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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIRElTO DE RIBEIRÃO PRETO MONITORIA DE DIREITO ROMANOdcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA C a s o 1 Dos fatos Caio, recém-casado, parte para a guerra na Gália, com os exércitos de Júlio César. Um ano mais tarde chega a notícia de que Caio fora capturado pelos gauleses e, segundo os boatos, já estaria morto há muito tempo, em razão dos maus-tratos recebidos no cativeiro. Cláudia, esposa de Caio, apresenta então uma criança de dois meses como única herdeira de seu marido. Os parentes de Caio, no entanto, acusam Cláudia de adultério, e suspeitam que o verdadeiro pai da criança seja Tício. O caso é levado ao pretor. Que atitude tomará o magistrado? Do Direito 1. C o n c e ito d e p re s u n ç ã o - ocorre quando há aceitação como verdadeiro de um fato provável. o Presunção iu r is ta n tu m - é a relativa, que admite uma prova em contrário. o Presunção iu r is e t d e iu re - é a absoluta, ou seja, não admite qualquer tipo de prova contrária. • É o caso da p re s u n ç ã a a b s o lu ta d a re s iu d ic a ta a . Por exemplo, se uma das partes provar que a outra alega algo que não seja verídico, após a sentença do juiz, de nada vale. 2 . F ic ç ã o - é consideração de um fato inverídico como verdadeiro. Por exemplo, no Direito Brasileiro, consta a máxima de que "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece". No Direito Romano, também possuímos um tipo de ficção: o F ic t io L e g is C o rn e lia e - se um cidadão romano é pego como prisioneiro de guerra, considera- se que morreu antes de ser pego como prisioneiro. Isso se dá para fins de proteção ao "sujeito de direito", pois a escravidão computa em perda do s ta tu s l ib e r ta t is . Da decisão 1. Deve-se perceber que o bebê nasceu cerca de dez meses após a partida de Caio para a guerra. A respeito disso, sabe-se que: o Se o nascimento ocorrer até 300 dias após o fim da convivência conjugal - p re s u n ç ã o iu r is ta n tu m de que o Caio seja o pai. Isso atende a uma máxima do direito romano de que "o pai de fato é aquele que as núpcias demonstram". Nesse caso, os pais de Caio podem provar o contrário, porém o ônus da prova cabe exclusivamente a eles. o Se o nascimento ocorrer após 300 dias após o fim da convivência conjugal - p re s u n ç ã o iu r is e t d e iu re de que o Caio não seja o pai. 2. Caso os pais de Caio provarem que o bebê não é dele após a sentença do juiz, de nada valerá em função da presunção absoluta da res iudicata. 3. Outro ponto da decisão toca sobre a sucessão. A morte de Caio não foi constatada. Apenas é um boato. Não há presunção de morte no Direito Romano. Cabe ao interessado apresentar provas de morte para os efeitos de sucessão. o Por exemplo, no Direito Brasileiro, a presunção de morte é usado no caso de falecimento de familiares cujos corpos não foram encontrados. U N IV E R S ID A D E D E S Ã O P A U L O F A C U L D A D E D E D IR E IT O D E R IB E IR Ã O P R E T O M O N IT O R IA D E D IR E IT O R O M A N O zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA CASO 02 1. Dos/atos Durante a guerra, uma mulher estrangeira é capturada e vendida em Roma como escrava. Cinco meses mais tarde, essa escrava dá à luz uma criança, a qual nasce defeituosa, sem um dos braços. Logo depois morre o proprietário da escrava, e em seu testamento verifica-se que ele concedia liberdadeNMLKJIHGFEDCBAà mulher, sem, no entanto, fazer referência ao recém-nascido. A mulher procura então um jurista e lhe pede que explique em detalhes qual é a situação jurídica dela e da criança. Se você fosse esse jurista, o que lhe responderia? 2 . D o Direito Capacidade jurídica de gozo é a faculdade ou aptidão do homem para que adquira direitos e fique sujeito a obrigações, tendo como requisitos da pessoa natural. A pessoa no Direito Romano traz a existência a partir do nascimento com vida e com forma humana, sendo que o nascimento é a possibilidade de vida extrauterina do feto. Os sabinianos defendiam a constatação a partir de quaisquer sinais de vida, como os movimentos do bebê; os proculianos defendiam a constatação através de um vagido/gemido do bebê. Vale ressaltar que os direitos do nascituro são resguardados, ainda que não seja pessoa. Para ter capacidade jurídica de gozo, temos essas três possibilidade dedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAs ta tu s : a) Status Libertatis - é a condição do homem livre, ou seja, não escravo. Lembrando que o escravo não é coisa, mas é tratado juridicamente como se o fosse. • Nascimento - o filho de uma escrava, no momento do nascimento, nasce como escravo ainda que o pai fosse um homem livre. Isso ocorre porque, no Direito Romano, o filho acompanha a situação jurídica da mãe • F a v o r l ib e r ta t is é um instituto do D ire ito Ju s tin ian eu segundo o qual a criança nasceria livre se a mãe, em algum momento durante a gestação, tivesse sido livre. • Inimigos de guerra eram tidos como escravos. Se um cidadão romano fosse capturado imediatamente seus direitos em Roma ficavam suspensos. Se ele conseguisse libertar-se e voltar ao território romano, readquiria esses direitos. • Dívidas tinham a possibilidade de serem adimplidas com o próprio corpo, mas foi extinta pela L e x P o e te l ia P a p ir ia de 326 a.c. (Direito Quiritário). • M a n u m is s io - é o ato de libertação do escravo pelo seu senhor. M a n u m is s io v in d ic ta é a manumissão realizada através de um simulacro de um processo jurídico, em que o magistrado tocava ritualmente o escravo com uma pequena vara, dando-lhe liberdade. M a n u m is s io C e n s u é aquela em que o dono inscreve o escravo como livre em um censo. M a n u m is s io T e s ta m e n t i é aquela em que o dono, ao morrer, deixa testamentada a liberdade do escravo. Como consequências da M a n u m is s io , temos os libertos, os quais são os que foram libertados pelas causas do iu s c iv i le . Aquele que nunca foi considerado escravo, é ingênuo. b) Status Civitatis • C iv e s é o cidadão romano, que apresenta plena Capacidade Jurídica de Gozo. Para tal, era necessário o nascimento de justas núpcias ou mesmo fora delas, desde que a mãe fosse cidadã romana no momento do parto. Os filhos nascidos de um matrimônio misto - em que um dos cônjuges fosse estrangeiro - seguiam a condição de estrangeiro. • L a t in i são os habitantes