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Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil ??????????? Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2018 Valmira Trapp Fernandes Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-283-1 Dados técnicos do livro Diagramação: Marcelo Ferreira Revisão: Geórgia Píppi A Lei 11.638/2007, marco regulatório que possibilitou a mudança da Lei das Sociedades por Ações, 6.404/76, com o propósito de elevar a contabilidade brasileira aos padrões internacionais, mais especificamente aos padrões mantidos pelo International Accounting Standard Board (IASB), órgão reconhecido mundialmente como organismo responsável pelas prá- ticas contábeis internacionais. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, criado pela resolu- ção CFC 1.055/05, foi concebido pela união de esforços e comunhão de objetivos da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCa), Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC), Bolsa de Valores de São Paulo (BM & Bovespa), Conse- lho Federal de Contabilidade (CFC), Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI). O CPC tem como objetivo o estudo, o preparo e a emissão de Pronun- ciamentos Técnicos, suas interpretações e orientações sobre procedimentos de contabilidade societária e divulgação de informações dessa natureza, que permitam a emissão de normas pelas entidades reguladoras brasileiras. Considerando esse contexto da contabilidade brasileira convergida às normas internacionais, os temas apresentados neste livro têm por finali- dade o estudo das normas que foram traduzidas pelo CPC que se fazem presentes no dia a dia das organizações. A mudança de paradigma que evoluiu de uma contabilidade centrada em regras para outra que utiliza em maior escala o julgamento do profissional implica desafios no que se refere à Interpretação e à aplicabilidade desse arcabouço aos profissionais contábeis. Apresentação Apresentação v Nesse sentido, a abordagem assim se estrutura: Ética da Profissão Contábil, no Capítulo 1; Estrutura Conceitual para Elaboração do Relató- rio Contábil Financeiro, no Capítulo 2; Demonstração do Valor Adicionado – NBC TG 09, Capítulo 3; Ajuste à Valor Presente NBC TG 12, Capítulo 4; Ativos Circulantes: estoque NBC TG 16, Capítulo 5; Custos de Emprés- timos NBC TG 20, Capítulo 6; Ativo Não Circulante Imobilizado NBC TG 27, Capítulo 7; Apresentação das Demonstrações Contábeis, Capítulo 8; Propriedade para Investimento, Capítulo 9; e Demonstração Contábil Inter- mediária NBC TG 21 no Capítulo 10. Sumário 1 Ética da Profissão Contábil ....................................................1 2 Estrutura Conceitual para elaboração do relatório contábil- financeiro ...........................................................................26 3 Demonstração do valor adicionado .....................................62 4 Ajuste a Valor Presente .......................................................93 5 Ativo circulante: estoques .................................................118 6 Custos de empréstimos .....................................................141 7 Ativo Não Circulante Imobilizado ......................................165 8 Apresentação das demonstrações contábeis ......................203 9 Propriedade para investimentos ........................................259 10 Demonstração intermediária .............................................292 Valmira Trapp Fernandes1 Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil1 1 Graduação em Ciências Contábeis pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS (1985), Especialização em Custos e Orçamento Pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (1989), Mestrado em Ciências Empresariais pela Universidade Fernando Pessoa UFP- Porto, Portugal (2003). Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis Presencial e EAD e professora na Universidade Luterana do Brasil – ULBRA. Experiência na área de Ciências Contábeis, atuando, principalmente, nos seguintes temas: custos, informações contábeis, contabilidade fiscal e societária. 2 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil Introdução As discussões que envolvem questões éticas revestem-se de relevância ímpar nos mais diversos espaços da sociedade, no- tadamente no mundo do trabalho e no campo da educação, que sempre se constituiu um espaço de reflexão de temas que apresentam inquietações individuais e coletivas. A reflexão crí- tica, relacionada ao comportamento humano é papel central da ética, o que implica discussão, problematização e investi- gação dos valores e princípios do comportamento moral na busca da construção de uma convivência coletiva harmônica, pautada em valores reconhecidos como reguladores da con- duta individual em suas relações sociais. A sociedade atual tem como característica significativa o individualismo e a competitividade em detrimento do coletivo e da cooperação, tornando ainda mais necessário o estudo das concepções, idealizações que a ética expressa através da teoria, garantindo o convívio humano equilibrado. A ética profissional pode ser descrita como o conjunto de normas éticas que foram definidas como aquelas que pautam e orientam a conduta profissional no exercício da sua profis- são. Nesse contexto, para além da competência técnica, com- preender o Código de Ética do Contador é imprescindível para o adequado exercício da profissão. Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 3 1 Ética As discussões sobre o tema vêm permeando o ambiente aca- dêmico, notadamente, aspectos que envolvem ética na edu- cação e ética profissional. A discussão ética implica análise do tema e sua aplicação às diversas esferas nas quais se mo- vimentam os indivíduos, o que inclui o convívio social/pro- fissional. Considerando o papel conferido à escola como pi- lar do processo educacional, é nesse espaço que devem ser abordados temas que dizem respeito à vida, (neste contexto, a ética) em um mundo em que a realidade e os papéis sociais se tornam cada vez mais complexos. Demo (2000) afirma que o ponto de partida para produção do conhecimento deveria ser essa realidade diversificada e em constante transformação. Aprender é, na visão do autor, um processo essencialmente ligado à vida, que implica a possibilidade de reconstruir o co- nhecimento e essa reconstrução se dá pela pesquisa, pelo de- senvolvimento da autonomia e está associada ao conceito de formação da cidadania. A formação da cidadania é construída a partir da reflexão crítica sobre o comportamento humano, na decisão autônoma e responsável do indivíduo e no convencimento de que seu agir ético contribui para tornar as relações humanas harmô- nicas e mais justas. A escola deve mobilizar o conhecimento que possibilite ao aluno ampliar a reflexão sobre seu papel na construção dessa realidade e a compreensão da sua reponsa- bilidade nesse processo. Para Johann (2009), a escola se caracteriza como o espa- ço que reflete e reproduza sociedade na qual está inserida. 4 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil Dessa forma, é através da educação que podem ser desenha- dos os caminhos para a construção de uma realidade mais justa e humana para a sociedade, e essa construção passa pela disseminação e fixação de valores e princípios éticos. Corroborando o pensamento de Johann, Ponce e Saul (2012) afirmam: O indivíduo educado é – neste sentido – mais pleno e humano; é culto, bom cidadão, tem a personalidade for- mada para o bem e é trabalhador; a educação, nessa concepção, é a alavanca para o progresso do indivíduo e, conse quentemente, da sociedade. Sobre essas bases construíram-se o sentimento de fé na educação e a es- cola. O ideário da razão, por mais que tenha sido criticamente retratado, ainda é um forte elemento constituinte da cren- ça na educação escolar. Nessa se depo sitam as ideias de reprodução e produção social. Os mesmos autores destacam que a confiança na educa- ção representa uma das mais relevantes aquisições das socie- dades dos séculos XX e XXI, as construções e a condução de ações que representam os valores culturais e a crença na edu- cação são respostas concretas aos paradigmas emergentes de vida. Nesse contexto, formar pessoas criticas e reflexivas, autô- nomas, cidadãs, preparadas para atuar com competência no mundo do trabalho, e que contribuam para o crescimento e o desenvolvimento da sociedade, significa trabalhar a formação integral do ser humano. Na visão de Souza, ([2017?] p. 1) a escola ao assumir a dualidade de promover a transmissão dos Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 5 conhecimentos e a formação ética faz a mediação entre o co- nhecimento e o educando, utilizando as práticas pedagógicas. O autor afirma: Por sua vez, a escola é a instituição social que, no mundo moderno, assume um duplo compromisso: trabalhar a sistematização, transmissão e (re)construção dos saberes historicamente produzidos, e promover a formação ética dos indivíduos, na perspectiva da construção e consoli- dação da cidadania plena. Em função disso, a dimensão ética da relação professor-aluno merece especial aten- ção, notadamente quando se parte da premissa que o professor é um profissional que, ao