos contribuir de modo que realmente façamos parte dessa mudança e construção de possibilidades nesse sentido. A importância, portanto, aqui colocada, é de se educar pensando na formação de cidadãos, empreendedores preocupados e atentos à conservação de um ambiente saudável hoje e futuramente. E que estabeleçam ao longo de suas vidas relações intra e interpessoais com o ambiente – físico e social. (BRASIL, 2000). Ao pensarmos a “saúde”, faz-se necessário perguntar: ensinar saúde ou educar para a saúde? De acordo com os PCN (BRASIL, 2000, p. 97): No primeiro caso (ensinar saúde) o foco é colocado numa formação sobre saúde e na coincidência de conceitos que fundamentou a proposta clássica de inserção de programas de saúde no escopo da disciplina de Ciências Naturais. Entretanto, essa estratégia não se revelou suficiente para a garantia de abordagem dos conteúdos relativos aos procedimentos e atitudes necessários à promoção da saúde. Desse modo, a efetiva educação para a saúde dar-se-á a partir do momento da busca de uma vida saudável. Nesse sentido, valores, atitudes e hábitos que promovam esse diálogo são de suma importância. Para tanto, a escola, a educação escolar tem papel fundamental. TÓPICO 2 | GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE 99 A temática da saúde é tratada ao longo da Educação Básica – Ensino Fundamental (cabendo também para a Educação Infantil e o Ensino Médio) – baseada nos seguintes objetivos (BRASIL, 2000, p. 101): • compreender que a saúde é um direito de todos e uma dimensão essencial do crescimento e desenvolvimento do ser humano; • compreender que a condição de saúde é produzida nas relações com o meio físico, econômico e sociocultural, identificando fatores de risco à saúde pessoal e coletiva presentes no meio em que vivem; • conhecer e utilizar formas de intervenção individual e coletiva sobre os fatores desfavoráveis à saúde, agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde da comunidade; • conhecer formas de acesso aos recursos da comunidade e as possibilidades de utilização dos serviços voltados para a promoção, proteção e recuperação da saúde; • adotar hábitos de autocuidado, respeitando as possibilidades e limites do próprio corpo. Concebendo os objetivos anteriormente descritos, os conteúdos sobre a saúde foram reunidos, ao longo dos PCN (BRASIL, 2000), em dois blocos gerais: “Autoconhecimento para o Autocuidado” e “Vida Coletiva”. O bloco de conteúdos denominado autoconhecimento para o autocuidado tem como razão de ser o entendimento da saúde em sua dimensão pessoal, expressa no tempo e espaço de cada sujeito em prol do bem-estar físico, mental e social. Desse bloco fazem parte os seguintes conteúdos: • identificação de necessidades e características pessoais, semelhanças e diferenças entreas pessoas, pelo estudo do crescimento e desenvolvimento humano nas diferentes fases da vida (concepção, crescimento intrauterino, nascimento/recém-nascido, criança, adolescente, adulto, idoso); • identificação, no próprio corpo, da localização e da função simplificada dos principais órgãos e aparelhos, relacionando-os aos aspectos básicos das funções de relação (sensações e movimentos), nutrição (digestão, circulação, respiração e excreção) e reprodução; • adoção de postura física adequada; UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 100 • identificação e expressão de sensações de dor ou desconforto (fome, sede, frio, prisão de ventre, febre, cansaço, diminuição da acuidade visual ou auditiva); • valorização do exame de saúde periódico como fator de proteção à saúde; • finalidades da alimentação (incluídas as necessidades corporais, socioculturais e emocionais) relacionadas ao processo orgânico de nutrição; • identificação dos alimentos disponíveis na comunidade e de seu valor nutricional; • valorização da alimentação adequada como fator essencial para o crescimento e desenvolvimento, assim como para a prevenção de doenças como desnutrição, anemias ou cáries; • noções gerais de higiene dos alimentos relativas à produção, transporte, conservação, preparo e consumo; • reconhecimento das doenças associadas à falta de higiene no trato com alimentos: intoxicações, verminoses, diarreias e desidratação; medidas simples de prevenção e tratamento; • identificação das doenças associadas à ingestão de água imprópria para o consumo humano; procedimentos de tratamento doméstico da água; • rejeição ao consumo de água não potável; • medidas práticas de autocuidado para a higiene corporal: utilização adequada de sanitários, lavagem das mãos antes das refeições e após as eliminações, limpeza de cabelos e unhas, higiene bucal, uso de vestimentas e calçados apropriados, banho diário; • valorização da prática cotidiana e progressivamente mais autônoma de hábitos de higiene corporal e favoráveis à saúde; • responsabilidade pessoal na higiene corporal como fator de proteção à saúde individual e coletiva; • respeito às potencialidades e limites do próprio corpo e do de terceiros. FONTE: Brasil, 2000, p. 77-78. No bloco de conteúdos vida coletiva há busca pela recuperação da cultura de saúde do aluno, estabelecendo, para tanto, a relação intrínseca entre o contexto do mesmo e o contexto escolar – educação escolar. Para tanto apresenta os seguintes conteúdos: TÓPICO 2 | GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE 101 • conhecimento dos recursos disponíveis para a criança (atividades e serviços) para a promoção, proteção e recuperação da saúde, das possibilidades de uso que oferecem e das formas de acesso a eles; • formas de participação em ações coletivas acessíveis à criança em sua comunidade; • conhecimento do calendário vacinal e da sua própria situação vacinal; • principais sinais e sintomas das doenças transmissíveis mais comuns na realidade do aluno, formas de contágio, prevenção e tratamento precoce para a proteção da saúde pessoal e de terceiros; • agravos ocasionados pelo uso de drogas (fumo, álcool e entorpecentes); • conhecimento das normas básicas de segurança no manejo de instrumentos, no trânsito e na prática de atividades físicas; • medidas simples de primeiros socorros diante de: escoriações e contusões, convulsões, mordidas de animais, queimaduras, desmaios, picadas de insetos, torções e fraturas, afogamento, intoxicações, cãibras, febre, choque elétrico, sangramento nasal, diarreia e vômito, acidentes de trânsito; • fatores ambientais mais significativos para a saúde presentes no dia a dia da criança: sistema de tratamento de água, formas de destino de dejetos humanos e animais, lixo e agrotóxicos; • mapeamento das transformações necessárias no ambiente em que se vive; • relações entre a preservação e recuperação ambientais e a melhoria da qualidade de vida e saúde; • rejeição aos atos de destruição do equilíbrio e sanidade ambientais; • participação ativa na conservação de ambiente limpo e saudável no domicílio, na escola e nos lugares públicos em geral; • solidariedade diante dos problemas e necessidades de saúde dos demais, por meio de atitudes de ajuda e proteção a pessoas portadoras de deficiências e a doentes. FONTE: Brasil, 2000, p. 80. UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 102 Para retomada dos conteúdos trabalhados no contexto escolar, faz- se necessário trazermos a fala sobre a avaliação. Os PCN (2000) concebem a avaliação pensada para os diferentes sujeitos. Ou seja, os diferentes ritmos e a heterogeneidade dos sujeitos são fatores fundamentais ao avaliar o processo ensino-aprendizagem. Observação, registro e planejamento flexível são aspectos fundamentais à avaliação. Dentre os aspectos integrantes do processo avaliativo, é possível destacar alguns critérios estabelecidos pelos PCN (BRASIL, 2000, p. 117-119), tais como: • Expressar suas necessidades de atenção à saúde. • Responsabilizar-se com crescente autonomia por sua higiene corporal, percebendo-a como um fator de bem-estar e como valor da convivência social. • Conhecer e desenvolver hábitos alimentares favoráveis ao crescimento e ao desenvolvimento. • Conhecer e evitar os principais riscos de acidentes no ambiente doméstico, na escola e em outros lugares públicos. • Conhecer e utilizar medidas de primeiros socorros ao seu alcance. • Reconhecer as doenças transmissíveis mais comuns em sua região. • Relacionar-se produtivamente nas diferentes situações do convívio escolar. • Conhecer os recursos de saúde disponíveis e necessários para a saúde da comunidade. • Agir na perspectiva da saúde coletiva. As orientações didáticas no que concerne à educação para a saúde são um roteiro de possibilidades em prol de práticas favoráveis ao desenvolvimento e aprendizado dos alunos. Há flexibilização dos itens abordados. Nesse sentido, devem somar-se as experiências e vivências dos envolvidos no processo ensino- aprendizagem. Desse modo, os conteúdos aqui apresentados terão um significado real e efetivo a quem se destina – os alunos. Os PCN – Meio Ambiente e Saúde – ainda ressaltam a importância de aspectos quanto à concretização dos objetivos propostos ao conteúdo curricular de educação para a saúde, quais sejam (BRASIL, 2000, p. 121-122): TÓPICO 2 | GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE 103 • A organização do trabalho em torno de questões de saúde. • É essencial o trabalho conjunto com a família e grupos de forte presença social. • O desenvolvimento dos conteúdos deve levar em conta as particularidades da faixa de crescimento e desenvolvimento da classe. • Os conteúdos apresentados são aplicáveis a diferentes realidades, mas a sua tradução em práticas concretas de saúde exige adequação e detalhamento para a realidade sanitária de cada local. • Hábitos constroem-se cotidianamente e se alteram caso não voltem a ser objeto de avaliação e justificação. • Descobrir e desenvolver soluções comprometidas com a promoção e a proteção da saúde pessoal e coletiva e, principalmente, aplicar os conhecimentos adquiridos. A temática da saúde vem juntamente à temática meio ambiente para contribuir na formação de sujeitos críticos, reflexivos e cidadãos. De acordo com o documento de referência, É preciso educar para a saúde levando em conta todos os aspectos envolvidos na formação de hábitos e atitudes que acontecem no dia a dia da escola. Por esta razão, a educação para a saúde será tratada como tema transversal, permeando todas as áreas que compõem o currículo escolar. (BRASIL, 2000, p. 73). IMPORTANT E A temática saúde pode ser conhecida mais profundamente na leitura da parte integrante dos PCN – Meio Ambiente e Saúde: BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – meio ambiente e saúde. 2. ed. Rio de Janeiro:DP&A, 2000. p. 85-122. Disponível em: <http://portal.mec.goc.br/seb/arquivos/pdf/livro092.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2012. UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 104 3 GUIA CURRICULAR E MEIO AMBIENTE: OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Os Parâmetros Curriculares Nacionais, em seu volume 9, abordam também a questão relativa ao meio ambiente, e é especificamente esse assunto que abordaremos nesse momento. Os PCN (2000) compreendem a estreita relação entre homem e meio como fundamental no discurso referente ao meio ambiente. Refletem sobre a questão ambiental não apenas por temas que norteiam a vida no planeta, mas também a melhoria do meio e consequente qualidade de vida aos sujeitos que dele fazem parte. DICAS Segue uma sugestão de leitura, no intuito de reflexão referente à formação do sujeito cidadão e a educação ambiental: HIGUCHI, Maria Inês G.; AZEVEDO, Genoveva C. de. Educação como processo de construção da cidadania ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental, Brasília, v. il., n. 0, p. 63-78, maio/ago. 2005. Boa leitura! O meio ambiente está relacionado a espaço (físico e biológico) em que vivem os seres e no qual se desenvolvem, estabelecendo relações, transformando e sendo transformados, somado ao espaço sociocultural (no caso dos seres humanos). Desse modo, ao pensarmos no trabalho pedagógico, no contexto escolar, cuja temática envolve o meio ambiente, é fundamental partirmos do conhecimento de seus subsistemas. (BRASIL, 2000). [...] O trabalho de educação ambiental deve ser desenvolvido a fim de ajudar os alunos a construírem uma consciência global das questões relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria. Para isso é importante que possam atribuir significado àquilo que aprendem sobre a questão ambiental. [...] (BRASIL, 2000, p. 47-48). A temática ambiental é tratada ao longo da Educação Básica – Ensino Fundamental (cabendo também para Educação Infantil e Ensino Médio) baseada nos seguintes objetivos: • conhecer e compreender, de modo integrado e sistêmico, as noções básicas relacionadas ao meio ambiente; • adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade que os levem a interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis; TÓPICO 2 | GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE 105 • observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de modo reativo e propositivo para garantir um meio ambiente saudável e a boa qualidade de vida; • perceber, em diversos fenômenos naturais, encadeamentos e relações de causa-efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no tempo (histórico), utilizando essa percepção para posicionar-se criticamente diante das condições ambientais de seu meio; • compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de conservação e manejo dos recursos naturais com o quais interagem, aplicando-os no dia a dia; • perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural, adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas de patrimônio natural, ético e cultural; • identificar-se como parte integrante da natureza, percebendo os processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente. (BRASIL, 2000, p. 53-54). Concebendo os objetivos anteriormente descritos, os conteúdos sobre o meio ambiente foram reunidos, ao longo dos PCN (2000), em três blocos gerais: os ciclos da natureza; sociedade e meio ambiente; e manejo e conservação ambiental. O bloco de conteúdos denominado os ciclos da natureza tem como função deixar claro que os processos da natureza possuem diferentes movimentos e fluxos, não sendo estáticos. Desse bloco fazem parte os seguintes conteúdos: • os ciclos da água, seus múltiplos usos e sua importância para a vida, para a história dos povos; • os ciclos da matéria orgânica e sua importância para o saneamento; • as teias e cadeias alimentares, sua importância e o risco de transmissão de substâncias tóxicas que possam estar presentes na água, no solo e no ar; • o estabelecimento de relações e correlações entre elementos de um mesmo sistema; • a observação de elementos que evidenciem ciclos e fluxos da natureza, no espaço e no tempo. (BRASIL, 2000, p. 60). UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 106 No bloco de conteúdos sociedade e meio ambiente se estabelece um diálogo sobre as interações entre os seres humanos e seu meio. Para tanto apresenta os seguintes conteúdos: • a diversidade cultural e a diversidade ambiental; • os limites da ação humana em termos quantitativos e qulitativos; • as principais características do ambiente e/ou paisagem da região em que se vive; as relações pessoais e culturais dos alunos e de sua comunidade com os elementos dessa paisagem; • as diferenças entre ambientes preservados e degradados, causas e consequências para a qualidade de vida das comunidades, desde o entorno imediato até de outros povos que habitam a região e o planeta, bem como das gerações futuras. (BRASIL, 2000, p. 61). No bloco de conteúdos manejo e conservação ambiental são trazidos conteúdos no intuito de conhecer e saber como lidar e conservar os recursos naturais. Esses conteúdos são: • o manejo e a conservação da água: noções sobre captação, tratamento e distribuição para o consumo; os hábitos de utilização da água em casa e na escola adequados às condições locais; • a necessidade e formas de tratamento dos detritos humanos: coleta, destino e tratamento do esgoto; procedimentos possíveis adequados às condições locais (sistema de esgoto, fossa e outros); • a necessidade e as formas de coleta e destino do lixo; reciclagem; os comportamentos responsáveis de “produção” e “destino” do lixo em casa, na escola e nos espaços de uso comum; • as formas perceptíveis e imperceptíveis de poluição do ar, da água, do solo e poluição sonora; principais atividades locais que provocam poluição (indústrias, mineração, postos de gasolina, curtumes, matadouros, criações, atividades agropecuárias, em especial as de uso intensivo de adubos químicos etc.); • noções de manejo e conservação do solo: erosão e suas causas nas áreas rurais e urbanas; necessidade e formas de uso de insumos agrícolas; cuidados com a saúde; TÓPICO 2 | GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE 107 • noções sobre procedimentos adequados com plantas e animais; cuidados com a saúde; • a necessidade e as principais formas de preservação, conservação, recuperação e reabilitação ambientais, de acordo com a realidade local; • alguns processos simples de reciclagem e reaproveitamento de materiais; • os cuidados necessários para o desenvolvimento das plantas e dos animais; • os procedimentos corretos com dejetos humanos nos banheiros e em lugares onde não haja instalações sanitárias; • as práticas que evitam desperdícios no uso cotidiano de recursos como água, energia e alimentos; • a valorização de formas conservativas de extração, transformação e uso dos recursos naturais. (BRASIL, 2000, p. 62-63). Nos três blocos temáticos já contemplados são trazidos, também, conteúdos comuns a todos. Veja a seguir: • As formas de estar atento e crítico com relação ao consumismo. • A valorização e a proteção das diferentes formas de vida. • A valorização e o cultivo de atitudes de proteção e conservação dos ambientes e da diversidade biológica e sociocultural. • O zelo pelos direitos próprios e alheios a um ambiente cuidado, limpo e saudável na escola, em casa e na comunidade. • O cumprimento das responsabilidades de cidadão, com relação ao meio ambiente. • O repúdio ao desperdício em suas diferentes formas. • A apreciação dos aspectos estéticos da natureza, incluindo os produtos da cultura humana. • A participação em atividades relacionadas à melhoria das condições ambientaisda escola e da comunidade local. (BRASIL, 2000, p. 63). UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 108 Dentre os aspectos integrantes do processo avaliativo é possível destacar alguns critérios estabelecidos pelos PCN, tais como: • Observar as características do meio ambiente e identificar a existência de ciclos e fluxos na natureza. • Identificar as intervenções com as quais a sociedade local vem realizando transformações no ambiente, na paisagem, nos espaços em que habita ou cultiva. • Contribuir para a conservação e a manutenção do ambiente mais imediato em que vive. • Identificar as substâncias de que são feitos os objetos ou materiais utilizados pelos alunos, bem como alguns dos processos de transformação por que passaram. • Participar, pessoal e coletivamente, de atividades que envolvam tomadas de posição diante de situações relacionadas ao meio ambiente. • Reconhecer alguns processos de construção de um ambiente, tanto urbano quanto rural, com a respectiva intervenção na paisagem, bem como sua importância para o homem. • Perceber a relação entre a qualidade de vida e um ambiente saudável. • Valorizar o uso adequado dos recursos disponíveis [...]. (BRASIL, 2000, p. 67-69). Desse modo, o tema meio ambiente precisa focar sua essência e os sujeitos que dele fazem parte. Deverá trazer [...] uma visão ampla que envolva não só os elementos naturais do meio ambiente, mas também os elementos construídos e todos os aspectos sociais envolvidos na questão ambiental. Dentro dessa visão, o homem é um elemento a mais que, porém, tem extraordinária capacidade de atuar sobre o meio e modificá-lo – o que pode, às vezes, voltar-se contra ele próprio. (BRASIL, 2000, p. 73). Uma vez que entender e compreender o fato de que fazemos parte do meio e temos uma estreita relação nos faz responsáveis pelos avanços e prejuízos existentes no meio ambiente. Por essa razão, é válido ressaltar a importância de planejar de forma clara e significativa, elegendo prioridades no trabalho com o meio ambiente. TÓPICO 2 | GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE 109 IMPORTANT E Vale ressaltar que os Parâmetros Curriculares Nacionais são documentos de referência e não obrigatoriedade ao contexto escolar. Seu uso necessita ser pensado como referência, sugestão e leitura para aprendizado e confecção de planejamentos significativos, baseados no contexto e cotidiano escolar a que se destinam. Os textos oficiais são introduzidos em sua origem como “leituras obrigatórias à prática pedagógica do professor”. Na teoria, essa leitura deveria acontecer com base em trocas, discussões, debates, reflexões entre os envolvidos nesse processo e para os quais é destinada – os professores –, à medida que são documentos de “referência”. No entanto, na prática, os textos ficam a cargo de cada professor e não há espaço, no cotidiano, para diálogo entre os pares. No que diz respeito aos Parâmetros Curriculares Nacionais, é necessário que se tenha o cuidado e o olhar crítico referente à história, constituição, elaboração e realidade. Lembremos que são documentos de referência e não saberes absolutos, únicos, no diálogo com o conhecimento. Uma renovação de conteúdos não pode ser avaliada apenas pelas novas temáticas que inclui, mas pelos silêncios e esquecimentos que não inclui. Um deles pode ser silenciar aos docentes as críticas que vêm da academia, e, sobretudo dos movimentos sociais aos ideais e crenças na emancipação pelas letras, pelas ciências e pelas técnicas, pela própria escola. (ARROYO, 2008, p. 108). Os PCN podem contribuir à prática pedagógica escolar, porém são apenas um dos recursos para tanto. Como ressaltado anteriormente, sua leitura por si só, sem interlocutores e inter-relações, perde os possíveis sentidos e significados. De acordo com Arroyo (2008, p. 108), “Os Parâmetros poderão ser engavetados, não porque não trazem elementos renovadores, mas pelas crenças ultrapassadas com que tentam legitimá-los para os docentes. [...]”