da região do Lácio, exceto da U rb e . Tinham capacidade jurídica de gozo semelhante à dos cidadãos romanos. Essa categoria foi extinta pela L e x lu l ia d e c iv ita te em 90 a.c., que estendia a cidadania romana a todos os habitantes do Lácio. • L e x P l a u t i a P a p i r i a zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(89 a.C}: estende a cidadania a todos os aliados de Roma. • P e r e g r i n i são os estrangeiros propriamente ditos que estavam subordinados a Roma. Eles não tinham capacidade jurídica de gozo no concernente aos direitos e obrigações do i u s c i v i l e . Entretanto, a eles se aplicavam as regras do i u s g e n t i u m . • C o n s t i t u i t i o A n t o n i a n a (212 d.C.): estendeu a cidadania romana a todos os habitantes do Império. Ulpiano a ela se remete: I n o r b e r o m a n o q u i s u n t e x c o n s t i t u t i o n e i m p e r a t o r i s a n t o n i n i c i v e s r o m a n i e f f e e t i s u n t . (Ulp. 22 ad ed. D. 1, 5, 17: Todos os que estão no mundo romano foram feitos cidadãos romanos pela constituição do imperador Antonino). c) S t a t u s F a m i l i a e é a condição familiar do homem livre. Diferentemente do direito atual, no Direito Romano o que podemos chamar de "pátrio poder" não se extingue pela maioridade do filho. • P a t e r f a m i l i a s é o ascendente masculino mais velho, que detém a p a t r i a p o t e s t a s , inclusive o i u s v i t a e a e n e c i s sobre seus a l i e n i i u r i s . • S u i l u r i s é quem não está sobre a p a t r i a p o t e s t a s de nenhumdcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAp a te r fa m il ia s , uma vez que este é o único su i i u r i s da família. • A l i e n i l u r i s são aqueles que estão sob a p a t r i a p o t e s t a s de algum p a te t fa m il ia s . d) C a p i t i s D e m i n u t i o é a alteração em um dos três s t a t i . Pode dar-se de três formas: Máxima, média e mímina. • C a p i t i s D e m i n u t i o M a x i m u m é a perda do S t a t u s L i b e r t a t i s . Perde-se automaticamente, ao tornar-se escravo, também, o S t a t u s F a m i l i a e e o S t a t u s C i v i t a t i s . • C a p i t i s D e m i n u t i o M e d i u m - perde-se a cidadania romana, como, v.g., ao sofrer condenação ao exílio. Acarreta, também, a perda do S t a t u s F a m i l i a e . • C a p i t i s D e m i n u t i o M i n i m u m - ocorre pela mudança do estado familiar, por adoptio, adrogatio ou casamento cum manum. 3 . D a s o l u ç ã o Vale ressaltar que ao se tornar escrava, ela sofreu uma c a p i t i s d e m i n u t i o m á x i m a bem como sofreu s t a t u s l i b e r t a t i s . Ela estava provavelmente grávida de quatro meses quando foi libertada e, pelo p r i n c í p i o d o f a v o r l i b e r t a t i s , a criança não mais seria considerada escrava no Direito Justinianeu. A liberdade foi concedida pela m a n u m i s s i o t e s t a m e n t i em favor da mulher. Seus efeitos não recairiam automaticamente sobre o filho já nascido, pois ela seria escravo a menos que tenha sido beneficiado com o f a v o r l i b e r t a t i s . Como a m a n u m i s s i o recaiu sobre a mulher enquanto estava grávida, o bebê é livre e ingênuo. Se fosse no Direito Quiritário, ao receber a m a n u m i s s i o , os efeitos também não seriam revertidos no bebê, o qual seguiria a situação da mãe ao nascer. Ressaltamos que a m a n u s s i m i o t e s t a m e n t i é uma forma de transmissão da ius civile, ou seja, a mulher adquire a cidadania romana, ficando na condição de liberta, a qual faz com que a capacidade jurídica da mulher seja limitada. A criança favorecida pela f a v o r l i b e r t a t i s não recebe a cidadania e continua como estrangeiro, embora fosse ingênuo. Além disso, a mulher e o bebê não estão sujeitos a nenhum p a t r i a p o t e s t a s de nenhum p a t e r f a m i l i a s . Mesmo após a manumissio, a não ser que a mãe, ao tornar cidadã romana, seja adotada por um romano ou contraísse um casamento cum m a n u m . U N IV E R S ID A D E D E S Ã O P A U L O F A C U L D A D E D E D IR E IT O D E R IB E IR Ã O P R E T O M O N IT O R IA D E D IR E IT O R O M A N O dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA C A S O NMLKJIHGFEDCBA3 M eu ro te iro zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 1. Perguntar se eles querem dar uma refrescada na matéria ou já partimos para a solução do caso. 2. Analisar cada objeto do caso e ver se são ou não frutos. 3. Fazer com que eles classifiquem cada coisa do caso 4. Conceito de fungibilidade D o s F a to s Caio é usufrutuário de uma fazenda pertencente a Ticio. Findo o prazo do usufruto, Caio devolve a Ticio o imóvel em perfeito estado. Ticio descobre, porém, que durante esse tempo Caio havia retirado verduras da horta de seu imóvel, peixes de um rio que por ali passava e ouro de uma mina nele existente, e havia tomado para si todos os bezerros e escravos nascidos na fazenda durante o tempo do usufruto. Sentindo-se lesado, Ticio exige a devolução de todas essas coisas. Que orientação você daria a Caio se fosse seu advogado? D o D ire ito Começamos com o conceito de coisa no Direito Romano. A coisa, ou re s em latim, é o ente com valor econômico que pode ser objeto das relações jurídicas. De acordo com a classificação, temos: a )DCBAR e s in C o m m e r c iu m e t R e s E x t r a C o m m e r c iu m - são aquelas suscetíveis ou não a relações patrimoniais privadas. São divididas entre: • R e b u s O iv in i lu r is , ou seja, aquelas que apresentam alguma função religiosa; • R e b u s H u m a n i lu r is : Colocadas fora de patrimônio por necessidade da natureza humana . . / ' R e b u s C o m m u n e s o m n iu s - são coisas comuns a todos os homens; coisas que não podem ser apropriadas pelos particulares em sua totalidade, em sua massa, por pertencerem à natureza, como o ar, o mar, dentre outros . . / ' R e b u s P u b lic a e : São as coisas de uso público, como ruas, praças, dentre outros . . / ' R e b u s C o rp o ra t io n n e s : São aquelas de uso por grande número de pessoas em conjunto, como teatros, banhos, estádios, dentre outros. b) C o is as C o rp ó reas e In co rp ó reas - coisas Corpóreas são aquelas que podem ser apreendidas pelos sentidos, como um livro e uma cadeira. Já as coisas incorpóreas são aquelas só percebidas pelo intelecto, como um Direito. c) R e s M a n c ip i e t R e s N e c M a n c ip i - as R e b u s M a