invés de meramente transmitir saberes, é responsável pela mediação entre o conhecimento e o educando, o que se dá por meio de sua prática pedagógica. A questão educacional está em contínuo avanço, e vincular educação e ação formadora do ser humano direciona a ação pedagógica a buscar e desconfiar de questões que foram con- sideradas conclusivas, o que permite a quem executa esse mo- vimento galgar um patamar superior em relação àquele que havia sido anteriormente alcançado e, para o autor, a suspei- ção de conclusões tidas como verdadeiras são imprescindíveis para o avanço do conhecimento (RODRIGUES, 2001), Para o mesmo autor (2001 p.1). O Ser Humano, por não receber qualquer determinação por natureza, pode construir o seu modo de vida tendo por base a liberdade da vontade, a autonomia para or- ganizar os modos de existência e a responsabilidade pela 6 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil direção de suas ações, essa característica do ser humano constitui o fundamento da formação do sujeito ético. Este deve ser o objetivo fundamental da Educação, ao qual devem ser submetidas toda e qualquer prática edu- cativa, aí incluídas as escolares. (grifo nosso) Para estudar ética, necessário se faz discorrer sobre moral, pois ambas se entrelaçam no cotidiano do indivíduo, tanto no que diz respeito às questões pessoais quanto às profissionais. “A ética é definida como a teoria, o conhecimento ou a ciência do comportamento moral, que busca explicar, compre- ender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma socie- dade. A ética é filosófica e científica.” (ROCHA, 2008, p.16). A mesma autora (2008), afirma que não se pode falar de ética sem falar de moral, pois estão interligadas na vida do ser humano. Moral é o conjunto das normas para o agir es- pecífico ou concreto, estabelecendo regras que são assumidas pelos indivíduos, garantindo a boa convivência. Assim, os prin- cípios morais de determinada comunidade definidos consen- sualmente, regulam o comportamento individual e social desta comunidade. Já, a ética tem como foco a reflexão sobre os sis- temas morais elaborados pelos seres humanos e que balizam o comportamento deles em sociedade, na tentativa de lançar luz sobre os fundamentos das normas que dizem respeito a cada sociedade e que norteiam seus integrantes. Discutir a questão ética, portanto, pressupõe o compromis- so de refletir sobre os sistemas norteadores do comportamento do indivíduo na sociedade e compreender o princípio fundante das normas que formatam sistemas sociais e culturais únicos. Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 7 Assim, a universidade se coloca como elo imprescindível na condução do processo que pretende desenhar caminhos, para dar sustentação à justiça e à paz social, caminhos esses tri- lhados através de debates que impulsionem a construção de pactos sociais que contemplem o bem comum. 1.1 A ética profissional A aplicação da ética ao campo das atividades profissionais é indispensável porque na ação humana “o fazer” e “o agir” estão conectados. O fazer diz respeito à competência, à efici- ência que o profissional deve construir para o pleno exercício da profissão. O agir diz respeito à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que devem ser assumidas no desempenho de sua profissão (OLIVEIRA, 2012). Para Oliveira (2012), a escolha da profissão implica refle- xão prévia sobre o conjunto de deveres do candidato à pro- fissão que vai assumir, ao optar por determinada categoria profissional. O mesmo autor destaca que a formação profis- sional e o aprendizado de competências e habilidades deve ter reflexão crítica, e referenda que ao fazer o juramento o formando assume o compromisso e o comprometimento com a categoria na qual está ingressando. Isso caracteriza o aspec- to moral da chamada Ética Profissional, a adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exercício. As profissões, especialmente as regulamentadas, apresen- tam os códigos de ética que definem diretrizes para a atuação profissional. A Ética Profissional define uma série de normas, 8 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil nas quais se incluem deveres e direitos que devem ser seguidos pelos profissionais para permitir o convívio harmonioso com a categoria profissional e com a sociedade no geral. Deve-se ter consciência de que a ética profissional implica compromisso social, ou seja, o profissional assume atuar em consonância com o Código de Ética da sua profissão que é específico para cada profissão, mas existem princípios que são universais e, portanto, aplicáveis a qualquer atividade profissional. Os códigos de ética contemplam direitos e deveres, e re- presentam o norte a ser seguido pelo profissional que abraça determinada profissão. Os direitos preconizam as atribuições que se originam da condição da categoria profissional do indi- víduo e os deveres que emanam também da condição da ca- tegoria profissional em atendimento ao princípio fundamental da regulação profissional, que deve assegurar conhecimento técnico e princípios éticos na prestação de serviços. 1.1.1 Ética da Profissão Contábil A profissão contábil tem-se revestido de complexidade cres- cente, e vem exigindo dos profissionais da área, cuidados mais amplos no atendimento aos aspectos técnicos, fiscais, éticos e prerrogativas. São inúmeros os desafios que devem ser ven- cidos pelos profissionais da área contábil: a necessidade da educação continuadapara atender às exigências do mercado de trabalho, a crescente complexidade tributária, envolvendo não só a obrigação principal do pagamento do tributo, mas também todas as obrigações acessórias, tudo aliado à con- Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 9 duta ética que deve ser o princípio dinamizador do exercício profissional. Para o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), (2003): Discutir conduta ética no exercício profissional é uma ta- refa complexa em face da amplitude do tema. Envolve uma série de princípios e valores individuais nem sempre condizentes com a proposta de um conjunto de regras a serem respeitadas por todos indistintamente. No de- sempenho de suas atividades, todo profissional, além do aprendizado técnico constante, precisa assimilar concei- tos éticos e empenhar- se em vivenciá-los durante toda a sua carreira profissional. O CFC (2003) ressalta ainda que qualquer profissional deve conhecer sua profissão e não seria diferente para o pro- fissional contábil, que além do conhecimento técnico precisa compreender as prerrogativas e as regras de conduta moral da profissão, e a discussão ética para a profissão contábil requer um conjunto de regras de comportamento do profissional con- tábil no exercício de suas atividades profissionais. O quadro um apresenta a responsabilidades do profissio- nal contábil pertinentes à sua profissão. Quadro 1 Responsabilidade dos contadores relacionadas às suas atividades 10 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil Responsabilidade dos contadores ao desenvolverem suas atividades profissionais Competência Manter adequado nível de competência profis- sional com desenvolvimento contínuo de seus conhecimentos e habilidades. Realizar suas obrigações profissionais em con- sonância com as leis, regulamentações e pa- drões técnicos. Elaborar demonstrações completas e transpa- rentes e após análises, fazer recomendações, se necessário. Confidencialidade Privar-se de evidenciar informações confiden- ciais obtidas ao longo de seus trabalhos, ex- ceto quando autorizadas, ou legalmente obri- gados a tal. Informar aos subordinados os cuidados relati- vos à confidencialidade da informação obtida na execução dos trabalhos e monitorar suas atividades a fim de assegurar o sigilo da in- formação. Privar-se de utilizar informações confidenciais para obter vantagens ilicitamente, seja de inte- resse pessoal ou de terceiros. Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 11 Integridade Evitar conflitos de interesses e aconselhar as partes quanto a qualquer conflito. Privar-se de ingressar em qualquer atividade que prejudique o cumprimento de suas obri- gações éticas. Recusar qualquer presente, favor ou hospita- lidade que influencie ou venha a influenciar suas decisões. Privar-se de corromper os verdadeiros objeti- vos da organização e da ética. Reconhecer e comunicar as limitações profis- sionais. Comunicar informações favoráveis, bem como as desfavoráveis, e suas opiniões como profis- sionais. Objetividade Comunicar a informação de forma clara e ob- jetiva. Evidenciar aos usuários toda informação rele- vante que, provavelmente, interferiria na com- preensão das demonstrações, notas explicati- vas e recomendações apresentadas. Fonte: Adaptado de HORNGREN, FOSTER e DATAR (2000) citado por CFC (2003 p.20). Para O CFC, esses valores podem ser ampliados, reestrutu- rados e sistematizados por meio dos códigos de ética profissio- nal, apresentando os limites que servirão como suporte para o profissional analisar suas possibilidades e as limitações impos- tas pelo código de ética relativo à sua atividade profissional. O profissional contábil entrega informações relevantes à sociedade, no geral, e assim ele deve ter por premissa trans- mitir confiança na execução de seus trabalhos. Essa confiança é conquistada com o domínio técnico específico e atualizado 12 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil e, com o mesmo grau de importância, por meio da conduta ética (CFC, 2003). 