. Desse modo, as concepções, conteúdos e conhecimentos abordados pelos PCN são colocações e referências de um tempo e espaço. A leitura crítica e reflexiva do documento, assim como outras referências, é significativa à medida que dialogue com o contexto escolar em questão. Em suma, que haja interlocução real e efetiva com o meio, sujeitos e pares de que faz parte. [...] entendemos por interlocução a capacidade de chegar ao outro, de abrir-se ao meio, de percorrer caminhos de compreensão e expressão, de promover processos e de facilitar aprendizagens abertas. Nessa etapa de caminhar e compartilhar juntos, a empatia desempenha um papel essencial porque favorece o colocar-se no lugar do outro, sentir com ele e vibrar com ele. (GUTIÉRREZ, 2002, p. 67). O fragmento de texto que segue, contempla a questão da saúde escolar na chamada abordagem FRESH (Focusing Resources on Effective School Health). Assim como os PCN, que são documentos de referência e não padrões estáticos e obrigatórios, a abordagem em questão apresenta uma possibilidade para contribuir no planejamento em sala de aula. Boa leitura! UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 110 LEITURA COMPLEMENTAR SAÚDE ESCOLAR SCHOOLSANDHEALTH Por que uma abordagem FRESH (Focusing Resources on Effective School Health – Concentrar Recursos numa Saúde Escolar Eficaz)? Assegurar que as crianças são saudáveis e capazes de aprender é um componente essencial de um sistema de educação eficaz. A salubridade aumenta a frequência escolar e reduz o absentismo, trazendo para a escola mais crianças dos meios mais pobres e em maior desvantagem, muitas das quais são meninas. São estas crianças, que são na maior parte das vezes as menos saudáveis e mais malnutridas, as que tiram maior proveito educacional de uma saúde melhor. Os programas de saúde escolar eficazes, desenvolvidos dentro de parcerias comunitárias, proporcionam uma das formas mais eficazes em termos de custos para atingir as crianças em idade escolar, os adolescentes e as comunidades em geral, e são um meio sustentável de promover práticas saudáveis. O novo modelo FRESH é o ponto de partida para o desenvolvimento de um programa eficaz de saúde escolar, higiene e nutrição, num ambiente escolar mais amigável para as crianças e mais saudável. Um programa eficaz de saúde escolar, higiene e nutrição, como é o caso do FRESH, oferece muitos benefícios: - Responde a necessidades cada vez maiores [...] - Aumenta a eficácia de outros investimentos em desenvolvimento infantil [...] - Assegura um melhor aproveitamento escolar [...] - Melhora a equidade social [...] - É uma estratégia altamente eficaz em termos de custos [...] O modelo FRESH para intervenções no âmbito da saúde escolar inclui quatro domínios: políticas escolares relacionadas com a saúde, provisão de água e saneamento, saúde escolar baseada nas competências e serviços de saúde e nutrição nas escolas: TÓPICO 2 | GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE 111 Objetivos Intervenções principais Beneficiários/Grupos-alvo Indicadores Políticas escolares relacionadas com a saúde Aumentar o número de escolas com instalações de água e saneamento adequadas Políticas claras para assegurar a provisão de serviços de água e saneamento em todas as escolas A população escolar % das escolas com água limpa e com condições de saneamento adequadas Aumentar o acesso às instalações sanitárias para professores, para os rapazes e para as raparigas Políticas para a educação em higiene básica integradas no currículo, que conduzam à maior procura e correspondência da parte das crianças, de Associações de Pais e Professores (APPs) e das comunidades, no sentido de uma boa manutenção das instalações A população escolar A comunidade As raparigas adolescentes % das escolas com boa manutenção das instalações sanitárias Maior taxa bruta de escolarização das raparigas quando há casas debanho funcionais nas escolas Aumentar a educação sobre vida familiar e o acesso a serviços de planejamento familiar Política clara de inclusão da educação sobre vida familiar e do planeamento familiar no currículo do ensino secundário Adolescentes % de escolas com educação sobre vida familiar e serviços de aconselhamento sobre contracepção/ DSTs Reduzir os abandonos escolares por motivo de gravidez Políticas claras sobre a permissão para as raparigas continuarem na escola durante a gravidez e depois do parto Foco no direito das mulheres à educação Reduzir as diferenças de gênero e a discriminação Raparigas adolescentes Taxas de escolarização feminina mais elevadas Menor número de abandonos por raparigas adolescentes Reduzir o uso de tabaco e de outras substâncias Políticas que proíbam de fumar e de usar outras substâncias nas escolas A população escolar % de escolas onde não se fuma UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 112 Objetivos Intervenções principais Beneficiários/Grupos-alvo Indicadores Reduzir a discriminação contra pessoas com Aids e contra as suas famílias Políticas para evitar a discriminação contra pessoas com Aids e contra as suas famílias A população escolar Redução do número de crianças com HIV/ Aids e o número de órfãos por causa desta doença (Aids) que abandonam a escola Provisão de água limpa e de saneamento adequado às escolas Aumentar o número de escolas com instalações de água e saneamento adequadas, bem mantidas e separadas para rapazes e para raparigas Normas de construção das escolas que incluam boas condições de água e saneamento, com instalações sanitárias separadas para rapazes e para raparigas A população escolar, especialmente as raparigas adolescentes % de escolas com água limpa e com instalações sanitárias adequadas e bem mantidas Reduzir a incidência de diarreia e de infecções intestinais nas crianças das escolas Existência de água potável nas escolas A população escolar e a comunidade Redução do número de faltas e das taxas de repetição Educação sobre saúde com base nas competências Reduzir o número de gravidezes indesejadas e o abandono escolar Educação sobre saúde baseada nas competências, incluindo educação sobre a vida familiar Adolescentes Taxas de escolarização feminina mais elevadas Redução do número de raparigas que abandonam a escola por motivos de gravidez e discriminação Reduzir comportamentos de risco e a falta de conhecimentos sobre a Aids Inclusão da educação sobre saúde baseada nas competências, e da prevenção contra a Aids /DSTs no currículo escolar Todas as crianças da escola % de crianças com conhecimento sobre a prevenção da Aids /DSTs TÓPICO 2 | GUIA CURRICULAR PARA PROGRAMA DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE 113 Objetivos Intervenções principais Beneficiários/Grupos-alvo Indicadores Reduzir a fome temporária e melhorar a nutrição Educação sobre a nutrição com base nas competências Todas as crianças da escola % de crianças que comem antes de ir para a escola Reduzir o abuso do tabaco e de outras substâncias Educação sobre saúde com base nas competências Todas as crianças da escola % das crianças da escola que usaram produtos tabagísticos nos últimos trinta dias Serviços de saúde e nutrição centrados na escola Reduzir infecções parasitárias (lombrigas) Desparasitação regular Todas as crianças da escola Reduzir as taxas de repetição e de abandono escolar Reduzir as deficiências em micronutrientes e a anemia Suplemento oral de ferro e de vitamina A Todas as crianças da escola Reduzir as taxas de repetição e de abandono escolar [...] Onde começar? O modelo FRESH foi desenvolvido no âmbito de uma parceria entre a UNESCO, a UNICEF, a OMS e o Banco Mundial, e lançada no Fórum para a Educação Mundial, em abril de 2000. Este modelo é o ponto de partida para o desenvolvimento de um programa efetivo de saúde escolar, higiene e nutrição, numa escola mais amigável para as crianças e promotora da saúde. O objetivo é a focalização em intervenções que possam ser implementadas mesmo nas escolas com maiores dificuldades em termos dos recursos disponíveis. O modelo centra- se em 4 (quatro) componentes principais, que deverão estar disponíveis em todas as escolas: 1- Políticas escolares relacionadas com a saúde que, por exemplo, não excluam raparigas grávidas, que encorajem estilos de vida saudáveis incluindo não fumar, e que ajudem a manter o sistema educativo na frente de combate à Aids. 2- Provisão de água limpa e saneamento adequado para proporcionar um ambiente de aprendizagem saudável e que estimule comportamentos higiênicos, e permita privacidade no sentido de promover a participação das raparigas adolescentes na educação. 3- Educação sobre saúde, higiene e nutrição, com base nas competências existentes, que se centre no desenvolvimento dos conhecimentos, atitudes, valores e preparação para a vida, necessários ao estabelecimento de práticas de higiene duradouras, e à redução da vulnerabilidade à Aids por parte dos jovens e dos professores. UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: O PAPEL DA ESCOLA 114 4- Serviços de saúde e nutrição baseados nas escolas, que sejam simples, seguros e familiares, e que abordem problemas comuns e reconhecidos como importantes pelas comunidades, incluindo a disponibilização de aconselhamento para o combate à Aids. A implementação deste modelo implica: a) parcerias intersetoriais, especialmente entre os setores da saúde e da educação; b) parcerias com as comunidades, especialmente APPs (Associações de Pais e Professores); c) envolver ativamente as crianças das escolas. O que deve ser feito e o que deve ser evitado em programas de saúde escolar centrados nas comunidades: - Assegurar que há cooperação entre os setores saúde e educação, e que sejam feitos acordos por escrito, do tipo “acordos de protocolo”. - Assegurar que as atividades de saúde escolar são aceitas e apoiadas por pais, APPs e alunos. - Assegurar a concepção de um programa cujo alcance chegue às crianças mais pobres nas comunidades mais remotas. - Utilizar uma estratégia de comunicação que assegure que as políticas de saúde são transparentes e inteiramente compreendidas por professores, pais e alunos. - Assegurar que, antes de construir as latrinas, a comunidade as quer e tem capacidade para as manter. - Assegurar que a educação sobre saúde se baseia na verdadeira compreensão daquilo que deve ser feito na prática, e não apenas em conhecimentos acadêmicos. - Acompanhar e avaliar todas as atividades implementadas. - Não sobrecarregar os professores – a primeira função deles é ensinar. [...] FONTE: Adaptado de: SCHOOLSANDHEALTH. Saúde Escolar. Disponível em: <www.schoolsandhealth. org/.../School%20Health%20at%20a%20Glance-Portugese.doc>. Acesso em: 19 abr. 2011. 115 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou que: • Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são documentos de referência para a Educação Básica no Brasil. Constituem-se como propostas flexíveis e orientações ao contexto escolar e à prática pedagógica do professor. • A função dos PCN é [...] orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual. (BRASIL, 1996, p. 13). • PCN – princípios: proposta educacional visando à qualidade da formação do estudante; exercício da cidadania; aquisição e desenvolvimento de novas competências; e processo ensino-aprendizagem dinâmico, crítico, que busca a autonomia e integrado à visão de equipe (trocas e interações). • Saúde – PCN = considera saúde como “[...] estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenasa ausência de doença”. (BRASIL, 2000, p. 89). • A efetiva educação para a saúde dar-se-á a partir do momento da busca de uma vida saudável. Nesse sentido, valores, atitudes e hábitos que promovam esse diálogo são de suma importância. Para tanto, para a escola, a educação escolar tem papel fundamental. • Os conteúdos sobre saúde foram reunidos em dois blocos gerais: “Autoconhecimento para o autocuidado” e “Vida Coletiva”. (PCN, 2000). • Os PCN (2000) compreendem a estreita relação entre homem e meio como fundamental no discurso referente ao meio ambiente. Refletem sobre a questão ambiental não apenas por temas que norteiam a vida no planeta, mas também a melhoria do meio e consequente qualidade de vida aos sujeitos que dele fazem parte. • Ao pensar no trabalho pedagógico, cuja temática envolve o meio ambiente, é fundamental partir do conhecimento de seus subsistemas. (BRASIL, 2000). • Os conteúdos sobre o meio ambiente foram reunidos em três blocos gerais: os ciclos da natureza; sociedade e meio ambiente; e manejo e conservação ambiental. (PCN, 2000). 116 • As concepções, conteúdos e conhecimentos abordados pelos PCN são colocações e referências de um tempo e espaço. A leitura crítica e reflexiva do documento, assim como demais referências, é significativa à medida que dialogue com o contexto escolar em questão. 117 AUTOATIVIDADE 1 Baseado nos objetivos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, no que se refere à temática ambiental, elabore um Plano de Aula (um exemplo) de como trabalhar essa temática no contexto escolar. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2 Ao pensarmos a temática da saúde no contexto escolar, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, responda ao questionamento: ensinar saúde ou educar para a saúde? Por quê? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 118 119 TÓPICO 3 EDUCAÇÃO, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Nos tópicos anteriores da Unidade 2, abordamos a educação escolar, a temática do meio ambiente e a saúde nesse contexto. O Tópico 3 retoma o diálogo concernente ao contexto escolar: a educação escolar e os envolvidos nesse processo, assim como sua relação com saúde e qualidade de vida. Para tanto, iniciamos com a gestão democrática da escola, assunto pertinente e fundamental para o entendimento da importância da relação entre os sujeitos envolvidos no processo educativo. Por fim, abordaremos a promoção e a prevenção da saúde no contexto escolar, embasadas na constante preocupação com o meio ambiente, em prol da qualidade de vida dos sujeitos. 2 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA: DESAFIOS E QUALIDADE A escola e seus atores sociais constituem a educação escolar como um todo. Na busca da qualidade e concretização de seus objetivos a educação escolar traz em seu escopo a chamada gestão da escola. A gestão está baseada na ideia de administrar, organizar, dirigir, decidir, enfim, trata-se de uma atividade para alcançar os objetivos propostos a priori. Na construção da gestão da escola fazem parte elementos tais quais (FERREIRA, N., 2008): • Gestão democrática. • Participação dos profissionais. • Participação da comunidade escolar. • Elaboração do Projeto Pedagógico da escola. • Autonomia pedagógica. • Autonomia administrativa. 120 UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: IMPORTANT E VOCÊ SABIA? O Programa Gestão da Aprendizagem Escolar oferece formação continuada em língua portuguesa e matemática aos professores dos anos finais (do sexto ao nono ano) do Ensino Fundamental em exercício nas escolas públicas. A formação possui carga horária de 300 horas, sendo 120 horas presenciais e 180 horas a distância (estudos individuais) para cada área temática. O programa inclui discussões sobre questões prático- teóricas e busca contribuir para o aperfeiçoamento da autonomia do professor em sala de aula. Para conhecer o programa na íntegra acesse o site: <http://portal.mec.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=12380&Itemid=642>. A gestão democrática da educação, como bem afirma Ferreira (2008, p. 310): [...] enquanto construção coletiva da organização da educação, da escola, das instituições, do ensino, da vida humana, faz-se na prática, quando se tomam decisões sobre todo o projeto político- pedagógico, sobre as finalidades e objetivos do planejamento dos cursos, das disciplinas, dos planos de estudos, do elenco disciplinar e os respectivos conteúdos, sobre as atividades dos professores e dos alunos, necessárias para a sua consecução, sobre os ambientes de aprendizagem, recursos humanos, físicos e financeiros necessários, os tipos, modos e procedimentos de avaliação e o tempo para a sua realização. [...] Nesse sentido, a gestão democrática se dá e acontece no contexto escolar. Para sua efetiva realização, faz-se necessário o envolvimento e participação de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo. A gestão, desse modo, se tornará real e significativa. Desafio esse constante para a gestão democrática. DICAS Sugerimos as seguintes leituras: FERREIRA, Nara S. C. Repensando e Ressignificando a Gestão Democrática da Educação na “Cultura Globalizada”. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v25n89/22619.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2010. SCHULTZ, Rita. Gestão da Educação: Inovação e Mudança. Disponível em: <http://www.fclar. unesp.br/publicacoes/revista/polit_gest/edi5_artigoritaschultz.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2010. SOUZA, Célia; SANTANA, Yonara. Gestão Democrática. Disponível em: <http://www.nead. unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/84.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2010. TÓPICO 3 | EDUCAÇÃO, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 121 Na disciplina Gestão Escolar a questão referente à gestão democrática é aprofundada. Continuando... ATENCAO 3 PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR: CAMINHOS NA BUSCA DA QUALIDADE DE VIDA DOS SUJEITOS [...] É preciso aprender a ser coerente. De nada adianta o discurso competente se a ação pedagógica é impermeável à mudança. Paulo Freire O sujeito, desde seu nascimento, vê-se imerso em uma sociedade preexistente e da qual faz parte, decorrendo daí toda a sua formação. A sua existência constitui-se e é constituída por umavisão social, historicamente construída. Assim sendo, as relações que estabelece com o meio que o rodeia e as interações que realiza com os sujeitos pertencentes a essa realidade fazem parte de sua constituição, de seu processo de construção humana. Vale ressaltar que o ser humano não se constitui somente na relação com o social, “[...] nem somos só o que herdamos nem apenas o que adquirimos, mas a relação dinâmica, processual do que herdamos e do que adquirimos”. (FREIRE, 2003, p. 93). Quando se apresenta a questão “somos e fazemos parte da nossa história” não se pode ignorar a marca cultural e histórica de identificação e, sim, partir desse conhecimento e ir à busca de mudanças significativas na realidade. Isso quer dizer que nossa identidade se constitui na relação que estabelecemos com o contexto cultural em que vivemos e de nossa própria imersão nesse contexto. Assim: Uma coisa é ler e aprender os direitos e deveres defendidos em uma Constituição, outra coisa é descobrir com as pessoas como estão lidando com estes direitos e deveres na sua vida cotidiana e com que resultados. Descobrir com as pessoas significa entrar em relação com elas, desenvolver comportamentos em relação a elas com esta finalidade, isto é, ter uma experiência de participação social organizada especificamente para obtenção de determinado fim. (PENTEADO, 2000, p. 53, grifos da autora). Desse modo, a mediação do processo ensino-aprendizagem deve acontecer na relação com as realidades de todos os envolvidos no processo de educar, na educação escolar. O professor tem o papel fundamental nesse sentido – o de mediador desse processo. E para ser mediador é necessário ter se apropriado dos conhecimentos necessários para tanto. Daí urge a necessidade de formações inicial e continuada de qualidade e permanentes. 122 UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: Vale ressaltar que existem experiências, embora esporádicas, de cursos de capacitação pautados na mediação para e do professor (veja-se a publicação: SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia. Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos. Florianópolis: IOESC, 2005). A questão da formação do professor é um contínuo, a qual deve pautar- se em propostas que visem à educação emancipadora e mediação constante ao longo de todo o processo. IMPORTANT E No que se refere à formação continuada e permanente do professor, sugerimos a leitura: IMBERMÓN, Francisco. Formação permanente do professorado: novas tendências. Trad. Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez, 2009. Boa leitura! Pensar a educação para a transformação social envolve o entendimento dos chamados “quatro pilares da educação”, defendidos por Delors (2001). São eles: FIGURA 35 – OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO FONTE: Adaptado de Delors (2001) APRENDER A SER APRENDER A VIVER JUNTOS PILARES DA EDUCAÇÃO APRENDER A FAZER APRENDER A CONHECER TÓPICO 3 | EDUCAÇÃO, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 123 Aprender a conhecer significa o entendimento dos domínios dos instrumentos do conhecimento. Aprender a fazer compreende a questão prática do conhecimento, o fazer propriamente dito. Aprender a viver juntos estabelece o contato e a consciência do outro no meio, assim como a diversidade e semelhança existente nesse sentido. E aprender a ser corresponde ao desenvolvimento pleno do sujeito: “[...] a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade [...]”. (DELORS, 2001, p. 99). Esses aprendizados perpassam e fazem parte de toda a nossa vida. Assim ressaltamos a necessidade de educação ao longo de toda a vida. A educação ao longo de toda a vida não é um ideal longínquo, mas uma realidade que tende, cada vez mais, a inscrever-se nos fatos, no seio de uma paisagem educativa complexa, marcada por um conjunto de alterações que a tornam cada vez mais necessária. Para conseguir organizá-la é preciso deixar de considerar as diferentes formas de ensino e aprendizagem como independentes umas das outras e, de alguma maneira, sobrepostas ou concorrentes entre si, e procurar, pelo contrário, valorizar a complementaridade dos espaços e tempos da educação moderna. (DELORS, 2001, p. 104). Compreender o caráter da educação ao longo de toda a vida requer o entendimento de alguns aspectos, tais como (DELORS, 2001): • Exigência democrática – formação de sujeitos críticos, reflexivos e cidadãos. • Educação pluridimensional – compreende sujeito no todo e em suas partes. • Novos tempos, novos campos – ambiente educativo diversificado pautado nas mudanças dos meios e sujeitos envolvidos. • Educação no coração da sociedade – intrínseca relação entre meio social e meio escolar. • Sinergias educativas – relações saber e saber-fazer, saber-ser e saber-viver juntos. Corroborar a questão da educação ao longo de toda vida de modo intrínseco entre os atores que dela fazem parte contribui para o entendimento da educação para a transformação social. Entender o papel de cada um e sua respectiva importância, nesse sentido, é de suma importância na busca pela educação que se quer de qualidade e significativa, pautada na formação de sujeitos críticos, reflexivos e cidadãos – palavras essas utilizadas nos seus sentidos próprios, e não banalizadas como, por vezes, podemos constatar. 124 UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: DICAS SACRISTÁN, J. G; GOMEZ, A. I. P. Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: ARTMED, 1998. Desse modo, educar para a saúde, educar para o meio ambiente é um contínuo ao longo da vida dos sujeitos. A promoção e a prevenção da saúde no contexto escolar contribuem sobremaneira para a construção e apropriação de conhecimentos, que o sujeito levará ao longo de sua vida, além de socializar este conhecimento entre os que o rodeiam. De acordo com Burgos (2006, p. 32), [...] a escola é o espaço mais adequado para intervenções preventivas e de promoção de saúde, para conscientização da necessidade de mudanças de hábitos sedentários, uso abusivo de alimentos que geram fatores de risco às doenças [...], bem como para cuidados com a higiene e saúde bucal. [...] as ações educativas somente terão eco se conjugadas em atuação multiprofissional de professores dos diversos componentes curriculares, equipe diretiva, pedagógica, psicológica, aliados aos profissionais e setores comunitários de saúde e a programas institucionais. [...] Programas devem promover a prevenção tendo como atores do processo os sujeitos nele envolvidos. Sendo assim, a comunidade escolar como um todo é autora e coautora da promoção e prevenção da saúde, tendo como foco a educação para a saúde. Burgos (2006, p. 32) ressalta ainda que São fundamentais, nesse processo, ações políticas e operacionais de intervenção na realidade, a partir do conhecimento desta e da produção, sistematização, socialização do conhecimento na área da saúde, educação e desenvolvimento humano, que capacite pessoas tecnicamente competentes, política e eticamente responsáveis, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade solidária, com desenvolvimento equilibrado e saudável de seus cidadãos. [...] O meio ambiente, embasado também na concepção de construção para e pelo sujeito, deve delinear-se ao longo de todo processo educativo. Para tanto, a educação ambiental no contexto escolar, assim como diferentes temáticas, precisa ser contemplada nas suas características e particularidades, mas também na sua amplitude e interlocução que estabelece com o meio. TÓPICO 3 | EDUCAÇÃO, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 125 Se pensamos e desejamos uma educação de qualidade, inclusive na questão ambiental, é preciso ter em mente que formamos sujeitos cidadãos, críticos e reflexivos. “A cidadania ambiental e a cultura de sustentabilidade serão necessariamente o resultado do fazer pedagógico que conjugue a aprendizagem a partir da vida cotidiana”.