n c ip i são coisas para cuja alienação era necessário um ato solene, formal, conhecido como m a n c ip a t io . Estão nessa categoria o s im ó v e is , o s e s c r a v o s , o s a n im a is d e t i r o e c a r g a (c a v a lo s , v a c a s , b u r r o s ) e as s e r v id õ e s p r e d ia is d e a q u e d u to e d e p a s s a g e m ; ocorriam nas coisas de maior valor econômico-social em uma economia agrícola. Já as R e b u s N e c M a n c ip i são coisas que eram alienadas por um ato simples. - d ) C o is as F u n g ív e is e C o is as In fu n g ív e is -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBACoisas fungíveis são aquelas que podem ser substituídas por outras de iguais quantidade, gênero e espécie, como farinha, arroz, metal, etc ... Já as infungíveis são aquelas especificamente consideradas sendo, assim, impossível sua substituição por outra de mesma espécie, como um quadro, uma estátua. e ) C o is as C o n su m íve is e In co n su m íve is - Coisas consumíveis são aquelas que se consomem com seu uso normal, como alimentos e bebidas. Já as inconsumíveis são aquelas que permitem uso repetido, como estátuas, vasos, roupas. f) C o is as D iv is ív e is e C o is as In d iv is ív e is - Coisas divisíveis são aquelas que podem ser divididas sem que cada uma das partes perca seu valor proporcional ao todo, como terrenos, colheitas. Já as indivisíveis são aquelas que, se divididas, cada parte perde seu valor proporcional ao todo, como uma estátua, um animal, dentre outros. g ) C o is as S im p le s , C o is as C o m p o s ta s e C o is as U n iv e rs a is - Coisas simples são as que formam um todo orgânico, como um animal; compostas são aquelas que formam um todo mecânico, como um navio; coletivas ou universais são compostas de várias coisas simples, formando um todo ideal, como um rebanho, por exemplo. h ) C o is a M ó ve l e C o is a Im ó ve l- as coisas móveis são aquelas que são dotadas de mobilidade, podem ser movidas sem a alteração de sua substância ou forma, como uma cadeira. Pensemos nos Semoventes, que são aqueles que apresentam a capacidade de se moverem sozinhas, como uma vaca. Já as coisas imóveis são as que não apresentam mobilidade, ou que sua mobilidade implica na perda de sua substância, como um terreno ou uma casa. i) C o is a P rin c ip a l e C o is a A cessó ria - coisa principal é aquela a que a coisa acessória está unida em relação de dependência, já que a principal existe por si só, como um terreno. Coisa acessória é aquela que está ligadaNMLKJIHGFEDCBAà principal e, assim, segue o princípiodcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAa c e s s ó r io s e g u e o p r in c ip a l. Exemplo: uma árvore ou uma casa construída sobre o terreno. 085 : as pertenças, que são coisas autônomas postas em serviço da principal, de modo estável ou como ornamento daquela. O liame com a principal é mais tênue, por exemplo, instrumentos agrícolas em uma fazenda. Os frutos são coisas novas produzidas natural e periodicamente pela coisa principal, a qual nessa relação é chamada de frugífera. Lembremos que sua percepção ("colheita") não implica a alteração da coisa frugífera. Os frutos podem ser classificados como naturais, civis (rendas, alugueres ...) e industriais (decorrentes da atividade humana). As crias dosanimais são consideradas frutos. O mesmo não acontece com o parto das escravas (P a r tu s A n c ila e ) e, por isso, os escravos são tratados como coisa infungível. Vale ressaltar que os - frutos pertencem ao proprietário da coisa frugífera, co m exceção n o caso d e u su fru to , quando estes pertencem ao usufrutuário o u em caso s d e b en s d ad o s em an tic re se , em que os frutos pertencem ao credor anticrético. As benfeitorias são despesas feitas em melhoria de uma coisa alheia. Podem ser Necessárias (se não feitas, acarretam o perecimento da coisa - telhado novo), Úteis (aumentam a utilidade ou o rendimento da coisa - pintura nova) e Voluptuárias (feitas para deleite ou luxo - piscina). Como usufrutuário, Caio tem direito aos frutos da fazenda. Porém, é necessário analisarmos cada um dos objetos envolvidos no caso concreto. Vale ressaltar que Caio deve devolver a fazenda da exata maneira como encontrou. Quanto às verduras, não há dúvidas que são frutos, portanto Caio tem direito a elas. Quanto aos peixes: como o rio flui pelo imóvel, os peixes sempre passarão por ali e, desse modo, poderão ser caracterizados como frutos. O rio pertence à fazenda por acessão ao solo (essa lógica segue o pensamento do acessório segue o principal). No entanto, se o rio for público, ele é alheio ao imóvel e, desse modo, Caio não teria direito aos peixes. Quanto ao ouro, sabemos que os minérios são considerados recursos esgotáveis, portanto, não são frutos e sim produtos. Como o ouro é coisa fungível, Caio deve devolver a mesma quantidade de ouro da mesma qualidade que retirou, não necessariamente o mesmo ouro (devido ao conceito de fungibilidade ); Quanto aos escravos nascidos na fazenda, sabemos que os escravos não são frutos (PartusdcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA A n c ila e ) . Então, Caio deve devolver os escravos que tomara para si, já que cada escravo tem suas características e habilidades pessoais, o que lhe dá o tratamento de coisa infungível, apesar de não ser coisa. Quanto aos bezerros, nesse caso, só são considerados frutos do rebanho após a compensação dos que vieram a morrer. Ou seja, Caio só teria direito se o número de cabeças de gado fosse maior ao número inicial. Exemplo: havia inicialmente 10 vacas, nasceram 5 e morreram 3 ao longo do usufruto, ?