1.2 Código de Ética do Contador O Código de Ética do Contador apresenta os deveres, as proi- bições e as penalidades que recaem sobre o profissional que transgrida o código. Acima de tudo, o código de ética do Con- tador deve ser um princípio norteador na condução do exercí- cio profissional e também em relação à classe contábil. Enfim, os profissionais da área contábil devem conhecer na íntegra esse documento e aplicá-lo na totalidade em seu cotidiano, seja como profissional autônomo, como contador empregado de empresas e instituições privadas ou contador público, o que vai garantir à classe uniformidade na abordagem de temas cada vez mais complexos que envolvem o dia a dia desse pro- fissional. O código aborda os deveres, considerando dois aspectos: os deveres do profissional, indicando normas de conduta para o exercício profissional, destacando o exercício da profissão com zelo, honestidade e capacidade técnica e em observância à legislação vigente. O segundo aspecto diz respeito dos de- veres em relação à classe, relação que deve ser pautada nos princípios de consideração, respeito, apreço e solidariedade, consoante aos postulados de harmonia com a classe. Nese contexto, cabe a cada profissional o zelo pelo engrandecimen- to e dignidade da profissão contábil, além de também acatar as resoluções votadas pela classe e também zelar pelo cumpri- mento do código de ética. Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 13 Leitura obrigatória: Resolução CFC nº 803, de 10-10- 1996. Aprova o Código de Ética Profissional do Contador – CEPC. In: Vade-mécum do profissional da contabilidade. p.37 Disponível em: http://www.crcrs.org.br/arquivos/livros/ livro_legislacao_bolso.pdf?6edb3c. 1.2.1 A harmonização contábil: impactos na carreira e ética profissional A harmonização contábil impõe ao moderno profissional con- tábil desafios que vão além da qualidade técnica e que en- volvem também aspectos atitudinais compatíveis com aqueles consagrados em nível internacional. Ademais, esse profissional tem sido desafiado a dar respostas a questões que envolvem conhecimentos multidisciplinares que se fazem presente no dia a dia do universo empresarial, notadamente na área do direito de empresa, tributário, trabalhista, previdenciários e as novas tecnologias de informação e comunicação. No Brasil, a harmonização contábil teve como marco regu- latório a promulgação da Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007, que possibilitou a mudança da Lei das Sociedades por Ações, 6.404/76 com o propósito de alçar a contabilidade brasileira aos padrões internacionais de contabilidade, mais especificamente, aos padrões emitidos pelo International Ac- counting Standard Board (IASB). Essa harmonização teve como propósito o atendimento à necessidade de mais transparência e fidedignidade das demonstrações contábeis, considerando a economia globalizada decorrente da nova ordem econômi- ca mundial. A referida lei introduziu significativas mudanças nas normas contábeis brasileiras com objetivo primordial de 14 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil convergência aos pronunciamentos internacionais de conta- bilidade, notadamente àqueles emitidos pelo IASB (ALMEIDA; BRAGA, 2008). Almeida e Braga (2008, p.6), afirmam: Esta convergência é irreversível, insere-se no contexto das melhores práticas de governança corporativa, contri- buindo para a maior transparência das informações das empresas, aumentando sua exposição aos investidores internacionais e a mercado de modo geral. A convergência às normas internacionais, ao mesmo tem- po em que alçou o profissional contábil a um novo patamar, impôs a ele inúmeros desafios que precisavam ser transpostos para adequação à nova realidade,considerando que aplicar as práticas contábeis aos padrões internacionais envolve jul- gamento e não apenas a aplicação das normas, o que impli- ca mudança de paradigma no cotidiano desse profissional. O profissional passa ter um perfil mais estratégico na tomada de decisão empresarial. O Quadro 2 apresenta as características das competências necessárias ao profissional contábil para o atendimento às no- vas demandas de um mercado global, na visão de Needles Jr. Quadro 2 Principais características das competências dos contadores Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 15 Fonte: Adaptado de Needles Jr. et al. (2001) citado por Cardoso, Souza e Almeida, (2006). Cordeiro e Duarte (2006), citados por Cardoso, Souza e Almeida (2006), afirmam que para atender as necessidades impostas pelo mercado o profissional contábil deve aprimorar seus conhecimentos técnicos e se tornar o gestor da informa- ção contábil, apresentando um conjunto de habilidades que compreendem, dentre outras: ética, iniciativa, visão de futuro, habilidade de negociação, flexibilidade e capacidade de ino- vação e criação. A Convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade aos padrões internacionais foi objeto de regulamentação atra- vés das: NBC PG 100 – Aplicação Geral aos Profissionais de Contabilidade, NBC PG 200 – Contadores que Prestam Ser- viços Externos (CONTADORES EXTERNOS) e NBC PG 300 – CONTADORES EMPREGADOS (CONTADORES INTER- NOS), todas do dia 24 de janeiro de 2014. A NBC PG 100 está ancorada nas Seções 100, 110, 140 e 150 da Parte A do Código de Ética da Federação Internacio- nal de Contadores (IFAC) International Federation of Accoun- tants. A Seção 100 trata da Introdução e princípios Éticos, a 16 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil Seção 110 aborda a Integridade como requisito indispensável ao profissional contábil, a Seção 120 apresenta a objetividade que deve acompanhar o profissional no exercício da profissão, a Seção 130 aponta a competência e zelo profissional como obrigação de todos os profissionais, a Seção 140 explana so- bre o sigilo profissional que permanece mesmo após o término das relações entre o profissional de contabilidade e seu cliente ou empregador e, ainda, a Seção 150, que esclarece sobre o comportamento profissional. A NBC PG 200 tem como base as seções 200, 210, 220, 230, 240, 250, 260, 270 e 280 da Parte B do Código de Ética da IFAC, e aborda os seguintes temas em suas seções: Introdução, Nomeação de profissionais, Conflitos de interesse, Segunda opinião, Honorários e outros tipos de remuneração, Divulgação comercial de serviços profissionais, Presentes e afins, Custódia de ativos de clientes e Objetividade em todos os serviços. A NBC PG 300 está assentada nas Seções, 300, 310, 320, 330, 340 e 350 da Parte C do Código de Ética da IFAC que encaminha, além da Introdução, temas como: Conflitos de in- teresse, Elaboração e comunicação de informações, Atuação com competência suficiente, Interesses financeiros, Remunera- ção e incentivos associados aos relatórios financeiros e Toma- da de decisão e induzimentos. As normas supracitadas trazem a convergência do Código de Ética do IFAC à realidade brasileira e junto com a Resolu- ção 803/96, Código de Ética do Profissional Contador, reve- Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 17 lam-se como princípio norteador para o exercício da Profissão Contábil. Nesse contexto, o processo de estudo da ética do profissio- nal tem como pressuposto a compreensão dessas normas que balizam a ação cotidiana dos profissionais da área contábil. Leitura obrigatória: Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 100,(1) de 24 de janeiro de 2014. In: Vade-mécum do profissional da contabilidade. P.129 a 145. Disponível em: http://www.crcrs. org.br/arquivos/livros/livro_legislacao_bolso.pdf?6edb3c Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 200, (1) de 24 de janeiro de 2014. In: Vade-mécum do profissional da contabilidade. P.146 a 176. Disponível em: http://www.crcrs. org.br/arquivos/livros/livro_legislacao_bolso.pdf?6edb3c Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 300, (1) de 24 de janeiro de 2014 In: Vade-mécum do profissional da contabilidade. P.177 a 196. Disponível em: http://www.crcrs. org.br/arquivos/livros/livro_legislacao_bolso.pdf?6edb3c. Recapitulando Nesta unidade, aprendemos sobre: a) Ética b) Ética Profissional 18 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil c) Ética da Profissão Contábil d) Código de Ética do Contador e) A harmonização contábil: impactos na carreira e ética profissional Referências ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti, BRAGA, Hugo Rocha. Mudan- ças contábeis na lei societária: Lei 1.1638 de 28-12- 2007. São Paulo: Atlas, 2008. BRASIL. Lei 11.638, de 28 de Dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei 6.404/76, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e es- tende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/.../_ato2007- 2010/2007/lei/l1.1638.htm. Acesso em: 22 de ago. 2017. CARDOSO, Jorge Luiz, SOUZA, Marcos Antônio de, ALMEI- DA, Lauro Brito. Perfil do contador na atualidade: um es- tudo exploratório. BASE – Revista de Administração e Contabilidade da Unisinos, set./dez. 2006. revistas.uni- sinos.br/index.php/base/article/view/5977/3155. Acesso em: 23 de ago. 2017. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE (CFC). Aborda- gens éticas para o profissional contábil. Brasília: CFC, Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 19 2003. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/ wp-content/uploads/2013/01/livro_abord_etica-pdf.pdf. Acesso em: 23 de ago. 2017. DEMO, Pedro. Pesquisa e construção de conhecimento. 4. ed. 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Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 21 Atividades Este é o nosso espaço para exercitar os temas abordados atra- vés de questões especialmente pesquisadas com esta finalida- de. 1 Considerando-se a NBC PG 100 – APLICAÇÃO GERAL AOS PROFISSIONAIS DA CONTABILIDADE sobre os prin- cípios éticos, julgue as atitudes do Profissional da Conta- bilidade como adequadas ou inadequadas nas situações hipotéticas apresentadas e, em seguida, assinale a opção CORRETA. (Exame de Suficiência 2017/1) I – Um Profissional da Contabilidade com mais de trinta anos de experiência foi convidado pelo Sindicato dos Fun- cionários de uma empresa a emitir parecer a respeito da situação econômico-financeira dessa empresa. Após aná- lise das Demonstrações Contábeis, o profissional consta- tou que a empresa apresenta fortes indícios de desconti- nuidade. Mas, por conhecer a empresa e manter laços de amizade com seus administradores, atestou, em seu pa- recer, que a empresa irá manter-se em operação por um futuro previsível. II – Um Profissional da Contabilidade, ao executar uma assessoria para recuperação de uma empresa, obteve in- formações sobre o processo de fabricação de um produto com baixíssima rentabilidade. Um especialista no produto, que tem intenção de instalar uma outra indústria, pergun- tou sobre o segredo do processo de fabricação. O Pro- fissional da Contabilidade se recusou a compartilhar tal 22 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil informação, bloqueou qualquer contato do especialista, mas compartilhou as informações, sobre o produto e sobre o especialista, com outros amigos contadores. Considerando-se as situações hipotéticas apresentadas e os princípios éticos constantes na NBC PG 100 – APLICA- ÇÃO GERAL AOS PROFISSIONAIS DA CONTABILIDADE, a atitude do Profissional da Contabilidade foi: a) adequada na situação 2, e inadequada na situação 1. b) adequada nas situações 1 e 2. c) inadequada nas situações 1 e 2. d) inadequada na situação 2 e adequada na situação 1. 2) Um profissional de contabilidade A foi contratado por uma empresa para a execução de um trabalho contábil espe- cializado. Por tratar-se de um trabalho extenso, repassou, com a anuência por escrito do cliente, a maior parte dos serviços a um colega de profissão B, de reconhecida com- petência naquela especialidade. No ano seguinte, em virtude de um problema relevante ocorrido no trabalho realizado, o cliente cobrou a respon- sabilidade técnica do profissional A por ele contratado, o qual negou sua responsabilidade, alegando que os traba- lhos foram realizados pelo seu colega B, conforme docu- mentos elaborados e assinados pelo profissional terceiriza- do. Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 23 De acordo com o Código de Ética Profissional do Con- tador, a atitude do contador contatado pela empresa foi (Exame de Suficiência 2016-1): a) correta, pois a maior parte do trabalho foi realizada por outro profissional. b) correta, pois há documentos que comprovam que o trabalho foi realizado por outro profissional. c) incorreta, pois ele não poderia repassar os serviços para outro profissional. d) incorreta, pois mesmo repassando o trabalho, a res- ponsabilidade técnica continua sendo sua. 3) No desempenho de suas funções, é vedado ao Profissional da Contabilidade (Contador TJ SP – Prova 2015 – VU- NESP): a) Comunicar ao CRC a mudança de seu domicílio ou endereço e da organização contábil de sua responsa- bilidade, bem como a ocorrência de outros fatos ne- cessários ao controle e à fiscalização profissional. b) Se substituído em suas funções, informar ao substituto sobre fatos que devam chegar ao seu conhecimento, a fim de habilitá-lo para o bom desempenho das fun- ções a serem exercidas. c) Anunciar, em qualquer modalidade ou veículo de co- municação, conteúdo que resulte na diminuição do colega, da Organização Contábil ou da classe, em detrimento aos demais, sendo sempre admitida a indi- 24 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil cação de títulos, especializações, serviços oferecidos, trabalhos realizados e relação de clientes. d) Renunciar às funções que exerce logo que se positive falta de confiança por parte do cliente ou empregador, a quem deverá notificar com trinta dias de antecedên- cia, zelando, contudo, para que seus interesses não sejam prejudicados, evitando declarações públicas so- bre os motivos da renúncia. e) zelar pela sua competência exclusiva na orientação técnica dos serviços a seu cargo. 4) Um contador, chamado Júnior, tem um amigo há mais de 30 anos e se sabe que este amigo sempre agiu com ho- nestidade. Certo dia, para conseguir um financiamento, o amigo pediu para o contador emitir um parecer sobre a situação financeira de sua empresa. O contador da em- presa é outro, e Júnior não tem qualquer conhecimento sobre os documentos contábeis da empresa. De acordo com o Código de Ética do Contador, ele deve: a) Emitir o parecer, já que sabe que este amigo sempre agiu com honestidade. b) Não emitir o parecer, pois não tem em mãos os docu- mentos que comprovem a situação. c) Emitir o parecer, desde que ligue antes para o conta- dor da empresa e se informe da situação. Capítulo 1 Ética da Profissão Contábil 25 d) Não emitir o parecer, pois não poderia cobrar do ami- go, o que é vedado pelo Código de Ética do Conta- dor. 5) Segundo o Código de Ética do Contador, a transgressão de preceito do Código constitui infração ética, sanciona- da, segundo a gravidade, com a aplicação de uma das seguintes penalidades: advertência reservada, censura re- servada e censura pública. Na aplicação das sanções éti- cas, podem ser consideras como atenuantes: (Consulplan 2017 – Analista Judiciário – Contadoria) I. Ação desenvolvida sem prerrogativa profissional. II. Ausência de punição ética anterior. III. Prestação de relevantes serviços à Contabilidade. Estão corretas as alternativas: a) I, II e III. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas Valmira Trapp Fernandes1 Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração do relatório contábil- financeiro1 Estrutura Conceitual para elaboração ... 1 Graduação em Ciências Contábeis pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS (1985), Especialização em Custos e Orçamento Pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (1989), Mestrado em Ciências Empresariais pela Universidade Fernando Pessoa UFP- Porto, Portugal (2003). Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis Presencial e EAD e professora na Universidade Luterana do Brasil – ULBRA. Experiência na área de Ciências Contábeis, atuando, principalmente, nos seguintes temas: custos, informações contábeis, contabilidade fiscal e societária. Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 27 Introdução Neste capítulo, abordaremos a estrutura Conceitual e sua re- levância para a convergência da contabilidade aos padrões internacionais. As Normas Internacionais de Contabilidade são elaboradas pelo International Accounting Standard Board (IASB). O IASB é órgão normatizador independente da Funda- ção IFRS. Seus membros são responsáveispelo desenvolvimen- to e publicação de IFRS, e pela aprovação de interpretações do IFRS desenvolvidas pelo Comitê de Interpretações IFRS, que teve como marco legal a promulgação da Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007, que possibilitou a mudança da Lei das Sociedades por Ações, 6.404/76 que possibilitou à contabili- dade brasileira a adesão aos padrões internacionais emitidos pelo International Accounting Standard Board (IASB). O CFC através da Resolução 1.374 (2011) recepcionou o CPC 00, que teve como propósito alinhar as práticas con- tábeis brasileiras às preconizadas internacionalmente e, neste contexto, apresentou os conceitos basilares para convergência das normas contábeis aos padrões internacionais. A Estrutura Conceitual intitula as Demonstrações Contábeis de Relatório Contábil Financeiro e define que o objetivo da elaboração e divulgação do relatório contábil-financeiro de propósito geral revela-se o pilar da Estrutura Conceitual. A estrutura estabele- ce os conceitos que fundamentam a elaboração e a apresen- tação de demonstrações contábeis destinadas a usuários exter- nos, definindo sua finalidade e posição em relação às demais normas e comunicados. Informa ainda seu alcance que se es- trutura como objetivo da elaboração e divulgação de relatório 28 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil contábil financeiro, características qualitativas da informação contábil útil, definição, reconhecimento e a mensuração dos elementos, base para elaboração das demonstrações e os conceitos de capital e manutenção de capital. As demonstrações contábeis, considerando as distintas fi- nalidades de cada grupo de usuários, são elaboradas para usuários externos, em geral. Os órgãos reguladores, gover- nos e autoridades tributárias podem especificar exigências que venham atender seus interesses particulares, entretanto, essas exigências não devem influenciar as demonstrações contábeis elaboradas de acordo com a Estrutura Conceitual (RESOLU- ÇÃO 1.374, CFC, 2011). Assim, este estudo contempla a estrutura conceitual apre- sentando os temas que se fazem presentes no cotidiano dos profissionais da área contábil a partir da adoção dos padrões internacionais contábeis no padrão normativo contábil do Bra- sil. Vale reafirmar que o texto da Resolução 1.374/11 do CFC é a tradução das normas que vêm sendo editadas pelo IASB e se encontra em processo de atualização. O projeto da Es- trutura Conceitual vem sendo conduzido por fases, e quando for concluído o IASB terá um único documento completo e abrangente. 