(GUTIÉRREZ, 2002, p. 59). Conceber a saúde e o meio ambiente como intrínsecos e pertencentes aos sujeitos, que dela fazem parte, é fundamental para a promoção da qualidade de vida das pessoas. Contemplando essa questão, a escola contribuirá significativamente para a defesa e construção de conhecimentos que promovam a qualidade de vida plena e significativa para e por meio da educação para a saúde e o meio ambiente. FIGURA 36 – PREVENÇÃO – MEIO AMBIENTE E SAÚDE FONTE: Disponível em: <http://facesionline.wordpress.com/2009/04/01/preocupacao-com-o- meio-ambiente-e-suas-reacoes/>. Acesso em: 24 jan. 2012. Quando o sujeito se entende como parte integrante e fundamental na relação com o meio, e a sua influência na própria saúde, terá em si a qualidade de vida intrinsecamente ligada, uma vez que estará em equilíbrio e será entendedor de sua realidade e contexto. Contribuirá para a preservação e prevenção do meio em que vive e de sua saúde, assim como dos demais sujeitos pertencentes a esse meio, pois compreenderá sua fundamental participação para todos. Como bem nos foi relatado anteriormente por Freire (1997), “[...] somos e fazemos parte de nossa história”. 126 UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: FIGURA 37 – MEIO AMBIENTE FONTE: Disponível em: <http://pedagogoambiental.blogspot.com/2011/05/educacao- ambiental-e-desenvolvimento.html>. Acesso em: 24 jan. 2012. UNI Caro acadêmico, a temática da educação ambiental será retomada na Unidade 3. Conheça: o Programa Saúde na Escola (PSE) visa à integração e articulação permanente da educação e da saúde, proporcionando melhoria da qualidade de vida da população brasileira. Como consolidar essa atitude dentro das escolas? Essa é a questão que nos guiou para elaboração da metodologia das Agendas de Educação e Saúde, a serem executadas como projetos didáticos nas escolas. O PSE tem como objetivo contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da rede pública de ensino. O público beneficiário do PSE são os estudantes da Educação Básica, gestores e profissionais de educação e saúde, comunidade escolar e, de forma mais amplificada, estudantes da Rede Federal de Educação TÓPICO 3 | EDUCAÇÃO, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 127 Profissional e Tecnológica e da Educação de Jovens e Adultos (EJA). As atividades de educação e saúde do PSE ocorrerão nos territórios definidos segundo a área de abrangência da Estratégia Saúde da Família (Ministério da Saúde), tornando possível o exercício de criação de núcleos e ligações entre os equipamentos públicos da saúde e da educação (escolas, centros de saúde, áreas de lazer como praças e ginásios esportivos etc.). No PSE a criação dos territórios locais é elaborada a partir das estratégias firmadas entre a escola, a partir de seu projeto político-pedagógico e a unidade básica de saúde. O planejamento destas ações do PSE considera: o contexto escolar e social, o diagnóstico local em saúde do escolar e a capacidade operativa em saúde do escolar. A escola é a área institucional privilegiada deste encontro da educação e da saúde: espaço para a convivência social e para o estabelecimento de relações favoráveis à promoção da saúde pelo viés de uma Educação Integral. Para o alcance dos objetivos e sucesso do PSE, é de fundamental importância compreender a Educação Integral como um conceito que compreende a proteção, a atenção e o pleno desenvolvimento da comunidade escolar. Na esfera da saúde, as práticas das equipes de Saúde da Família incluem prevenção, promoção, recuperação e manutenção da saúde dos indivíduos e coletivos humanos. Para alcançar estes propósitos o PSE foi constituído por cinco componentes: a) avaliação das condições de saúde das crianças, adolescentes e jovens que estão na escola pública; b) promoção da saúde e de atividades de prevenção; c) educação permanente e capacitação dos profissionais da educação e da saúde e de jovens; d) monitoramento e avaliação da saúde dos estudantes; e) monitoramento e avaliação do programa. Mais do que uma estratégia de integração das políticas setoriais, o PSE se propõe a ser um novo desenho da política de educação e saúde já que: 1) trata a saúde e educação integrais como parte de uma formação ampla para a cidadania e o usufruto pleno dos direitos humanos; 2) permite a progressiva ampliação das ações executadas pelos sistemas de saúde e educação com vistas à atenção integral à saúde de crianças e adolescentes; e 128 UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 3) promove a articulação de saberes, a participação de estudantes, pais, comunidade escolar e sociedade em geral na construção e controle social da política pública. FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id =14578%3Aprograma-saude-nas-escolas&catid=194%3Asecad-educacao-continuada&Itemid=817>. Acesso em: 24 jan. 2012. DICAS Para conhecer mais sobre os programas de saúde nas escolas, acesse o site do Ministério da Educação e Cultura (MEC), no endereço anterior. TÓPICO 3 | EDUCAÇÃO, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 129 LEITURA COMPLEMENTAR MEIO AMBIENTE E SAÚDE. COMPETÊNCIAS. INTERSETORIALIDADE. Lenir Santos [...] O direito à saúde A saúde pública começou a ganhar destaque político a partir do momento em que as grandes epidemias marcaram indelevelmente os países, fazendo nascer o conceito de perigo social e exigindo controle sobre as pessoas e práticas de higiene, com o intuito de evitar as grandes epidemias e a devastação de aldeias, cidades e regiões. A peste negra devastou a Europa em 1348, matando um terço de sua população e assustando os sobreviventes que acreditavam ser as próximas vítimas, tal o medo e a facilidade do contágio. Essa consciência do coletivo – doença como risco social, contagiosa, que poderia ser disseminada indistintamente, independentemente de classe social – levou as autoridades a se preocuparem com a política de saúde. A participação do Estado na saúde decorre exatamente da consciência do perigo social e da necessidade de intervenção coletiva. Entretanto, os cuidados com a saúde, como política de governo, é fato que só será adotado como prática, a partir do século passado. No Brasil, em 1923, foi editado o Decreto nº 16.300 aprovando o Regulamento do Departamento Nacional de Saúde Pública. Em 1937, o Ministério da Educação e Saúde (Lei nº 378, de 13/01/37) foi reestruturado, criando-se o Conselho Nacional de Saúde. As atribuições do Conselho Nacional de Saúde deveriam ser objeto de lei específica. Em 1954, mediante o Decreto nº 35.347, de 8 de abril, foi aprovado o regimento do Conselho Nacional de Saúde. É desse mesmo ano a Lei nº 2.312, de 3 de setembro, que dispôs sobre normas gerais de defesa e proteção da saúde. A regulamentação da lei ocorreu em 1961, Decreto nº 49.974-A, de 21 de setembro, com a denominação de Código Nacional de Saúde. Nessa época, as atividades relativas à saúde pública, principalmente o poder de polícia sanitária, estavam sob a responsabilidade do Estado. Vários serviços públicos, como os serviços destinados à investigação e os Serviços do Distrito Federal, tratavam da saúde. Os serviços de água e esgoto; as atividades sanitárias como fiscalização de mercados, matadouros, leite; as doenças contagiosas; a higiene do trabalho; gêneros alimentícios e engenharia sanitária, dentre outros, eram incumbência da saúde, no âmbito do Ministério da Educação e Saúde. A consciência ecológica não existia nessa época, ainda que remonte à época de Hipócrates o conceito de que os fatores ambientais e o estilo de vida influenciavam a gênese das enfermidades. Havia, isso sim, uma preocupação com a proteção coletiva e o desenvolvimento de uma cultura sanitária, mediante a divulgação 130 UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: de conhecimentos de higiene individuale de saúde pública. O perigo social deu origem à polícia sanitária, ante a necessidade de intervir prevenindo e coibindo práticas que pudessem causar danos coletivos à saúde. O receio de contaminações e a necessidade de profilaxia exigiam que o Estado adotasse políticas de saúde. As obras de caridade, as santas casas de misericórdia, cuidavam da saúde curativa de cunho individual, tanto que o Estado garantia subvenção às entidades privadas que assumiam essas atividades como obra assistencial e caritativa (Lei nº 1.493, de 13/12/51). A ampliação da assistência curativa surgiu com os institutos previdenciários – IAPs –, que mantinham, dentre os seus benefícios, serviços médicos e hospitalares para trabalhadores filiados aos institutos previdenciários. Com a unificação desses institutos em um único instituto nacional de previdência social, com financiamento tripartite – trabalhador, empregador e Estado –, surgiu, em 1969, o Sistema Nacional de Saúde (Lei nº 6.229, de 17/7/1969) e em 1977 foi instituído o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social – SINPAS (Lei nº 6.439, de 1/9/77). A saúde pública continuava sendo marcadamente de responsabilidade federal, cabendo ao Estado manter centros de saúde e, ao município, responder pelo pronto socorro local. Somente os trabalhadores tinham acesso aos serviços curativos mantidos pelo INAMPS. Vários foram os programas – no âmbito da Reforma Sanitária pretendida por especialistas e defensores de uma saúde pública descentralizada e universalizada – que buscaram romper com esse sistema de saúde centralizado, envolvendo estados e municípios, devendo ser destacadas as AIS (Ações Integradas de Saúde) e o SUDS – Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde. Constituição de 1988 Com a Constituição de 1988, o direito à saúde foi elevado à categoria de direito subjetivo público, num reconhecimento de que o sujeito é detentor do direito e de que o Estado é o seu devedor, além, é obvio, de uma responsabilidade própria do sujeito que também deve cuidar de sua própria saúde e contribuir para a saúde coletiva. Hoje, compete ao Estado garantir a saúde do cidadão e da coletividade. Um novo sistema de saúde pública nacional foi criado, o Sistema Único de Saúde, com responsabilidades públicas e uma definição de saúde não como um fenômeno puramente biológico, mas resultante de condições socioeconômicas e ambientais, devendo a doença ser considerada, conforme Giovanni Berlinguer, também como um sinal estatisticamente relevante e precocemente calculável, de alterações do equilíbrio homem ambiente, induzidas pelas transformações produtivas, territoriais, demográficas e culturais, incontroláveis nas suas consequências, além de sofrimento individual e de desvio de uma normalidade biológica ou social. Diante do conceito trazido pela Constituição de 1988 de que “[...] saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao TÓPICO 3 | EDUCAÇÃO, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 131 acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”, abandonou-se um sistema que apenas considerava a saúde pública como dever do Estado no sentido de coibir ou evitar a propagação de doenças que colocavam em risco a saúde da coletividade (prevenção da transmissão da malária, da hanseníese, da tuberculose e cuidados que competiam à polícia sanitária), e assumiu-se que o dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais, além da prestação de serviços públicos de recuperação e prevenção. A visão epidemiológica da questão saúde doença que privilegia o estudo de fatores sociais, ambientais, econômicos, educacionais que podem gerar a enfermidade passou a integrar o direito à saúde. Esse novo conceito de saúde passou a levar em conta as suas determinantes e condicionantes como alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, renda, trabalho, educação, transporte, e impôs aos órgãos que compõem o Sistema Único de Saúde o dever de identificar esses fatores e formular uma política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, política condizente com a elevação das condições de vida da população. Assim, não se pode mais considerar a saúde de forma isolada das condições que cercam o indivíduo e a coletividade. Falar, hoje, em saúde sem levar em conta o modo como o homem se relaciona com o seu meio social e ambiental é voltar à época em que a doença era um fenômeno meramente biológico, desprovido de qualquer outra interferência que não fosse tão somente o homem e seu corpo. Corroborando essa tese, transcrevemos aqui o relato de Giovanni Berlinguer sobre o sistema de saúde nacional da Inglaterra, que é universal e igualitário. Descreve o autor que, numa pesquisa feita naquele país, ficou demonstrado que a mortalidade infantil em seu conjunto regrediu consideravelmente; entretanto, essa regressão não se alterou, durante vinte e cinco anos, entre as cinco classes da população. A explicação, afirma o autor, deve estar no fato de que são as “[...] condições de trabalho, de ambiente e de higiene, que eliminam ou reduzem a eficácia da extensão e da profundidade das atividades sanitárias” e essas condições não se alteraram no decorrer dos vinte e cinco anos. Mesmo que o sistema de saúde tenha atuação preventiva e curativa absolutamente iguais, as pessoas que vivem em condições mais precárias fatalmente serão mais acometidas de doenças e outros agravos, ainda que o sistema de saúde lhes ofereça um excelente serviço de recuperação. Daí dizer-se que, sem redução das desigualdades sociais, sem a erradicação da pobreza e a melhoria das condições de vida, o setor saúde será o estuário de todas as mazelas das políticas sociais e econômicas. E sem essa garantia de melhoria dos fatores condicionantes e determinantes não se estará garantido o direito à saúde, em sua abrangência constitucional. Assim, o direito à saúde, de acordo com a definição do art. 196 da CF, pressupõe: a) o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde para a sua promoção, proteção e recuperação, e b) a adoção de políticas sociais e 132 UNIDADE 2 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: econômicas que visem à redução do risco de doenças e outros agravos. A saúde hoje é considerada um direito fundamental do ser humano. E como direito fundamental e como elo do direito à vida, o direito à saúde deve ser garantido pelo Estado, em todas as suas nuances. [...] Intersetorialidade: saúde e meio ambiente Na saúde e no meio ambiente o bem jurídico tutelado é a vida. A vida em sua plenitude, sob todas as suas formas. Nesses campos, é quase impossível tratar de um assunto sem inter-relacioná-lo com o outro, tal é a interdependência da saúde e do meio ambiente. Muitas vezes, quando se pretende invocar a proteção de um direito, como o de respirar um ar sadio, invocaremos o direito ao meio ambiente e o direito à saúde. Solange Teles da Silva advoga que o direito de respirar um ar sadio encontra fundamento em dois preceitos constitucionais, o art. 225, caput, e o art. 196, uma vez que todos os estudos comprovam os efeitos nefastos que a poluição atmosférica causa à saúde humana. Em decorrência dos estudos comprovadores dos danos causados à saúde humana pelos poluentes do ar é que se confere aos entes federativos competência administrativa para a prática de atos de preservação da qualidade do ar. E o campo de atuação administrativa, neste caso, como em muitos outros, haverá de interpenetrar a saúde e o meio ambiente, podendo, ainda, exigir o concurso de outros setores. Paulo de Bessa Antunes, ao tratar do impacto regional de atividades poluidoras, afirma que “[...] as alterações desfavoráveis à saúde são óbvias por si próprias. Todo o projeto que implique repercussão sobre a saúde coletiva de uma determinada comunidade deve ser tido como impactante”. Muitasvezes, como no presente caso, a proteção ao meio ambiente engloba a proteção à saúde. Aqui ambos os direitos devem ser invocados, uma vez que a poluição afeta a saúde e o meio ambiente. Em matéria de meio ambiente, tanto quanto de saúde, as conexões com outras áreas são inúmeras. Não há como estancar as influências dos mais diversos setores e, muitas vezes, as próprias atuações. Como muitos órgãos administrativos têm competências similares, não é difícil imaginar que, vez ou outra, poderá ocorrer invasão de competências. Mas esse perigo real não pode inibir a atuação de outros setores com competências para proteger a qualidade de vida, sob pena de se criar um superministério do ambiente e lacunas na execução de ações e serviços ambientais. [...] FONTE: SANTOS, Lenir. Meio ambiente e saúde. Disponível em: <www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/ Lenir.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011. 133 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você estudou que: • A escola e seus atores sociais constituem a educação escolar como um todo. Na busca da qualidade e concretização de seus objetivos a educação escolar traz em seu escopo a chamada gestão da escola. • Na construção da gestão da escola fazem parte elementos tais quais: gestão democrática, participação dos profissionais, participação da comunidade escolar, elaboração do Projeto Pedagógico da escola, autonomia pedagógica e autonomia administrativa. • Nossa identidade se constitui na relação que estabelecemos com o contexto cultural em que vivemos e de nossa própria imersão nesse contexto. • A mediação do processo ensino-aprendizagem deve acontecer na relação com as realidades de todos os envolvidos no processo de educar, na educação escolar. O professor tem o papel fundamental nesse sentido – o de mediador desse processo. E para ser mediador é necessário ter se apropriado dos conhecimentos necessários para tanto. • Educar para a saúde, educar para o meio ambiente é um contínuo ao longo da vida dos sujeitos. • A promoção e a prevenção da saúde no contexto escolar contribuem sobremaneira para a construção e apropriação de conhecimentos que o sujeito levará ao longo de sua vida, além de socializar este conhecimento entre os que o rodeiam. • A comunidade escolar como um todo é autora e coautora da promoção e prevenção da saúde, tendo como foco a educação para a saúde. • A educação ambiental no contexto escolar, assim como diferentes temáticas, precisa ser contemplada nas suas características e particularidades, mas também na sua amplitude e interlocução que estabelece com o meio. • Conceber a saúde e o meio ambiente como intrínsecos e pertencentes aos sujeitos que dela fazem parte é fundamental para a promoção da qualidade de vida das pessoas. • Pensar a educação para a transformação social envolve o entendimento dos chamados “quatro pilares da educação”: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. 134 1 Freire (1997) afirma que “[...] somos e fazemos parte de nossa história”. Disserte sobre a relação entre este fragmento e a questão da qualidade de vida, saúde e meio ambiente. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ AUTOATIVIDADE 135 UNIDADE 3 MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • analisar a contribuição do contexto escolar na promoção da saúde e qualidade de vida das pessoas; • identificar a educação como elemento transformador rumo a uma consciência ambiental coletiva; • compreender o surgimento da educação ambiental como resposta à preocupação da sociedade com o futuro; • analisar as tendências da educação ambiental, no que tange principalmente à sustentabilidade como uma nova perspectiva para conduzir as relações sociedade-natureza; • conhecer e implementar práticas pedagógicas que contemplem a temática meio ambiente e saúde. Esta terceira unidade está dividida em três tópicos. No final de cada tópico, você encontrará atividades que possibilitarão o aprofundamento de conteúdos no que se refere à saúde e ao meio ambiente, assim como metodologias de ensino significativas que contribuam nesse sentido. TÓPICO 1 – PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE TÓPICO 2 – EDUCAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE TÓPICO 3 – METODOLOGIAS DE ENSINO 136 137 TÓPICO 1 PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, na Unidade 2 de nosso Caderno de Estudos dialogamos sobre o papel da escola no que se refere ao meio ambiente e saúde. Abordamos, para tanto, a escola e sua relação com o meio ambiente e saúde, guia curricular concernente ao meio ambiente e saúde – enfocando os Parâmetros Curriculares Nacionais e a relação entre educação, saúde e qualidade de vida. Na Unidade 3 veremos as práticas educativas (retomando conceitos e discussões referentes à educação em saúde), a prevenção da saúde no contexto escolar, a educação para o meio ambiente e as metodologias de ensino – saúde e meio ambiente. Neste tópico, abordaremos a educação em saúde em consonância com a prevenção da mesma e a contribuição do contexto escolar nesse sentido. Bons estudos! 