~sse modo, C~io t~ria 9ireito a 2 ?ezerros. ~.e S8JJotm;;:qu~_a a - - v Da DecisãoNMLKJIHGFEDCBA 0 8 8 : sobre a dúvida a respeito do usufruto nas coisas consumíveis - conversei com o Professor Hirata e ele me disse que isso foi encontrado em apenas um fragmento. Paira um pouco de dúvida a respeito dessa possível regra. Logo, em tese, não há explicações e nem elucidação sobre como isso se daria na prática do Direito Romano. Além disso, o professor Hirata disse que a aplicação das coisas consumíveis para o instituto de usufruto seria um tanto quanto difícil. Logo, não aplicaremos essa regra para a solução do caso. - U N IV E R S ID A D E D E S Ã O P A U L O F A C U L D A D E D E D IR E IT O D E R IB E IR Ã O P R E T O M O N IT O R IA D E D IR E IT O R O M A N O C A S O 04 D o s fa to s :zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAO órfão Públio, de dez anos de idade, convence por meio de gestos o surdo-mudo Mévio a comprar seu cavalo por um preço substancialmente acima do mercado. Ao saber do ocorrido, o paterfamilias de Mévio vai se queixar ao Tutor de Públio, o qual, no entanto não aceita a reclamação e se opõe à anulação da compra e venda. Diante da recusa, o indignado pai procura um jurista, pedindo orientação quantoNMLKJIHGFEDCBAà possibilidade de anular o negócio. D o D ire ito : O tema central do caso é aDCBAc a p a c id a d e d e a g i r , a qual é a capacidade de agir em nome próprio em uma relação jurídica; aptidão para a prática de atos com efeitos jurídicos. Para que o sujeito pudesse realizar a capacidade de agir, eram considerados a idade, sexo, sanidade mental e a prodigalidade. a)dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAId a d e - a puberdade era definida pela capacidade de procriação, o que trazia também uma capacidade intelectual para os romanos. • Impúberes eram homens menores de 14 anos e as mulheres menores de 12 anos. Esses impúberes dividiam-se em infantes (menores de 7 anos e absolutamente incapazes) e os infantia maiores (maiores de 7 anos até a puberdade, com capacidade relativa). Estes últimos poderiam realizar atos jurídicos que não prejudicasse seu patrimônio. Em caso de prejudicialidade em obrigações que trouxessem a renúncia de direitos ou oneração de direitos, era necessária a presença do tutor para a celebração do negócio jurídico. • " P ú b e r e s eram aqueles qu-eapresentavam desenvolvimento corporal completo pela idade de 12 anos para as mulheres e 14 anos para os homens. Proculianos e Sabinianos divergiam desse ponto. Os Sabinianos defendiam um exame físico para comprovação do desenvolvimento corporal, o que ia contra ao que os Proculianos entendiam e o direito justinianeu aplicou este último entendimento. • L e x L a e to r ia estabeleceu que os menores de 25 anos poderiam requerer nulidade dos atos jurídicos que os tivessem lesado se não tivesse a assessoria de um representante. b) Sexo - mulheres eram relativamente incapazes. Eram incapazes para atos que reduzissem o patrimônio. Seus atos necessitavam de um tutor até o século IV d.e. c) S a n id a d e M e n ta l • F u r io s i eram os que apresentavam momentos de lucidez; estão sujeitos à curatela e os negócios jurídicos celebrados durante a lucidez eram apreciados caso a caso. • D e m e n t i e t m e n te c a p t i eram absolutamente incapazes. d) P ro d ig a lid a d e - aquele que põe em risco o patrimônio familiar por gastar demais e, por isso, sua capacidade é limitada ao instituto da curatela. e) S u rd o s - m u d o s - capacidade limitada quando contraem atos solenes e formais, nos quais a voz é necessária. Sobre os a to s ju r íd ic o s : a) F a to s ju r íd ic o s , que podem ser involuntários ou voluntários e que geram consequências jurídicas e que podem ser aquisição, modificação ou extinção de direitos. b)dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAA to s J u r íd ic o s e A to s J u r íd ic o s S tr ic tu S e n s u - Ato jurídico lícito pode ser entendido como uma ação humana que produza efeitos jurídicos. Eles compreendem os atos jurídicos stricto sensu e os negócios jurídicos. O ato strictu sensu é a ação humana que, para gerar efeitos jurídicos, ou basta uma certa intenção do agente ou uma declaração não negocial de vontade. c) N e g ó c io J u r íd ic o é a manifestação de vontade que visa um fim prático, tutelado pela ordem jurídica, de se criar efeitos jurídicos e não é conhecida pelos romanos.DCBA C la s s i f ic a ç ã o d o s n e g ó c io s ju r íd ic o s a) Unilaterais: Há apenas uma declaração de vontade, como o testamento. b) Bilaterais: Manifestação da vontade de duas ou mais pessoas, como a locação. c) Onerosos: A cada uma das partes implica em vantagens e desvantagens, como a compra e venda. d) Gratuitos: Não há desvantagens para as partes, como a doação. E le m e n to s e s s e n c ia is d o N e g ó c io são aqueles sem os quais o negócio jurídico não é válido. Capacidade (de fato e de direito) das partes, legitimidade, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e manifestação de vontade isenta de vícios. E le m e n to s e c id e n te is são termo, condição e encargo. Por condição entendemos um evento futuro e incerto que subordina a prodNMLKJIHGFEDCBA. i ç ã o ou a cessação dos efeitos de um negócio jurídico. Termo é um acontecimento futuro e certo de que depende a exigibilidade ou a cessação de efeitos do negócio jurídico. Encargo é um ônus imposto ao beneficiário.TSRQPONMLKJIHGFEDCBA D a D ec is ão : Públio, ~or ser considerado infantia maior, poderia realizar atos que o favorecessem sozinho. Ou seja, somente pod l praticar atos que impliquemHGFEDCBAe m entrada de bens em seu patrimônio. Ainda que haja a alienação de parte ( e seu patrimônio, pela entrega do cavalo a Mévio, temos um negócioque favorece Públio na medida em que o preço é substancialmente maior que o de mercado. No caso, não estamos tratando do desfazirne. to do negócio, mas sim sobre a obrigação de Mévio pagar o preço. iViévio, por ser surdo-. nudo, possui cap-acidade limitada apenas para atos solenes ou formais. Como o negócio é em benefício do Públio, Mévio não pode anular o negócio por meio da menoridade, haja vista que este instituto somente beneficia o incapaz e opera em seu benefício. Recebendo o cavalo, Mévio deve realizar o pagamento. A respeito da capacidac.e de direito e a capacidade de agir: a) Públio tem capacidade de direito, pois é s u i iu r is e não possui p a te r fa m í lía s . No entanto, não tem capacidade de fato, pois é menor e tem tutor. b) Mévio tem a capacidade de fato para atos não verbais, mas não tem capacidade de direito porque se subordina ao p a te r fa m í lía s . ~------------------------------------------------------------- - - - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO MONITORIA DE DIREITO ROMANOdcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA C A S O 05 Dos fatos: A camponesa Semprônia vendeu a Caio duas vacas prenhes. Dias depois, uma das vacas pariu um bezerro; um exame veterinário revelou, no entanto, que a prenhez da segunda vaca sra :~p9n8Saparente. Semprônia procura Caio, acreditando ter direito ao bezerro que nascera, já que ele fora concebido enquanto a vaca lhe pertencia. Para sua grande