1 Finalidade e status A Resolução 1.374, (2011, p.13/14), do CFC Estrutura Con- ceitual, estabelece os conceitos que fundamentam a elabora- Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 29 ção e a apresentação de demonstrações contábeis destinadas a usuários externos. A finalidade da Estrutura Conceitual é: a) dar suporte ao desenvolvimento de novas normas, in- terpretações e comunicados técnicos e à revisão dos já existentes, quando necessário; b) dar suporte à promoção da harmonização das regu- lações, das normas contábeis e dos procedimentos rela- cionados à apresentação das demonstrações contábeis, provendo uma base para a redução do número de tra- tamentos contábeis alternativos permitidos pelas normas, interpretações e comunicados técnicos; c) dar suporte aos órgãos reguladores nacionais; d) auxiliar os responsáveis pela elaboração das demons- trações contábeis na aplicação das normas, interpreta- ções e comunicados técnicos e no tratamento de assuntos que ainda não tenham sido objeto desses documentos; (e) auxiliar os auditores independentes a formar sua opi- nião sobre a conformidade das demonstrações contábeis com as normas, interpretações e comunicados técnicos; (f) auxiliar os usuários das demonstrações contábeis na interpretação de informações nelas contidas, elaboradas em conformidade com as normas, interpretações e co- municados técnicos; e (g) proporcionar aos interessados informações sobre o enfoque adotado na formulação das normas, das inter- pretações e dos comunicados técnicos. 30 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil O texto da Estrutura Conceitual alerta que não é uma nor- ma propriamente dita e, desta forma, não define normas ou procedimentos particularizados sobre mensuração ou divulga- ção, e que não substitui nenhuma norma, interpretação ou co- municado técnico. Podem acontecer conflitos entre a Estrutura Conceitual e uma norma, uma interpretação ou comunicado técnico, quando devem prevalecer sobre a Estrutura Concei- tual as exigências das regulamentações supracitadas. Destaca que em futuras normas, interpretações e comunicados técnicos que serão desenvolvidos ou revisados tendo como norte a Es- trutura Conceitual, estes conflitos tendem a diminuir. A estrutu- ra será revisada periodicamente com base na experiência que decorre de sua utilização (resolução 1.374, CFC, 2011). 1.1 Objetivo da elaboração e divulgação do relatório contábil-financeiro de propósito geral O relatório contábil-financeiro de propósito geral tem como objetivo o fornecimento de informações sobre a entidade que reporta essa informação. Entidade que reporta caracteriza- -se como sendo aquela que tem usuários que se apoiam em suas demonstrações contábeis como principal fonte das infor- mações patrimoniais da entidade. Essas informações devem ter utilidade para investidores existentes e em potencial, tam- bém aos credores por empréstimo e outros credores quando a tomada de decisão estiver relacionada ao fornecimento de recursos à entidade. Decisões sobre comprar, vender ou ma- nutenção em instrumentos patrimoniais e em instrumentos de dívida, incluindo oferecer ou disponibilizar empréstimos ou Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 31 ainda outras formas de crédito. A totalidade dos itens do ca- pítulo 1 (um) centra-se em apresentar o objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral, tema sobre o qual va- mos trabalhar exaustivamente na sequência. A Resolução nº 1.374/ 2011 do CFC, em seu item OB2, define: O objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral(*) é fornecer informações contábil-financeiras acer- ca da entidade que reporta essa informação (reporting entity) que sejam úteis a investidores existentes e, em po- tencial, a credores por empréstimos e a outros credores, quando da tomada de decisão ligada ao fornecimento de recursos para a entidade. Essas decisões envolvem comprar, vender ou manter participações em instrumen- tos patrimoniais e em instrumentos de dívida, e a ofere- cer ou disponibilizar empréstimos ou outras formas de crédito. A referida Resolução em seu item OB3 destaca que as de- cisões a serem tomadas por investidores potenciais e existen- tes, relacionados à compra, venda ou manutenção de instru- mentos patrimoniais e instrumentos de dívida vão depender do retorno esperado desses investimentos, dentre eles: dividen- dos, pagamento de principal e juros e elevação nos preços de mercados. Da mesma forma, as decisões dos credores que di- zem respeito a ofertar ou disponibilizar empréstimos ou outros tipos de crédito, dependem fundamentalmente do pagamento do principal dos juros que esses credores esperam acontecer. As expectativas de investidores, credores por empréstimos e 32 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil outros credores em relação ao retorno dependem de sua ava- liação quanto ao montante, tempestividade e incertezas que estão associados aos fluxos de caixas de ingresso para a enti- dade. Assim, os usuários supracitados precisam da informação para auxiliá-los na avaliação das perspectivas dos ingressos de fluxos de caixa futuros para a entidade. O item OB4 da Resolução 1.374/11do CFC aborda que na avaliação dessas perspectivas no que se refere ao ingresso de fluxos de caixa futuros, os usuários analisam as informações sobre: recursos da entidade, exigências contra a entidade, a eficiência e efetividade da Administração e do Conselho e o cumprimento das suas responsabilidades no uso dos recursos dessa entidade, incluindo a proteção das adversidades advin- das de fatos econômicos, tais como alterações de preços e de tecnologia, a garantia do cumprimento das leis, a regulação e as disposições contratuais vigentes. Todas essas informações são úteis para as decisões dos investidores existentes, credores por empréstimos e outros que tenham direito a voto e exerçam influência nos atos da administração. Os itens OB5, OB6. OB7, OB8. OB9, 10 e 11 da Re- solução 1.374/2011 do CFC apresentam informações sobre outros objetivos relevantes do relatório contábil-financeiro: OB5. Muitos investidores, credores por empréstimo e outros credores, existentes e em potencial, não podem requerer que as entidades que reportam a informação prestem a eles diretamente as informações de que neces- sitam, devendo desse modo confiar nos relatórios con- tábil-financeiros de propósito geral, para grande parte Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 33 da informação contábil-financeira que buscam. Conse- quentemente, eles são os usuários primários para quem relatórios contábil-financeiros de propósito geral são di- recionados. OB6. Entretanto, relatórios contábil-financeiros de pro- pósito geral não atendem e não podem atender a todas as informações de que investidores, credores por emprés- timo e outros credores, existentes e em potencial, necessi- tam. Esses usuários precisam considerar informação per- tinente de outras fontes, como, por exemplo, condições econômicas gerais e expectativas, eventos políticos e cli- ma político, e perspectivas e panorama para a indústria e para a entidade. OB7. Relatórios contábil-financeiros de propósito geral não são elaborados para se chegar ao valor da entidade que reporta a informação; a rigor, fornecem informação para auxiliar investidores, credores por empréstimo e ou- tros credores, existentes e em potencial, a estimarem o valor da entidade que reporta a informação. OB8. Usuários primários individuais têm diferentes, e possivelmente conflitantes, desejos e necessidades de in- formação. Este Conselho Federal de Contabilidade, ao levar à frente o processo de produção de suas normas, irá procurar proporcionar um conjunto de informações que atenda as necessidades do número máximo de usu- ários primários. Contudo, a concentração em necessidades comuns de informação não impede que a entidade que reporta a in- 34 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil formação preste informações adicionais que sejam mais úteis a um subconjunto particular de usuários primários. OB9. A administração da entidade que reporta a infor- mação está também interessada em informação