2 EDUCAÇÃO EM SAÚDE Para continuar nosso diálogo sobre a saúde e a escola, vamos retomar alguns conceitos, quais sejam: a) o conceito de saúde, e b) a educação e a saúde: a) O conceito de saúde é referenciado como o estado completo de bem-estar físico, mental, social e não apenas como ausência de doença, como define a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nele, encontramos indicadores socioculturais em nível socioeconômico, educativo, cultural, entre outros, bem como indicadores psicossociais, tais como as concepções de saúde, expectativas em nível de saúde, avaliação das expectativas, grau de satisfação com a vida, entre outros. [...] (BURGOS, 2006, p. 36, grifo nosso). b) A educação e a saúde perfeitas constituem muito mais aspiração permanente do ser humano do que um estado possível de ser alcançado, já que o homem vive em constante tensão e busca da realização de seus ideais de educação e de saúde. Não se pode esquecer, entretanto, que a educação e a saúde constituem muito mais um processo em construção do que resultado pronto e acabado, muito mais caminho do que chegada. (CONCEIÇÃO, 1994, p. 23). UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS 138 Nesse contexto, a educação em saúde preconiza o desenvolvimento integral do ser humano, seja em seu aspecto físico, social, psicológico, cultural, histórico, enfim, seudesenvolvimento no todo, respeitadas as partes, ou melhor, os diferentes contextos em que os sujeitos estão envolvidos. Ao conceber esse entendimento inicial, preconizamos o entendimento do ser humano e sua saúde, respeitada a sua totalidade e suas particularidades. Se pensarmos a educação em saúde no contexto escolar, ela deve contemplar a particularidade tanto do contexto da própria escola, sua comunidade e os sujeitos nela envolvidos. Contemplar a saúde no contexto escolar envolve pensarmos as atividades necessárias para que ela se efetive na prática pedagógica em sala de aula. Tais atividades dividem-se “[...] em três setores que compreendem o ensino da saúde, o saneamento do ambiente físico e emocional da escola e, finalmente, a assistência à saúde”. (CONCEIÇÃO, 1994, p. 27). De acordo com Conceição (1994): • Primeira atividade – ensino da saúde: Diz respeito à educação para a saúde e consiste na transmissão de conhecimentos e informações, mas principalmente no desenvolvimento de hábitos, atitudes, habilidades e comportamentos que ajudem na promoção, proteção, conservação, recuperação e reabilitação da saúde. • Segunda atividade – saneamento do ambiente físico e emocional da escola: Refere-se às ações sobre o ambiente escolar. É considerada necessária por sua influência sobre as condições de saúde, embora haja críticas a um certo caráter autoritário e ideológico da “higienização” e “normalização”. • Terceira atividade – assistência à saúde: Consiste nos programas de assistência médico-odontológica no interior da escola. Sem medicalização da escola nem pedagogização da medicina e independentemente da solução encontrada para esta questão administrativa, o fundamental é que os profissionais da educação e da saúde unam seus esforços para a criação de modelos de serviços de saúde escolar de forma criativa e crítica, sem substituição da família e sem medicalização do fracasso escolar. TÓPICO 1 | PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE 139 FIGURA 38 – SAÚDE ESCOLAR SAÚDE ESCOLAR ASSISTÊNCIA À SAÚDE SANEAMENTO DO AMBIENTE FÍSICO E EMOCIONAL DA ESCOLA ENSINO DA SAÚDE FONTE: Conceição, 1994. Essas atividades se inter-relacionam no contexto escolar ao pensarmos na educação em saúde, em que teoria e prática pedagógica são indissociáveis. Novamente, nos remetemos à importância dos envolvidos no processo educativo, do contexto escolar e da comunidade escolar como um todo. DICAS Sugerimos a leitura do seguinte livro: PERES, Heloise Ciqueto; PRADO, Claúdia; LEITE, Maria Madalena Januário. Educação em saúde – desafios para uma prática inovadora. São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2010. Sinopse: A obra tem por objetivo convidar os leitores a refletir sobre o significado da educação em saúde e do papel do educador. Dividido em duas partes, o livro procura abordar a ação educativa no contexto contemporâneo e as concepções pedagógicas que são consideradas a base para a educação na área. Trata, também, da questão da aprendizagem significativa e o processo educacional. A leitura é recomendada para profissionais, pesquisadores e professores que buscam perspectivas para a educação em saúde. O entendimento dessas inter-relações é fundamental para que a temática da saúde seja efetiva e significativa na educação escolar. Os diferentes contextos envolvidos para tanto nos fazem transitar por diversos conceitos, como, por exemplo, a questão relativa ao estilo de vida dos sujeitos. UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS 140 Featherstone diz que o estilo de vida não mais se constrói com base nas relações sociais, mas na dinâmica do cotidiano, onde as coerências e a unidade priorizam a exploração de experiências transitórias com efeitos diversos. A autora também comenta que a mídia, além de ser meio para mudanças nos estilos de vida e lazer, passou a ser expressão dos principais gostos culturais desta época, que influenciaram modos e comportamentos sociais. (PINTO, 2002, p. 26). UNI Vale ressaltar: estilo de vida é um conjunto de padrões de comportamento que definem a maneira comum de viver de um indivíduo num grupo. De acordo com a OMS (1985), os estilos de vida estão ligados aos valores, às motivações, às oportunidades e a questões específicas ligadas a aspectos culturais, sociais e econômicos. [...] (BURGOS, 2006, p. 36). Educar para a saúde envolve o entendimento da realidade social pertencente ao grupo social que faz parte do contexto escolar. O envolvimento efetivo de todos nesse processo tornará possíveis práticas pedagógicas efetivas na escola e a apreensão dos conhecimentos pelos educandos e pela comunidade escolar como um todo. 3 SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR: A PREVENÇÃO Saúde significa um completo estado de bem-estar físico, mental, social e não apenas a ausência de doença. Esse estado completo é um processo, o qual é construído ao longo da vida dos seres humanos. Quando falamos de prevenção em saúde, concebemo-la (a saúde) como ponto de partida para as intervenções e ações pedagógicas a fim de promover efetivamente a saúde como um todo. [...] A escola é o espaço mais adequado para intervenções preventivas e de promoção da saúde, para conscientização da necessidade de mudança de hábitos sedentários e uso abusivo de alimentos que geram fatores e risco para doenças cardiovasculares e crônico-degenerativas, bem como para cuidados com a higiene e saúde bucal, que podem estar relacionados a doenças sistêmicas. As ações educativas somente terão eco se conjugadas em atuação multiprofissional de professores dos diversos componentes curriculares, equipe diretiva, pedagógica, psicológica, aliados aos profissionais e setores comunitários de saúde e programas institucionais, [...] (BURGOS, 2006, p. 32). Ainda de acordo com Burgos (2006, p. 27), TÓPICO 1 | PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE 141 A prevenção deveria estar entre as mais altas prioridades de saúde pública e, certamente, nessa perspectiva, deve-se incluir o estímulo a modos ou estilos de vida mais saudáveis, em todos os grupos etários, destacando-se crianças e adolescentes. As comunidades, os governos, a mídia, as indústrias de alimentos, as escolas e as instituições sociais precisam trabalhar de forma conjunta, para modificar o meio ambiente e promover a conscientização pública, repensando os estímulos, os esclarecimentos e contribuição dos mesmos para a adoção de modos de vida diferenciados e voltados à qualificação da vida humana e das comunidades sociais. (BURGOS, 2006, p. 27). FIGURA 39 – EDUCAÇÃO EM SAÚDE FONTE: Disponível em: <mortugabaunicef.blogspot.com>. Acesso em: 24 jan. 2012. A prevenção deve ser preocupação constante da sociedade na saúde e bem-estar dos sujeitos que dela fazem parte. A escola, o contexto escolar, nesse sentido contribui significativamente. Para tanto, [...] São fundamentais, nesse processo, ações políticas e operacionais de intervenção na realidade, a partir do conhecimento desta e da produção, sistematização, socialização do conhecimento na área da saúde, educação e desenvolvimento humano, que capacite pessoas tecnicamente competentes, política e eticamente responsáveis, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade solidária, com desenvolvimento equilibrado e saudável de seus cidadãos. [...] (BURGOS, 2006, p. 32). As possibilidades de a prática pedagógica contribuir nesse sentido serão apresentadas no Tópico 3, da respectiva unidade, quando abordaremos a questão das metodologias de ensino, por meio de práticas educativas: saúde e meio ambiente. UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS 142 DICAS Leia o seguinte texto de: MARQUES, Maria de Fátima Cardoso; SHERLOCK, Maria do Socorro Mendonça; FEIJÃO, Alexsandra Rodrigues. Educação em saúde no contexto escolar. Disponível em: <http:// www.educacion.udc.es/grupos/gipdae/congreso/VIIIcongreso/pdfs/180.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2011. Resumo: A educação em saúde para as crianças nas escolas pode contribuir para ações de promoçãode saúde na comunidade. Este estudo tem como objetivo apresentar o perfil das condições de saúde de crianças em duas escolas governamentais da cidade de Fortaleza, Ceará, e de conhecer o conceito de educação em saúde dos professores. Dividiu-se a coleta de dados em duas fases: 1) oficina com 25 professores do Ensino Fundamental de duas escolas públicas de Fortaleza, objetivando conhecer quais seus conceitos de educação em saúde e, posteriormente, compará-los ao conceito da Organização Mundial da Saúde – OMS; 2) levantamento, através de exames físicos, dos principais agravos à saúde de 127 escolares. Os resultados mostraram as seguintes situações: crianças com problemas de saúde (parasitoses e déficits de higiene pessoal) e professores que possuem um conceito de saúde puramente prescritivo e limitado. Este fato demonstra a carência da interdisciplinaridade e do elo professor/ enfermeiro no enfrentamento dos problemas de saúde na escola. Isto suscitou uma reflexão sobre a importância do trabalho do enfermeiro com professores e alunos, fazendo com que eles possam fazer melhores escolhas a respeito de sua saúde e da saúde da comunidade. TÓPICO 1 | PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE 143 LEITURA COMPLEMENTAR A PROMOÇÃO DA SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR Secretaria de Políticas de Saúde/MS Texto de difusão técnico-científica do Ministério da Saúde FONTE: Censo Escolar, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais A adoção do conceito de promoção da saúde como elemento redirecionador das políticas do Ministério da Saúde impõe a necessidade de sistematizar, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde, propostas intersetoriais que provoquem ou reforcem o desenvolvimento de ações com os mais diferentes setores. O setor educacional, dada sua capilaridade e abrangência, é um aliado importante para a concretização de ações de promoção da saúde voltadas para o fortalecimento das capacidades dos indivíduos, para a tomada de decisões favoráveis à sua saúde e à comunidade, para a criação de ambientes saudáveis e para a consolidação de uma política intersetorial voltada para a qualidade de vida, pautada no respeito ao indivíduo e tendo como foco a construção de uma nova cultura da saúde. É importante implementar estratégias integradas de aproximação com o sistema educacional, suas unidades de ensino e suas representações políticas, sem deixar de considerar como essencial a formação e qualificação docentes, na expectativa de que essas estratégias fomentem a adoção de hábitos de vida mais saudáveis e promovam mudanças individuais e organizacionais necessárias. O Ministério da Saúde compreende que o período escolar é fundamental para se trabalhar saúde na perspectiva de sua promoção, desenvolvendo ações para a prevenção de doenças e para o fortalecimento dos fatores de proteção. Crianças, jovens e adultos que se encontram nas escolas vivem momentos em que os hábitos e as atitudes estão sendo criados e, dependendo da idade ou da abordagem, estão sendo revistos. Por outro lado, reconhece que, além de a escola ter uma função pedagógica específica, tem uma função social e política voltada para a transformação da sociedade, relacionada ao exercício da cidadania e ao acesso às oportunidades de desenvolvimento e de aprendizagem, razões que justificam ações voltadas para a comunidade escolar para dar concretude às propostas de promoção da saúde. [...] A assinatura de Portaria Interministerial 766/GM, de 17 de maio de 2001, para elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação – temas transversais Saúde e Orientação Sexual –, estabelece o pacto entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, passo importante na implementação de uma UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS 144 ação integrada que terá, de início, o alcance de 2.779 municípios que já aderiram ao Programa Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação. [...] A elaboração coletiva dos Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação Saúde é um marco e a concretização de que se possa pensar a educação e a saúde sob uma ótica mais integradora. Elaborar os parâmetros e participar na formação continuada dos professores é construir uma nova cultura, em que a educação e a saúde tenham sentidos e significados mais integrais e que resultem em projetos de vidas mais saudáveis. Os processos educativos têm como eixos a construção de vidas mais saudáveis e a criação de ambientes favoráveis à saúde, o que significa entender a educação como processo que trata o conhecimento como algo que é construído e apropriado e não como algo a ser transmitido. Conhecimento, por sua vez, é fruto da interação e cooperação entre sujeitos que são diferentes, que trazem experiências, interesses, desejos, motivações, valores e crenças que são únicas, singulares, mas que são, ao mesmo tempo, plurais, e, por isso, diversas. Um conhecimento que é incompleto e histórico. No entanto, a educação e a saúde, como campos de conhecimentos e de práticas, têm sido consideradas a partir de suas especificidades, em que a educação está associada à escola e aos processos de aprendizagem, e a saúde é identificada com os serviços de saúde e processos de adoecimento. Vista de forma ampliada, a relação entre saúde e educação pode estabelecer a intersecção para a integração dos saberes acumulados por tais campos, uma vez que os processos educativos e os de saúde e doença incluem tanto conscientização e autonomia quanto a necessidade de ações coletivas e de fomento à participação. Na concepção de saúde individual, seria necessário refletir sobre a saúde dos professores, seja individual ou coletivamente. O estresse diário dos docentes, o esforço repetitivo que o cotidiano exige, o enfrentamento de situações dramáticas não fazem parte do cotidiano escolar. Uma escola promotora de saúde inclui essa ideia de saúde, de estar saudável incluindo o bem-estar docente. Para se promover saúde não é suficiente informar. É necessária uma relação dialogal, uma comunicação emancipadora, em que os sujeitos sejam envolvidos na ação educativa, formativa e criativa, levando em conta a reconstrução do saber da escola e a formação continuada dos docentes. Promover saúde implica e requer ter paz, educação, alimentação, renda, ecossistema saudável, recursos sustentáveis, justiça e equidade e desenvolver ações de promoção da saúde. No contexto escolar, tem a ver com respeito às possibilidades e aos limites do corpo, do intelecto e das emoções, da participação social e do estabelecimento de alianças. TÓPICO 1 | PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE 145 A saúde e os temas transversais apontados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – a pluralidade cultural, a ética, a orientação sexual, a cidadania, o meio ambiente, o trabalho e o consumo – lidam com as condições concretas de sujeitos e comunidades sendo complementares e interdependentes. No cotidiano escolar, esses temas emergem em situações concretas de violência, de preconceito, nas tomadas de decisões, nas interações e na organização dos rituais e das festas, nos impasses entre pessoas e grupos, nos conteúdos dos textos e materiais de estudo e de trabalho. O trabalho escolar lida com os valores, as crenças, os mitos e as representações que se têm sobre a própria relação do saber-fazer-ser educador e educando. Organizar e estimular situações de aprendizagem nas quais a saúde possa ser compreendida como direito de cidadania e um pressuposto ético, valorizando as ações voltadas para sua promoção, é inerente à escola. São múltiplas as faces do estar saudável ou estar doente, e, reconhecida essa complexidade, o professor lidará com as questões de saúde e de doença de maneira diferenciada. Promover saúde é tocar nas diferentes dimensões humanas, é considerar a afetividade, a amorosidade e a capacidade criadora e a busca da felicidade como igualmente relevantes e como indissociáveis das demais dimensões. Por isso, a promoção da saúde é vivencial e écolada ao sentido de viver e aos saberes acumulados pela ciência e pelas tradições culturais locais e universais. Criar momentos de debates sobre fatores desfavoráveis à saúde presentes nas realidades dos alunos e da comunidade escolar, mobilizando projetos, ações, com relação à saúde individual e coletiva, considerando a saúde sob seus diferentes aspectos, é possível quando se favorece o desencadear do desejo de conhecer e utilizar os recursos da própria localidade voltados para a promoção da saúde e para a atenção à doença. Uma rede de apoio, nas mais diferentes formas e instâncias, é fundamental para a promoção. São os conselhos de saúde, de direitos da mulher, de cidadania, de defesa da criança e do adolescente, tutelares, associações de moradores, de pescadores, de domésticas, de professores, grêmios estudantis, movimentos ligados a partidos políticos ou às igrejas e tantos outros. Mobilizar recursos significa envolver essas redes ou setores governamentais e não governamentais em ações institucionais no campo da saúde. Tanto para o educando quanto para o educador, o exercício de troca, de diálogo, de embates, de compartilhamento de saberes e fazeres, da crítica da realidade possibilitará a construção da autonomia, da solidariedade e da cooperação cidadã e se manifestará na redefinição dos eixos temáticos para as diferentes áreas e na eleição das abordagens e dos conteúdos. Essa mobilização de recursos, que, em um primeiro momento, tem o local como ponto de partida, vai sendo alargada e alcançando dimensões mais amplas e incorporando outras redes do município, do estado, da região, do país, do continente, tomando, na perspectiva mais global, uma dimensão planetária. FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v36n4/11775.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2012. 146 Neste tópico você estudou que: • O conceito de saúde é referenciado como o estado completo de bem-estar físico, mental, social e não apenas como ausência de doença. • A educação e a saúde constituem muito mais um processo em construção do que resultado pronto e acabado, muito mais caminho do que chegada. • A educação em saúde no contexto escolar deve contemplar a particularidade do contexto da própria escola, sua comunidade e os sujeitos nela envolvidos. • Contemplar a saúde no contexto escolar envolve pensarmos as atividades necessárias para que ela se efetive na prática pedagógica em sala de aula, quais sejam: o ensino da saúde; o saneamento do ambiente físico e emocional da escola; e a assistência à saúde. • Primeira atividade – ensino da saúde: educação para a saúde. • Segunda atividade – saneamento do ambiente físico e emocional da escola: ações sobre o ambiente escolar. É considerada necessária por sua influência sobre as condições de saúde. • Terceira atividade – assistência à saúde: programas de assistência médico- odontológica no interior da escola. • Educar para saúde envolve o entendimento da realidade social do grupo social que faz parte do contexto escolar. • Quando falamos de prevenção em saúde, concebemo-la (a saúde) como ponto de partida para as intervenções e ações pedagógicas a fim de promover efetivamente a saúde como um todo. • Prevenção deve ser preocupação constante da sociedade para a saúde e bem- estar dos sujeitos que dela fazem parte. RESUMO DO TÓPICO 1 147 1 Considerando os estudos realizados até o momento em relação à saúde, escreva um projeto de pesquisa, que contenha os seguintes elementos: 1 TEMA E PROBLEMA 2 JUSTIFICATIVA 3 OBJETIVOS 4 METODOLOGIA 5 CRONOGRAMA REFERÊNCIAS AUTOATIVIDADE 148 149 TÓPICO 2 EDUCAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Você deve se lembrar dos problemas ambientais apresentados na Unidade 1 deste Caderno de Estudos. Muito bem! Atente para o fato de que a maioria desses problemas poderia ter sido evitada se a educação ambiental (EA) e a consequente conscientização ecológica fizessem parte da formação das gerações passadas. O conhecimento do contexto histórico e cultural da visão homem-natureza torna-se importante, pois nos permite compreender as evoluções empíricas e posteriormente científicas da representatividade da natureza. Como sabemos, o homem foi produzindo, transformando e construindo o espaço geográfico. Os interesses e as necessidades dos seres humanos não foram sempre os mesmos em todos os lugares e em todos os tempos. Conforme as sociedades foram se modificando, criando novas e mais complexas formas de sobrevivência, novos espaços foram construídos, muitos deles relacionados com os tipos de paisagens e o pensamento de cada época. Lamentavelmente, a ausência da EA no contexto histórico-cultural da humanidade nos coloca em uma exponencial crise ambiental. Hoje temos a opção de seguir dois caminhos: podemos continuar a utilização desenfreada dos recursos naturais para atender nossas necessidades imediatas acarretando danos talvez irreversíveis, ou podemos implementar medidas alternativas para a conservação da biodiversidade e utilizá-la de forma sustentável, o que pode ser alcançado através de um processo emergente de EA em todos os níveis e modalidades de processos educativos. Portanto, neste tópico você terá oportunidade de conhecer um pouco da história da EA no âmbito mundial e no Brasil. Por meio deste conhecimento será possível desenvolver habilidades e competências para atuar de forma crítica e efetiva diante dos problemas ambientais, identificando a educação como elemento transformador para uma consciência ambiental coletiva. Vamos então ao estudo sobre a educação para o meio ambiente! 150 UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS 2 O SURGIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SEUS CONCEITOS UNI Você sabe o que significa Educação Ambiental (EA)? Embora existam várias definições para o termo, vamos construir nosso conceito baseado no ponto de vista de alguns autores e nas discussões que ocorreram em eventos sobre o meio ambiente. Mas, antes disso, acompanhe um pouco sobre o surgimento da educação ambiental. A educação ambiental (EA), seja ela formal, não formal ou informal, é uma forma de educação que procura atingir se não toda, mas grande parte da população, por meio de um processo pedagógico participativo e permanente. Neste contexto, a EA busca não somente conscientizar as pessoas sobre os problemas ambientais, mas também fazer com que elas entendam a sua origem e evolução. Assim, os problemas ambientais e, por consequência a EA, não podem ser tratados de forma isolada e local, é necessário que conheçamos os caminhos trilhados pela EA no Brasil e no mundo. O ponto inicial de interesse pela EA foi a Conferência de Estocolmo (1972) – Conferência de Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano –, em que se percebeu que se deve educar o cidadão para a solução dos problemas ambientais. Segundo Dias (1993, p. 22), “A conferência de Estocolmo, ao reconhecer a importância da EA em trazer assuntos ambientais para o público em geral, recomendou o treinamento de professores e o desenvolvimento de novos recursos instrucionais e métodos”. Assim, nascia não só o interesse pela área como também a expressão “educação ambiental”, tão amplamente difundida nos dias de hoje. A partir de Estocolmo, pode ser evidenciado um aumento considerável nos programas ambientais em diversos países, assim como o debate em torno da EA que ganhou status de assunto oficial e estratégico na pauta dos governos e dos organismos internacionais. (TREVISOL, 2003). Caro acadêmico, após essa breve contextualização, vamos acompanhar, em ordem cronológica, alguns conceitos e eventos importantes acerca do tema EA. TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE 151 Em 1975, no Seminário Internacional sobre EA, que aconteceu em Belgrado, promovido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), foi produzido um documento, A Carta de Belgrado, que define o desenvolvimento de uma população mundial consciente com o meioambiente e com os problemas ambientais, como meta da EA. Uma população que disponha de conhecimento, habilidade, criatividade, atitude e compromisso na busca por soluções para os problemas ambientais. Um trabalho que deve acontecer coletivamente. Em 1977, na Conferência Intergovernamental sobre Educação para o Ambiente, realizada em Tbilisi (Geórgia), a EA foi definida como um processo de reconhecimento de valores e conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A EA ficou entendida como uma prática de tomadas de decisões e ética que conduzem a uma qualidade de vida melhor para todos. IMPORTANT E Lembre-se de que o ponto inicial de interesse pela EA foi a Conferência de Estocolmo (1972) – Conferência de Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano. Entretanto, a Conferência de Tbilisi é considerada um dos principais eventos sobre a EA do planeta. Ela foi o ponto de partida para precisar a natureza da EA, definindo seus objetivos e suas características, bem como as estratégias pertinentes ao plano nacional e internacional da EA. No capítulo 36 da Agenda 21, programa de ação firmado na conferência Rio-92, a EA é definida como o processo que tem como meta o desenvolvimento de uma população consciente e preocupada com o meio ambiente e com os problemas que lhe são associados. UNI A Agenda 21 convoca os governos a adotar estratégias nacionais para o desenvolvimento sustentável. Ela prevê ações que deverão ser implementadas tanto pelos governos como pela sociedade civil, abarcando todas as esferas: federal, estadual e local. É constituída por 40 capítulos. 152 UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS Também na Rio-92 iniciou o processo de criação da Carta da Terra, documento em permanente construção. Vale a pena você conhecer um trecho deste documento. Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que, nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade de uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações. (CARTA DA TERRA, 2012). UNI Leia o texto da Carta da Terra na íntegra acessando o site <http://www.mma. gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terra.doc>. Boa leitura! Voltando aos conceitos, de acordo com o art. 1º, da Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999, entende-se por EA: [...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Ainda de acordo com a mesma lei, a EA é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. Os princípios básicos e os objetivos fundamentais da EA estão descritos nos artigos 4º e 5º respectivamente, da mencionada lei. Veja o que eles dizem: TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE 153 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA EA: I- o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II- a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III- o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV- a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V- a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI- a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII- a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII- o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA EA: I- o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II- a garantia de democratização das informações ambientais; III- o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV- o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V- o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do país, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI- o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII- o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 24 fev. 2012. DICAS Para conhecer na íntegra a Lei n° 9.795/99, regulamentada pelo Decreto nº 4.281/02, acesse o site <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9795.htm>. 154 UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS O CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), instituído pela Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto nº 99.274/90. Define a EA como um processo de formação e informação orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões ambientais, e de atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental. Para Gonçalves (1990), a EA não deve ser entendida como um tipo especial de educação. Refere-se a um longo e contínuo processo de aprendizagem, com o qual todos os indivíduos e instituições (escola, família, e comunidade) devem estar envolvidos. Este processo de aprendizagem precisa ser crítico, criativo e político com preocupação de transmitir conhecimentos a partir da discussão e avaliação feitas pelo aluno, da sua realidade individual e social, na comunidade em que vive. Ainda de acordo com Gonçalves (1990), a EA é um processo de aprendizagem que visa esclarecer conceitos e fomentar valores éticos, com o intuito de desenvolver atitudes racionais, responsáveis e solidárias entre os seres humanos e o meio ambiente. A EA pode ser definida, de acordo com Guimarães (1995), como uma ação interdisciplinar, conduzida para a resolução de problemas locais. Ainda de acordo com o mesmo autor (1995, p. 28), [...] a EA é participativa, comunitária, criativa e valoriza a ação. É uma educação crítica da realidade vivenciada, formadora da cidadania. É transformadora de valores e atitudes através da construção de novos hábitos e conhecimentos, criadora de uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações integradas ser humano/sociedade/ natureza objetivando o equilíbrio local e global, como forma de obtenção da melhoria da qualidade de todos os níveis de vida. Como você pôde perceber, muitas são as definiçõesde EA. Podemos dizer ainda que há diferentes abordagens da questão ambiental na educação. Para Brügger (1994, p. 32), por exemplo, “[...] por trás dessas abordagens ou tendências, existem diferentes pressupostos filosóficos e práticas pedagógicas [...]” no que tange às questões ambientais. Contudo, não resta dúvida da importância da EA. Para isso é fundamental a participação da comunidade no que concerne à construção de valores sociais (moral, ética, dignidade, respeito, solidariedade), capazes de transformar o comportamento humano em relação ao ambiente em que vive. A disseminação de conhecimentos e experiências, o engajamento das comunidades em atividades práticas podem ser um meio de construir ou reconstruir a cidadania, principalmente no âmbito ambiental. A partir deste conceito podemos perceber que MEIO AMBIENTE – EDUCAÇÃO – SOCIEDADE estão intimamente conectados para o estabelecimento de um processo concreto de EA. A consolidação e a institucionalização da Política Nacional de EA surgem em virtude da crise ambiental. Portanto, é necessário que nós, atores sociais, tenhamos conhecimento das leis que regem as políticas públicas voltadas à promoção da EA. TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE 155 Podemos concluir que a EA pode ser considerada uma ação política no intuito de promover uma transformação social através da reflexão crítica sobre os problemas ambientais; uma ação mobilizadora de conhecimentos técnico- científicos que envolvam várias disciplinas, como uma forma de compreender as relações socionaturais; uma maneira de privilegiar as diferenças étnico-culturais dos povos, bem como seus conhecimentos sobre o meio onde estão inseridos; possibilitar uma consciência ética e participativa dos indivíduos no que concerne à preservação e conservação do meio ambiente. De acordo com Guimarães (1995), a EA tem o importante papel de fomentar a percepção da necessária integração do ser humano com o meio ambiente. Uma relação harmoniosa, consciente do equilíbrio dinâmico na natureza, possibilitando, por meio de novos caminhos, valores e atitudes, a inserção do educando e do educador como cidadãos no processo de transformação do atual quadro ambiental no nosso planeta. A EA é um meio de conscientizar os indivíduos dos problemas ambientais, buscando a sua participação ativa 2.1 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL A EA foi formalmente instituída no Brasil em 31 de agosto de 1981, quando foi criada a Lei nº 6.938 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Através dela, estabeleceu-se a inclusão da EA em todos os níveis de ensino, incluindo a educação da comunidade, com o objetivo de capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente. É um marco histórico na institucionalização de defesa da qualidade ambiental no Brasil. “[...] no contexto legal essa foi uma das primeiras citações inseridas nos princípios de uma lei federal que versa sobre a importância da EA como componente fundamental para promoção da educação e conscientização ambiental no Brasil”. (FERREIRA, A., 2008, p. 10). Até então, muito pouco se havia feito no Brasil sobre EA. Poucas tentativas de produção e edição de materiais e cursos oferecidos para alguns profissionais como capacitação. Reforçando a ideia de implementação da EA como política pública, o termo foi citado na Constituição brasileira de 1988 (capítulo VI, do Meio Ambiente, art. 225, parágrafo 1º, inciso VI). Segundo ela, cabe ao poder público “[...] promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Outras medidas foram tomadas nos anos seguintes como, por exemplo, a criação de órgãos públicos diretamente ligados ao meio ambiente. Elas também contribuíram para a difusão e o aprimoramento da EA. Veja alguns exemplos: • A Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e dá outras providências. 156 UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS • A Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, cria o Fundo Nacional de Meio Ambiente e dá outras providências. Segundo o art. 5º desta lei, serão consideradas prioritárias as aplicações de recursos financeiros em projetos em diferentes áreas, incluindo a EA. O Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2009) criado em 1992, surge com a missão de promover a adoção de princípios e estratégias para o conhecimento, a proteção e a recuperação do meio ambiente, o uso sustentável dos recursos naturais, a valorização dos serviços ambientais e a inserção do desenvolvimento sustentável na formulação e na implementação de políticas públicas, de forma transversal e compartilhada, participativa e democrática, em todos os níveis e instâncias de governo e sociedade. No âmbito do MMA é criada a Diretoria de Educação Ambiental. E, em julho desse mesmo ano, o IBAMA instituiu os Núcleos de Educação Ambiental em todas as suas superintendências estaduais, visando operacionalizar as ações educativas do processo de gestão ambiental na esfera estadual. Conforme você deve recordar, a segunda conferência sobre o meio ambiente aconteceu no Brasil, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro e ficou conhecida como a Eco-92 ou Rio-92. Um dos resultados desta conferência foi a elaboração do Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Vejamos alguns dos princípios da EA definidos neste Tratado: A educação é um direito de todos; somos todos aprendizes e educadores; a EA deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não formal e informal, promovendo a transformação e a construção da sociedade; a EA é individual e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações; A EA não é neutra, mas ideológica. É um ato político, baseado em valores para a transformação social; a EA deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar; A EA deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e interação entre as culturas. (TRATADO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 2012). A partir disso, o país se obrigou a tomar atitudes mais concretas com relação ao tema e em 1994 foi criado o Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA, uma iniciativa do Ministério da Educação e Cultura – MEC – com outros ministérios, como o do Meio Ambiente – MMA. “O ProNEA previu três componentes: (a) capacitação de gestores e educadores, (b) desenvolvimento de ações educativas, e (c) desenvolvimento de instrumentos e metodologias, contemplando sete linhas de ação” (BRASIL, 2005, p. 25): • Educação ambiental por meio do ensino formal. • Educação no processo de gestão ambiental. • Campanhas de educação ambiental para usuários de recursos naturais. TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE 157 • Cooperação com meios de comunicação e comunicadores sociais. • Articulação e integração comunitária. • Articulação intra e interinstitucional. • Rede de centros especializados em educação ambiental em todos os estados. Este Programa Nacional de Educação Ambiental foi fundamental para que em 27 de abril de 1999 fosse criada a Lei n° 9.795, que dispõe sobre a EA e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) e dá outras providências, conforme visto anteriormente. Portanto, foi a partir dos anos 1990 que a EA ganhou força no Brasil. Nesta década começaram a ocorrer os primeiros encontros nacionais sobre EA: como exemplo os fóruns de EA (I, II e III) e muitos outros encontros regionais e locais espalhados pelo país. Em 2007 foi elaborada a Lei nº 11.516, de 28 de agosto, que cria o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), tendo como principal finalidade fomentare executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e de educação ambiental nas Unidades de Conservação da Natureza, previstas na Lei Federal nº 9.985/00. Esta última lei institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), o qual tem como um de seus objetivos favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico (capítulo II, art. 4º, inciso XII). DICAS Acesse o site <http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./ educacao/index.php3&conteudo=./educacao/hist_br.html>. Neste endereço você vai encontrar a história da EA no Brasil desde o século XIX, com a criação do Jardim Botânico no Rio de Janeiro em 1808, até a Consulta Pública do ProNEA, o Programa Nacional de Educação Ambiental, que reuniu contribuições de mais de 800 educadores ambientais do país em setembro de 2004. Como você pode perceber muitos foram os mecanismos criados com o intuito de proteção e preservação do meio ambiente. Em vários momentos relatamos a obrigatoriedade da inclusão de programas de EA em todos os níveis de ensino, previstos em leis. A partir de agora vamos analisar algumas contribuições diretamente ligadas ao Ministério da Educação. Vamos em frente! 158 UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS 2.2 O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC) E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL No tópico anterior, abordamos a implementação e institucionalização da EA no Brasil por meio das principais leis, apresentadas em sequência cronológica. Neste tópico vamos analisar a participação do MEC no processo de implementação da EA como política pública. Para Guimarães (2000, p. 19) “A palavra ambiental, da expressão educação ambiental (EA), apenas objetiva e qualifica um processo amplo que é o processo educacional”. Assim, quando se instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente em 1981 (Lei nº 6.938), e posteriormente a Política Nacional de EA em 1999 (Lei n° 9.795), ambas dispondo sobre a inclusão da EA em todos os níveis de ensino, iniciou-se um processo de construção de estratégias para a implantação da EA no ensino formal e na formação dos professores. Ainda no ano de 1985, através do Parecer nº 819/85, o MEC apresentou a necessidade de inclusão de conteúdos ecológicos, no ensino de 1º e 2º graus, para possibilitar a formação da consciência ecológica do futuro cidadão. (FLORIANO, 2006). Porém, conforme já mencionado, foi na década de 1990 que ocorreram os principais programas e projetos voltados à consolidação da EA. Em 14 de maio de 1991, o MEC determinou, por meio da Portaria nº 678/91, que todos os níveis de ensino deveriam abordar conceitos relativos à EA e foi enfatizada a necessidade de investir na capacitação de professores. E, pensando na Conferência da ONU sobre Ambiente e Desenvolvimento que aconteceria no ano seguinte no Brasil, instituiu, através da Portaria nº 2.421/91, em caráter permanente, um Grupo de Trabalho de EA (GT-EA). Este grupo tinha como objetivo definir com as secretarias estaduais de educação as metas e estratégias para a implantação da EA no país e elaborar a proposta de atuação do MEC na área da educação formal e não formal. (FLORIANO, 2006). Passada a Rio-92, o GT-EA, criado em 1991, transforma-se em Coordenação de EA (CEA). Esta coordenação foi instituída pela Portaria nº 773/93 do MEC, concretizando as recomendações aprovadas na RIO-92. (FLORIANO, 2006). Dando sequência aos principais fatos relacionados à participação do MEC na consolidação da EA, chegamos à publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental em 1997. Segundo esta publicação, um dos objetivos do Ensino Fundamental é que, ao concluí-lo, o aluno seja capaz de “[...] perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente”. (BRASIL, 2000). Assim, a EA é trazida na condição de tema transversal e vem sendo incluída nos currículos a partir desta perspectiva. A EA deve ser trabalhada de modo que auxilie TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE 159 os estudantes a construir uma consciência ecológica globalizada, para que estes atores sociais contribuam de forma efetiva e crítica nas questões relativas à proteção do meio ambiente e à busca da melhoria na qualidade de vida. (BRASIL, 2000). Podemos perceber que o uso indiscriminado dos recursos naturais, a prepotência e a arrogância com que o homem lidou e vem lidando com o meio ambiente fazem da EA uma estratégia de caráter emergente. As leis que estipulam multas e outras formas de punição para quem pratica algum tipo de crime ambiental não foram suficientes para desacelerar o processo de destruição. Assim, podemos considerar que, aliado a isso, é necessário o processo educativo, por meio da EA, para formar pessoas conscientes de seus direitos e deveres perante o coletivo. Portanto, chegamos ao momento de conhecer a emergência de programas de EA. 3 A EMERGÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Diante dos fatos apresentados e da crise ambiental abordada na Unidade 1, quando falamos na emergência da Educação Ambiental (EA), estamos dando a esse processo de educação o grande desafio de transformar cidadãos passivos e alheios à situação em grandes defensores do meio ambiente. A mudança no modo de pensar e agir, fundamentais para reverter a desarmonia entre homem e meio ambiente, será, em grande parte, conseguida através de um processo efetivo de EA. Vendo a EA como uma das possíveis estratégias para o enfrentamento da crise social e cultural que estamos vivendo, Sorrentino et al. (2005, p. 287) relatam que: A urgente transformação social de que trata a educação ambiental visa à superação das injustiças ambientais, da desigualdade social, da apropriação capitalista e funcionalista da natureza e da própria humanidade. [...] A educação ambiental, em específico, ao educar para a cidadania, pode construir a possibilidade da ação política, no sentido de contribuir para formar uma coletividade que é responsável pelo mundo que habita. Essa emergência da conscientização “ecológica”, onde sociedade e natureza não sejam mais vistas como dissociáveis e, sim, como partes intrinsecamente relacionadas do todo, e da responsabilidade de cada indivíduo perante o coletivo são condições importantes a serem alcançadas através da EA. Dada a complexidade dos problemas socioambientais, a EA se apresenta como um grande desafio, o que implica utilizar novas estratégias de ação e novos padrões de conduta baseados em uma nova relação ética, com enfoque ambiental. (BENETTI, 2009). Seja a EA desenvolvida no âmbito dos currículos escolares, ou de maneira não formal através de ações de natureza educativa que visem à capacitação dos indivíduos, tornando-os aptos a agir em defesa da qualidade ambiental, temos a EA como uma arma importante a ser utilizada contra a crise ambiental. 160 UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS DICAS Sugerimos que você faça a leitura da “Carta do Chefe Seattle”. Em 1854, “o grande chefe branco” (o presidente) em Washington fez uma oferta por uma extensa área de território indígena e prometeu uma “reserva” para os índios. A resposta do chefe Seattle, reproduzida na íntegra neste endereço, tem sido considerada uma das declarações mais belas e profundas já feitas sobre o meio ambiente. Acesse: <http://boasaude.uol.com.br/lib/ ShowDoc.cfm?LibDocID=3981&ReturnCatID=1773>. Podemos perceber que uma possibilidade real de reversão da crise ambiental consiste em promover uma profunda transformação no pensar e no agir da humanidade, sendo a EA a força propulsora desta transformação. Quando percebermos que os recursos naturais são parte integrante da nossa vida e não apenas algo que utilizamos como mercadoria para satisfazer nossas necessidades, muitas vezes imediatistas, talvez consigamos reduzir em muitonossos impactos negativos sobre o meio ambiente. A espécie humana, pela primeira vez na história, pode ter o poder de contribuir de forma significativa para mudanças globais. Independentemente dos causadores reais das mudanças climáticas, as consequências da crise ambiental (aquecimento global, mudanças climáticas com grandes períodos de estiagem ou chuva excessiva, aumento das doenças, perigo iminente da falta de água potável, perda da biodiversidade...) podem ser minimizadas. Para tanto, é necessária a mudança também globalizada de pensamento e atitude por parte da humanidade. Só assim será possível amenizar os problemas, para garantir a nossa sobrevivência e assegurar que as gerações futuras tenham um ambiente saudável. Para concluir nossa reflexão, reescrevemos algumas linhas extraídas da “Carta do Chefe Seattle”: “[...] Tudo o que acontece à Terra – acontece aos filhos da Terra. O homem não teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela. O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo [...]”. Pense nisso e seja um ator social consciente de suas responsabilidades com o coletivo. 4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE Segundo Paula (2007), sustentabilidade significa atender as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as futuras gerações atenderem as suas próprias necessidades. Esta é uma das definições de sustentabilidade. Para ser sustentável, qualquer empreendimento humano deve ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. Contudo, esses conceitos, infelizmente, ainda estão longe da prática cotidiana das pessoas e instituições. TÓPICO 2 | EDUCAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE 161 Diante da problemática ambiental, podemos dizer que um dos princípios da EA é proporcionar a toda a sociedade a consciência de adotar comportamentos e atitudes ambientalmente adequados, possibilitando o desenvolvimento de estratégias que estejam voltadas para a construção de uma sociedade sustentável, ou seja, estabelecer padrões que proporcionem uma melhor qualidade de vida. O Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, assinado pelas ONGs em reunião paralela à Rio-92, sem dúvida foi muito importante na valorização da educação ambiental. Neste tratado, de acordo com Guimarães (1995, p. 28), [...] a EA para uma sustentabilidade equitativa é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre si relações de interdependência e diversidade. Isso requer responsabilidade individual e coletiva em níveis local, nacional e planetária. A reflexão sobre as práticas sociais, em relação à degradação dos ecossistemas, envolve uma articulação necessária da EA. Não há dúvida da importância da EA como instrumento da adoção de práticas que visem à sustentabilidade ambiental e social. UNI Levando em conta o estilo de vida da sociedade atual, com valores e atitudes consumistas, é possível que ocorra a sustentabilidade ambiental? Reflita sobre isso. Queremos chamar a atenção sobre o nosso papel no que tange à efetivação de uma EA eficaz e vital. Devemos nos questionar se nossas atitudes diárias contribuem para que tenhamos um planeta saudável. O que você tem feito para preservar e conservar os recursos naturais? Vamos deixar este questionamento para você pensar sobre isso e refletir sobre suas atitudes diárias! 162 UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: PRÁTICAS EDUCATIVAS DICAS Sugerimos a leitura da obra Educação Ambiental: Princípios e Práticas, de Genebaldo Freire Dias. Esta obra abarca informações básicas conceituais sobre a EA, faz um histórico de suas atividades pelo mundo, sugere mais de cem atividades para sua prática, bem como fornece subsídios para a ampliação dos conhecimentos sobre EA. Expõe as diferentes formas legais de ação individual e comunitária que possibilitam o exercício da cidadania, visando a uma melhor qualidade de vida. Dessa forma podemos concluir que a EA é um dos setores mais importantes do processo educacional, entendido no seu conjunto. Para Ab’Saber (2005), atualmente existe poluição ambiental ocasionada pelo crescimento econômico, através do desenfreado consumismo da população das nações desenvolvidas, assim como existe poluição provocada pela pobreza, em função da dificuldade dos setores menos privilegiados em encontrar espaços e meios para viver e sobreviver. Então, no contexto atual, a EA envolve diversos conhecimentos. Há uma ampla necessidade de conhecer bem e de modo integrado os fatos da natureza, na tentativa de evitar o fracasso das relações entre o ser humano e a natureza. Ainda de acordo com o mesmo autor, teríamos que oferecer uma EA mais adequada, melhor para todos, sem discriminações. Deveríamos pensar em todos os componentes da pirâmide social, desde o topo até a base. Assim, o papel da EA, além de proporcionar a conservação e a preservação do meio ambiente, é praticar a integração saudável do ser humano a este meio, promover a sustentabilidade de maneira eficaz e urgente, levando em conta a gravidade da atual crise ambiental. O papel da EA é fazer a interação socioambiental de forma não apenas na tentativa de salvar o planeta, mas de conscientização dos valores éticos. 