surpresa, no entanto, fica sabendo que, pelo Direito Romano, a cria pertence ao compradorNMLKJIHGFEDCBAd a vaca (pois os frutos são sempre do proprietário da coisa fruqifera), fato que ela desconhecia quando fixou o preço na venda. Para piorar, Caio se sente lesado pelo fato de a segunda vaca não estar prenhe, como ele imaginava, e exige a anulação da venda dessa vaca. Sem saber o que fazer, Semprônia decide consultar um jurisconsulto. Do Direito: Neste caso, tratamos sobre os vícios dos atos jurídicos. Primeiramente, sobre os vícios dos atos jurídicos, podemos dizer que tais vícios existem quando há uma discrepância entre a vontade interna e a vontade manifestada. O vício pode levar à nuldade ' (eficácia e x tu n c ) ou à anulabilidade" (eficácia e x n u n c ) do ato juridrco. No Direito Romano, só h a v ia a p o s s ib i l id a d e d e n u lid a d e d o s a to s ju r íd ic o s . Sobre os tipos de vícios, temos: 1. Do Erro - consiste no desconhecimento de um fato ou de uma norma jurídica. Erros, para admitirem invalidade do negócio jurídico, devem ser e s s e n c ia is , o que significa que sem eles o negócio jurídico não se realizaria, e e s c u s á v e is , o que significa que o homem médio o cometeria. Os Romanos, seguindo essa lógica, distinguiam-no em e r ro d e d ire ito e e r ro d e fa to . 2. a ) E r ro d e d ire ito consiste na ignorância, falso conhecimento O L l errada interpretação de uma norma jurídica. Ele não era considerado como um erro escusável, salvo no caso de rústicos, mulheres, menores e soldados. b ) E r ro d e fa to é a ignorância ou o falso conhecimento de alguma circunstância fática. • Erro em negócio consiste em um negócio diferente do pretendido, por exemplo, faz uma locação quando se acredita fazer uma compra e venda. É erro essencial. • Erro em pessoa - celebra o negócio jurídico com pessoa diversa daquela com - que se acredita estar celebrando, por exemplo, Mévio faz compra e venda com Tício acreditando que o faz com Caio. Erro é essencial tendo em vistas a qualidade da pessoal daquele a quem se dirige a declaração de vontade. • Erro corpóreo - o erro recai sobre a identidade física do objeto, por exemplo, Tício compra a vaca A achando que está comprando a vaca B. É essencial quando houver erro quanto à identidade física e não sobre erro:de denominação. 1 Quando há a falta de um dos elementos essenciais: capacidade e legitimação das partes, manifestação d f ! vontade isenta de vícios e objeto lícito, possível, determinado ou determinável. 2 Quando possui todos os elementos exigíveis, mas tem um deles atacado pelo vício. r-NMLKJIHGFEDCBA '" • Erro em substância - recai sobre qualidade essencial do objeto, por exemplo, Tito compra uma estátua de gesso acreditando ser de mármore. É essencial porque recai sobre a função socioeconômica da coisa e não sobre sua composição química. Ou seja, pode invalidar o negócio se vender escrava como se fosse escravo. • Erro em quantidade - aquele que recai sobre a quantidade de coisa envolvida na relação negocial, por exemplo, compra-se 30 sacas de cevada acreditando que se está comprando 39 sacas. Não é considerado erro essencial. J 3 - . Do-Dok.--é-a inteA?ão-em fazer com que a outra parte dã relaçào negocia incida em urr;-- erro atrax és de comportamentos maliciosos. Há duas espécies de dolo. a)dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAD o lu . . b ô n u s - é uma pequena dose de malícia que existe em qualquer negócio. Pode, .•'os considerá-Io, até mesmo, como uma astúcia ou artifício existente no negócio, uma t,:' -:nica negocial de convencimento. Ele não invalidava o ato, uma vez que era, e ainda E:, uma conduta social tolerada D o lu s r . i , - tu s - são as manobras ou ações maliciosamente' graves para induzir a outra parte a en '1. Essa, sim, invalidava o ato. 4 .TSRQPONMLKJIHGFEDCBAD a co ação - oe »rre quando uma das partes exerce uma pressão física ou psíquica sobre a outra a fim de q i . . esta celebre negócio de modo que não o faria em situações normais. D a so lu ção : Aparenten .....'1te , Caio exerce erro de fato, que parece ser escusável, já que a Semprônia também acred. \ va que a vaca estava prenhe. Cáió põderia alegar um erro em-- quantidade, mas este erro \ ão é considerado essencial. Ou seja, não teria como alegar a anulação do negócio jurídico. Semprônia comete erro \ t dir. ;\0, que não é essencial e capaz de invalidar o negócio. Porém, deve-se levar em conta . sua t f.l1dição de rústica e de mulher, o que lhe dá direito de pedir a declaração de nulidade d I /enda a ~ vaca verdadeiramente prenhe alegando erro de direito. Caso ela soubesse que i .n a dasHGFEDCBAv . : -:as não estivesse prenhe de fato' e agisse com dolo de modo que Caio fosse COf' .ven ,;.ío a comprar a vaca, agiria com dolus malus. Nesse sentido, Caio entra com uma a c t io d e : 0 1 0 , além de outros meios que possibilitavam o ressarcimento ou desfazimento do neg{ r . I O jurid'co. Para que Caiei se prevenisse contra o ocorrido, bastava que ele impusesse uma condição suspensiva no co [rato de compra e venda, ou seja, o contrato se aperfeiçoaria com o nascimento d: crir ou uma condição resolutiva-em que a compra e vsnda.é .desfeita caso a cri não venha a l é 1 S C u , h, { Ji UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO MONITORIA DE DIREITO ROMANOdcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA C A S O 0 6 Dos Fatos: Caio, queNMLKJIHGFEDCBAé proprietário de duas casas, decide alugar uma delas a Tício pelo prazo de cinco anos e constituir sobre a outra o direito real de usufruto vitalício em favor de seu amigo Mévio. Algum tempo depois, no entanto, Caio recebe uma tentadora oferta do milionário Orbílio E l vende a ele os dois imóveis por um ótimo preço. Pouco se sensibilizando com a situação de Tício € Mévio, Orbílio avisa que quer tomar posse de ambos os imóveis imediatamente, e exige a sua imediata desocupação. Tício e Mévio, preocupados por não terem outro lugar onde morar, buscam socorro a um ilustre advogado. Que poderá dizer esse advogado em favor de seus clientes? Do Díreito: Sabemos que os direitos reais são o direito sobre determinada coisa, que deve ser subordinada aos interesses do titular do direito real existente sobre ela. Nesse caso, há um vínculo direto entre o sujeito titular do direito real e a coisa gravada por esse direito. São direitos oponlveis e rg a HGFEDCBAo t n n e s , ou seja, as demais