contá- bil-financeira sobre a entidade. Contudo, a administração não precisa apoiar-se em re- latórios contábil-financeiros de propósito geral, uma vez que é capaz de obter a informação contábil-financeira de que precisa internamente. OB10. Outras partes interessadas, como, por exemplo, órgãos reguladores e membros do público que não se- jam investidores, credores por empréstimo e outros cre- dores, podem do mesmo modo achar úteis relatórios contábil-financeiros de propósito geral. Contudo, esses relatórios não são direcionados primariamente a esses outros grupos. OB11. Em larga extensão, os relatórios contábil-finan- ceiros são baseados em estimativas, julgamentos e mo- delos e não em descrições ou retratos exatos. A Estrutura Conceitual estabelece os conceitos que devem amparar tais estimativas, julgamentos e modelos. Os conceitos re- presentam o objetivo que este CFC e os elaboradores dos relatórios contábil-financeiros devem se empenhar em alcançar. Assim como a maioria dos objetivos, a vi- são contida na Estrutura Conceitual do que sejam a ela- boração e a divulgação do relatório contábil-financeiro ideal é improvável de ser atingida em sua totalidade, pelo menos no curto prazo, visto que se requer tempo Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 35 para a compreensão, aceitação e implementação de no- vas formas de analisar transações e outros eventos. Não obstante, o estabelecimento de objetivo a ser alcança- do com empenho é essencial para que o processo de elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro venha a evoluir e tenha sua utilidade aprimorada. Os itens anteriormente apresentados discorrem sobre a necessidade de confiança nos relatórios contábil-financeiros de proposito geral por parte dos investidores e credores para obtenção das informações que buscam são denominados usu- ários primários. Afirmam que esses relatórios não atendem e não podem atender todas as informações que os usuários necessitam e que os relatórios não são elaborados para che- gar ao valor da entidade que reporta a informação, da busca pelo CFC de proporcionar um conjunto de informações que atenda a um número máximo de usuários. Discorre ainda so- bre o interesse da administração da entidade nas informações contábil-financeira e também dos órgãos reguladores e ou- tros usuários. Aponta que em elevada extensão os relatórios contábil-financeiros são baseados em estimativas, julgamentos e modelos e não em descrições ou retratos exatos. 1.1.1 Informação acerca dos recursos econômicos da entidade que reporta a informação, reivindicações e mudanças nos recursos e reivindicações O fornecimento de informações sobre a posição patrimonial e financeira da entidade significa informações relativas aos re- cursos econômicos e de reivindicações contra a entidade que reporta a informação. Também apresentam informação sobre 36 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil os efeitos de transações e outros eventos que alteram os recur- sos econômicos da entidade e reivindicações contra ela e am- bos tipos de informação são úteis para a tomada de decisões em relação ao fornecimento de recursos para entidade. Essas informações podem auxiliar os usuários na identifi- cação de vigor financeiro ou fraqueza da entidade. Também é possível avaliar a liquidez e solvência, sobre a necessidade ou não de financiamentos adicionais e o sucesso na obtenção desses financiamentos. Informações relativas às prioridades e exigências de pagamento de reivindicações direcionam os usu- ários na previsão da maneira como os fluxos de caixa futuros serão destinados com essas reivindicações contra a entidade que reporta a informação e também as mudanças. Diferentes tipos de recursos afetam de formas diversas a avaliação dos usuários sobre os fluxos de caixa futuros e os usuários da in- formação necessitam saber a natureza e montante de recursos disponíveis para uso da entidade que reporta a informação (RESOLUÇÃO 1.374, CFC, 2011). As mudanças nos recursos econômicos e reivindicações da entidade são resultado do desempenho financeiro e outros eventos e transações, tais como emissão de títulos da dívida ou títulos patrimoniais e, para avaliação adequada, os usuários devem entender a natureza dessas mudanças. As informações sobre o desempenho financeiro auxiliam os usuários a enten- der o retorno que a entidade produziu sobre os seus recursos econômicos e indicam o esforço da administração na busca da realização dos objetivos de eficácia e eficiência do uso dos recursos da entidade. As informações sobre a variabilidade e componentes do retorno são relevantes para avaliar as incer- Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 37 tezas associadas aos fluxos de caixa futuros, e a informação sobreo desempenho passado também qualifica ou não a atu- ação da administração da entidade. 2 Características qualitativas da informação contábil-financeira útil A Resolução 1.374/11 do CFC define as características qua- litativas da informação contábil como sendo a relevância e representação fidedigna. Informação contábil financeira relevante é a capacidade que essa informação tem de fazer a diferença na tomada de decisão, e representar com fidedignidade implica representar o que se propõe representar. Para ser fidedigna, a informação precisa ser completa, neutra e livre de erro. 38 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil Em seu item QC6, a supracitada Resolução define: Informação contábil-financeira relevante é aquela capaz de fazer diferença nas decisões que possam ser tomadas pelos usuários. A informação pode ser capaz de fazer diferença em uma decisão mesmo no caso de alguns usuários decidirem não a levar em consideração, ou já tiver tomado ciência de sua existência por outras fontes. Ainda de acordo com a Resolução 1.374/11 do CFC, a informação contábil-financeira é capaz de fazer diferença se tiver valor preditivo, confirmatório ou os dois. O valor preditivo da informação se configura, se for possível, ao utilizá-la como dados iniciais em métodos empregados pelos usuários para a predição de resultados futuros. O valor preditivo se materializa quando empregado pelos usuários para realizarem suas pre- dições. Já as informações têm valor confirmatório se retroalimen- tarem avaliações precedentes, confirmando-as ou mesmo al- terando-as. O valor preditivo e o confirmatório da informação contábil-financeira estão inter-relacionados, pois a informação que tem valor preditivo muitas vezes também tem valor con- firmatório. Uma amostra pode ser a informação da receita do Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 39 ano corrente que pode ser usada para a predição de receitas de períodos futuros e também comparada com predição de re- ceitas realizadas em anos anteriores para o período corrente. Essas comparações têm a possibilidade de conduzir os usuá- rios das informações na correção e melhoria de suas técnicas de predição. A materialidade da informação se configura quando sua omissão ou divulgação tiverem a capacidade de influenciar decisões tomadas pelos usuários com base na informação contábil-financeira a respeito de uma entidade específica. As- sim, a materialidade refere-se a um aspecto particular da enti- dade que se baseia na natureza ou magnitude, ou em ambos dos itens aos quais a informação se relaciona, considerando esse contexto particular da entidade que reporta a informação. O item QC12 da Resolução 1.374/11 do CFC apresenta a definição de representação fidedigna: Os relatórios contábil-financeiros representam um fenô- meno econômico em palavras e números. Para ser útil, a informação contábil-financeira não tem só que repre- sentar um fenômeno relevante, mas tem também que re- presentar com fidedignidade o fenômeno que se propõe representar. Para ser representação perfeitamente fide- digna, a realidade retratada precisa ter três atributos. Ela tem que ser completa, neutra e livre de erro. É claro, a perfeição é rara, se de fato alcançável. O objetivo é ma- ximizar referidos atributos na extensão que seja possível. Retratar a realidade econômica de forma completa, em consonância com o item QC13 da Resolução 1.374/11 do 40 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil CFC, inclui toda a informação necessária para que o usuário entenda o fenômeno retratado, apresentando todas as descri- ções e explicações que se fizerem necessárias, o que pode exi- gir para alguns itens explanações de fatos significativos sobre a qualidade e a natureza desses itens, circunstâncias que podem atingir a sua natureza e qualidade e a metodologia utilizada para determinar os números apresentados. O item QC14 da mesma resolução define que retratar de forma neutra a rea- lidade econômica significa que esse retrato deve ser despro- vido de viés na escolha ou na apresentação da informação contábil-financeira. Esse retrato não pode conter distorções ou qualquer forma de manipulação que eleve à probabilidade de a informação contábil-financeira ser recepcionada pelos seus de forma favorável ou desfavorável. Por fim, o item QC15 des- taca que representação fidedigna não significa exatidão em todos os aspectos. Retratar a realidade econômica livre de er- ros quer dizer que não existem omissões ou erros no fenômeno apresentado e que o método usado para produzir a informa- ção foi eleito e aplicado sem erros. 