163 Neste tópico você estudou que: • A educação ambiental (EA), seja ela formal, não formal ou informal, é uma forma de educação que procura atingir se não toda, mas grande parte da população, por meio de um processo pedagógico participativo e permanente. • Os problemas ambientais e, por consequência, a EA não podem ser tratados de forma isolada e local. • O ponto inicial de interesse pela EA foi a Conferência de Estocolmo (1972) – Conferência de Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano. • A Conferência de Tbilisi é considerada um dos principais eventos sobre a EA do planeta, definindo seus objetivos e suas características, bem como as estratégias pertinentes ao plano nacional e internacional da EA. • A Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999, dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências: a EA é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. • A EA não deve ser entendida como um tipo especial de educação. Refere-se a um longo e contínuo processo de aprendizagem, com o qual todos os indivíduos e instituições (escola, família e comunidade) devem estar envolvidos. • A EA é participativa, comunitária, criativa e valoriza a ação. É uma educação crítica da realidade vivenciada, formadora da cidadania. É transformadora de valores e atitudes através da construção de novos hábitos e conhecimentos, criadora de uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações integradas ser humano/sociedade/natureza objetivando o equilíbrio local e global, como forma de obtenção da melhoria da qualidade de todos os níveis de vida. • MEIO AMBIENTE – EDUCAÇÃO – SOCIEDADE estão intimamente conectados para o estabelecimento de um processo concreto de EA. • A EA foi formalmente instituída no Brasil em 31 de agosto de 1981, quando foi criada a Lei nº 6.938, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). RESUMO DO TÓPICO 2 164 • Constituição brasileira de 1988 (capítulo VI, do Meio Ambiente, art. 225, parágrafo 1º, inciso VI): cabe ao poder público “[...] promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. • A segunda conferência sobre o meio ambiente aconteceu no Brasil, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro e ficou conhecida como aEco-92 ou Rio-92. • MEC: publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental, em 1997. • PCN: um dos objetivos do Ensino Fundamental é que, ao concluí-lo, o aluno seja capaz de “[...] perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente”. • Sustentabilidade significa atender as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as futuras gerações atenderem as suas próprias necessidades. • Diante da problemática ambiental, um dos princípios da EA é proporcionar a toda a sociedade a consciência de adotar comportamentos e atitudes ambientalmente adequadas, possibilitando o desenvolvimento de estratégias que estejam voltadas para a construção de uma sociedade sustentável, ou seja, estabelecer padrões que proporcionem melhor qualidade de vida. 165 AUTOATIVIDADE 1 Como você definiria a educação ambiental? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2 Na sua opinião, qual foi o evento e/ou lei mais importante para a consolidação da EA como política pública? Justifique sua resposta. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 3 Que tal fazer uma atividade que nos leve a uma reflexão sobre nossos hábitos e atitudes? Propomos que liste suas atitudes e/ou hábitos que contribuem para a preservação e conservação do meio ambiente, assim como ações que não estão contribuindo. Depois, tente elaborar outra lista com o que você poderá fazer para contribuir com a qualidade de vida socioambiental. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 166 167 TÓPICO 3 METODOLOGIAS DE ENSINO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste tópico você terá contato com as metodologias de ensino que lhe darão subsídios teóricos e, principalmente, práticos para suas aulas no que tange ao tema meio ambiente e saúde. Num primeiro momento você estudará o tema de maneira geral, e buscaremos manter nosso diálogo sobre o método, a práxis pedagógica, as metodologias e as práticas educativas em relação à educação em saúde e ao meio ambiente. Na sequência de nosso estudo, você será convidado a conhecer diferentes estratégias de ensino e aprendizagem através de exemplos práticos que podem servir de guia para a elaboração de novos projetos. Estamos chegando ao fim de nossa viagem e, neste momento, você já tem bastante bagagem adquirida ao longo do percurso e das paradas nas diferentes estações do conhecimento. Chegamos à estação “metodologias de ensino” e, a partir de agora, partiremos rumo ao último percurso desta viagem. Prepare sua mente para mais uma jornada de conhecimento. Vamos lá! 2 PRÁTICAS EDUCATIVAS: MEIO AMBIENTE E SAÚDE [...] Sou professor pela boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa, mas não desiste. Boniteza que se esvai de minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar. Paulo Freire Na Unidade 2 de nosso Caderno de Estudos iniciamos o diálogo no que se refere à educação dos sujeitos, enquanto prática social, especificamente ressaltando a questão da educação escolar. Como já foi dito, a educação escolar difere dos UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 168 demais modos de educação por contemplar os conhecimentos sistematizados, pertencentes ao processo de conhecer significativo. Corroborando Demo (2005, p. 7), “O contato pedagógico escolar somente acontece quando mediado pelo questionamento reconstrutivo. Caso contrário, não se distingue de qualquer outro tipo de contato”. Sendo assim, a escola, o contexto escolar tem papel fundamental para apreensão, construção e reconstrução dos conhecimentos sistematizados. Se assim não for, vira treinamento e esse não é o objetivo da educação escolar. Para tanto, o papel do professor é fundamental, uma vez que ele é o mediador do processo ensino-aprendizagem. Sendo mediador, significa que se apropriou do conhecimento em questão, para que possa dialogar com o mesmo e estabelecer relações. Isso porque a atividade docente é a prática pedagógica, é ação. Em suma, “[...] a atividade docente é práxis”. (PIMENTA, 2002, p. 83). Práxis significa ação. Ação essa em que “[...] educador e educando aprendem juntos numa relação dinâmica na qual a prática, orientada pela teoria, reorienta essa teoria, num processo de constante aperfeiçoamento”. (GADOTTI, 2001, p. 253). Relação essa – teoria e prática – indissociável e intrínseca uma à outra. Nesse sentido a teoria é envolta pela Pedagogia (conhecer e estabelecer finalidades) e a prática pela educação em si (atividade prática, ação = práxis). (PIMENTA, 2001). Para que essa relação se efetive no contexto escolar, o diálogo entre os envolvidos no processo educativo é fundamental, dentre eles, educador e educando. Diálogo e relação essa em prol da formação de sujeitos críticos, reflexivos e cidadãos, que significa “[...] Desenvolver, desde cedo, a capacidade de pensar crítica e autonomamente, desenvolver a capacidade de cada um tomar suas decisões é papel fundamental da educação para a cidadania”. (GADOTTI, 2004, p. 30, grifo nosso). Educar para a cidadania contempla competências. Competências envoltas pela questão do ensinar, quais sejam: • O PROFESSOR QUE DESPERTA. • O PROFESSOR QUE DIALOGA E PROBLEMATIZA. • O PROFESSOR QUE CONSCIENTIZA. • O PROFESSOR QUE INSTIGA O PENSAMENTO. • O PROFESSOR QUE INSTIGA A TOMADA DE DECISÕES. • O PROFESSOR QUE SE COMUNICA. TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 169 O tópico em questão preconiza as metodologias de ensino. O diálogo que estabelecemos anteriormente contribui para o entendimento do que seguirá a partir desse momento. Dialogaremos com a questão do método, das metodologias possíveis e as práticas educativas no que concerne especificamente à educação em saúde e ao meio ambiente. Partindo do começo... O que é método? Método é o caminho para atingir um objeivo. E método de ensino? É o conjunto de ações, passos, condições externas e procedimentos que o educador utiliza para alcançar seus objetivos no processo educativo. Os métodos de ensino expressam a relação entre conteúdo e método. O método de ensino, pois, implica ver o objeto de estudo nas suas propriedades e nas suas relações com outros objetos e fenômenos e sob vários ângulos, especialmente na sua implicação com a prática social, uma vez que a apropriação de conhecimentos tem a sua razão de ser na ligação com necessidades da vida humana e com a transformação da realidade social. (LIBÂNEO, 1994, p. 151). Método de ensino não é apenas um conjunto de procedimentos (procedimento faz parte dométodo). A escolha referente aos métodos de ensino pauta-se na unidade entre objetivos-conteúdos-métodos. E, para tanto, não há um único método de ensino, o qual dependerá dos conteúdos, das situações didáticas específicas, das características socioculturais e do desenvolvimento dos educandos. Os métodos de ensino apresentam três modalidades básicas (VILARINHO, 1985, p. 52): • Métodos de ensino individualizado: a ênfase está na necessidade de se atender as diferenças individuais, como, por exemplo: ritmo de trabalho, interesses, necessidades, aptidões etc., predominando o estudo e a pesquisa. • Métodos de ensino socializado: o objetivo principal é o trabalho de grupo, com vistas à interação social e mental proveniente dessa modalidade de tarefa. A preocupação máxima é a integração do educando ao meio social e a troca de experiências significativas em níveis cognitivos e afetivos. • Métodos de ensino socioindividualizado: procura equilibrar a ação grupal e o esforço individual, no sentido de promover a relação do ensino ao educando e ao meio social. A escolha do método de ensino deve pautar-se em pontos chaves, tais como: - A necessidade de que o aluno tenha participação ativa no processo ensino- aprendizagem. - Cada atividade tem um potencial pedagógico diferente e limitações específicas. - Não se pode oferecer uma receita didática, mas apenas conceitos e tipologias. - Critérios de escolha a ser considerados, conforme a figura a seguir: UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 170 FIGURA 40 – ESCOLHA DE ATIVIDADES DIDÁTICAS FONTE: Piletti, 2006. OBJETIVOS EDUCACIONAIS FACILIDADES FÍSICAS TEMPO DISPONÍVEL ETAPA NO PROCESSO DE ENSINO EXPERIÊNCIA DIDÁTICA DO PROFESSOR ACEITAÇÃO E EXPERIÊNCIA DOS ALUNOS CONTRIBUIÇÕES E LIMITAÇÕES DAS ATIVIDADES DE ENSINO ESTRUTURA DO ASSUNTO E TIPO DE APRENDIZAGEM ENVOLVIDO Nesse contexto participam também os chamados recursos de ensino – componentes do ambiente de aprendizagem (estimulação para o aluno). Eles podem ser classificados em: • Recursos visuais (projeções, cartazes, gravuras). • Recursos auditivos (rádio, gravações). • Recursos audiovisuais (cinema, televisão). • Recursos humanos (professor, alunos, comunidade escolar como um todo). • Recursos materiais: a) Ambiente: natural (água, folha, pedra etc.); escolar (quadro, giz, cartazes etc.). b) Comunidade: bibliotecas, indústrias, lojas, repartições públicas etc. Tanto a escolha do método de ensino, quanto do recurso de ensino dar-se- ão no processo de construir, planejar e, para tanto, o planejamento do professor é de suma importância. Para o feitio do planejamento, questionamentos básicos se fazem necessários: • O que pretendo alcançar? • Em quanto tempo pretendo alcançar? TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 171 • Como posso alcançar isso que pretendo? • O que fazer e como fazer? • Quais os recursos necessários? • O que e como analisar a situação a fim de verificar se o que pretendo foi alcançado? Apresentamos a seguir possibilidades de metodologias e técnicas para contribuição significativa no processo ensino-aprendizagem: QUADRO 2 – MÉTODOS DE ENSINO Modalidades Básicas Técnicas Aplicações Individualizando Estou dirigindo Estimular método de estudo e pensamento reflexivo. Levar à autonomia intelectual. Atender a recuperação de estudos. Ensino por fichas Revisão e enriquecimento de conteúdos. Instrução programada Apresentação de informações em pequenas etapas e sequência lógica. Permite que o aluno caminhe no seu ritmo próprio. Ensino por módulos Ou Caderno Exploratório Leva o estudante à responsabilidade no desempenho das tarefas propostas. Propõe ao aluno os objetivos a serem atingidos e variadas atividades para alcançar esses objetivos. UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 172 Modalidades Básicas Técnicas Aplicações Individualizando Técnica de Entrevista Visa à obtenção de informações específicas. Oportuniza o desenvolvimento de diversas habilidades; comunicação, interpretação e registo. Técnica de solução de problemas Aplicar o pensamento reflexivo. Descobrir soluções alternativas para determinado problema. Utilizar criativamente sua capacidade. Estudo de Caso Desenvolver o pensamento reflexivo. Apresentar situações da vida em que ele deva tomar decisões. Propiciar situações de vida em que analisando dados desenvolva a capacidade de discernimento. Socializado Discussão em pequenos grupos Estudo de casos Troca de ideias e opiniões face a face. Resolução de informações. Tomada de decisões. Discussão 66 ou Phillips 66 Revisão de assuntos. Estímulo à ação. Troca de ideias e conclusão. Painel Definir pontos de acordo e desacordo. Debate, consenso e atitudes diferentes (assuntos polêmicos) Painel integrado Troca de informações. Integração total (das partes num todo). Novas oportunidades de relacionamento. TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 173 Grupo de cochicho Máximo de participação individual. Troca de informações. Funciona como meio de incentivação. Facilita a reflexão. Discussão dirigida Solução conjunta de problemas. Participação de todos os envolvidos no processo. Brainstorming Criatividade (ideias originais). Participação total e livre. Seminário Estudo aprofundado de um tema. Coleta de informações e experiências. Pesquisa, conhecimento global do tema. Reflexão crítica. Simpósio Divisão de um assunto em partes para estudo. Apresentação de ideias de modo fidedigno. O grupão faz a conferência do que foi apresentado. GVGO ou Grupo na Berlinda Verbalização. Objetividade na discussão de ideias. Capacidade de análise e síntese. Entrevista Troca de informações. Apresentação de fatos, opinões e pronunciamentos importantes. Diálogo Intercomunicação direta. Exploração em detalhe, de diferentes pontos de vista. Palestra Exposição menos fomal de ideias relevantes. Sistematização do conteúdo. Comunicação direta com o grande grupo. Dramatização Representação de situações da vida real. Melhor rendimento e compreensão dos elementos. UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 174 Júri Simulado Analisar e avaliar um fato propostocom objetividade e realismo. Criticar construtivamente uma situação determinada. Dinamizar o grupo para estudar profundamente um tema real. Painel ou Mesa-Redonda Auxiliar o grupo a enfrentar um assunto controvertido. Reproduzir, frente a um grande grupo, o método de discussão dos pequenos grupos. Reunir um grupo de pessoas para juntas buscarem soluções para um dado problema. Fórum Debater um tema ou problema determinado. Obter de maneira informal ideias, opinões de todos os integrantes de um grupo. Propiciar um rápido levantamento de opiniões. Sócio-Individualizado Métodos de Projetos Realiza algo de concreto. Incentiva a resolução de problemas sugeridos pelos alunos. Exige trabalho em grupo e atividades individuais. Método de Problemas Desenvolve o pensamento reflexivo. Desenvolve o pensamento científico. Unidades de Experiências Aplicação do conceitos teóricos na prática. Permite ao aluno uma análise critica e a reconstrução da experiência social. Pesquisa como prática educativa Desenvolve o gosto pelo estudo científico. Leva o aluno a distinguir a pesquisa pura da aplicada. Utiliza-se de diversas técnicas de coleta de dados. Utiliza-se do método científico. FONTE: As autoras TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 175 Ao dialogar sobre os métodos de ensino não podemos deixar de destacar o método de projeto. O projeto contempla questões como: • Vivência e experiência. • Pensamento criativo. • Capacidade de observação. • Cooperação. • Oportunidade de comprovação das ideias. • Iniciativa. • Autoconfiança. • Senso de responsabilidade. O processo de construção dos projetos não é espontaneísta, mas sim planejado, pensado e mediado pelos professores, na relação e troca direta com os alunos. Os projetos contemplam a seguinte estrutura: • TEMA E PROBLEMA • JUSTIFICATIVA • OBJETIVOS • METODOLOGIA• CRONOGRAMA • REFERÊNCIAS Refletindo... Leia o fragmento de texto a seguir: UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 176 TEXTO DE PAULO FREIRE Tinha chovido muito toda noite. Havia enormes poças de água nas partes mais baixas do terreno. Em certos lugares, a terra, de tão molhada, tinha virado lama. Às vezes, mais do que escorregar, os pés se atolavam na lama até acima dos tornozelos. Era difícil de andar. Pedro e Antônio estavam a transportar, numa camioneta, cestos cheios de cacau, para o sítio onde deveriam secar. Em certa altura perceberam que a camioneta não atravessaria o atoleiro que tinham pela frente. Pararam, desceram da camioneta, olharam o atoleiro, que era um problema para eles. Atravessaram a pé uns dois metros de lama, defendidos pelas suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal. Pensaram. Discutiram como resolver o problema. Depois, com a ajuda de algumas pedras e de galhos secos de árvores, deram ao terreno a consistência mínima para que as rodas da camioneta passassem sem atolar. Pedro e Antônio estudaram. Procuraram compreender o problema que tinham de resolver e, em seguida, encontraram uma resposta precisa. Pedro e Antônio estudaram enquanto trabalhavam. Estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema. FONTE: Freire apud Piletti (2006, p. 60-61). Planejar é estudar: analisar, discutir, decidir e agir! Para tanto, a confecção do plano de aula é fundamental. Retomando as questões da didática, o plano de aula contempla as seguintes partes: - UNIDADE DIDÁTICA - OBJETIVOS ESPECÍFICOS - CONTEÚDOS - NÚMERO DE AULAS - METODOLOGIA - RECURSOS - AVALIAÇÃO TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 177 FIGURA 41 – PLANO DE AULA FONTE: As autoras. Compreendendo, a partir dos diálogos anteriormente estabelecidos – ensino, teoria, prática, educador, educando, metodologias de ensino, projetos, plano de ensino – apresentaremos possibilidades de atividades pedagógicas, de ações pedagógicas no que se refere à educação em saúde e meio ambiente. Não se trata aqui de apresentar receitas prontas e acabadas para a temática em questão, mas, sim, elucidar práticas pedagógicas significativas nesse sentido. Os exemplos aqui apresentados contribuirão para novas ideias e possibilidades para o contexto escolar. 2.1 ATIVIDADES PEDAGÓGICAS: SAÚDE Os exemplos compilados a seguir referem-se aos projetos pedagógicos desenvolvidos por professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental, nos anos de 2005 a 2007. Eles estão contemplados em: FERNANDES, Adelaide et al. Práticas pedagógicas de educação em saúde. Rio do Sul: Nova Era, 2008, p. 60- 106. Vamos a eles! UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 178 A SAÚDE DO MEU CENTRO EDUCACIONAL Instituição: Centro Educacional Prefeito Matheus Alves Conceição Objetivo: o módulo I nos coloca a importância da saúde bucal dentro da unidade, o educar para saúde é o mais importante no controle de doenças dentárias. Diante disso, nosso trabalho deverá ser diferenciado na construção de um ambiente saudável para o convívio, a aprendizagem e o trabalho. Conteúdo: estamos atentos à proteção, à contaminação, cuidado com os dentes, sono e repouso são prioridades em nossas unidades. Dentro de cada proposta podemos trabalhar a multidisciplinaridade. Estratégia: porta-escovas, desenhos, teatro, vídeos, colagens, jogos, entre outros são métodos que podem ser usados dentro de sala de aula. HIGIENE E SAÚDE BUCAL Instituição: Centro Educacional Ubrich Hübsch A saúde é definida como um estado de bem-estar físico, mental e social. Em odontologia, a saúde oral caracteriza-se por grande parte de seus esforços para evitar doenças como a cárie dentária, que é a mais frequente encontrada em nossas crianças. As experiências de fazer com as crianças os procedimentos possíveis de execução no ambiente escolar como escovação, revelação de placa bacteriana, por exemplo, podem ter significados importantes na aprendizagem da criança, pois é vendo o outro fazer e praticando que a criança aprende. Sendo assim, o Centro Educacional Ulrich Hübsch vem, através desse projeto contínuo, conscientizar as nossas crianças e suas famílias sobre a importância e a necessidade de bons hábitos de higiene bucal e corporal para se ter saúde, evitando problemas maiores no futuro. Uma grande razão para nos preocuparmos com os nossos dentes é a sua relação com a saúde de nosso corpo como um todo. Em outras palavras, “dente bem cuidado” também pode ser sinônimo de saúde, assim como dentes em mau estado podem provocar ou agravar uma série de doenças em certos órgãos do nosso corpo, como, por exemplo: coração, olhos, ouvidos etc. Isto ocorre porque nossos dentes estão ligados ao restante do nosso organismo pela corrente sanguínea. Também devemos lembrar que os dentes não vivem isoladamente na boca, mas estão ligados diretamente a outros órgãos formando uma família. As metodologias utilizadas foram: textos, pesquisas, visita ao gabinete odontológico, cartazes, maquetes, entrevistas, gráficos, textos coletivos sobre o que as crianças mais gostaram no projeto. A avaliação e a reflexão constante de todos os segmentos que constituem o processo ensino-aprendizagem são uma forma de superar as dificuldades, retomando, reavaliando, reorganizando e reeducando os envolvidos com a construção do conhecimento, esse processo se dá através da interação e mediação. Avaliar passa a ser um processo contínuo, observando a capacidade de construção do conhecimento do educando. TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 179 CONHECENDO-ME ATRAVÉS DO CORPO Instituição: Centro de Educação Infantil Navegantes O presente projeto tem como finalidade incentivar a importância do conhecimento, da comunicação e da expressão do corpo, na personalidade da criança. A partir do momento que nos conhecemos, dominamos, sentimos, aceitamos e respeitamos, temos condições de perceber o mundo que nos cerca com mais clareza. A criança desde cedo vive experiências passando a perceber- se a si própria e aos outros. E nesse tipo de experiência na Educação Infantil constrói-se a identidade e autonomia da criança, adquirindo o conhecimento e desenvolvimento em diferentes situações na vida. Sua construção é gradativa e se dá por meio de interações sociais estabelecidas pela criança. No universo inicial da criança, alargam-se possibilidades ao conviver com outras crianças e com adultos de origens e hábitos culturais diversos, ao aprender várias e novas brincadeiras envolvendo-se com seu corpo e com o corpo de seus colegas. A imagem, “o espelho [é] um importante instrumento para a construção da identidade”. Por meio das brincadeiras a criança conhece e reconhece o seu corpo. Nesta faixa etária de 3 a 4 anos a criança aprimora sua imagem corporal, diferenciando o “eu” do outro e construindo sua identidade. Este projeto procura potencializar a criança a descobrir e conhecer o seu próprio corpo, dando importância a cada parte dele, sendo também tema para estudar outras áreas do conhecimento, em interdisciplinaridade. “Toda atividade que utiliza o corpo da criança, dando importância como instrumento de ensino, seja manipulando objetos, ou realidades de experiências, desenvolve as áreas sensório-perceptivo- motoras indispensáveis à aprendizagem. Pode-se dizer que o dado mais concreto, real