pessoas estão obrigadas a não praticar quaisquer atos que venham a perturbar o exercício de seu poder sobre a coisa, formando urna espécie de sujeito passivouniversal. Quanto aos direitos pessoais, eles se incidern entre relação jurídica envolvendo duas partes, quais sejam o credor e o devedor. Não pOSSUIoponibilidade e rg a o m n e s , na medida em que atinge apenas as partes envolvidas na relação obrigacional. Os direitos reais se apresentam em rol taxativo, sendo ele a propriedade e os direitos reais sobre coisa alheia. Como características: a) Atribuem ao titular o poder de direito sobre a coisa; b) São absolutos, o que não significa que são ilimitados; c) São protegidos por ações reais que se intentam contra qualquer pessoa que tenha turbado o uso do direito; d) Dão ao titular a faculdade de sequela, ou seja, de perseguir a coisa que não esteja maís consiqo, A propriedade se configura como direito mais amplo que alguma pessoa pode ter sobre determinada coisa. É o pleno domínio sobre a coisa, o que pode ser limitado por diversas formas. Assim, a propriedade compreende o direito de uso, de fruição e de disposição da coisa, além da faculdade de reavê-Ia a quem quer que possua ou detenha de forma injusta. Sobre direitos reais sobre coisa alheia. estes se subdividem em direitos reais de gozo (traz a faculdade de utilização e de gozo da coisa por outro que não o titular) e direitos reais de garantia (assegura o adimplernento de obriqações). Sobre'os direitos reaí de gozo, temos: a)dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAS e rv id õ e s . - sujeita um imóvel a outro, ou seja, há uma limitação de um edifício (serviente) a outro, o dominante. O titular da servidão e o proprietário do imóvel dominante e pela servidão, o proprietário do serviente fica obrigado a proporcionar uma utilização permanente pelo proprietário do dominante, devendo deixar de fazer algo ou permitir que o proprietário do dominante o faça. b) S u p e r f íc ie - superficiário goza amplamente de um edifício construído sobre terreno alheio; o superficiário tem todos os direitos de proprietário, apesar de não o ser. Isso e consoante ao s u p e r f íc ie s o lo c e d í t , segundo o qual tudo que se constrói sobre o solo pertence ao proprietário.NMLKJIHGFEDCBAT a m bé m e alienável e transmissível aos herdeiros. É interesse notar que o superficiário pode deteriorar o edifício e aliená-Ia sem qualquer anuência ou preferência do nu-proprietário. c) U s u fru to - direito ele usar e fruir da coisa alheia sem alterar a sua substância. Podemos definir o usufruto como direito real, inalienável e temporal. Com o fim do usufruto, o proprietário tem o retorno do direito de uso e fruição da coisa. d) E n f í te u s e - e direito real, alienável e transmissível, conferindo ao enfiteuse pleno gozo de imóvel alheio, semelhante às faculdade de um proprietário, mediante o pagamento de c a n o n a n u a l. O enfiteuta pode usar, fruir, alienar, construir servidões, dar em hipoteca, alem de defende judicialmente seu direito por meio da ação real. O enfiteuta não deve deteriorar o imóvel, deve suportar os ônus que ele acarretar e dar preferência ao nu-proprietário quando quiser alienar o seu direito bem como deve pagar o le u c ié m io caso não for usado o direito de promessa.TSRQPONMLKJIHGFEDCBA D a Decisão: Sabemos que Ticio está em condição de locatário, o que lhe confere o direito de ocupação. Como a locação é contrato, os direitos decorrentes dele são de natureza obrigacional e, logo, direitos pessoais. Como os direitos pessoais traz a oponibilidade entre pessoas envolvidas, no caso Ticio e Caio, não há obrigação de que Orbílio respeite o prazo do contrato firmado entre os dois. Logo, ele pode exigir a retomada imediata do imóvel. Mévio e titula de um direito real oponível erga omnes. Assim, Orbílio não pode retirá-Ia do imóvel a té o fim do usufruto, ou seja, ate sua morte, no caso. Obrílio adquiriu o imóvel gravado pelo direito real de usufruto em favor de Mévio. Assim, Caio não tem domínio pleno sobre a coisa, já que os direitos de uso e fruição pertencem a Mévio. Caio não pode transferir esses direitos a Orbílio, portanto. Tício pode invocar seu direito pessoal contra Caio, acionando-o por inadimplemento obrigacional decorrente do contrato de locação, exigindo uma indenização. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIHÃO PRETO MONITORIA DE DIREITO ROMANOHGFEDCBA C A S O l Dos Fatos - enquanto passeava com seu cavalo recém-adquirido, Caio detém-se por alguns minutos em uma taberna, para descansar e sorver alguns goles do deliciosodcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAm u s tu m ali servido. Deixa o cavalo amarrado diante do estabelecimento, mas, como dera um nó muito frouxo, o animal escapa e foge. Perto dali, Tício encontra o cavaloNMLKJIHGFEDCBAe . julgando-o abandonado, toma-o para si. Semanas depois, Tícío empresta o cavalo a seu amigo Mévio, que sai cavalgando pelas ruas de Roma. Por coincidência, Caio o avista e, reconhecendo o seu cavalo, obriga Mévio a desmontar ~I f o r ç a e se apodera violentamente do animal que lhe pertencia. Mévio vai correndo relatar o ocorrido ao pretor, pretendendo utilizar-se dos meios judiciais cabíveis contra o que ele considera um injusto esbulho de posse. Se você fosse advogado de Mévio, o que lhe aconselharia? Do Direito Posse é o poder de fato que alguém exerce sobre uma determinada coisa. Difere da propriedade, que é um poder de direito sobre uma coisa. A posse relaciona-se com a propriedade na medida em que a primeira pode fazer com que surja a segunda, como no caso da usucapião. Segundo os juristas romanos, a posse era adquirida com c o rp o re e a n im a . Posteriormente, Savigny e Inhering definiram o que seria a c o rp o re e a a n im a . Para Savigny, c o rp o re não implicava uma proximidade física com a coisa, mas, sim, ter disponibilidade sobre a coisa, ter a possibilidade de usá-Ia e de defende-Ia contra a intervenção de quem quer que seja. Ou seja, c o rp u s seria o poder físico da pessoa sob, e a coisa. A n im u s , por sua vez, seria o a n i m u s d o m in i, ou seja, ter a intenção de ter a coisa para si. A posse seria, assim, a união da capacidade de usar a coisa com a intenção de tê-Ia para si. ou seja. seria a união entre c o rp o re e a n im u s . Sob a concepção de Savignv, se faltar essa vontade interior de ter a intenção de t ê - I a como