2.1 Aplicação das características qualitativas fundamentais As características qualitativas são os atributos que tornam as informações contábeis úteis para os usuários. A informação necessita simultaneamente ser relevante e representar de for- ma fidedigna a realidade reportada para ser útil. Represen- tação fidedigna que apresenta fenômeno irrelevante e repre- sentação não fidedigna de fenômeno relevante não auxiliam os usuários na tomada de boas decisões. A efetividade para Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 41 a aplicação das características qualitativas fundamentais seria de acordo com a Resolução 1.374/11 do CFC: (Considerar os efeitos das características e às restrições do custo). a) Primeiro: identificação do fenômeno econômico que seja potencialmente útil aos usuários; b) Segundo: identificar que tipo de informação sobre o fenômeno seria mais relevante, se disponível, e que poderia ser representado de forma fidedigna; c) Terceiro: determinar se a informação está disponível e pode ser representada com fidedignidade. Se confirmado, o processo de satisfazer as características qualitativas fundamentais é finalizado, caso contrário, o pro- cesso deve ser repetido a partir do próximo tipo de informação mais relevante. 2.1.2 Características qualitativas de melhoria As características qualitativas de melhorias da informação, de- finidas pela Resolução 1.374/11do CFC, são a comparabili- dade, a verificabilidade, a tempestividade e a compreensibili- dade, pois se configuram como características que melhoram a utilidade da informação relevante e representada de forma fidedigna. Essas características também podem auxiliar na de- terminação de qual entre duas alternativas que sejam consi- deradas equivalentes, no que se refere à relevância e à re- presentação fidedigna, deve ser utilizada para descrever com precisão um fenômeno. 42 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil A comparabilidade implica o poder de comparação entre a informação da entidade, com informação análoga sobre ou- tras entidades e também com informações semelhantes da en- tidade que reporta a informação em períodos diferentes. Essa característica confere utilidade à informação contábil-finan- ceira, pois permite aos usuários identificarem e entenderem a similaridade dos itens e as diferenças que os caracterizam. A utilização da característica qualitativa requer a comparação de, no mínimo, dois itens. Comparabilidade não significa uni- formidade. Para serem comparáveis, elementos iguais necessi- tam parecer iguais e elementos diferentes necessitam parecer diferentes. A verificabilidade auxilia a assegurar aos usuários que a informação representa de forma fidedigna o fenômeno eco- nômico que se propõe representar. A verificabilidade significa que diferentes analistas com profundo conhecimento do tema e independentes podem chegar a um consenso, mesmo que não concordem completamente quanto ao retrato de uma re- alidade econômica em particular ser uma representação fide- digna. A tempestividade implica ter informação disponível para os tomadores de decisão a tempo deexercer influência em suas decisões. Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 43 A classificação, a caracterização e apresentação da infor- mação com clareza e concisão torna essa informação com- preensível. A complexidade inerente a determinados fenôme- nos os tornam de difícil compreensão, e excluir informações sobre esses fenômenos dos relatórios contábeis pode facilitar sua compreensão. Mas a adoção dessa medida teria como resultado relatórios incompletos e potencialmente distorcidos. Nesse contexto, relatórios contábil-financeiros são elaborados para usuários com razoável conhecimento de negócios, de atividades econômicas e que revisem a informação de forma cuidadosa. 2.1.3 Aplicação das características qualitativas de melhoria O item QC33 da Resolução 1.374/2011 do CFC define que as características qualitativas de melhoria devem ser maximi- zadas na extensão possível. As características qualitativas, no entanto, tanto individuais ou em grupo, não têm o poder de transformar em útil a informação irrelevante ou que não seja representada de forma fidedigna. Já o item QC34 destaca que aplicação das características qualitativas de melhoria implica um processo iterativo (processo que se repete várias vezes para se chegar a um resultado e cada vez gera um resultado parcial que será utilizado na próxima vez) que não segue uma ordem preestabelecida. Em determinadas situações, um característi- ca qualitativa de melhoria poderá ser diminuída para se te- nha a maximização de outra característica, para exemplificar: reduzir temporariamente a comparabilidade como resultado da aplicação prospectiva de uma norma contábil-financeira 44 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil pode ser vantajosa para o aprimoramento da relevância ou da representação fidedigna no longo prazo, assim divulgações apropriadas podem, parcialmente, compensar a não compa- rabilidade. 2.1.4 Restrição de custo na elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro útil O custo de gerar a informação é uma restrição que sempre se faz presente no processo de elaboração e divulgação do relatório contábil-financeiro. O processo de elaboração e di- vulgação do relatório contábil-financeiro impõe custos, sendo importante que eles se justifiquem pelos benefícios gerados pela divulgação da informação e diferentes custos e benefícios a considerar (RESOLUÇÃO 1.374/2011, CFC). A Resolução 1.374/2011 do CFC em seu item QC34 res- salta que os fornecedores da informação contábil-financeira concentram elevados esforços na coleta, processamento, ve- rificação e disseminação da informação contábil-financeira, entretanto, os usuários em última instância pagam por esses custos na forma de retornos reduzidos. Os usuários de infor- mação contábil-financeira também incorrem em custos para que se concretize a análise e a interpretação da informação fornecida. Por outro lado, se a informação não for disponibili- zada, os usuários vão incorrer em custos complementares para obtenção da informação através de outras fontes ou mediante sua estimativa. Neste contexto, a elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro relevante e que represente de forma fide- Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 45 digna aquilo que se propõe representar ajuda os usuários na tomada de decisão com maior grau de confiança, e a conse- quência se reflete no funcionamento mais eficiente dos merca- dos de capitais e na redução do custo de capital para a econo- mia, em termos globais. O credor e o investidor individual são também beneficiados quando decidem embasados na melhor informação, ainda assim não há possibilidade de os relató- rios contábil-financeiros de propósito geral fornecerem toda e qualquer informação que o usuário considere ser importante à sua decisão. Na aplicação da restrição do custo, deve-se avaliar se os benefícios proporcionados pela elaboração e divulgação da informação, em particular, serão possivelmente justificados pelos custos incorridos para geração e utilização dessa infor- mação. Quando da aplicação da restrição do custo no desen- volvimento do padrão proposto de elaboração e divulgação, o órgão normatizador deve procurar se informar com os for- necedores da informação, usuários, auditores independentes, acadêmicos e outros agentes sobre a natureza e quantidade esperadas de benefícios e custos desse padrão. Em grande parte das situações, as avaliações têm como base, a combi- nação de informação quantitativa e qualitativa (RESOLUÇÃO 1.374/2011, CFC). A subjetividade que se faz presente no processo em que diferentes indivíduos realizam avaliações, pressupõe variações a respeito dos custos e benefícios da elaboração e divulga- ção de itens específicos de informação contábil-financeira. O órgão normatizador, nessas situações, deve ter como base os custos e benefícios, considerando a elaboração e a divulga- 46 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil ção de maneira geral, e não apenas relacionados a entidades individuais que reportam a informação. Isso não significa que as avaliações de custos e benefícios sempre se justificam pe- las mesmas exigências de divulgação para todas as entidades. Podem existir diferenças que decorrem dos diferentes portes variados das entidades, das distintas formas de captação de capital (público ou privado) e das diferentes demandas de usu- ários ou ainda de outros fatores. (RESOLUÇÃO 1.374/2011, CFC). 2.5 Continuidade e Elementos das Demonstrações Contábeis As demonstrações contábeis, regra geral, são elaboradas par- tindo da premissa que a entidade está em atividade e irá se manter em operação por um futuro previsível. Assim, o pressu- posto básico é de que a entidade não tem a intenção, tampou- co a necessidade de passar pelo processo de liquidação ou de reduzir a escala de suas operações. Em contrapartida, se hou- ver essa intenção ou necessidade, as demonstrações contábeis poderão ter que ser elaboradas em bases diferentes e, dessa forma, o embasamento da elaboração deve ser divulgado. 