e permanente é que a criança possui o seu próprio corpo, e é nele que ficam registradas todas as experiências, as sensações e os sentimentos. O corpo é o ponto de referência para qualquer aprendizado”. (FISCHER, Juliane). ALIMENTAÇÃO, VIDA E SAÚDE Instituição: Centro Educacional Roberto Machado O presente trabalho tem como finalidade educar para a saúde, buscando meios que levam os alunos a criar bons hábitos de alimentação, cultivando aspectos saudáveis no seu dia a dia. Diante desta proposta, em primeiro lugar deixaremos os alunos manifestar suas opiniões sobre o assunto, a partir das quais daremos continuidade ao trabalho. Sabendo-se que ensinar e aprendernão podem se resumir ao simples fato de o professor transmitir conhecimento e o aluno ser mero receptor, os educandos serão agentes participativos na elaboração deste projeto. As situações do cotidiano dos alunos são tomadas como ponto de partida para as posteriores discussões dos conteúdos, tendo como referência o conhecimento prévio dos alunos, tanto nas suas vivências pessoais dentro como fora da escola. Para isso partiremos para pesquisas, elaboração de conceitos, cartazes, jogos, livretos, informativos, entrevistas, filmes, visitas, sempre voltados ao tema abordado, enfatizando a importância que a UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 180 alimentação exerce na vida humana, tornando-se essencial e indispensável para o desenvolvimento saudável do corpo e da mente. As atividades relacionadas à temática, além de serem trabalhadas em diferentes níveis de dificuldades, visto que o trabalho será realizado por alunos de diferentes faixas etárias, será socializado entre as turmas do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental, com o objetivo de ampliar o conhecimento dos educandos. Conclui-se, portanto, que é necessário educar para promover atitudes positivas na formação de hábitos e posturas alimentares que, consequentemente, refletirão nas atitudes dos alunos, da família e da sociedade. A educação é o melhor alimento. BRINCANDO E APRENDENDO JUNTAMENTE COM A ALIMENTAÇÃO E A SAÚDE Instituição: Centro Educacional Dr. Romão Trauczynski Brincando e aprendendo juntamente com a alimentação e a saúde bucal no dia a dia das crianças deve ser um novo método de ensino trabalhado em conjunto com a escola e a família. Assim se dá um novo rumo ao cotidiano que atualmente se resume em brincar e frequentar um centro educacional, pois é inerente à idade que seja assim. Quando brinca, a criança está adentrando o mundo dos adultos e, consequentemente, imitando-os. Desta forma as crianças estão preparando-se para o futuro, buscando significados para os atos dos adultos. Para a criança o ato de brincar é mais que um simples passatempo, é através das experiências vivenciadas no ato de brincar que ela situa-se e adentra um mundo novo, um mundo de significado por vezes um tanto obscuro. Quando vemos uma criança repetir inúmeras vezes uma determinada brincadeira, precisamos entender que para ela é a maneira mais eficaz de encontrar o significado almejado e necessário para seu desenvolvimento. Durante o desenvolvimento psicomotor, as crianças desenvolvem suas habilidades, motoras, psíquicas; é através de brincadeiras carregadas de significados que ocorrem as sinapses (conexões nervosas entre os neurônios) que servirão de base na vida adulta. A escola, ciente desse fato, e nós, na qualidade de educadores, devemos ter sensibilidade ao detectar as brincadeiras que podem ser utilizadas para: a) ensinar conceitos e criar o hábito de uma boa alimentação e saúde bucal; b) interiorizar uma nova consciência nas crianças e consequentemente nas famílias e na sociedade como um todo; c) construir conhecimentos através de jogos e brincadeiras; d) criar o hábito e manter a disciplina de escovação diária. Percebemos atualmente em nossa sociedade muitas doenças que ocorrem devido a hábitos errados na alimentação, que sem sombra de dúvidas foram aprendidos e interiorizados em tenra idade. Esta constatação nos obriga a repensar nossas atitudes em sala de aula e buscar fontes alternativas de construir os conceitos e o saber, visando a uma melhora na qualidade de vida de nossos futuros cidadãos (atualmente nossos pequenos alunos). Muitos destes atos e hábitos são apreendidos em nossas famílias, por meio de imitação e da observação das pessoas mais velhas de nossa casa. O ambiente familiar, quando equilibrado e bem estruturado, propicia momentos TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 181 de lazer e agradável espaço para a aprendizagem. Até há pouco tempo acreditava-se que nossos mestres e educadores, ou seja, nossos professores, eram responsáveis pela educação de nossos filhos; mas está comprovado que tanto a escola como a família possuem vital importância no processo de apreensão e transmissão do conhecimento. No ambiente escolar podemos produzir de modo formal e sistematizado uma parte do ambiente familiar e assim ensinar conceitos e bons hábitos alimentares e de saúde bucal. O ato de brincar e aprender caminha juntamente com a alimentação e a saúde bucal. [...] as estratégias utilizadas pelo professor neste projeto foram várias brincadeiras, utilizando jogos, tais como: boliche, jogo da memória, amarelinha, dominó amigo dos dentes. [...] A IMPORTÂNCIA DA BOA ALIMENTAÇÃO Instituição: Escola de Educação Básica Professor Frederico Navarro Lins A alimentação é usualmente tema de interesse das pessoas, porém, na prática, percebe-se que poucas apresentam comportamento alimentar sadio, quer seja por falta de conhecimento, quer seja por influência social e cultural dos meios de comunicação. O consumo exagerado de determinados alimentos em detrimento de outros mais necessários à saúde tem gerado níveis preocupantes de desnutrição e de casos de obesidade na infância. Também é importante ressaltar que uma boa alimentação é indispensável para a boa formação dos dentes, ou seja, alimentação saudável desde a infância significa qualidade de vida. “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente, ausência de doença.” (OMS). Objetivos: reconhecer a importância de uma alimentação equilibrada para a manutenção da saúde; levar os alunos a perceberem os próprios hábitos alimentares e modificar alguns; saber que a alimentação aliada à prática de esportes é fator essencial de vida saudável e corpo sadio; oportunizar aos alunos o contato com a horta escolar; propor atividades que possam viabilizar o plantio, a colheita, o preparo e o consumo de alimentos; compreender o que vem a ser saúde e que esse estado é condicionado por vários fatores de ordem física, mental e social; saber que os alimentos precisam ser transformados pelo corpo em nutrientes, com os quais são obtidos os materiais e a energia que uma pessoa necessita; saber que uma boa digestão envolve uma boa mastigação; reconhecer os dentes molares, incisivos e caninos e saber para que servem os dentes; reconhecer que a saúde dos dentes está associada a hábitos de higiene (escovação) e que dessa forma é possível prevenir a formação de cáries; reconhecer a responsabilidade de cada um na aquisição de hábitos saudáveis de vida; formular questões e propor soluções para problemas reais; pesquisar sobre frutas nativas e outras; conhecer vida e obra de Tarsila do Amaral e Jorcely S. Mendonça. Conteúdos: alimentos para ter saúde e crescer; por que você precisa UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 182 comer?; alimentar-se bem; dieta balanceada; pirâmide alimentar; o que é obesidade; o que é educação alimentar; o paladar e os alimentos; o sistema digestório; mastigação e dentes; para que servem os dentes; cuidados com o corpo; diversidade étnica; alimentação também é cultura; alimentos e nutrientes; vitaminas e suas funções; higiene alimentar e seus benefícios; doenças transmitidas por alimentos; alimentos obtidos de plantas, de animais e alimentos minerais; os vários usos das plantas, as diversidades; como trabalhar em uma horta; educação fiscal. Estratégias: confecções de livros e cartazes; pesquisa com familiares e entrevista com colegas sobre preferência alimentar; gráficos sobre frutas e verduras preferidas; criação de um painel de pinturas feitas com frutas nativas pintadas; releitura da obra “Natureza Morta” – 1923 – de Tarsila do Amaral; releitura da obra “Natureza Morta” de Jorcely S. Mendonça com papietagem, desenho e pintura; releitura da obra “Feira” de Tarsila do Amaral, usando modelagem com massinha sobre papelão (alto relevo); criação, pelos alunos, de um arranjo com frutas; acrósticos; paródias; teatro; pesquisas; confecçãoe distribuição de panfletos; trabalhos na horta escolar; colheita, preparo e degustação de alimentos; vídeo “Como cuidar bem dos dentes”; música; adivinhações; produção de textos; confecção de uma boneca para trabalhar todo o corpo com relatórios da higiene pessoal; conversa com pais sobre a escovação; visita mensal do dentista e da assistente para orientações, diagnósticos, revelação de placas e escovação; palestra com nutricionista; coletânea de quadrinhas sobre as frutas. Avaliação: a avaliação foi feita pelos professores e alunos em todas as etapas das atividades desenvolvidas de maneira investigativa e diagnóstica, respeitando a maneira de como o aluno constrói seu conhecimento, tendo o erro como ponto de reflexão na busca de soluções e alternativas para que haja a construção do conhecimento. A IMPORTÂNCIA DA HIGIENE NA SAÚDE DA CRIANÇA Instituição: Centro de Educação Infantil Prefeito Danilo Lourival Schmidt O presente projeto tem como finalidade despertar o interesse para a importância dos hábitos de higiene, bem como ter consciência que determinadas atitudes e procedimentos básicos de higiene são de suma importância para a manutenção da saúde e prevenção de doenças. Considerando as especificidades afetivas, sociais e cognitivas de cada criança, a qualidade das experiências oferecidas pode contribuir para o desenvolvimento de cada uma, pois primar pela saúde integral da criança é uma constante preocupação dos profissionais que atuam na Educação Infantil. Por isso possibilitamos a ampliação desses cuidados, contribuindo para que a criança adquira hábitos de cuidado com o próprio corpo, de descanso, higiene mental, alimentação, entre outros, valorizando assim a saúde social e coletiva. Sabemos que o cuidar e o educar são indissociáveis e através de ações contínuas contribuímos para a formação da personalidade TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 183 da criança, do autocuidado, autonomia, auxiliando no desenvolvimento da qualidade de vida de cada um. Proporcionamos um ambiente de cuidados que considere as necessidades das diferentes faixas etárias e das famílias, integrando o conhecimento entre pais e escola, sistematizando uma comunicação regular. A participação das famílias é essencial para o sucesso dos projetos propostos pela unidade. A criança transforma o meio em que vive e se modifica nessa transformação através de suas particularidades. Partindo desse pressuposto e respeitando o jeito próprio de cada criança, iniciamos um trabalho de investigação para o autocuidado e o autoconhecimento onde o lúdico se fez presente em todas as atividades. Foram realizadas atividades com as crianças em frente ao espelho para identificarem as partes do seu corpo, identificarem os colegas e perceberem as diferenças e semelhanças entre eles. Também realizaram movimentos com a língua e identificação dentária, pois o espelho é um importante instrumento para a construção da identidade. Fizemos um faz de conta com jornal, onde se reproduziu o hábito do banho diário e como ele deve ser realizado nas diversas partes do corpo para prevenir algumas doenças que são causadas pela falta do banho. Confeccionamos o mural da higiene com os produtos necessários para a higiene diária, mural da escovação, para identificação dos produtos nela utilizados, mural da alimentação, pois a alimentação faz parte do processo educativo e é uma parte importante do desenvolvimento infantil. É ela que fornece os nutrientes necessários para um crescimento saudável, e é importante que a criança perceba a necessidade de ingerir uma diversidade de alimentos (o colorido). Houve contação de histórias para o desenvolvimento da atenção, concentração e imaginação. Ensinamos cantigas sobre alimentação e escovação, que a criança acompanha com os movimentos do corpo, tais como: palmas, danças e sons. É a partir dessa relação entre o gesto e o som que a criança, ouvindo, cantando, imitando, dançando, constrói seu conhecimento sobre a música. A música contribui para o enriquecimento da linguagem da criança e favorece a socialização, o desenvolvimento de seu senso de ritmo e o uso do corpo de maneira expressiva. Escovação e alimentação que fazem parte da rotina diária têm grande importância para que adquira esses hábitos. Banho em bonecas serve para estímulo do hábito diário e percepção da temperatura através do tato. Recorte e colagem sobre o corpo humano estimulam a criatividade da criança para iniciar as suas produções. Conversas diárias para facilitar a memorização da importância dos hábitos. Garrafas coloridas para percepção de cores e formas e teatro de bonecos que envolveram o Centro de Educação Infantil todo, trabalhando através do diálogo como deve ser feita a escovação, os cuidados para uma alimentação adequada e a importância do hábito da escovação. No decorrer deste projeto o desenvolvimento das atividades propostas possibilitou uma aprendizagem efetiva e transformadora de atitudes e hábitos de higiene, mas também percebemos que as ações educativas preventivas não têm um fim em si: são um processo lento e contínuo, e não basta à criança se interessar pelo conteúdo no momento proposto. Esse interesse deve ser incentivado para que perdure por toda sua vida. SUGESTÃO DE ATIVIDADE: PESQUISANDO A UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 184 MEMÓRIA DO AMBIENTE Muitas vezes os temas ambientais foram tratados de forma muito geral, como se existissem fora do tempo e do espaço, sem história. Ideias soltas e descontextualizadas como: “devemos amar a natureza”, “as plantas são importantes” ou “o verde é bom”, não dizem nada a ninguém, não instigam a pensar. Uma das melhores maneiras de evitar que a EA fique pairando nas ideias gerais é enraizá-la na concretude do tempo histórico e no espaço social. Assim, que tal propor uma pesquisa que vise recuperar a história natural e social do lugar onde atua o educador e onde vivem os educandos? Isso pode ser feito de vários modos, tais como: • escutando histórias dos mais velhos sobre como era o lugar no passado; • pesquisando na história escrita as transformações sociais e ambientais ali ocorridas desde as primeiras ocupações da região; • consultando antigos documentos e jornais em busca de opiniões e disputas que envolveram diferentes visões da natureza e do uso dos bens ambientais; • investigando os modos de vida que conviveram ali em tempos passados (em harmonia ou em conflito) e deixaram alguma marca na paisagem e nos costumes do lugar. EXPLORANDO OS MOVIMENTOS DO MEU CORPO Instituição: Centro Educacional Daniel Maschio OBJETIVO GERAL: Vivenciar uma proposta metodológica que possibilite a aprendizagem do bebê, através de estímulos e observações, assim ajudando a formar a sua personalidade e desenvolvendo seus sentidos. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Oportunizar um ambiente prazeroso, significativo e estimulador; propiciar situações prazerosas com o bebê; procurar desenvolver a capacidade de expressar seu pensamento e suas emoções; desenvolver a coordenação dos grandes e pequenos músculos; interagir com os outros bebês e com os adultos; desenvolver o autoconceito; fazer com que se sinta aceito e compreendido; descobrir e construir o conhecimento da realidade física e social que o cerca; propiciar possibilidades para o bebê sentir, perceber, conhecer e organizar as sensações do seu corpo em relação ao mundo que o cerca; despertar a curiosidade; promover passeio de modo que o bebê aprenda coisas novas; massagens, o toque estimula o bebê a expressar seus sentimentos, prazer, raiva, riso ou choro; apresentar atividades lúdicas, contar histórias infantis proporcionadas através de livros emborrachados; introduzir a música na vida dos bebês, ajudando-os no desenvolvimento de sua mente; estimular várias aptidões como: motricidade, coordenação, linguagem etc. JUSTIFICATIVA: Desde o momento do nascimento o bebê está TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 185 aprendendo. Nessafase, predominam os movimentos, são as emoções o canal privilegiado de interação do bebê com o adulto e com as outras crianças. O diálogo afetivo que se estabelece com o adulto é caracterizado pelo toque corporal, pelas modulações da voz, por expressões cada vez mais cheias de sentido. O bebê imita e também tem suas próprias reações (balança o corpo, bate palmas, vira ou levanta a cabeça etc.). Sendo assim o bebê realiza importantes conquistas (sustentação do próprio corpo, virar-se, rodar, sentar etc.). Ao observar um bebê, pode-se concluir que é grande o tempo que ele dedica à exploração do próprio corpo. Aquisições como a locomoção representam importantes conquistas, consolidando-se como instrumento de ação sobre o mundo, aprimorando-se conforme as oportunidades que se oferecem ao bebê de explorar o espaço, manipular objetos, realizar atividades diversificadas e desafiadoras. Corpo e motricidade são o meio de expressão da criança no período fundamental do desenvolvimento que vai do nascimento aos três anos. Nos bebês a possibilidade de sentar, engatinhar, ficar em pé evidencia os diferentes momentos da aprendizagem e seu desenvolvimento interno, que determina o quando e o quanto o bebê é capaz de fazer. Quer-se com esse projeto proporcionar instrumentos para que o bebê amplie suas ações, operando estímulos em quantidade e qualidade, de forma simples e natural, fazendo com que o bebê se desenvolva e modifique sua atuação, sua forma de ver e sentir o mundo. Então temos o dever de ensinar o bebê enquanto ele brinca, descrevendo sempre o que está acontecendo. METODOLOGIA: Oferecer revistas e papéis; acompanhar o bebê através de fichas conforme o estágio no qual se encontra; música com gestos utilizando a fala; oferecer o contato com tinta guache; verbalizar todas as ações efetuadas com o bebê; brincar ao ar livre; contar histórias com gestos expressivos; possibilitar ao bebê o contato com a terra, areia, barro, pedra, madeira etc.; passeios diversos; exploração de diversos tipos de materiais com texturas diversificadas; imitação, jogo de expressão facial; oferecer brinquedos variados e bem coloridos; massagear o corpo do bebê; trabalhos com sucatas (garrafas coloridas). FONTE: Adaptado de: FERNANDES, Adelaide et al. Práticas pedagógicas de educação em saúde. Rio do Sul: Nova Era, 2008, p. 60-106. 2.2 ATIVIDADES PEDAGÓGICAS: MEIO AMBIENTE [...] É preciso aprender a ser coerente. De nada adianta o discurso competente se a ação pedagógica é impermeável à mudança. Paulo Freire Caro acadêmico, você acompanhou os vários exemplos de atividades pedagógicas que podem ser realizadas com a temática saúde. A partir de agora vamos conhecer algumas estratégias que podem ajudar você na hora de trabalhar com seus alunos a temática meio ambiente. UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 186 Uma maneira de trabalhar esta e outras temáticas é por meio de projetos, os quais proporcionam, se bem orientados pelo professor, uma participação ativa do aluno ao invés do ensino tradicionalista centrado no professor. Para tanto, o professor deve criar uma atmosfera de trabalho na escola a fim de estimular o aluno a fazer experiências, procurar respostas para suas necessidades e inquietações, ajudando e sendo ajudado por seus colegas e buscando no professor alguém que organize o trabalho. (NOVA ESCOLA, 2008). A seguir observe a sequência, proposta por Hernández e Ventura (1998, p. 82), de síntese da atuação do professorado e dos alunos no projeto de trabalho: FIGURA 42 – SÍNTESE DE ATUAÇÃO NO PROJETO DE TRABALHO 20. Estabelecer uma nova sequência. 19. Conhecero próprio processo e em Relação ao grupo. 18. Análise do processo individual de cada aluno: Que aprendeste? Como trabalhaste? 17. Contraste entre a avaliação e a auto-avaliação. 15. Favorece, recolhe e interpreta as contribuições dos alunos. Avaliação. 16. Auto-Avaliação. 13. Facilita meios de reflexão, recursos, materiais, informação pontual. Papel de facilitador. 14. Trabalho Individual: ordenação, reflexão sobre a informação. 10. Planeja o trabalho (individual, em pequeno grupo, turma). 12. Realiza o tratamento da informação a partir das atividades. 11. Apresenta atividades. 9. Preestabelecer atividades. 8. Compartilham propostas, buscam um consenso organizativo. 5. Pré-sequencializa os possíveis conteúdos a trabalhar em função da interpretação das respostas dos alunos. 6. Realiza propostas de sequenciação e ordenação de conteúdos. 7. Busca fontes de informação; elabora um índice. 3. Seleciona os conceitos, procedimentos que prevê que possam ser tratados no Projeto. 4. Realiza a avaliação inicial: O que sabemos ou queremos saber sobre o tema? 1. Estabelece os objetivos educativos e de aprendizagem. 2. Estabelece a possibilidade do tema. POR PARTE DO PROFESSORADO POR PARTE DOS ALUNOS FONTE: Hernández; Ventura (1998, p. 82). TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 187 Como você pode ver, os projetos de trabalho têm como função contribuir para a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares, no que se refere: [...] 