proprietário (a n im u s ) , existirá a detenção e não a posse. Para lnhering, considera a posse a intenção de deter da coisa (seria composta pela c o rp o re ) de modo que a posse não é a simples união entre esses elementos subjetivo e objetivo, uma vez que o corpore se ria a exterlorlzação do animus. C o rp u s seria a relação exterior que há normalmente entre o proprietário e a coisa, ou a aparência da propriedade. Não há necessidade de que a pessoa tenha o poder físico sobre a coisa, pois nem sempre esse poder é presente sem que isso se destrua a posse. O a n im u s seria assim uma o proceder como se procede habitualmente o proprietário, independentemente de querer ser dono. Assim, o nossuidor é aquele que externa e trata a coisa como o faria o titular do direito de propriedade. Sobre a detenção, Savigny entende que é a situação em que o indivíduo não apresentava o o n im u s d o m in i. Já Ihering entendia que a diferença entre detenção e posse se dava no fato de que a lei negava o caráter posses só rio ao detentor e, desse modo, não havia direito aos in te rd ic ta . Sobre a proteção da posse: a posse, desde que justa, era protegida por intermédio dos in te rd ito s , frutos da ação do pretor, do iu s h o n o ra r iu m . Os interditos se referiam, exclusivamente, à posse e ao fato, não tratando da questão da propriedade, do direito. Protegiam a posse do esbulho, quando a posse era tomada, bem como da turbação, quando a posse não é tomada, mas seu exercício era perturbado. Sobre os interditos: a) ,dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAP ro ib itó r io s - proíbem a ação de outrem sobre a relação de posse, visando a manutenção da mesma. • U t i p o s s id e t is - protege o possuidor de um imóvel contra seu adversárioque não o possui; vale tanto para o esbulho quanto para a turbação. • U tru b i -válido para as coisas móveis, sendo que a posse é garantida para o possuidor que, no período de um ano, ficou com a coisa por mais tempo. b )HGFEDCBAu e s t n u i t o r i o s - caso a posse fosse perdida, o possuidor pode retomá-Ia. • U n d e v i - É cabível a quem foi violentamente despojado de um imóvel, com validade de um ano, usada para bens imóveis. • D e P re c a r io - Usado para obter a posse perdida por meio da precariedade.TSRQPONMLKJIHGFEDCBA D a D ec is ão Podemos baliza r a decisão a partir das seguintes questões: 1. Em que momento Caio perdeu a posse? - A partir do momento que Tício tomou o cavalo julgando- o abandonado. 2. Houve esbulho por parte de Tício? - Não, pois ele acreditava que o cavalo havia sido abandonado. 3. Tício adquire a propriedade do cavalo? - Não, apenas a posse, já que o proprietário era Caio, 4. MévioNMLKJIHGFEDCBAé possuidor do cavalo? - Não, é mero detentor, já que não tinha o a n im u s d o m in i, o que, na prática, lhe negava tutela jurídica e, desse modo, não dispõe de proteção processual contra o esbulho de Caio. 5. Tício goza dos in te rd ito s por ser o possuidor já que a posse não é viciosa. Quanto ao interdito a ser proposto: O caso não traz o lapso temporal da posse de Caio e de Tício. Desse modo, abrimos duas vias de solução. Se o cavalo ficou mais tempo com Tício do que com Caio, Tício poderia propor um U tru b i. Porém, 'se o cavalo tivesse ficado menos tempo com Tício do que com Caio, este seria beneficiado, uma vez que o U tru b i tem caráter dúplíce, ou seja, podia ser favorável ao réu se a posse deste tivesse sido mais duradoura. Como Caio usou de violêncla para recuperar o cavalo, Tício poderia pensar em propor um U n d e v i, já que sua posse n;30 era realmente viciosa. Porém, não seria possível, haja vista que esse in te rd ic to era destinado aos bens imóveis. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO MONITORIA.NMLKJIHGFEDCBAD E DIREITO ROMANO CASO 08 Dos Fatos: Com a morte do famoso professor Karl Zimmerman, a viúva-meeira e única herdeira, Bertha Zirnmerman, vende a biblioteca de dez mil preciosos volumes de seu finado marido ao alfarrabista Anselm A. Tempos depois, visitando o alfarrábio deste último, Christian C. adquire uma obra do séc. XIX, que fizera parte da biblioteca de Zimmerman. Passado algum tempo, Christian contrata os serviços de Dorothea D., profissional especializada em limpeza e desinfecção de bibliotecas. Esta, ao manusear aquela obra do séc. XIX, encontra entre as páginas do livro urna raríssima cédula de dinheiro do século XVIII, avaliada em 75 mil marcos alemães, ou seja, cerca de US$ 50 mil. A quem deverá ser atribuída a propriedade de tal cédula? Do Direito: Falamos nesse caso sobre os modos de aquisição de propriedade. Temos os modos originários e os modos derivados. O modo originário é aquele no qual o novo proprietário não possui relação jurídica com o proprietário anterior, sendo que a relação é entre o novo proprietário e a res. J á no caso do modo derivado, temos que proprietário novo tem relação jurídica com o antigo proprietário.dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA M o d o o r ig in á r io d e a g J .J J § } f . ª - º J ; ! f? . .Q C Q Q rL f? J 1 .ª ç le 1. Acessão - É a união, natural ou artificial, de coisa dita acessória à coisa principal, de maneira que, caso separado o produto da união, cada uma das suas partes não poderia retornar a seus estados anteriores. Coisa principal era aquela que tenha a mesma finalidade econômico-social da coisa final resultante. Lembremo-nos de que o proprietário da coisa principal é o proprietário da coisa acessória. Pode ser de coisa imóvel a coisa imóvel, de coisa móvel a coisa imóvel e de coisa móvel a coisa móvel • Acessão de coisa imóvel a coisa imóvel a) A lu v iã o : Deposições formadas no decurso temporal por depósitos ou aterros naturais. São do dono do terreno que se aumentou. b) A v u ls ã o : Pedaço de terra que se destaca abruptamente de um local, juntando-se a outro. São do dono do terreno favorecido, após as plantas fixarem suas raízes. c) Á lv e o a b a n d o n a d o : É caso em que as águas de um rio abandonam o leito primitivo e formam outro. O proprietário é do dono do terreno por onde o rio passava. d) In s u la in f lu m in e n a ta : É o caso em que surge uma ilha no meio do rio. Ela pertence proporcionalmente aos proprietários dos terrenos à beira do rio. • Acessão de coisa móvel a coisa imóvel a) In re d í f ic a t io : Obra de qualquer natureza (não necessariamente um edifício), feita pelo homem e fixada no