2.5.1 Elementos das demonstrações contábeis A Resolução 1.374/2011 do CFC afirma em seu item 4.2: As demonstrações contábeis retratam os efeitos patrimo- niais e financeiros das transações e outros eventos por meio do grupamento dos mesmos em classes amplas, de acordo com as suas características econômicas. Es- Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 47 sas classes amplas são denominadas de elementos das demonstrações contábeis. Os elementos diretamente relacionados à mensuração da posição patrimonial e financeira no balanço patrimonial são os ativos, os pas- sivos e o patrimônio líquido. Os elementos diretamente relacionados com a mensuração do desempenho na de- monstração do resultado são as receitas e as despesas. A demonstração das mutações na posição financeira usualmente reflete os elementos da demonstração do resultado e as alterações nos elementos do balanço pa- trimonial. Assim, esta Estrutura Conceitual não identifica qualquer elemento que seja exclusivo dessa demonstra- ção. Apresentar esses elementos no balanço patrimonial e na demonstração do resultado requer que seja realizado um pro- cesso de subclassificação. Assim, ativos e passivos podem ser classificados em razão de sua natureza ou função nos negó- cios da entidade, com a finalidade de demonstrar da forma mais útil aos usuários, objetivando a tomada de decisões eco- nômicas. O item 4.4 da Resolução 1.374/2011 do CFC define os elementos da posição patrimonial e financeira: Os elementos diretamente relacionados com a mensu- ração da posição patrimonial e financeira são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido. Estes são definidos como segue: 48 Tópicos Especiaisem Contabilidade e Ética da Profissão Contábil a) ativo é um recurso controlado pela entidade como re- sultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade; b) passivo é uma obrigação presente da entidade, de- rivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos; c) patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos. O item 4.5 da Resolução 1.374/2011 do CFC destaca que definições de ativo e passivo identificam suas caracte- rísticas essenciais, mas não têm por finalidade especificar os critérios para serem reconhecidos no balanço patrimonial. As definições abrangem itens que não são reconhecidos como ativos ou como passivos no balanço patrimonial em razão de não satisfazerem os critérios de reconhecimento definidos pela norma. A expectativa de que futuros benefícios fluam para a entidade ou saiam da entidade deve ser suficientemente certa para que seja observado o critério de probabilidade, antes que um ativo ou passivo seja reconhecido. Para avaliar se um item se enquadra na definição de ativo, passivo ou patrimônio líquido deve-se levar em consideração sua essência implícita e a realidade econômica e não somen- te sua forma legal de acordo com o item 4.6 da Resolução 1.374/2011, CFC. Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 49 A mesma Resolução apresenta as principais características relacionadas aos ativos, passivos, patrimônio líquido e perfor- mance: a) Ativos O benefício econômico futuro incorporado a um ativo representa o seu potencial em contribuir de forma direta ou indireta para o fluxo de caixa ou equivalente de caixa da entidade. Este potencial pode ser produtivo, quando o recurso for parte das atividades operacionais da or- ganização ou ter a forma de conversibilidade em caixa ou equivalente de caixa ou, ainda, ter a capacidade de reduzir as saídas de caixa, o que pode ser concretizado através de um processo industrial alternativo, resultando em redução dos custos de produção. Regra geral, a en- tidade utiliza os seus ativos na produção de bens ou na prestação de serviços capazes de atender as necessida- des dos consumidores. O pressuposto de que esses bens ou serviços satisfaçam as necessidades dos consumido- res, que se predispõem a pagar por eles, contribuindo dessa forma para o fluxo de caixa da entidade. b) Passivos Uma característica essencial para a existência de um pas- sivo é que a entidade tenha uma obrigação presente, que se caracteriza como um dever ou responsabilidade de agir ou desempenhar determinada tarefa de certa maneira. As obriga- ções podem ser exigíveis legalmente como resultado de con- trato ou de exigências estatutárias, como é o caso de contas a pagar e serviços recebidos, mas também podem surgir em 50 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil decorrência de práticas usuais de negócios, usos e costumes, manutenção de boas relações comerciais ou ação equitativa. Exemplificando: se uma organização decide, em razão de po- líticas mercadológicas, retificar defeitos em seus produtos que tenham surgido após o período de garantia, os gastos com a reparação dessas falhas constituem passivos. c) Patrimônio Líquido O patrimônio líquido, mesmo que tenha definição como algo residual, poderá ter subclassificações no balanço patri- monial, tais como: nas sociedades por ações, recursos aporta- dos pelos sócios, reservas que resultam de retenções de lucros e reservas representando ajustes para manutenção do capital. Essas classificações podem ter relevância quando da tomada de decisão dos usuários das demonstrações contábeis, quan- do apontarem restrições legais ou de outra natureza sobre a capacidade que a entidade tem de distribuir ou aplicar de for- ma diversa seus recursos patrimoniais. Também podem refletir que determinadas partes com direito de propriedade sobre a entidade possuem diferentes direitos relacionados ao recebi- mento de dividendos ou ao reembolso de capital. d) Performance O resultado é usado, frequentemente, como medida de performance ou como base para outras medidas, dentre as quais o retorno do investimento ou resultado por ação. Os elementos diretamente relacionados com a mensuração do resultado são as receitas e despesas. O reconhecimento e a mensuração das receitas e despesas e, como consequência, do resultado, dependem em parte dos conceitos de capital e Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 51 de manutenção de capital adotados pela entidade na elabo- ração de suas demonstrações contábeis. O item 4.25 da Resolução 1.374/2011 do CFC define os elementos de receitas e despesas: a) receitas são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuição de pas- sivos, que resultam em aumentos do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com a contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais; b) despesas são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da saída de re- cursos ou da redução de ativos ou assunção de passi- vos, que resultam em decréscimo do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores dos instrumentos patrimoniais. A mesma Resolução destaca que as definições de receitas e despesas identificam as características essenciais desses ele- mentos, mas não tentam especificar critérios a serem satisfeitos para seu reconhecimento na demonstração do resultado. 2.6 Conceitos de capital e de manutenção de capital A conceituação de capital financeiro ou monetário é adota- da pela maioria das entidades na elaboração das suas de- monstrações contábeis. Considerando o conceito de capital financeiro, como o dinheiro investido ou seu poder de compra 52 Tópicos Especiais em Contabilidade e Ética da Profissão Contábil investido, o capital é sinônimo de ativos líquidos ou patrimô- nio líquido da entidade. Segundo conceito de capital físico, tal como capacidade operacional, o capital é apontado como a capacidade produtiva da entidade e pode ter como parâmetro as unidades de produção diária. Selecionar o conceito de capital adequado para a entida- de deve ter como base as necessidades dos usuários das de- monstrações contábeis. Neste contexto, se os usuários tiverem interesse na manutenção do capital investido ou no poder de compra do capital investido, o conceito de capital financeiro deve ser adotado. Se, no entanto, os interesses dos usuários estiverem centrados na capacidade operacional da entidade, o conceito a ser adotado é o de capital físico. O conceito escolhido indica o objetivo a ser alcançado na determinação do lucro, mesmo que existam dificuldades de mensuração ao operacionalizar o conceito. 2.6.1 Conceitos de manutenção de capital e determinação do lucro A Resolução 1.374/2011 do CFC, em seu item 4.59 afirma que os conceitos de capital originam os seguintes conceitos de manutenção de capital: a) Manutenção do capital financeiro. De acordo com esse conceito, o lucro é considerado auferido somente se o montante financeiro (ou dinheiro) dos ativos líqui- dos no fim do período exceder o seu montante financeiro (ou dinheiro) no começo do período, depois de excluídas quaisquer distribuições aos proprietários e seus aportes Capítulo 2 Estrutura Conceitual para elaboração ... 53 de capital durante o período. A manutenção do capital financeiro pode ser medida em qualquer unidade mone- tária nominal ou em unidades de poder aquisitivo cons- tante. b) Manutenção do capital físico. De acordo com esse conceito, o lucro é considerado
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