1) o tratamento de informação, e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação a informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio. (HERNÁNDEZ; VENTURA, 1998, p. 62, grifos dos autores). Essas estratégias contribuem muito na apropriação dos conhecimentos de modo significativo e envolto por sentidos principalmente para os alunos, uma vez que estes participam ativamente das atividades e se percebem inseridos no processo ensino-aprendizagem. UNI Caro acadêmico, no que se refere às teorias sobre projetos de trabalho, Fernando Hernández é um pesquisador, conhecedor e autor de muitas obras. Portanto, fica a sugestão de leitura das obras do autor para aprofundamento na temática. FONTE: Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/pensadores-da-educacao/ fernando-hernnndez.shtml>. Acesso em: 24 jan. 2012. Observe alguns exemplos de temas que podem ser desenvolvidos com seus alunos por meio de projetos: • Utilizando a água das chuvas • Reaproveitando materiais: aprendendo a reciclar • Tratamento do lixo: coleta seletiva • Conscientização ecológica: economizando água • Conscientização ecológica: economizando energia • Reciclar: quando o lixo vira brinquedo • Biodiversidade: conhecer para preservar • Energia eólica: a energia do vento UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 188 • Educação ambiental na escola: educar para a vida • Alimentos orgânicos e o meio ambiente • Alimentação saudável: horta escolar • Poluição ambiental: tem lixo fora da lixeira UNI Você consegue perceber a riqueza de trabalhos que podem ser desenvolvidos com seus alunos? Caro acadêmico, trabalhar com projetos nem sempre é o caminho mais fácil. Muitas vezes o professor prefere abrir o livro didático, pedir que seus alunos façam a leitura e no final respondam ao questionário. Mas será que é para esse tipo de práxis pedagógica que você está se preparando? Certamente não! Nossos alunos estão cada vez mais “antenados” nas novidades e isso deve ser usado a seu favor em sala de aula. Não se feche para as novas tecnologias da informação, não tenha medo de propor um projeto sobre EA que envolva não só sua turma, como toda a comunidade escolar. Invente, (re)crie, construa com seus alunos as possibilidades de aprendizado e permita que eles participem ativamente de todas as etapas dessa construção. Como vimos ao longo de nosso estudo, a escola tem um papel importante na formação dos cidadãos e é, em grande parte, responsável pela educação desses indivíduos. Assim, para que ocorra um processo concreto de educação para o meio ambiente é fundamental que, concomitante ao desenvolvimento do conhecimento, sejamos capazes de desenvolveratitudes e habilidades necessárias não só à preservação dos recursos, como também à melhoria da qualidade ambiental. Trabalhar com projetos na educação, como já dissemos, pode gerar muito trabalho, porém, se for bem realizado, trará muito conhecimento e transformações tanto para você, professor e mediador desta atividade, como para o aluno. TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 189 DICAS Leia este livro. Edson Travassos descortina, através desse texto, concepções e práticas vigentes em EA nas escolas. Busca a efetivação da EA nas escolas de forma que ela não se resuma a atividades esporádicas ou festivas, mas que contribua para a formação da cidadania: é leitura obrigatória para todos os professores. Alerta o autor sobre a importância de uma visão interdisciplinar da educação ambiental, não se restringindo esse compromisso às disciplinas de ciências biológicas e muito menos permanecendo essa prática restrita às salas de aula. TRAVASSOS, E. G. A prática da educação ambiental nas escolas. Porto Alegre: Mediação, 2004. Após esta breve contextualização sobre os projetos de trabalho, chegou o momento de aprender através de exemplos. Observe alguns modelos de atividades pedagógicas e/ou projetos que podem ser desenvolvidos por você e seus alunos, adaptados à realidade da sua comunidade escolar. Exemplo 1 MEIO AMBIENTE FÍSICO E SEUS ELEMENTOS Instituição: Centro de Educação Infantil Tia Bea A questão ambiental vem sendo considerada cada vez mais importante pela população. O contato com a natureza é de fundamental importância para a criança e o professor, oferecendo oportunidades diversas para que ela possa descobrir sua riqueza e beleza. Para isso é preciso promover o contato dos alunos com a natureza e enfatizar a importância da preservação do meio ambiente direcionando o enfoque na horta escolar, direcionando os elementos do meio físico. Fazer passeios por parques e locais de área verde, manter contato com pequenos animais, pesquisar em livros a diversidade da fauna e da flora, principalmente brasileiras, são algumas das formas de se promover o interesse e a valorização da natureza pela criança. Devemos oportunizar à criança dos quatro aos seis anos vivenciar experiências envolvendo a horta, plantando e mexendo na terra, manifestando opiniões, hipóteses e ideias. Utilizar formas de registros das observações: desenhos, pinturas, teatro, dramatizações, cantos etc. A escola deve resgatar não somente as tradições, mas o seu significado para a população local. Deve-se pesquisar sobre as diversas plantas a ser plantadas e presenciar o crescimento, a colheita e, por final, degustar os alimentos com todos os colegas que participaram do projeto. Devemos sensibilizar a criança em relação aos problemas ambientais, mostrando que o futuro está em suas UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 190 mãos, no ar que respiramos, na água que bebemos, onde e como vivemos. Cada ser vivo, seja animal ou vegetal, depende de seus recursos: ar, água e solo para sobreviver. A avaliação será feita através de um portfólio e de um processo de aprendizagem e sobre as condições oferecidas, para que ela possa ocorrer. Não se dá somente no momento final do trabalho, é tarefa permanente, instrumento indispensável à constituição da prática pedagógica, comprometida com o desenvolvimento da criança. FONTE: FERNANDES, Adelaide et al. Práticas pedagógicas de educação em saúde. Rio do Sul: Nova Era, 2008. Exemplo 2 Projeto de Educação Ambiental Parque Cinturão Verde de Cianorte A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA A escola é o espaço social e o local onde o aluno dará sequência ao seu processo de socialização. O que nela se faz, se diz e se valoriza representa um exemplo daquilo que a sociedade deseja e aprova. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis. Considerando a importância da temática ambiental e a visão integrada do mundo, no tempo e no espaço, a escola deverá oferecer meios efetivos para que cada aluno compreenda os fenômenos naturais, as ações humanas e sua consequência para consigo, para sua própria espécie, para os outros seres vivos e o ambiente. É fundamental que cada aluno desenvolva as suas potencialidades e adote posturas pessoais e comportamentos sociais construtivos, colaborando para a construção de uma sociedade socialmente justa, em um ambiente saudável. Com os conteúdos ambientais permeando todas as disciplinas do currículo e contextualizados com a realidade da comunidade, a escola ajudará o aluno a perceber a correlação dos fatos e a ter uma visão holística, ou seja, integral do mundo em que vive. Para isso a EA deve ser abordada de forma sistemática e transversal, em todos os níveis de ensino, assegurando a presença da dimensão ambiental de forma interdisciplinar nos currículos das diversas disciplinas e das atividades escolares. A fundamentação teórico-prática dos projetos ocorrerá por intermédio do estudo de temas geradores que englobam palestras, oficinas e saídas a campo. Esse processo oferece subsídios aos professores para atuarem de maneira a englobar toda a comunidade escolar e do bairro na coleta de dados para resgatar a história da área para, enfim, conhecer seu meio e levantar os problemas ambientais. TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 191 Os conteúdos trabalhados serão necessários para o entendimento dos problemas e, a partir da coleta de dados, para a elaboração de pequenos projetos de intervenção. Considerando a EA um processo contínuo e cíclico, o método utilizado pelo Programa de Educação Ambiental para desenvolver os projetos e os cursos de capacitação de professores conjuga os princípios gerais básicos da EA. (SMITH apud SATO, 1995). Compreensão Cidadania Competência Responsabilidade Sensibilização Princípios gerais da educação ambiental: • sensibilização: processo de alerta, é o primeiro passo para alcançar o pensamento sistêmico; • compreensão: conhecimento dos componentes e dos mecanismos que regem os sistemas naturais; • responsabilidade: reconhecimento do ser humano como principal protagonista; • competência: capacidade de avaliar e agir efetivamente no sistema; • cidadania: participar ativamente e resgatar direitos e promover uma nova ética capaz de conciliar o ambiente e a sociedade. A educação ambiental, como componente essencial no processo de formação e educação permanente, com uma abordagem direcionada para a resolução de problemas, contribui para o envolvimento ativo do público, torna UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 192 o sistema educativo mais relevante e mais realista e estabelece uma maior interdependência entre estes sistemas e o ambiente natural e social, com o objetivo de um crescente bem-estar das comunidades humanas. Se existem inúmeros problemas que dizem respeito ao ambiente, isto se deve em parte ao fato de as pessoas não serem sensibilizadas para a compreensão do frágil equilíbrio da biosfera e dos problemas da gestão dos recursos naturais. Elas não estão e não foram preparadas para delimitar e resolver de um modo eficaz os problemas concretos do seu ambiente imediato, isto porque a educação para o ambiente, como abordagem didática ou pedagógica, apenas aparece nos anos 80. A partir desta data os alunos têm a possibilidade de tomar consciência das situações que acarretam problemas no seu ambiente próximo ou para a biosfera em geral, refletindo sobre as suas causas, e determinar os meios ou as ações apropriadas na tentativa de resolvê-los. As finalidades desta educação para o ambiente foram determinadas pela UNESCO, logo após a Conferência de Belgrado (1975) e são as seguintes: Formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas a ele relacionados, uma população que tenha conhecimento, competências, estado de espírito, motivações e sentido de empenhamento que lhe permitam trabalhar individualmente e coletivamentepara resolver os problemas atuais, e para impedir que eles se repitam. PROPOSTAS DE TRABALHO: • levantamento do perfil ambiental das escolas (se possui área verde, horta, separação de lixo etc.); • levantamento dos projetos que estão sendo desenvolvidos nas escolas; • acompanhamento de projetos específicos nas escolas que serão desenvolvidos pelos professores (horta comunitária, reciclagem de lixo, bacia hidrográfica como unidade de estudo, trilhas ecológicas, plantio de árvores, recuperação de nascentes etc.); • mobilização de toda a comunidade escolar para o desenvolvimento de atividades durante a Semana do Meio Ambiente, com finalidade de conscientizar a população sobre as questões ambientais; • realização de campanhas educativas utilizando os meios de comunicação disponíveis, imprensa falada e escrita, TV Cinturão Verde, distribuição de panfletos, fôlder, cartazes, a fim de informar e incentivar a população em relação à problemática ambiental; TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 193 • promover a integração entre as organizações que trabalham nas diversas dimensões da cidadania, com o objetivo de ampliar o conhecimento e efetivar a implementação dos direitos de cidadania no cotidiano da população. Com o intuito de levar às escolas e à comunidade o conhecimento necessário para a construção da cidadania, serão envolvidos diferentes órgãos que asseguram os direitos e deveres de cada indivíduo na sociedade. Entre esses órgãos podemos citar a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros, a Vigilância Sanitária, IAP etc. Serão trabalhados temas relacionados à melhoria da qualidade de vida da população, por exemplo: • lixo (redução, reutilização e reciclagem); • lixo hospitalar (destinação); • água (consumo, desperdício, poluição); • florestas (por que preservá-las?); • fogo (prevenção, efeitos negativos ao meio ambiente); • agrotóxicos (riscos para a saúde, danos ambientais); • caça ilegal; • respeito aos animais silvestres e domésticos; • drogas; • DSTs – doenças sexualmente transmissíveis; • segurança no trânsito; • respeito ao próximo; • noções de saúde (higiene, prevenção de doenças); • cidadania (direitos do cidadão) etc. Ao implementar um projeto de educação para o ambiente, estaremos facilitando aos alunos e à população uma compreensão fundamental dos problemas existentes, da presença humana no ambiente, da sua responsabilidade e do seu papel crítico como cidadãos de um país e de um planeta. Desenvolveremos, assim, competências e valores que conduzirão a repensar e avaliar de outra maneira as suas atitudes diárias e as suas consequências no meio ambiente em que vivem. UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 194 Como o aluno irá aprender a propósito do ambiente, os conteúdos programáticos tornar-se-ão uma das formas de tomada de consciência, tornando-se mais agradáveis e de maior interesse para o aluno. Através de parcerias firmadas entre a APROMAC (Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte); Prefeitura de Cianorte; Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente (SEMMAM); Divisão do Meio Ambiente; Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMMA) e Ministério Público serão desenvolvidas ações e atividades diferenciadas conforme a realidade de cada local/região. Através de atividades e ações programadas, objetivamos promover a sensibilização da população cianortense sobre a importância e a necessidade da preservação e da conservação do Parque Cinturão Verde, visto que esta área é de fundamental importância socioambiental para o município de Cianorte. Ainda a população abrangida pelo projeto receberá conhecimentos de cidadania, saúde, higiene e segurança. Para o acompanhamento e avaliação das atividades será redigido relatório mensal, em que serão descritas todas as tarefas desenvolvidas sendo apresentado ao COMMA e a APROMAC, ficando disponível a todos para consulta. ANEXO 01 QUESTIONÁRIO – LEVANTAMENTO DO PERFIL AMBIENTAL DA ESCOLA 01- Nome da escola 02- Nome do diretor(a) 03- Tel.: 04- Quantos professores atuam na escola? 05- Quantos alunos estão matriculados? 06- Quantos residem na zona rural? 07- A escola desenvolve projetos na área ambiental? ( ) Sim ( ) Não 08- Quais são os projetos que estão sendo desenvolvidos atualmente? 09- Quantos professores estão envolvidos no desenvolvimento dos projetos? TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 195 10- Como é a participação e o envolvimento dos alunos nos projetos? 11- Quais são as principais dificuldades encontradas pelos professores que desenvolvem projetos? 12- Os professores são incentivados e motivados para desenvolver pequenos projetos ou atividades ambientais com seus alunos? 13- A escola possui área arborizada, horta, ou outros espaços que poderão ser utilizados para trabalhar educação ambiental? 14- Na escola existe o processo de separação do lixo produzido pela comunidade escolar? 15- O que é feito com o lixo separado? 16- Os professores realizam atividades com os alunos fora da escola? Quais são os principais locais utilizados pelos professores? 17- A escola realiza visitas a campo, para trabalhar a realidade local sobre as questões ambientais? 18- Dos locais abaixo relacionados, assinale quais já foram visitados pelos alunos sob orientação dos professores. ( ) Trilha da Peroba ( ) Trilha do Fantasminha ( ) Pista de caminhada ( ) Bosque da Igreja Matriz ( ) Parque do Cinturão Verde Módulo Mandhuy ( ) Nascentes ( ) Rios (nome do rio) ( ) Captação de água da SANEPAR – Rio Bolívar ( ) Sistema de tratamento e abastecimento de água da SANEPAR – Centro ( ) Estação de Tratamento de Esgoto – ETE ( ) Aterro Sanitário ( ) Biblioteca Municipal Outros locais não citados: FONTE: Disponível em: <http://www.apromac.org.br/ea005.htm>. Acesso em: 24 jan. 2012. UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 196 Exemplo 3 PROJETO EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA TEMA: Gerenciamento de resíduos sólidos em nossa escola. JUSTIFICATIVA: Cuidar do meio ambiente é responsabilidade de todos e a escola é um local favorável ao processo holístico na educação ambiental. Sabendo que as escolas são grandes geradoras de resíduos sólidos, é importante que trabalhemos no sentido de envolver nossos alunos e educadores para que essa situação seja modificada, formando novos hábitos. OBJETIVOS GERAIS - Alertar sobre o problema da grande produção de lixo pelos seres humanos e estudar conceitos importantes como: Coleta Seletiva, Reciclagem do Lixo, Lixo e outros que se fizerem necessários. - Possibilitar aos alunos e educadores aquisições de conhecimentos, desenvolvendo habilidades de: resolver problemas, mudanças na prática de valores e atitudes ambientalmente adequadas no nosso cotidiano. OBJETIVOS ESPECÍFICOS - possibilitar a todos conhecimentos, sentido de valores, interesse ativo e atitudes necessárias para respeitar, proteger e melhorar o meio ambiente; - conscientizar alunos e educadores da nossa escola sobre a importância da mudança de hábitos, para melhorar as condições ambientais; - levantar com os/as alunos/as problemas ambientais existentes na escola e possíveis soluções; - reduzir o consumo de água, energia, alimentos, materiais em geral (folha, toner, materiais usados na secretaria). DESENVOLVIMENTO DO PROJETO Estratégias de ações: - Essa campanha será desenvolvida a partir do processo holístico de educação ambiental, no qual serão criadas equipes multiplicadoras do 1º e 2º ciclo. - Teatro sobre o lixo. - Vídeos. - Equipe de alerta sobre o assunto. - Simulação da Coleta Seletiva. - Estudos teóricos sobre: ar, água, solo, energia. - Excursões: aterro sanitário e parque ecológico. Resultados esperados: - proporcionar mudança de postura tanto na escola quanto na comunidade; TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 197 - construção de valores para toda a vida; - melhora na qualidade de vida dos alunos e educadores; - avaliação do projeto com os educadores e alunos. FONTE: Disponível em: <http://partilhandosugestoesescolares.blogspot.com/2010/02/projeto-educacao-ambiental-na-escola.html>. Acesso em: 25 jul. 2011. DICAS Muitas sugestões de atividades pedagógicas relacionadas à educação ambiental você pode encontrar na obra de Isabel Cristina de Moura Carvalho, intitulada Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. DICAS Caro acadêmico, os dois exemplos que você verá a seguir estão no site da revista Educação Ambiental em Ação. Se você estiver muito cansado(a), antes de continuar a leitura de seu Caderno de Estudos, faça uma pequena pausa, mude um pouco a metodologia e conheça o site <http://www. revistaea.org/>. Navegue pela revista e aproveite para ler muitos outros artigos relacionados ao tema. Vamos nos encontrar na sequência para fazer o fechamento do tópico! Exemplo 4 ABORDAGEM DO TEMA TRANSVERSAL MEIO AMBIENTE, EM UMA ESCOLA DO ENSINO FUNDAMENTAL, ATRAVÉS DE JOGOS EDUCATIVOS RESUMO A educação ambiental (EA) atua na mudança de comportamentos e atitudes em relação à problemática ambiental. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) incluem a EA como tema a ser inserido transversalmente nas diversas áreas do conhecimento. A partir da implantação de jogos educacionais este tema pode ser trabalhado de forma inovadora. A elaboração de instrumentos pedagógicos criativos, como jogos educativos, pode facilitar o processo ensino- aprendizagem. Tal recurso didático propicia o desenvolvimento de habilidades que favorecem o processo educativo. O estudo analisou a abordagem do UNIDADE 3 | MEIO AMBIENTE E SAÚDE: 198 tema meio ambiente em uma escola do Ensino Fundamental e elaborou um material didático para ser utilizado como instrumento facilitador em sala de aula. Os dados obtidos revelaram a carência de ferramentas inovadoras no desenvolvimento da EA. O jogo “Ideias Verdes” foi elaborado a fim de auxiliar na inserção da EA pelos educadores e fornecer aos alunos uma proposta lúdica no aprendizado. Palavras-chave: educação ambiental, temas transversais, jogos didáticos. FONTE: SILVA, Monalisa Rodrigues Oliveira da; CASTRO, Carla Soraia Soares de. Disponível em: <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1034&class=21>. Acesso em: 24 jan. 2012. Exemplo 5 AÇÕES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES DA VILA DA BARCA EM BELÉM/PA: UMA PROPOSTA DE CONSCIENTIZAÇÃO RESUMO Este artigo tem como objetivo relatar ações já realizadas e reavaliar o percurso em desenvolvimento do projeto de extensão universitária “Educação Ambiental em Ação: práticas pedagógicas, cidadania e lazer para crianças e adolescentes da comunidade da Vila da Barca”. As ações foram elaboradas a fim de sensibilizar o público alvo para a mudança de postura diante do meio ambiente em que vivem. Para atender a este objetivo, o projeto entende que antes é preciso compreender como os envolvidos na pesquisa percebem o meio no qual estão inseridos, “Vila da Barca”, e atuar no potencial das crianças e adolescentes participantes. De forma sistemática e dinâmica, se destacam neste artigo quatro atividades já realizadas com o grupo e que estimulam a reflexão, possibilidades e questionamentos. O método avaliativo incluiu pesquisa por observação participativa. Para os registros das informações durante as atividades foram elaboradas atas, relatórios individuais e análise interpretativa dos trabalhos das crianças. Os resultados obtidos oferecem sugestões para novas ações a serem desenvolvidas no projeto e demonstram que as atividades possibilitaram questionamentos e provocaram a revelação de sentimentos sobre esta comunidade por parte dos integrantes. Proporcionaram também a abertura de um espaço de confiança e respeito ao olhar e à fala da criança e do adolescente sobre a comunidade da Vila da Barca, ultrapassando a assimilação passiva e a reprodução automática. Palavras-chave: educação ambiental, sensibilização, Vila da Barca. FONTE: LUCAS, Flávia Cristina Araújo; COSTA, Danilo Gomes da; GERMANO, Carolina Mesquita; VEIGA, Andréa Aquino de Andrade. Disponível em: <http://www.revistaea.org/artigo. php?idartigo=1035&class=21>. TÓPICO 3 | METODOLOGIAS DE ENSINO 199 Você já deve ter percebido que as questões relativas ao meio ambiente, seja a crise ambiental ou a educação ambiental, são partes integrantes do contexto escolar. Neste sentido, ao longo de todo nosso percurso, procuramos interagir com conhecimentos práticos e teóricos, no intuito de conceber a educação escolar como um processo heterogêneo, múltiplo, crítico, reflexivo, pautado nos sujeitos que dela fazem parte e visando à formação de sujeitos cidadãos. Isso será possível à medida que cada professor, cada profissional que atua na educação escolar agir de modo consciente, crítico, comprometido e mediador. Deve também constituir-se no constante aprender a aprender e na infinita capacidade de admirar-se com que está ao nosso redor, com o meio ambiente do qual somos parte integrante. Esperamos que você tenha gostado de nossa viagem e que os conhecimentos construídos aqui sirvam de ponte para novas descobertas, novas leituras, novos aprendizados. 200 Neste tópico você estudou que: • A educação escolar difere dos demais modos de educação por contemplar os conhecimentos sistematizados, pertencentes ao processo de conhecer significativo. • O papel do professor é fundamental, uma vez que é o mediador do processo ensino-aprendizagem. • Método é o caminho para atingir um objetivo. • Método de ensino é o conjunto de ações, passos, condições externas e procedimentos que o educador utiliza para alcançar seus objetivos no processo educativo. • Os métodos de ensino expressam a relação entre conteúdo e método. • Os métodos de ensino apresentam três modalidades básicas: métodos de ensino individualizado; métodos de ensino socializado; métodos de ensino socioindividualizado. • Métodos de ensino individualizado: a ênfase está na necessidade de se atender as diferenças individuais, como, por exemplo: ritmo de trabalho, interesses, necessidades, aptidões etc., predominando o estudo e a pesquisa. • Métodos de ensino socializado: o objetivo principal é o trabalho de grupo, com vistas à interação social e mental proveniente dessa modalidade de tarefa. A preocupação máxima é a troca de experiências significativas em níveis cognitivos e afetivos e a integração do educando ao meio social. • Métodos de ensino socioindividualizado: procura equilibrar a ação grupal e o esforço individual, no sentido de promover a relação do ensino ao educando e ao meio social. • Os projetos de trabalho, realizados no contexto escolar, proporcionam, se bem orientados pelo professor, uma participação ativa do aluno, ao invés do ensino tradicionalista centrado no professor. • A escola tem um papel importante na formação dos cidadãos e é, em grande parte, responsável pela educação desses indivíduos. RESUMO DO TÓPICO 3 201 AUTOATIVIDADE 1 Ao longo de todo nosso estudo você teve oportunidade de conhecer vários exemplos de atividades pedagógicas relacionadas ao tema meio ambiente e saúde, eixo principal de nosso diálogo. Agora é com você, construa um plano de ensino para cada uma das temáticas a seguir: a) Alimentação e saúde. b) Meio ambiente e qualidade de vida. 202 203 REFERÊNCIAS AB’SABER, A. Educação ambiental. SENAC e Educação Ambiental, São Paulo, ano 14, n.1, jan./abr. 2005. ARROYO, Miguel. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. BASSO, Cláudia de F. R.; CHAVES, Laura. Organização do trabalho pedagógico na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Blumenau: Edifurb; Gaspar: SAPIENCE Educacional, 2009. BENETTI, L. B. Recursos naturais, meio ambiente e desenvolvimento. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2009. BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao. htm>. Acesso em: 1 maio2011. _______. Decreto-Lei nº 2.519, de 16 de março de 1998. 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