solo. O proprietário do terreno torna-se o dono daquilo que se editicar sobre ele. b) P le n te t io : Há plantação quando uma pessoa que não é dona do terreno fixa muda de planta própria ou alheia em terreno de terceiro, ou em situações em que o proprietário cio terreno fixa, sobre ele, planta alheia. O proprietário do terreno torna- se proprietário da planta assim que a planta lança raízes. c) S a t io : ocorre quando o indivíduo lança sementes. O proprietário do solo torna-se proprietário das sementes assim que elas começam a germinar. '" Acessão de coisa móvel a coisa móvel a)dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAF e r ru m in a t io : União de dois objetos feitos do mesmo metal, sem que, para isso, seja usado um outro metal. b) T e x tu ra : Ocorre quando um indivíduo tece, em tecido alheio, com fios de qualidade diferente. Ex. Semprônia borda com fios de seda em um pedaço de pano feito de lã. c) P in tu ra : Ocorre quando alguém faz desenhos em tela alheia, com uso de tintas. d) E s c r itu ra : Ocorre quando uma pessoa escreve sobre material alheio 2., Aquisição de frutos - Éa situação em que o proprietário da coisa frugífera adquiria a propriedade dos frutos por elas produzidos. Há casos em que um não proprietário pode perceber os frutos, como na enfiteuse e no usufruto. 3. Especificação -NMLKJIHGFEDCBAÉ um modo de aquisição de propriedade que ocorre quando alguém, a partir de matéria prima alheia, faz uma coisa nova. Quanto ao direito de propriedade sobre a coisa nova, há divergências, pois, os Sabinianos defendiam que o proprietário da matéria prima era o proprietário da coisa nova enquanto que os Proculianos, ao contrário, sustentavam que a coisa nova era do especificador. Justiniano resolveu a questão: Se não é possível de que a especificação seja desfeita ou se o especificador a fez com matéria parcialmente sua, este se torna o proprietário da coisa nova, devendo indenizar ao proprietário da matéria. Se o especificador agiu de má fé, a coisa nova é do proprietário da matéria-prima. 4. Invenção- É a situação em que alguém encontra um tesouro. Adriano define que, se o tesouro for encontrado ao acaso em terreno alheio, ele pertence metade ao dono do terreno e metade àquele que o encontrou. Lembre-se de que tesouro não é fruto, então o usufrutuário não é seu dono, uma vez que não é proprietário do terreno. 5. Ocupação - É o modo de aquisição no qual a coisa sem dono ( re s n u ll iu s ) torna-se daquele que primeiro toma posse dela. Por exemplo: caça e pesca apropriação de bens do inimigo, apropriação de coisas abandonadas, dentre outros. M o d o s d e r iv a d o s d e a q u is iç ã o d e p ro p r ie d a d e 1. Mancipatio - É um ato jurídico do direito quiritário no qual se adquire propriedade de re s m a n c ip i. A M a n c ip a t io era altamente formal e abstrata. 2. Traditio - A t r a d it ío é um ato jurídico que transfere a propriedade a partir da simples entrega da coisa ao adquirente, sem que haja qualquer outra formalidade para tal. Ela podia ser s im b ó lic a , quando aigo era entregue no lugar da coisa; lo n g a m a n u , quando o bem estava distante, sendo apenas indicado; b re v i m a n u , quando o bem já estava sob a posse do adquirente, e c o n s t i tu tu m p o s s e s s o r iu m , quando o alienante continua a usar a coisa, mesmo após a transferênciado direito de propriedade. A t r a d it io foi o único modo derivado que permanece no Direito Justiniano. 3.TSRQPONMLKJIHGFEDCBAIn iure cessio - A in iu re c e s s io é um processo simulado em que o pretenso proprietário afirma que a coisa é sua e o proprietário se cala. Diante desse silêncio, o pretor atribui ao interessado a propriedade da coisa. É um modo de aquisição de propriedade que desapareceu já no fim do período clássico. 085 :zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAOs autores classificam adcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAu s u c a p iã o como um modo especial de aquisição de propriedade, embora se assemelhe bastante com um modo originário.NMLKJIHGFEDCBAÊ : baseado na posse prolongada sem a oposição do proprietário. D a so lu ção : Temos que analisar caso a caso para trazer a fundamentação para aquele que pretenda ter adquirido o direito. Sobre Bertha: ela podena alegar a propriedade da cédula por sucessãoHGFEDCBAm o r t i s c a u s a se o seu finado esposo a tivesse colocado entre as páginas do livro. No entanto, ela teria que provar que foi ele quem pôs a cédula e era ele o proprietário dessa cédula. Caímos na dificuldade de provar o direito de propriedade, conhecido como p ro b e t io d ia b o líc a . Nesse caso, ninguém sabe de onde veio a cédula. Sobre Anselm: poderia pretender ter adquirido a cédula no momento em que comprou o livro de Frau Zimmerman. Como nem ele e nem Bertha sabiam que a cédula estava lá, não houve transferência de propriedade, que nesse caso se daria pela t r a d it io . Se assim o fosse, Anselm teria que provar que a pessoa que lhe entregou a coisa era a legítima proprietária e nesse caso caímos novamente na p ro b a t ío d ia b o lic a . Ele poderia ainda alegar que a nota fazia parte do livro por acessão e, portanto, o domínio da nota teria passado no momento da compra do livro, na medida em que a acessão é modo originário e dispensa relação com o proprietário anterior. Mas é um pouco difícil aceitar essa teoria da cédula esquecida do livro possa ser considerara acessório deste. Sobre Christian: poderia alegar (:1 teoria da acessão e, desse modo. ele teria adquirido a nota porque o acessório ganha o principal. Sobre a Dorothea: poderia ter se apropriado da nota por ocupação, mas deveríamos aceitar a nota como re s d e re l ic ta , já que ela teve, ao menos, um proprietário. No entanto, não se pode presumir que algo é re s d e re l ic ta , pois não se pode alegar o abandono sem evidências. Finalmente, ao averlquarmos que a nota se encaixa na definição de tesouro, qual seja o velho depósito de dinheiro, do qual não resta lembrança, de modo que já não tem dono, Dorothea pode tê-Ia adquirido por invenção. No entanto, como a encontrou no livro que pertence a Christian, o valor da nota deve ser dividido igualmente entre os dois. Caso Dorothea tivesse procurado a nota a pedido de Christian ou contra i:\ expressão proibição dele, ela perderia o direito a receber metade do valor da nota.
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